REGINA FIALHO DE ARAÚJO TRATAMENTO HOMEOPÁTICO COLETIVO EM GATOS DOMÉSTICOS (Felis sylvestris catus) PORTADORES DE SINAIS CLÍNICOS DE DOENÇA VIRAL CRÔNICA DO TRATO RESPIRATÓRIO Recife-PE 2008 REGINA FIALHO DE ARAÚJO TRATAMENTO HOMEOPÁTICO COLETIVO EM GATOS DOMÉSTICOS (Felis sylvestris catus) PORTADORES DE SINAIS CLÍNICOS DE DOENÇA VIRAL CRÔNICA DO TRATO RESPIRATÓRIO Monografia apresentada à Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA, como parte das exigências para a obtenção do título de Especialização em Clínica Médica de Pequenos Animais Orientadora: Profª Dra. Roseana Tereza Diniz de Moura – UFRPE Co-orientadora: Dra. Vanda Lúcia da Cunha Monteiro – UFRPE Recife-PE 2008 REGINA FIALHO DE ARAÚJO TRATAMENTO HOMEOPÁTICO COLETIVO EM GATOS DOMÉSTICOS (Felis sylvestris catus) PORTADORES DE SINAIS CLÍNICOS DE DOENÇA VIRAL CRÔNICA DO TRATO RESPIRATÓRIO Monografia apresentada à Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA, como parte das exigências para a obtenção do título de Especialização em Clínica Médica de Pequenos Animais Orientadora: Profª Dra. Roseana Tereza Diniz de Moura – UFRPE Co-orientadora: Dra. Vanda Lúcia da Cunha Monteiro – UFRPE APROVADA EM:_______/______/______ BANCA EXAMINADORA ______________________________________________ Profª. Dra. Roseana Tereza Diniz de Moura - UFRPE Presidente ______________________________________________ Dr. Otávio Pedro Neto Primeiro Membro ______________________________________________ Prof. Ms. Wirton Peixoto Costa Segundo Membro Recife – PE 2008 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais, ao meu marido, aos meus filhos e a todos aqueles que sempre torceram pelo meu sucesso e retorno à profissão abraçada. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, por estar sempre ao meu lado. Aos meus pais, Vera e Hercílio, pelo estímulo em superar os desafios. Ao meu marido, Fernando, com quem dividi cada angústia desta etapa. Aos meus filhos Eduardo, Bianca e Beatriz, razão maior de tudo que sou hoje. À minha irmã e amiga, Vânia, fonte de exemplo e admiração. Ao meu cunhado Leonardo, pelo grande aprendizado e incentivo às terapias não convencionais. Agradeço à minha colega e amiga, Eneida, que com sua receptividade na UFRPE, tornou decisivo o meu retorno à profissão. À minha orientadora, Rose, que tendo abraçado o compromisso com o bem-estar animal e com seu dedicado compromisso e respeito a eles, me fez deslumbrar a fantástica convivência com os gatos. A Vanda, co-orientadora, meus agradecimentos por ter despertado em mim a admiração pela terapia homeopática. Às colegas Andréia Laís e Angélica que contribuíram com seu tempo e disposição para a execução do experimento. A Graça, funcionária do gatil, sem a qual nosso trabalho seria mais árduo. À minha colega e amiga, Maria José, exemplo de companheirismo ao longo desta jornada. Aos encantadores felinos, instrumento principal da pesquisa, o meu respeito e meu desejo em proporcionar-lhes uma melhor qualidade de vida. Ao Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco, por ter viabilizado o local do experimento. À Equalis pela oportunidade de atualização e pelo elevado nível da sua equipe de professores. Enfim, a todos aqueles que estiveram torcendo pelo êxito deste trabalho, meu profundo agradecimento. EPÍGRAFE “Gatos são assim... fascinantes! Eles nos pegam pela alma sem nos darem condições de reagir. Eles também nos enxergam na alma e nos lêem a alma. Não adianta disfarçar nem tampouco comprá-los. Nós não os escolhemos, eles nos escolhem e nos deixam pensar que os escolhemos. São misteriosos, mas transparentes; arrojados, porém delicados; complexos e ao mesmo tempo simples; auto-suficientes, porém humildes; independentes, mas carentes; imensos, embora pequeninos; fortes, mas frágeis; presentes, porém discretos; amam a liberdade, mas respeitam os seus limites e o do próximo; corajosos, porém cautelosos... Grandes pensadores e amantes de tudo e deles mesmos... A convivência com estas criaturas misteriosas e deliciosas engrandece nossa alma”. Roseana Diniz SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS 7 RESUMO 8 ABSTRACT 9 1 INTRODUÇÃO 10 2 REVISÃO DE LITERATURA 12 2.1 A Homeopatia e seus conceitos 2.2 Doenças respiratórias virais em gatos domésticos 12 15 3 MATERIAL E MÉTODOS 18 3.1 Local do experimento 3.2 Animais e instalações 3.3 Escolha da medicação 3.4 Grupos experimentais e avaliação clínica 18 18 19 21 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 22 5 CONCLUSÃO 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 31 ANEXOS 34 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Animal apresentando intensa secreção nasal muco purulenta no momento inicial do tratamento (M0). 21 Figura 2 – Animal com secreção ocular muco serosa no M0. 21 Figura 3 – Animal apresentando acentuada perda de peso no M0. 21 Figura 4 – Animal com redução de atividade e pêlos eriçados no M0. 21 Figura 5 – Animal apresentando fezes de consistência alterada no M0. 21 Figura 6 – Avaliação clínica inicial (M0) dos animais do grupo 1 (GT1) trados com Pulsatilla nigricans CH12 e grupo 2 (GT2) tratado com Mercurius vivus CH12. Figura 7 – 25 Avaliação clínica final (M3) dos animais do GT1(Pulsatilla nigricans CH12) e GT2 (Mercurius vivus CH12). 26 Figura 8 – Avaliação clínica do GT1(Pulsatilla nigricans CH12) em M0 e M3. 26 Figura 9 – Avaliação clínica do GT2 (Mercurius vivus CH12) em M0 e M3. 27 Figura 10 – Avaliação clínica inicial (M0) dos animais do GC1 (álcool de cereais (v/v)) e GC2 (solução de cloreto de sódio 0.9% (v/v)). Figura 11 – 28 Avaliação clínica final (M3) dos animais do GC1 (álcool de cereais (v/v) e GC2 (solução de cloreto de sódio 0.9% (v/v)). 29 Figura 12 – Avaliação do GC1 (álcool de cereais (v/v)) em M0 e M3. 29 Figura 13 – Avaliação clínica do GC2 (solução de cloreto de sódio 0.9% (v/v)) em M0 e M3. 30 RESUMO A terapia homeopática é uma alternativa complementar que possibilita a cura do paciente como um todo e não apenas a doença, e conduz ao bem-estar animal. Esta terapia tem acrescido recursos à medicina veterinária apresentando resultados favoráveis em muitas situações, inclusive no tratamento de animais que vivem em grupo. O tratamento homeopático coletivo tem sido uma realidade em animais de produção e companhia. Gatos que vivem em gatil ou abrigo tendem a apresentar afecções respiratórias com mais freqüência. O presente estudo objetivou acompanhar a evolução clínica da terapia homeopática coletiva em gatos domésticos (Felis sylvestris catus) mantidos em gatil e portadores de sinais clínicos de doença viral crônica do trato respiratório (DVCTR). Os animais foram repertorizados e tratados coletivamente com Pulsatilla nigricans CH12 e Mercurium vivus CH12. Ao final do tratamento 40% dos animais tratados com Pulsatilla nigricans CH12 e 50% dos animais tratados com Mercurium vivus CH12 não apresentavam mais os sinais clínicos da DVCTR. Pode-se concluir que a Pulsatilla nigricans CH12 e o Mercurium vivus CH12, contribuíram no tratamento coletivo de gatos domésticos confinados que apresentavam sinais clínicos de doença crônica do trato respiratório. Palavras-chave: homeopatia coletiva, bem-estar, doença respiratória, gatil. ABSTRACT The homeopathic therapy is a complementary alternative which possibilities the cure of the patient as a whole, not just the disease, and leads to the animal’s well being. This therapy has added means to the Veterinary Medicine showing positive results in many situations including the treatment of group living animals. The collective homeopathic treatment has been a reality of production and pet animals. Cats that live in cattery or shelter tend to have respiratory affections more frequently. This research work aims to evaluate the clinical evolution of group homeopathic therapy in domestic cats (Felis sylvestris catus) raised in cattery and bearing clinical signs of chronic viral respiratory tract disease (CVRTD). The animals were submitted to a repertory and treatment in group with Pulsatilla nigricans CH12 and Mercurium vivus CH12. At the end of the treatment 40% of the animals treated which Pulsatilla nigricans CH12 and 50% of the animals treated which Mercurium vivus CH12 did not show any clinical signs of the CVRTD. It may be concluded that Pulsatilla nigricans CH12 and Mercurium vivus CH12 contributed to the treatment of confined group of cats that exhibited clinical signs of chronic respiratory superior tract disease. Key-words: collective homeopathy, welfare, respiratory disease, cattery. 1 INTRODUÇÃO O crescimento da população humana em todo o planeta e, com ela, a vida agitada e a necessidade de relacionamento com animais de estimação para companhia, lazer ou terapia têm acentuado a procura destes, principalmente os gatos. A população de gatos tem crescido muito, de forma que nos Estados Unidos (76.430 milhões) e Reino Unido (7.700 milhões) já ultrapassa a de cães, e no Brasil já chega a 12.466 milhões, sendo a quarta maior população de felino doméstico do mundo (ANFAL PET, 2005). Em virtude do aumento da popularidade do gato como animal de estimação, tem-se dado muita importância à terapêutica destes animais, principalmente, por esta espécie possuir deficiência no metabolismo hepático de algumas substâncias, além do custo dos medicamentos, regimes terapêuticos eficazes e apropriados (apresentação, dosagem e princípio ativo dos medicamentos) e erro nas prescrições e reações adversas (SOUZA, 2003). Como conseqüência deste crescimento e convivência com esses animais, as doenças tornamse mais evidentes e passam a ser uma preocupação dos criadores, e inspiram maior atenção e cuidados por parte dos médicos veterinários. A medicina veterinária muito tem avançado no que diz respeito à preocupação com o bem-estar animal. Sendo assim, as terapias não convencionais surgem como mais um recurso na manutenção, recuperação da saúde e melhoria da qualidade de vida dos animais. Entre estas, a homeopatia preconizada por Hahnemann, difundida em todo o mundo, visa o equilíbrio e a cura e, conseqüentemente, mantém a saúde do ser humano e dos seres vivos (BENEZ et al., 2002). De acordo com Bratman (1998), muitos defensores da medicina não convencional definem esta como a arte de usar métodos seguros e naturais para chegar à raiz dos problemas, ajudando o corpo a equilibrar-se e conseqüentemente evitando doenças antes que apareçam. Nela incluem-se todas as abordagens à cura, as quais não recaem na medicina convencional; e entre estas está a medicina homeopática. A homeopatia, ciência terapêutica baseada na lei natural de cura Similia similibus curantur semelhantes curados pelos semelhantes tem sido utilizada com sucesso (TEIXEIRA, 2003), por suas características de eficácia, seguridade, ausência de resíduos inócuos à saúde humana, animal e vegetal, permitindo, com isto, a manutenção da energia vital (ARENALES, 2002). No Brasil, é praticamente recente a criação de cursos de homeopatia específicos para médicos veterinários, surgindo a partir da década de 80. A existência de médicos veterinários homeopatas passou a ser oficializada e praticada por um número significativo de profissionais, coexistindo pacificamente com outras modalidades terapêuticas; contribuindo para o reconhecimento pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária como especialidade médica em 1996 (PINTO, 1998). Atualmente, o Brasil é considerado o país que mais avança no estudo, na pesquisa, na regulamentação e divulgação de ciência homeopática no mundo, principalmente, no tratamento de animais. Entre aves, ovinos suínos e caprinos, mais de um milhão de animais tratados. Em rebanho bovino, estima-se aproximadamente 1,6 milhão de animais tratados com medicamentos homeopáticos (ARENALES, [199-?]). Em vista aos desafios e às exigências deste novo século, a homeopatia começa a vislumbrar os caminhos próprios, se apoiando numa abordagem eclética, adequando-se à propedêutica e o seu receituário à realidade da casuística do dia-a-dia. O sucesso alcançado na rotina ambulatorial e hospitalar vem contribuindo para se afirmar como uma terapêutica de eleição nas diversas situações clínicas e cirúrgicas (PINTO, 1998). Diante do exposto e considerando os efeitos benéficos da homeopatia, principalmente no que se refere a efeitos adversos e ao bem-estar geral do organismo somado ao custo benefício, praticidade de administração e palatabilidade do medicamento, objetiva-se avaliar a resposta clínica do tratamento homeopático coletivo na doença viral crônica (DRC) de gatos domésticos (Felis sylvestris catus) criados em gatil; uma vez que a incidência dessa doença em locais onde há população de gatos é relativamente alta, prolongada e recidivante. 2 REVISÃO DE LITERATURA A doença respiratória em gatos além de causar significantes problemas clínicos em animais mantidos agrupados ainda necessita de medidas efetivas. Assim, a homeopatia emerge neste contexto como uma alternativa, que baseada em princípios e fundamentos bem sedimentados, vem acrescer uma terapia voltada para o bem-estar físico, mental e emocional propiciando o bem-estar geral do animal. 2.1 A Homeopatia e seus conceitos A Homeopatia foi criada e desenvolvida pelo médico alemão Frederick Samuel Hahnemann (1755 – 1843), que tem como objetivo estimular a força vital do paciente para que o mesmo se cure por si próprio. Hahnemann acreditava existir, no homem, uma entidade energética imaterial e irracional que seria responsável pelo equilíbrio orgânico. Essa entidade seria a força vital que estimula os sistemas defensivos e imunológicos para que o próprio corpo inicie o processo de cura. Concluiu que as doenças humanas não são causadas por matéria alguma, mas são unicamente transtornos imateriais (energéticos) da força vital que anima o corpo humano (MACHADO, 2000). De acordo com Bratman (1998), Hahnemann baseou-se em três princípios. O primeiro, a “lei dos semelhantes” ou “os semelhantes curam-se pelos semelhantes”, o qual preconiza que uma substância que causa determinados sintomas em uma pessoa saudável pode curar uma pessoa doente que esteja sofrendo dos mesmos sintomas, quando esta substância é ingerida em pequenas doses. O segundo princípio, a “lei dos infinitesimais”, descreve que quanto mais diluída for à dose de um medicamento, mais potente será seu efeito. O terceiro princípio, “a lei da doença crônica”, afirmava que tratamentos com ervas ou medicamentos convencionais fazem com que as doenças se enraízem no corpo, ao passo que os remédios homeopáticos baseados nas duas primeiras leis produzem a verdadeira cura interna. Hahnemann individualizou pacientes e medicamentos segundo a totalidade dos sintomas e enfatizou que o médico deve tratar do doente que ele conhece e não da doença que ele não conhece, mas da qual o doente sofre (ROMANACH, 2003). Sendo assim, era necessário coletar os sintomas a partir de registros toxicológicos, experimentações em indivíduos sãos e curas na prática clínica e assim facilitar a rápida seleção do medicamento simillimum1. Como o número de substâncias experimentadas era crescente, Hahnemann sentiu necessidade de ter algum auxílio para relembrar os dados das experimentações e incentivou seus discípulos a preparar um manual que fosse um índice para a matéria médica dos sintomas referentes aos medicamentos experimentados. Esta obra ficou conhecida como repertório. O primeiro repertório editado foi o de Boenninghausen; posteriormente existiram outros, mas, o mais difundido foi o de James Tyler Kent, o qual influenciou todos os outros que surgiram a partir daí (ARIOVALDO, 1997). Como supracitado, os resultados obtidos em seus experimentos foram registrados em uma matéria médica e atualmente é a base do tratamento utilizado pela homeopatia, que trouxe saúde e cura para pessoas e animais do mesmo modo, pois estes também revelam sintomas objetivos que são visíveis (BRATMAN, 1998). Segundo afirmava Hahnemann só um observador inexperiente poderia afirmar que os animais não expressam os sintomas de suas doenças tão claramente quanto os homens. Wolff (1986) cita que Hahnemann referia-se, ainda, que os animais podiam ser curados de uma maneira tão segura e perfeita, pela homeopatia, como os seres humanos. Assim, pode-se transferir os resultados do homem para o animal, assegurando que só um observador inexperiente poderia afirmar que os animais não expressam os sintomas de suas doenças tão claramente quanto os homens. Mesmo sem poder falar o que sentem, eles exibem as alterações no seu exterior, em seu comportamento e em suas funções vitais, que servem como uma linguagem ideal. Uma vez que o animal não conhece o fingimento e não exagera na manifestação da sua dor, não esconde seus sentimentos ou mente sobre os sintomas, como o homem costuma fazer quando não há deturpação do seu comportamento. Fica evidente que o animal deixa explícito, por meio dos sintomas, um quadro real da sua doença e do seu estado interno. A homeopatia já havia sido testada pelo próprio Hahnemann em um de seus cavalos, que foi tratado de oftalmia periódica com o medicamento Natrum muriaticum. Segundo ele, 1 simillimum – medicamento que engloba toda a sintomatologia da enfermidade e do paciente, em todos os aspectos é o mais indicado para a obtenção da cura do paciente (BENEZ et al, 2002). se as leis da medicina que conhecia e proclamava eram certas, verdadeiras e naturais, elas deveriam poder ser aplicadas aos animais bem como ao homem (BRUNELLI, 1997). Entretanto, apesar da homeopatia ser uma terapêutica que tem como fundamento a individualização, para chegar ao similimum, existem situações em que eventos clínicos crônicos ocorrem em grupos, e que por suas características inviabilizam o tratamento individual (PEZZUOL et al, 1997 e ARENALES, 2002). Nas epidemias também ocorre à impossibilidade de avaliação individual, porém, examinando-se o maior número de portadores da doença epidêmica, constata-se que grande percentagem deles apresenta manifestações comuns, relacionadas à epidemia, que denunciam a existência do chamado gênio medicamentoso epidêmico 2. A premência da situação justifica o emprego coletivo do medicamento, o que inclusive possibilita a cobertura dos casos ainda não declarados (ROMANACH, 2003). Desta forma, torna-se um grande desafio para a medicina veterinária desenvolver a homeopatia coletiva, fazer a avaliação de um quadro crônico, buscar o gênio epidêmico e acompanhar a evolução após as prescrições homeopáticas, contribuindo para o tratamento e prevenção de doenças (NASSIF et al, 1997). Segundo Nassif et al, (1997) existem trabalhos desenvolvidos e comprovados, experimentalmente, com o uso de medicamentos homeopáticos administrados na alimentação a plantéis de bovinos, eqüinos e aves. Outros experimentos revelam que plantéis tratados com a homeopatia apresentam melhores desempenhos populacionais e reprodutivos e, com relação à produtividade, maior produção de leite e ganho de peso com diminuição da conversão alimentar tornando-os menos susceptíveis às enfermidades e mais dóceis para serem manejados. Nas aves tratadas com a homeopatia geram-se descendentes com maior uniformidade em relação ao tamanho e ao desempenho. Para esses autores, falar da homeopatia é falar na totalidade que ela aborda. Um indivíduo ou animal não é feito apenas de sintomas mentais ou físicos; para compreensão do seu sofrimento precisamos entender o seu todo. A homeopatia, portanto, deve ser vista como mais um importante recurso que tem contribuído para a medicina veterinária, proporcionando melhoria da qualidade de vida para os animais e conseqüentemente para o homem, minimizando os danos ao organismo pelas 2 Gênio medicamentos epidêmico – quando tratamos uma população animal reunimos todos os sintomas de todos os animais e realizamos um estudo, a partir do qual chegamos ao medicamento homeopático comum a todos os animais (BENEZ et al, 2002). substâncias freqüentemente utilizadas na medicina convencional e que podem provocar efeitos residuais maléficos à saúde animal e à humana. 2.2 Doenças respiratórias virais em gatos domésticos As doenças respiratórias virais dos felinos, conforme relata Stein (1984), fazem parte de um complexo que consiste primeiramente do herpes vírus e do calicivírus. Outros agentes como retrovírus felino, Chlamydia psittaci (pneumonite felina), micoplasmas e diversas outras bactérias (Staphilococcus spp., Bordetella bronchiseptica e Pasteurella multocida) são descritas, porém, são provenientes de infecções secundárias e representam menos de 20% dos casos respiratórios. As afecções respiratórias geralmente cursam com sinais clínicos que podem ocorrer de forma isolada ou em conjunto, vindo a provocar certo desconforto. Este desconforto compromete a respiração e pode levar o animal a um estado de angústia respiratória aguda, que se não for atendido de emergência levará o animal a óbito. Assim, faz-se necessário todo o cuidado e acompanhamento de animais que apresentam problemas respiratórios recorrentes (SOUZA e ROSSI, 2005). Apesar do surgimento da vacinação em meados de 1970, a doença infecciosa do trato respiratório superior de gatos continua a ocorrer, e isso pode ser um problema, em particular, em gatis e abrigos, onde grandes grupos de gatos são mantidos confinados. As duas principais causas de doença respiratória superior em gatos (DRF) são Rinotraqueíte Viral Felina (RVF) Herpesvirus HVF-1 e a Calicivirose Felina (CVF). Ambas consideradas de igual importância e contribuindo para aproximadamente 80% dos casos (KNOWLES e GASKELL, 1991). O HVF-1 e o CVF são relativamente mais comuns em residências que mantêm muitos animais e em gatil ou abrigo, do que em residências com apenas um ou dois gatos. O vírus pode persistir nestas populações de três diferentes formas. Uma delas seria a transmissão direta de animais infectados aos susceptíveis. Outra forma seria a persistência do vírus no ambiente, embora por curto período de tempo (HVF-1 por 1 a 2 dias e CVF por 8 a 10 dias), mas o suficiente para a transmissão indireta. Um terceiro modo de persistência do vírus é o estado de portador, o qual constitui uma importante fonte de infecção do vírus, visto que os portadores podem apresentar-se aparentemente assintomáticos, mas, continuam eliminando o vírus no ambiente. Pelo menos 80% dos gatos recuperados de HVF-1 tornam-se portadores. O estresse pode desencadear o aparecimento dos sintomas e favorecer a transmissão, visto que o mesmo compromete a resposta imunológica, favorecendo as infecções secundárias e, conseqüentemente, dificultando o tratamento e cura dos animais (JONES, 2000; SPINOSA et al, 2002). Aproximadamente um entre três gatos desenvolve DTR quando confinados e devido às infecções secundárias muitos morrem; pois as vacinas geralmente proporcionam proteção contra o aparecimento de sinais clínicos severos da virose, mas não previnem infecção (FORD e WALSHAW, 1984; KNOWLES e GASKELL, 1991). Para Holzworth (1984), embora as vacinas não produzam uma imunidade tão sólida ou duradoura, elas contribuem para a prevenção ou redução da incidência de “resfriados”. O HVF-1 geralmente produz doença respiratória superior severa, em gatos susceptíveis. Após período de incubação de dois a seis dias, os sintomas precoces característicos da doença são depressão, inapetência, pirexia, espirro e, algumas vezes, salivação copiosa. Sinais subseqüentes incluem descarga nasal e ocular acentuadas, conjuntivite e, algumas vezes, dispnéia e tosse (KNOWLES e GASKELL, 1991), além de incordenação principalmente de cabeça, mal-estar, inanição, desidratação, pneumonia, respiração pela boca já que ocorre obstrução parcial das narinas; e postura esternal (HOOVER, 1987). A forma aguda pode estar caracterizada por ocorrência súbita dos sinais já citados anteriormente e desidratação em grau variado (ETTINGER e FELDMAN, 1995). O HVF-1 provavelmente causa 80% das condições inflamatórias superficiais dos olhos dos gatos, sendo muitos deles expostos ao vírus precocemente. Conjuntivite e rinite crônicas podem se desenvolver em casos severos. Se recorrência ou persistência de conjuntivite é característica marcante, deve-se suspeitar de infecção por clamídia (KNOWLES e GASKELL, 1991). Ulceração lingual e ceratite podem ser ocasionais; e mais raramente produz pneumonia viral primária, além de úlcera cutânea e sinais neurológicos. Aborto pode estar presente como conseqüência da severa debilidade provocada pela doença, não devido ao efeito deletérico do vírus (KNOWLES e GASKELL, 1991; GASKELL e WILLOUHBY, 1999). O CVF causa infecção do trato respiratório superior em gatos e está também associado a poliartrite e estomatite crônica (GEISSLER, et al, 1999). Esta virose possui sintomas semelhantes ao HVF-1, e em alguns casos é difícil diferenciar ambas as infecções baseandose nos sinais clínicos. Porém, a doença é menos severa, com espirros suaves e descarga nasal e ocular menos proeminente. Ulceração oral é o sinal mais característico e pode estar presente sem sinais respiratórios, locais típicos são língua, palato e lábios. Úlceras também podem se desenvolver em outros lugares, particularmente no filtro nasal e patas. Gatos adultos manifestam a forma moderada, enquanto filhotes de três semanas de idade, em geral, desenvolvem a forma severa da doença (PEDERSEN, 1987). O grau de patogenicidade do vírus depende de muitos fatores, como (1) a quantidade e cepas à qual que foi exposto, (2) a saúde em geral e ao estado imune, (3) a idade e (4) a presteza do tratamento sintomático. Gatos apresentando doença respiratória infecciosa severa geralmente morrem de inanição e desidratação, e não dos efeitos diretos do vírus (STEIN, 1984). O diagnóstico da doença respiratória viral é baseado em sinais clínicos típicos, exames laboratoriais (hematológico, citológico, isolamento e identificação viral) e necropsia. A terapia é, em grande parte, sintomática e de suporte e antibióticos de amplo espectro são úteis contra infecção bacteriana secundária (KNOWLES; GASKELL, 1991). Segundo Benites et al (2003) e Stein (1984), os animais que são mantidos confinados apresentam afecções respiratórias prolongadas em razão da inexistência do tratamento específico e afirmam que é limitado o papel dos antibióticos no tratamento do complexo da doença respiratória felina, uma vez que no controle dos invasores secundários em um dado episódio de doença respiratória, pode tornar-se ineficaz em outro surto. Para casos crônicos, portanto, não há alternativa terapêutica alopática eficaz, a não ser o tratamento de apoio, bons cuidados e utilização de terapia antiviral específica, assim como descongestionantes, anti-histamínicos, vaporização (STEIN, 1984). O uso da terapia homeopática demonstrou, em estudo realizado com felinos abandonados confinados em gatil, acometidos por doenças respiratórias e dermatoses, melhora do quadro clínico dos animais ao eleger o medicamento similar na matéria médica aos sinais clínicos observados. Verificou-se que 36 (82%) dos animais apresentaram melhora significante dos quadros respiratório e dermatológico, indicando boa resposta ao tratamento (BENITES et al, 2003). 3 MATERIAL E MÉTODOS Para a realização do experimento o projeto foi encaminhado à Comissão de Ética do Departamento de Medicina Veterinária (DVM) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), sendo iniciado após análise e parecer favorável para seu desenvolvimento. Todos os animais foram tratados atendendo às normas de biosseguridade. 3.1 Local do experimento O experimento foi desenvolvido no Gatil Experimental do DMV da UFRPE 3.2 Animais e instalações Foram utilizados 40 gatos domésticos (Felis sylvestris catus) sem raça definida (SRD), de quatro meses a dez anos de idade, de ambos os sexos, que apresentavam sintomas sugestivos de doença viral crônica do trato respiratório (DVCTR). A alimentação constituiu-se de ração comercial importada para gatos, reabastecida duas vezes ao dia, de acordo com as necessidades por quilo de peso dos animais, segundo orientação nutricional do fabricante, e água potável ad libitum. Os animais debilitados recebiam uma suplementação, duas vezes ao dia, feita com a própria ração umedecida e adicionada de carne enlatada específica para gatos e suplementação vitamínica e mineral comercializada para a espécie. Todos os animais foram everminados antes do início da terapia com repetição do tratamento após 21 dias e, na ocasião receberam coleiras de identificação (cor e numeração). O ambiente era higienizado duas vezes ao dia e possuía área telada com piso cimentado ao ar livre (banho de sol e atividade social), solário com canaleta para deposição de dejetos, área coberta com prateleiras para descanso e boxes para animais em observação e internamento. Todos os animais foram mantidos nas mesmas condições de confinamento. 3.3 Escolha da medicação Os medicamentos homeopáticos foram definidos após hierarquização dos sintomas homeopáticos, na avaliação clínica, pela repertorização3 do conjunto de sintomas desta coletividade ao início da pesquisa momento zero (M0). Os animais foram avaliados pela apresentação dos dez sintomas definidos para este estudo, conforme descrito abaixo e ilustrado na figura 1(a-e). 1. Secreção nasal variando da cor amarela a esverdeada 2. Secreção ocular serosa a purulenta 3. Estertor pulmonar 4. Perda de peso 5. Espirro 6. Tosse 7. Redução de atividade progredindo para apatia 8. Redução de apetite progredindo para inapetência 9. Pêlos eriçados 10. Fezes de consistência e cor alteradas 3 Repertorização - conforme Romanach (2003) é a individualização de pacientes e drogas segundo a totalidade dos sintomas. Figura 1. Sinais clínicos verificados nos gatos com doença viral crônica do trato respiratório submetido ao tratamento homeopático: animal apresentando secreção nasal mucopurulenta no momento inicial (M0) (1-a); animal apresentando secreção ocular muco serosa no momento inicial (M0) (1-b);.animal apresentando acentuada perda de peso no momento inicial (M0) (1-c); animal apresentando redução de atividade içados no momento inicial (M0) (1-d); animal apresentando fezes de consistência alterada no momento inicial (M0) (1-e). Neste estudo foi realizada a repertorização dos dez sintomas utilizando-se o repertório de Ariovaldo Ribeiro Filho. Após repertorização, foram eleitos dois medicamentos Pulsatilla nigricans CH124 e Mercurium vivus CH12. 4 CH12 - décima segunda dinamização centesimal de Hahnemann. Após dez sucussões5, os medicamentos eram administrados individualmente para cada animal, uma vez ao dia, diretamente na boca, e duas vezes ao dia na água de beber, por um período de 30 dias ou menos, caso ocorresse o desaparecimento dos sintomas. 3.4 Grupos experimentais e Avaliação clínica Formaram-se, aleatoriamente, quatro grupos de dez animais cada: Grupo 1 (GT1=10), tratado com Pulsatilla nigricans CH12; Grupo 2 (GT2=10), administrado o Mercurius vivus CH12; Grupo Controle 3 (GC3=10), recebeu álcool de cereal (veículo do medicamento homeopático por volume) e Grupo Controle 4 (GC4=10), administrou-se solução de cloreto de sódio 0.9% (v/v)6. Os animais do experimento recebiam acompanhamento diário em dois turnos para observação do estado geral, o acompanhamento foi realizado através de fotos e anotações dos sinais clínicos observados (Anexos). A cada sete dias (momento inicial - M0, sete dias – M1, 14 dias – M2 e momento final – M3) era feita uma avaliação para observação da evolução clínica dos sintomas regressão, progressão, desaparecimento, surgimento de novos sintomas e intensidade. Durante as avaliações procurava-se observar se os sintomas que os animais apresentavam, individualmente, sugeriam patogenesia7 (fato este que quando comprovado a medicação foi suspensa) ou mesmo aparecimento de novos sintomas, agravação homeopática e retorno de sintomas antigos. 5 Sucussão - ou dinamização é o processo de causar um choque (batidas fortes) no vidro do medicamento homeopático agitando a solução (manual ou mecânico). Método que libera o âmago da matéria, as propriedades terapêuticas ou curativas, sem ela não há ação terapêutica (BENEZ,2002). 6 v/v – veículo por volume. 7 Patogenesia ou patogênese – é o conjunto de sintomas que um dado medicamento provoca no homem são. O conjunto de patogenesias chama-se Matéria Médica Homeopática (MACHADO, 2000). 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Todos os animais apresentaram os sinais clínicos típicos da DVCTR, corroborando com Knowles e Gaskell (1991); Jones et al (2000); Spinosa et al (2002) (Fig 6, 10). Apesar da homeopatia ser uma terapêutica que busca individualizar cada animal, ou seja, para cada doente um medicamento específico (ROMANACH, 2003), neste estudo fez-se uso do princípio da similitude entre os sintomas da matéria médica a partir de sintomas apresentados pelo coletivo, como mencionam Ariovaldo (2002) e Teixeira (2003); visto que, eventos clínicos crônicos que ocorrem em grupos, por suas características inviabilizam o tratamento individual (PEZZUOL et al, 1997). Ao 3 dia do tratamento, observou-se uma exteriorização e intensificação dos sintomas em 80% dos GT1 e GT2, provavelmente este fato sugeriu agravação homeopática; fenômeno de intensificação transitória das manifestações iniciais dos sintomas nas primeiras horas ou dias após administração do medicamento correto (MACHADO, 2000; BENEZ, 2002; ROMANACH, 2003). Benez (2002) relata, entre suas observações prognósticas, a ocorrência da agravação nas primeiras horas dos quadros agudos e primeiros dias dos quadros crônicos, o que corrobora com os achados verificados nos primeiros dias do tratamento. A avaliação clínica dos animais do GT1 realizada no momento inicial (M0) e final tratamento no (M3) (Fig.8) demonstram que as secreções nasais presentes inicialmente regrediram para 10% e as secreções oculares presentes regrediram para 30%. Observou-se ausência de estertor pulmonar. Em relação ao parâmetro perda de peso, os sintomas persistiram em 10% dos animais. Os espirros estavam ausentes. Verificou-se que a tosse, a redução de atividade, a redução do apetite e pêlos eriçados regrediram. As fezes alteradas regrediram para 10%. A avaliação clínica do GT2 realizada no M0 e ao final do tratamento no M3 (Fig. 9) demonstram que as secreções nasais presentes regrediram para 30%; as secreções oculares desapareceram. Observou-se que o estertor pulmonar regrediu para 10%. Os espirros estavam ausentes. A tosse persistiu em 10%. A redução de atividade permaneceu em 10%. A redução de apetite, pêlos eriçados e fezes alteradas não estavam presentes. Figura 6- -Avaliação clínica inicial (M0) dos animais do GT1 (Pulsatilla nigricans CH12) e do GT2 (Mercurius vivus CH12). SN – secreção nasal; SO – secreção ocular; EP – estertor pulmonar; PP – perda de peso; E. – espirro; T - tosse; RAt – redução de atividade; RAp – redução de apetite; PE – pêlos eriçados; FA – fezes alteradas. Figura 7- Avaliação clínica final (M3) dos animais do GT1(Pulsatilla nigricans CH12) e GT2 (Mercurius vivus CH12). SN – secreção nasal; SO – secreção ocular; EP – estertor pulmonar; PP – perda de peso; E. – espirro; T - tosse; RAt – redução de atividade; RAp – redução de apetite; PE – pêlos eriçados; FA – fezes alteradas. Figura 8- Avaliação clínica inicial (M0) e final (M3) dos animais do GT1(Pulsatilla nigricans CH12). SN – secreção nasal; SO – secreção ocular; EP – estertor pulmonar; PP – perda de peso; E. – espirro; T - tosse; RAt – redução de atividade; RAp – redução de apetite; PE – pêlos eriçados; FA – fezes alteradas. Figura 9 – Avaliação clínica inicial (M0) e final (M3) dos animais do GT2 (Mercurius vivus CH12). SN – secreção nasal; SO – secreção ocular; EP – estertor pulmonar; PP – perda de peso; E. – espirro; T - tosse; RAt – redução de atividade; RAp – redução de apetite; PE – pêlos eriçados; FA – fezes alteradas. Em análise geral observou-se que apesar da persistência de secreção nasal, secreção ocular, perda de peso e fezes alteradas no GT1 e secreção nasal, estertor pulmonar tosse e redução de atividade no GT2, o resultado indica uma melhora significativa dos animais e ao mesmo tempo acusa a cronicidade de acordo com Benites et al (2003) e Stein (1984), pela condição de confinamento dos animais agrupados o que tornam essas afecções prolongadas e tratamento mais demorado (Fig. 7). Ao término do tratamento verificou-se que 40% dos animais do GT1 e 50% dos animais do GT2 não apresentavam mais os sinais clínicos da DVCTR o que indica evolução para a cura, corroborando com os resultados obtidos por Benites et al (2003) Os grupos GC3 e GC4 que receberam o álcool de cereal (v/v) e solução de cloreto de sódio 0.9% (v/v) respectivamente, foram utilizados como controle para oferecer o mesmo estresse infringido aos grupos tratados. Na avaliação clínica dos animais do GC3 e do GC4 realizada no M0 (Fig.10) as secreções nasais estavam presentes em 40% no GC3 e 40% no GC4. As secreções oculares presentes representavam 40% no GC3 e 50% no GC4. Estertor pulmonar representava-se em 20% no GC3 e 20% no GC4. Perda de peso não foi constatada no GC3 e no GC4 em 20 %. Espirro estava presente em 50% do GC3 e 30% do GC4. A tosse foi encontrada em 30% do GC3 e em nenhum animal do GC4. Redução de atividade em 20% do GC3 e não foi encontrada em nenhum do GC4. Redução de apetite estava presente em 10% do GC3 e 10% do GC4. Pêlos eriçados foram encontrados em 20% do GC3 e nenhum em GC4. As fezes alteradas só foram encontradas no GC4 em 20% . Na avaliação clínica dos animais do GC3 e do GC4 realizada no momento final (M3) (Fig.11-13), demonstraram que as secreções nasais representavam 50% no GC3 e 40% no GC4. As secreções oculares em 60% no GC3 e 60% no GC4. Observou-se estertor pulmonar em 30% no GC3 e 20% em GC4. A perda de peso no GC3 representava 10% e nenhum no GC4. Espirro estava presente em 50% no GC3 e 30% no GC4. Tosse em 30% no GC3 e 10% no GC4. Redução de atividade foi observada em 20% no GC3 e 10% no GC4. Em relação à perda de apetite 20% do GC3 e 10% do GC4. Pêlos eriçados representavam 20% no GC3 e nenhum animal do GC4. Fezes alteradas 10% no GC3 e 20% no GC4. Figura 10 - Avaliação clínica inicial (M0) dos animais do GC3 (álcool de cereais (v/v)) e GC4 (solução de cloreto de sódio 0.9% (v/v)). SN – secreção nasal; SO – secreção ocular; EP – estertor pulmonar; PP – perda de peso; E. – espirro; T - tosse; RAt – redução de atividade; RAp – redução de apetite; PE – pêlos eriçados; FA – fezes alteradas. Figura 11- Avaliação clínica final (M3) dos animais do GC3 (álcool de cereais (v/v)) e GC4 (solução de cloreto de sódio 0.9% (v/v)). SN – secreção nasal; SO – secreção ocular; EP – estertor pulmonar; PP – perda de peso; E. – espirro; T - tosse; RAt – redução de atividade; RAp – redução de apetite; PE – pêlos eriçados; FA – fezes alteradas. Figura 12- Avaliação clínica inicial (M0) e final (M3) dos animais do GC3 (álcool de cereais (v/v)). SN – secreção nasal; SO – secreção ocular; EP – estertor pulmonar; PP – perda de peso; E. – espirro; T - tosse; RAt – redução de atividade; RAp – redução de apetite; PE – pêlos eriçados; FA – fezes alteradas. Figura 13- - Avaliação clínica inicial (M0) e final (M3) dos animais do GC3 (álcool de cereais (v/v)) e GC4 (solução de cloreto de sódio 0.9% (v/v)). SN – secreção nasal; SO – secreção ocular; EP – estertor pulmonar; PP – perda de peso; E. – espirro; T - tosse; RAt – redução de atividade; RAp – redução de apetite; PE – pêlos eriçados; FA – fezes alteradas. Observou-se que em 10% dos animais dos GT1 e GT2 ocorreu o desaparecimento total dos sinais clínicos, verificando-se que houve influência na evolução do tratamento (STEIN, 1984, PEDERSEN 1987). Apesar destes animais serem mais susceptíveis à infecção (GASKELL, 2006), visto que apresentavam idade inferior a quatro meses de idade, observouse que houve uma resposta mais rápida ao tratamento, melhorando os sintomas apresentados, mesmo após a suspensão, possivelmente por serem filhotes e apresentarem a doença ainda em um estado agudo e por não ter tido contato com medicamentos convencionais, como antibióticos, fazendo com que o medicamento homeopático agisse mais profundamente tocando a força vital destes animais e conseqüentemente favorecendo-os. O reaparecimento de sintomas antigos em 90% dos animais do GT1 curados e 80% do GT2 sugere que o medicamento tocou a força vital conforme relata Benez (2002), o que pode sugerir ser o “similimum”, fazendo com que os pacientes evoluíssem para a cura clínica. Segundo Hering a cura se realiza, e deveria ocorrer, com os sintomas desaparecendo de cima para baixo; de dentro para fora; do centro para a periferia; de órgãos ou sistemas mais importantes para menos importantes; na ordem inversa do aparecimento dos seus sintomas no indivíduo (VIJAYAKAR, 2003) estando de acordo com os dados encontrados neste experimento. Com relação à prevenção e o controle da DVCTR, conforme cita Gaskell et al (2006), são bem mais protegidos por meio de uma combinação de vacinação e tratamento. Sendo assim a terapia homeopática foi importante, uma vez que provocou o estímulo vital para que o próprio organismo se curasse (MACHADO, 2000), visto que é limitado o uso da medicina convencional, principalmente a antibioticoterapia, como cita Stein (1984). 5 CONCLUSÕES Os medicamentos homeopáticos Pulsatilla nigricans e Mercurius vivus diminuíram os sinais clínicos da doença respiratória dos gatos domésticos criados em gatil. O álcool de cereal e o cloreto de sódio 0.9% não exerceram ação terapêutica. O tratamento homeopático coletivo é viável, podendo ser indicado em condições semelhantes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANFAL PET – Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação. São Paulo, SP. 2005. Disponível em: <http:// www.anfalpet.org.br > Acesso em: 10.10.2007. ARENALES, M. C. Homeopatia em Gado de Corte- I Conferência Virtual Global sobre Produção Orgânica de Bovinos de Corte-02 de setembro a 15 de outubro de 2002. ARENALES, M. C. Viabilidade da homeopatia na medicina veterinária- Revista Nosso Clínico, 1999, ano 2, n.10, p.26-28. ARENALES, M. C. O Histórico da Homeopatia na Medicina Veterinária. Disponível em: < http://www.guiabioagri.com.br/index.php?option=content&task=view&Itemid=2.html >. Acesso em: 22 jan.2008. ARIOVALDO, FILHO, R. Contribuição Brasileira ao Repertório. Homeopatia Brasileira, Rio de Janeiro, 1997, vol.3, n.1, p.286-297. ARIOVALDO, FILHO, R. Novo Repertório de Sintomas Homeopáticos. São Paulo: Robe Editorial, 2002, 1201p. BENEZ, E. M., et al. Manual de Homeopatia Veterinária: Indicações Clínicas e Patológicas - Teoria e Prática. São Paulo: Robe Editorial, 2002, 594p. BENITES, N. R.; MEVILLE, P. A.; SILVA, A. S. Tratamento homeopático de felinos abandonados confinados em gatil acometidos por doenças respiratórias e dermatoses. Clínica Veterinária, São Paulo, 2003,.n.47, p.68-70. BRATMAN, E. Guia Prático de Medicina Alternativa: Uma avaliação realista métodos alternativos de cura. Trad. Ana Gibson. Rio de Janeiro: Campus, 1998, 238p. BRUNELLI, S. R de A. História da Homeopatia Veterinária. Homeopatia Brasileira, Rio de Janeiro, RJ, 1997, vol.3, n.1, p.318-320. ETTINGER, S. J., FELDMAN E. C. Textbook of Veterinary Internal Medicine. 4th edition, Philadelphia: W. B. Saunders, 1995, vol.1, p.425-433. FORD, B. R., WASHAW, R. Doença respiratória Superior Felina.In: Atualização Terapêutica Veterinária. Pequenos Animais. São Paulo: Manole 1984, seção 3, p.244-249. GASKELL, R.; WILLOUHBY, K. Herpesviruses of carnivores. Veterinary Microbiology, n.69, p.73-88, 1999. GASKELL, R, M; RADFORD, A. D.; DAWSON, S. D. Doença Respiratória Infecciosa Felina. In: Clínica e Terapêutica em Felinos. 3ª ed. São Paulo: Roca, 2006. p.472 – 484. GEISSLER, K et al. Feline calicivirus capsid protein expression and self-assembly in cultured feline cells. Veterinary Microbiology, 1999, n.69, p.63-66. HOLZWORTH, J. Controle das Doenças Infecciosas Felinas em Criatórios de Felinos e Abrigos de Adoção. In: Atualização Terapêutica Veterinária. Pequenos Animais. São Paulo: Manole 1984, seção 13, p.1416-1419. HOOVER, E. A. Viral Respiratory Disease and Chlamidiosis. In: HOLZWORTH, J. B. (Ed.). Disease of The Cat. 8th Edition. Philadelphia: W. B. Saunders, 1987, vol. 1, p 147-175. JONES, T. C et al. Patologia Veterinária. 6ª ed. São Paulo: Manole, 2000, p.185-187. KNOWLES, J. O.; GASKELL, R. M. Control of Upper Respiratory Diseases in Multiple Cat Households and Catteries. In: AUGUST, J. R. (Ed.). Feline Internal Medicine. 9th edition. Philadelphia: W. B. Saunders, 1991, p.563-569. MACHADO, I. T. Guia Homeopático. 6ª Edição, São Paulo, SP: Robe Editorial, 2000, 397p. NASSIF, M. R. G. et al. Compêndio de Homeopatia. Vol.III, São Paulo: Robe Editorial, 1997, 308p. PEDERSEN, N. C. Basic and Clinical Immunology. In: HOLZWORTH, J. B, (Ed.). Disease of The Cat. 8th edition, Philadelphia: W. B. Saunders, 1987, vol.1, p.147-175. PEZZUOL, I.D., CHENCINSKI, Y. M., PUSTIGLIONE, M. Estudo Prospectivo das Possibilidades da Homeopatia em condições Crônicas Coletivas. Homeopatia Brasileira, Rio de Janeiro, RJ, vol.3 n.2, p.364, 1997. PINTO, L. F. Rumos da Homeopatia Veterinária no Brasil. Homeopatia Brasileira, Rio de Janeiro, vol.4, n.1, p. 505-506, 1998. ROMANACH, A. K. Homeopatia em 1000 Conceitos. 3ª ed, São Paulo: Elcid, 2003, 557p. SOUZA, H. J. M. Coletâneas em Medicina e Cirurgia Felina. Rio de Janeiro: L.F. Livros de Veterinária, 2003. 477p. SOUZA, H. J. M. de; ROSSI, C. N.. In: Rodrigo Cardoso Rabelo; Deninist. Crowe Jr. (org). Fundamentos de terapia intensiva veterinária em pequenos animais. Condutas no paciente crítico. Rio de Janeiro: L. F. Livros, 2005. 475p. SPINOSA, H. S.; et al. Farmacologia Aplicada a Medicina Veterinária. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. p.441-591, 598-604. STEIN, B.S. Complexo da Doença Respiratória Felina. In: Atualização Terapêutica Veterinária. Pequenos Animais. São Paulo: Manole, 1984, seção 13, p.1426-1432. TEIXEIRA, M. Z. Homeopathic use of the curative reboud effect. Medical Hypotheses. 2003, vol.60, n.2, p.276-283, VIJAYAKAR, P. Homeopatia Previsível. Parte I, Teoria da Supressão. Curitiba: El Erial, 2003, 103p. WOLFF, H. G. Tratando o Gato pela Homeopatia. Trad.de Dra. Irina Buznicki Tablitz. São Paulo: Organização Andrei Editora Ltda., 1986. 136p. ANEXOS TABELAS Tabela1- Avaliação clínica inicial (M0) dos animais do GT1 (Pulsatilla nigricans CH12) e GT2 (Mercurius vivus CH12). Sinais Clínicos SN SO EP PP E T RAt RAp PE FA M0 GT1 (%) 60 100 60 50 70 30 80 30 10 30 GT2 (%) 70 70 60 30 60 20 50 0 0 40 SN – secreção nasal; SO – secreção ocular; EP – estertor pulmonar; PP – perda de peso; E. – espirro; T - tosse; RAt – redução de atividade; RAp – redução de apetite; PE – pêlos eriçados; FA – fezes alteradas. Tabela 2- Avaliação clínica final (M3) do GT1 (Pulsatilla nigricans CH12) e GT2 (Mercurius vivus CH12). Sinais Clínicos SN SO EP PP E T RAt RAp PE FA M3 GT1 (%) 10 30 0 10 0 0 0 0 0 10 GT2 (%) 30 0 10 10 0 10 10 0 0 0 SN – secreção nasal; SO – secreção ocular; EP – estertor pulmonar; PP – perda de peso; E. – espirro; T - tosse; RAt – redução de atividade; RAp – redução de apetite; PE – pêlos eriçados; FA – fezes alteradas. Tabela 3 - Avaliação clínica inicial (M0) e final (M3) dos animais GT1 (Pulsatilla nigricans CH12). Sinais Clínicos SN SO EP PP E T RAt RAp PE FA GT1 M0 (%) 60 100 60 50 70 30 80 30 10 30 M3 (%) 10 30 0 10 0 0 0 0 0 10 SN – secreção nasal; SO – secreção ocular; EP – estertor pulmonar; PP – perda de peso; E. – espirro; T - tosse; RAt – redução de atividade; RAp – redução de apetite; PE – pêlos eriçados; FA – fezes alteradas. Tabela 4- Avaliação clínica inicial (M0) e final (M3) dos animais do GT2 (Mercurius vivus) CH12 Sinais Clínicos SN SO EP PP E T RAt RAp PE FA GT2 M0 (%) 70 70 60 30 60 20 50 0 0 40 M3 (%) 30 0 10 10 0 10 10 0 0 0 SN – secreção nasal; SO – secreção ocular; EP – estertor pulmonar; PP – perda de peso; E. – espirro; T - tosse; RAt – redução de atividade; RAp – redução de apetite; PE – pêlos eriçados; FA – fezes alteradas. Tabela 5- Avaliação clínica inicial (M0) dos animais do GC3(álcool de Cereais v/v)) e dos animais do GC4(solução de cloreto de sódio 0.9% v/v)). Sinais Clínicos SN SO EP PP E T RAt RAp PE FA M0 GC3 (%) 40 40 20 0 50 30 20 10 20 0 GC4 (%) 40 50 20 20 30 0 0 10 0 20 SN – secreção nasal; SO – secreção ocular; EP – estertor pulmonar; PP – perda de peso; E. – espirro; T - tosse; RAt – redução de atividade; RAp – redução de apetite; PE – pêlos eriçados; FA – fezes alteradas. Tabela 6 – Avaliação clínica final (M3) dos animais do GC3(álcool de Cereais (v/v)) e dos animais do GC4(solução de cloreto de sódio 0.9% (v/v)) Sinais Clínicos SN SO EP PP E T RAt RAp PE FA M3 GC3 (%) 50 60 30 10 50 30 20 20 20 10 GC4 (%) 40 60 20 30 30 10 10 10 0 20 SN – secreção nasal; SO – secreção ocular; EP – estertor pulmonar; PP – perda de peso; E. – espirro; T - tosse; RAt – redução de atividade; RAp – redução de apetite; PE – pêlos eriçados; FA – fezes alteradas. Tabela 7- Avaliação clínica inicial (M0) e final (M3) dos animais do GC3 (álcool de Cereais (v/v)) e dos animais do GC4 (solução de cloreto de sódio 0.9% (v/v)). Sinais Clínicos SN SO EP PP E T RAt RAp PE FA GC3 M0 (%) 40 40 20 0 50 30 20 10 20 0 M3 (%) 50 60 30 10 50 30 20 20 20 10 SN – secreção nasal; SO – secreção ocular; EP – estertor pulmonar; PP – perda de peso; E. – espirro; T - tosse; RAt – redução de atividade; RAp – redução de apetite; PE – pêlos eriçados; FA – fezes alteradas. Tabela 8 – Avaliação clínica inicial (M0) e final (M3) dos animais do GC4 (álcool de (solução de cloreto de sódio 0.9% (v/v)). Sinais Clínicos SN SO EP PP E T RAt RAp PE FA GC4 M0 (%) M3 (%) 40 50 20 20 30 0 0 10 0 20 40 60 20 30 30 10 10 10 0 20 SN – secreção nasal; SO – secreção ocular; EP – estertor pulmonar; PP – perda de peso; E. – espirro; T - tosse; RAt – redução de atividade; RAp – redução de apetite; PE – pêlos eriçados; FA – fezes alteradas. QUADRO Quadro 1 - Modelo de ficha para anotações diárias dos sintomas nas avaliações dos animais. Dias Animal Sinais SN SO EP PP E T RAt RAp PE FA 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 Legenda: SN - Secreção Nasal; SO - Secreção Ocular; EP - Estertor Pulmonar; PP - Perda de Peso; E - Espirros; T - Tosse; RAt - Redução de Atividades; RAp - Redução de Apetite; PE - Pêlos Eriçados; FA - Fezes Alteradas