O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA PARA CRIANÇAS

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O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA PARA
CRIANÇAS: ABORDAGENS
COMUNICATIVA E LEXICAL EM UMA
ESCOLA DE IDIOMAS DE IRATI – PR
Fernanda Danieli Gibbert Schneider (PG-UNICENTRO/I)
Ms. Juliane Regina Trevisol (UNEB)
Resumo. Considerando a importância de se discutir o ensino de Língua Inglesa (LI) o
presente artigo propôs-se a investigar como se dá o ensino de LI para crianças em uma
dada escola de idiomas na cidade de Irati – PR. A pesquisa coletou dados através da
observação de seis aulas de LI para crianças de 5 a 6 anos durante o mês de março de
2012. De modo geral, observaram-se as atividades usadas em sala de aula para um
aprendizado eficaz, bem como o material didático utilizado. Observou-se, assim, que as
abordagens empregadas para o ensino da LI neste contexto foram especialmente a
lexical e a comunicativa, o que possibilita que os alunos aprendam pronúncia,
vocabulário e expressões de maneira integrada, fazendo o uso de situações do dia a dia.
Entende-se que a construção de conhecimento na LI no dado contexto proporcionou
aprendizado significativo aos alunos, o que auxilia na manutenção da motivação dos
mesmos e na sua intensa participação nas atividades na língua-alvo, fator essencial ao
desenvolvimento da língua estrangeira estudada, especialmente se considerarmos o
trabalho com crianças.
Palavras-chave: Ensino de Língua Inglesa; Crianças; Abordagem Lexical; Abordagem
Comunicativa.
Abstract. Considering the importance of discussing English Teaching, this paper aims
to investigate how the teaching of English for children is conducted in a language
school in Irati – PR. The research collected data throughout the observation of six
classes of English for children from 5-6 years of age in March 2012. Overall, it
investigated the classroom procedures, activities as well as the teaching materials used
for effective learning. Therefore, the research observed that the approaches used for
English Teaching in this context were especially the lexical and the communicative
approaches, which allows students to learn pronunciation, vocabulary and expressions
in an integrated manner, making use of everyday situations. It is understood that the
knowledge construction of English at the given context provided significant learning to
the students, which aided in the maintenance of their motivation and in their intense
participation in the target language activities proposed, an essential factor to the
development of the language studied, mainly when considering the work with children.
Keywords: English Teaching; Children; Lexical Approach; Communicative Approach.
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1 Introdução
O ensino de Língua Estrangeira (LE), em especial a Língua Inglesa (LI) na Educação
Infantil tem se mostrado crescente nos últimos anos. De modo geral, o público que tem
acesso a LE na Educação Infantil é o que participa do contexto de instituições
particulares, ou seja, famílias com um nível financeiro mais alto do que a média da
população. Por conta desta crescente demanda no ensino de LE no mundo global e deste
acesso ao público infantil nas escolas privadas, propõe-se investigar as metodologias de
ensino utilizadas para o trabalho pedagógico de LE na Educação Infantil.
Nos dias atuais muito se fala sobre a importância de aprender uma segunda língua
(CRYSTAL, 2003; CELCE-MURCIA, 2002; PAIVA, 1996). Em um mundo
globalizado o contato com diferentes culturas e línguas se intensifica com o passar do
tempo por causa dos meios de comunicação e principalmente da internet. A competição
por vagas de emprego está cada vez mais acirrada e um requisito indispensável na busca
por um bom lugar no mercado de trabalho atual é a habilidade de falar uma ou mais
línguas estrangeiras.
A LI é a segunda língua mais falada no mundo. De acordo com o British Council
(2012) um quarto da população mundial fala inglês, em algum nível de competência.
Inglês é a Língua Materna (LM) para cerca de 375 milhões de pessoas e acredita-se que
cerca de 750 milhões de pessoas falem inglês como LE nos dias de hoje, sendo que a
tendência é que tais números venham a crescer ainda mais.
De modo a viabilizar o acesso de uma educação de qualidade a todos os cidadãos de
modo geral, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (2010, p.23), Lei
nº 9394/1996 em seu Artigo 26 regulamenta o currículo para os Ensinos Fundamental e
Médio nas instituições de ensino exigindo uma base nacional comum e uma parte
diversificada, de acordo com as necessidades regionais. Ainda no mesmo artigo o
parágrafo 5º faz menção ao ensino de Língua Estrangeira Moderna, confirmando a
obrigatoriedade da inclusão “a partir da quinta série, [d]o ensino de pelo menos uma
língua estrangeira moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar, dentro
das possibilidades da instituição”. Complementando o artigo 26, o artigo 36 (2010,
p.29) faz nova menção ao ensino de LE Moderna para o Ensino Médio em seu inciso
III: “será incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória,
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escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter optativo, dentro das
disponibilidades da instituição”.
Escrita há mais de 15 anos, a LDB já exigia o ensino de LE desde a 5ª série do
Ensino Fundamental, para crianças a partir dos 10 anos de idade, sabendo da
fundamental importância deste aprendizado e buscando oportunizar o contato com a LE
o mais cedo possível. Hoje se percebe a necessidade de iniciar o ensino de LE já na
Educação Infantil, apesar de não estar ainda prevista por lei e, assim, inclusa nas séries
da educação para crianças no contexto de ensino regular. Compreendendo, portanto, a
importância de se aprender uma língua estrangeira nos dias atuais, acredita-se que o
acesso ao ensino de uma LE como a LI no contexto público poderia ser benéfico e,
assim, deveria ser fomentado e oferecido às crianças, público da Educação Infantil.
Tendo exposto brevemente o contexto no qual esta proposta se encontra, tem-se
como objetivo principal da pesquisa a investigação do ensino de Língua Inglesa Língua Estrangeira Inglês (LEI) - para crianças em uma escola de idiomas na cidade de
Irati, Paraná. A escolha desta instituição como objeto de observação e análise se
justifica por alguns motivos: a) por se constituir como uma das maiores escolas de
idiomas da cidade e região; b) por atender ao público infantil; e c) principalmente, por
disponibilizar espaço, materiais e contexto relevante para o desenvolvimento da
pesquisa.1 Quer-se com esta pesquisa, compreender melhor o processo de aquisição de
LE para o grupo mencionado a fim de possibilitar um maior aperfeiçoamento pessoal e
profissional da pesquisadora, uma vez que tais reflexões servirão futuramente para uma
conexão teoria-prática mais contextualizada.
Assim, este artigo trará na sequência a apresentação e discussão de pontos relevantes,
tais como questões relacionadas à infância e ao acesso da criança à Educação Infantil,
ao ensino de línguas estrangeiras de modo geral, com foco nas metodologias
desenvolvidas nas últimas décadas, e aos dados empíricos da pesquisa, com descrição e
breve análise do contexto, dos sujeitos e de algumas aulas de Língua Inglesa ministradas
às crianças.
1
Inicialmente, buscou-se investigar o ensino da LE para crianças nas escolas privadas de ensino regular
no município de Irati-PR. No entanto, diversos fatores impossibilitaram o desenvolvimento da proposta
inicial (tais como, recusa das instituições ao acesso do pesquisador para conhecimento do contexto de
ensino-aprendizagem, observação de aulas e de materiais didáticos utilizados, dentre outros), a qual teve
de ser modificada, estando agora com enfoque no contexto formal de ensino em uma dada escola de
idiomas.
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2 Infância e Educação Infantil
A infância é a primeira etapa da vida do ser humano, com a instituição do Estatuto da
Criança e do Adolescente em 1990 a criança passou a ser vista como cidadão de direitos
em sua singularidade. Sabe-se que nem sempre foi assim, a professora Nájela T.
Ujiieaprofunda este conceito em seu trabalho “Educação, criança e infância no contexto
das ciências sociais”. Segundo a autora (2009, p.16), “a cada momento histórico e social
temos
uma
concepção
de
criança,
infância,
educação,
desenvolvimento
e
aprendizagem”. A transformação destas concepções ocorreu como reflexo das
mudanças sociais, das relações familiares, de trabalho e da própria inserção da criança
na sociedade. Jean Piaget, importante teórico na área educacional afirma, quanto à sua
concepção de infância:
como um período particular do desenvolvimento humano, que engloba
o crescimento orgânico em interação com o meio até alcançar o nível
subsequente, passando pelos seguintes períodos: sensório-motor, préoperatório, operatório-concreto e operatório-formal (PIAGET apud
UJIIE, 2009, p.17).
Em harmonia com Ujiie (2009, p.19), acredita-se que “a infância e a criança,
conhecidas e compreendidas no contexto vigente são, pois, cidadãs de direitos, sujeitos
históricos, singular e diverso”.
Conforme a LDB (2010, p.25-26), a Educação Infantil é a primeira etapa da
educação básica e “tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis
anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,
complementando a ação da família e da comunidade”.
No presente artigo considerar-se-á o ensino de LI para as crianças da Educação
Infantil, abrangendo o seu desenvolvimento intelectual e social conforme orienta a LDB
de forma a garantir os direitos da criança.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990, p.9-10),em seu Art.54,
reafirmando o Art. 208, inciso IV da Constituição Federal do Brasil (1988), considera
como dever do Estado o “atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis
anos de idade” bem como estabelece no Art.53 o direito da criança a uma educação que
o prepare “para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho”.
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Levando-se em consideração as informações e os sentidos que os órgãos oficiais
entendem pertinentes à infância, aliado à complexidade do tempo presente no qual a LI
é vista como hegemônica principalmente a partir dos meios de comunicação, a
importância do ensino da LE na Educação Infantil é questão imperativa para se pensar a
inserção social das crianças.
Além dos aspectos apresentados em relação ao acesso da criança ao contexto
educacional, a compreensão das abordagens de ensino de LE parece ser de fundamental
importância para que se proporcione um ensino de qualidade. O professor de LE deve
conhecer as principais correntes pedagógicas, suas características e assim poder adequar
o ensino ao seu contexto real, aplicando em sala de aula técnicas que levem os alunos a
uma aquisição mais efetiva da LE.
3 Ensino de Língua Estrangeira: um panorama das principais abordagens
Discussões acerca de aspectos importantes relacionados ao ensino e aprendizagem de
línguas, tanto da Língua Materna (o Português, por exemplo) quanto da estrangeira (o
inglês, por exemplo), tem sido recorrentes no mundo acadêmico (BERTOLDO, 2009).
Dentre tantos aspectos relevantes, discute-se aqui a importância do conhecimento das
abordagens de ensino de línguas, uma vez que, reconhece-se o quão complexo e variado
é o trabalho com LEs, considerando-se a diversidade de contextos e de identidades dos
sujeitos envolvidos no processo (LARSEN-FREEMAN, 2011).
Desse modo, ao ensinar-se uma língua estrangeira é preciso ter claro qual a
abordagem ou abordagens que serão utilizadas, bem como método e técnica, para que as
atividades sigam sempre com os mesmos objetivos. Dependendo da abordagem
escolhida o curso pode seguir para diferentes direções e serão necessários diferentes
professores, materiais, e o próprio tempo que se levará para aprender a língua poderá
mudar completamente.
Neste estudo, para fins didáticos, levar-se-ão em consideração os conceitos de
abordagem, método e técnica descritos por Brown e Larsen-Freeman (apud
VERONEZE E CARVALHO, 2008, p.4):
- Abordagem – Refere-se aos conceitos e crenças sobre a linguagem e
aprendizagem da língua.
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- Método – São os procedimentos pelos quais a teoria é colocada
em prática sobre o quê, como e quando ensinar, baseado numa
abordagem determinada.
- Técnica – São atividades específicas utilizadas no processo de
ensino em harmonia com o método e abordagem definidos.
Outro conceito que se quer definir refere-se à aquisição versus aprendizagem de LE.
Para McLaughlin (apud FIGUEIREDO 1995, p.44, grifos do autor) o termo aquisição
de LE significa adquirir a língua de maneira natural, no ambiente natural ou familiar
sem interferências formais. No entanto o termo aprendizagem de LE, o qual se relaciona
com o contexto investigado no presente artigo, está diretamente relacionado a um
ensino formal, em sala de aula, com regras e atividades.
Veroneze e Carvalho (2008, p. 4) enfatizam congruências e discrepâncias nas
diferentes abordagens utilizadas através dos tempos. Segundo as autoras, o Método
Clássico ou Método da Gramática e Tradução (Grammar-Translation Method) foi o
primeiro a ser utilizado e o foco estava na tradução e leitura, pouca atenção sendo dada
à fala e à habilidade auditiva; consequentemente, a preocupação com a pronúncia era
praticamente nula dentro desta perspectiva metodológica. Larsen-Freeman (2011)
também afirma a importância dada no Método Clássico à capacitação do aprendiz para
traduzir de uma língua para a outra, sendo que para que isso fosse possível, cada palavra
na LE deveria ter a sua equivalência na LM. Vocabulário e gramática são, assim,
enfatizados nesta metodologia.
De acordo com Mar (2006), outra metodologia que merece destaque é a denominada
The Direct Method. Segundo a autora, a Abordagem Direta, surgida no início do século
XVI, acreditava que o professor deveria ser totalmente fluente na língua-alvo
(preferencialmente nativo), bem como dinâmico. A idéia central da abordagem era de
que o aluno aprendesse a pensar na língua-alvo. Uma das características básicas da
abordagem é “a associação direta da percepção e do pensamento com a língua e com os
sons da língua” (p.181-183) que era defendida com o exemplo de crianças, que mesmo
sem o conhecimento de regras gramaticais, são perfeitos falantes no idioma de seu país.
Além disso, o método tinha uma regra básica de ‘não-tradução’, ou seja, quando
existisse a necessidade de explicar um vocabulário novo, o professor faria uso de figuras
e imagens, daria exemplos do uso daquela palavra em diferentes situações, através de
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mímica, por exemplo. Dessa forma, para que os alunos entendessem a equivalência
daquela palavra em sua LM, o professor deveria demonstrar ao invés de traduzir.
Com relação ao Método Audiolingual (The Audiolingual Method), acredita-se ter
sido este um dos que mais revolucionou o ensino de línguas. Até então, o ensino de LE
era focado na leitura e interpretação sendo estes aspectos vistos como mais importantes;
porém, com a II Guerra Mundial surge a necessidade de transformar os integrantes do
exército em falantes de diversas línguas o mais rápido possível. Entre as principais
características da abordagem estão o fato de a língua ser fala e não escrita; assim, o que
se entende por ‘língua’ se refere aquilo que os nativos falam, e não um conjunto de
regras gramaticais. Para Larsen-Freeman (2011, p.45, nossa tradução) neste método “a
língua não pode ser separada da cultura e está não somente nas artes ou na literatura,
mas sim no cotidiano diário das pessoas que usam a língua ensinada em questão”.
O principal objetivo das diferentes abordagens, quase sempre, é fazer com que os
estudantes aprendam a se comunicar na língua estudada. Porém estudiosos perceberam
que muitos métodos não preparavam para situações reais de comunicação, fora da sala
de aula, como por exemplo, convidar alguém para sair ou recusar um convite para uma
festa. Ou seja, para que haja a comunicação é necessário mais do que competência
linguística. Tais observações, no final dos anos 1970 e início dos anos 1980 levaram à
criação de uma abordagem de ensino focada na comunicação, o ensino da Linguagem
Comunicativa (The Communicative Language Teaching) (LARSEN-FREEMAN, 2011,
p.122).
Larsen-Freeman
(2011,
p.125-127)
pontua
os
princípios
da
Abordagem
Comunicativa que, de modo geral, se referem ao uso de linguagem autêntica, em
contexto real (não artificial), ao entendimento de que a língua deve ser o instrumento,
veículo de comunicação (não simples objeto de estudo) e de que o professor tem como
principal papel o de guia, uma vez que é o responsável por criar situações de
comunicação que possibilitem o uso da língua-alvo em contextos reais, sempre que
possível. Pode-se perceber aqui claramente a diferença desta abordagem para as
analisadas previamente. O aluno é o centro da aula, sendo o professor um facilitador. A
aula não é baseada em regras gramáticas, mas têm como base situações cotidianas onde
os alunos podem se comunicar. Nas aulas é preciso criar situações de comunicação, tais
como jogos, e está é uma das principais funções do professor, promover a comunicação.
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Já outra perspectiva de ensino, o Modo Silencioso (The Silent Way), “vê o aluno de
línguas com uma predisposição a aprendê-las por trazer consigo a experiência de já ter
aprendido: a língua materna” (VERONEZE E CARVALHO, 2008, p. 6). Esta
abordagem é construída a partir da idéia de que o aluno tem a capacidade inata para o
aprendizado de línguas. O professor é silencioso em sala de aula (o que justifica a
nomenclatura desta perspectiva) e faz somente pequenas correções; na maior parte do
tempo, o próprio estudante faz uma auto-correção ao perceber um erro. Nas salas de
aula os colegas trabalham de forma cooperativa, um corrigindo o outro quando
necessário, fazendo assim com que a comunicação flua de maneira natural. Conforme
Richards & Rodgers (2008, p.99), descobrir e criar ao invés de lembrar e repetir são
estratégias que facilitam a aprendizagem de línguas. Para os autores, ela é facilitada
pelo acompanhamento de objetos reais e por atividades que envolvam a resolução de
problemas com os materiais a serem aprendidos. Percebe-se que nesta abordagem o
aluno é o construtor de seu conhecimento, o professor não é visto como detentor de todo
o conteúdo a ser aprendido.
Conforme Larsen-Freeman (2011, p. 73-81) na Abordagem Sugestologia há um
respeito maior pelo aluno e seus sentimentos. A sala de aula deve ser bonita, pois este
ambiente facilita o aprendizado (relaxando). Nessa abordagem, sugere-se o ensino de
diálogos que podem ser utilizados imediatamente pelos alunos, aumentando assim a
confiança e quebrando barreiras psicológicas como “eu não consigo” ou “eu não sei”,
deixando-os mais desinibidos. Quando há leituras de textos ou diálogos a língua
materna é apresentada juntamente com a língua-alvo para que haja absoluta
compreensão e um significado seja construído. Diversas maneiras de relaxar o aluno e
quebrar barreiras psicológicas são experimentadas, tais como o uso de música clássica
como som ambiente, exposição de obras de arte entre os textos, e um ambiente calmo.
Resposta Física Total (Total Physical Response – TPR) “é um método de ensino de
línguas construído acerca da coordenação da fala e ação” (RICHARD & RODGERS,
2008, p.86). Utilizado especialmente com crianças, neste método os estudantes podem
aprender rapidamente movendo os seus corpos. O professor, através da linguagem
imperativa, pode dirigir o comportamento dos alunos, e estes aprendem tanto
observando ações e quanto praticando por eles mesmos. A idéia central parece ser que o
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aprendizado faz-se mais efetivo quando é divertido e não uma obrigação (LARSENFREEMAN, 2011, p.111-113).
As abordagens apresentadas até o momento são as mais revistas na literatura durante
a história da área de ensino e aprendizagem de línguas. Além dessas, quer-se
acrescentar ainda uma explanação sobre a Abordagem Lexical, que parece ter
revolucionado o ensino de Língua Estrangeira na atualidade e se mostra extremamente
eficiente, não somente no ensino de crianças, foco deste estudo, bem como no ensino de
jovens e adultos.
Michael Lewis foi o precursor da Abordagem Lexical na década de 90. Segundo o
autor, dividir a língua em gramática e vocabulário não parecia ser consistente. Então,
propôs a divisão da língua no que ele chamou de Lexical Chunks que são expressões
fixas usadas em um idioma. Essas expressões ou chunks são vitais para a fluência de um
idioma e Lewis afirma ser o ponto central na criação de significado aos alunos
(VERONEZE E CARVALHO, 2008, p.8).
Larsen-Freeman em seu capítulo sobre “Resposta Física Total” faz menção à
Abordagem Lexical, explicando a preocupação desta abordagem em expor o aluno a
insumo compreensível na língua-alvo, fazendo com que ele perceba os itens lexicais
como importantes para que o conhecimento linguístico seja construído.
O aprendizado através da Abordagem Lexical tem ênfase no como ao invés do por
que. Michael Lewis (apud MOUDRAIA, 2011, nossa tradução) sugere que:
o léxico é a base da linguagem, b) o léxico é mal interpretado no
ensino da linguagem por causa da suposição de que a gramática é
a base da linguagem e que ter domínio da gramática é um prérequisito para a efetiva comunicação, c) a principal chave para a
abordagem lexical é que a linguagem consiste de léxico
gramaticalizado e não gramática lexicalizada, d) um dos
princípios centrais para qualquer programa centrado na
significância deve ser o léxico.
Por fim, Lima (2012, p.9) sintetiza: “[...] o léxico de uma língua possui uma
gramática própria adquirida naturalmente ao longo da vida. O léxico não deve ser usado
apenas para completar estruturas gramaticais”.
Em todas as abordagens apresentadas, falou-se sobre seus focos, estando estes ora na
habilidade de falar (speaking), de ouvir (listening), de escrever (writing), ou de ler
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(reading). São estas, geralmente, as quatro habilidades que o estudante precisa
‘dominar’ para ser fluente em uma LE. Porém, ao se discutir a Abordagem Lexical é
preciso adicionar mais duas ‘habilidades’, apontadas por Lima (2012): Noticing e
Revisiting. “Noticing é o mesmo que “observar”, “notar”, “identificar”. Isto é, o aluno
precisa aprender a identificar os chunks of language” (p.4 – grifos no original).
Assim, ter a capacidade de notar onde estão os chunks (expressões) ajuda o aluno a
acelerar o processo de aprendizagem, ajudando-o a internalizar o vocabulário (léxico)
aprendido. E a outra habilidade, que não é exatamente uma habilidade, mas sim um
costume é:
Revisiting nada mais é do que o processo de rever os chunks
estudados previamente. Para isso, um caderno de vocabulário (Lexical
Notebook) organizado de acordo com os princípios da Lexical
Approach ajudará os alunos a desenvolver esse hábito. (LIMA, 2012,
p.4, – grifos no original).
Este é o momento de ‘revisão’, de sempre voltar àquilo que foi aprendido, focando
sempre nos itens lexicais e não em palavras isoladas. Essa tarefa deve ser estimulada
pelo professor e também realizada por ele. Além disso, Lima sugere que “O professor
lexical, além de instigar esse hábito em seus alunos, deve também ter por costume fazer
quizzes, atividades, jogos, etc., que ajudam a revisitar conteúdo previamente
apresentado. O foco deve estar nos chunks e não no conhecimento gramatical explícito”
(2012, p.5). Estas são, portanto, características do trabalho pedagógico dentro da
abordagem denominada lexical.
Por fim, a partir das abordagens apresentadas, apresenta-se na sequência o estudo de
campo realizado em uma escola de idiomas na cidade de Irati – PR: características
gerais do contexto e dos participantes do mesmo (professor e alunos), análise do
material adotado, a(s) abordagem(s) presente(s) nos materiais (livros, apostilas, CDs)
bem como as técnicas utilizadas em sala de aula para apresentar a LEI aos pequenos
aprendizes de Língua Inglesa.
4 A Pesquisa: procedimentos de coleta de dados
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A fim de enriquecer as discussões da pesquisa e melhor refletir acerca do ensino de
LE para crianças, fez-se necessária a coleta informal de alguns dados da e na escola de
idiomas investigada. Assim, tal coleta deu-se através do (re)conhecimento da escola e
de observações de algumas aulas de Língua Inglesa ministradas em uma turma
específica de crianças, com idades entre 5 e 6 anos. As observações ocorreram no
período de março de 2012, num total de 6 horas observadas.
Muitos foram os questionamentos que indiretamente guiaram a investigação e
observação do contexto de ensino na dada escola. Dentre os diversos aspectos
relacionados com o ensino/aprendizagem de LEI para crianças, observaram-se alguns
especificamente, como por exemplo: Como é o ambiente escolar, a sala de aula? Existe
material de apoio para as aulas? Qual o material ou materiais utilizados em sala de aula?
Existe livro didático? Como ele é usado? Qual a abordagem ou abordagens utilizadas
em sala de aula? Qual a abordagem proposta no livro didático? Qual a composição da
turma? Qual a experiência da professora com ensino de Língua Inglesa para a Educação
Infantil? Qual a formação da professora? Qual a rotina do grupo? Estas questões serão
posteriormente discutidas de modo mais aprofundado.
5 Resultados e discussões
5.1 A Escola e o Ambiente de Aprendizagem
A escola de idiomas investigada faz parte de uma franquia nacional e funciona nos
três períodos – manhã, tarde e noite. Os cursos oferecidos são em duas LEs apenas:
Língua Inglesa e Língua Espanhola, sendo que a grande maioria dos alunos
matriculados participa das aulas de Língua Inglesa. Além das atividades regulares em
sala de aula, a escola oferece atividades extra tais como Cooking Class, Movie Session,
Music Session, Fun Day entre outras.Todas as atividades têm como objetivo principal:
propiciar maior contato com a LE e sua cultura de maneira prazerosa. No Cooking
Class, são ensinadas receitas simples aos alunos, usando vocabulário adequado à faixa
etária. O novo vocabulário é ensinado através de figuras ou objetos reais, a teacher
separa os ingredientes e os utensílios que serão utilizados, todos têm a oportunidade de
fazer a receita, ler o Modo de Preparação e usar o vocabulário ensinado anteriormente.
É uma atividade diferente através da qual as crianças tem a oportunidade de aprender a
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LE, cozinhar (o que para a maioria dos alunos é uma novidade), interagir com outros
alunos e se divertir. As atividades de Movie e Music Session proporcionam o contato
com a língua real e também a itens culturais. Nos filmes e músicas, mesmo que os
alunos não entendam tudo o que está sendo dito, eles percebem a maneira como
expressões são usadas, quais gestos acompanham cada expressão além de ser divertido e
fazer parte da realidade deles. O Fun Day é geralmente um dia dedicado especialmente
às crianças entre 5 e 6 anos de idade. Diversas atividades envolvendo a LE são
desenvolvidas. Busca-se oportunizar o uso da LI em um diferente contexto, que não o
da sala de aula. É um dia de diversão e brincadeiras onde a teacher faz games de outras
culturas (americanos, por exemplo) mostrando como brincam as crianças em outro país.
Além das atividades extras mencionadas também é oferecido para os alunos o Bonus
Class (aula bônus), todas as sextas-feiras os alunos tem direito a marcar 30 minutos de
aula particular com um professor da escola. Esses 30 minutos podem ser utilizados para
rever o conteúdo da aula, praticar a conversação/escrita/listening, ou aquilo que o aluno
tenha interesse, desde que ligado à LI, mesmo que não seja conteúdo do livro em que
estuda.
O ensino para crianças engloba 9 semestres na escola, seguido de mais 9 semestres
no ensino de adolescentes, totalizando 18 semestres para concluir o curso do básico ao
avançado. Se o aluno iniciar o curso ao completar cinco anos de idade e seguir até o
fim, ao completar 14 anos terá concluído todos os livros oferecidos pela escola e,
segundo a mesma, terá alcançado um nível de inglês avançado. A escola, através de um
compromisso de aprendizado firmado com os alunos, garante que ao final do curso os
alunos alcançarão uma alta pontuação em um determinado exame de proficiência
internacional, confirmando assim o nível de inglês avançado.
Considerando a parte física, a escola tem um ambiente arejado e iluminado. É
composta por uma recepção onde os alunos são recebidos para as aulas, sala de TV, sala
da direção, sala de recreação, área verde externa e cinco salas de aula. Na recepção
existem sofás e dois computadores conectados à internet para uso dos alunos. A sala de
TV é onde a maioria dos alunos aguarda o início das aulas e na televisão passam-se
desenhos animados e seriados em inglês. Outros alunos, no entanto, aguardam na sala
de recreação onde jogam tênis de mesa com alunos de todas as salas.
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Uma das salas de aula (sala 2) é específica para estudantes da Educação Infantil. A
sala é colorida e há quatro mesas de uso especial para crianças, bem como 11 cadeiras
de tamanho apropriado dispostas em dois grupos. Cada aluno tem o seu nome fixado em
uma das cadeiras. Nas paredes estão pendurados um quadro do Snoopy, um banner com
o nome da escola e um mural. Como recursos para as aulas de modo geral tem-se um
quadro branco e um rádio, que fica próximo à estante usada pela teacher (professora)
para deixar os materiais que serão utilizados em sala de aula. O ambiente colorido,
bonito e organizado da sala de parece remeter à Sugestologia, já discutida
anteriormente, uma vez que deixa o ambiente mais propício ao aprendizado.
5.2 Os Alunos
A turma observada durante seis aulas é chamada de “Let’s Go Starter”, o que
corresponde ao terceiro livro de Língua Inglesa oferecido pela escola. Ela é composta
por sete crianças (5 meninos e 2 meninas) de cinco e seis anos de idade e as aulas são
ministradas duas vezes por semana, no período da manhã. Os dois primeiros livros de LI
ofertados na escola são “Cookie and Friends A” e “Cookie and Friends B”, também da
Editora Oxford, para crianças a partir de quatro anos e meio de idade, com duração de
um semestre cada. Estas crianças participam de um contexto social privilegiado; suas
famílias têm uma renda social alta. Algumas fazem também outras atividades durante a
semana, como natação, escolinha de futebol e dança. Todas estudam em escolas
particulares da cidade no período da tarde e algumas tem irmãos mais velhos que
também estudam inglês na mesma escola de idiomas.
Através das observações, percebeu-se que os alunos demonstram gostar muito das
aulas de inglês, são participativos e buscam usar a língua-alvo nas situações em que eles
são capazes. Observou-se também neste período que nenhuma das crianças faltou à
aula. Conforme já mencionado, a escola oferece atividades extraclasse em dias e
horários alternativos, tais como, Cooking Class, Fun Day e Movie Session atividades
nas quais a participação dos alunos é bastante significativa. Os pais fazem questão de
trazer sempre as crianças, para que tenham maior contato com a LEI e para terem um
momento de lazer com outros colegas.
5.3 A Professora (Teacher)
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A teacher tem uma experiência de mais de sete anos no ensino de LE para crianças.
Estudante do segundo ano de Letras/Inglês ela cativa os alunos em suas aulas de
maneira a torná-las prazerosas. Ela traz para as aulas diferentes materiais para
apresentar os tópicos de aprendizado e o faz de maneira lúdica, com jogos, brincadeiras,
músicas e atividades orais. Dessa forma, os alunos aprendem brincando.
Diversas brincadeiras realizadas pela teacher coincidem com a abordagem Total
Physical Response (TPR) baseada “na crença de que movimentos físicos ligados à
linguagem ajudam na retenção do conhecimento” (NAKATA E FRAZIER, 2006, p.4).
Muito utilizadas também são as Abordagens Comunicativa e Lexical, com uso de
situações do dia a dia, para que o aprendizado tenha coerência com a vida da criança, e
foco no aprendizado de vocabulário, pronúncia e gramática de maneira integrada
(léxico), não focando em palavras isoladas, mas sim em conjuntos de palavras (frases ou
expressões), acelerando o processo de aprendizagem (LIMA, 2012).
Sabemos dos diversos papéis desempenhados pelo professor de LE, dependendo do
contexto de ensino que esteja inserido. Dudley-Evans (1998) cita como alguns desses
papéis, tais como o de professor, colaborador, designer de curso e fornecedor de
materiais didáticos, pesquisador e avaliador. Dentre estes, percebe-se nas aulas que o
papel mais saliente da professora é o de facilitadora do aprendizado. Ela apresenta
vocabulário e expressões novas o tempo todo, seja mostrando figuras, seja indicando
gestos ou criando jogos interativos. A habilidade de listening é a primeira que deve ser
desenvolvida em alunos de nível básico (princípio da Abordagem Comunicativa
apontado por Larsen-Freeman(2011)) e este é, portanto um dos papéis primordiais da
teacher: criar oportunidades para que os alunos escutem a linguagem real – inglês –
sendo usada durante a maior parte do tempo em sala de aula.
5.4 O Material Didático
O material didático adotado para o ensino de LI para crianças de cinco a nove anos
de idade é distribuído pela Editora Oxford2 nas turmas. A turma observada utiliza o
livro Let’s Go Starter, primeiro da série de seis níveis, como suporte em suas aulas. As
atividades e temas do livro são pertinentes à faixa etária de cinco e seis anos.
2
Oxford University Press (OUP) Material disponível em: www.oup.com
71
Cada aluno possui um exemplar do Student Book/Workbook (Livro do aluno/Livro
de atividade) composto por vinte e nove lições e atividades extras para colorir. Em
cada lição estuda-se uma letra do alfabeto e um tópico extra. O Workbook é usado
para fixação do conteúdo ensinado, trabalhando também outras habilidades das
crianças, como escrita, coordenação motora, organização espacial, entre outras.
As crianças que estudam este livro são pouco ou nada alfabetizadas e, por esse
motivo a comunicação oral é a habilidade mais enfatizada. Não existem textos ou
diálogos escritos no livro; todos os tópicos são introduzidos oralmente. Neste ponto,
fica clara a opção do material didático no uso da Abordagem Comunicativa já que a
fala está em primeiro lugar. São apresentados tópicos que os alunos poderão usar
imediatamente, como no caso dos “Greetings” (Cumprimentos) da primeira unidade,
tornando o aprendizado mais significativo para o aluno.
Na página inicial de cada tópico do livro didático percebe-se o foco nas Abordagens
Comunicativa e Lexical, sendo estas as principais abordagens seguidas pela escola de
idiomas investigada, como trecho presente em materiais de divulgação da escola expõe:
[o ensino na escola leva] a comunicação do dia-a-dia, a linguagem da
vida real, para a sala de aula. Tudo isso a partir da combinação de
duas das mais eficazes abordagens de ensino de línguas: a
Abordagem Comunicativa (Communicative Approach) e a
Abordagem Lexical (Lexical Approach). (grifos no original)
Além disso, através das observações das aulas (descritas na sequência), verificouse que a professora trabalha em conformidade com tais metodologias de ensino.
5.5 As Aulas: Descrição da Prática Pedagógica
Primeiramente, ao convidar os alunos para entrarem na sala de aula, a teacher já
começa a aula, usando a LI: “Let’s Go students” (Vamos, alunos) ou “Time to go”
(Hora de irmos);no primeiro dia de aula nem todos entendem, porém com um simples
gesto eles compreendem a idéia geral e seguem a teacher. Observa-se neste exemplo o
uso da linguagem (LEI neste caso) como veículo para comunicação e não somente
objeto de estudo, princípio da Abordagem Comunicativa, apontado anteriormente por
Larsen-Freeman, além do método TPR, representado pelo gesto de convidar os alunos
a segui-la.
72
Ao entrar na sala, cada criança procura a sua respectiva cadeira para sentar e já abre
o Workbook com a tarefa de casa. A teacher verifica o homework e incentiva-os
falando “Very Good” (Muito bom!) e colocando um carimbo com um rostinho feliz
no livro daqueles que fizeram a atividade proposta. As tarefas são atividades de
pintura, ligar objetos correspondentes com a respectiva letra, tracejar a letra, entre
outras.
O material didático utilizado fornece um CD com músicas e este é usado no início da
aula com a música “Hello” (Olá). As crianças se cumprimentam e cumprimentam a
teacher também. Antes de introduzir a letra C (lição do dia) a teacher revisa a letra B
aprendida na aula anterior, falando novamente as palavras, lembrando a personagem
Beth apresentada pelo livro didático e também solicitando aos alunos que falassem
algumas palavras que iniciam com aquela letra. Esta atividade de revisão é feita de uma
maneira diferente em cada aula: com as crianças sentadas em círculo no chão, cada uma
na sua cadeira ou com um jogo no pátio da escola. Neste dia foi feito um jogo no pátio
da escola. A teacher espalhou diversas cartas pelo gramado, com figuras iniciadas com
a Letra B e solicitou que as crianças ouvissem atentamente as regras do jogo. Ela iria
falar uma palavra e quem chegasse primeiro até a carta correspondente e falasse o nome
da carta em voz alta seria o vencedor daquela rodada. Ao final do jogo cada um teria
que contar o número de cartas conquistadas, fazendo assim um Revisiting do Tópico
Numbers também aprendido na aula anterior. As crianças ficaram muito entusiasmadas
e pelo simples fato de saírem da sala de aula, já estavam mais animadas. A atividade foi
bem sucedida e todas as crianças puderam ser ‘vencedoras’ pelo menos uma vez,
relembrando assim as palavras e também os números.
A apresentação da próxima letra e tópico também sofre variações em cada aula. São
semelhantes às atividades de revisão, mas nunca a mesma no mesmo dia. Quando a
revisão foi feita em sala de aula a apresentação é feita no pátio, ou através de jogos. A
teacher é criativa ao ponto construir sempre aulas diferentes, sem uma rotina imutável.
A apresentação da Letra C se deu em sala de aula, com as crianças sentadas em círculo
no chão – já que o Revisiting foi feito no pátio com um jogo. A teacher mostrou cartas
com figuras de palavras iniciadas com a Letra C e falou o nome em inglês solicitando
que os alunos repetissem. Utilizando as próprias cartas ela introduziu o tópico que era
Numbers 6-10 (Números de 6-10). Ela falou “Let’s count the cards, ok?” (Vamos
73
contar as cartas, ok?), One (1), two (2), three (3), four (4), five (5). “Até aqui vocês já
sabem, and now (e agora)?” Six (6), seven (7), eight (8), nine (9), ten (10). “Very
Good!”(Muito bem!) Alguns alunos já conheciam os números e contaram juntamente
com a teacher, outros repetiram após ela.
As crianças trabalham com o livro didático, observando as figuras e conversando
sobre elas, imaginando o que os personagens estariam conversando. Nesta parte a
teacher faz a apresentação do tópico e cria oportunidades para os alunos utilizarem as
expressões aprendidas. Ao chegar à sala a teacher cumprimenta-os sempre em inglês,
oportunizando o uso da LI e fazendo um constante Revisiting do tópico da primeira
lição “Greetings”. Todos os comandos são dados na LI, fazendo um eco –
inglês/português – até que e o eco não precise mais existir, pois eles já compreendem
aquele comando específico.
As atividades propostas no livro são feitas parcialmente em sala de aula. Enquanto
eles fazem qualquer atividade individual no livro didático a teacher coloca uma música
para tocar, seja do CD deles (músicas que já aprenderam) ou outra na LI. Ao final da
aula há uma musica específica para o fechamento de cada lição, onde são faladas as
letras aprendidas até o momento, juntamente com rimas e expressões. As crianças
cantam com alegria e empolgação.
5.6 Análise das Aulas
A partir das aulas observadas pôde-se perceber o uso das Abordagens Comunicativa
e Lexical presentes no dia a dia da sala de aula. Conforme a escola de idiomas estudada,
essas são as abordagens mais eficazes no ensino de uma Língua Estrangeira. Além
destas, a Abordagem Total Physical Response fez-se presente em diversas situações na
sala de aula.
Percebeu-se, de modo geral, que ambas as abordagens beneficiam o aprendizado da
LE. Com apenas algumas aulas ministradas os alunos já eram capazes de se comunicar
em inglês – cumprimentando a professora e os colegas. Não foi-lhes ensinada a
gramática embutida nas expressões que aprenderam, foi simplesmente ensinado como
cumprimentar alguém na língua-alvo. Neste ponto, comparando com o que diz Lima
(2012) sobre a Abordagem Lexical, que esta tem o seu foco no como ao invés do por
que. Fazendo ligação também com a fala de Larsen-Freeman (2011) sobre a Abordagem
74
Comunicativa, utilizou-se a língua real, linguagem do dia a dia criando situações para o
uso da LE.
A idéia geral da Abordagem TPR, como descrito no tópico 3, é que o aprendizado
parece ser mais efetivo quando é divertido. Averiguou-se que o fator diversão faz
diferença sim no aprendizado. As crianças se sentiam mais motivadas a aprender através
de jogos e brincadeiras; para eles, aprender inglês parecia ser ‘apenas’ diversão.
Reafirma-se, portanto que a motivação é um fator decisivo no aprendizado de uma LE,
sem a presença deste fator o aprendizado tende a ser falho.
As Abordagens Comunicativa e Lexical também compartilham do fator motivação;
ao perceber que já consegue se comunicar em determinado contexto, que consegue, por
exemplo, contar os seus brinquedos, falar o nome de alguns brinquedos e objetos na
língua-alvo o aluno se sente motivado a continuar frequentando as aulas e aprendendo.
Essa motivação dos alunos reflete-se também nos pais dos alunos. Ao perceberem que
seus filhos são capazes de usar a LI nas situações descritas acima ficam motivados a
mantê-los na escola por mais tempo, pois estão verificando ativamente o seu progresso.
Constatou-se, por fim, que as crianças aprendem quando estão motivadas e quando
são instigadas a praticar a LI em situações divertidas para elas; seja através de jogos,
brincadeiras ou músicas. Entende-se, porém, que tais reflexões são construídas a partir
do contexto especificamente analisado – escola de línguas – e, portanto, não devem ser
generalizáveis para todo contexto de aprendizagem de LE. Assim, faz-se conveniente o
desenvolvimento de pesquisas futuras a fim de ampliar a compreensão acerca dos
fatores que podem vir a influenciar a aprendizagem de línguas nos mais diversos
ambientes de ensino.
6 Considerações finais
Este artigo investigou o modo como se ensina LI para crianças entre 5 e 6 anos de
idade em uma escola de idiomas da cidade de Irati-PR no ano de 2012. Com base na
teoria sobre as abordagens de ensino de LEs, principalmente, construiu-se um panorama
para a observação e análise do ambiente de ensino. Em especial, foram analisados a
rotina das crianças na sala de aula de LI, o material didático utilizado e os
procedimentos metodológicos adotados pela teacher, a fim de motivar os aprendizes na
75
construção da língua-alvo. As abordagens percebidas, tanto como base do material
didático utilizado, como também da prática pedagógica da teacher, foram a Lexical e a
Comunicativa em especial; além destas, algumas atividades desenvolvidas em sala de
aula revelaram o uso de Total Physical Response em vários situações de uso da línguaalvo.
De modo geral, observou-se que, no dado contexto, o professor de LE para crianças
tem que ser criativo, entusiasmado e deve cativar as crianças com quem trabalha, para
poder realizar um trabalho em conjunto com elas. Deve também criar jogos e situações
de uso da língua-alvo que sejam interessantes para os alunos, de acordo com a faixa
etária e maturidade das mesmas.
Na escola investigada, tem-se uma preocupação com a oferta de atividades na línguaalvo, proporcionando aos alunos uma intensa exposição à LI. Acredita-se que tais
atividades contribuam significativamente para a manutenção da motivação dos alunos,
fator este percebido como primordial no ensino de LE para crianças.
Sugere-se, por fim, que futuras pesquisas venham a investigar contextos de ensino de
LI ou LEs para crianças de escolas regulares, privadas e públicas, que comportam um
maior número de alunos em sala de aula, além de se diferenciarem em vários outros
aspectos. Tais investigações certamente acrescentariam novas informações acerca dos
procedimentos, abordagens e estratégias de ensino utilizados pelos professores de LI
para crianças, ampliando assim o conhecimento da área neste tópico de interesse.
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