a busca de santo agostinho pela verdade e sua

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Universidade Estadual de Maringá
07 a 09 de Maio de 2012
A BUSCA DE SANTO AGOSTINHO PELA VERDADE E SUA
PROPOSTA EDUCATIVA CRISTÃ
SOUZA, Mariana Rossetto de (UEM)
PEREIRA MELO, José Joaquim (UEM)
Agência financiadora: CAPES
Considerações Iniciais
O presente texto tem como objetivo principal estabelecer relações entre a vida de
Santo Agostinho e a proposta educativa apresentada por este pensador, tendo em vista a
formação de um homem cristão santificado. Neste trabalho, será destacada a fase da
vida de Santo Agostinho anterior à sua conversão, dando-se ênfase à busca que, desde
cedo, empreendeu pela Verdade.
Santo Agostinho: da infância à conversão
Aurelius Augustinus nasceu no dia 13 de novembro de 354 d.C., em Tagaste,
província da Numídia, na África, onde atualmente se localiza a Argélia. Era filho de
Patrício, pequeno proprietário de terras, e Mônica, cristã fervorosa. Sua mãe visava
formá-lo em uma vivência cristã, diferentemente de seu pai, que não era cristão, tendo
se convertido ao cristianismo somente pouco tempo antes de falecer, aproximadamente
aos 17 anos de Agostinho.
A infância de Santo Agostinho é tratada por ele em sua obra Confissões. Ali,
ele apresenta essa etapa de sua vida como algo que não se recorda, e da qual considera
ter conhecimento a partir do que foi dito por outros e pelo que observava no
comportamento de outras crianças:
Por isso, Senhor, não me agrada considerar, como parte integrante da
minha vida terrena, essa idade que não lembro ter vivido, a respeito da
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qual creio no que me dizem os outros e nas conjecturas, aliás muito
bem fundadas, que formei ao observar as outras crianças. Esse tempo
de memória envolto em trevas encontra paralelo na época em que vivi
no seio materno (Confissões, I, 12, p. 29).
Em seu entendimento, a infância é uma fase de busca de satisfação de desejos.
Nesse sentido, considera que a alma das crianças contém impulsos naturais que as
levam a praticar atos de concupiscência. Até mesmo por isso, entende que as crianças
são vistas como pecadoras, sendo que desde cedo buscam a satisfação em coisas
temporais, afastando-se de Deus: “[...] já que ninguém há que diante de ti seja imune ao
pecado, nem mesmo o recém-nascido com um dia apenas de vida sobre a terra?”
(Confissões, I, 11, p. 27).
Depois de fazer uma breve análise da infância, Santo Agostinho apresenta sua
vivência como estudante, sendo que “[...] percorreu, assim, entre os sete e os dezenove
anos, o ciclo completo dos estudos considerados então como absolutamente normais”
(MARROU, 1957, p. 15).
Seus estudos tiveram início em Tagaste, sendo que ele foi enviado para a
escola para aprender as primeiras letras. Contudo, relata o descontentamento que sentia
com essa tarefa, não identificando a utilidade de tais atividades:
Ó Deus, meu Deus, que sofrimentos e desilusões padeci, quando ao
menino que eu era propunham que o ideal da vida era obedecer aos
mestres para prosperar neste mundo, para granjear, com a arte da
palavra, o prestígio dos homens e as falsas riquezas! Fui enviado à
escola para aprender as primeiras letras. Para minha infelicidade, não
entendi a utilidade desse trabalho; mas, se me mostrava preguiçoso,
era castigado a vara (Confissões, I, 14, p. 30, 31).
Ao avaliar tal situação, Santo Agostinho faz uma autocrítica por não se
interessar pelos conhecimentos da escola, reconhecendo a importância do aprendizado
da leitura e da escrita, que não soube compreender em sua infância, e identifica sua
utilidade de tais estudos para a vida. Além disso, apresenta-se como um pecador, ao
lembrar-se de seu interesse por jogos e espetáculos, o que passa a classificar, depois de
convertido, como coisas inferiores, que deveriam ser evitadas.
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Santo Agostinho destaca a necessidade de se ter cautela com as crianças,
tomando o devido cuidado para não expô-las a inutilidades, que acabariam desviando-as
do caminho a ser seguido: “É verdade que com elas aprendi muitas coisas úteis, mas
estas podem ser aprendidas também em matérias não frívolas: este seria o caminho mais
seguro a ser percorrido pelas crianças” (Confissões, I, 24, p. 39).
Ele considerava que, ao se voltar para essas coisas inúteis, o homem estaria
desperdiçando sua inteligência com questões que classifica como menos importantes. O
pensador, nesse sentido, critica a valorização que era dada à linguagem naquele período,
em detrimento da moral:
Eu me encontrava, pobre menino, no limiar dessa escola de moral.
Minha educação era dada de tal modo, que temia mais cometer uma
impropriedade de linguagem do que acautelar-me da inveja que eu
sentiria daqueles que a evitavam, se eu a cometesse (Confissões, I, 30,
p. 49).
A formação que Santo Agostinho recebeu foi essencialmente literária, e
baseada na língua latina, o que exerceu importante influência no decorrer de sua obra:
Importa examinar, com certa atenção, a natureza dessa formação de
base, pois todo o pensamento e a obra inteira de Agostinho revelam
estrita dependência dela, tanto nos caracteres positivos como nas
deficiências, no que têm de bom ou de mau (MARROU, 1957, p. 16).
De acordo com os próprios relatos agostinianos, ele tinha muita dificuldade no
estudo do grego, e o compara com o aprendizado do latim. Em seu entendimento, o
aprendizado do latim foi facilitado pelas condições em que se efetivou, já que aconteceu
como algo espontâneo e de seu interesse, ao contrário do grego, que lhe era forçado:
“Por aí se conclui, com bastante clareza, que para aprender é mais eficaz a livre
curiosidade do que um constrangimento ameaçador” (Confissões, I, 23, p.38).
No relato de sua adolescência, novamente ele demonstra o interesse que tinha
por coisas inferiores, mostrando-se arrependido de tal comportamento: “Desde a
adolescência, ardi em desejos de me satisfazer em coisas baixas, ousando entregar-me
como animal a vários e tenebrosos amores!” (Confissões, Livro II, 1, p. 49).
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Aproximadamente aos 12 anos, Santo Agostinho foi para Madaura, cidade
vizinha, com o objetivo de estudar literatura e oratória. Entretanto, em virtude de
questões financeiras, seus estudos foram interrompidos, e ele voltou a Tagaste.
Para ele, o ócio que vivenciou em Tagaste contribuiu para que se voltasse para o
pecado. Afirma que, naquele momento, “[...] os espinhos das paixões me subiram à
cabeça” (Confissões, II, 6, p. 52). Narra, então, fatos de sua vida dos quais se arrepende,
dentre os quais o furto de algumas peras.
É importante destacar aqui a influência de sua mãe em sua vida. Ela é
apresentada por ele como a representação da voz de Deus em sua adolescência, que ele
não ouviu – o que lamenta ao escrever as Confissões. Ela teve papel fundamental em
para sua conversão:
Ai de mim! Como ouso dizer que estavas calado, quando eu me
afastava de ti cada vez mais? É verdade que te calavas diante de mim
em tais momentos? De quem eram, senão de ti, aquelas palavras que
me fazias soar aos ouvidos, através de minha mãe, tua serva fiel? Mas,
nenhuma tocou-me o coração para converter-se em prática
(Confissões, II, 7, p. 53).
Santo Agostinho foi, aos 17 anos, para Cartago, para estudar retórica. Ali,
concluiu seus estudos, com dezenove anos. De acordo com ele, o tempo que passou ali
também foi de distração, sendo que estava, conforme considera, “[...] cercado pelo
ruidoso fervilhar dos amores ilícitos” (Confissões, III, 1, p. 66). Apesar disso, afirma
que era um bom estudante, não seguindo os companheiros em todos os excessos que
cometiam.
Em Cartago, Santo Agostinho entrou em contato com Hortensius, de Cícero.
Segundo seus relatos, a leitura desse clássico lhe ocasionou uma transformação, não
pela linguagem com a qual era escrito, mas pelo conteúdo que continha:
Devo dizer que ele mudou os meus sentimentos e o modo de me
dirigir a ti; ele transformou as minhas aspirações e desejos.
Repentinamente, pareceram-me desprezíveis todas as vãs esperanças.
Eu passei a aspirar com todas as forças à imortalidade que vem da
sabedoria (Confissões, III, 7, p. 70).
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A partir daí, passou a realizar uma busca pela verdade (MARROU, 1957). Em
sua busca, voltou-se inicialmente para a Bíblia, mas, ao lê-la, decepcionou-se, pois
considerou sua linguagem rústica: “Agostinho voltou-se então para a Bíblia, mas não a
entendeu. O estilo com a qual estava redigida, tão diverso do estilo rico em refinamento
da prosa ciceroniana, e o modo antropológico com que parecia falar de Deus velaram
sua compreensão [...]” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 430).
Na busca pela tranquilidade e por respostas às suas inquietações, voltou-se para
o maniqueísmo, doutrina baseada no dualismo bem x mal. Contudo, Fausto, que era
considerado a maior autoridade do maniqueísmo naquele momento, não conseguiu
suprir todas as dúvidas de Santo Agostinho, o que fez com que este se afastasse da
mesma. Aproximou-se então do ceticismo, cuja filosofia é pautada na dúvida, mas essa
doutrina também não conseguiu satisfazê-lo.
Paralelamente a isso, seu pai faleceu, e ele sentiu a necessidade de buscar uma
profissão, pois passou a ter responsabilidades perante sua família. Assumiu, então, o
magistério, profissão que exerceu por 13 anos, nas cidades de Tagaste, Catargo, Roma e
Milão. Em Milão, exerceu o papel de professor de retórica oficial da cidade. Pereira
Melo (2010) apresenta, em relação a isso, que é preciso entender o pensamento
educacional agostiniano em estreita relação com sua prática como educador.
Ainda em Milão, Santo Agostinho passou por acontecimentos que foram
fundamentais para sua conversão: teve contato com o bispo Ambrósio, o que lhe
permitiu compreender a Bíblia em seu sentido espiritual; conheceu o neoplatonismo, por
meio da leitura de Plotino, que lhe revelou a realidade do imaterial e a não-realidade do
mal; e realizou a leitura das cartas de Paulo de Tarso, com quem aprendeu o sentido da
fé, da graça e do Cristo Redentor (REALE; ANTISERI, 1990).
A conversão de Santo Agostinho ao cristianismo aconteceu no ano de 386.
Segundo seus relatos, converteu-se quando, ao buscar a solidão, no jardim de sua casa,
ouviu uma voz que dizia “Toma e lê”. Ao abrir a Bíblia, leu a seguinte estrofe (13) no
capítulo 13 da epístola de Romanos: “Não caminheis em glutonarias e embriaguez, não
nos prazeres impuros do leito e em leviandades, não em contendas e rixas; mas revestivos de nosso Senhor Jesus Cristo, e não cuideis de satisfazer os desejos da carne”.
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Para ele, foi a partir de então que encontrou a tranquilidade que buscava.
Dedicou-se, então, à purificação de seus costumes, afastando-se do que passou a
considerar mundano e pecaminoso (PEREIRA MELO, 2010).
Depois de convertido, Santo Agostinho retirou-se para uma propriedade rural
em Cassiciacum. Recebeu o batismo de Ambrósio em 387 e, após retornar à África,
fundou uma comunidade monástica. Abandonou esta comunidade em 391, quando foi
ordenado presbítero da cidade de Hipona. Tornou-se bispo dessa cidade em 395,
dedicando-se inteiramente a essa tarefa, bem como à produção de suas obras, até sua
morte, no ano de 430.
Proposta educativa agostiniana: a busca pela Verdade
Para compreender a proposta educativa agostiniana, é fundamental entender para
que homem ele apresenta essa proposta. Por estar situado em um momento histórico de
transformações, com a queda do Império Romano, o homem do tempo de Santo
Agostinho é um homem em crise, desorientado e em estado de miserabilidade, já que a
instituição que direcionava sua vida – no caso, o Estado – não conseguia mais atender às
suas necessidades.
Destaca-se, aqui, o papel da Igreja Cristã, que foi assumindo aos poucos a
direção dessa sociedade desorganizada e fortalecendo-se como uma instituição, com
organização própria. Papel fundamental para esse fortalecimento tiveram os Padres da
Igreja, que a auxiliaram a constituir sua doutrina e, para além, começaram a apresentar
propostas de formação cristã, tendo em vista uma comunidade cuja vivência fosse
pautada nos preceitos do cristianismo.
Santo Agostinho insere-se nesse período. Ele atribui ao homem um estado de
inquietação e afirma que isso só teria fim quando ele deixasse de buscar a tranquilidade
na materialidade do mundo e se voltasse para um conhecimento estável, ou seja, para as
verdades eternas.
A partir disso, afirma que o problema do homem é que ele busca a felicidade nos
prazeres corporais e nos bens materiais, não conseguindo encontrá-la verdadeiramente:
“Querem descansar nos bens instáveis – e não nos permanentes: são-lhes aqueles
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arrancados pelo tempo e passam... e os atormentam com temores e dores e os não
deixam tranqüilos” (A instrução dos catecúmenos, II, XVI, 24, p. 79). Tal concepção
agostiniana está em estreita relação com sua vida: Santo Agostinho também apresentase como um ser inquieto que somente encontrou a tranquilidade quando se voltou para
Deus, considerado por ele como a Verdade Suprema.
Como ele próprio retrata, julga que sua vida foi permeada por falsos prazeres e
deleites até que se convertesse. Esses prazeres, segundo ele, são passageiros, e podem
ser retirados do homem a qualquer momento, levando-o à infelicidade:
Finalmente – ainda que os prazeres insanos não sejam prazeres, ainda
assim, o que quer que sejam, e por mais que agradem a ostentação das
riquezas e o orgulho das honras, a voragem das tabernas e as lutas dos
teatros, a imundície das fornicações e a excitação dos banhos quentes
– uma febrezinha leva tudo isso e, embora nos deixe vivos, tira-nos
toda essa falsa felicidade: o que fica é uma consciência vazia e ferida
[...] (A instrução dos catecúmenos, II, XVI, 25, p. 81).
------------------------------------------------------------------------------------Por certo, um homem não se considerará muito infeliz se vier a perder
sua boa reputação, riquezas consideráveis ou bens corporais de toda
espécie? Mas não o julgarás, antes, muito mais infeliz, caso tendo em
abundância todos esses bens, venha ele a se apegar demasiadamente a
tudo isso, coisas essas que podem ser perdidas bem facilmente e que
não são conquistadas quando se quer? (O Livre-Arbítrio, III, 12, 26, p.
57).
Por isso, apresenta a necessidade de que o homem se volte para sua alma, onde
acredita que poderá encontrar as verdades que busca, ou seja, os conhecimentos
permanentes. Essas verdades, em seu entendimento, são asseguradas por algo que está
acima dos homens, das coisas e da razão: Deus (ABRÃO, 1999).
A alma humana, nos dizeres agostinianos, aspira a um conhecimento de Deus, a
partir do qual possa se expandir em uma irradiação de felicidade. A aspiração por essa
felicidade é justificada por Santo Agostinho como resultado da insatisfação do homem
consigo mesmo e de sua busca por uma melhora pessoal, motivado por sua alma, que se
encontra inquieta (PEREIRA MELO, 2010).
Ao entender que o objetivo de todo homem é ser feliz, afirma que para alcançar
este fim, é preciso que ele se volte para o Soberano Bem, querendo-o e apreendendo-o
(GILSON, 2007). Por isso, acredita que o fim último do homem é o encontro com Deus,
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e sua vida deve ser uma busca constante por esse encontro, de tal forma que ele deve
assumir uma conduta que lhe dê condições de alcançar essa contemplação divina. Sua
própria vivência é um retrato disso: no decorrer de sua obra, constata-se a insistência em
demonstrar seu desejo de conhecer a Deus, criticando-se pela vida anterior à conversão,
que, segundo passa a acreditar, distanciava-o de tal objetivo. A partir de então,
considera que nada mais seria necessário para alcançar a felicidade:
Este Deus à espreita em sua vida, este Deus presente em seus irmãos,
este Deus no mais íntimo de sua alma é também aquele que ele aspira
estreitar acima de todas as pesquisas, para o qual ele tende com todo o
seu ser, inflamado agora pelo próprio Amor (HAMMAN, 1980, p.
235).
------------------------------------------------------------------------------------E quer louvar-te o homem, esta parcela de tua criação; o homem
carregado com sua condição mortal, carregado com o testemunho de
seu pecado e com o testemunho de que resistes aos soberbos; e mesmo
assim, quer louvar-te o homem, esta parcela de tua criação. Tu o
incitas para que sinta prazer em louvar-te; fizeste-nos para ti, e
inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em ti
(Confissões, I, 1, p. 19).
Contudo, duas possibilidades são apresentadas ao homem: do mesmo modo que
ele pode buscar e amar a Deus, vivendo segundo o espírito, confirmando sua relação
com Este e criando condições de participar de sua eternidade; pode também afastar-se
Dele, vivendo segundo a carne, rompendo a relação com Deus e caindo em pecado
(ABBAGNANO; VISALBERGHI, 1969).
Dessa maneira, era necessário que o homem se voltasse para Deus e se afastasse
do pecado. Para tanto, precisava voltar-se para sua alma, concebida como um meio para
o indivíduo chegar ao que almejava, ou seja, Deus:
A – Fiz minha oração a Deus.
R – Então o que desejas saber?
A – Tudo o que pedi na oração.
R – Faze um breve resumo de tudo.
A – Desejo conhecer a Deus e a alma.
R – Nada mais?
A – Absolutamente nada (Solilóquios, II, 7, p. 21).
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Contudo, para isso era necessário que o homem estivesse preparado, bem como
apresentasse vontade de empreender essa busca. A caminhada para uma vivência cristã
não era fácil, e até mesmo por isso a educação proposta por Santo Agostinho é destinada
aos homens ousados, que não têm medo de buscar a Verdade.
A partir daí, a educação aparece em Santo Agostinho como um processo que tem
o papel de viabilizar/facilitar a caminhada humana rumo à ‘cidadania celeste’,
respondendo aos seus anseios (PEREIRA MELO, 2010).
Para isso, era necessário que o homem passasse por uma transformação,
afastando-se de sua materialidade e voltando-se para as verdades eternas, presentes em
sua alma graças à iluminação divina, ou seja, à ação de Deus. O processo educativo,
portanto, é entendido como uma peregrinação, do “homem velho” ao “homem novo”,
peregrinação que ele próprio apresenta em sua vida.
Ao amar Deus e buscá-Lo durante a vida, nos dizeres agostinianos, o homem
poderia gozar da felicidade completa após a sua morte: “Adorai juntos e amai a Deus –
por amor. Todo o nosso prêmio será Ele mesmo, e na vida eterna gozaremos de sua
bondade e de sua beleza” (A instrução dos catecúmenos, II, XXVII, 55, p. 120).
Nessa procura por Deus, Santo Agostinho destaca a necessidade da fé, para que
um dia o homem possa encontrá-Lo: “Pois cremos o que não vemos a fim de, pelos
próprios méritos da fé, merecermos ver e atingir aquilo que cremos” (A instrução dos
catecúmenos, II, XXV, 47, p. 111). Portanto, a perfeição moral, a felicidade e,
consequentemente, a sabedoria completa estavam relacionadas à ação do homem, que
deveria conhecer e amar a Deus (PEREIRA MELO, 2010). Com isso, o homem ia
assumindo a vivência cristã e se aproximando do processo de santificação.
Considerações Finais
A partir do que foi exposto, compreende-se que o estudo do pensamento de
Santo Agostinho, bem como de suas propostas educacionais, deve passar
necessariamente pela compreensão de sua vida.
A partir de sua própria vivência, o pensador entende o homem como um ser
inquieto. Ao elaborar seu pensamento e escrever suas obras, ele buscou não somente
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auxiliar o homem a encontrar respostas e direcioná-lo em uma caminhada rumo à
santificação. Suas obras retratam sua própria inquietação e busca pela tranquilidade e
felicidade, características da condição humana. Destaca-se, assim, o pensamento
formativo apresentado por ele, na tentativa de educar o homem em uma vivência cristã,
a qual apresenta como condição para que fosse possível chegar à verdadeira felicidade.
Nesse sentido, pode-se compreender porque o pensamento agostiniano
ultrapassou o tempo no qual o pensador viveu, atravessando diversos períodos e
chegando até os nossos dias: ele trata de valores e questões humanas perenes, de modo
que suas obras se adéquam às necessidades que se apresentam ainda na atualidade.
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, N.; VISALBERGHI, A. San Augustin. In: ______. Historia de la
pedagogia. México: Fondo de Cultura Económica, 1969.
ABRÃO, B. S. Santo Agostinho: a fé reabilita a razão. In: ______. História da
Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
AGOSTINHO. O Livre-arbítrio. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1995.
AGOSTINHO. Solilóquios. São Paulo: Paulus, 1998.
AGOSTINHO. A Instrução dos Catecúmenos: teoria e prática da catequese. 2. ed.
Petrópolis: Editora Vozes, 2005.
AGOSTINHO. Confissões. 5. ed. São Paulo: Paulus, 2010.
GILSON, E. Os padres latinos e a filosofia. In: ______. A Filosofia na Idade Média. 2.
ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
HAMMAN, A. Agostinho de Hipona. In: ______. Os padres da Igreja. 3. ed. São
Paulo: Edições Paulinas, 1980.
MARROU, H. Santo Agostinho e o agostinismo. Rio de Janeiro: Agir Editora, 1957.
PEREIRA MELO, J. J. Santo Agostinho e a educação como um fenômeno divino.
Educação e Filosofia Uberlândia, v. 24, n. 48, p. 409-434, jul/dez 2010.
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REALE, G.; ANTISERI, D. Santo Agostinho e o apogeu da Patrística. In: ______.
História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 5. ed. São Paulo: Paulus, 1990.
(Volume I).
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