UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AMBIENTAL Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO COM POTENCIAL PARA BIORREMEDIAÇÃO DE ARSÊNIO E SULFATO. Autora: Mariana Moreira Orientadora: Profa. Dra. Mônica Cristina Teixeira Co-orientadora: Profa. Dra.Silvana de Queiroz Silva Ouro Preto, MG Abril de 2013 UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO ENGENHARIA EM ENGENHARIA AMBIENTAL IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO COM POTENCIAL PARA BIORREMEDIAÇÃO DE ARSÊNIO E SULFATO. Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Ouro Preto, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título: “Mestre em Engenharia Ambiental – Área de Concentração: Tecnologia Ambiental”. Ouro Preto, MG Abril de 2013 i M838i Moreira, Mariana. Identificação de consórcio bacteriano com potencial biotecnológico para biorremediação de arsênio e sulfato [manuscrito] / Mariana Moreira – 2013. x, 70 f. : il., color.; tab.; mapas. Orientadora: Profª Drª Mônica Cristina Teixeira. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto de Ciências Exatas e Biológicas. Núcleo de Pesquisas e Pós-Graduação em Recursos Hídricos. Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental. Área de concentração: Tecnologias Ambientais. 1. Biorremediação - Teses. 2. Arsênio - Teses. 3. Sulfatos - Teses. 4. Bactérias - Teses. I. Teixeira, Mônica Cristina. II. Universidade Federal de Ouro Preto. III. Título. CDU: 628:579.846.2 Catalogação: [email protected] CDU: 669.162.16 “Enquanto estivermos tentando, estaremos felizes, lutando pela definição do indefinido, pela conquista do impossível, pelo limite do ilimitado, pela ilusão de viver. Quando o impossível torna-se um desafio, a satisfação está no esforço, e não apenas na realização final” Gandhi. ii A Deus e a tudo o que Ele representa em minha vida. Aos meus queridos pais, Elenita e Adelson, ao meu irmão Júnior e ao meu esposo Carlos meus maiores tesouros, exemplos de simplicidade, força de vontade e luta. A vocês todo meu trabalho, dedicação e amor. iii Agradecimentos Primeiramente gostaria de agradecer a Deus por proporcionar inúmeras oportunidades, por iluminar meus passos e facilitar minha trajetória dentro da universidade, sempre apresentado solução nos momentos difíceis. A professora orientadora Mônica Cristina Teixeira por ter me acolhido em seu laboratório, por toda confiança depositada em mim nestes anos de trabalho. Obrigada pela orientação, pelas excelentes discussões científicas e profissionais, pelos conselhos, pelo apoio intelectual e profissional. Obrigada por acreditar em mim e no meu trabalho. A professora co-orientadora Silvana de Queiroz Silva por me receber em seu Laboratório. Obrigada pelas excelentes discussões, e por ter me ensinado a fazer alguns experimentos. Agradeço as minhas colegas de trabalho do laboratório de Biotecnologia Ambiental, Patrícia Freitas e Letícia Paiva pela amizade construída e pela ajuda incondicional. Obrigada por terem me ajudado nos primeiros experimentos, pelas constates discussões a cerca dos resultados. A toda equipe do Laboratório de Biologia e Tecnologia de Micro-organismos DECBI/UFOP: professores, alunos e técnicos. Em especial a aluna Júlia por ter dedicado parte do seu tempo para me ajuda nos experimentos, na produção dos reagentes, pelo companheirismo, enfim, obrigada por tudo. Agradeço também a Keice, Natália e a Izabel pela amizade construída, e por ter de alguma forma me ajudado, seja com os ensinamentos repassados, ou com os reagentes emprestados. A toda minha família, que sempre me apoiaram e em particular aos meus pais Adelson e Elenita e ao meu irmão Júnior pelo apoio e carinho em todos os momentos. Agradeço também o meu marido Carlos César pelo incentivo, atenção, e pela ajuda constante nas horas difíceis. Agradeço também ao Programa de Pós Graduação em Engenharia Ambiental, PROAMB, e a todos os professores pelo suporte e por complementar minha formação. À Capes, pela concessão da bolsa e à Fapemig e ao CNPq pelos financiamentos do projeto. iv Sumário AGRADECIMENTO iv SUMÁRIO v LISTA DE FIGURAS vii LISTA DE TABELAS viii RESUMO ix ABSTRACT x 1. Introdução 1 2. Objetivos 3 2.1 Objetivos Gerais 3 2.2 Objetivos Específicos 3 3.0 Revisão Bibliográfica 4 3.1 Arsênio 4 3.2 Tratamento de águas contaminadas por arsênio 7 3.3 Remoção do sulfato de águas contaminadas 9 3.4 Bactérias redutoras de sulfato 17 3.5 Biorremediação de áreas contaminadas por metais 20 3.6 Identificação molecular de micro-organismos 21 4. Materiais e Métodos 25 4.1 Área de coleta 25 4.2 Cultivo das amostras 26 4.3 Avaliação da resistência da composição microbiológica do sedimento 27 coletado ao arsênio 4.4 Identificação microbiana pelo método PCR-DGGE 30 4.4.1Preparação das amostras 30 4.4.2 Extração de DNA das amostras 30 4.4.3 Amplificação do DNA por PCR 31 4.4.4 Eletroforese em Gel de Gradiente Desnaturante (DGGE) 32 4.4.5 Análise das sequências genômicas 34 4.5 Caracterização e identificação dos precipitados formados 34 5. Resultados e Discussão 37 5.1 Enriquecimento e adaptação das amostras 37 5.2 Efeito da concentração do arsênio no crescimento do consórcio bacteriano 39 v 5.3 Variação do Potencial de redução e pH inicial do meio 41 5.4 Identificação microbiana 42 5.4.1. Eletroforese de gel de agarose (DGGE) 43 5.5 Caracterização do precipitado formado 51 6. Conclusões 55 7. Perspectivas futuras 57 8. Referências Bibliográficas 58 9 Apêndices 69 vi Lista de Figuras Figura 3.1 Representação esquemática do ciclo do enxofre. 10 Figura 3.2 Representação esquemática da redução assimilativa do sulfato. 15 Figura 3.3 Representação esquemática da transferência de elétrons na 16 redução dissimilativa do sulfato, com compostos carbônicos como fonte de energia e sulfato como aceptor de elétrons. Figura 4.1. Vista da lagoa do Gambá, cidade de Ouro Preto – MG. Figura 4.2. Esquema envolvendo os processos de enriquecimento, adaptação e 28 fase dos ensaios de remoção de sulfato e arsênio, realizados neste trabalho. Figura 5.1. Ensaio de adaptação do consórcio bacteriano ao cultivo. (a) Início 38 do cultivo e (b) meio de cultura enegrecido devido à formação de sulfeto ferroso, resultado do crescimento da cultura. Figura 5.2. Enriquecimento do consórcio bacteriano nas amostras em meio 39 líquido Postgate C“modificado”. (a) Enriquecimento e cultivo das amostras e (b) crescimento das culturas de BRS. Figura 5.3. Variação do potencial de redução do meio no cultivo em presença de arsênio. Figura 5.4. Gel de DGGE, com gradiente desnaturante de 40%-60%, corado em 44 brometo de etídio contendo fragmentos de DNA ribossomal 16S amplificados com primer universal 968FCG/1392R domínio Bacteria. Figura 5.5 Árvore filogenética contendo sequências do gene DNAr 16S (1376 48 pb) construída pelo método Neighbor-Joining e modelo Maximum Composite Likelihood no programa Mega 4.1. Análise de Bootstrap com 1000 réplicas. Figura 5.6 Imagem no MEV do precipitado presente nas amostras. A) Amostra 54 1 com 0,0 g/L-1 de arsênio. B) Amostra 3 com 1,0 g/L-1 de arsênio. C) Amostra 4 com 2,0 g/L1 de arsênio. D) Amostra 5 com 4,0 g/L-1 de arsênio, E) Amostra 6 com 8,0 g/L-1 de arsênio. F) Amostra 7 com 16,0 g/L-1 de arsênio. 25 42 vii Lista de Tabelas Tabela 4.1. Composição do meio de cultura Postgate C modificado por Cheung 26 e Gu (2003). Tabela 4.2. Concentração de As3+ em diferentes amostras 28 Tabela 4.3. Componentes utilizados na reação de PCR 32 Tabela 5.1. Tempo de escurecimento do meio em relação à concentração de 40 As(III) Tabela 5.2. Distribuição das bandas de material genômico em diferentes 45 condições experimentais. Tabela 5.3. Alinhamento das bandas com as sequências depositadas no 46 GenBank(www.ncbi.nlm.nih.gov) para os fragmentos amplificados pelos primers bacterianos universais (968F-GC 1392R). Tabela 5.4. Propriedades das espécies identificadas 47 viii Resumo A contaminação ambiental por metais pesados e sulfato tem sido objeto de diversas discussões e iniciativas. O arsênio é tóxico para a maioria dos seres vivos e pode provocar intoxicações agudas e crônicas em função do tempo de exposição. Dessa forma é necessário o desenvolvimento de metodologias eficientes e economicamente viáveis para a remoção desse elemento em efluentes ou águas residuais. Os métodos biológicos surgem como uma alternativa aos métodos convencionais. O objetivo do trabalho é identificar o consórcio bacteriano, presente em amostras de bactérias coletadas na Lagoa Gambá no município de Ouro Preto capazes de metabolizar o sulfato e arsênio. Após a coleta, as amostras foram cultivadas em frascos contendo meio de cultura líquido Postgate C modificado apropriado para cultivo de bactérias redutoras de sulfato (BRS). Para avaliar a resistência dos consórcios bacterianos ao arsênio, foram utilizadas seis concentrações diferentes: 0,5; 1,0; 2,0; 4,0; 8,0 e 16 mg.L-1 de arsênio trivalente. O potencial de oxi-redução (Eh) do meio foi escolhido como parâmetro de acompanhamento indireto do crescimento das culturas. Alíquotas de 100 ml de cada amostra foram centrifugadas e armazenadas a -20° C para extração de DNA pelo método fenol/clorofórmio. Para amplificação do DNA ribossomal 16S foram utilizados os primers universais com iniciadores 968F-GC 1392R para o Domínio Bacteria. Para análise da diversidade microbiana presente nas amostras, utilizou-se a técnica de DGGE. Em todas as amostras foi possível observar o crescimento de micro-organismos e redução do sulfato evidenciada pela formação de precipitado negro de sulfeto de ferro e diminuição dos valores do Eh. Foi possível obter extração de DNA a partir de todas as amostras estudadas. O resultado do DGGE com os produtos de amplificação geraram 7 bandas diferentes, que foram recortadas, sequenciadas e analisadas no Ribossomal Database Project Release. Os micro-organismos identificados apresentaram 100% de similaridade com as espécies de Pantoea agglomerans, Enterobacter sp e Citrobacter sp, e 99% de similaridade com as espécies Cupriavidus metallidurans, Ralstonia sp e Burkholderia cepacia. Dessa forma o consórcio microbiano identificado neste estudo é bom candidato para o emprego em processos de biorremediação de áreas e efluentes contaminados por arsênio, uma vez que possui resistência ao arsênio e é capaz de promover a redução de sulfato a sulfeto e, em consequência, a precipitação do As. ix ABSTRACT Environmental contamination by heavy metals and sulphate has been the subject of many discussions and initiatives. Contamination by arsenic can cause gastrointestinal problems such as nausea. Additionally, the arsenate competes with phosphate for the active sites of enzymes fosforilatives, common to all living beings and is essential to the metabolism of glucose. Thus it is necessary to develop efficient and economically viable methodologies for removal of this element. Biological methods appear as an alternative to conventional methods. The objective was to identify one bacterial consortium adapted to the culture in the presence of trivalent arsenic (AsIII). Samples were cultured in flasks containing modified Postgate C liquid medium (selective for sulfate-reducing bacteria, SRB). Six different concentrations of As were used: 0.5, 1.0, 2.0, 4.0, 8.0 and 16 mg l-1. The redox potential (Eh) of the medium was chosen as an indirect growth parameter. 100 ml aliquots of cultured media were centrifuged and stored at -20°C for DNA extraction. DNA extraction was obtained by phenol/chloroform method. Universal primers 968F-GC 1392R (Bacteria domain) were used for 16S ribosomal DNA amplification. Microbial diversity was evaluated by DGGE. The growth of sulfate reducing microorganisms was indirectly observed by the formation of a black precipitate of iron sulfide and also by the decreasing on Eh. After DGGE analysis 7 different bands were selected, cut, sequenced and analyzed in the Ribosomal Database Project Release. Consortium microorganisms identified were: Pantoea agglomerans, Enterobacter sp and Citrobacter sp (100% similarity); and also Cupriavidusmetallidurans, Ralstonia sp and Burkholderia cepacia (99% similarity). Thus the microbial consortium identified here is a good candidate for bioremediation of arsenic contaminated areas and effluents, since they possess resistance to this element and are capable of promoting the reduction of sulfate to sulfide and, consequently, the precipitation of As(III). x 1. Introdução Diversas indústrias, como as de processamento de metais, geram efluentes contendo metais e outros poluentes inorgânicos como o sulfato. Estes efluentes são altamente prejudiciais para o ambiente e para o homem, dado que os metais podem acumular ao longo das cadeias alimentares. Sendo assim, devem ser tratados antes de serem lançados no ambiente (HIGGINS et al., 2003). Os processos de remoção de metais pesados geralmente utilizados, como a precipitação química, a troca iônica ou a separação por membranas apresentam por vezes restrições de ordem técnica (não sendo eficazes para a diminuição do sulfato) ou econômica pelo elevado custo. Desta forma, os processos biotecnológicos representam uma alternativa de tratamento com custos mais reduzidos e mais eficientes na remoção destes compostos (CARLOS et al., 2007). Nas últimas décadas, houve uma crescente conscientização, a nível global, sobre o uso racional dos recursos naturais e o desenvolvimento de tecnologias menos impactantes ao meio ambiente. O modelo atual de “desenvolvimento sustentável” tem gerado uma série de discussões multidisciplinares entre pesquisadores, acadêmicos e sociedade devido à dificuldade em se estabelecer um equilíbrio entre o crescimento econômico e populacional sem comprometer o ambiente natural (BARBOSA, 2009). A contaminação ambiental por metais e sulfato tem sido objeto de diversas discussões e iniciativas. As águas residuais das indústrias de mineração e metalurgia são consideradas como as principais fontes de contaminação ambiental por metais como o arsênio (SMEDLEY & KINNIBURGH, 2002). Níveis de arsênio relativamente altos são também encontrados ocasionalmente em fontes de água de abastecimento municipais superficiais e subterrâneas, possivelmente devido à lixiviação de minerais associados aos depósitos minerais. O íon sulfato ocorre na natureza em decorrência de processos biogeoquímicos e também pelo lançamento de efluentes de diversos processos industriais, uma vez que vários processos produtivos são responsáveis por altas cargas de sulfato em seus efluentes (LENS, 1998). A maior parte dos compostos contendo arsênio, sejam eles orgânicos ou inorgânicos, acaba sendo convertida em trióxido de arsênio, o qual reage muito rapidamente com os grupos sulfidrilas (-SH) de proteínas, inibindo a ação de enzimas 1 que contenham estes grupamentos em seus sítios ativos, bloqueando a respiração celular (TSALEV & ZAPRIANOV, 1985). Segundo Hughes (HUGHES 2002) a contaminação por arsênio pode provocar problemas gastrointestinais como naúseas. Além disso, o arsenato compete com fosfato pelos sítios ativos das enzimas fosforilativas, comuns a todos os seres vivos e essenciais ao metabolismo da glicose. Com relação ao sulfato, sua presença na água pode causar gosto amargo, provocar diarreia e desidratação, tanto no homem quanto nos animais e ainda causar problemas de corrosão em tubulações (LENS, 1998). Em vista disso, torna-se necessário o desenvolvimento de metodologias eficientes e economicamente viáveis para o tratamento e remoção desses elementos. Garantir a qualidade da água de consumo, no que diz respeito aos teores de arsênio e demais metais tóxicos é, portanto, condição necessária à manutenção da saúde das populações. A utilização de técnicas de biologia molecular na identificação de microorganismos para estudos de biotecnologia e biorremediação vem se destacando na última década. Os micro-organismos representam o maior reservatório de diversidade genética e bioquímica do planeta. Apesar de sua grande importância na manutenção da biosfera, estima-se que menos de 10% dos micro-organismos existentes no planeta tenham sido caracterizados e descritos (STALEY, 1998). O grupo das bactérias redutoras de sulfato é bastante difundido na natureza podendo ser encontrado tanto no ambiente aquático quanto no ambiente terrestre, mas ocorre principalmente em sedimentos, onde as condições redutoras são mais favoráveis. Estas oxidam compostos orgânicos simples (CH2O), acetato e lactato e reduzem compostos oxidados de enxofre produzindo sulfeto de hidrogênio e íons bicarbonato causando, em geral, a precipitação dos metais e a neutralização do pH do meio aquoso (LENS, 1998). Neste contexto, o presente trabalho buscou identificar micro-organismos coletados em sedimentos da Lagoa do Gambá no município de Ouro Preto–MG, capazes de remover simultaneamente sulfato e arsênio em ensaios de laboratórios. Dessa forma os métodos biológicos surgem como uma alternativa aos métodos convencionais, físico-químicos no tratamento de águas subterrâneas, superficiais e efluentes industriais que apresentam arsênio e sulfato. 2 2. Objetivos 2.1 Gerais Cultivo e identificação de um consórcio bacteriano tolerante ao arsênio e capaz de reduzir sulfato. 2.2 Específicos Avaliar a capacidade de crescimento do consórcio bacteriano em diferentes concentrações de arsênio utilizando meio Postgate C modificado, e como fonte de carbono o lactato de sódio. Verificar a influência da adição de um meio suporte sólido no (pó de penas de galinhas) no crescimento microbiano Comparar e identificar as bactérias nos diferentes ensaios pela técnica PCR-DGGE. Caracterizar o perfil filogenético dos fragmentos amplificados 16s DNA do consórcio bacteriano obtido. Avaliar a dinâmica bacteriana em ensaios com adições crescentes de arsênio pela técnica PCR-DGGE Identificar os precipitados formados e os possíveis mecanismos de bioimobilização a partir da análise dos precipitados por meio de microscopia eletrônica de varredura. 3 3. Revisão bibliográfica 3.1 Arsênio A despeito das fontes naturais de contaminação por arsênio, como, os fenômenos geotermais e vulcânicos, a poluição por metais é causada principalmente pelas atividades industriais e da agricultura (BORBA et al., 2004), e pela própria atividade de mineração. No Brasil, o arsênio é amplamente encontrado no meio industrial, como resíduo, especialmente das indústrias de processamento metalúrgico de ouro, cobre, prata, zinco e cobalto. Este elemento é empregado ainda como matéria-prima na manufatura de vidros, esmaltes, tintas, tecidos e couros e na produção de insumos agrícolas tais como inseticidas, formicidas, herbicidas e preservativos de madeira. O consumo de arsênio pela indústria é, entretanto, insignificante diante das enormes quantidades desse elemento produzidas como resíduos industriais (TEIXEIRA, 2005). O arsênio ocorre no meio ambiente nos estados de oxidação -3, 0,+3 e +5, sendo a forma trivalente dez vezes mais tóxica que sua forma pentavalente, e ainda apresenta uma mobilidade no meio ambiente significativamente maior (RAWLINS et al., 1997). O arsênio é altamente tóxico, mesmo em baixas concentrações para plantas e mamíferos (MCBRIDE, 1989). A exposição humana a arsênio pode resultar em desenvolvimento de câncer de pele, de pulmão, de fígado, de bexiga e rins (BASU et al., 2001). A inalação de arsênio pode causar principalmente carcinomas de pulmão. Uma vez ingerido, produz sintomas de irritação gastrointestinal e náuseas. Em longo prazo, a ingestão continuada, ainda que de pequenas quantidades deste elemento, leva a manifestações crônicas cutâneas, doenças do aparelho respiratório, diabetes, distúrbios vasculares, neurológicos e câncer (TEIXEIRA, 2005). De maneira geral, cátions de metais pesados interagem com íons ditos fisiológicos, por exemplo, Cd²+, Ca²+; Ni²+, Co²+, Fe²+ e Zn²+ inibindo a função desses no organismo. Os oxiânions de metais pesados por sua vez, interferem com o metabolismo dos íons não metálicos estruturalmente semelhantes, cromato com sulfato e arsenato com fosfato. O arsenato é, estruturalmente, muito semelhante ao fosfato 4 (PO4³-) e assim, sua principal toxicidade resulta da interferência com o metabolismo desse maior bioelemento, que é o fósforo. O arsenato compete com fosfato pelos sítios ativos das enzimas fosforilativas, comuns a todos os seres vivos e essenciais ao metabolismo da glicose, causando bloqueio ou perda de produtividade em diversas rotas metabólicas, através da formação de compostos de carboidrato “arsenilados” ao invés dos intermediários fosfatados esperados. Do ponto de vista funcional, o efeito tóxico do arsenato, equivale à supressão do aporte nutricional de fosfato (KAUR & ROSEN, 1992). Com base em todas as evidências que relacionam a ocorrência de efeitos toxicológicos crônicos e a ingestão de água contaminada por arsênio, vários órgãos governamentais de controle ambiental recomendam a redução nos limites máximos admissíveis para arsênio em água potável. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou, em 1993, que o limite de 50 μg.L-1 fosse reduzido para 10μg.L-1. No caso da Comunidade Européia e do Japão, estes novos valores foram adotados. No Canadá o limite é de 25μg.L-1 e nos Estados Unidos, após uma resistência inicial em adotar as recomendações da OMS em função dos custos financeiros envolvidos (SMEDLEY et al., 2002), a legislação foi alterada. A legislação ambiental brasileira também adotou a recomendação da OMS e os novos limites passaram a vigorar a partir de dezembro de 2003, (Portaria MS 2.914/2011). O contato direto com água potável contendo concentrações de arsênio inferior a 50 μg.L-1 foram associados a percussores de câncer de pele, enquanto que concentrações superiores a este valor têm sido associadas ao aumento do risco de câncer na bexiga e pulmão. (IPCS, 2001). A dose de Arsênio letal para humanos é da ordem de 0,6 mg/kg/dia (http: http://rais.ornl.gov/tox/profiles/arsenic.html) ou de 1-3 mg/kg, em se tratando exclusivamente de As inorgânico (HUGHES, 2002) No solo, o arsênio pode ser originário de fontes naturais ou antropogênicas (pesticidas, herbicidas, fertilizantes), pode ser liberado durante a mineração e fundição do ouro, chumbo, cobre e níquel, produção de ferro e aço, combustão de carvão (SMITH et al., 1998); (BAIRD, 2002) e irrigação com água contaminada (ROYCHOWDHURY et al., 2002). No Brasil, a mineração de ouro e ferro tem contribuído para a dispersão de arsênio e sua entrada na cadeia alimentar. Pesquisas realizadas com amostras de água coletadas em minas subterrâneas, poços artesianos e nascentes das regiões de Ouro 5 Preto e Mariana, apresentaram concentrações de arsênio variando entre 2 a 2.980 µg.L-1, sendo que, na maioria das amostras, os valores são superiores ao valor máximo permitido para consumo humano que é de 10 µg.L-1 (BRASIL, 2005) de arsênio (PIMENTEL et al., 2003). É, portanto, necessária uma avaliação em longo prazo dos efeitos resultantes dessa contaminação sobre as populações dessas regiões que utilizam, direta ou indiretamente, água contaminada por arsênio e que estão constantemente submetidas à absorção, por meio da aspiração, de partículas finas dispersas na poeira. Do ponto de vista da saúde das populações, em trabalho recente e pioneiro, um grupo de pesquisadores, brasileiros e alemães, (MATSCHULLAT et al., 2000) realizou um levantamento epidemiológico sobre os índices de contaminação arsenical em material biológico, principalmente, urina, de crianças residentes dos municípios de Santa Bárbara e Nova Lima. Os resultados obtidos indicavam que aproximadamente 45% das crianças examinadas, com idades ente 7-14 anos, apresentavam níveis de arsênio na urina de 15-40 μL.L-1, sendo que 20% delas apresentavam índices maiores que 40 μL.L - 1 podendo, portanto, serem classificadas, respectivamente, dentro dos grupos considerados de médio e alto risco, embora ainda não tenham sido observados os efeitos fisiopatológicos da intoxicação por esse elemento. No que concerne à bioquímica do arsênio, sabe-se que o arsênio inorgânico ingerido é rapidamente absorvido pelo trato gastrointestinal. O As absorvido é transportado através do sangue, ligado a grupamentos SH das proteínas ou compostos de baixo peso molecular como a glutationa e a cisteína até os órgãos do corpo, principalmente o fígado, onde sofre reações de metilação que diminuem sua toxicidade. A metilação envolve a adição de grupamentos metila, doados pela S-adenosilmetionina, ao arsênio, apenas em seu estado trivalente. Os metais representam um fator de estresse à comunidade microbiana presente no ambiente impactado, podendo, inibir completamente as atividades metabólicas dos organismos. O arsênio ocorre em diversos estados de oxidação -3, 0, +3 e +5. Em águas naturais, o arsênio está presente principalmente na forma de compostos inorgânicos, com valências 3+ e 5+ (LIÈVREMONT et al., 2009). Em meio aquoso, o As pode ser encontrado sob a forma de arsenito (AsO33-) e arsenato (AsO43-), referindo-se, respectivamente a espécies trivalentes e pentavalentes. No caso específico do arsênio, os íons arsenicais tri ou pentavalentes atravessam as barreiras celulares e, ao atingir o 6 interior das células podem interferir em atividades metabólicas essenciais para os organismos. Bactérias resistentes ao arsênio possuem um complexo genético de resistência, o gene arsC, que codifica a enzima As5+ redutase, responsável pela biotransformação de As5+ em As3+, que por sua vez é transportado para o meio extracelular pela ação das proteínas transportadoras ArsA e ArsB, codificada pelos seus respectivos genes de resistência. Como exemplo de micro-organismos que apresentam tais genes, podemos citar, as espécies Desulfotomaculum auripigmentum que reduz o As5+ em As3+ (NEWMAN et al., 1997), as espécies Staphylococcus aureus e Escherichia coli que apresentam o gene que confere resistência ao arsênio e capacidade de reduzir o As5+, (JI et al., 1992). Algumas bactérias têm seus mecanismos de oxidação do As3+ ou redução do As5+ conhecidos, bem como a geração de energia envolvida nesses processos (LIAO et al., 2011). As bactérias que utilizam os íons arsenato no processo de respiração anaeróbia, (bactérias redutoras de arsenato) apresentam o gene arr que codifica a enzima As5+ redutase que reduz o As5+ a As3+. As bactérias oxidantes de arsenito possuem o gene aox que codifica a enzima As3+ oxidase, responsável pela oxidação do As3+ a As5+ (LIÈVREMONT, 2009). Recentemente, outro gene que codifica uma As3+ oxidase foi identificado no micro-organismo Alkalilimnicola ehrlichii, um quimiolitoautótrofo que oxida arsenito e reduz nitrato simultaneamente (ZARGAR et al., 2010). Muitos estudos mostraram o sucesso no uso de marcadores genéticos para o estudo dos mecanismos de transformação do arsênio, como: os genes arsB e arsC contidos no operon que garante a resistência ao metalóide (ACHOUR et al., 2007), o gene arrA na respiração dissimilatória do As 5+ e o gene aoxB para oxidação do As 3+ (HAMAMURA et al., 2009). Dessa maneira pode-se perceber que na natureza, os micro-organismos podem lidar com toxicidade do arsênio de várias maneiras diferentes, dentre as quais podemos citar: precipitação, quelação, transformação bioquímica, (TSAI et al., 2009). 3.2 Tratamento de águas contaminadas por Arsênio As técnicas convencionais empregadas na remoção de metais de efluentes, industriais são baseadas em precipitação química, trocas iônicas (KEFALA et al., 7 1999); (KAPPOR & VIRARAGHAVAN, 1995), osmose reversa (KAPPOR & VIRARAGHAVAN, 1995), oxidação e redução, filtração, tratamento eletroquímico, evaporação ou, extração por solventes. No entanto, o custo destes processos é muito elevado (VEGLIO & BEOLCHINI, 1997). Métodos como, precipitação química e extrações por solventes, empregam uma grande quantidade de reagentes químicos que, se por um lado solucionam um problema, por outro criam outro relativo aos rejeitos gerados. Os processos de precipitação química são amplamente utilizados industrialmente e desempenhados à temperatura e pressão ambientes. Os íons metálicos em solução são convertidos a hidróxidos insolúveis após a adição de agentes precipitantes como, os hidróxidos de cálcio ou sódio. Eficiências elevadas de remoção de metais, na faixa de 94 a 99%, são obtidas no tratamento de despejos contendo íons cádmio, cobre, cromo trivalente, ferro, manganês, níquel, chumbo e zinco (PALMER, 1988), porém este processo não apresenta capacidade satisfatória de remoção de íons sulfato. Outros processos empregados na remoção de metais são a floculação e a coagulação, nos quais ocorre a adição de um composto químico a fim de facilitar a sedimentação das partículas sólidas presentes em suspensão. O sucesso do processo está intimamente relacionado às características de floculação e sedimentação das partículas. Este processo é amplamente empregado, apresentando eficiências na faixa de 50 a 98% para remoção de chumbo, zinco, cádmio, manganês, cobre e níquel (PALMER, 1988). Os processos físicos químicos citados anteriormente na remoção do arsênio, além de apresentarem alto custo, na maioria das vezes geram outros resíduos sólidos e por isso há um grande interesse nos processos biotecnológicos que utilizam as bactérias redutoras de sulfato (BRS) visto que o sulfeto produzido pelo metabolismo desses microrganismos é capaz de se ligar à cátions metálicos, bi e trivalentes produzindo os sulfetos metálicos correspondentes. Dentre as bactérias capazes de sobreviver em ambientes com alta concentração de arsênio, podemos citar as que pertencem ao gênero Desulfosporosinus, (BATTAGLIA-BRUNET et al., 2012). Pseudomonas mendocina, Pseudomonas stutzeri, Pseudomonas pseudoalcaligenes, Pseudomonas aeruginosa e Azoarcus sp, são resistentes a alta concentração de arsenito, bem como são capazes de oxidá-lo, (KRUMOVA et al., 2008). Bactérias do gênero Clostridium sp. são tolerantes a concentrações de arsênio superiores a 40mM, (STOLZ et al., 2006). 8 A utilização dos micro-organismos apresentam vantagens em relação às propriedades químicas dos hidróxidos metálicos (LENS et al., 2007), pois os sulfetos metálicos, em geral, tem solubilidade muito limitada e podem ser recuperados e reutilizados. Algumas indústrias já vêm aplicando a imobilização de metais através da formação de sulfetos metálicos após a redução de sulfato. A precipitação do arsênio na forma de sulfetos pelas BRS vem sendo estudada com o objetivo de retirar este elemento perigoso de efluentes. ( TECLU et al., 2008), em seu trabalho de biorremediação de águas contaminadas por arsênio, obteve crescimento de BRS utilizando o melaço como fonte de matéria orgânica necessária para o seu crescimento. A tolerância ao arsênio pelas BRS foi testada utilizando-se soluções de arsenito e arsenato. Outras alternativas para remoção de arsênio em águas contaminadas são discutidas pro Lizama (LIZAMA et al., 2011) e Neculita (NECULITA et al.,2007), O primeiro discutea construção de “Wetlands” (alagados artificiais) que apresentam um grande potencial para remoção de metais, em geral, e arsênio. A remoção pode ocorrer por precipitação e adsorção sendo influenciada por fatores ambientais tais como pH, presença de outros constituintes químicas e a presença de micro-organismos redutores, responsáveis por manter um valor de potencial redox do meio menor que – 200mV levando à precipitação do arsênio sob a forma de sulfetos arsenicais insolúveis. O segundo autor discute a remoção do arsênio de drenagens ácidas de minas (DAM) utilizando biorreatores e suas limitações devido ao fato de ainda não ter sido devidamente elucidado o mecanismo de remoção poderia se dar tanto por adsorção quanto por co-precipitação com outros metais, ou ainda pela remoção na forma de sulfetos de arsênio que pode ocorrer em ambientes redutores. 3.3 Remoção do sulfato de águas contaminadas. As BRS são responsáveis por reduzir, metabolicamente, íons sulfato ou outras espécies oxidadas do enxofre (sulfito, tiosulfato ou enxofre elementar), a sulfeto de hidrogênio, (GIBSON, 1990). A redução biológica do enxofre pode estar associada à respiração anaeróbia do sulfato, havendo armazenamento de energia celular a partir da oxidação de um substrato (MADIGAN et al., 2004). Durante seu metabolismo, o sulfato é transportado para o interior da célula através da membrana citoplasmática, (KRAMER 9 & CYPIONKA, 1995), um esquema resumindo o ciclo do enxofre e a participação dessas bactérias está representado na figura 3.1. Figura 3.1. Representação esquemática do ciclo do enxofre. Fonte: Extraído e adaptado de Tang et al. (2009). Os compostos orgânicos, podem tanto ser utilizados como fontes de elétrons, ou seja, fonte de energia, quanto como fonte de carbono para a biossíntese celular pelos micro-organismos heterotróficos, aqueles que necessitam de fontes orgânicas de carbono e energia. A grande maioria das Bactérias Redutoras de Sulfato (BRS) é heterotrófica entretanto, algumas espécies utilizam H2 como fonte de energia e podem ainda utilizar o CO2 dissolvido no meio como fonte de carbono, sendo consideradas, portanto, autótrofas (MADIGAN et al., 2004). A utilização de substratos orgânicos por estes micro-organismos pode se dar de duas formas distintas, levando a sua oxidação completa ou incompleta. Assim o lactato 10 de sódio, um substrato amplamente utilizado pelas BRS, pode seguir duas vias de oxidação representadas pelas reações 3.5 e 3.6, (GIBSON, 1990). Algumas espécies podem oxidá-lo completamente até CO2, mineralizando-o, ou parcialmente, convertendo-o a acetato. Essas distinções se referem a grupos fisiológicos e não sistemáticos (MARTIN et al., 2009). 2CH3CHOHCOO- + SO42- 2CH3CHOO- + 2HCO3 + HS- + H+ (Reações. 3.5) ΔG0´= - 160kJ/mol sulfato 2CH3CHOHCOO- + 3SO42- 6HCO3 + 3HS- + H+ (Reações. 3.6) ΔG0´= - 85kJ/mol sulfato O íon sulfato ocorre na natureza em decorrência de processos biogeoquímicos que fazem parte do ciclo do enxofre e também em efluentes resultantes de diversos processos industriais, uma vez que vários processos produtivos como, galvanoplastia, indústria de papel e celulose, pigmentos industriais, borracha, explosivos, fertilizantes e a mineração/metalurgia são responsáveis por altas cargas de sulfato em seus efluentes. (LENS, 1998); (SARTI et al., 2008). A resolução CONAMA 357/2005 (BRASIL, 2005) não determina padrões de lançamento de sulfato em corpos hídricos, dispõem apenas sobre o os teores deste íon nos corpos receptores, os quais não devem apresentar concentração de sulfato maior que 250mg.L-1. Lembrando que o lançamento de efluentes não deve descaracterizar o corpo receptor, portanto, um efluente contendo sulfato quando lançado em um corpo hídrico não deve torná-lo com uma concentração maior que 250mg.L-1. Os processos físicoquímicos utilizados para remoção de sulfato incluem desde alternativas de baixo custo, como a precipitação com sais de cálcio, a processos mais caros como osmose reversa, eletrodiálise e nanofiltração (SARTI et al., 2008). Os processos de precipitação podem ser executados com compostos de cálcio, chumbo, bário, alumínio, entre outros. Entretanto, estas opções podem apresentar sérios problemas. A utilização de chumbo e bário, dois metais pesados, para remover sulfato é claramente desaconselhada. A precipitação com cálcio forma gesso (CaSO4.2H2O), que é relativamente solúvel em água. Além disso, estes processos geram grande quantidade de resíduos sólidos (lodo), devido à quantidade de reagente empregada e os resíduos devem ser adequadamente dispostos, gerando outro problema ambiental (SILVA et al., 2002). Os demais 11 processos têm o custo proporcional à concentração de sulfato, de forma que altas concentrações chegam a inviabilizá-los. Em vista disto, os processos biológicos de remoção de sulfato têm se tornado bastante atrativos (KAKSONEN et al., 2003). A principal rota de remoção de enxofre em ambientes aquáticos ou alagados é por meio da redução biológica do sulfato a sulfeto, processo realizado pelas Bactérias Redutoras de Sulfato (BRS) (GIBSON, 1990), dentre elas a espécie Geobacter metallireducens (NEVIN et al., 2000). Além dessa espécie alguns dos membros da família Enterobacteriaceae, já foram identificados como sendo capazes de realizar o metabolismo de redução de sulfato (QIU et al., 2008) e (SAHRANI et al., 2008) . Cabrera et al. (2006) descreveram uma cepa de D. vulgaris com potencial de 40% de redução de sulfato. A família Thermodesulfobiacea apresenta um único gênero, Thermodesulfobium, capaz de crescer quimioautotroficamente com H2/CO2 com sulfato como aceptor de elétrons (Mori et al., 2003). As Archaeas termófilas constituem dois grupos de microrganismos redutores de sulfato, classificados como filos Euryarchaeota e Crenarchaeota. Porém as famílias Desulfovibrionaceae e Desulfobacteriaceae agrupam a maioria das espécies que fazem a redução do sulfato e o gênero mais estudado deste grupo é o Desulfovibrio, devido principalmente a sua ampla distribuição geográfica e facilidade de cultivo em condições laboratoriais (Scheid e Stubner, 2001). O metabolismo das BRS é dependente da redução de sulfato, e este processo inicia-se após a entrada do sulfato endógeno no interior da célula. Uma vez dentro da célula a redução do sulfato se dá pela ação da ATP sulfurilase que se liga ao sulfato e ao ATP produzindo adenosina fosfossulfato (APS), bem como pirofosfato, que pode ser clivado posteriormente a fosfato inorgânico. O APS é então rapidamente convertido em sulfito (SO3-) pela enzima citoplasmática APS redutase (CYPIONKA, 1995). O sulfito pode ser reduzido a sulfeto por diferentes sulfito redutases. Dentre as enzimas mais conhecidas estão bissulfito redutase, desulfoviridina e desulforubina (LEE et al., 2008). A redução assimilativa do sulfato, na qual ocorre o transporte do sulfato pela membrana para o interior da célula, apresenta as seguintes etapas descritos abaixo e ilustrados na figura 3.2. Inicialmente o sulfato é transportado unidirecionalmente para o citoplasma a partir de proteínas de membranas localizadas no periplasma bacteriano (SIRKO et al., 1990). 12 Este transporte de sulfato intracelular é facilitado por um sistema de transporte tipo ABC, que requer gasto energético, envolvendo a utilização de 1 mol de ATP por mol de sulfato transportado. O sulfato é fosforilado a adenosina-5`fosfosulfato (APS) pela ATP sulfurilase, consumindo energia (ATP) e produzindo pirofosfato (PPi) (KRAMER & CYPIONKA, 1995). A APS formada pode ser reduzida a sulfeto por duas vias, dependendo das características bioquímicas do organismo (GILMORE et al., 1989): uma via de redução direta de APS (via APS) e uma via de fosforização a 3’-fosfoadenosina -5´fosfosulfato (via PAPS) . A via para síntese de cisteína a partir da APS pelos procariotas, fungos e organismos fotossintetizante é peculiar a cada grupo, em algumas espécies podem ser empregadas ambas as vias (KOPRIVA & KOPRIVOVA, 2005). Contudo, a via PAPS é comumente utilizada pelos procariotas para a assimilação de sulfato (BICK et al., 2000). A redução direta de APS a sulfito é realizada a partir da doação de elétrons de um grupo tiolato. Neste mecanismo, um ânion tiolato (glutationina ou tireodoxina) se liga ao grupo sulfonato da APS, para produzir tiossulfonato orgânico e AMP (RABUS, 2006). O tiosulfonato orgânico é reduzido a sulfito e posteriormente a sulfeto por uma sulfito redutase (KOPRIVA & KOPRIVOVA, 2005). Na via de formação de PAPS um grupo fosforila é envolvido em uma reação catalisada por uma APS quinase, produzindo PAPS e ADP . A PAPS é reduzida a sulfito pela PAPS redutase, produzindo adenosina-3’-5’-difosfato (PAP como subproduto) (SEKOWSKA et al., 2000). Subsequentemente, o sulfito é reduzido a sulfeto por um sulfito redutase dependente de NADPH. O sulfeto gerado é imediatamente incorporado a síntese do aminoácido cisteína pela Oacetilserina sulfidrilase, sem perda de sulfeto para o meio extracelular (SHEN & BUICK, 2004). A cisteína formada será precursora do aminoácido metionina e de alguns cofatores enzimáticos (como coenzima A), de acordo com as características metabólicas do organismo. Já a redução dissimilativa do sulfato, apresenta as seguintes etapas: Inicialmente ocorre o transporte transmenbrana do sulfato para dentro da célula a partir de um gradiente iônico, havendo evidências para um sistema de troca iônica com H+/Na+, a partir de um gradiente de sódio ao longo da membrana celular 13 das BRS (CYPIONKA, 1995). Neste processo não há gasto energético, contudo quando em baixas concentrações de sulfato no meio, ATP pode ser consumido para produzir um gradiente iônico favorável para o transporte de sulfato (KREKELER & CYPIONKA, 1995). A ativação do sulfato ocorre da mesma forma como ocorreu na redução assimilativa. Havendo produção de adenosina-5’-fosfosulfato (APS), e produção de pirofostato, que será hidrolisado por uma pirofosfatase. Essa enzima interfere na atividade da ATP sulfurilase, favorecendo a formação de APS (CYPIONKA, 1995). Enquanto que APS formado é o aceptor de elétrons imediato, sendo convertido a sulfito e AMP. Esta reação é catalisada por uma redutase (APS redutase), encontrada em várias espécies de BRS (KRAMER & CYPIONKA, 1995). O AMP formado é convertido em duas moléculas de ADP por uma adenil quinase dependente de ATP. O mecanismo de transferência de elétrons ao sulfito para a formação de sulfeto pode ocorrer por dois caminhos pela via do tritionato ou pela redução direta de sulfito a sulfeto (THEBRATH et al., 1989). A via do tritionato promove a redução do sulfito por três reduções progressivas de 2 elétrons, formando tritionato e tiosulfato como intermediários. Na redução direta, 6 elétrons são transferidos para sulfito sem formação de algum intermediário. A redução de sulfito a sulfeto pode estar acoplada a síntese de 3 ATPs (BADZIONG & THAUER, 1978), como ilustrado na figura 3.3. 14 Figura 3.2 – Representação esquemática da redução assimilativa do sulfato. SHEN E BUICK, 2004. 15 Figura 3.3 – Representação esquemática da transferência de elétrons na redução dissimilativa do sulfato, com compostos carbônicos como fonte de energia e sulfato como aceptor de elétrons. Fonte: Adaptado de MATIAS et al., 2005. 16 3.4 Bactérias redutoras de sulfato As bactérias redutoras de sulfato (BRS) constituem um grupo morfologicamente e filogeneticamente heterogêneo que inclui bactérias e arqueobactérias. São bactérias anaeróbias, mas conseguem sobreviver na presença de oxigênio, maioritariamente gram negativas, mesofílicas e algumas termofílicas, geralmente não formadoras de esporos. Segundo (RABUS et al., 2006) existem cinco importantes atributos referentes ao metabolismo das BRS que são explorados na maioria dos estudos realizados atualmente: 1. O metabolismo de sulfato a sulfeto que é bioquimicamente mais complexo do que a redução do oxigênio pelas bactérias aeróbias; 2. A ampla variedade de compostos orgânicos que podem ser utilizados pelas BRS como fontes de carbono e energia; 3. O fluxo que ocorre entre doadores e aceptores de elétrons associado à cadeia respiratória e que envolve uma grande quantidade de carreadores; 4. A capacidade de alguns grupos de síntese celular utilizando CO₂ durante seu crescimento na presença de H₂ e sulfato; 5. A regulação do metabolismo, que é o aspecto menos explorado entre os grupos de BRS. Bactérias Redutoras de Sulfato é uma designação usual para alguns grupos bacterianos de vida livre. São organismos que utilizam formas oxidadas de enxofre, ao invés do oxigênio, como aceptor final de elétrons, produzindo com esta reação o sulfeto, tal processo é denominado de “respiração do sulfato” ou também de redução dissimilativa do enxofre (MADIGAN et al., 2009). Essas bactérias fazem parte de um grupo distinto de micro-organismos presentes em uma grande variedade de ambientes anaeróbios (KRUMHOLZ et al., 2002). Estes micro-organismos apresentam características particulares que merecem ser destacadas tais como: (a) o fato de crescerem em ampla faixa de pH, entre 5,0 e 9,0; (b) serem, em sua maioria mesófilas, ou seja, sua temperatura ideal de crescimento encontra-se na faixa de 20ºC a 40ºC; (c) capacidade de utilizar substratos orgânicos simples como fontes de carbono (etanol, propionato e lactato de sódio). Algumas espécies podem também utilizar alguns constituintes do petróleo como os alcanos, 17 tolueno, benzeno e hidrocarbonetos poliaromáticos e (d) apresentarem alguma tolerância ao oxigênio, apesar de serem anaeróbias (LENS, 1998). A participação das BRS é indispensável nos processos de alteração dos compostos orgânicos no ciclo geoquímico do carbono (BAUMGARTNER, 2006). As BRS são as principais responsáveis pela mineralização da matéria orgânica em sedimentos marinhos, respondendo por aproximadamente 80% da oxidação do carbono (CANFIELD & THAMDRUP, 1996). A oxidação desses compostos está vinculada a redução do sulfato nos processos bacterianos de respiração anaeróbia. A presença de BRS com alta atividade metabólica é facilmente reconhecida pelo enegrecimento da água ou dos sedimentos devido a precipitação do sulfeto de ferro (FeS), e pelo odor característico de sulfeto de hidrogênio (H2S). O crescimento dessas bactérias em cultivos laboratoriais em regime de batelada é frequentemente não exponencial, raramente referencia-se na literatura seu tempo de duplicação. No entanto, existem alguns trabalhos, que relatam que micro-organismos produtores de acetato, como é o caso da maioria das espécies de Desulfovibrio e Desulfotomaculum, parecem ser capazes de apresentar tempos de duplicação em torno de 3 a 6 horas ou até menos a 30oC, enquanto aqueles consumidores de acetato, como as espécies de Desulfobacter, crescem mais lentamente, com tempos de duplicação em torno de 20 horas (POSTGATE, 1984). As BRS em condições anaeróbias reduzem o sulfato, presente nos efluentes a sulfeto que reage com os metais precipitando-os em sulfetos metálicos insolúveis. Este processo favorece a remoção dos metais pesados numa forma mais estável, juntamente com a diminuição do sulfato e dos compostos orgânicos dos efluentes, sendo um processo com baixo consumo energético (HIGGINS et al., 2003; CARLOS et al., 2007). As BRS contribuem para manutenção da baixa pressão de hidrogênio, pois podem utilizá-lo como fonte de elétrons podendo favorecer a atividade das bactérias fermentativas e acetogênicas. Com a crescente preocupação com relação às questões ambientais, a investigação de vários aspectos das BRS tornou-se relevante, uma vez que estas são importantes no ciclo do carbono e do enxofre, em condições anaeróbias (MUYZER & STAMS, 2008). 18 As BRS apresentam ubiquidade. Essas bactérias são facilmente encontradas em ambientes marinhos, estuários, sedimentos e lagos salinos ou hipersalinos, por conterem altas concentrações de sulfato. Porém, já foram encontradas BRS ativas em ambientes não salinos e em água doce. Também é relatada a presença de BRS em ambientes poluídos como, plantas de purificação anaeróbia, alimentos deteriorados, plantas de lodo, águas de campos de exploração de óleo, ambientes contaminados com hidrocarbonetos e com compostos halogenados, etc, (POSTGATE, 1984; BARTON, 1995). É possível encontrar BRS em ambientes considerados inóspitos como, fontes hidrotermais e domo de lama vulcânica, onde as temperaturas são bem elevadas (ELSGAARD et al., 1994); em locais com alta pressão como as fendas oceânicas e sedimentos marinhos (JEANTHON et al., 2002); em ambientes ácidos como as drenagens ácidas de mina (JOHNSON, 1995) ou em locais extremamente alcalinos, como em lagos de soda (PIKUTA et al., 1997). Além de estarem presentes nos ambientes marinhos, as BRS foram também encontradas em outros ambientes, tais como, sedimentos de lagos de água doce, apesar de normalmente limitados em sulfato (SASS et al..,1996; Li et al., 1998). Também têm sido detectadas em ambientes industriais (JAN-ROBLERO et al., 2004), tratamentos de águas (ITO et al., 2002; ICGEN et al., 2006; BEN-DOV et al., 2007), em sistemas de aquecimento (KJELLERUP et al., 2005) e arrefecimento de água de reatores nucleares Estão presentes também na boca e no intestino de animais (LOUBINOUX et al., 2003). Dada a sua natureza anaeróbia, normalmente as BRS estão associados a biofilmes anaeróbios (DAVEY et al., 2000; BEECH, 2003), no entanto foram também detectadas em ambientes aeróbios, tais como em zonas oxigenadas em comunidades de cianobactérias (DAR et al., 2008) e em biofilmes que crescem em condições oxigenadas, nos dutos de tratamento de água (ITO et al., 2002). Esta "tolerância” ao oxigênio é possível devido a uma variedade de mecanismos, que embora inicialmente descritos apenas para as BRS, mais tarde se provaram existir na maioria dos organismos anaeróbios. Foi verificado que as BRS possuem todas as enzimas necessárias para viver em condições de aerobiose, isto é, em determinadas condições de crescimento, estas bactérias expressam todos os componentes necessários para a formação de uma cadeia respiratória membranar, capaz de reduzir completamente o oxigénio a água (MADIGAN et al., 1997). 19 3.5 Biorremediação de áreas contaminadas por metais. A biorremediação se baseia num processo tecnológico de remoção da poluição e restauração da qualidade ambiental por meio da degradação dos poluentes utilizando micro-organismos de ocorrência natural, como bactérias e fungos (Espósito, 2004). Várias técnicas de biorremediação têm sido desenvolvidas, e estas técnicas podem ser classificadas segundo o tratamento e a fase utilizada. De acordo com o tipo de tratamento, as técnicas de biorremediação são denominadas in situ, o processo de biodegradação ocorre no local contaminado, e ex situ o solo ou outro material é retirado e transferido até a unidade de tratamento. Essas técnicas devem levar em conta os poluentes, o custo dos processos e, principalmente, a concentração final do contaminante, no término do tratamento, como aceitável para o tipo de resíduo e para o uso futuro da área (MANCERA-LÓPEZ et al., 2007), Dentre as várias técnicas de biorremediação desenvolvidas, a bioestimulação é a mais frequente. Esta técnica consiste na ativação dos micro-organismos nativos por meio da adição de nutrientes (MANCERA-LÓPEZ et al., 2007), aumentando sua população, promovendo o crescimento e, consequentemente, o aumento da atividade metabólica na degradação de contaminantes. Esta técnica tem por objetivo aumentar o número ou estimular a atividade dos micro-organismos degradadores da comunidade indígena de uma determinada região contaminada, via adição de receptores de elétrons, nutrientes ou doadores de elétrons (MANCERA-LÓPEZ et al., 2007). Paredes celulares de procariontes e de Eucariontes contêm diferentes polissacarídeos e estruturas aniônicas devido à presença de grupos ionizáveis tais como carboxilas, hidroxilas e fosfatos. Desta forma a parede celular apresenta grande potencial para captação de metais pesados. (BEVERIDGE & MURRAY, 1980) examinaram a captação de uma variedade de metais pela parede celular de Bacillus subtilis, modificada quimicamente pela adição de grupos ionizáveis, sendo constatada a complexação, a troca iônica e a precipitação de hidróxidos ou sais na parede celular. As bactérias possuem uma versatilidade muito grande no que diz respeito aos processos metabólicos e os ambientes onde vivem. Esses microrganismos são capazes de sobreviver em condições químicas e físicas extremas, sendo possível encontrá-los nos mais variados meios (WARREN & HAAK, 2001). Por serem capazes de utilizar 20 outros compostos além do O2 para o processo de respiração, as bactérias influenciam o comportamento de elementos químicos; como moléculas orgânicas e os metais. Assim, elas podem ser consideradas como agentes primários das mudanças geoquímicas, devido ao seu alto potencial metabólico e grande capacidade de adaptação que lhe confere uma larga e abundante distribuição (WARREN & HAAK, 2001). O uso de processos biológicos como uma alternativa para o tratamento de águas residuárias vem ganhando interesse crescente principalmente devido à qualidade do efluente final tanto para ser descartado no ambiente como para o reuso. Dessa forma as BRS, quando utilizadas de maneira adequada, podem se tornar grandes aliadas para tratamento de águas residuárias ricas em sulfato e metais ou águas subterrâneas contaminadas com metais, dentre eles o arsênio trivalente. Com o objetivo de avaliar o tratamento de efluentes moderadamente ácidos contaminados por arsênio, utilizando micro-organismos capazes de reduzir o sulfato (BATTAGLIA-BRUNET et al., 2012) avaliou um reator de fluxo contínuo, com valor de pH do meio variando entre 2,5 a 5 que utilizava como doadores de elétrons o glicerol e o hidrogênio. Foi observada durante o experimento, a precipitação de arsênio trivalente na forma de sulfetos arsenicais gerados a partir da reação com o sulfeto produzido pela redução do sulfato pelos micro-organismos presentes no meio de cultura. 3.6 Identificação molecular de micro-organismos Nos últimos anos foram feitos esforços consideráveis para o desenvolvimento de métodos rápidos para a detecção e enumeração de bactérias em ambientes naturais e industriais. Geralmente esses métodos são divididos em duas categorias: métodos clássicos e métodos moleculares (BEN-DOV et al., 2007). Os métodos clássicos, baseados no cultivo de micro-organismos, recorrem à realização de testes bioquímicos e fenotípicos que auxiliam na identificação das espécies (AMANN et al., 2001). Esses testes, apesar de terem um custo relativamente baixo, apresentam algumas desvantagens: i) são demorados devido às taxas lentas de crescimento bacteriano (BEN-DOV et al., 2007); ii) a necessidade de meios seletivos para o cultivo e muitas vezes os meios de crescimento laboratoriais não conseguirem 21 refletir exatamente as condições dos locais onde estas bactérias crescem (ZHU et al., 2003; ICGEN et al., 2006) iii) além disso, a caracterização fenotípica, não fornece informações sobre as relações evolutivas entre os organismos. Os métodos moleculares, em oposição aos métodos clássicos, utilizam a caracterização de certos genes do genoma bacteriano, permitindo a identificação mais eficaz dos microrganismos responsáveis por determinado processo. Em síntese, os métodos moleculares apresentam algumas vantagens sobre os clássicos: a) São as únicas tecnologias que permitem estudar os micro-organismos não cultiváveis presentes numa comunidade microbiana, sendo mais sensíveis (KNIGHT, 2000). b) Em termos moleculares, a diversidade é caracterizada pelo número de diferentes tipos de sequências de DNA encontradas no ambiente. c) Os métodos moleculares fornecem informações sobre as relações evolutivas entre os microrganismos (CASTRO et al., 2000). O desenvolvimento de novas ferramentas moleculares revolucionou a taxonomia dos micro-organismos. Segundo (AMMAN et al., 1992), o estudo do gene RNA 16S ribossomal, apresenta algumas vantagens consideráveis, por exemplo: (i) estar presentes em todos os organismos, pois são genes essenciais para a síntese de proteínas; (ii) ser conservados estrutural e funcionalmente; (iii) apresentar tanto regiões conservadas, como variáveis e altamente variáveis; (iv) apresentar aparente ausência de transferência gênica horizontal e (v) possuir tamanho satisfatório com cerca de 1.500 nucleotídeos, suficientes para fazer inferências filogenéticas. Mais recentemente, estudos têm sido conduzidos utilizando genes funcionais, como o gene dsr que codifica para a enzima sulfito redutase dissimilatória das BRS (TALBOT et al., 2008), no sentido de resolver possíveis falhas nas análises filogenéticas oriundas da alta conservação do gene 16S rRNA entre as classes de micro-organismos. A ecologia microbiana está se consolidando como uma das áreas da microbiologia que expande os horizontes do conhecimento de forma inovadora, desenvolvendo e aprimorando métodos moleculares para identificação e o monitoramento de micro-organismos em ecossistemas naturais, com vista em estudos do papel funcional dessa microbiota. Sabe-se que as técnicas tradicionais dependentes de cultivo não são as mais adequadas, uma vez que menos de 1% dos organismos encontrados na natureza podem ser cultivados (MUYZER & STAMS, 2008). Dessa 22 forma, as técnicas moleculares têm contribuído para a construção do conhecimento sobre a estrutura e a funcionalidade das comunidades microbianas propiciando importantes informações sobre um número muito maior de espécies, sua distribuição geográfica, as relações ecológicas, a atividade celular e a proporção numérica entre diferentes populações em seus ambientes naturais e em biorreatores (DOMINGUES, 2007). O método molecular utilizado neste estudo para identificação do consórcio bacteriano capaz de reduzir o sulfato e crescer em diferentes concentrações de arsênio foi à eletroforese em gel de gradiente desnaturante (DGGE). É uma das técnicas moleculares mais utilizadas e adequadas para avaliar as comunidades microbianas da área ambiental (TESKE et al., 1996); pois é confiável, reprodutível, rápida e de custo relativamente baixo. Além disso, permite analisar várias amostras ao mesmo tempo, inclusive de micro-organismos não cultiváveis (MUYZER et al., 1993) obtendo uma representação qualitativa da presença e abundância de diferentes filotipos na amostra Em consequência, oferece oportunidade de se efetuar estimativas mais reais da diversidade microbiana existente (MUYER & SMALLA, 1998). Esta técnica se baseia na separação eletroforética diferencial de amplicons, obtidos por reação de amplificação em cadeia da DNA polimerase (PCR), quanto à susceptibilidade da molécula de DNA à desnaturação parcial promovida por agentes desnaturantes, e discrimina amplicons de tamanhos similares, de acordo com suas sequências de pares de bases (MUYZER et al.,1993). O comportamento de migração dos fragmentos no gel é governado pelas variações nas composições dos nucleotídeos (conteúdo CG), como também pelas interações destes dentro da molécula (MUYZER, 1999), resultando no posicionamento de bandas em diferentes pontos da matriz de poliacrilamida, (LECKIE, 2005). A técnica de DGGE oferece algumas limitações como (i) a dificuldade de separar as bandas no gel de genes ricos em CG (ii) baixo poder de detecção (apenas espécies com dominância acima de 1% no meio) (iii) diferentes fragmentos de DNA com conteúdo nucleotídico igual apresentam sobreposição de bandas (AMANN & LUDWIG, 2000). Teoricamente, cada banda obtida representa uma população microbiana (FERRIS et al., 1996). Porém já foram relatadas duas ou mais bandas representando a mesma população, devido à heterogeneidade de sequências de operons rRNA (LECKIE, 2005). Além disso, a técnica é qualitativa e separa apenas fragmentos amplificados com tamanhos entre 100 e 500pb. Apesar dessas limitações a técnica de 23 DGGE tem sido cada vez mais aplicada para estudar a biodiversidade genética em amostras ambientais e, quando associada à técnica de sequenciamento, fornece importantes informações sobre a composição das comunidades microbianas LECKIE, 2005). 24 4. Materiais e Métodos 4.1 Área de coleta A Lagoa do Gambá está localizada no centro de um loteamento na cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, a 20°43’51.11’’ de latitude S e 43°30’0.63’’ de longitude O (figura 4.1). Esta lagoa recebe grande quantidade de esgoto residencial e do escoamento superficial de áreas periféricas. A borda da lagoa apresenta cobertura vegetal marginal de espécies botânicas exóticas. A coleta foi feita por meio de metodologia padrão, na qual frascos de vidro estéreis foram levados até o local onde as amostras foram recolhidas. Uma porção de sedimento foi coletada em dois pontos diferentes no interior da lagoa á uma distância de aproximadamente 200 metros. Após este procedimento o material foi levado ao Laboratório de Biotecnologia Ambiental da Escola de Farmácia/UFOP. Figura 4.1 Ponto de coleta - Lagoa do Gambá, cidade de Ouro Preto – MG 20°43’51.11’’ de latitude S e 43°30’0.63’’ de longitude O. Fonte: Google Maps 12/11/2012 25 4.2 Cultivo das amostras As amostras foram cultivadas em batelada em frascos de 500 ml utilizando meio de cultura líquido seletivo Postgate C modificado por (CHEUNG E GU, 2003) cuja composição é apresentada na Tabela 4.1. O pH foi ajustado para 7,0 ± 0,2, utilizando NaOH em seguida, a solução foi esterilizada em autoclave a 120° C, 1,5 atm, por 20 minutos. A solução de sulfato ferroso foi autoclavada separadamente e depois adicionada à solução de sais na proporção 1:10. A concentração de sulfato no meio foi fixada em 2g.L-1 para todos os experimentos e a fonte de carbono utilizada foi lactato de sódio 6g.L-1. Com o objetivo de diminuir a disponibilidade de oxigênio no meio foi adicionado 0,5g.L-1 de tioglicolato de sódio como agente redutor. Como meio suporte para o crescimento microbiano, biomassa orgânica e biossorvente para ânions arsenicais, foi adicionado ao meio o pó de penas de galinha (PP) na proporção de 4% (p/v) em alguns ensaios. O pó de penas de galinhas comercial utilizado neste trabalho foi gentilmente cedido por uma empresa de alimentos da região. Trata-se de uma mistura de penas e vísceras trituradas, acrescida de sangue cozido (SCAPIM et al.,2003). O material sólido, pulverizado, é constituído basicamente por proteínas estruturais e insolúveis, principalmente queratina. O teor bruto de proteínas do material é em torno de 80%, sendo os teores de aminoácidos, contendo grupamentos sulfeto em sua estrutura, de aproximadamente 0,67 e 3,68% para metionina e cisteína, respectivamente (SCAPIM et al., 2003). 26 Tabela 4.1-Composição do meio de cultura Postgate C modificado por (CHEUNG E GU, 2003). Composição Quantidade (g.L-1) Lactato de sódio 6,0 Citrato de sódio 0,3 KH2PO4 0,5 NH4Cl 1,0 Na2SO4 3,0 CaCl2 2H2O 0,006 MgSO4.7H2O 1,28 Extrato de levedura 1,0 EDTA 0,3 Tioglicolato de sódio 0,5 FeSO4. 7H2O 0,17 Ágar 0,5 4.3 Avaliação da resistência dos enriquecimentos microbianos ao arsênio Inicialmente, alíquotas de 100ml de sedimento coletadas na lagoa do Gambá em Ouro Preto-MG foram enriquecidas utilizando-se 300 ml de meio Postgate C modificado. As amostras foram incubadas por 10 dias a 35°C (Amostra 1). Após este período, 5ml de cada amostra foram transferidos para frascos contendo 50 ml de meio Postgate C modificado suplementado de 0,5g.L-1 de arsênio, acrescidos ou não de PP 4% (p/v) (Amostra 2). As amostras foram incubadas a 35°C por cinco dias. Alíquotas de 5 ml das amostras crescidas foram novamente repicadas nas mesmas condições visando adaptar o consórcio bacteriano às condições de cultivo. Para avaliar a resistência do consórcio bacteriano ao arsênio trivalente (AsIII) foram utilizados seis diferentes concentrações do elemento (Tabela 4.2), obtida de uma solução estoque, na qual foi preparada utilizando NaAsO2, a concentração de As3+nessa solução era de 1000mg.L-1. Depois de autoclavada (120ºC; 1,0 atm; 20 min), a solução foi mantida estéril e acondicionada em geladeira. 27 Tabela 4.2– Concentração de As (III) em diferentes amostras. 1 Concentração de As (III) (mg.L-1) 0,0 2 0,5 3 1,0 4 2,0 5 4,0 6 8,0 7 16,0 Amostras No final do processo de adaptação, aproximadamente 15 dias, a amostra adaptada foi inoculada na proporção de 5% (v/v) em frascos contendo 300 ml de meio Postgate C modificado sem o sulfato ferroso para que este não interferisse nas análises posteriores, com 0,5 ml de arsênio retirado da solução estoque de arsênio de 1g.L-¹, acrescido ou não de PP, 4% (p/v). Os frascos foram mantidos a 35°C por 10 dias. A partir da amostra 2 repetiu-se todo o processo para ambas as amostras, variando apenas a quantidade de arsênio que aumentava a cada amostra. Para acompanhar o crescimento das culturas foi medido o potencial de redução do meio (Eh) e o pH inicial e final, utilizando um potenciostato digital DIGIMED, com eletrodo combinado de platina. 28 Figura 4.2 – Esquema envolvendo os processos de enriquecimento, adaptação e fase dos ensaios de remoção de sulfato e arsênio, realizados neste trabalho. (Estes mesmos processos foram realizados para as demais concentrações de arsênio: 1,0, 2,0, 4,0, 8,0 e 16,0 mg.L-1 , e um controle de 0,0 mg.L-1 de arsênio. Com sulfato ferroso Sem sulfato ferroso As =0,5 mg.L-1 50 ml de meio + Sem pó de penas 5ml 50 ml de meio + Sem pó de penas 5ml 50 ml de meio + Sem pó de penas 5ml 300 ml de meio (Sem sulfato ferroso) + Sem pó de penas 300 ml de meio 50 ml de meio + Com pó de penas 5ml 50 ml de meio + Com pó de penas 5ml Processo de adaptação 50 ml de meio + Com pó de penas 5ml 300 ml de meio (Sem sulfato ferroso) + Com pó de penas Análise de biologia molecular Fonte: próprio autor. 29 4.4. Identificação microbiana pelo método PCR-DGGE 4.4.1 Preparação das amostras Alíquotas de 100 ml de cada amostra (1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7) representando seis concentrações diferentes de arsênio (0,5,1,0,2,0,4,0,8,0 e 16,0mg.L-1) foram inicialmente centrifugadas a 5.000 rotações.min-¹ utilizando uma Microcentrífuga (Microcen 16 nº rotor 12154) por 15 minutos para separação da biomassa. A fração líquida foi descartada e o material sedimentado (pellet) foi “lavado” em tampão fosfato salino (PBS1X) para remoção de ácidos nucléicos extracelulares. Após a agitação a amostra foi novamente centrifugada, conforme etapa anterior. Descartou-se o sobrenadante novamente, e o pellet resultante (biomassa) foi armazenado a -20° C para posterior extração de DNA. 4.4.2 Extração de DNA genômico Para análise da diversidade bacteriana através da técnica PCR-DGGE, as amostras foram inicialmente submetidas à extração de DNA pelo método fenol/clorofórmio modificado por (GRIFFTITHS et al., 2000). Para cada amostra crescida foram feitas as extrações em duplicata a fim de se obter uma quantidade suficiente de DNA para a etapa de amplificação. Para cada extração, 0,5g da biomassa foram colocados em um microtubo contendo 0,5g de pérolas de vidros estéreis, 10 µl de SDS 20% (pH 7,2), 0,3 ml de solução de fenol/clorofórmio/álcool isoamílico (24:24:1) e 0,3 ml de PBS 1X com 1% de PVPP (Polivinilpolipirrolidona). Para lisar as células microbianas, promoveram-se três agitações de 1 minuto em agitador de tubos tipo Vortex. As amostras eram imersas em banho de gelo no intervalo entre agitações. Após a lise, as amostras foram centrifugadas a 14.000 rotações.min-¹ por 5 minutos, utilizando uma Microcentrífuga (Microcen 16 nº rotor 12154) . O sobrenadante foi transferido para novo microtubo, o material sedimentado foi lavado novamente com 0,3 mL de PBS 1X e centrifugado, e os 30 sobrenadantes foram misturados. Ao sobrenadante adicionou-se igual volume de solução de clorofórmio/álcool isoamílico (24:1) e agitou-se manualmente por 10 minutos. Uma nova centrifugação foi realizada por 5 minutos a 14.000 rotações.min-¹. Para cada volume de sobrenadante, adicionou-se 2,5 volumes de etanol 100% gelado e 0,1 volume de acetado de sódio (3M, pH 5,2). Essa solução foi incubada por 1 hora a – 20°C, e em seguida, submetida à nova centrifugação por 10 minutos a 14.000 rotações. min-¹. O sobrenadante foi descartado cuidadosamente. Adicionaram-se 200 µl de etanol 70% (v/v) para ressuspensão do pellet e novamente a solução foi centrifugada a 14.000 rotações.min-¹ por 3 minutos. Descartou-se o sobrenadante e deixou-se o pellet secar a temperatura ambiente por aproximadamente 12 horas. O pellet contendo ácidos nucleicos foi ressuspendido em 50µl de Tris (10mM e pH8). Para a avaliação da qualidade da extração, cerca de 5μL de DNA genômico extraído foi analisado em gel de agarose a 1%, corado com brometo de etídio e visualizado com auxílio de um transiluminador (Vilber Lourmat em UV). O DNA foi estocado à -20°C para posterior amplificação do gene DNA ribossomal 16S. 4.4.3 Amplificação do DNA por PCR Para verificar a comunidade total de bactérias inicialmente foi realizado amplificação dos fragmentos de DNA ribossomal 16S utilizando-se primers universais 968F (5’-AACGCGAAGAACCTTAC-3’) com cauda GC (5’-CGCCCGGGG CGC GCC CCG GGC GGG GCG GGG GCA CGGGGGG-3’) e 1392 R (5’-ACGGGC GGTGTG TAC-3’) para o Domínio Bacteria (NIELSEN et al., 1999). Os componentes da reação de amplificação em cadeia da DNA polimerase PCR e seus volumes empregados estão apresentados na tabela 4.3. 31 Tabela 4.3 - Componentes utilizados na reação de PCR (volume final igual a 25μL) Componentes Volume (μL) Água 17,5 Tampão da reação (10x) 2,5 MgCl2 (25mM) 1,5 dNTP (10mM) 0,5 Iniciador 1 (10μM) 0,5 Iniciador 2 (10μM) 0,5 Taq DNA polimerase (5U/uL) 0,125 DNA 2,0 Volume Total 25 As reações de PCR foram realizadas utilizando o termociclador MJ96G (Biocycler). O programa consistiu de uma desnaturação inicial a 94ºC por 5 minutos, seguido por 35 ciclos de 45 segundos de desnaturação a 94ºC, 1 minuto de anelamento a 63ºC e 2 minutos de extensão a 72ºC, e uma extensão final por 10 minutos a 72ºC. Os produtos de PCR foram analisados por eletroforese em gel de agarose 1%, em tampão tris-acetato-EDTA (TAE) 1X, durante aproximadamente 30 minutos a 100V. Para a avaliação da qualidade de amplicons, cerca de 5μL da amostra foram analisados em gel de agarose a 1%, corados com brometo de etídio e visualizados com auxílio de um transiluminador (Vilber Lourmat) em UV. É importante ressaltar que para todas as reações de PCR foi realizado, em paralelo, um teste controle negativo que contava com a adição de todos os reagentes, exceto DNA, para descartar qualquer tipo de contaminação externa. 4.4.4 Eletroforese em Gel de Gradiente Desnaturante (DGGE) Confirmada a presença de produtos de PCR pela eletroforese em gel de agarose, estes foram submetidos à técnica de DGGE conforme descrito por (MUYZER et al., 1993). A solução estoque de acrilamida a 30% (m/v) foi previamente preparada e estocada a 4°C. A percentagem de acrilamida utilizada no preparo das soluções estoques desnaturantes (0% e 80% de ureia/formamida) e na confecção dos géis foi de 6%. Para a 32 formação de 12 mL de gel, utilizaram-se duas soluções denominadas de low (com baixa porcentagem de desnaturante) e High (com alta porcentagem de desnaturante). Para a formação de cada solução, as soluções desnaturantes 80% e 0% eram misturadas em proporções pré-estabelecidas. A polimerização de cada solução foi obtida com a adição de persulfato de amônio (APS) a 10% e catalisação da reação com tetrametiletilenodiamina (TEMED). No presente trabalho, a faixa de gradiente desnaturante escolhida para a confecção dos géis para a DGGE foi de 40% a 60%, para o Domínio Bacteria. Para o estabelecimento destes gradientes desnaturantes as soluções Low e High foram misturadas em um dispositivo formador de gradientes de duas câmaras, com agitação magnética na câmara de saída e distribuição por bomba peristáltica em placas de vidro, operado de acordo com o manual do equipamento (Dcode Mutation System, Biorad). Foram empregados 10 µL de produto de PCR e 5 µL de tampão em cada poço do gel polimerizado. As condições da corrida foram: 60 ou 100V, tampão de corrida TAE 0,5X, aproximadamente por 16 horas. Ao final da eletroforese, os géis foram imersos em tampão e corados com a adição de 10 µl de solução de brometo de etídio, por 60 min. A seguir foram lavados em água destilada e observados com auxílio de um transiluminador com luz ultravioleta e fotodocumentados. As bandas de interesse foram excisadas dos géis com auxilio de uma lamina de bisturi estéril e transferidas para microtubos contendo 200 µL de Tris (10mM e pH 8) e 0,3g de pérolas de vidro estéreis. Para a eluição do DNA das bandas do gel para a solução, promoveu-se uma agitação de 30 segundos em agitador e, em seguida, os microtubos foram armazenados a 4°C por no mínimo 48 horas. Após este período, os microtubos foram centrifugados a 13.000 rpm e o sobrenadante, contendo os fragmentos de DNA, foi transferido para novo microtubo e armazenado a -20°C para posterior reamplificação. Os sobrenadantes, contendo os fragmentos de DNA, foram reamplificados utilizando o primer 968FGC/1392 para o Domínio Bacteria nas mesmas condições descritas anteriormente. Os produtos de PCR foram analisados por eletroforese em gel de agarose 1%, em tampão TAE 1X, durante aproximadamente 30 minutos a 100V. Confirmada a presença de DNA nos produtos de PCR, promoveu-se a diluição das amostras em água estéril (1µl de DNA para 9 µl de água) para posterior sequenciamento. 33 O sequenciamento do DNA referente às bandas excisadas e purificadas do gel de DGGE foi realizado a partir dos produtos das amplificações (PCR), pela empresa Genomic Engenharia Molecular (São Paulo) bem como a purificação e quantificação de DNA presente nas amostras. 4.4.5. Análise das sequências genômicas. Após a reação de sequenciamento, as sequências obtidas foram analisadas nos programas BLASTn (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/) e RDP X (Ribossomal Database Project Release 10) (COLE et al., 2009) para o alinhamento das mesmas com sequências do DNAr 16S depositadas no banco de dados utilizando o modelo de JukesCantor. A árvore filogenética contendo sequências do gene 16S DNAr alinhadas foi construída pelo método Neighbor-Joining modificado disponível no RDP (BRUNO et al., 2000), com auxilio do software mega 4.1. 4.5 Caracterização e identificação dos precipitados formados Para avaliar o efeito da atividade microbiana na formação do precipitado, e consequente remoção do As (III), foi preparada uma amostra apresentando todos os constituintes do meio descritas anteriormente, sem adição de inóculo. E para caracterização do precipitado utilizou-se 30 ml de todas as amostras crescidas em diferentes concentrações de arsênio e na ausência do meio suporte. Foram centrifugadas 5.000 rotações.min-¹ utilizando uma Microcentrífuga (Microcen 16 n,º rotor 12154) por 10 minutos para separação da biomassa. A fração líquida foi descartada e o material sedimentado (pellet) foi seco em uma estufa, em temperatura de 35°C, por 3 dias. O material seco foi analisado por meio das seguintes técnicas: a) Espectroscopia Raman - A espectroscopia Raman é uma técnica de alta resolução de fótons que fornece informação química e estrutural de qualquer material ou materiais compósitos orgânicos e/ou inorgânicos permitindo a sua identificação. A Análise por 34 espectroscopia de Raman baseia-se na análise da luz dispersa a partir da incidência de um feixe de luz monocromática (laser) sobre um dado material. Uma pequena porção da luz é dispersa inelasticamente, com mudanças sutis que são características do material analisado e independente da frequência da luz incidente. É uma técnica de análise que é efetuada diretamente sobre o material a ser analisado, seja ele sólido ou líquido, sem exigir preparação especial e sem implicar em alteração da superfície sobre a qual a análise é realizada, isto é, trata-se de análise não-destrutiva. As análises foram realizadas no Departamento de química da UFOP utilizando-se equipamento Labran HR 800 (Jobin Yvon/Horiba) com feixe de laser de He-Ne, com 632.8 nm de comprimento de onda e potência de 20 mW. O sinal Raman foi coletado com objetivas Olympus (50 X 0.75 e 100 X 0.90) usando a configuração “back scattering”. O detector utilizado foi do tipo CCD resfriado por nitrogênio. b) Difração de Raios-X: A análise por difração de raios X é um método utilizado para a determinação da estrutura atômica e molecular de materiais, preferencialmente cristalinos. Os átomos em uma estrutura cristalina difratam o feixe de Raios-X que incidem sobre eles em diferentes direções. Ao medir os ângulos e intensidades destes feixes difratados é possível determinar a estrutura do composto e identificá-lo com base em comparações entre os espectros obtidos e os depositados em bancos de dados. As análises de Difração de Raios-X foram realizadas no laboratório de Química dos materiais o Departamento de Química da UFOP. Para caracterização dos possíveis sulfetos formados as amostras foram analisadas no difratômetro (Shimadzu-XRD 6000), acoplado com tubo de ferro e monocromador de grafite. c) Microscopia eletrônica de varredura (MEV) e Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) O princípio da microscopia eletrônica de varredura consiste na emissão de um feixe de elétrons sobre uma amostra sólida provocando uma série de emissões de sinais relacionados com a interação do feixe de elétrons incidente na amostra. Os sinais emitidos encontram-se sob a forma de elétrons (secundários, retroespalhados, absorvidos, transmitidos, difratados, etc.) e de fótons (fotoluminescentes e raios-X), os quais são captados por detectores apropriados, sendo amplificados e processados num sistema analisador específico para cada tipo de sinal. A técnica de microscopia eletrônica de varredura (MEV) permite a obtenção de uma imagem ampliada e tridimensional da amostra. Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) é uma técnica 35 espectrofotométrica que pode ser executada junto com a microscopia eletrônica de varredura. É realizada uma microanálise da superfície do material permitindo a obtenção de informações químicas em áreas da ordem de micrometros. As informações, qualitativas e quantitativas, sobre os elementos presentes são obtidas pela captação dos raios-X característicos resultantes da interação do feixe primário com a amostra. Essa técnica foi utilizada para se ter uma melhor resolução da formados precipitados. As lâminas foram preparadas a fresco secadas ao ar. Em seguida, foi feita a metalização das lâminas com grafite, para observação no MEV (20.0 kv, magnificação de 5000 X e detector Pioneer). Estes experimentos foram realizados em colaboração com o Laboratório de Microscopia Eletrônica do Departamento de Geologia da UFOP. Dessa forma sabendo a estrutura do resíduo sólido formado é possível inferir no mecanismo de remoção dos metais, redução do sulfato a sulfeto e sua precipitação com os metais. 36 5. Resultados e Discussão 5.1 Enriquecimento e adaptação das amostras O desenvolvimento de micro-organismos, bem como a redução de sulfato a sulfeto foi evidenciada em todas as amostras com o emprego do meio líquido Postgate C modificado (figura 5.1). Tais resultados estão de acordo com aqueles obtidos previamente em nosso grupo de pesquisa, quando comparados àqueles obtido empregando-se o meio líquido Postgate B (BARBOSA, 2009). O meio de cultivo Postgate C “modificado” apresenta uma coloração inicial avermelhada, devido à presença de sulfato ferroso (FeSO4.7H2O). Durante o metabolismo das BRS, o íon sulfato é reduzido a sulfeto que, em presença de ferro ferroso (Fe2+) reage levando à formação de um precipitado negro de sulfeto de ferro (FeS). O escurecimento do meio de cultivo pela formação de FeS é um indicativo da atividade metabólica das BRS. Tal escurecimento não foi observado nos frascos controle com ausência de inóculos. Nos frascos aos quais foi adicionado o PP, a coloração enegrecida foi observada cerca de 42 horas após o inóculo. Já os frascos que não apresentavam adição de PP demandaram cerca de 120 horas até que o crescimento microbiano pudesse ser observado. Além disso, a fonte de carbono selecionada para os experimentos permitiu um eficiente aporte nutricional para o crescimento dos microorganismos, o que corrobora com os estudos realizados por Barbosa (BARBOSA, 2009), que relata ser o lactato uma fonte de carbono e energia mais eficiente do que o etanol, para uma mesma amostra de micro-organismo. Ademais, a degradação do lactato no meio de cultivo produz vários intermediários, entre eles hidrogênio, acetato, etanol e propionato, que podem favorecer o desenvolvimento de BRS, metanogênicas e acetogênicas (WIDDEL& PFENNING, 1982). A quantidade de lactato de sódio (6g.L-1) e sulfato de sódio (2g.L-1) empregadas no enriquecimento e cultivo foram suficientes para produzir uma razão de DQO/sulfato igual a 3,0 (não considerando a participação da matéria orgânica fornecida pela adição de PP), sendo esta a razão considerada adequada para se atingir bons resultados no que diz respeito à remoção biológica de sulfato (COSTA, 2011). 37 A temperatura de crescimento escolhida (35°C) foi satisfatória, permitindo o crescimento microbiano. Considerando-se que a maioria das BRS é mesófila e apresenta crescimento lento, o tempo de crescimento observado encontrava-se dentro da faixa esperada. Diferentemente da maioria das bactérias anaeróbias, bactérias que reduzem o sulfato são capazes de sobreviver na presença de quantidade limitada de oxigênio, fato este observado em nosso trabalho, uma vez que os experimentos não foram realizados em condições com baixa pressão de oxigênio. Esta tolerância ao O2 pode ser atribuída à presença das enzimas catalase e superóxido dismutase (BARTON, 1995). Diversos estudos têm relatado a capacidade destes micro-organismos em sobreviver em condições aeróbias e metabolizar sulfato na presença de oxigênio (MARSCHALL et al., 1993) o que torna o seu emprego em processos de biorremediação ainda mais promissor devido às dificuldades de manter condições estritamente anaeróbias durante os processos industriais. Figura 5.1- Ensaio de adaptação do consórcio bacteriano ao cultivo. (A) Início do cultivo e (B) meio de cultura enegrecido devido à formação de sulfeto ferroso, resultado do crescimento das culturas. A B Fonte: próprio autor. Para os experimentos de extração de DNA e identificação molecular de microorganismos não houve a adição de sulfato ferroso ao meio para se evitar interferência nas reações enzimáticas utilizadas na análise de biologia molecular. Nestas situações o monitoramento do crescimento microbiano foi realizado observando-se visualmente o aumento da turbidez do meio, indicativo do crescimento microbiano evidenciado na 38 figura 5.2. Além disso, o decréscimo do potencial de redução do meio, também indicativo de atividade microbiana, foi determinado com o emprego de um potenciometro modelo digital marca DIGIMED, utilizando-se o eletrodo combinado de platina e os resultados obtidos serão relatados a seguir (item 5.3). Figura 5.2 - Enriquecimento do consórcio bacteriano nas amostras em meio líquido Postgate C modificado. (A) Meio límpido, início do cultivo. (B) Meio turvo, indicativo do crescimento das culturas. A 10/08/2011 B 20/08/2011 Fonte: próprio autor. 5.2 Efeito da concentração do arsênio no crescimento do consórcio bacteriano Segundo LIZAMA e seus colaboradores (2011), a concentração do arsênio no meio é um fator determinante para a inibição do metabolismo dos micro-organismos. Para que os micro-organismos sejam capazes de sobreviver em ambientes com condições diferentes das ideais, muitos possuem mecanismos genéticos que lhes garantem resistência a componentes que podem causar stress. Algumas bactérias possuem genes específicos que possibilitam que essas sobrevivam em ambientes contendo altas concentrações de metais, como, o arsênio (LIAO et al., 2011). Esta resistência ao arsênio está relacionada à presença do gene que codifica o operon ars, este é composto por três a cinco genes (arsR, arsD, arsA, arsB e arsC), os quais estão localizados em plasmídeos (OWOLABI & ROSEN, 1990) ou no cromossomo (DIORIO et al.,1995). Os genes arsR e arsD são reguladores, enquanto arsA e arsB são 39 responsáveis pela codificação de proteínas que, por sua vez irão participar de um processo de transporte transmembrana que permite o fluxo dos ânions arsenicais do citoplasma para o meio extracelular, reduzindo sua concentração intracelular (MUKHOPADHYAY et al., 2002) O crescimento de micro-organismos em todas as amostras contendo diferentes concentrações de As(III) (0,5; 1,0; 2,0: 4,0; 8,0 e 16mg.L-1) demonstra a resistência destes ao elemento tóxico embora tenha sido observado o efeito inibitório do As ao crescimento microbiano. À medida que o arsênio aumentava no meio de cultura, o crescimento microbiano tornava-se mais lento, principalmente no meio sem a presença do PP. Tabela 5.1 Tempo de crescimento percebido pelo escurecimento do meio na ausência do sulfato ferroso, em relação à concentração de As(III). Concentração de As(III) (mg.L ) Tempo de escurecimento do meio (dias) 2* 0,5 2 2 0,5 3 3* 1,0 2 3 1,0 4 4* 2,0 2 4 2,0 4 5* 4,0 4 5 4,0 5 6* 8,0 5 6 8,0 9 7* 16,0 5 7 16,0 Amostras -1 12 *Amostras acrescidas de pó de penas de galinha Em relação à presença do meio suporte PP, este diminui a concentração do As(III), por ser um material biossorvente para o As(III) devido às interações entre os grupos sulfidrila, presentes na superfície do pó de penas como observado por Teixeira e 40 colaboradores (TEIXEIRA et al., 2007). Consequentemente, nos cultivos com presença de PP observou-se menor efeito inibitório do As(III) ao crescimento microbiano. Dessa forma nos testes com a presença de meio suporte observou-se menor tempo de crescimento de micro-organismos, quando comparado às amostras sem adição de PP. Visto que as metodologias disponíveis para remediação de arsênio sejam elas convencionais ou alternativas, apresentam uma limitação comum: removem, eficientemente, as espécies pentavalentes do As, mas geralmente falham na remoção/imobilização das espécies trivalentes, o que implica na necessidade de oxidação prévia do arsenito a arsenato como etapa intermediária do processo (TEIXEIRA et al., 2007) a abordagem aqui proposta torna-se interessante pois todo o processo se dá em condições redutoras. No trabalho de BATTAGLIA-BRUNET (2012) foi observado que bactérias do gênero Desulfosporosinus são capazes de reduzir o arsênio (V). Newman e seus colaboradores (NEWMAN et al., 1997) em seus estudos reportaram que a espécie Desulfotomaculum auripigmentum, também é capaz de reduzir o arsênio (V). 5.3 Variação do Potencial de oxi-redução e pH inicial do meio O valor do potencial de oxi-redução (Eh) do meio é de extrema importância para o cultivo de BRS, uma vez que esse grupo microbiano requer um ambiente redutor para seu crescimento, valores de Eh em torno de -100 a -300mV (POSTGATE et al., 1984). Assim, havendo ocorrência de redução de sulfato em um cultivo microbiano espera-se observar uma diminuição gradativa do Eh do meio em função do tempo de cultivo. Neste trabalho os valores de Eh observados para todas as amostras, independentemente da condição de cultivo empregada variaram entre -65,0 e -360,0mV (Figura 5.3). Além disso, independentemente da adição de As, a redução do Eh do meio foi sempre mais marcante nos frascos contendo PP. Por se tratar de uma fonte de energia, a adição deste material ao meio de cultura pode promover maior crescimento microbiano e, consequentemente, maior abaixamento do Eh do meio. No que diz respeito ao pH, é sabido que as BRS apesar de apresentarem capacidade de crescer em ampla faixa de pH, são preferencialmente neutrófilas, (POSTGATE et al., 1984). BARBOSA (2009) ao utilizar uma cultura mista contendo 41 BRS (enriquecida a partir de amostras de material coletado no mesmo ambiente objeto de estudo deste trabalho, Lagoa do Gambá), obteve remoções de sulfato mais satisfatórias em meio neutro (pH 7,0) do que em meio levemente ácido (pH 5,5). Em vista disto, foi utilizado o valor inicial de pH 7,0 nos ensaios, a fim de garantir um ambiente favorável à atividade metabólica desses micro-organismos. Entretanto, durante os três primeiros dias de cultivo, foi observado um decréscimo no valor do pH do meio em todas as amostras, com os valores de pH variando entre 7 e 5. Tal decréscimo deve-se principalmente a formação dos ácidos orgânicos gerados a partir da decomposição do lactato, por bactérias fermentativas. Contudo, o metabolismo da BRS através da oxidação do lactato, além de gerar o íon sulfato produz alcalinidade (HCO3-), responsável pelo tamponamento do meio. Figura 5.3 Variação do potencial de redução do meio no cultivo em presença de arsênio: 0,5 (2 e 2*); 1,0 (3 e3*); 2,0 (4 e 4*); 4,0 (5 e 5*); 8,0 (6 e 6*) e 16,0mg.L-1 (7 e 7*) . O sinal * representa a presença de pó de penas de galinha (PP) no meio. Valores do Eh (mV). Variações do Eh 100 50 0 -50 -100 -150 -200 -250 -300 -350 -400 2* 2 3* 3 4* 4 5* 5 6* 6* 7* 7 Eh Inicial Eh Final Fonte: próprio autor 5.4 Identificação microbiana As extrações de DNA, das treze amostras (1, 2, 2*, 3, 3*, 4, 4*,5, 5*,6, 6*,7 e 7*) crescidas em meio Postgate C modificado acrescido ou não de PP e As foram 42 eficientemente realizadas. Para todas as amostras obtiveram-se quantidades de DNA suficientes para realização de PCR. A reação de amplificação foi realizada com todos os extratos genômicos das amostras de bactérias adaptadas em diferentes concentrações de arsênio. A amplificação do material genômico utilizando o primer 968FGC/1392 para o Domínio Bacteria foi obtida para todas as 13 amostras. A observação dos géis de agarose a 1,0%, após coloração com Brometo de Etídio indicou o resultado positivo da reação de amplificação de fragmentos do RNA ribossomal 16S. 5.4.1. Eletroforese em Gel de Gradiente Desnaturante (DGGE) A análise eletroforética (DGGE) foi realizada utilizando-se os produtos amplificados dos fragmentos de DNA ribossomal 16S que revelou o padrão de bandas representada na Figura 5.4, o número de bandas corresponde ao número dos membros predominantes na comunidade bacteriana o que permite inferir sobre a diversidade global de bactérias dentro de cada amostra. Para obter estes resultados diversos experimentos de DGGE foram realizados em diferentes gradientes de desnaturação a fim de obter-se um perfil representativo da diversidade microbiana do Domínio Bacteria das amostras. O melhor perfil de bandas foi obtido no gradiente desnaturante de uréia formamida de 40-60% como representado na figura 5.4. Um total de 7 bandas foram selecionadas, excisadas e sequenciadas a fim de identificar as espécies bacterianas presentes no ambiente. 43 Figura 5.4 - Gel de DGGE, com gradiente desnaturante de 40%-60%, corado em brometo de etídio contendo fragmentos de DNA ribossomal 16S amplificados com primer universal 968FCG/1392R domínio Bacteria. O número 1 representa a amostra sem arsênio, (2 e 2*), 0,5, (3 e 3*), 1,0; (4 e 4*), 2,0; (5 e 5*), 4,0; (6 e 6*) , 8,0 e (7 e 7*) 16,0mg.L-1 de arsênio. O sinal * representa a presença de pó de penas de galinha (PP) no meio. Fonte: próprio autor 44 Os perfis de bandas presentes no gel obtido durante a análise por DGGE em função da concentração de arsênio e à presença de biomassa PP nos cultivos estão representados na tabela 5.2 abaixo. Tabela 5.2. Distribuição das bandas de material genômico em diferentes condições experimentais. Amostras 1 2* 2 3* 3 4* 4 5* 5 6* 6 7* 7 Concentração de As (III) (mg.L-1) Espécies Bandas 0 0,5 0,5 1,0 1,0 2,0 2,0 4,0 4,0 8,0 8,0 16,0 16,0 Cupriavidus metallidurans B1 + + + + + + + + + + + + + Clostridium sp B2 + + + + + Pantoea agglomerans B3 + + + Citrobacter sp B4 + + + + + Enterobacter sp B5 + + + + + Burkholderia cepacia B6 + + + Bacillus sp B7 + + + + + + + + + + + + + + *Indica adição de biomassa PP ao cultivo Todas as sete bandas foram excisadas do gel DGGE e reamplificadas novamente utilizando primers para o domínio Bacteria, purificadas e levadas para o sequenciamento. As sequências obtidas foram analisadas nos programas BLASTn (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/) e RDP X (Ribossomal Database Project Release 10) (COLE et al., 2009) utilizadas para busca de homologia, similaridade e identidade. O sequenciamento revelou a presença de membros dos filos Proteobacteria e Firmicutes. O primeiro é constituído por organismos que apresentam grande diversidade metabólica e correspondem á maioria das bactérias gram-negativas conhecidas, tendo importância médica, industrial e agrícola. O filo Firmicutes é representado por bactérias na qual a 45 maioria é gram-positiva, Bacillus e Clostridium são os dois gêneros mais estudados, TORTORA, 2005). Os resultados de similaridade das bandas obtidas estão apresentados na tabela 5.3. Tabela 5.3: Alinhamento das bandas com as sequências depositadas no GenBank (www.ncbi.nlm.nih.gov) para os fragmentos amplificados pelos primers bacterianos universais (968F-GC 1392R). Bandas Similaridade Espécie Número de Acesso B1 99% Cupriavidus metallidurans CP000352 B2 100% Clostridium sp X80841 B3 100% Pantoea agglomerans AM184212 B4 100% Citrobacter sp DQ133536 B5 100% Enterobacter sp EF138627 B6 99% Burkholderia cepacia AY741335 B7 100% Bacillus sp EU584532 Para construção da árvore (Figura 5.5), foram consideradas as espécies que apresentavam maior porcentagem de similaridade com as sequências obtidas. De maneira geral, os indivíduos sequenciados foram posicionados considerando seus parentes filogenéticos. 46 As propriedades de todos os micro-organismos identificados estão presentes na tabela 5.4. Tabela 5.4. Propriedades das espécies identificadas. Sequências Espécies Cupriavidus B1 metallidurans CP000352 Clostridium B2 spX80841 Pantoea B3 agglomerans AM184212 Citrobacter sp B4 DQ133536 Enterobacter sp B5 EF138627 Burkholderia B6 cepacia AY741335 Bacillus sp B7 EU584532 Características Beta Proteobacteria, gram-negativas, elevado número de genes de resistência a metais pesados. É um organismo modelo interessante para estudar as respostas microbianas a metais pesados. Referência (MONSIEUS et al, .2011). Bactérias Firmicutes, Gram-positivas, forma de bastonete, anaeróbios estritos (ANDERSON e aerotolerantes. Produzem et al., 2003). endósporos, são ubiquitários, Família Enterobacteriaceae, Gramnegativas, anaeróbias facultativas capazes de realizar o metabolismo de redução de sulfato. (QIU et al., 2008). Gram-negativas, fermentadoras da família Enterobacteriaceae. (AICKIN & Observáveis nos solos, águas, DEAN, 1977) alimentos e esgotos. Família Enterobacteriaceae, Gramnegativas, anaeróbias facultativas. Utilizam lactato de sódio como fonte de carbono, ou mesmo o citrato. (GRIMONT & GRIMONT, 2006). Beta Proteobacterias, gram-negativas, forma de bastonetes. Possuem um extraordinário espectro nutricional, (YABUUCHI capazes de degradar mais de 100 et al.,1992). moléculas orgânicas diferentes. Bactérias Firmicutes, Gram-positivas, aeróbias ou anaeróbias facultativas. Alta taxa de crescimento, capacidade de secretar enzimas para o meio extracelular. (SCHALLMY, 2004). 47 Figura 5.5. Árvores filogenéticas contendo sequências do gene DNAr 16S, construídas pelo método Neighbor-Joining e modelo Maximum Composite Likelihood no programa Mega 4.1. Análise de Bootstrap com 1000 réplicas. B1 70 Cupriavidus metallidurans CP000352 98 B6 69 Burkholderia cepacia| AY741335 100 Bacillus sp EU584532 98 B7 B2 100 Clostridium sp. X80841 Desulfovibrio Mlhm; AF193026 0.02 0 B5 Enterobacter sp EF139627 00 B4 100 Citrobacter sp DQ133536 B7 Pantoea agglomerans AM184212 Desulfovibrio AF193026 0.02 Fonte: próprio autor As espécies Cupriavidus metallidurans e Citrobacter sp. estão presentes em todas as amostras, independentemente da concentração de arsênio empregada, apresentando portanto, resistência considerável a este elemento. Estes organismos são capazes de produzir sulfeto de hidrogênio (BARBOSA, 2009), principal produto no processo de redução dissimilativa de sulfato, corroborando, portanto, para a atividade sulfato redutora das amostras estudadas. Como o sulfeto de hidrogênio é um composto tóxico para muitos micro-organismos, até mesmo para várias espécies de BRS como, as espécies do gênero Desulfotomaculum, que são sensíveis a concentrações de 4 a 7 mM de H2S.L-1 (WIDDEL & PFENNIG,1977; KLEMPS et al., 1985) a presença de H2S no meio pode funcionar como uma estratégia para eliminar outros grupos microbianos, 48 sendo portanto responsável pela seletividade de grupos microbianos, resistentes a este composto (MARTIN et al., 2009), diminuindo assim a competição pelos nutrientes. A espécie Cupriavidus metallidurans é uma beta proteobacteria capaz de manter em homeostase com os metais sob uma variedade de condições ambientais adversas (MONCHY et al., 2007). Este organismo pode ser encontrado em ambientes com temperatura moderada, contaminados com metais pesados, tais como desertos de zinco da Bélgica (DIELS & MERGEAY, 1990). A espécie Citrobacter sp. pode ser observada nos solos, águas, alimentos e esgotos. Em 1977, Aickin e Dean (AICKIN & DEAN, 1977) descreveram o sistema fosfatase das bactérias do gênero Citrobacter utilizadas em processos biológicos de precipitação dos metais. As espécies Clostridium sp e Burkholderia cepacia, embora não estejam presentes em todas as amostras analisadas, cresceram em alguns frascos contendo baixas, médias e altas concentrações de arsênio no meio. O gênero Burkholderia foi descrito em 1992 por Yabuuchi como parte do Filo Proteobacteria. O gênero ainda precisa ser mais bem caracterizado, pois sua taxonomia vem sendo modificada de tal forma que novos componentes estão sendo frequentemente propostos, especialmente pela identificação de novos nichos ecológicos e sua ação no ambiente. Estes micro-organismos fazem parte do grupo das Beta Proteobacterias, sendo a espécie Burkholderia cepacia (anteriormente conhecida como Pseudomonas cepacia) a mais conhecida. As bactérias do gênero Burkholderia tornam-se interessantes por possuírem amplo potencial de uso em atividades agrícolas e biotecnológicas. Possuem capacidade de atuarem como promotoras de crescimento em plantas dadas as suas atividades de fixação biológica do nitrogênio e produção de fitormônios; além disso, participam de processos de biorremediação de hidrocarbonetos de petróleo, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, componentes nitroaromáticos solventes industriais, pesticidas e metais (DUA et al., 2002). As espécies de Clostridium podem ser anaeróbias estritas ou aerotolerantes. São ubiquitários, vivendo no solo, água, flora do trato gastrointestinal do homem e diversos animais, são produtores de amilases para degradação de polissacarídeos a açúcares menores (ANDERSON et al., 2003). A alta resistência destas espécies às condições ambientais extremas pode justificar sua ocorrência na condição de cultivo na qual as maiores concentrações de As (III) foram empregadas. Esta espécie preferencialmente oxida o lactato formando o acetato juntamente com o propionato (BERTOLINI, 2012). 49 O gênero Bacillus sp. foi encontrado somente na amostra com maior concentração de arsênio, 16mg.L-1. Por possuírem muitas características vantajosas, como sua alta taxa de crescimento, menor tempo da fermentação, e principalmente capacidade de secretar enzimas para o meio extracelular, esse gênero vem se tornando bastante importante e atrativo para o setor industrial. Sendo assim, estes microorganismos constituem uma fonte importante de enzimas extracelulares, dentre elas proteases, amilase e lípases (SCHALLMEY, 2004). A presença de micro-organismos das espécies Enterobacter sp. e Pantoea agglomerans foi confirmada nas amostras com baixa, média e alta concentração de arsênio no meio. Embora não haja muitos estudos em relação à redução de sulfato por membros da família Enterobacteriaceae, sabe-se que representantes desta família já foram identificados como capazes de realizar o metabolismo de redução de sulfato (QIU et al., 2008) e como, o grupo das BRS é polifilético, fazendo parte do mesmo representantes de diferentes famílias do domínio Bacteria; além de algumas do domínio Archaea é possível que representantes ainda não catalogados de grupos distintos também possuam a capacidade metabólica de reduzir o sulfato à sulfeto. É valido acrescentar que, devido ao metabolismo de grande parte dos representantes da família Enterobacteriaceae ser anaeróbio facultativo, os enriquecimentos utilizados neste trabalho não seriam capazes de excluí-los. Portanto esses micro-organismos poderiam estar fazendo parte do processo de redução de sulfato. Além disso, representantes do gênero Enterobacter, já foram relatados como capazes de utilizar o lactato de sódio como fonte de carbono, ou mesmo o citrato (GRIMONT & GRIMONT, 2006) presentes no meio de cultivo utilizado. Outra questão importante é a taxonomia deste gênero que é considerada como altamente heterogênea ao se considerar outros representantes da família Enterobacteriaceae (GRIMONT & GRIMONT, 2006). Pode-se citar como exemplo as espécies do gênero Pantoea, que possui várias espécies endofíticas, até pouco tempo identificadas como pertencentes ao gênero Enterobacter, (JANDA, 2006). Fundamentado nas características metabólicas e enzimáticas dos microorganismos identificados, é possível inferir que as espécies Pantoea agglomerans, Enterobacter sp. e Citrobacter sp, pertencentes a família Enterobacteriaceae, participaram da oxidação incompleta do lactato, composto orgânico adicionado ao meio de cultura, produzindo ácidos orgânicos voláteis (AGV), possivelmente o ácido acético. 50 A produção desses ácidos causou o decréscimo do pH do meio logo nos primeiros dias de inoculação dos micro-organismos. A partir daí entram em ação os micro-organimos acidogênicos, neste trabalho representado pelo gênero Clostridium, que utilizam os produtos anteriormente citados produzindo o acetato. Os micro-organismos pertencentes ao gênero Bacillus e a espécie Burkholderia cepacia crescem em meios contendo diferentes fontes de carbono, uma vez que apresentam a capacidade de produzirem enzimas hidrolíticas extracelulares, apresentando extrema versatilidade nutricional, podendo participar em mais de uma etapa da oxidação do lactato. É importante acrescentar que as espécies que se esperava identificar, são as clássicas bactérias redutoras de sulfato que pertencem ao grupo delta proteobactéria, visto que o meio utilizado assim como as condições de cultivo são propícios para o crescimento destas. Porém os resultados da análise da biologia molecular demostrou a presença de outros micro-organismos como citado anteriormente, mas que apresentam características de redução de sulfato e resistência ao arsênio. 5.5 Caracterização do precipitado formado Para avaliar a correlação da remoção do As(III) na presença de inóculo e na ausência deste (considerando-se apenas a possibilidade de uma interação química entre o arsênio trivalente e os constituintes do meio de cultura) foram utilizados frascos controles, cultivados em condições semelhantes, autoclavados, porém sem a adição de inóculo (BRS). Os testes controles não apresentaram sequer precipitado após 10 dias na estufa. Dessa forma a remoção de As(III) foi insignificante na ausência do inóculo, descartando-se a possibilidade do processo estar relacionado apenas a uma reação química que dispensa a presença de micro-organismos. Este fato evidencia a importância dessas bactérias para o processo de imobilização de As(III). Possivelmente, os processos envolvidos na precipitação do As(III) podem acontecer isoladamente ou em conjunto, sendo eles: adsorção dos metais na superfície da célula ou em substâncias exopolissacarídicas (EPS) por elas produzidas e secretadas; pela sua bioacumulação no interior da célula (KIM et al., 2007) e pela precipitação dos metais com o sulfeto 51 produzido no metabolismo do sulfato gerando sulfetos metálicos insolúveis (WIDDELL, 1988). Neste trabalho devido os altos picos de carbono encontrado em todas as amostras, evidencia que o processo de imobilização que esta acontecendo é o de adsorção do arsênio na superfície da célula. Este processo se refere à remoção de íons ou outras espécies dissolvidas, de líquidos ou gases pela acumulação na superfície de um material sólido (LIZAMA et al., 2011). O processo de adsorção mais comum envolve a troca iônica. O sucesso do processo de adsorção depende das propriedades da superfície do adsorvente, da concentração e da especiação das espécies químicas presentes, da competição entre espécies químicas e do pH do meio (STOLLENWERK, 2003). Em ambientes reduzidos e na presença de S e Fe, o As pode ser precipitado como composto insolúvel como a orpimenta As2S3, no qual o As está presente como As trivalente, e arsenopirita (AsFeS). A Orpimenta (Ouro-pigmento) precipita em ambientes contendo pouco Fe, porém ricos em S, especialmente sob condições ácidas (LIZAMA et al., 2011). Os precipitados formados nas amostras 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 correspondendo respectivamente às concentrações de arsênio (0,5; 1,0; 2,0; 4,0; 8,0 e 16,0g.L-1), obtidos após cultivo microbiano em meio Postgate C modificado (sem PP) apresentaram um aumento na cristalinidade à medida que a concentração de arsênio se elevava, como pode ser observado na figura 5.6. Resultados semelhantes foram encontrados por outros autores (TECLU et al., 2008), sendo que também foi observado que a cristalinidade do material sólido produzido aumentava à medida que se aumentava a concentração de arsênio no meio. É importante observar, que o material utilizado com suporte sólido (PP) é amorfo, característica esta que impossibilitou alcançar sucesso na análise da estrutura dos resíduos sólidos presentes no precipitado por espectroscopia Raman. A técnica de Difração de raios-X também não apresentou resultados significativos pelo mesmo motivo, não sendo possível, através desta técnica, a identificação de fases minerais correspondentes aos sulfetos de arsênio. Esperava-se identificar esta fase mineral visto que, durante os cultivos, ocorreu a redução do sulfato a sulfeto, evidenciada pelo enegrecimento do meio e este, por sua vez seria, termodinamicamente capaz de reagir com cátion bi e trivalentes, dentre eles o arsenito (As3+), formando sulfetos insolúveis. A baixa cristalinidade do material associada ao fato da concentração do sulfeto de 52 arsênio formado no meio ser inferior a 3% do total de sólidos presentes, inferior, portanto, aos valores limites de detecção do equipamento, podem ter contribuído para o insucesso desta abordagem. Com relação às análises de MEV/EDS, a presença de As nos produtos sólidos produzidos pelo crescimento microbiano pode ser comprovada. Na figura 5.6 é possível perceber o aumento da intensidade dos picos relativos ao arsênio à medida que aumenta a concentração deste elemento na amostra. É importante ressaltar que o mesmo não foi observado na ausência de micro-organismos, ficando assim descartada a possibilidade de simples precipitação química. A participação microbiana no processo fica desta maneira comprovada, mas os mecanismos (biogeoquímicos) ainda precisam ser investigados. A presença de picos de carbono como pode ser visto na figura 5.3, corrobora com a hipótese da biossorção do arsênio na parede celular, local onde se encontram os principais sítios de biossorção que correspondem aos grupos funcionais amina, amida, hidroxilo, carboxilo e fosfato entre outros (VIDOTTI E ROLLEMBERG, 2004). Além disso, a conversão de arsenito em arsenato pode ser realizada por enzimas extracelulares, sendo as formas oxidadas adsorvidas ou precipitadas no filme biológico como visto em trabalho previamente publicados (KOSTAL et al., 2004). Dessa forma, o consórcio bacteriano apresentado neste trabalho poderia ser utilizado, com sucesso, por pequenas indústrias, num processo biológico, de baixo custo, para o tratamento de efluentes contaminados por arsênio. 53 Figura. 5.6. Imagem de análise de MEV/EDS do precipitado presente nas amostras: A) Amostra 1 com 0,0 g.L-1 de As; B) Amostra 3 com 1,0 g.L-1 de As; C) Amostra 4 com 2,0 g.L1 de As; D) Amostra 5 com 4,0 g.L-1 de arsênio, E) Amostra 6 com 8,0 g.L-1 de arsênio. F) Amostra 7 com 16,0 g.L-1 de arsênio. A B C D E F Fonte: próprio autor 54 6. Conclusões Foi possível observar o crescimento bacteriano utilizando meio Postgate C modificado em todas as diferentes concentrações de As (III) empregadas, tanto nos cultivos contendo PP quanto na ausência deste composto. Ficou demonstrada a resistência da cultura bacteriana ao elemento. A concentração de As(III) no meio influenciou a cinética do crescimento microbiano pois, à medida que as concentrações de arsênio aumentavam, maior tempo para crescimento era demandado, principalmente no meio sem a presença do material suporte (pó de pena de galinhas). Tal fenômeno pode estar associado às propriedades adsorventes de As do material, que implicariam na diminuição da concentração de As(III) solúvel no sistema, facilitando a adaptação da cultura ao meio e a consequente, proliferação celular. Além disso, o mesmo material pode ser utilizado como fonte de matéria orgânica pelos micro-organismos, facilitando seu crescimento. A identificação do perfil de DGGE do consórcio microbiano revelou a presença dos seguintes organismos: Pantoea agglomerans, Enterobacter sp, Citrobacter sp, Cupriavidus metallidurans, Ralstonia sp Burkholderia cepacia e Clostridium sp. Ainda que os componentes do consórcio microbiano identificados não sejam pertencentes aos grupos clássicos de BRS, a cultura apresentou capacidade de redução de sulfato. A capacidade de reduzir o sulfato de algumas das espécies constituintes do consorcio associada à resistência ao arsênio indica que o mesmo possui potencial de uso na biorremediação de resíduos líquidos contaminados com sulfato e As o que justifica a continuação dos estudos aqui iniciados. A atividade metabólica das bactérias componentes deste consórcio influenciou diretamente na imobilização do arsênio trivalente sendo a cristalinidade do material diretamente proporcional à sua concentração no meio. A diversidade metabólica do consórcio e sua capacidade de precipitar metais e metaloides o capacita para o uso em processos de biorremediação e imobilização de metais. Dessa forma todas as bactérias identificadas neste estudo, são boas candidatas para o processo de biorremediação de áreas contaminadas com arsênio, no tratamento 55 de efluentes industriais que apresentam arsênio, visto se tratar de um processo de baixo custo. 56 7. SUGESTÕES DE TRABALHOS FUTUROS. - Identificar a presença de genes associados à redução de sulfato, nos micro-organismos identificados neste estudo. - Avaliar a capacidade de degradação de sulfato em reatores utilizando o consórcio microbiano descrito neste trabalho. - Testar o uso destas BRS para o tratamento de águas de drenagem ácida de mina. 57 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACHOUR, A.R., BAUDA, P., BILLARD, P. Diversity of arsenite transporter genes from arsenic-resistant soil bacteria. Res. Microbiol, v. 158, p. 128–137, 2007. AICKIN, R.M. DEAN, A.C.R. "Lead acumulation by microorganism", Microbios Letters, 5:129 – 133, 1977. AMANN, R., BERNHARD, M. e S, B. The identification of microorganisms by fluorescence in situ hybridisation. Current Opinion in Biotechnology, 12, 231 - 236, 2001. AMANN, R. e LUDWIG, W. Ribosomal RNA-targeted nucleic acid probes for studies in 4 microbial ecology. FEMS Microbiology Reviews, v. 24, n. 5, p. 555-565, 2000. AMMAN, R. 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TEIXEIRA Arsenite (bio) immobilization using Sulfur Reducing Bacteria (SRB). 4th international congress: arsenic in the environment, Sebel Cairns International Hotel, Cairns, Australia, 22–27 July 2012 MOREIRA,M;SILVA,S.Q;TEIXEIRA,M.C Identificação Molecular de Bactérias Redutoras de Sulfato (BRS) Coletadas na Lagoa do Gambá em Ouro Preto-MG. XXL Congresso Latino-americano de Microbiologia, Santos, 2012. MOREIRA,M & TEIXEIRA,M.C. Utilização da Técnica de DGGE (Eletroforese em Gel de Gradiente Desnaturante), na Identificação da Diversidade Microbiana. I Workshop on Bioprocess for the Mining Industry and Environment, Araraquara, 2011. 69 Apêndice II - Soluções e reagentes para extração de DNA. TAMPÃO FOSFATO SALINO (PBS 10X concentrado) Adicionar em um béquer os seguintes constituintes: NaCl - 80,0g; KCl - 2,0g; Na2HPO4 - 14,4g (se hidratado, usar 18g) e KH2PO4 - 2,4g. Adicionar 800 mL de água mili-Q aos poucos até dissolver. Depois de dissolvido transferir a solução para uma proveta e completar o volume para 1000 mL e ajustar o pH 7,2 para sando soluções de NaOH ou HCl. Colocar em um frasco com tampa e autoclavar à 120°C por 20 minutos, depois de autoclavado, esperar esfriar e estocar em geladeira. SOLUÇÃO DE SDS10% concentrado. Adicionar em um proveta 10,0g de SDS (dodecil sulfato de sódio) e 100mL de água milli-Q. Agitar até completa dissolução. Ajustar o pH para 7,2 usando solução de NaOH ou HCl e armazenar à temperatura ambiente. SOLUÇÃO DE FENOL/CLOROFÓRMIO/ÁLCOOL ISOAMÍLICO (24:24:1) Em um frasco adicionar 24mL de Fenol, 24mL de Clorofórmio e 1mL de Álcool isoamílico. Estocar em freezer à -20°C. CLOROFÓRMIO/ÁLCOOL ISOAMÍLICO (24:1) Em um frasco adicionar 24mL de Clorofórmio e 1mL de Álcool isoamílico. Estocar em freezer à -20°C. SOLUÇÃO PBS 10X CONCENTRADO. Em uma balão volumétrico misturar os seguintes constituintes: 16 g de NaCl, 4g de Na2HPO4.7H2O; 0,7g de NaH2PO4.H2O e completar para volume de 2L com água destilada. Armazenar na geladeira a SOLUÇÃO PBS 1X CONCENTRADO + PVPP 1%. Misturar os seguintes constituintes em um frasco: 2mL de tampão fosfato salino PBS 10X concentrado,1g de Polivinilpolipirrolidona (PVPP) e 100mL de Água mili-Q . Estocar à temperatura ambiente. 70 SOLUÇÃO DE ACETATO DE SÓDIO 3M. Dissolver 24,6g de Acetato de sódio em água milli-Q, colocar em um balão volumétrico e completar o volume para 100mL. Estocar à temperatura ambiente. TRIS (tris-hiroximetilaminometano) (2mMolar). Misturar em um balão volumétrico 24,225g de Tris e completar com H2O milli-Q até volume de 100mL. Armazenar em um frasco à temperatura ambiente. TAE (TAMPÃO TRIS-ACETATO-EDTA, PH7,5) 50X CONCENTRADO. Colocar em um balão volumétrico os seguintes constituintes: 121,0g de Tris-Base, 28,55mL de Ácido acético glacial, 50mL de EDTA 0,5 Molar, em seguida acertar o volume para 500mL utilizado água destilada e ajustar o pH para 7,5 usando soluções de NaOH ou HCl. Armazenar em um frasco à temperatura ambiente. EDTA 0,5MOLAR. Em um frasco misturar 93,06g de EDTA e 500mL de Água destilada. Ajustar o pH para 8,0 usando soluções de NaOH ou HCl. Estocar à temperatura ambiente. ANEXO II – Soluções e reagentes para eletroforese (DGGE) SOLUÇÃO DE ACRILAMIDA 30%. Colocar em um béquer 58,0g de Acrilamida e 2,0g de Bisacrilamida. Dissolver com a ajuda de um agitador magnético a uma temperatura de 20°C e adicionar aos poucos a água destilada, até a completa dissolução. Após dissolução, completar o volume para 100 mL utilizando água destilada. Colocar em um frasco fechado e envolto por um papel alumínio e armazenar à 4°C. SOLUÇÃO 0% DESNATURANTE. Misturar 40mL de Acrilaminda 30%, 1 mL de TAE 50X concentrado e 159mL de Água mili-Q. Colocar em um frasco fechado e envolto por um papel alumínio e armazenar à 4°C. 71 SOLUÇÃO 80% DESNATURANTE Misturar em um béquer 40mL de Acrilamida 30%, 1mL de TAE 50X concentrado, 67,6g de uréia e64mLde Formamida. Dissolver com a ajuda de um agitador magnético a uma temperatura de 20°C e adicionar aos poucos água destilada, até a completa dissolução. Após dissolução, completar o volume para 200 mL utilizando água destilada. Colocar em um frasco fechado e envolto por um papel alumínio e armazenar à 4°C. APS (PERSULFATO DE AMÔNIO) 10%. Misturar em um frasco envolto por um papel alumínio 0,2g de APS e2mL de Água miliQ . Armazenar a 4°C. PREPARO DE GRADIENTE 40– 60% DO GEL DE POLICRILAMIDA. Gradiente 40%. Adicione em um tubo falcon 8mL de Solução 0%, 8 mL de Solução 80%, 100µL de APS 10% e, por último, acrescente 7µL de TEMED e misture ligeiramente. Gradiente 60% Adicione em um tubo tipo falcon 4mL de Solução 0%, 12 mL de Solução 80%, 100µL de APS 10% e, por último, acrescente 7µL de TEMED e misture ligeiramente. 72