UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL FUNDAÇÃO OSVALDO CRUZ SEÇÃO CERRADO PANTANAL PÓS-GRADUAÇÃO EM ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE DA FAMÍLIA PAULO RICARDO DE OLIVEIRA REGHIN PRÁTICAS DE INTEGRALIDADE EM ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA: TABAGISMO E SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PERIODONTAL Campo Grande-MS 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL FUNDAÇÃO OSVALDO CRUZ SEÇÃO CERRADO PANTANAL PÓS-GRADUAÇÃO EM ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE DA FAMÍLIA PAULO RICARDO DE OLIVEIRA REGHIN PRÁTICAS DE INTEGRALIDADE EM ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA: TABAGISMO E SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PERIODONTAL Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de Pós Graduação em Atenção Básica em Saúde da Família, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, como requisito para obtenção do título de Especialista. Orientador: Ms. Edilson José Zafalon Campo Grande-MS 2011 PAULO RICARDO DE OLIVEIRA REGHIN PRÁTICAS DE INTEGRALIDADE EM ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA: TABAGISMO E SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PERIODONTAL Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de Pós Graduação em Atenção Básica em Saúde da Família, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, para obtenção de certificado de Especialista. Comissão Examinadora ______________________________________ Tutor de formação Ms. Edílson José Zafalon _______________________________________ Tutora especialista Maisse Fernandes de Oliveira Rotta _________________________________________ Orientadora de Aprendizagem Jacinta de Fátima Franco Machado AGRADECIMENTOS A Deus sobre todas as coisas, pelo dom da sabedoria e conhecimento. Ao Município de Aquidauana, que proporcionou o ingresso no Curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família. A Equipe de Saúde da Estratégia de Saúde da Família Guanandy, presente em todos os momentos. A Equipe de Saúde da Estratégia de Saúde José Vória, pela colaboração durante a execução das tarefas. A minha família, por minha ausência durante o curso, sempre me apoiando e incentivando e não me deixando abater pelos tropeços da vida. A minha namorada pela paciência, colaboração e incentivo durante todo o decorrer do curso, e na etapa finalização por meio do trabalho de conclusão. RESUMO A Doença Periodontal (DP) constitui-se em uma das principais enfermidades bucais do século XXI, sua etiologia, evolução, classificação e fatores de riscos serão abordados durante o estudo, com destaque para o Tabagismo como principal fator de risco. A DP é uma patologia multifatorial apresentando o biofilme bacteriano como fator causal primário. No entanto, a manifestação e a progressão da periodontite são influenciadas por diversas condições, incluindo características do indivíduo, fatores sociais e comportamentais, fatores sistêmicos, perfil genético, anatomia dentária, composição microbiológica do biofilme dentário e outros possíveis fatores de risco descritos recentemente. Relativamente aos fatores relacionados com a doença periodontal destaca-se o consumo de cigarros, uma vez que existe um grande número de tabagistas em todo o mundo e, de acordo com as estimativas da Organização Mundial de Saúde, este número tende a crescer, nos países em desenvolvimento. Portanto, o objetivo deste trabalho é fazer uma revisão bibliográfica sobre as evidências mais recentes que abordam a influência do consumo de cigarros sobre a condição periodontal buscando com isso estimular práticas de Integralidade em Estratégia de Saúde da Família (ESF), com foco na relação Doença Periodontal e o Tabagismo. Palavras-chave: Doença Periodontal, Tabagismo, Saúde da Família. ABSTRACT The Periodontal disease (PD) represents themselves in a mouth from the major enfermidades century XXI, its etiology developments, sorting and risk factors study shall be addressed throughout with focus on smoking as for major factor to risks. PD is a multifactorial disease presenting as bacterial biofilms primary causal factor. However, the manifestation and progression of periodontitis are influenced by many conditions, including characteristics of the individual, social and behavioral factors, systemic factors, genetic profile, dental anatomy, composition of the microbial biofilm and other possible risk factors described. With regard to factors related to periodontal disease highlights the consumption of cigarettes, since there is a large number of smokers worldwide and, according to estimates by the World Health Organization, this number tends to grow in countries in development. Thus, the objective of this study is to review the literature on the most recent evidence that address the influence of smoking on periodontal status seeking to encourage this practice Completeness in the Family Health Strategy (FHS), focusing on the relationship Disease Smoking and periodontal. Keywords: Periodontal Disease, Smoking, Family Health. SUMÁRIO 1 Introdução ................................................................................................. 07 2 Objetivo ..................................................................................................... 09 3 Revisão de Literatura ................................................................................ 10 3.1. Doença Periodontal ................................................................................... 10 3.2. Classificação Doença Periodontal............................................................ 11 3.3. Fatores de Risco da Doença Periodontal ................................................. 12 3.4. Tabagismo e Doença Periodontal ............................................................. 13 4 Discussão .................................................................................................. 16 5 Conclusão ................................................................................................. 19 Referências ............................................................................................... 20 7 1. INTRODUÇÃO Em 1994 iniciou-se o desenvolvimento da Estratégia de Saúde da Família (ESF), como ferramenta principal da atenção primária a saúde no Sistema Único de Saúde (SUS). Um dos fundamentos da atenção primária a saúde (APS), é a integralidade da atenção. O exercício da integralidade na APS pressupõe que se trabalhe com um conceito ampliado de saúde, que considera os determinantes sociais no processo de adoecer, exigindo dos profissionais uma abordagem interdisciplinar (STARFIELD, 2004; BRASIL, 2007). As ações integrais são fundamentais no cuidado aos usuários portadores de doença periodontal e tabagistas, que freqüentam as Unidades de Saúde da Família, devido à relação entre o desenvolvimento e progressão da patologia. O paciente periodontalmente afetado terá um melhor prognóstico em seu tratamento, quando o combate ao tabagismo, for levado em consideração pelo profissional Cirurgião Dentista, conscientizando e encaminhando esse paciente ao Programa Anti-tabaco comandado pelo Enfermeiro de Saúde da Família. Assim podemos citar, aproximadamente, a existência de 1.300 milhões de fumantes no mundo. Destes, mais de 900 milhões vivem em países em desenvolvimento como o Brasil. A porcentagem global de fumantes é de 29% dos quais 47,5% são homens e 10,3% são mulheres, maiores de 15 anos (FDI, 2005). Diversos estudos demonstram que o tabagismo também pode influenciar a saúde periodontal. Suspeita-se que o fumante tenha um risco maior em desenvolver a doença (BRIDGES, 1997). Os componentes do fumo podem induzir ou exacerbar várias formas de doenças periodontais por dano local direto aos tecidos periodontais e/ou pela alteração da resposta imunológica, que prejudicaria a neutralização da infecção e facilitaria a destruição dos tecidos do periodonto (AMERICAN ACADEMY PERIODONTOLOGY, 1996). Segunda patologia bucal mais prevalente no mundo, a doença periodontal (DP), constitui-se de um processo inflamatório no tecido periodontal que resulta do 8 acúmulo de biofilme na superfície externa do elemento dentário. Sua ocorrência encontra-se associada a baixas condições sócio-econômicas, dificuldades de acesso aos serviços de saúde, bem como comportamentos nocivos relacionados à saúde (MUMGHAMBA et al., 1995). O comprometimento do tecido gengival leva, com o tempo, a perda dos tecidos de suporte dos dentes. Os microorganismos responsáveis por (CARRANZA, 1997). esses eventos estão presentes no biofilme bacteriano 9 2. OBJETIVO O objetivo deste trabalho é demonstrar a relação de risco entre tabagismo e o desenvolvimento da DP a fim de estimular as práticas integrais entre os profissionais da Saúde da Família. A conscientização dos profissionais que atuam em Estratégia de Saúde da Família, sobre a importância do cuidado integral em saúde. Orientando os usuários sobre as campanhas anti-tabagismo, referenciando fumantes ao Programa de Controle de Tabagismo, assim como encaminhá-los à Equipe de Saúde Bucal (ESB), para diagnóstico, tratamento e controle da doença periodontal. 10 3. REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Doença Periodontal (DP) Nos últimos 30 anos, houve um progresso extraordinário na compreensão da DP. O conceito sobre etiologia, sua patogenia e seu tratamento é muito diferente nos dias atuais, levados em consideração a década de 1970 (WILLIANS, 1998). A DP é multifatorial apresentando o biofilme bacteriano como fator etiológico primário. A placa bacteriana é a causa principal da DP, é composta por uma película viscosa e incolor que se forma sobre os dentes, também conhecida como biofilme dental (SALLUM, 2004). Em geral, o termo doença periodontal refere-se tanto para gengivite quanto para periodontite, porém, a primeira é uma resposta inflamatória ao biofilme bacteriano limitada ao tecido marginal enquanto na segunda a resposta invade os tecidos de suporte causando perda de inserção. A menor parcela dos pacientes (cerca de 10%) terá uma resposta sempre restrita à margem gengival, entretanto, para a grande maioria das pessoas se a contaminação bacteriana não for controlada pode levar a perda de suporte e consequentemente perda dental. (LOE et al., 1986) Do ponto de vista etiopatogenético, esta doença apresenta fatores predisponentes ou retentores de biofilme como restaurações iatrogênicas, lesões cariosas, sítios de impactação alimentar, próteses mal adaptadas, aparelhos ortodônticos, mau posicionamento dentário, falta de contato labial, entre outros. Existem ainda os fatores modificadores, como a diabetes, estresse, medicamentos, fatores hormonais e nutricionais bem como o tabagismo que, de diversas formas, altera a resposta imunológica do hospedeiro, tornando-o mais susceptível ao desenvolvimento e progressão da doença periodontal (LINS, 2005). Em 1947, já se afirmava que os fumantes pareciam ter maior acúmulo de cálculo do que os não fumantes (PINDBORG, 1947). Nesse contexto, a doença periodontal tem se mostrado mais um problema de saúde pública (KIM et al., 2007). 11 Dito isto, o primeiro sinal de alteração da gengiva é o sangramento, que ocorre devido ao acúmulo de placa bacteriana. Em seguida, aparece o eritema linear gengival, caracterizando o quadro de gengivite. A persistência do acúmulo de placa por alguns dias, desencadeia lesões no sulco gengival onde 5 a 10 % do tecido conjuntivo ficam prejudicados (PAGE; SHROEDER, 1997). Células do epitélio juncional migram e proliferam, representando o primeiro passo para formação da bolsa periodontal, que consiste no aprofundamento patológico do sulco gengival. Simultaneamente, ocorre a expansão da lesão em sentido apical e lateral, com vasodilatação e aumento de células inflamatórias polimorfonucleares que, juntamente com o plasma extravasado, ocupam a região das fibras colágenas. Estes eventos permitem o quadro inicial da periodontite, representando clinicamente a resposta aos fatores quimiotáticos liberados no sulco gengival. Após sete dias das primeiras modificações gengivais, as características inflamatórias são acompanhadas por perda de 60% do colágeno existente no periodonto. O infiltrado inflamatório ocupa 10% do tecido conjuntivo, e por volta de 15 a 20 dias, inicia-se a perda óssea. Nessa fase, temos a lesão estabelecida e o processo pode permanecer estável por longo tempo ou evoluir, para uma lesão avançada , acarretando em último estágio a perda do elemento dentário (GENCO et al., 1996). 3.2 Classificação da Doença Periodontal Em termos gerais, podemos diferenciar duas entidades distintas de doença periodontal, dependendo da gravidade da mesma, a gengivite e a periodontite. A primeira é reversível, ao contrário da segunda, que é irreversível. A gengivite definese como uma inflamação superficial da gengiva, causada pelo acúmulo de placa bacteriana. Apesar das alterações patológicas, o epitélio de união se mantém unido ao dente, não havendo perda de inserção. É uma situação reversível, caso sejam removidos os fatores etiológicos. Contudo, tem um papel precursor na perda de inserção ao redor dos dentes se os fatores etiológicos não forem eliminados (ALMEIDA, 2006). 12 A periodontite é uma atividade inflamatória com destruição do periodonto e ocorre quando as alterações identificadas na gengivite progridem até ocorrer a destruição do ligamento periodontal e migração apical do epitélio de união. Há o acúmulo de placa bacteriana nos tecidos mais profundos, causando perda de inserção por destruição do tecido conjuntivo e por reabsorção do osso alveolar. Clinicamente, a gengiva apresenta-se eritematosa com sinais de inflamação, podendo estar mascarada, em pacientes tabagistas, nos quais a nicotina promove vasoconstricção, simulando, portanto, ausência de inflamação. A situação de periodontite é sempre precedida de uma gengivite, no entanto, esta, nem sempre termina com a instalação de uma periodontite (ALMEIDA, 2006). 3.3 Fatores de Risco da Doença Periodontal Os fatores de risco da Doença Periodontal, já citados acima, incluem: fumo, genética, gravidez e puberdade, estresse, diabetes, má nutrição, medicamentos, parafunção e outras doenças sistêmicas. Com relação ao tabagismo, objetivo do trabalho, evidências científicas têm apontado como sendo um dos principais modificadores da DP, aumentando sua severidade, incidência e dificultando seu tratamento (MIOSHY, 2008). Este fator de risco será esclarecido separadamente em um tópico exclusivo. A etiopatogênese da DP sofre influências genéticas, porém, os mecanismos pelos quais os fatores genéticos podem atuar no início e/ou progressão da doença ainda não foram totalmente elucidados (KIM et al., 2007). As alterações hormonais que ocorrem durante a gravidez e a puberdade afetam diversos tipos de tecidos do corpo, inclusive os periodontais. A taxa hormonal elevada, induz alterações vasculares promovendo extravasamento de plasma e como conseqüência, formação de edema gengival e resposta inflamatória aumentada perante a placa bacteriana (ROCHA, 2005). No entanto, as manifestações bucais mais comuns, devido ao uso de contraceptivos orais, têm sido relacionadas com o tempo de uso da medicação. São elas: aumento do exsudato inflamatório, edema, sangramento e hiperplasia gengival (BERTOLINI, 2007). 13 Hipertensão arterial sistêmica, diabetes, câncer e outros problemas sistêmicos possuem destaque no desenvolvimento e progressão da DP. Além disso, pesquisas concluem que o estresse também dificulta a luta do hospedeiro contra as infecções (MIOSHY, 2008). Os mecanismos pelos quais o diabetes pode favorecer o estabelecimento da DP estão relacionados com as alterações na aderência, quimiotaxia e fagocitose dos polimorfonucleares, o que facilita a disseminação da infecção, e alterações na resposta (PERUZZO, 2004). A doença periodontal é considerada a sexta complicação da diabetes. Em contrapartida, a severidade da DP também pode afetar o controle metabólico na diabetes (PERISSÊ, 2006). Pesquisas indicam que tanto o metabolismo ósseo, quanto a resposta inflamatória, podem indicar fatores importantes que possam aumentar ou diminuir a habilidade dos tecidos periodontais no reparo. Adicionalmente, o fator da dieta relacionado à DP é a ausência de nutrientes como cálcio e a vitamina C (PERUZZO, 2004). Como fator parafuncional, o bruxismo/briquismo é um hábito deletério que pode causar alterações no periodonto, como reabsorção óssea, alargamento do espaço periodontal, necrose dos tecidos periodontais, mobilidade, formação de diastemas, recessão gengival e hipercementose e deve ser tratado imediatamente pelo profissional, tão logo diagnosticado (RODRIGUES et al., 2006). 3.4 Doença Periodontal e o Tabagismo O Tabagismo é o principal fator de risco para muitas doenças crônicas, causando uma sobrecarga significativa na saúde geral. Do ponto de vista da saúde bucal, o uso do tabaco é um dos mais significativos fatores de risco para o desenvolvimento da doença periodontal (AXELSON, 2005). A nicotina e seus subprodutos podem estar presentes tanto no plasma sanguíneo quanto no fluido gengival em concentrações seis vezes maiores se comparado à concentração salivar. Sendo associada às várias alterações celulares que podem contribuir para o início e progressão da doença periodontal. Dentre os 14 efeitos mais citados, destacamos: alterações imunológicas, efeitos vasoconstritores e citotóxicos sobre os tecidos e células do periodonto, bem como alterações na microbiota patogênica (CARVALHO et al., 2008). Há evidências suficientes de que fumar retarda os processos de cicatrização periodontal, prejudica os resultados do tratamento, aumentando o risco de fracasso. Estudos demonstraram que a redução da profundidade de sondagem (três meses pós-tratamento), foi em média 2 milímetros para não fumantes, e 1 milímetro para fumantes; não fumantes também ganharam, em média, 1 milímetro de inserção clínica, comparado ao ganho zero entre fumantes (KALDAHL et al., 1996). Fumar aumenta a inflamação bucal, conforme mostrado por elevações significativas do Fator de Necrose Tumoral (TNF) do fluido do sulco gengival relatados em fumantes, comparados aos não fumantes. A forte relação entre o tabaco e a gravidade da doença periodontal, pode ser explicada pela mudança nos mecanismos moleculares e celulares, tanto em nível local, como sistêmico. Imunossupressão, resposta inflamatória exagerada e atraso na função da célula do estroma estão associados ao consumo do tabaco (AXELSON, 2005). Além disso, o calor da fumaça tem um efeito térmico, aumentando a perda de inserção e retração nas superfícies linguais de dentes superiores e inferiores anteriores. Ainda observaram a presença de nicotina na superfície radicular de dentes periodontalmente comprometidos, enquanto que a cotinina, um derivado da nicotina, foi detectada no fluido do sulco gengival e na saliva de fumantes, concluíram que a exposição à nicotina resultava na redução do teor de proteínas e prejudicava as membranas celulares (JAMES, 1999). A nicotina, segundo pesquisas, inibe o crescimento de fibroblastos e impedem sua inserção às superfícies radiculares, além de estimular a atividade da fosfatase alcalina. Esses resultados sugeriram que a nicotina limita a síntese de colágeno, interfere na secreção de proteína e impede a formação óssea, o que se traduz em aumento da suscetibilidade para doença periodontal, cicatrização limitada e impacto negativo nos resultados de tratamentos periodontais (FANG et al., 1991). Por outro lado, fumantes com doença periodontal, normalmente apresentam menor inflamação clínica e sangramento gengival do que não fumantes com a 15 doença. Fato explicado ao efeito vasoconstritor da nicotina, que reduz o fluxo sanguíneo e o edema e outros sinais clínicos da inflamação, mascarando doenças periodontais graves em fumantes (LINS, 2008). 16 DISCUSSÃO A partir da revisão de literatura depreende-se que resultados de diversas pesquisas convergem para o fato de o Tabagismo ser responsável por muitos agravos sistêmicos, assim como a participação como fator de risco para Doença Periodontal na cavidade bucal (AXELSON, 2005 e CARVALHO et al., 2008). A maioria das formas de doença periodontal se manifesta a partir de uma agressão bacteriana e sua interação com os mecanismos de defesa do hospedeiro. Sendo assim, as investigações sobre as vias pelas quais o consumo de cigarros influência a patogênese da doença periodontal tem se voltado para estes dois pilares primordiais da patogênense periodontal. Estudos avaliando o acúmulo de biofilme dental mostraram que não existem diferenças entre fumantes e nãofumantes neste aspecto (BERGSTROM et al., 2000; LINDEN e MULLALLY, 1994; AXELSON et al., 1998). Alguns estudos relataram que os tipos de bactérias presentes no biofilme de fumantes e não-fumantes não variam significantemente (DARBY et al., 2000; PREBER et al., 1992; STOLTENBERG et al., 1993). Por outro lado, diversos estudos têm observado uma maior colonização por patógenos periodontais no biofilme subgengival de fumantes (GOMES et al., 2006; VAN WINKELHOFF et al., 2001). Entre estes trabalhos, alguns têm chamado bastante atenção, pois mostram que os fumantes apresentam uma menor redução de bactérias periodonto patogênicas em sítios que receberam raspagem e alisamento radicular (GROSSI et al., 1997; VAN DER VELDEN et al., 2003). Segundo estes autores tal resultado poderia explicar a pior resposta dos fumantes a terapia periodontal mecânica. Em 2000, Hanioka e colaboradores observaram que a tensão de oxigênio nas bolsas periodontais era menor em fumantes, resultado que, ao menos em parte, dá suporte a maior colonização por periodontopatógenos na região subgengival destes pacientes. Para Lima (2008), há estudos in vitro mostrando que as bactérias são seletivamente afetadas pela fumaça do cigarro e que os fumantes possuem uma 17 diminuição da pressão parcial de oxigênio em bolsas periodontais, prevalecendo a colonização por bactérias anaeróbias. Segundo Vinhas e Pachecco (2008), o hábito de fumar está relacionado com a quantidade de depósito de cálculo dentário subgengival e, Lima (2008) afirma que o risco periodontal está associado ao número de cigarros fumados por dia, histórico de tabagismo, e quantidade de tempo que o indivíduo fuma. Conforme Martinez et al. (2002), o efeito citotóxico do tabaco sobre as células e tecidos do periodonto, reduz o potencial de reparo dos mesmos. Além disso, a nicotina mostrou um efeito apoptótico nesta primeira linha de defesa o que pode ser importante para a patogênese da doença periodontal, uma vez que a morte prematura destas células pode facilitar a contaminação bacteriana (MARIGGIO et al., 2001). Na tentativa de melhor entender a patogênese das doenças periodontais em fumantes, César-Neto et al. (2007) avaliaram a expressão de alguns genes em biópsias gengivais de pacientes com saúde periodontal, não-fumantes com periodontite e fumantes com periodontite. Em geral, confirmou-se resultados prévios, em pacientes fumantes com periodontite, que mostraram altos níveis de citocinas pró-inflamatórias como IL-1ß, IL-6, IL-8, INF-y e TNF-α, da molécula estimuladora de reabsorção óssea RANKL e de MMP-2, uma importante enzima envolvida na degradação de tecido conjuntivo, nos pacientes com doença periodontal. Adicionalmente, Pereira et al. (2007), observaram que fumantes apresentam maior risco de perda óssea, mobilidade dentária, perda precoce dentária entre outros. Jacob et al. (2007), Vinhas e Pachecco (2008), concordam que a resposta ao tratamento periodontal é diminuída em fumantes quando comparados a não fumantes. De maneira geral, a terapia periodontal mecânica pode ser utilizada com resultados satisfatórios tanto em fumantes quanto em não fumantes, entretanto, os 18 níveis de melhora após tratamento são menores nos pacientes fumantes (GROSSI et al., 1997; SCABBIA et al., 2001; LOESCHE et al., 2002). 19 4. CONCLUSÃO Após a revisão literária realizada, fica claro que o profissional deve encorajar os fumantes a abolir o ato de fumar em detrimento do prejuízo que causa para a saúde bucal, bem como elucidar aos não fumantes, o fato de que a nicotina causa dependência. Evitar o consumo de produtos do tabaco não irá apenas melhorar a prevenção e controle da doença periodontal, mas também terá um efeito positivo nas condições sistêmicas como doença cardiovascular, câncer, alergias e doenças infecciosas. O Cirurgião Dentista, membro da equipe da Estratégia de Saúde da Família, deve integralizar atividades de promoção de saúde, conscientizando o usuário quanto aos malefícios causados pelo tabagismo para a saúde sistêmica e bucal, somados aos demais profissionais de saúde no combate ao fumo, e no caso de pacientes tabagistas com doença periodontal, encaminhá-los ao programa AntiTabaco realizado na Unidade e vice-versa. 20 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, R. F. et al. Associação entre Doença Periodontal e patologias sistêmicas. Revista Portuguesa de Clínica Geral, v 22, p. 379 – 390, 2006. AMERICAN ACADEMY OF PERIODONTOLOGY, Tobacco use and the periodontal patient. J. Periodontol. 1996;1:51-6. AXELSON P. 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