ABSTRACT: My intention with this work is to present and discuss

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ABSTRACT: My intention with this work is to present and discuss some data
concerning light verb constructions (LVCs) in Brazilian Portuguese (BP). In
particular, I'm interested in data involving the light verb dar in sentences such as 0
Pedro dell lima olhada no nene, which, if compared to similar sentences in other
languages, can be used to identify the syntactic properties of LVC.
A compa~o
entre constru~
com verbos leves no portugues do Brasil e
em outras linguas pode ajudar a responder wna questiio de extrema importancia para a
pesquisa sintitica recente: 0 processo de forma~o de urn predicado leve e sintitico ou
lexical?
Neste trabalho apresento algumas constru~s com verbos leves do portugues
do Brasil (PB), procurando identificar suas propriedades sintaticas atraves da
compara~o de tais constru~s com correspondentes no ingles e no yiddish.
o verbo dar recebe interpreta~s diferentes nas senten~s em (1). Se em (1a)
representa urn verbo bitransitivo, em (lb) pode ser tomado com urn verbo leve, vazio
de conteudo semantico, que nada tern a contribuir para 0 significado da senten~, wna
vez que MOtern papeis tematicos a atribuir
(1)
a. 0 Joao deu urn presente para 0 Pedro.
b. 0 Pedro den wna olhada no nene.
A ideia geral e que haja predica930 complexa em (1b): urn dos complementos
de dar e, na verdade, urn predicado e, como tal, atribui papeis tematicos aos reais
argumentos da senten~. Este e urn tipo especial de constru930 na qual a estrotura de
urn sintagma XP MO e determinada pela grade tematica de seu nucleo, mas pela grade
tematica do nucleo de seu associado
o mesmo ocorre em ingles e em yiddish, como se pode ver em (2) e (3),
respectivamente: give (dar) e bitransitivo em (2a) e leve em (2b) e gebn (dar) e
bitransitivo em (3a) e leve em (3b).
(2)
a. Fred
gave
Bill
the book (Campbell (1989:12»
Fred
deu
Bill
0 livro
Fred deu 0 livro ao Bill
b. Fred
gave
anchovies
a try. (Campbell (1989:13»
Fred
deu
anchovas
uma experimentada
Fred deu uma experimentada nas anchovas.
a. Avron
hot
Maksn
Abraao
tem
Max
Abraao deu urn livro a Max
b. Zi
git
a glet
Ela diJ
uma acariciada
Ela da uma acariciada no gato
gegebn a bukh (Diesing (1997:9»
dado um livro
di kats
ogato
(Diesing (1997:10»
Em rela~o ao significado atribuido as constru~
com verbos leves,
geralmente se assume que as senten~s em (b) acima podem receber uma interpretacao
bastante proxima a interpreta~o atribuida a suas correspondentes com verbos plenos.
Assim, a senten~ em (2b) significaria aproximadamente 0 mesmo que aquela em (4):
Porem, na proxima secao, apontarei que os dados do PB e do yiddish parecem indicar
que uma interpreta~o especial deve ser atribuida aos predicados leves.
Em geral, os verbos leves de uma lingua podem se associar a diferentes tipos
de predicados para formar 0 predicado complexo. Em yiddish, por exemplo, podem se
associar a nomes e verbos intransitivos, transitivos e inacusativos. No ingles, os
predicados que se associam ao verbo leve sao nominaliza¢es destes verbos, 0 mesmo
ocorrendo com 0 PB.
(5)
a. J080 deu uma dormida.
b. Preciso dar uma olhada nisso.
c. Vai leie da uma mostradinha no carro pro cliente.
d 0 copo deu uma quebradinha ai em cima. Cuidado com a boca!
Com relacao as propriedades de subcategorizacao de dar leve,
verifica e que elas podem, mas nao precisam ser mantidas nas tres linguas:
0
que se
a. Fred gave anchovies a try
b. Harry gave a laugh
give NP NP
(2b)
give NP (Campbell (1998:38»
c. Zi git a glet di kats
d Er
git
a kum arayn
ele dti
uma vinda prti dentro
Ele ciauma chegada (repentina)
gebn NP NP
(3b)
gebn NP
(Diesing(1997:4»
e. You dar uma olhada no nene.
f. Preciso dar uma donnida.
darNPPP
darNP
Estes dados ajudam a sustentar a hip6tese de que, em constru9i)es com dar
leve, e 0 predicado associado, seja ele nominal como no caso do ingles e do PB ou
verbal como no caso do yiddish, que atribui papeis tematicos aos argumentos da
sentenca, e 1130 0 verbo.
Vale notar que 0 PB se distingue das outras duas linguas pelo fato de
apresentar, nas senten~ com dois complementos, a seqiiencia NP PP e nao NP NP.
a. LVCs in English
b. LVCsinBP
VNPNP
VNPPP
Esta distin~o pode se dever ao simples fato de que a ordem V NP NP nao esta
disponivel no PB da mesma forma como esta nas outras duas linguas, ou seja, tratas-se
de uma diferen~ mais geral entre as linguas.
Para falar da equivalencia de significados assumida entre as senten~ do
ingles apontadas em (2b) e (4), gostaria de apresentar (8a):
(9)
a. Preciso donnir.
b. Preciso dar uma donnida
Tambem neste caso, e possivel reconhecer a proximidade de significados entre
as senten~ em (1b) e (8a), 0 que garante a ausencia de conteudo semantico assumida
para dar em (lb). No entanto, algumas peculiaridades devem ser apontadas.
Intuitivamente, quando alguem diz (8a), a ideia implicita nesta senten~ e a
de que 0 Pedro passou algum tempo olhando 0 nene. Esta senten~ se encaixaria
perfeitamente na seguinte fala:
(10)
0 Pedro e urn amor. Eu precisei sair durante a tarde e ele olhou
mim.
0
nene pra
(1b), por outro 1ado, nao tem este efeito durativo, ou, pe10 menos, nao duraria tanto
tempo.
o mesmo parale10 poderia ser estabe1ecido para (9a,b). (9a) pederia ser dita
em uma si~o
na qual 0 falante esta cansado e quer descansar urn pouquinho. (b)
seria dita se, por exemp10,e tarde e 0 falante acha que ja e hora de ir para a cama. E1e
diria:
Nao imagino alguem dizendo (9b) a uma hora da manha na seqUencia de Nossa! Jil
tarde, como em (12):
e
A menos que esta pessoa soubesse que tem muito pouco tempo para descansar; 0
sentido e exatamente este: descansar, tirando uma soneca apenas.
Esta diferen~ fica ainda mais clara com os exemp10sem (13):
(13)
a. E1echegou em minha casa ontem.
b. E1edeu uma chegada em minha casa ontem.
(13a) seria dita se alguem tivesse chegado na casa do falante no dia anterior para ficar
por algum tempo. Neste caso, a visita pede ainda estar na casa do falante no momento
da fala. Quanto a (13b), tal senten~ poderia ser dita se alguem tivesse ido a casa do
falante para uma visita apenas.
o que quis mostrar com estes dados e a diferen~ entre senten~s do PB que
envo1vemveIbos 1evese suas correspondentes com verbos p1enos. Esta diferen~ diz
respeito it dura~o do processo verbal, ou seja, a questoes de aspecto.
Tambem em yiddish a constru<tiiocom veIbo 1eve e urn predicado verbal
associado tern uma interpreta~o aspectual especial. Diesing (1997) reporta trabalhos
de Schaechter (1951/1985) e Taube (1987), entre outros, que descrevem esta
interpreta~o como uma forma aspectual que denota uma afiio perfectiva. de um
tempo so. Em alguns casos, especialmente naque1es em que 0 predicado denota uma
atividade que consiste de uma serie de pequenos eventos repetidos, esta parece ser a
interpreta<tiioatribuida its co~s
com veIbo 1eve.
(14)
a. Zi
glet
di kats.
Ela acaricia 0 gato
Ela acaricia 0 gato (repetidamente)
b. Zi git a glet di kats.
E1a da uma acariciada no gato (uma vez apenas)
(Diesing (1997:10»
(3b)
A observa~o de mais dados revela que esta singularidade de evento e apenas urn subcaso de uma distin~o mais ampla. Na verdade, atividades que 1130 admitem a
interpreta~ iterativa, ou seja, de algo que possa ser repetido, como trabalhar ou
brincar, acabam tendo em comurn uma interpreta~o que Diesing chama de
"diminutivizada" .
(15)
a. Ikh vel
an arbeit
ton
Eu vou
um trabalho
jazer
Eu vou trabalhar urn pouquinho
b. Dos kind
hot
a shpil
geton
a crian9a
tem
uma brincadeirafeito
A crian93 brincou urn pouquinho.
(Diesing (1997:11»
(idem)
Mais uma vez, outros pares de senten93s revelam a rela~o mais ampla que
pode haver entre urn predicado arelico (aquele formado sem 0 verbo leve) e urn
predicado telico (formado com 0 verbo leve). 0 efeito basico e a altera~o da
eventualidade (da natureza do evento) denotada pelo predicado, que se torna truncada:
predicados atelicos se tornam telicos e breves. Um dado que <hi suporte a esta
caracteriza~o e 0 fato de que, em yiddish, verbos que 1130 denotam eventos 1130 podem
aparecer em constru9Qescom verbos leves.
A estrutura sintitica que Diesing (op. cit.) prop6e para as constru9Qes acima
contem uma proj~o para 0 verbo leve (LVP) que toma uma proj~o de aspecto
(AspP) como complemento. Aspp, por sua vez, toma urn VP como complemento. E a
presen93 de urn operador aspectual no nucleo de AspP que produz a interpreta~o de
"evento diminutivizado". Para a autora, 0 nucleo de AspP deveni ser 0 morfema a,
operador do argumento de evento do complemento VP, que e selecionado pelos verbos
leves. Veja (16) em que s6 se veem os nucleos:
A autora constata a existencia de duas variantes da constru~o com verbo leve
em yiddish: uma forma verbal e outra nominal.
Maks hot
a zifts
Max
tem
um suspiro
Max deu urn suspiro
geton
dado
Ambas apresentam propriedades semanticas semelhantes, ja que devem receber uma
interpreta~o aspectual especial. 0 fato e que somente 0 efeito de singularidade e
observado na construcao nominal. Em outras palavras, ela 1130 produz 0 efeito
diminutivizador que a forma verbal produz. Vale lembrar que e justarnente este efeito
diminutivizador que motiva a postulac;aoda projec;aoAspP para a forma verbal.
Assim, para 0 segundo tipo de construc;ao com verbo leve do yiddish, ou seja,
para a forma nominal da constru~ao com verbo leve, a autora assume que tal elemento
nominal seja gerado como complemento de um mic1eoabstrato de VP, que, neste caso,
e complemento do verbo leve, numa estrutura que difere da primeira por nao
apresentar a projec;aode aspecto:
(18)
LV'P[Spec LV[ Lv[gebn/ton] vp[ (Spec) v [ v[ 0v] NP[a+ziftslll]]
dar/fazer
um suspiro
(Diesing (1997:11»
Para Diesing, mesmo na ausencia da projec;ao de AspP e, conseqfientemente, do
operador aspectual, 0 argumento de evento do VP representa uma forma singularizada
de um evento iterativo que resulta da semantica do indefinido, 0 que explica a leitura
singularizada do evento, apesar da ausencia da projec;ao aspectual. Assim, para a
autora, uma projec;aode verbo leve e capaz de selecionar tanto uma projec;ao AspP
quanto uma projec;aoVP que contem um verbo nulo e uma ac;ao iterativa indefinida
como complemento.
o subtitulo acima e uma pergunta 0 que carateriza 0 estatuto de pesquisa em
andamento que deve seTatribuido a este trabalho. Em principio, a distinc;ao feita poT
Diesing (op. cil.) entre formas verbais e formas nominais de constru~
com verbos
leves parece se aplicar parcialmente ao PE. Nesta lingua, tambem e possivel identificar
duas variantes entres as constru~s com verbos leves.
(19)
a. A Lucia deu uma arrumada no anruirio.
b. A Lucia deu uma arrumac;ao no anruirio
Observe os resultados dos teste de nominalizac;ao. Arrumada aparecera em contextos
nominais em constru~Oescom verbos leves e ora~s relativas (A arrumada que eu
deL), mas nao podera ser pluralizada (*A gente dil umas arrumadas depois ou *A
gente dil algumas arrumadas e depois vai.). 0 problema esti na possibilidade de
relativizac;ao de arrumada, uma vez que apenas um elemento c1aramente nominal
permite relativizac;ao.Desta forma, arrumada e outros elementos nominais como este
deveriam seTtratados como nome e segundo a proposta de Diesing, nao projetariam
AspP, nao podendo, assim exibir 0 efeito de diminutivizac;ao, 0 que vai contra as
evidencias empriricas.
RESUMO: Com este trabalho apresento e discuto algumas constru9oes com verbos
leves do portugues do Brasil. Em particular, procuro identificar as propriedades
sinttiticas de senten9as com 0 verbo dar, tais como 0 Pedro deu uma olhada no nene,
comparando-as com 0 mesmo tipo de senten9as em outras linguas.
CAMPBELL, RG. (1989) The Grammatical Structure of Verbal Predicates, tese de
doutorado, Los Angeles: UCLA.
DIESING, M (1997) "Light Verbs and the syntax of aspect in Yiddish", manuscrito.
SCHAECHTER, M (1951/1985) Aktionen im Jiddischen. Ann Arbor, University
MicrofIlms International. (manuscrito)
TAUBE, M (1987) "The development of aspectual auxiliaries in Yiddish", word 38
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