8.4. Condensadores e Dieléctricos Um dielétrico é um material não condutor como borracha, vidro ou papel encerado. Quando um material dielétrico é introduzido entre as placas de um condensador, a capacidade aumenta. Se o dielétrico preencher completamente o espaço entre as placas, a capacidade aumenta pelo factor adimensional κ, denominado constante dielétrica do material. Os seguinte experimento pode ser executado para ilustrar o efeito de um dieléctrico num condensador. Considere um condensador de placas paralelas de carga Q0 e capacidade C0 na ausência de um dielétrico. A diferença de potencial no condensador medida por um voltímetro é ∆V0 = Qo/ C0 (Figura 8.2a). Observe que o circuito do condensador está aberto; isto é, as placas do condensador não estão ligadas a uma bateria e a carga não pode fluir através de um voltímetro ideal. Assim, não há nenhuma trajectória por meio da qual a carga possa fluir e alterar a carga no condensador. Figura 8.2. Um condensador carregado (a) antes e (b) depois da inserção de um dielétrico entre as placas. A carga Q0 nas placas permanece inalterada, mas a diferença de potencial diminui de ∆V0 para ∆V = ∆V0 / κ . Dessa forma, a capacidade aumenta de C0 para C=κC0. Se agora um dielétrico for introduzido entre as placas, como na Figura 8.2, verifica-se que a leitura do voltímetro diminui por um factor de κ para o valor ∆V, onde 128 ∆V = ∆V0 κ como ∆V < ∆V0 , vemos que κ > 1. Como a carga Q0 no condensador não varia, concluímos que a capacidade deve mudar de valor C≡ Q0 Q0 Q = = κ 0 = κC0 ∆V ∆V0 / κ ∆V0 (8.6) onde C0 é a capacidade na ausência do dieléctrico. Significa que a capacidade aumenta de um factor κ quando o dieléctrico preenche completamente o espaço entre as placas. ε A Para um condensador de placas paralelas, onde C0 = 0 podemos expressar a d capacidade quando o condensador for preenchido com um dieléctrico como C =κ ε0 A d (8.7) A partir desse resultado, parece que a capacidade poderia ser tornar grande diminuindo-se d, a distância entre as placas. Entretanto, na prática, o valor mais baixo de d é limitado pela descarga eléctrica que pode ocorrer pelo meio dieléctrico que separa as placas. Para qualquer separação d dada, a tensão máxima aplicada a um condensador sem causar uma descarga depende da rigidez dieléctrica (campo eléctrico máximo) do dielétrico, que, para o ar seco, é igual 3× 106 V/m. Se o campo eléctrico no meio exceder a rigidez dieléctrica, as propriedades de isolamento são rompidas e o meio passa a ser condutor. A maioria dos materiais isoladores tem rigidez dieléctrica e constante dieléctrica maiores que as do ar. Assim, vemos que um dielétrico fornece as seguintes vantagens: • • • Aumenta capacidade de um condensador. Aumenta a tensão máxima de operação de um condensador. Pode fornecer sustentação mecânica entre as placas condutoras. Pode-se entender os efeitos de um dieléctrico considerando-se a polarização das moléculas. A Figura 8.3a mostra que as moléculas polares estão aleatoriamente orientadas na ausência de um campo eléctrico externo. Quando o dieléctrico é colocado r entre as placas do condensador, as molécula alinham-se parcialmente com o campo E0 criado por essas placas, como ilustra a Figura 8.3b. Pode-se observar que o corpo do dieléctrico está homogeneizado mas há uma camada de carga negativa ao longo da extremidade esquerda do dieléctrico e uma camada de carga positiva na extremidade direita. Essas camadas são consideradas como placas paralelas adicionais carregadas. Como a polarização é oposta á das placas reais, essas cargas criam um campo eléctrico r induzido Eind dirigido para à esquerda, acarretando um cancelamento parcial, com mostra a Figura 8.3c. Assim para um condensador carregado desligado de uma bateria, o campo eléctrico, assim como a tensão entre as placas são reduzidas pela introdução de 129 um dieléctrico e como a carga nas placas é armazenada a uma diferença de potencial menor, a capacidade aumenta. Figura 8.3. (a) Moléculas polares orientadas aleatoriamente. (b) Moléculas alinhadas r r parcialmente. (c) Campo eléctrico induzido Eind oposto o campo E0 criado pelas placas. A atmosfera como um condensador Na superfície da Terra e na atmosfera, ocorrem vários processos que criam distribuições de carga, resultando num campo eléctrico na atmosfera. Esses processos incluem os raios cósmicos que entram na atmosfera, o decaimento radioactivo na superfície terrestre e os raios. Como resultado desses processos cargas negativas na superfície da Terra e cargas positivas são distribuídas pelo ar. Uma carga negativa média distribuída sobre a superfície da Terra é de aproximadamente 5 × 105 C, que é uma quantidade muito grande de carga. A carga média por unidade de superfície da terra (densidade superficial de carga) é σ = Q Q 5 × 105 C = = ~ 10 −9 C/m2 2 6 2 A 4πr 4π (6.37 × 10 m) O campo eléctrico médio na superfície da Terra será: E= 10−9 σ = ~ 100 N/C ε 0 8.85 × 10−12 que é um valor típico do campo eléctrico de tempo bom, portanto na ausência de uma tempestade. A direcção do campo é para baixo, porque a carga da superfície da Terra é negativa. Durante a tempestade os campos eléctricos típicos são muito elevados e da ordem de 25 000 N/C. Os campos eléctricos atmosféricos são medidos com um instrumento chamado sensor de campo. A separação de cargas em positivas e negativas pode ser considerada como um condensador onde a superfície da Terra é uma placa de carga negativa e o ar é uma 130 placa positiva. A carga positiva está distribuída por toda a atmosfera. Os modelos para a atmosfera mostram que uma altura efectiva apropriada da placa superior é de aproximadamente 5 km da superfície. O modelo de condensador atmosférico é ilustrado na Figura 8.4. h Placa positiva (cargas na atmosfera) Placa negativa (superfície da Terra ) Figura 8.4. Condensador atmosférico. Considerando a distribuição de carga na superfície da Terra como sendo esfericamente simétrica, podemos obter o potencial V = keQ / r , e obtemos para h= 5 km, C≈ 0.9 F. 131