Filosofia Renascentista e Moderna: séc. XV-XVII Profª Karina Oliveira Bezerra Convite a Filosofia: Unidade 01. Capítulo 04: p.55-56-57 Unidade 08. Capítulo 05: p. 449-450 Maquiavel e as relações entre ética e política: http://www.ensaiosfilosoficos.com.br/Artigos/Artigo6/AM ARAL_Marcia.pdf René Descartes: http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/moderna.htm Nova mentalidade • A passagem do feudalismo para o capitalismo: comércio/burguesia • A formação dos Estados Nacionais: política/economia/mercantilismo/navegações • O movimento da Reforma • O desenvolvimento da ciência natural • A invenção da imprensa • Antropocentrismo Renascimento • Humanismo: Razão e liberdade • “Que obra-prima é o homem! Como é nobre em sua razão! Que capacidade infinita! Como é preciso e bem-feito em forma e movimento! Um anjo na ação! Um deus no entendimento, paradigma dos animais, maravilha do mundo.” Shakespeare. Hamlet. Maquiavel (1469-1527) • Características do pensamento maquiaveliano: O realismo e o estabelecimento de uma ética laica. • O realismo: • O realismo extremo impresso em toda sua obra rompe com uma tradição oriunda ainda da Grécia Antiga – a da construção de utopias políticas – , para descrever não como o homem deve agir, ou como deve ser o governo, mas sim, como o homem age de fato e como, de fato, é o governo. Ética laica: subproduto da política • A segunda característica marcante do pensamento maquiaveliano é a rejeição completa ao legado ético cristão da Medievalidade e a constituição de uma moral laica de base naturalista. • Isto vai nos levar à secularização da política, movimento de ruptura com o pensamento político medieval que vinculava política à religião, à Igreja. • É, por romper estes laços da política com a religião que Maquiavel entrou para a história como o fundador da ciência política. Foi ele o primeiro pensador a tomar a política e analisá-la como uma categoria autônoma. • A ética proposta por Maquiavel não admite a existência de uma hierarquia de valores a priori, a partir dos quais nossas ações serão julgadas. A nova ética analisa as ações tendo em vista suas consequências, seus resultados. A ação política será julgada em função de sua utilidade para a comunidade, ou seja, o critério para a avaliação da ação política é sua utilidade para o grupo social. • Maquiavel não reconhece a subordinação do Estado a valores espirituais, valores transcendentes. • Não reconhece também que o homem possua direitos naturais, anteriores à constituição da sociedade. • Ao contrário, em estado de natureza, o homem vive nivelado aos animais, desconhecendo quaisquer noções de bem ou de mal, de justiça ou injustiça. • Desta forma, antecipando a filosofia política de Hobbes, Maquiavel afirma que a moral e a justiça não preexistem ao Estado, mas dele resultam em obediência às condições e exigências sociológicas. • Tanto a moral quanto a justiça são subprodutos sociais, nascidos do instinto de conservação e da necessidade do Estado de manter a ordem social. • As normas éticas, como também as leis positivas, a educação e a religião, são meios a que recorre o Estado para instaurar coercitivamente bons costumes na sociedade, para dirigir no sentido do bem comum o egoísmo individual ou para dar forma de moralidade e justiça à fundamental amoralidade da maioria. "ação virtuosa" e "ação moral". • Ação moral é toda ação manifestamente útil à comunidade, ação imoral é aquela que só tem em vista a satisfação de interesses privados e egoísticos. • O homem virtuoso não é aquele que se submete a razões superiores ou que confia à uma justiça abstrata ou a Deus a solução dos conflitos que trava com o mundo, mas é aquele que ajusta as suas ações, que observa as suas capacidades e age com obstinação. • Em síntese, a concepção moral maquiaveliana não admite a existência de um Bem ou um Mal preexistentes a definir os atos humanos, mas admite a existência de atos bons ou maus conforme observem ou não o bem da coletividade. Portanto, a Moral em Maquiavel perde sua autonomia e sua transcendência e é integralmente absorvida pela Política. Questão 01 • O Renascimento designa o movimento de renovação artístico e intelectual iniciado na Itália no século XIV, atingindo seu apogeu no século XVI e expandindose por toda Europa. Sobre a íntima relação entre Renascimento e filosofia, é CORRETO afirmar: • a) A vida contemplativa se torna mais importante que a vida ativa, tendo em vista a sobrevalorização da visão religiosa do mundo. b) Neste momento histórico é inaugurada uma nova visão de mundo chamada de teocêntrica. c) É o momento por excelência da releitura filosófica dos gregos. d) A filosofia neste período foi destacada como serva da teologia. Método matemático- experimental • Na tradição grega aristotélica, para se entender uma coisa não era preciso estudá-la experimentalmente. • Entretanto, Galileu – professor de matemática da Universidade de Pisa – decidiu, de forma inovadora • Mini-biografia de Galileu: https://www.youtube.com/watch?v=BUZ0q87S9FQ • Descartes: https://www.youtube.com/watch?v=M3oLEGlzs6k Questão 03 • Uma das características do Renascimento e da Modernidade que lhe é associada é um processo de secularização da ciência que se expressa por uma dissociação entre a teologia e a filosofia da natureza. A secularização da ciência realiza-se na separação entre razão e fé, as verdades científicas tornam-se independentes das verdades reveladas. Assinale o que for correto. • 01) O processo de secularização na Modernidade modifica o caráter da ciência; essa deixa de ser essencialmente contemplativa para transformar-se em uma ciência instrumental, cujo objetivo é conhecer a natureza para intervir nela, controlá-la e apropriar-se da mesma para fins úteis. 02) O mecanicismo constitui-se em um aspecto importante da ciência moderna. A natureza e o próprio ser humano são comparados a uma máquina, isto é, a um conjunto de mecanismos cujas leis precisam ser descobertas. 04) Copérnico encontra em Aristóteles os fundamentos teóricos para combater a Descartes (1596-1650):pai da filosofia moderna Descartes começa por refletir sobre as perguntas inquietantes do cético: Será que nossos sentidos não nos enganam sempre? O que é que garante que não estamos sempre alucinando ou sonhando? "A filosofia nos ensina falar com aparência de verdade sobre todas as coisas, e nos leva a ser admirado pelos menos eruditos. . . . [Contudo, apesar de] a filosofia ter sido cultivada por muitos séculos pelas melhores inteligências que jamais viveram, . . . não há, nela, uma só questão que não seja objeto de disputa, e, em conseqüência, que não seja dúbia. Para ele, a filosofia somente seria capaz de escapar dos ataques do cético se tivesse, como base de sustentação, um ponto de apoio arquimédico que fosse certo e indubitável. É a busca desse ponto de apoio que caracteriza sua filosofia. A matemática o impressionou, "por causa da certeza de suas demonstrações e da evidência de seu raciocínio" Um indivíduo (seja ele uma pessoa comum ou um cientista) desenvolve muitas de suas crenças antes de chegar à idade da razão. Mesmo depois da idade da razão, frequentemente adquire crenças através do exercício não-crítico de sua atividade sensorial, de testemunhos não confiáveis de outros, de apelo a autoridades indignas de crédito. Quem pretende ser racional em suas convicções, tem, mais cedo ou mais tarde, de limpar a sua mente de todas as suas crenças, duvidando de tudo aquilo que é incerto e passível de dúvida, e reconstruindo suas crenças sobre um novo fundamento, certo e indubitável. Examinando com atenção o que eu era, e vendo que podia supor que não tinha corpo algum e que não havia qualquer mundo, ou qualquer lugar onde eu existisse, mas que nem por isso podia supor que não existia; e que, ao contrário, pelo fato mesmo de eu pensar em duvidar da verdade das outras coisas seguia-se mui evidente e mui certamente que eu existia; ao passo que, se apenas houvesse cessado de pensar, embora tudo o mais que alguma vez imaginar fosse verdadeiro, já não teria qualquer razão de crer que eu tivesse existido, compreendi por aí que era uma substância cuja essência ou natureza consiste apenas no pensar, e que, para ser, não necessita de nenhum lugar, nem depende de qualquer coisa material. René Descartes. Discurso do método. Espinosa Século XVII (1632-1677) p.449-450 • Para Espinosa, somos seres naturalmente passionais, porque sofremos a ação de causas exteriores a nós. • As paixões não são boas nem más: são naturais. Três são as paixões originais: alegria, tristeza e desejo. As demais derivam-se destas. • Assim, da alegria nascem o amor, a devoção, a esperança, a segurança, o contentamento, a misericórdia, a glória; • Da tristeza surgem o ódio, a inveja, o orgulho, o arrependimento, a modéstia, o medo, o desespero, o pudor; • Do desejo provém a gratidão, a cólera, a crueldade, a ambição, o temor, a ousadia, a luxúria, a avareza. • Uma paixão triste é aquela que diminui a capacidade de ser e agir de nosso corpo e de nossa alma; ao contrário, uma paixão alegre aumenta a capacidade de existir e agir de nosso corpo e de nossa alma. • Que é o vício? Submeter-se às paixões, deixando-se governar pelas causas externas. (O vício não é um mal: é fraqueza para existir, agir e pensar.) Que é a virtude? Ser causa interna de nossos sentimentos, atos e pensamentos. Ou seja, passar da passividade (submissão a causas externas) à atividade (ser causa interna). (A virtude não é um bem: é a força para ser e agir autonomamente.) • Observamos, assim, que a ética espinosista evita oferecer um quadro de valores ou de vícios e virtudes, distanciando-se de Aristóteles e da moral cristã, para buscar na ideia moderna de indivíduo livre o núcleo da ação moral. Em sua obra, Ética, Espinosa jamais fala em pecado e em dever; fala em fraqueza e em força para ser, pensar e agir.