0 FACULDADE PITÁGORAS DE LINHARES CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS EMERSON FRAGA COMÉRIO INFLUÊNCIA DE PLANTAS INVASORAS NA ENTOMOFAUNA ASSOCIADA À CULTURA DE COQUEIRO-ANÃO-VERDE NO MUNICÍPIO DE LINHARES, ESPÍRITO SANTO LINHARES 2010 1 EMERSON FRAGA COMÉRIO INFLUÊNCIA DE PLANTAS INVASORAS NA ENTOMOFAUNA ASSOCIADA À CULTURA DE COQUEIRO-ANÃO-VERDE NO MUNICÍPIO DE LINHARES, ESPÍRITO SANTO Monografia apresentada ao Curso de Ciências Biológicas da Faculdade Pitágoras de Linhares, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas. Orientadora: D.Sc. Vera Lúcia Rodrigues Machado Benassi LINHARES 2010 2 Comério, Emerson Fraga. Influência de Plantas Invasoras na Entomofauna Associada à Cultura de Coqueiro-Anão-Verde, no Município de Linhares, Espírito Santo / Emerson Fraga Comério. – 2010. 114 f. Orientadora. Vera Lúcia Rodrigues Machado Benassi Monografia (Ciências Biológicas) – Faculdade Pitágoras de Linhares. 1.Cocos nucifera. 2. Insecta. 3.Vegetação espontânea. I. Benassi, Vera Lúcia Rodrigues Machado. II. Faculdade Pitágoras de Linhares, Diretoria de Ensino Superior. 3 4 DEDICATÓRIA A minha família por todo amor, apoio e confiança. Vocês foram o alicerce que tornaram tudo isso possível! 5 AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a Deus, que sabe o quanto eu desejei concluir esta etapa minha vida. A minha orientadora Dra. Vera Lúcia Rodrigues Machado Benassi, pelo apoio, pela oportunidade e por ter me ensinando com toda a sua dedicação e paciência a estudar os insetos. A minha mãe Cristina, a minha avó Tereza, aos meus irmãos Emilly, Daniel e Juliano, e demais familiares por sempre estarem ao meu lado, mesmo nas constantes ausências. A todos os meus colegas de curso, pela generosidade e amizade durante todos estes anos. Aos amigos Morena, Raysol, Mariana, Mônica, Marina (Davi), Mima, Rosângela, e Auzilaura, pela incondicional amizade e pelas gratas orações. Aos companheiros de campo, Sabrina, Vanessa, Keyla e Roberta, pela disposição em ajudar nas coletas, nas triagens e contagem dos “meus bichos”. A equipe do laboratório da Faculdade Pitágoras de Linhares, Isaías (zazá), Pola, Fabrício (bibizão) e Cláudio pela confiança no uso do laboratório de Ciências Ambientais. A todos os meus professores pelos ensinamentos diários e pelas valiosas dicas. Ao INCAPER pela oportunidade de estágio durante estes quatro anos, e aos pesquisadores e colegas de trabalho pela experiência compartilhada. 6 A Prefeitura municipal de Linhares, ao programa Nossa Bolsa, e ao CNPq pela concessão das bolsas de iniciação científica, durante esses quatro anos de graduação. Aos pesquisadores, Dra. Angélica Penteado Dias (UFSCAR) e Dr. Nelson Wanderley Perioto (APTA- Ribeirão Preto) e seus colaboradores pelos ensinamentos para a identificação dos Hymenoptera parasitóides; a Dr. Carlos Roberto Sousa e Silva (UFSCAR) pela identificação dos pulgões; ao Dr. Sérgio Vanin (MUZEU-USP) pela identificação dos curculionídeos; ao M.Sc. Eduardo F. dos Santos, (UNESP- São José do Rio Preto) pela identificação dos Pompilidae; ao M.Sc. Rodrigo Feitosa, (MUZEU-USP) pela identificação das formigas; a Dra. Rogéria Inês Rosa Lara (APTA- Ribeirão Preto) pela identificação dos hemerobiídeos; a Dra. Helena Carolina Onody (MUZEU-USP) pela identificação dos Ichneumonidae; ao M.Sc. Rodrigo Gonçalves (MUZEU-USP) pela identificação das abelhas; ao Dr. Sérgio de Freitas (UNESP-Jaboticabal) pela identificação dos crisopídeos e ao pesquisador Marcos Adonis (INCAPER) pela identificação das plantas invasoras. A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para que este sonho pudesse ser concluído. Meus sinceros agradecimentos! 7 “O que torna uma pessoa importante não é a posição que ela ocupa na sociedade, o dinheiro que ela possui ou a autoridade que exerce, e sim a sua educação no falar e no agir. Os que são polidos, quanto mais importantes forem no que representam, mais simples e agradáveis se tornam.” (Autor desconhecido) 8 RESUMO O presente trabalho teve por objetivo, estudar a influência de plantas invasoras na entomofauna associada à cultura de coqueiro-anão-verde, Cocos nucifera, no município de Linhares, ES. Para a captura dos insetos foram utilizadas armadilhas tipo Moericke, medindo 39cm x 29cm x 6cm, de cor amarela-ouro, em duas áreas de 15m x 30m cada, sendo uma mantida roçada e outra com a presença de plantas invasoras. Em cada área foram instaladas seis armadilhas ao nível do solo, sob a copa das plantas, e distanciadas entre si a 22,5 m, com coletas semanais, durante o período de março/2008 a fevereiro/2009. As principais plantas invasoras presentes na área foram: Ageratum conyzoides, Bidens pilosa, Emilia sanchifolia, Sonchus oleraceus, Alternanthera tenella, Commelina benghalensis, Ipomoa sp., Euphorbia hirta, Cassia hirsuta, Desmodium barbatum, Indigofera hirsuta Sida sp., Borreria verticillata, Lantana camara e Stachytarphetta cayenensis. Foram coletados 86.417 insetos, sendo que 66,51% ocorreram na área com plantas invasoras, representado principalmente pelas ordens Hymenoptera, Diptera, Hemiptera, Coleoptera e Lepidoptera. Constatou-se maior incidência de famílias que agregam espécies predadoras e parasitóides de insetos pragas, na área com presença de plantas invasoras. Na família Coccinellidae (Coleoptera) foram identificadas as espécies predadoras: Pentilia egena, Cycloneda sanguinea, Stethorus sp., Scymnus (Pullus) sp., Coccidophilus citricola, Azya luteipes e Colleomegilla maculata e, a espécie micófaga, Psyllobora confluens, todas apresentando maiores índices de ocorrência na área com plantas invasoras. As ordens com menor abundância de indivíduos foram Thysanoptera, Orthoptera, Blattodea, Mantodea, Psocoptera, Strepsiptera, Trichoptera, Isoptera, Dermaptera e Neuroptera, sendo desta última, constatada as espécies Ceraeochrysa cubana, Chrysoperla externa, Leucochrysa (Nodita) marquezi, Leucochrysa (N.) lancala, e Leucochrysa (N.) cruentata (Chrysopidae), e as espécies Megalomus rafaeli e Nusalala tessellata (Hemerobiidae), constituindo o primeiro registro destes predadores para a cultura de coqueiro. Palavras-chave: Cocos nucifera. Insecta. Vegetação espontânea. 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Vista aérea da Fazenda Experimental do CRDR-Nordeste, INCAPER, Linhares, ES. Em destaque de vermelho, a lavoura demonstrativa de coqueiro-anãoverde...........................................................................................................................30 Figura 2. a) Lavoura demonstrativa de coqueiro-anão-verde da Fazenda Experimental do CRDR-Nordeste, INCAPER, Linhares, ES; b) Arranjo espacial tipo triangular das plantas de coqueiro-anão-verde na lavoura........................................31 Figura 3. a) Área mantida roçada (15 x 30m). b) Área com presença de plantas invasoras (de 15 x 30m).............................................................................................32 Figura 4. a) Armadilha atrativa tipo Moericke utilizada na captura dos insetos; b) Disposição da armadilha sob a planta........................................................................32 Figura 5. Croqui da disposição geral do experimento na lavoura demonstrativa de coqueiro-anão-verde do CRDR-Nordeste, INCAPER, Linhares, ES..........................33 Figura 6. Percentual de insetos pertencentes a diferentes ordens, coletados em área com presença de plantas invasoras e roçada, em cultura de coqueiro-anão-verde, em Linhares, ES.........................................................................................................40 Figura 7. a) Indigofera hirsuta; b) Desmodium barbatum; c) Sida sp.; d) Borreria verticillata; e) Lantana camara; f) Stachytarphetta cayenensis; g) Ageratum conyzoides; h) Bidens. pilosa; i) Emilia sanchifolia; j) Sonchus oleraceus; k) Alternantera tenella; l) Euphorbia hirta; m) Ipomoea sp.; n) Cassia hirsuta; o) Commelina benghalensis...........................................................................................43 Figura 8. a) Apidae (Exaerete sp.); b) Sphecidae; c) Mutillidae; d) Scoliidae; e) Pompilidae; f) Chrysididae; g) Vespidae; h) Formicidae; i) Tenthredinidae...............49 Figura 9: a) Braconidae; b) Ichneumonidae; c) Diapriidae; d) Figitidae; e) Ceraphronidae; f) Eulophidae; g) Eucharitidae (Kapala sp.); h) Encyrtidae; i) Mymaridae; j) Scelionidae; k) Torymidae; l) Pteromalidae.........................................55 Figura 10. a - d) Ichneumonídeos visitando plantas invasoras; e - f) Braconídeos visitando plantas invasoras........................................................................................60 Figura 11. a) Dolichopodidae; b) Sciaridae; c) Drosophilidae; d) Syrphidae; e) Pipuncilidae; f) Azilidae; g) Tachinidae; h) Micropezidae...........................................63 Figura 12. a) adulto de Tachinidae em planta invasora; b) adulto de Dolichopodidae em Sida sp.; c) adulto de Micropezidae em planta invasora; d) adulto de sirfídio visitando planta invasora; e) adultos de sirfídio visitando flor de planta invasora; f) imaturo de sirfídio coletado em B. pilosa se alimentando de pulgões.......................66 Figura 13. a) Aphididae; b) Cicadellidae; c) Cercopidae; d) Membracidae; e) Lygaeidae; f) Ploiariidae; g) Coreidae; h) Reduviidae................................................69 10 Figura 14. C. brasiliensis em folha de coqueiro-anão-verde, em Linhares-ES.........70 Figura 15. a) Adulto de Chrysomelidae visitando a planta invasora S. cayenensis; b) Adulto de crisomelídeo visitando flores de A. conyzoides; c) Adultos de crisomelídeos em cópula em plantas invasora; d) adulto de C. sanguinea visitando flores de A. conyzoides; e) e f) adulto de L. villosa visitando flores de plantas invasoras; g) adulto de Carabidae; h) adulto de M. hemipterus; i) adulto de P. obsesulus...................................................................................................................79 Figura 16. a) Hemerobiidae; b) Chrysopidae; c) Myrmeleontidae; d) Mantispidae..83 11 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Número e frequência relativa de insetos coletados nas áreas com plantas invasoras e roçada, em cultura de coqueiro-anão-verde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09..............................................................................................................38 Tabela 2. Média de insetos coletados na área com plantas invasoras e roçada em cultivo de coqueiro-anão-verde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09..............39 Tabela 3. Plantas Invasoras de ocorrência em cultura de coqueiro-anão-verde em Linhares, ES, no período de março/2008 a fevereiro/2009........................................42 Tabela 4. Frequência relativa, constância e dominância das famílias de Hymenoptera: Aculeata e Symphyta, coletados nas áreas com plantas invasoras e roçada, em cultura de coqueiro-anão-verde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09. ...............................................................................................................45 Tabela 5. Gêneros de pompilídeos coletados em cultivo de coqueiro-anão-verde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09. .....................................................................46 Tabela 6. Espécies de abelhas coletadas em cultivo de coqueiro-anão-verde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09. .....................................................................47 Tabela 7. Espécies de formigas coletadas em cultivo de coqueiro-anão-verde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09. .....................................................................50 Tabela 8. Frequência relativa, constância e dominância das famílias de Hymenoptera Parasitica, coletados na área com plantas invasoras e roçada, em cultura de coqueiro-anão-verde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09.............54 Tabela 9. Subfamílias e gêneros de Ichneumonidae coletados em cultura de coqueiro-anão-verde, em área com plantas invasoras e roçada, no município de Linhares-ES, março/2008 a fevereiro/2009. ..............................................................58 Tabela 10. Frequência relativa, constância e dominância famílias de Diptera, coletados nas áreas com plantas invasoras e roçada, em cultura de coqueiro-anãoverde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09. .....................................................62 Tabela 11. Frequência relativa, constância e dominância das famílias de Hemiptera, coletados nas áreas com plantas invasoras e roçada, em cultura de coqueiro-anãoverde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09.......................................................67 Tabela 12. Espécies de afídios coletados em cultura de coqueiro-anão-verde, em Linhares, ES, março/2008 a fevereiro/2009...............................................................70 Tabela 13. Frequência relativa, constância e dominância das famílias de Coleoptera, coletados nas áreas com plantas invasoras e roçada, em cultura de coqueiro-anãoverde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09.......................................................72 12 Tabela 14. Espécies de curculionídeos coletados em cultura de coqueiro-anãoverde, no município de Linhares, ES, março/2008 a fevereiro/2009.........................73 Tabela 15. Espécies de coccinelídeos coletados em cultura de coqueiro-anão-verde, no município de Linhares, ES, março/2008 a fevereiro/2009....................................75 Tabela 16. Frequência relativa, constância e dominância das famílias de Lepidoptera, coletados nas áreas com plantas invasoras e roçada, em cultura de coqueiro-anão-verde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09..............................80 Tabela 17. Espécies de neurópteros capturados em cultura de coqueiro-anão-verde em área com plantas invasoras e roçada, Linhares, ES, março/2008 a fevereiro/2009.. .........................................................................................................83 Tabela 18. Número de indivíduos das ordens menos abundantes, coletados nas áreas com plantas invasoras e roçada, em cultura de coqueiro-anão-verde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09. ....................................................................86 Tabela 19. Coeficientes de correlação de Pearson entre os dados de captura total de insetos e as variáveis meteorológicas no período de março/08 a fevereiro/09, em cultura de coqueiro-anão-verde, Linhares, ES..........................................................89 Tabela 20. Índices de Riqueza (S), Diversidade de Shannon-Wiener (H‟) e Equitabilidade (J) das principais ordens de insetos coletados na cultura de coqueiroanão-verde, em Linhares-ES, março/2008 a fevereiro/2009....................................90 13 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................15 2 REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................19 2.1 CULTURA DO COQUEIRO: ASPECTOS GERAIS............................................19 2.2 PRAGAS ASSOCIADAS AO COQUEIRO-ANÃO-VERDE.................................20 2.3 IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADE EM SISTEMAS AGRÍCOLAS.............22 2.3.1 Plantas Invasoras em Agroecossistemas...................................................25 3 MATERIAL E MÉTODOS......................................................................................30 3.1 ÁREA DE ESTUDO............................................................................................30 3.2 AMOSTRAGEM DOS INSETOS........................................................................31 3.3 AMOSTRAGEM DE PLANTAS INVASORAS....................................................34 3.4 DADOS CLIMÁTICOS (VARIÁVEIS ABIÓTICAS).............................................34 3.5 ANÁLISE DE VARIÂNCIA..................................................................................34 3.6 ANÁLISE FAUNÍSTICA......................................................................................34 3.6.1 Frequência relativa........................................................................................35 3.6.2 Constância.....................................................................................................35 3.6.3 Riqueza...........................................................................................................36 3.6.4 Dominância....................................................................................................36 3.6.5 Diversidade....................................................................................................36 3.6.6 Equitabilidade................................................................................................37 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................38 4.1 TOTAL DE ORDENS E NÚMERO DE INSETOS COLETADOS.......................38 4.2 ESPÉCIES DE PLANTAS INVASORAS COLETADAS.....................................41 4.3 ORDENS DE INSETOS COLETADOS..............................................................44 4.3.1 Ordem Hymenoptera: Grupo Aculeata e Symphyta..................................44 a) Família Formicidae............................................................................................50 4.3.2 Ordem Hymenoptera: Série Parasitica.......................................................52 4.3.3 Ordem Diptera...............................................................................................61 4.3.4 Ordem Hemiptera..........................................................................................66 14 4.3.5 Ordem Coleoptera...........................................................................................71 4.3.6 Ordem Lepidoptera.........................................................................................80 4.3.7 Ordem Neuroptera..........................................................................................83 4.3.8 Outras ordens.................................................................................................86 4.4 INFLUÊNCIA DOS FATORES CLIMÁTICOS.....................................................88 4.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ÍNDICES RIQUEZA, DIVERSIDADE E EQUITABILIDADE.....................................................................................................89 5 CONCLUSÕES.......................................................................................................93 6 REFERÊNCIAS………………………………………………………………..….…….94 15 1 INTRODUÇÃO O coqueiro, Cocos nucifera L. (Arecaceae), é uma planta tipicamente tropical originada do Sudeste Asiático e encontra-se disseminada em diversas regiões do globo. No Brasil são utilizadas principalmente duas variedades: a Gigante e a Anã (GOMES, 1984). Os frutos obtidos da variedade Gigante destinam-se principalmente à indústria para aproveitamento da polpa, enquanto os da variedade Anã destinamse ao consumo in natura como água de coco verde (GOMES, 1984; CUENCA, et al., 2002; ARAGÃO et al., 2002). O coqueiro é considerado por muitos como “árvore da vida”, uma vez que dele são extraídos produtos de diferentes partes da planta, sendo importante na geração de renda e na alimentação, constituindo-se numa das principais culturas perenes, capaz de gerar um sistema auto-sustentável de exploração (FERNANDES, 2002; BENASSI, 2006; FAO, 2006; ARAGÃO et al., 2002). O Estado do Espírito Santo é o maior produtor de coco da variedade Anã Verde do Brasil, contando com expressiva e crescente área plantada. São 15.292 hectares e uma produção estimada em 152,7 milhões de frutos por ano destinados ao consumo de água (FERNANDES, 2002; INCAPER, 2008; AGRIANUAL, 2008). Os municípios de São Mateus, Vila Valério, São Gabriel da Palha, Colatina e Linhares, situados no norte do Estado, são os principais produtores, sendo que na maioria das vezes, seu cultivo é realizado por pequenos produtores, muitos deles de base familiar, representando grande importância sócio-econômica, especialmente como alternativa de diversificação agrícola ao monocultivo do café (FERNANDES, 2002; INCAPER, 2008). Devido a importância da cultura do coqueiro, Chagas et al. (2008) afirmaram que o manejo fitossanitário neste cultivo é de extrema importância. Segundo estudos de Ferreira, Warnick e Siqueira (1997), as pragas em coqueirais representam um problema a essa exploração, uma vez que, elas atacam os diferentes estágios de seu crescimento e desenvolvimento, causando danos às diferentes partes da planta, 16 respondendo de maneira significativa pelo depauperamento do cultivo e baixa produtividade. Estudos mais recentes relatam a ocorrência de vinte e quatro pragas que são consideradas principais para a espécie C. nucifera, dentre os coleópteros, lepidópteros, cochonilhas, pulgões, além de cupins, formigas-cortadeiras e ácaros (FERREIRA; SOBRINHO; CARDOSO, 1998). De maneira geral, o controle destas pragas tem sido feito principalmente através do modelo de manejo convencional, com a utilização de produtos químicos, muitas vezes de forma indiscriminada (MATSON et al., 1997). Entretanto, o uso abusivo desses insumos prejudica os agroecossistemas de diversas maneiras, através da intoxicação de animais e seres humanos, degradação do solo, acúmulo de resíduos químicos nos produtos, ressurgimento de pragas e patógenos, desorganização da dinâmica populacional, perda da biodiversidade e resistência de pragas (ALTIERI, 1995; FADINI et al., 2001; BARBOSA et al., 2003; ALTIERI, 1999). Todavia, diversos estudos sugerem que é possível conciliar a exploração de ambientes por atividades agrícolas com a conservação da biodiversidade, o que dependeria da adoção de práticas distintas da monocultura. A manutenção da biodiversidade em agroecossistemas traz uma série de benefícios, destacando-se a maior resiliência e a obtenção de sustentabilidade ao longo do tempo (PAOLLETI; PIMENTEL; STINER, 1992; ALTIERI, 1995). Uma maior diversidade florística, por exemplo, causaria um impacto direto na comunidade de um determinado ecossistema, por fornecer ambientes adequados a um maior número de espécies, aumentando, consequentemente, a riqueza e a diversidade de espécies (ALTIERI, 1999; BUSSIOLI, 1997, BARBOSA et al., 2003; FADINI et al., 2001, ALTIERI; SILVA; NICHOLLS, 2003; BROMBAL, 2001). As plantas invasoras, também conhecidas como ervas daninhas são vistas de diferentes maneiras em agroecossistemas. Em áreas de manejo convencional, exercem estresse biótico direto sobre as culturas competindo por luz, umidade e alguns nutrientes, reduzindo a produção. Além disso, são prejudiciais por serem 17 hospedeiras de artrópodes-pragas (ALTIERI; SILVA; NICHOLLS, 2003; GARCIA, 1988). Por outro lado, os mesmos autores afirmam que, no contexto do manejo ecológico, as plantas invasoras são consideradas benéficas, uma vez que auxiliam na diminuição de perdas de solo por erosão em áreas agrícolas e influenciam positivamente na biologia e dinâmica de inimigos naturais, fornecendo refúgio, abrigo, pólen/néctar e hospedeiros alternativos, incrementando as suas populações. Compreender as relações entre plantas invasoras e insetos, bem como outros componentes dos agroecossistemas é importante para o estabelecimento de uma agricultura ecologicamente sustentável ao longo do tempo e constitui-se um dos grandes desafios atuais (DUELLI, 1997; MATSON et al., 1997). Embora sejam importantes em sistemas agrícolas, há escassez de estudos envolvendo interações entre plantas invasoras e outros componentes dos agroecossistemas. Dessa maneira, este trabalho teve como objetivo geral, estudar a diversidade de insetos e plantas invasoras associados ao coqueiro-anão-verde no município de Linhares, Espírito Santo. Os objetivos específicos foram: identificar as ordens e famílias de insetos de ocorrência em área roçada e com plantas invasoras na cultura, comparar a diversidade de insetos fitófagos e inimigos naturais que ocorreram nas duas áreas, identificar as principais plantas invasoras associadas à cultura e analisar a sua influência sobre a entomofauna. Apesar de alguns estudos em outras culturas comprovarem que a manutenção da cobertura vegetal com invasoras incrementa a população de insetos (ALTIERI; SILVA; NICHOOLS, 2003), surge uma problemática: este fato realmente ocorre em um cultivo de coqueiro-anão-verde? A hipótese testada é que a presença de plantas invasoras estimula o crescimento e a manutenção de populações de insetos fitófagos e inimigos naturais também para o cultivo avaliado. Estudos relacionados à influência de plantas invasoras sobre a fauna de insetos em coqueiro podem fornecer subsídios para o estabelecimento de estratégias de manejo e controle de pragas nesta cultura. Tais informações seriam de grande 18 importância principalmente para os produtores do município de Linhares e região, uma vez que, representam os maiores produtores desta variedade de coco no país, e principalmente, porque a maioria deles é de base familiar. Por isso, como primeiro passo para o estabelecimento do manejo e condução de pragas na lavoura, há necessidade do conhecimento da diversidade de insetos associados às plantas invasoras na cultura, nas diferentes épocas do ano, visando conhecer até que ponto a manutenção do “mato” pode ser benéfica para a produtividade da lavoura. Considerando a escassez dessas informações, justifica-se a realização do presente estudo. 19 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 CULTURA DO COQUEIRO: ASPECTOS GERAIS O coqueiro, Cocos nucifera L. (Arecaceae), é uma planta originada do Sudeste Asiático, e encontra-se disseminada por toda a região intertropical, com condições favoráveis para cultivo entre as latitudes 20º N e 20º S e clima quente e úmido, sem grandes variações de temperaturas. Distribui-se em mais de noventa países, sendo o homem e as correntes marinhas consideradas importantes agentes dispersores (GOMES, 1984; PLOETZ et al., 1998). Segundo Aragão et al. (2002) e Benassi (2006), o coqueiro é composto por algumas variedades, dentre as quais se destacam a „Typica‟, conhecida no Brasil como „Gigante‟ e „Nana‟ denominada de „Anã‟. Esta última divide-se em três subvariedades: vermelha, verde e amarela, sendo a verde a mais cultivada no país. Cruzamentos entre as variedades Anã e Gigante podem originar diferentes híbridos. No Brasil, o cultivo das duas variedades concentra-se principalmente na região litorânea dos estados do Nordeste, em uma área de plantio estimada em cerca de 300 mil hectares (GOMES, 1984; FONTES; VANDERLEY, 2006). Os frutos obtidos da variedade Gigante destinam-se principalmente à indústria para aproveitamento da polpa, enquanto os da variedade Anã, por apresentarem frutos com pouca polpa e água muito saborosa, sua produção é destinada ao consumo in natura como água de coco verde ou processada em agroindústrias (GOMES, 1984; CUENCA, et al., 2002; ARAGÃO et al., 2002; BENASSI, 2006). O cultivo do coqueiro é importante na geração de renda, na alimentação e na produção de mais de cem produtos. Constitui-se uma das mais importantes culturas perenes, capaz de gerar um sistema auto-sustentável de exploração. Considerada “árvore da vida”, do coqueiro são extraídos produtos de diferentes partes da planta, bem como carvão, coque metalúrgico, óleo-de-coco, leite-de-coco, água-de-coco, fibras para indústria, copra, dentre outros (FERNANDES, 2002; BENASSI, 2006; FAO, 2006; ARAGÃO et al., 2002). 20 A demanda por água-de-coco no Brasil, segundo Benassi (2006), tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, sendo usada na alimentação, nutrição e saúde humana, na medicina e na biotecnologia. Seu consumo anual é estimado em 140 milhões de litros, havendo perspectivas de aumento de consumo para 500 milhões de litros/ano. Além disso, a água-de-coco é considerada como um repositor hidroeletrolítico e rico em sais minerais, principalmente potássio, e constitui-se num importante isotônico natural. Até pouco tempo, o consumo de água-de-coco encontrava-se restrito à orla litorânea brasileira concentrando seu comércio no período do verão. Hoje seu consumo é verificado durante o ano todo e também em grandes centros urbanos, sendo comercializados envasados ou a partir de máquinas. Do consumo estimado de refrigerantes, isotônicos e sucos, cerca de 10 bilhões de litros/ano, a água de coco representa 1,4% desse volume. Essa participação no mercado nacional indica as dimensões das possibilidades de crescimento para esse produto no Brasil (FERNANDES, 2002; BENASSI, 2006; ARAGÃO et al., 2002). O Brasil representa o quarto maior produtor mundial de coco (FAO, 2006), sendo que o Estado do Espírito Santo é o maior produtor de coco da variedade Anã Verde do Brasil, contando com expressiva e crescente área plantada. São 15.292 hectares e uma produção estimada em 152,7 milhões de frutos por ano destinados ao consumo de água, sendo que o Espírito Santo comercializa mais de sete mil toneladas por ano (FERNANDES, 2002; INCAPER, 2008; AGRIANUAL, 2008). 2.2 PRAGAS ASSOCIADAS AO COQUEIRO-ANÃO-VERDE Devido a importância da cultura do coqueiro, Chagas et al. (2008) afirmaram que o manejo fitossanitário neste cultivo faz-se necessário, uma vez que, as pragas são de relevante importância para o coqueiral, causando danos severos durante os diferentes estádios de seu desenvolvimento e crescimento. 21 Segundo Ferreira, Warnick e Siqueira (1997) e Ferreira (2002) a ocorrência de pragas e doenças nos coqueirais do Brasil constitui um problema limitante a essa exploração, respondendo de maneira significativa pelo depauperamento geral da cultura e pela baixa produtividade registrada nas zonas mais representativas e tradicionais de cultivo. A ação nociva das pragas pode ser observada desde a implantação de cultura, ocasionando elevado número de replantios, atraso no desenvolvimento vegetativo e consequente retardamento no início da produção, agravando-se à medida que a planta entra em produção e atinge a fase adulta, pois atacam também as inflorescências, flores e frutos em diferentes estágios de maturação (FERREIRA; WARNICK; SIQUEIRA, 1997; FERREIRA, 2008). Lepesme (1974) listou 751 espécies que ocorrem em palmeiras, das quais 22% são específicas do coqueiro. Nirula (1955) revisou a distribuição mundial das pragas da cultura, registrando 106 insetos e um ácaro ocorrendo em vários países do mundo. Uma lista da FAO divulgou 254 espécies (FAO, 1964); Lever (1969) descreveu 110 espécies e Kurian, Sathiama e Pillai, (1979) listaram 574 insetos e ácaros atacando coqueiro em diversos países produtores. Ferreira, Sobrinho e Cardoso (1998), listaram para C. nucifera, 24 pragas principais, dentre coleópteros, lepidópteros, cochonilha, pulgão, além de cupins, formigascortadeiras e ácaros. Segue abaixo uma relação das principais pragas associadas ao coqueiro-anãoverde (FERREIRA; WARWICK; SIQUEIRA, 1997): Dentre algumas espécies de coleópteros nocivos podemos citar: Amerrhinus sp., “broca-da-ráquis-foliar”, Homalinotus coriaceus , “broca-do-pedúnculo-floral”, Parisoschoenus obesulus, “gorgulho-dos-frutos-e-flores”, Rhynchophorus palmarum, “broca-do-olho-do-coqueiro”, (Coleoptera: Cuculionidae); Coraliomela sp., “falsabarata-do-coqueiro”, (Coleoptera: Chrysomelidae); Strategus aloeus, “broca-dobulbo-do-coqueiro”, (Coleoptera: Scarabaeidae); Taphrocerus cocois, “minador-dofolíolo”, (Coleoptera: Brupestidae). 22 Dentre os principais lepidópteros pragas citam-se: Automeris cinctistriga, “lagartaurticante-do-coqueiro” (Lepidoptera: Hemileucidae); Brassolis sophorae, “lagartadas-palmeiras”, (Lepidoptera: Nymphalidae); Eupalamides daedalus, “broca-dodendezeiro”, (Lepidoptera: Castniidae); Hyalospila ptychis, “traça-dos-cocos-novos”, (Lepidoptera: Pyralidae); Opsiphanes invirae, “lagarta-desfolhadora-das-palmeiras”, (Lepidoptera: Brassolidae); Synale hylaspes, “lagarta-verde-do-coqueiro”, (Lepidoptera: Hesperiidae). Entre os hemípteros pragas, os principais são: Aspidiotus destructor, “cochonilhatransparente-do-coqueiro”, (Hemiptera: Diaspididae) e Cerataphis brasiliensis, “pulgão-preto-do-coqueiro”, (Hemiptera: Aphididae). Os mesmos autores relataram que diversas formigas do gênero Atta (saúvas), e cupins das famílias Termitidae e Rhinotermitidae são importantes pragas, sendo as formigas prejudiciais principalmente no início da implantação do cultivo, causando desfolha para cultivar seus fungos, e os cupins quando se alimentam da madeira do coqueiro 2.3 IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADE EM SISTEMAS AGRÍCOLAS Desde décadas passadas, o homem vem manejando os ecossistemas naturalmente diversificados para o exercício da agricultura, transformando-os nos chamados agroecossistemas, os quais se diferem tanto em estrutura como em funcionamento (NICHOLLS; ALTIERI, SANDEZ, 1999). A busca por uma agricultura com alto rendimento trouxe uma crescente especialização no processo de produção, levando à monocultura (MATSON et al., 1997). O uso intensivo da terra, a utilização e dependência cada vez maior de adubos, inseticidas, acaricidas, fungicidas e herbicidas sintéticos são fatores que fazem parte do modelo conhecido como modelo convencional (BROMBAL, 2001). Entretanto, Lixa (2008) afirmou que a preocupação da sociedade com o impacto da agricultura no ambiente e a contaminação da cadeia alimentar com pesticidas vem 23 alterando esse cenário, expressando-se pela presença de segmentos de mercado exigentes por produtos agrícolas diferenciados, tanto aqueles produzidos sem uso de pesticidas como por aqueles certificados. Essas pressões têm levado ao desenvolvimento de sistemas de cultivo mais sustentáveis e, portanto, menos dependentes do uso de pesticidas. Problemas ambientais relacionados à agricultura especialmente pelo uso indiscriminado e irracional de agrotóxicos têm sido relacionados desde os anos 60 (ALTIERI, 2002). Outro aspecto não menos importante, é a dependência econômica que esses insumos internos trazem para o país e para os produtores rurais, gerando perdas de divisas, descapitalização dos produtos e afetando a auto-sustentabilidade (LIXA, 2008). Dentre os efeitos negativos causados pelo manejo do sistema convencional de agricultura pode-se citar, a intoxicação de animais e seres humanos por produtos químicos, degradação dos recursos ambientais causando seu esgotamento (ALTIERI, 1995), aparecimento de pragas e patógenos causada pela grande oferta de recursos e diminuição do efeito regulador de inimigos naturais (GARCIA, 1991), desorganização da dinâmica populacional das espécies de artrópodes presentes nessas comunidades, promovida pelo uso de agrotóxicos, tornando imprevisíveis suas flutuações populacionais (COHEN et al., 1994), perda da biodiversidade causada por simplificação excessiva do agroecossistema (WILSON, 1992) e resistência de populações de pragas aos agroquímicos (BERNAYS, 1998). As consequências acima, se intensificam cada vez mais com a implantação de monoculturas e do seu manejo inadequado, colocando em risco a biodiversidade e os recursos naturais (ALTIERI; NICHOLLS, 2007). Ademais, em monoculturas, os artrópodes indesejáveis (pragas) exibem taxas de colonização mais altas, tempos de permanência mais longos, menos barreiras ao encontro do hospedeiro e maior potencial reprodutivo, certamente por aumentar a facilidade com que as mesmas podem localizar seu alimento. Além disso, a disponibilidade de grande quantidade de alimento diminui a competição intraespecífica e a taxa relativa de mortalidade (ATKINS, 1978). Também é 24 importante considerar que, em sistemas simplificados de cultivo, os inimigos naturais não encontram as condições ideais para sobreviver e se multiplicar (NICHOLLS; ALTIERI, SANDEZ, 1999; LANDIS, WRATTEN, GURR, 2000). A redução da biodiversidade, e os efeitos resultantes afetam as funções dos agroecossistemas, com consequências sobre a produtividade agrícola e a sustentabilidade, uma vez que as características intrínsecas da auto-regulação dos ecossistemas naturais proporcionadas pela biodiversidade são perdidas em função das perturbações inerentes ao processo produtivo, as quais alcançam sua forma extrema nas monoculturas de larga escala e, assim, requerendo intervenções humanas constantes. Portanto, uma estratégia-chave na agricultura sustentável é reincorporar a diversidade na paisagem agrícola e manejá-la de forma mais efetiva (GLIESSMAN, 2001; ALTIERI; SILVA, NICHOLLS, 2003). Diante disso, Altieri (1999) sugere que é possível conciliar exploração de ambientes por atividades agrícolas com a conservação da biodiversidade, o que dependeria da adoção de práticas menos agressivas, como o uso intensivo de insumos químicos. Em agroecossistemas, essa biodiversidade desempenha um papel importante nos processos tais como controle de organismos pragas e formação de microclima. Infere-se daí, que o controle biológico é uma tecnologia promissora para o manejo de pragas em sistemas agrícolas sustentáveis, visto que consiste na regulação natural do número de plantas e animais, por ação dos inimigos naturais (AGUIARMENEZES, 2004; 2006; ALTIERI; NICHOLLS, 2007). A manutenção da biodiversidade em agroecossistemas traz uma séria de benefícios, destacando-se a maior resiliência e a obtenção de sustentabilidade ao longo do tempo (ALTIERI, 1995; 1999). Esta maior resiliência muitas vezes se traduz em manutenção de populações de pragas abaixo do limite economicamente aceitável (GARCIA, 2001), às vezes acompanhada de uma maior estabilidade nas populações de outras espécies que formam a comunidade (ALTIERI, 1999). A biodiversidade total de um agroecossistema pode proporcionar um controle eficiente de pragas de várias maneiras, especialmente ao proporcionar uma grande 25 heterogeneidade de ambientes (ALTIERI, 1999). Segundo o conceito de mosaico desenvolvido por Duelli (1997), essa maior heterogeneidade de ambientes é decisiva para a biodiversidade total do agroecossistema. Matson et al. (1997) afirmaram que uma maior diversidade florística teria um impacto direto na comunidade de um determinado ecossistema, por oferecer ambientes adequados a uma gama maior de espécies, influindo em aspectos tais como riqueza e diversidade de espécies e formação de guildas. Altieri, Silva e Nicholls (2003) afirmam que o uso da biodiversidade leva a uma nova perspectiva para o manejo de pragas, uma perspectiva mais ecológica, holística, integradora e sustentável, onde a diversidade vegetal desempenha um papel fundamental para o manejo sustentável do agroecossistema como um todo (manejo da água, solos, nutrientes, culturas e animais). 2.3.1 Plantas Invasoras em Agroecossistemas Em agroecossistemas, um componente importante da diversidade florística são as plantas invasoras, também conhecidas como “ervas daninhas”. Em áreas de manejo convencional, são vistas como maléficas, uma vez que exerce estresse biótico direto sobre as culturas competindo por luz, umidade e alguns nutrientes, reduzindo a produção. Além disso, são prejudiciais por serem hospedeiras de artrópodes-pragas (ALTIERI; SILVA; NICHOLLS, 2003). Por outro lado, no contexto do manejo ecológico, as plantas invasoras são consideradas benéficas, uma vez que auxiliam na diminuição de perdas de solo por erosão em áreas agrícolas. Também influenciam positivamente na biologia e dinâmica de inimigos naturais, fornecendo recursos para a sua sobrevivência e reprodução, fazendo com que atinjam maiores níveis de abundância e diversidade (ALTIERI, 2002; GARCIA, 1991; AGUIAR-MENEZES, 2004; 2006). O manejo de plantas invasoras é uma prática que envolve o estabelecimento de diversas misturas de plantas floríferas em faixas ou circundando a cultura. O cultivo de plantas com intenso florescimento e gramíneas perenes nas proximidades das 26 culturas agrícolas incrementa o controle biológico de insetos-praga no agroecossistema (LONG et al., 1998). De acordo com os mesmos autores, isso ocorre porque predadores e parasitóides podem complementar a sua dieta ao alimentar-se de pólen e néctar fornecidos pelas plantas cultivadas nas margens da cultura, possibilitando o incremento e manutenção de suas populações. Além disso, plantas invasoras podem aumentar as populações de insetos herbívoros que não são pragas nos campos de cultivo. Tais insetos servem como hospedeiros e presas para insetos entomófagos, aumentando, assim, a sobrevivência e a reprodução dos inimigos naturais em agroecossistemas (LANDES; WHATTEN; GURR, 2000). Outros aspectos positivos das plantas invasoras é que elas podem servir como habitat para hibernação e refúgio após práticas agrícolas para os inimigos naturais (VENZON, et al., 2005) e também muitos parasitóides e predadores podem ser atraídos para determinadas invasoras, mesmo na ausência de hospedeiro ou presa, pelas substâncias químicas liberadas (ALTIERI, 2003), além de que muitas plantas invasoras modificam o microclima do cultivo fornecendo condições para a sobrevivência e longevidade dos inimigos naturais (AGUIAR- MENEZES, 2004). Pesquisas nos últimos anos têm mostrado que surtos de certos tipos de pragas agrícolas são menos prováveis de acontecer em sistemas de cultivo diversificados com invasoras do que em sistemas de cultivo sem invasoras, principalmente devido à maior mortalidade imposta pelos inimigos naturais (ZANDSTRA; MOTOOKA, 1978; ALTIERI; WHITCOMB, 1980; RISCH; ANDOW; ALTIERI, 1983; VAN EMDEN, 1965; ROOT, 1973; ALTIERI; LETOURNEAU, 1982). Campos de cultivos com uma cobertura densa de invasoras e alta diversidade, usualmente têm mais artrópodes predadores que campos sem invasoras (PIMENTEL, 1961; ADAMS; DREW, 1965; DEMPESTER, 1969; FLAHERTY, 1969; SMITH; MC SORELY, 1969; ROOT, 1973; FADINI et al., 2005; BENASSI; RAGA, 2009; BARBOSA et al., 2003). Parasitóides também têm dependido da presença de 27 invasoras que fornecem néctar para a maturação de ovos em fêmeas adultas, aumentando a sua longevidade e fecundidade (ALTIERI; LETOURNEAU, 1982; VAN EMDEN, 1965; LEUIS, 1967; SYME, 1975; ZANDSTRA; MOOTOOKA, 1978). A atual abordagem holística dos agroecossistemas demanda, para implantação de práticas visando o conhecimento mais detalhados sobre a ecologia das plantas invasoras e de suas interações, com a fauna e com a planta cultivada (ALTIERI, 1984; GARCIA, 1988; 1991; 2001). Localmente quando consideramos as interações planta-herbívoro-inimigo natural, a planta invasora e suas características como base da cadeia alimentar, tais informações influenciam em muitos aspectos da organização da comunidade e das interações da teia alimentar (PRICE, 1992). A quantidade e qualidade dos recursos podem dizer, por exemplo, o tipo de dinâmica das populações dos hebívoros, o grau de intensidade e competição intraespecífica e quais os conjuntos de espécies capazes de coexistir (FRITZ et al., 1987). Além disso, tais estudos predizem a probabilidade de ataque e a eficiência de controle por inimigos naturais (CRAIG; PRICE; ITAMI, 1986; BUSSIOLI, 1997), fazendo com que populações se estabeleçam ou não e interferindo direta e indiretamente na composição e na qualidade da fauna associada. Diversos estudos documentaram a positividade da presença e manejo de plantas invasoras em sistemas agrícolas para aumanto da diversidade de insetos no cultivo e diminuição do ataque de pragas, sendo verificados diversos recursos para os inimigos natuaris, bem como hospedeiros alternativos, atração por odores químicos liberados pela invasoras, oferta de pólen e néctar, refúgio etc (LANDIS, 1994; DYER; LANDIS, 1997; ALTIERI; SILVA; NICHOLLS, 2003; COTTRELL; YEARGAN, 1998; REBEK; SADOF; HANKS, 2005; SINIGAGLIA et al., 2000; SENGONCA; KRANZ; BLAESES, 2002; FRANK, 1999; GONÇALVES; SILVA, 2003; LIN et al., 2003; PFIFFNER; MERKELBACH; LUKA, 2003; LEITE et al., 2005). Dessa maneira, vários fatores relacionados a presença de plantas invasoras podem influenciar a diversidade, abundância e atividade de insetos herbívoros e de inimigos 28 naturais nos agroecossistemas. O efeito de cada um desses fatores variará de acordo com o arranjo espacial e temporal, assim como com a intensidade de manejo dos cultivos, pois essas características afetam a heterogeneidade dos agroecossistemas (LANDES; WHATTEN; GURR, 2000). Todavia, torna-se importante a seleção cuidadosa de espécies de plantas invasoras para se evitar o risco de aumentar a população da praga ou oferecer um hospedeiro alternativo para fitopatógenos ou outros organismos nocivos. Uma diversificação seletiva com plantas as quais não são relacionadas botanicamente à cultura principal é recomendável (AGUIAR-MENEZES, 2004). O efeito de combinações planejadas de espécies de plantas deve ser estudado criteriosamente para aplicação em programas de manejo em um cultivo (ALTIERI, 1999). Compreender as relações entre os componentes dos agroecossistemas é importante para o estabelecimento de uma agricultura ecologicamente sustentável ao longo do tempo e um dos grandes desafios atuais (DUELLI, 1997; MATSON et al., 1997). Portanto, faz-se necessário identificar as melhores práticas de manejo dos agroecossistemas que estimulem a biodiversidade que favoreça os processos ecológicos vitais para a sustentabilidade desses sistemas agrícolas através da geração de serviços ecológicos chave, tais como controle biológico, ciclagem de nutrientes e conservação da água e do solo. Em relação ao manejo de pragas, nenhum outro aspecto dos sistemas agrícolas proporciona tantos serviços ecológicos fundamentais para assegurar a proteção de plantas contra as pragas quanto a diversidade da vegetação (ALTIERI; LETOURNEAU, 1982; ANDOW, 1991). Porém, muitos estudos visando avaliar a funcionalidade de plantas invasoras em sistemas agrícolas foram realizados em outros países e alguns poucos foram gerados no Brasil. Entretanto, Aguiar-Menezes (2004) afirma que em função da riqueza e diversidade da flora brasileira, muitas espécies botânicas de invasoras são potenciais para utilização em manejo de agroecossistemas. 29 Dessa maneira, o estudo das plantas invasoras em cultivos, bem como o estudo da fauna associada é o primeiro passo para detecção de espécies potencialmente úteis para o manejo. Conhecendo-se as espécies de insetos fitófagos e seus inimigos naturais, associados à planta invasora, podemos determinar melhor seu papel no ambiente e consequentemente melhorar as chances de sucesso em seu manejo (GARCIA, 2001). 30 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 ÁREA DE ESTUDO A pesquisa foi desenvolvida no período de março de 2008 a fevereiro de 2009, em uma lavoura demonstrativa de coqueiro, Cocos nucifera L. (Arecaceae), cultivada com a variedade Anã, subvariedade Verde. O cultivo pertencente à Fazenda Experimental do Centro Regional de Desenvolvimento Rural Nordeste (CRDR-Nordeste) do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER), localizado no município de Linhares, Estado do Espírito Santo, Brasil, na Rodovia Br 101, Km 151, Bairro Bebedouro, (19º 25' 6,959"S 40º 4' 30,026" W 50,448 m) (Figura 1; 2 a). Figura 1. Vista aérea da Fazenda Experimental do CRDR-Nordeste, INCAPER, Linhares, ES. Em destaque de vermelho, a lavoura demonstrativa de coqueiro-anãoverde. Fonte: http://www.eatrh.google.com 31 A lavoura possui cinco hectares, plantas com idade de 9 anos, plantadas a espaçamento de 7,5m x 7,5m entre plantas, em um arranjo triangular (Figura 2 b). 7,5m 7,5m 7,5m Figura 2. a) Lavoura demonstrativa de coqueiro-anão-verde da Fazenda Experimental do CRDR-Nordeste, INCAPER, Linhares, ES; b) Arranjo espacial tipo triangular das plantas de coqueiro-anão-verde na lavoura. A classificação climática da região segundo Köeppen é tida como tropical quente e seco, sendo o período de outubro a março caracterizado como chuvoso e o de abril a setembro, o período seco. O município de Linhares apresenta temperatura máxima de 32ºC, média de 29,6ºC e mínima de 23,4ºC. Possui precipitação anual de 1.193 mm/ano (INCAPER, 2008). 3.2 AMOSTRAGEM DOS INSETOS Para a instalação do experimento, delimitaram-se no interior da lavoura, duas áreas, cada uma medindo 15m x 30m, sendo uma com a presença de plantas invasoras durante todo o período de estudo, e a outra, mantida roçada (Figura 3). 32 a b Figura 3. a) Área mantida roçada (15 x 30m). b) Área com presença de plantas invasoras (de 15 x 30m). Em cada área foram instaladas seis armadilhas tipo Moericke (Figura 4 a) medindo 39cm x 29cm x 6cm forradas com papel tipo “Contact” amarelo-ouro, colocadas ao nível do solo, sob a copa das plantas (Figura 4 b), e distanciadas 22,5 m entre si (Figura 5). A distância entre as áreas correspondeu a 37,5 m. Cada armadilha foi preenchida com água (1,5 L), 30 ml de formol (10%) para conservação dos caracteres morfológicos dos insetos e gotas de detergente neutro, para quebrar a tensão superficial da água evitando a fuga dos insetos capturados. 6 cm 39 cm 29 cm a b b b Figura 4. a) Armadilha atrativa tipo Moericke utilizada na captura dos insetos; b) Disposição da armadilha sob a planta. 33 Figura 5. Croqui da disposição geral do experimento na lavoura demonstrativa de coqueiro-anão-verde do CRDR-Nordeste, INCAPER, Linhares, ES. As coletas de insetos foram realizadas semanalmente, sendo as amostras transportadas ao laboratório de Controle Biológico do INCAPER / CRDR-Nordeste de Linhares e de Ciências Ambientais da Faculdade Pitágoras de Linhares, para triagem e posterior classificação em nível de ordem e família. A identificação das ordens e famílias dos insetos foi realizada de acordo com as chaves taxonômicas de Borror e De Long (1988) e Gallo et al. (2002). Os exemplares identificados foram armazenados em tubos entomológicos contendo álcool (70%), sendo devidamente etiquetados e depositados no laboratório de Controle Biológico do INCAPER de Linhares. Alguns grupos foram enviados a especialistas para identificação das espécies, outros foram identificados através de comparações com exemplares da coleção entomológica do INCAPER. 34 3.3 AMOSTRAGEM DE PLANTAS INVASORAS A coleta de plantas invasoras foi realizada quinzenalmente. As plantas foram coletadas de forma aleatória, sendo escolhidas aquelas em estágio de floração, por apresentam recursos como pólen e néctar para alimentação a muitos grupos de insetos. As plantas foram fotografadas e no Herbário da Faculdade Pitágoras de Linhares, herborizadas e organizadas na forma de exsicata. A identificação dos exemplares foi realizada com auxílio do Manual de Identificação e Controle de Plantas Daninhas (LORENZI, 2008), sendo que os táxons previamente identificados foram confirmados pelo pesquisador Márcio Adonis do INCAPER de Vitória, ES. 3.4 DADOS CLIMÁTICOS (VARIÁVEIS ABIÓTICAS) Os dados climáticos (variáveis abióticas), temperatura média (°C), precipitação (mm) e umidade relativa do ar (%) foram fornecidos pelo Centro de Meteorologia e Recursos Hídricos do INCAPER. Utilizou-se o teste de correlação de Pearson para verificar a influência dos fatores climáticos na abundância das famílias coletadas, com auxílio do programa BioStat versão 3.0 (AYRES et al., 2003). 3.5 ANÁLISE DE VARIÂNCIA Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas através do teste de Tukey a 5% de probabilidade, através do software BioStat versão 3.0 (AYRES et al., 2003). 3.6 ANÁLISE FAUNÍSTICA Foram calculados os índices faunísticos: Frequência Relativa, Constância, Dominância, Riqueza (S), Diversidade de Shannon-Wiener (H‟) e Equitabilidade (J). 35 Todos os índices foram calculados em nível de família, com auxílio do programa DivEs versão 2.0 (RODRIGUES, 2005). 3.6.1 Frequência relativa Representou-se neste estudo, a participação percentual do número de indivíduos da família, em relação ao total de indivíduos coletados de acordo com Silveira-Neto, Nakano e Vila-Nova (1976), utilizando-se a fórmula: F = ni / N x 100 Onde, F = percentagem de frequência; Ni = número de indivíduos da família i; N = número total de indivíduos coletados. 3.6.2 Constância Calculada por meio da porcentagem de ocorrência das famílias no levantamento, de acordo com Silveira-Neto, Nakano e Vila-Nova (1976), utilizando-se a fórmula: C = pi / N x 100 Onde, C = porcentagem de constância; p = número de coletas contendo a família i; N = número total de coletas efetuadas. Posteriormente as famílias foram adequadas em categorias, segundo a classificação de Bodenheimer (1955) citado por Ribeiro (2005) em: Famílias constantes (W) – presentes em mais de 50% das coletas. 36 Famílias acessórias (Y) – presentes em 25 a 50% das coletas. Famílias acidentais (Z) – presentes em menos de 25% das coletas. 3.6.3 Riqueza O índice de Riqueza é representado pela letra (S) significando o número total famílias presentes na comunidade, de acordo com Silveira-Neto, Nakano e VilaNova (1976). 3.6.4 Dominância Foram consideradas dominantes, as famílias que apresentaram uma frequência relativa acima de 1 / S x 100, sendo S riqueza de famílias, de acordo com SilveiraNeto, Nakano e Vila-Nova (1976). 3.6.5 Diversidade A diversidade foi estimada a partir do índice de Shanon-Wiener (SOUTHWOOD, 1978), que utiliza a seguinte fórmula: H‟ = - ∑pi (In pi) Onde, H‟ = componente de “riqueza” de famílias; pi = frequência relativa da família i dada por ni / N; ni = número de indivíduos da espécie i; N = número total de indivíduos; Ln = logaritmo neperiano. 37 3.6.6 Equitabilidade O índice de equitabilidade mede o padrão de distribuição dos indivíduos entre as famílias e foi estimado pela fórmula: J = H‟ / Hmax Onde, H‟ = índice de diversidade de Shannon-Wiener; Hmax = 1n (S). 38 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 TOTAL DE ORDENS E NÚMERO DE INSETOS COLETADOS Durante o período de estudo foram coletados 86.417 exemplares de insetos, pertencentes a quinze ordens. Deste total, 66,51% ocorreram na área com plantas invasoras, e 33,49% na área mantida roçada (Tabela 1). Tabela 1. Número e frequência relativa de insetos coletados nas áreas com plantas invasoras e roçada, em cultura de coqueiro-anão-verde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09. ORDENS CP FRCP SP FRSP T FRT 27.902 20.224 3.664 48.54 35.19 6.37 17.361 72.42 1.878 59.99 25.03 6.49 45.263 27.466 5.542 52.38 31.78 6.41 3.171 1.184 444 5.52 2.06 0.77 1.467 433 149 5.07 1.50 0.51 4.638 1.617 593 5.37 1.89 0.69 Thysanoptera 345 0.60 174 0.60 519 0.60 Blattodea Neuroptera Isoptera Dermaptera 178 171 63 67 0.31 0.30 0.11 0.12 99 37 51 22 0.34 0.13 0.18 0.08 277 208 114 89 0.32 0.24 0.13 0.10 Psocoptera Trichoptera Mantodea Strepsiptera 46 7 11 2 0.08 0.01 0.02 0.003 20 5 0 0 0.07 0.02 0.00 0.00 66 12 11 2 0.08 0.01 0.01 0.002 57.479 100.00 28.938 100.00 86.417 100.00 Hymenoptera Diptera Hemiptera Coleoptera Lepidoptera Orthoptera CP: Total de insetos na área com plantas invasoras SP: Total de insetos na área roçada FRCP: Frequência relativa (%) dos insetos presentes na área com plantas invasoras FRSP Frequência relativa (%) dos insetos presentes na área sem plantas invasoras T: Total de Insetos coletados em área com e sem plantas invasoras FRT: Frequência relativa do total de insetos coletados em área com e sem plantas invasoras O número de insetos obtidos na área com plantas invasoras foi duas vezes superior ao coletado na área roçada. Este fato foi também observado em outras culturas como milho, pessegueiro, café, vinhedo e vimeiro (GARCIA, 1988; SHUBER et al., 2008; BENASSI; RAGA, 2009; FADINI et al., 2001; NUNES et al., 2009). Tais resultados podem ser atribuídos à manutenção da diversidade vegetal com as plantas invasoras, que, segundo Altieri (1999), a cobertura vegetal estimula a 39 manutenção de populações de insetos e outros artrópodes, provavelmente devido ao aumento e distribuição de alimento, de micro habitats mais adequados, de locais de refúgio ou hibernação, hospedeiros e fontes de pólen e néctar. As médias de insetos obtidas para as áreas amostradas durante o período de estudo diferiram estatisticamente entre si (Tabela 2). Tabela 2. Média de insetos coletados na área com plantas invasoras e roçada em cultivo de coqueiro-anão-verde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09. TRATAMENTOS Área com plantas invasoras Área roçada CV (%) Médias 4.789,9 a 2.411,5 b 56,14 * Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5 % de probabilidade. As ordens de insetos que ocorreram nas duas áreas que apresentaram maior número de indivíduos foram Hymenoptera, Diptera, Hemiptera, Coleoptera e Lepidoptera. Juntas, elas representaram 97,7% do total de insetos coletados na área com plantas invasoras e 98,08% na área mantida roçada. As demais ordens representaram juntas, 2,3 % e 1,92% dos insetos amostrados na área com e sem plantas invasoras, respectivamente (Figuras 6). Somente as Ordens Mantodea e Strepsiptera não ocorreram na área sem invasoras. Entretanto, há de se considerar que, foram coletados apenas dois exemplares de Strepsiptera e onze indivíduos de Mantodea durante todo o período de amostragem na outra área. Em levantamento em cultura de café, Benassi e Raga (2009) utilizando metodologia semelhante também obtiveram o mesmo padrão de abundância de ordens, assim como Arleu (1992), na cultura de milho. 40 Figura 6. Percentual de insetos pertencentes a diferentes ordens, coletados em área com presença de plantas invasoras e roçada, em cultura de coqueiro-anão-verde, em Linhares, ES. O elevado número de exemplares da Ordem Hymenoptera observado em ambas as áreas, se deveu, provavelmente, porque esses insetos podem ocorrer em uma ampla diversidade de hábitats e nichos ecológicos, podendo ser polinizadores, predadores de outros insetos, parasitóides e alguns poucos representantes, fitófagos (BORROR; DE LONG, 1988). Além disso, a ordem é numerosa, ocupando a terceira posição em relação a quantidade de espécies conhecidas (GALLO, et al., 2002). A segunda ordem com maior número de representantes coletados foi Diptera, tanto na área com plantas invasoras (35,18%), como na área roçada (25,03%). Essa ordem é considerada a segunda maior em número de espécies conhecidas e muito comum em levantamentos entomofaunísticos. Apresentam hábitos alimentares variados, podendo ser hematófagos, fitófagos, minadores, predadores e parasitóides (GALLO et al., 2002). Vários estudos realizados (GILBERT, 1981; SOUZA-SILVA; FONTENELLE; MARTINS, 2001) relataram a presença de dípteros alimentando-se de pólen e/ou néctar de plantas invasoras ou cultivadas. A oferta desses recursos nas áreas amostradas, assim como hospedeiros disponíveis para as espécies predadoras e parasitóides provavelmente favoreceram a ocorrência do grupo. 41 A maioria dos insetos da Ordem Hemiptera é fitófaga, sendo muitos deles considerados pragas importantes de diversas culturas, outros são predadores de artrópodes (GALLO et al., 2002). A presença de plantas invasoras para os hemípteros fitófagos e de presas para os de hábito predador, justifica a elevada abundância desses insetos, principalmente na área com presença de tais plantas. A elevada ocorrência da ordem Coleoptera, pode ser justificada pelo fato de ser a maior ordem dos insetos, e estar amplamente distribuídas, podendo ser encontrados em quase todo tipo de habitat, onde alimentam-se de materiais vegetais e animais. Muitos são fitófagos, muitos são predadores, alguns são necrófagos, e outros fungívoros, sendo que inda alguns poucos são parasitas (BORRO; DE LONG, 1988). A diversidade vegetal oferecida pela presença de plantas invasoras, pode ter favorecido a elevada ocorrência deste grupo, haja visto que a maior abundância ocorreu na área com essas plantas. As demais ordens encontradas neste levantamento (Orthoptera, Thysanoptera, Blattodea, Neuroptera, Isoptera, Dermaptera, Psocoptera, Trichoptera, Mantodea e Strepsiptera) ocorreram em menor número de exemplares, todavia a sua maior abundância se deu na área com plantas invasoras, este fato de acordo com Altieiri (1999) mostra que quanto maior a diversidade vegetal, maior será a diversidade de insetos. Cabe salientar que apesar de poucos exemplares de algumas ordens como Neuroptera, Dermaptera e Mantodea, os seus representantes são predadores e importantes no controle biológico de pragas (DUQUE, 2008; GALLO et al., 2002), sendo que a constatação destes insetos, é importante em cultivo de coqueiro, pois o mesmo é atacado por diversas pragas. 4.2 ESPÉCIES DE PLANTAS INVASORAS COLETADAS Durante todo o período de estudo foram identificadas quinze gêneros de plantas invasoras, sendo que treze foram identificadas ao nível de espécies, e as demais ao nível genérico, distribuídas em oito famílias, relacionadas na Tabela 3. 42 Tabela 3. Plantas Invasoras de ocorrência em cultura de coqueiro-anão-verde em Linhares, ES, no período de março/2008 a fevereiro/2009. FAMÍLIA / ESPÉCIE NOME VULGAR PERÍODO DE OCORRÊNCIA picão-roxo mar a jul - set,out Bidens pilosa L. Emilia sanchifolia (L.) DC. Sonchus oleraceus L. Amaranthaceae Alternanthera tenella Colla Commelinacea picão-preto falsa-serralha serralha mar a jun - set, out, dez mar a ago mar a ago apaga-fogo maio a out Commelina benghalensis L. Convolvulaceae Ipomoea sp. Euphorbiaceae trapoeraba mar, jun, jul, set, out corda-de-viola maio Euphorbia hirta L. Fabaceae erva-de-santa-luzia out Cassia hirsuta L. Desmodium barbatum (L.) Indigofera hirsuta L. Malvaceae fedegoso-peludo barbadinho amores-do-campo mar, jun, jul, set, out mar, jul jun guanxuma fev, abr, jul, dez vassourinha maio erva-chumbinho gervão jun fev a abr, - jun a dez Asteraceae Ageratum conyzoides L. Sida sp. Rubiaceae Borreria verticillata (L.) Lantana camara L. Stachytarphetta cayenensis (Rich.) M. Vahl A Família Asteraceae apresentou maior número de espécies ocorrendo durante quase todo o ano, o que, provavelmente, possibilitou a grande abundância de insetos. Essas observações corroboram com Brombal (2001), pois segundo ele, asteráceas e outras dicotiledôneas são comuns em levantamentos florísticos em agroecossistemas, e se caracterizam por terem uma flora extensa ao longo do ano e por possuírem arquitetura mais complexa. Além disso, suas flores possuem características que permitem fácil acesso ao pólen por grande número de artrópodes. Também, trabalhos realizados por Altieri e Schmidt (1987) e Altieri e Whitcomb (1980), mostraram que, várias espécies de Asteraceae e Fabaceae têm desempenhado papel ecológico relevante por hospedarem um complexo de artrópodes benéficos que atuam na supressão de populações de pragas. 43 As plantas invasoras coletadas neste levantamento estão ilustradas na figura 7. a b e c f g j i m Figura 7. a) Indigofera hirsuta; b) verticillata; e) Lantana camara; conyzoides; h) Bidens. pilosa; i) Alternantera tenella; l) Euphorbia Commelina benghalensis. k n d h l o Desmodium barbatum; c) Sida sp.; d) Borreria f) Stachytarphetta cayenensis; g) Ageratum Emilia sanchifolia; j) Sonchus oleraceus; k) hirta; m) Ipomoea sp.; n) Cassia hirsuta; o) Diversas outras plantas encontradas neste estudo estão relacionadas na literatura como fonte de alimento a inimigos naturais de pragas agrícolas (ALTIERI; SILVA; NICHOLLS, 2003). Espécies do gênero Cassia sp. incrementam a população de insetos predadores em várias culturas agrícolas (ANDOW, 1991). Essa planta 44 também libera substâncias químicas (cairomônios) que atraem vespas, parasitóides de ovos da Família Trichogrammatidae (ALTIERI, 2002). B. verticillata oferece néctar a himenópteros parasitóides da Família Braconidae (ALTIERI, 1999). Muitos insetos da Família Ichneumonidae necessitam de pólen de plantas invasoras para maturação dos ovos (LEUIS, 1967). Euphorbia sp. fornece pólen e néctar, aumentando a longevidade desses indivíduos (SCYME, 1975). Muitas plantas invasoras, como as encontradas neste estudo são utilizadas em programas de Manejo Ecológico de Pragas em várias culturas, sendo semeadas ou mantidas em certos períodos nos cultivos (ALTIERI, 1995; 1999), por favorecer uma maior abundância de inimigos naturais de pragas. 4.3 ORDENS DE INSETOS COLETADOS 4.3.1 Ordem Hymenoptera: Grupo Aculeata e Symphyta Foram coletados um total de 1.761 himenópteros Aculeata e Symphyta, distribuídos em 10 famílias, sendo que, deste total, 66,89% ocorreram na área com plantas invasoras e 33,11% na área mantida roçada. Os valores de frequência relativa, constância e dominância, das famílias capturadas estão relacionados na tabela 4. Cabe salientar, que nesta discussão, a família Formicidae não foi considerada na análise realizada na tabela 4, uma vez que estes insetos ocorreram em elevado número, e por isso será apresentada separadamente na alínea a. O total de famílias de Hymenoptera Aculeata e Shymphyta foi semelhante em ambas as áreas. Apenas a família Siricidae não ocorreu na área mantida roçada, contudo, apenas 4 exemplares foi capturado na área com plantas invasoras. As famílias que apresentaram os maiores valores faunísticos como os de frequência relativa, constância e dominância, em ambas as áreas foram, Pompilidae, Vespidae e Apidae. As demais famílias representaram 13,58% e 4,65%, respectivamente, na área com plantas invasoras e roçada. 45 Tabela 4. Frequência relativa, constância e dominância das famílias de Hymenoptera: Aculeata e Symphyta, coletados nas áreas com plantas invasoras e roçada, em cultura de coqueiro-anão-verde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09. FAMÍLIAS Apidae Cabronidae Sphecidae Chrysididae Mutillidae Pompilidae Scoliidae Vespidae Siricidae Tenthredinidae TOTAL Área com plantas invasoras N FR C 178 15.11 W 10 0.85 Z 73 6.20 W 30 2.55 Y 9 0.76 Z 523 44.40 W 20 1.70 Y 317 26.91 W 4 0.34 Y 14 1.19 Y 1.178 100 - D d nd nd nd nd d nd d nd nd - Área mantida roçada N FR C D 92 15.78 W d 2 0.34 Y nd 11 1.89 Y nd 4 0.69 Y nd 2 0.34 Y nd 317 54.37 W d 4 0.69 Y nd 147 25.21 W d 4 0.69 Y nd 583 100 - Total N FRT 270 15.33 12 0.68 84 4.77 34 1.93 11 0.62 840 47.70 24 1.36 464 26.35 4 0.23 18 1.02 1.761 100 N: Número de himenópteros Aculeata e Symphyta capturados; FR: Frequência relativa (%); C: Constância, W: constante, Y: acessória, Z: acidental; Dominância, sendo dominante (d) e não dominante (nd); FRT: frequência relativa do total de himenópteros parasitóides coletados nas duas áreas. À família Pompilidae, compreende um grupo de vespas solitárias caçadoras de aranhas (PITTS; WASBAUER; VON DOHLEM, 2006). Apesar destas não terem sido quantificadas, elas foram muito abundantes nas amostras coletadas durante o período de estudo, o que pode justificar a elevada quantidade de exemplares de pompilídeos capturados. As fêmeas dos pompilídeos, ao encontrarem uma aranha, injetam-lhe um veneno que a paralisa, em seguida, a carrega para um local protegido, colocando único ovo sobre o seu corpo, da qual irá eclodir uma larva que se alimenta da aranha paralisada (PITTS; WASBAUER; DOHLEM, 2006). São escassos estudos da comunidade de pompilídeos em agroecossistemas. Neste trabalho, foram identificados 389 pompilídeos pertencentes a 10 gêneros (Tabela 5). O maior número de pompilídeos capturados na área com plantas invasoras pode ser explicado pelo fato dos adultos destes insetos se alimentarem de néctar de plantas (PITTS; WASBAUER; DOHLEM, 2006). Além disso, são encontrados sobrevoando 46 rente ao solo, o que pode ter facilitado a sua captura nas armadilhas, uma vez que, estas estavam dispostas no nível do solo, permitindo a sua atração e captura. Tabela 5. Gêneros de pompilídeos coletados em cultivo de coqueiro-anão-verde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09. Gênero Priochilus sp 1 Priochilus sp 2 Auplopus sp 1 Auplopus sp 2 Atopagenia sp 1. Anoplius sp 1 Ageniella sp 1 Ageniella sp 2 Ageniella sp 3 Ageniella sp 4 Minagenia sp 1 Epysiron sp 1 Aporinellus sp 1 Dicranoplius sp 1 Dicranoplius sp 1 TOTAL Total de indivíduos 56 111 3 123 27 1 3 50 1 1 1 9 1 1 1 389 A elevada abundância de exemplares da família Vespidae, insetos sociais conhecidos popularmente como “marimbondos”, pode ser justificada pela presença adequada de insetos, uma vez que, as fêmeas dos membros desta família utilizam para a alimentação das larvas (PREZOTO; GIANNOTT, 2003). A ocorrência destes insetos em coqueiro é importante, uma vez que, Gold e Jeanne (1984), afirmaram que entre as presas utilizadas por vespídeos, 66 espécies são pragas agrícolas, incluindo Hemiptera, Coleoptera, Diptera e principalmente Lepidoptera, assim, a utilização desses predadores em programas de controle biológico na cultura tem a possibilidade de ser viável. Um maior número de exemplares da família Vespidae na área com plantas invasoras pode ser explicado através da afirmação de Santos, Zanuncio e Zanuncio (2002) que relataram que ambientes com estrutura mais complexa, possibilitam o estabelecimento e sobrevivência de mais espécies de vespas sociais, uma vez que tais ambientes fornecem suporte para a nidificação e recursos alimentares. Muitas espécies selecionam os locais de seus ninhos pela densidade e tipos de vegetação, se aberta ou fechada, bem como pela forma e disposição de folhas e outras 47 estruturas. Assim, a preservação da cobertura vegetal com plantas invasoras pode favorecer um habitat mais heterogêneo e adequado para a manutenção das espécies de vespídeos, consequentemente, favorecendo o controle natural de espécies pragas. Em relação à família Apidae, insetos conhecidos como “abelhas”, foram identificadas 5 espécies e 4 gêneros pertencentes a duas subfamílias (Tabela 6). Tabela 6. Espécies de abelhas coletadas em cultivo de coqueiro-anão-verde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09. Subfamília Halictinae Apinae Gênero / Espécie Augochlora sp. Augochlorella acarinata Augochloropsis sp. Dialictus sp. Exomalopsis (Exomalopsis) aureopilosa Trigona hyalinata Trigona spinipes Apis mellifera Exaerete sp. TOTAL Total de indivíduos 4 11 29 23 4 25 68 102 4 270 A elevada abundância da espécie A. mellifera, corrobora com Carvalho (1999) que afirmou que, esta espécie apresenta características favoráveis à dominância, como hábitos generalistas e colônias populosas, o que faz com que sejam comuns em levantamentos apícolas. A presença de plantas invasoras pode ter contribuído para a alta ocorrência desses insetos, pois de acordo com Marchini et al. (2001), observando o comportamento de A. mellifera em plantas invasoras no câmpus da Esalq/USP em Piracicaba-SP, verificaram que, as mais frequentemente visitadas foram A. tenella, B. pilosa, E. sanchifolia, Ipomoea sp., Euphorbia sp. e C. nucifera, espécies também presentes neste levantamento. Ainda, outros autores como Ramalho, Kleinert-Giovannini e Imperatriz-Fonseca (1990), afirmaram que as famílias Arecaceae, Myrtaceae, e Rubiaceae, são as mais importantes para A. mellifera. Pirani e Cortopassi-Laurino (1993) verificaram que as famílias mais visitadas por abelhas africanizadas, foram Asteraceae e Fabaceae. 48 Marchini (2006) relatou alta frequência de visitas a flores de B. verticillata e S. cayennensis por esta abelha. Representantes do gênero Trigona foram muito coletados, com maior abundância da espécie T. spinipes, o que pode ser explicado pelo fato de que, essas abelhas apresentarem colônias muito populosas, contendo de 5.000 a 180.000 indivíduos, e serem comuns em levantamentos (MARQUINI, 2006). Além disso, Ker (1959) verificou que vários fatores contribuem para o sucesso de T. spinips nas flores, por ser nativa, ter ampla distribuição geográfica e ter raio de ação de, aproximadamente 840m. A ocorrência de várias espécies de Halictinae pode ser justificada pelo fato destes insetos serem frequentemente coletados em ambientes perturbados (CURE et al., 1990), como agroecossistemas. Souza (2006) realizando levantamento de abelhas em cultura de milho, feijão e trigo consorciado em sistema de plantio direto, utilizou semelhante metodologia e tempo de coleta deste estudo, coletando 456 abelhas, sendo que as principais espécies foram da subfamília Halictinae: Dialictus sp. (172 exemplares), Diadasia sp. (135), Pereirapis semiaurata (26), Augochlora sp. (23), Exomalopsis sp. (16) e Augochloropsis sp. (11), das quais, algumas estiveram presentes neste levantamento. A presença de plantas invasoras no cultivo de coqueiro, provavelmente contribuiu para a ocorrência das espécies de Halictinae, uma vez que, estas abelhas compreendem um grupo composto principalmente por polinizadores, cujo incremento populacional está associado ao aumento de recursos florais da área em que habita (WOLDA, 1988). Um aspecto importante para as abelhas em coqueiro é o fato de que se constituem em potenciais polinizadores, conforme relatado por Conceição, Delabie e CostaNeto (2004), embora a polinização desta palmeira seja primariamente anemófila. Dessa maneira, plantas invasoras mantidas na cultura podem favorecer um incremento e manutenção de suas populações, principalmente em períodos em que as plantas de coqueiro não estão em florescimento. Além disso, durante o período de coleta, foi comum observar as espécies A. mellifera e T. spinips visitando as 49 inflorescências do coqueiro. Por outro lado, Loroca (1970) afirmou que T. spinipes tem sido identificada como destruidora de flores em plantas de coqueiro. Apesar das demais famílias terem sido menos abundantes, sua presença na área é importante em cultivo de coqueiro. Com exceção das famílias Tenthredinidae e Siricidae, que são fitófagas, Sphecidae, Cabronidae, Chrysididae, Scoliidae e Mutilidae compreendem importantes insetos por serem predadores e parasitóides (FERNANDEZ; SHARKEY, 2006), atuando na regulação natural de pragas que ocorrem na cultura de coqueiro-anão-verde. Alguns exemplares das famílias de Hymenoptera Aculeata e Symphyta coletados estão ilustrados na figura 8. 10 mm a 12 mm b 8 mm c f 11 mm d 11 mm e 7 mm 12 mm g 5 mm h 8 mm i Figura 8. a) Apidae (Exaerete sp.); b) Sphecidae; c) Mutillidae; d) Scoliidae; e) Pompilidae; f) Chrysididae; g) Vespidae; h) Formicidae; i) Tenthredinidae. 50 a) Família Formicidae Em relação à família Formicidae, foram coletados 23.641 exemplares, sendo que 12.668 ocorreram na área com plantas invasoras e 10.973 na área mantida roçada. Foram identificadas 15 espécies de formigas (Tabela 7). Tabela 7. Espécies de formigas coletadas em cultivo de coqueiro-anão-verde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09. Gênero / Espécie Odontomachus bauri Camponotus substitutus Número de indivíduos 3.457 1.106 Camponotus crassus 3.672 Camponotus sexguttatus Camponotus renggeri Tetramorium simillimum Cardiocondyla minutior Nylanderia sp. Ectatomma brunneum 1.133 794 1.833 2.993 Labidus praedator Nomamyrmex esenbekii Dolichoderus lutosus Pseudomyrmex tenuis Pachycondyla villosa Pheidole sp. 5.773 219 1.097 157 8 104 Total 419 876 23.641 A presença de plantas invasoras pode ter contribuído para a elevada riqueza e abundância de formigas neste estudo, corroborando com Matos et al. (1994) que encontraram aumento da diversidade de formigas com o aumento da complexidade da vegetação e da serrapilheira. Também Oliveira et al. (1995) relataram que existe variação na diversidade de formigas influenciadas pelas características do ambiente, sendo que, quanto maior sua heterogeneidade, maior a diversidade de espécies. Contudo, em se tratando de agroecossistemas, as formigas podem assumir diferentes posições. Em coqueiro, algumas são consideradas pragas, como espécies do gênero Atta (FERREIRA; WARWICK; SIQUEIRA, 1997), entretanto, essas não ocorreram neste levantamento. 51 A espécie de formiga com maior número de indivíduos foi L. praedator, fato importante em coqueiro, pois esta espécie é considerada importante predadora, e pode reduzir as densidades de pragas em agroecossistemas (MONTEIRO; SUJII; MORAIS, 2008). Em um estudo realizado pelos mesmos autores, em cultivos de mandioca, abacaxi, algodão, milho e repolho, verificaram elevada abundância desta formiga, alimentando-se de várias espécies de insetos pragas nestes cultivos, bem como besouros curculionídeos e lagriídeos, lepidópteros, além de pólen de flores da planta invasora E. sanchifolia, espécie presente neste levantamento. Outra espécie considerada importante predadora com potencial para uso no controle biológico de pragas é E. brunneum (SILVESTRE; SILVA, 2001; FOLWLER, 2004), também coletada neste estudo. A presença de plantas invasoras pode ter sido importante para esta formiga, pois elas também complementam a sua dieta com nectários extraflorais (APPLE; FEENER, 2001; SANTOS; DEL-CLARO, 2001). Outro aspecto importante da espécie é o potencial na polinização do coqueiro-anão-verde, visto que elas podem carregar pólen e eventualmente realizar a polinização, fato relatado por Conceição, Delabie e Costa-Neto (2004). Em área de Cerrado, Erdogmus (2010) verificou que na presença de espécies do gênero Ectatoma, houve redução significativa da perda foliar causada por herbívoros, uma vez que esta espécie predominante na planta impede que insetos fitófagos colonizem e se alimentem, fato importante em coqueiro, pois o mesmo é atacado por diversas pragas. Outras espécies como Pseudomyrmex sp., Odontomachus sp. e Dolichoderus sp., também são potenciais predadoras que capturam agressivamente presas vivas (WAY; KHOO 1992) e que foram coletadas neste estudo. O gênero Camponotus foi representado por quatro espécies, sendo o maior número de exemplares de C. crassus. As formigas do gênero Camponotus, são as mais amplamente distribuídas (JAFFÉ, 1993) e frequentes na região Neotropical (WILSON, 1976). É uma espécie generalista, comum em ambientes degradados, como agroecossistemas. Em cultivo de coqueiro Costa et al. (2010) verificaram dominância de espécies do gênero Camponotus, encontrando grande quantidade de 52 indivíduos em todas as partes da planta. Também Sholdt (1966), observou alta frequência de formigas dos gêneros Camponotus, Paratrechina, Pheidole e Monomorium, nas inflorescências do coqueiro. Também relatada na literatura como potenciais na polinização do coqueiro-anãoverde de acordo com Conceição, Delabie e Costa-Neto (2004) são as formigas D. lutosus, D. bidens e Odontomachus sp., espécies presentes neste levantamento Entretanto, algumas formigas podem ser consideradas pragas, como Pheidole sp., pois protegem homópteros contra seus parasitóides, para em troca obter “honeydew”, fato relatado por Samways, Nel e Prins (1982) em citros. Por outro lado, algumas espécies como Pheidole megacephala foi registrada atacando larvas de moscas das frutas, em citros (REUTHER; CALAVAN; CARMAN, 1989). Dessa maneira, a diversidade, riqueza e a abundância de espécies coletadas neste estudo mostram que a presença de plantas invasoras pode incrementar as populações destes insetos, aos quais podem fornecer benefícios para o agroecossistema coqueiro-anão-verde, visto que muitas das espécies coletadas são relatadas como benéficas a este cultivo. 4.3.2 Ordem Hymenoptera: Série Parasitica Foram coletados 19.861 himenópteros parasitóides, distribuídos em 27 famílias, dos quais, 70,8% ocorreram na área com plantas invasoras e 29,2% na área mantida roçada. Os valores de frequência relativa, constância e dominância, estão relacionados na tabela 8. O total de famílias (27) e o número de exemplares de parasitóides obtidos neste estudo foram superiores aos relatados para as culturas de soja (4.969 parasitóides de 15 famílias), café arábica (5.228; 21), algodão (16.166; 22), pastagens e mata nativa (7.080; 21), milho, feijão e trigo consorciado em sistema de plantio direto (5.308; 22) (PERIOTO et al., 2002a; PERIOTO et al., 2004; PERIOTO et al., 2002b; MARCHIORI; PENTEADO-DIAS, 2002, SOUZA; BRAGA; CAMPOS, 2006). Apesar 53 dos altos valores obtidos neste estudo, vale ressaltar que as formas de manejo e condução da lavoura, e o tipo de cultura podem influenciar na riqueza e abundância de parasitóides, uma vez que, cada cultura pode apresentar hospedeiros diferenciados para a oferta aos diferentes grupos de parasitóides. Também é importante salientar que, durante todo o período de estudo, não foram feitas aplicações de inseticidas na lavoura de coqueiro, que segundo Nicholls, Silva e Altieri (2003), agroecossistemas que sofrem menos perturbações e que são livres de pesticidas apresentam alta abundância de parasitóides trabalhando no controle de insetos pragas. As famílias de parasitóides que apresentaram os maiores valores de frequência relativa em ambas as áreas estudadas foram: Diapriidae, Scelionidae, Ceraphronidae, Eulophidae, Mymaridae, Encyrtidae, Ichneumonidae, Braconidae, Figitidae e Eucharitidae. As demais famílias somaram 4,34% e 5,91%, respectivamente nas áreas com plantas invasoras e roçada. Em estudos desenvolvidos em outras culturas, as famílias mais frequentes foram: Diapriidae e Ichneumonidae, em área de mata e pastagem em Itumbiara, GO (MARCHIORI; PENTEADO-DIAS, 2002); Mymaridae, Encyrtidae e Scelionidae, em cultivo de sorgo, milho, feijão e trigo em cultivo de rodízio em plantio direto em Rio Claro, SP (SOUZA; BRAGA; CAMPOS, 2006); Scelionidae, Encyrtidae, Aphelinidae e Trichogrammatidae em cultivo de soja em Nuporonga, SP (PERIOTO et al., 2002a); Encyrtidae, Trichogrammatidae, Mymaridae e Scelionidae, em cultivo de algodão em Ribeirão Preto, SP (PERIOTO et al., 2002b). Desta maneira, este estudo, demonstra certa similaridade com estes trabalhos em relação a algumas famílias de parasitóides mais frequentes, podendo-se concluir que, elas podem ser, portanto, consideradas comuns nesses agroecossistemas. 54 Tabela 8. Frequência relativa, constância e dominância das famílias de Hymenoptera Parasitica, coletados na área com plantas invasoras e roçada, em cultura de coqueiroanão-verde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09. FAMÍLIAS Agaonidae Aphelinidae Bethylidae Braconidae Ceraphronidae Chalcididae Diapriidae Elasmidae Encyrtidae Eucharitidae Eulophidae Eupelmidae Eurytomidae Evaniidae Figitidae Ichneumonidae Megaspilidae Mymaridae Ormyridae Perilampidae Platygastridae Pteromalidae Scelionidae Signiphoridae Tanaostigmatidae Torymidae Trichogrammatidae TOTAL Área com plantas invasoras N FR C 4 0.03 Z 12 0.09 Z 50 0.36 W 390 2.77 W 1.444 10.27 W 58 0.41 Y 4.708 33.49 W 2 0.01 Z 714 5.08 W 369 2.63 W 822 5.85 W 11 0.08 Z 14 0.10 Z 3 0.02 Z 386 2.75 W 423 3.01 W 11 0.08 Z 715 5.09 W 2 0.01 Z 8 0.06 Z 63 0.45 W 160 1.14 W 3.474 24.72 W 33 0.23 Y 49 0.35 Y 124 0.88 W 7 0.05 Z 14.056 100 - D nd nd nd nd d nd d nd d nd d nd nd nd nd d nd d nd nd nd nd d nd nd nd nd - Área mantida roçada N FR C D 2 0.03 Z nd 5 0.09 Z nd 33 0.57 Y nd 163 2.81 W nd 705 12.14 W d 23 0.40 Y nd 1838 31.66 W d 2 0.03 Z nd 282 4.86 W d 223 3.84 W d 280 4.82 W d 5 0.09 Z nd 7 0.12 Z nd 1 0.02 Z nd 185 3.19 W d 166 2.86 W nd 9 0.16 Z nd 292 5.03 W d 1 0.02 Z nd 3 0.05 Z nd 17 0.29 W nd 116 2.00 W nd 1.328 22.88 W d 57 0.98 Z nd 16 0.28 Y nd 41 0.71 W nd 5 0.09 Z nd Total N FRT 6 0.03 17 0.09 83 0.42 553 2.78 2.149 10.82 81 0.41 6.546 32.96 4 0.02 996 5.01 592 2.98 1.102 5.55 16 0.08 21 0.11 4 0.02 571 2.87 589 2.97 20 0.10 1.007 5.07 3 0.02 11 0.06 80 0.40 276 1.39 4.802 24.18 90 0.45 65 0.33 165 0.83 12 0.06 5.805 19.861 100 - - 100 N: Número de parasitóides capturados; FR: Frequência relativa (%); C: Constância, W: constante, Y: acessória, Z: acidental; Dominância, sendo dominante (d) e não dominante (nd); FRT: frequência relativa do total de himenópteros parasitóides coletados nas duas áreas. 55 Alguns exemplos de Hymenoptera Parasitica capturados estão ilustrados na Figura 9. 1 mm 0,5 mm 1 mm 0,5 mm a 11 mm 0,3 mm d g 1 mm j 1 mm b e 0,5 mm h k 0,5 mm c f 0,6 mm i 0,5 mm l Figura 9: a) Braconidae; b) Ichneumonidae; c) Diapriidae; d) Figitidae; e) Ceraphronidae; f) Eulophidae; g) Eucharitidae (Kapala sp.); h) Encyrtidae; i) Mymaridae; j) Scelionidae; k) Torymidae; l) Pteromalidae. 56 À família Diapriidae, contém espécies principalmente parasitóides de dípteros da família Sciaridae e Mycetophilidae (CHAMBERS, 1971). Neste trabalho, sugere-se uma associação dos diapriídeos coletados com estes dípteros, uma vez que, os exemplares dessas famílias de Diptera foram muito abundantes e como os parasitóides, ocorreram durante todo o ano, coletando-se 639 exemplares de Mycetophilidae, e 419 de Sciaridae. Em relação à família Scelionidae, a alta frequência relativa obtida neste estudo pode refletir o fato deste grupo ser endoparasitóide de ovos de diversos artrópodes, como aranhas, e insetos das ordens Orthoptera, Mantodea, Hemiptera-Heteroptera, Coleoptera e Lepidoptera (MASNER, 1995), hospedeiros também coletados na área. Esses parasitóides foram mais abundantes na área com plantas invasoras, corroborando com Mexzón e Chinchilla (1998) que mostraram que um complexo de plantas invasoras em cultivo de dendezeiro serve como refúgio aos scelionídeos. Este fato é importante em coqueiro, pois algumas espécies do gênero Telenomus parasitam o lepidóptero B. sophorae, praga importante na cultura (FERREIRA; WARWICK; SIQUEIRA, 1997). Dessa maneira, manter a vegetação espontânea no cultivo pode incrementar a população destes parasitóides ao longo do ano e contribuir para um controle natural da praga. Os altos valores faunísticos obtidos para os exemplares da família Ceraphronidae, sugerem uma associação com os grupos hospedeiros que eles parasitam, pois estes foram coletados nas armadilhas, como Diptera (principalmente as famílias Drosophilidae, Sciaridae, Syrphidae e Phoridae), Hymenoptera, Thysanoptera, Homoptera e Neuroptera (KROMBEIN et al., 1979). Neste estudo os drosophilídeos totalizaram 1.411 exemplares, e os sciarídeos 419, sendo coletados durante todo o ano, assim como, os ceraphronídeos. Em relação aos indivíduos da família Mymaridae, parasitóides de ovos, a sua elevada ocorrência pode ser justificada pela presença de seus hospedeiros, como Coleoptera, Diptera e os hemípteros das famílias Delphacidae, Membracidae e principalmente Cicadellidae (HANSON; GAULD, 2006). A maioria dos Mymaridae foi encontrada na área com plantas invasoras, que, de acordo com Mexzón e Chinchilla (1998) a presença de um complexo de plantas invasoras atua como refúgio para 57 estes parasitóides em cultivo de dendezeiro. Esse fato é importante para o coqueiro, pois várias espécies destes parasitóides são utilizadas em programas de controle biológico (HUBER, 1995). Os Eulophidae constituem um dos principais agentes controladores de insetos minadores de folhas (HANSON; GAULD, 2006) e em cultivo de coqueiro-anãoverde, algumas espécies, a exemplo de Tetrastichus e Closterocerus são parasitóides de pragas como C. brunnea (Coleoptera: Chrysomelidae), a falsabarata-do-coqueiro, e Horismenus sp. de T. cocois (Coleoptera: Brupestidae), o minador-do-folíolo. Em estudo realizado por Lawton (1986) foi recomendado o plantio de leguminosas ao redor de plantações de coqueiro, para estimular a imigração e sobrevivência de eulophiídeos que parasitam o minador-do-folíolo. A maioria dos Eulophidae coletados neste estudo ocorreu na área com plantas invasoras, fato observado também por Santos, Soglio e Rodaelli (2009) em citros ao estudarem os lepidópteros minadores e seus parasitóides em plantas invasoras em Montenegro, RS. Também Syme (1975) mostrou que a fecundidade e a longevidade de algumas espécies desses parasitóides aumentam significativamente com a presença de plantas invasoras em florescimento, e Mexzón e Chinchilla (1998) relataram que, indivíduos desta família são visitantes comuns em plantas do gênero Cassia em cultivo de dendezeiro na Costa Rica. Essa espécie esteve presente no período de amostragem deste trabalho, sugerindo que, ela pode também ter servido como fonte protéica para estes inimigos naturais, favorecendo a sua abundância. A maior abundância de Ichneumonidae foi constatada na área com plantas invasoras. Vários autores relataram a importância da vegetação espontânea em cultivos para a manutenção desses parasitóides, como Vam Endem (1965) que relatou que algumas fêmeas desses parasitóides devem se alimentar de néctar de plantas invasoras para maturar os ovos, e Syme (1975) que afirmou que a fecundidade e a longevidade de algumas espécies aumentam significativamente com a presença da planta invasora E. hirta. Nos levantamentos efetuados no período de estudo também constatou-se a presença dessa espécie na área. 58 Também Johanowicz e Mitchell (2000) estudaram os efeitos de flores de plantas invasoras no aumento da longevidade de fêmeas de Ichneumonidae. Estes estudos reforçam o fato de que a presença das plantas invasoras na lavoura de coqueiro favoreceu o incremento das populações dos ichneumonídeos. Alguns Ichneumonidae foram identificados ao nível de subfamília e gênero (Tabela 9). Tabela 9. Subfamílias e gêneros de Ichneumonidae coletados em cultura de coqueiroanão-verde, em área com plantas invasoras e roçada, no município de Linhares-ES, março/2008 a fevereiro/2009. SUBFAMÍLIA Anomaloninae GÊNERO Anomalon sp. Campopleginae Dusona sp. Microcharops sp. Não identificado Cremastinae Eiphosoma sp. Cryptinae Ichneumoninae Mesochorinae Metopiinae Colpotrochia sp. Nesomesochorinae Nonnus sp. Ophioninae Enicospilus sp. Pimplinae Tryphoninae Netelia sp. Total Área com plantas invasoras 66 66 22 18 2 2 4 4 219 80 3 9 9 3 3 5 5 9 5 5 425 Área mantida roçada 17 17 11 9 1 1 2 2 64 13 0 2 2 0 0 0 0 3 0 1 112 A subfamília Cryptinae é considerada, entre os Ichneumonidae a mais rica em espécies da região neotropical (HANSON; GAULD, 2006), sendo que, foi a mais coletada neste estudo. Esse fato provavelmente deve-se a ampla variedade de hospedeiros que estas vespas podem parasitar e que ocorreram nas amostragens, como Lepidoptera, Coleoptera e himenópteros Aculeata. Onody (2009) estudando a fauna de Ichneumonidae em horta orgânica em São Paulo observou também esta 59 subfamília como a mais abundante, assim como Kumagai e Graf (2000) em mata de araucária. De Ichneumoninae obteve-se 93 exemplares, o que pode ser justificado por essa ser também uma das maiores subfamílias de Ichneumonidae e que são parasitóides de Lepidoptera (ONODY, 2009), sendo que esta ordem de inseto esteve entre as mais frequentes neste levantamento. A espécie Pedinopelte gravenstii é relatada como parasitóide de A. cinctistriga, importante praga do coqueiro (FERREIRA; WARWICK; SIQUEIRA, 1997). Dos 83 exemplares de Anomaloninae, todos pertencentes ao gênero Anomalon. Essa ocorrência provavelmente se deveu ao fato, deste grupo parasitar larvas de Tortricidae e Noctuidae (Lepidoptera) e Buprestidae (Coleoptera) (HANSON; GAULD, 2006), famílias constatadas, sugerindo uma associação destes parasitóides com seus hospedeiros. Do total de indivíduos de Anomalon capturados, o maior número foi obtido na área com plantas invasoras. Esse fato pode ter importância para o coqueiro, pois o buprestídeo T. cocois, o minador-do-folíolo é considerado praga da cultura (FERREIRA; WARWICK; SIQUEIRA, 1997). Em relação aos Campopleginae, a maior quantidade coletada pertencia ao gênero Dusona, resultado semelhante obtido também por Sandonato et al. (2010) ao estudar a fauna da subfamília em horta orgânica em Araraquara, SP. São endoparasitóides cenobiontes principalmente de larvas de Lepidoptera, e segundo Onody (2005) são muito importantes no controle de populações de pragas agrícolas. À família Braconidae, compreende a segunda maior em número de espécies descritas entre os Hymenoptera, superada apenas por Ichneumonidae (HANSON; GAULD, 2006). A maior abundância de Braconidae foi registrada na área com plantas invasoras, o que pode ser explicado pelo fato de que adultos alimentam-se de néctar de plantas (HANSON; GAULD, 2006), que pode ter sido oferecido pelas plantas invasoras em florescimento no coqueiro, como A. conyzoides e Cassia sp., pois de acordo com Mexzón e Chinchilla (1998) em cultivo de dendezeiro elas são visitadas por várias espécies de Braconidae. Johanowicz e Mitchell (2000) verificaram que as flores de plantas invasoras aumentaram a longevidade de fêmeas 60 dos parasitóides do gênero Cotesia. Chaney (1998) cita que plantas invasoras também promovem a sobrevivência e a fecundidade do braconídeo Diaretiella rapae, um parasitóide de pulgões. Estes estudos reforçam a hipótese de que a manutenção da vegetação espontânea no cultivo de coqueiro pode ter permitido para a alta abundância de Braconidae. Durante o período de estudo foram observados indivíduos de Braconidae e Ichneumonidae forrageando e se refugiando em plantas invasoras (Figura 10). a b c d e f Figura 10. a - d) Ichneumonídeos visitando plantas invasoras; e - f) Braconídeos visitando plantas invasoras. Os Eucharitidae são parasitóides de pupas de formigas, e que apresentam comportamento interessante: as fêmeas ovipositam em uma planta hospedeira, e as larvas após a eclosão “agarram” a um inseto visitante da planta, que a leva ao formigueiro onde encontra pupas de formigas para parasitar (HERATY, 2000). Neste levantamento, todos os Eucharitidae capturados pertenciam ao gênero Kapala, que segundo Perez-Lachaud, López-Méndez e Lachaud (2006) ocorrem frequentemente na região Neotropical, e podem utilizar plantas hospedeiras da 61 família Asteraceae. Essas vespas parasitam formigas do gênero Pachycondyla, Odontomachus e Ectatoma, o que sugere uma associação dos parasitóides com as formigas Pachycondyla villosa, Odontomachus bauri e Ectatoma brunneum, que foram identificadas durante as amostragens. A elevada quantidade de parasitóides da família Encyrtidae, foi capturada na área com plantas invasoras, o que pode ser explicado por Baggen e Gurr (1998), que verificaram que fêmeas desses parasitóides necessitam de pólen e néctar para maturação dos ovos, aumentando a longevidade e a fecundidade, e consequentemente a abundância. Este fato torna-se importante em cultivo de coqueiro, haja visto, que algumas espécies desses inimigos naturais, a exemplo de Ooencyrtus reduzem cerca de 6% a 10% a população de E. daedalus (Lepidoptera: Castniidae), uma importante praga nesta cultura (FERREIRA; WARWICK; SIQUEIRA, 1997). Estudos realizados em outros cultivos também constataram índices elevados desses parasitóides (PERIOTO et al., 2002a; PERIOTO et al., 2002b; PERIOTO et al., 2004; SOUZA; BRAGA; CAMPOS, 2006). Em relação aos Figitidae, a elevada quantidade capturada neste trabalho, provavelmente deve-se ao fato da presença de seus hospedeiros que também foram coletados, como os galhadores de fabáceas, os Cynipidae e Tanaostigmatidae, os indivíduos que se associam aos parasitóides de himenópteros ou neurópteros predadores de afídeos e psilídeos, e os parasitóides de larvas de dípteros que vivem dentro das plantas ou em matéria orgânica em decomposição, principalmente as famílias de Diptera, Sacophagidae, Muscidae e Calliphoridae (ONODY, 2009). As plantas invasoras podem ter propiciado um habitat adequado aos hospedeiros dos figitídeos e consequentemente a sua ocorrência, uma vez que dos 571 exemplares capturados, mais da metade (385) foi obtido na área com plantas invasoras. 4.3.3 Ordem Diptera Foram coletados 27.466 dípteros, pertencentes a 23 famílias, dos quais 73,63% ocorreram na área com plantas invasoras e 26,37% na área mantida roçada. Os 62 índices de frequência relativa, constância e dominância relacionados a esses insetos estão na tabela 10. Tabela 10. Frequência relativa, constância e dominância famílias de Diptera, coletados nas áreas com plantas invasoras e roçada, em cultura de coqueiro-anão-verde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09. FAMÍLIAS Sciaridae Mycetophilidae Anisopodidae Stratiomyidae Tabanidae Asilidae Bombyliidae Dolichopodidae Phoridae Pipunculidae Syrphidae Micropezidae Otitidae Lonchaeidae Drosophilidae Muscidae Calliphoridae Sarcophagidae Tachinidae Tephritidae Cuterebridae Agromyzidae Chloropidae TOTAL Área com plantas invasoras N FR C 293 1.45 W 473 2.34 W 48 0.24 Y 135 0.67 W 9 0.04 Z 109 0.54 Y 34 0.17 Y 14.147 69.95 W 6 0.03 Z 386 1.91 W 302 1.49 W 561 2.77 W 34 0.17 Y 252 1.25 W 855 4.23 W 60 0.30 Y 22 0.11 Y 4 0.02 Z 2.260 11.17 W 230 1.14 W 1 0.005 Z 1 0.005 Z 2 0.01 Z 20.224 100 - D nd nd nd nd nd nd nd d nd nd nd nd nd nd d nd nd nd d nd nd nd nd - Área mantida roçada N FR C D 126 1.74 W nd 166 2.29 Y nd 9 0.12 Z nd 47 0.65 Y nd 4 0.06 Z nd 3 0.04 Z nd 3 0.04 Z nd 4835 66.76 W d 3 0.04 Z nd 54 0.75 Z nd 54 0.75 Y nd 208 2.87 W nd 11 0.15 Z nd 68 0.94 Y nd 556 7.68 W d 35 0.48 Y nd 2 0.03 Z nd Z nd 940 12.98 W d 118 1.63 W bd Z nd Z nd Z nd 7.242 100 - Total N FRT 419 1.53 639 2.33 57 0.21 182 0.66 13 0.05 112 0.41 37 0.13 18.982 69.11 9 0.03 440 1.60 356 1.30 769 2.80 45 0.16 320 1.17 1.411 5.14 95 0.35 24 0.09 4 0.01 3.200 11.65 349 1.27 1 0.001 1 0.004 2 0.01 27.466 100 N: Número de Diptera coletados; FR: Frequência relativa (%); C: Constância, W: constante, Y: acessória, Z: acidental; Dominância, sendo dominante (d) e não dominante (nd); FRT: frequência relativa do total de Diptera coletados nas duas áreas. Comparando-se o número de famílias que ocorreram nas duas áreas, observa-se que a área com as plantas invasoras apresentou 23 famílias enquanto que, na área mantida roçada o número foi de 19, sendo que exemplares das famílias Sarcophagidae, Cuterebridae, Agromyzidae e Chloropidae não ocorreram na área mantida roçada. Entretanto, o número desses indivíduos coletados foi baixo na área 63 com plantas invasoras, e, todos os exemplares das demais famílias obtiveram maior abundância na área com plantas invasoras. Exemplares de algumas famílias capturados neste levantamento estão ilustrados na figura 11. 8 mm 7 mm a 11 mm b e 13 mm f 9 mm 12 mm c 11 mm d g 13 mm h Figura 11. a) Dolichopodidae; b) Sciaridae; c) Drosophilidae; d) Syrphidae; e) Pipuncilidae; f) Azilidae; g) Tachinidae; h) Micropezidae. As famílias que apresentaram maiores valores de frequência relativa foram Dolichopodidae, Tachinidae, Drosophilidae, Micropezidae, Mycetophilidae, Pipunculidae, Syrphidae e Sciaridae para as duas áreas, com exceção de Pipunculidae e Syrphidae que não foram tão frequentes na área mantida roçada. As demais famílias representaram 4,69% e 5,68%, respectivamente, para as áreas com plantas invasoras e roçada, fato esse também constatado por Benassi e Raga (2009) em cultivo de café para as famílias Tachinidae e Dolichopodidae, e por Silva (2005) em cultura de Pinus taeda para a família Dolichopodidae. A elevada quantidade de Dolichopodidae (Figura 12 b) capturada neste estudo pode ser explicada pelo fato desses insetos serem atraídos por armadilhas de bandeja amarela, dispostas em lugares sombreados (HOBACK et al., 1999) podendo ser encontrada na vegetação, nas folhagens de campo e jardins, e ainda algumas ocorrem em locais razoavelmente secos. Além disso, apresentam o hábito 64 predatório, principalmente de coleópteros das famílias Scolytidae, Elateridae e Scarabaeidae (SMITH; EMPSON, 1955) e Brooks (2005) afirmou que os adultos se alimentam de larvas de Diptera, Collembola, pulgões, tripes, ácaros e pequenas lagartas. A segunda família com maior número de indivíduos capturados na área foi Tachinidae (Figura 12 a), que de acordo com Toma e Nihei (2006), é a segunda em diversidade e importância ecológica como parasitóides, e para o coqueiro-anãoverde, várias espécies são citadas como importantes agentes de controle de pragas, a exemplo de Paratheresia menezesi e Parabilaea rhynchophorae relatadas por Ferreira, Warnick e Siqueira (1997) no controle das coleobrocas R. palmarum e Metamazius sp., Winthenia pingüins parasitóide de B. sophorae, e Plagiotachina sp. e Sturmia sp. que parasitam A. cinctistriga, lepidópteros pragas em coqueiro. A presença de plantas invasoras na cultura pode ter favorecido um ambiente adequado para a manutenção de populações de taquinídeos, uma vez que, o maior número de exemplares foi observado nessa área. Adultos desses insetos necessitam diariamente de alimento açucarado fornecido por flores, conforme observado por Topham e Beardsley (1975) para Lixophaga sphenophori, parasitóide da broca-da-cana-de-açúcar, que se alimenta de E. hirta. Além disso, a heterogeneidade do ambiente oferecida pela vegetação espontânea no cultivo amplia os locais de refúgio para esses insetos (ALTIERI et al, 1981). Os insetos pertencentes à família Drosophilidae alimenta-se de grande variedade de substratos orgânicos, como frutos em decomposição, flores, fungos, raízes, entre outros (TRIPLEHORN; JOHNSON, 2005) A presença das plantas invasoras e de frutos de coqueiro em decomposição que ocorriam no solo podem ter servido como locais para alimentação e oviposição desses dípteros, corroborando com Araújo e Valente (1981) que relataram que algumas espécies desses insetos alimentam-se de frutos de palmeiras em decomposição e flores de plantas das famílias Asteraceae e Convolvulaceae, também constatadas neste estudo. À família Micropezidae (Figura 12 c) ocupou a quarta posição em relação às demais coletadas na área com plantas invasoras. São escassas as informações sobre esses 65 dípteros. Smith (1978) relatou o hábito predatório dos adultos e segundo Merrit e James (1973) eles alimentam-se de pulgões. Entretanto, Savage (2002) afirmou que esses insetos alimentam-se de material vegetal e excrementos de animais. Em relação à família Sciaridae e Mycetophilidae, a elevada abundância neste estudo deve-se ao fato destes insetos serem encontrados geralmente em lugares úmidos e sombrios, onde as larvas e adultos geralmente se alimentam de material vegetal em decomposição, excreções de animais ou fungos, podendo algumas espécies alimentarem-se de raízes e tecidos dos caules, além de nectários de asteráceas (DELEPORTE; ROULAND, 1991). À família Pipunculidae, as larvas são endoparasitóies de várias famílias de Hemiptera-Auchenorryncha, especialmente adultos e ninfas de Delphacidae, Cicadellidae, Cercopidae, Membracidae, Issidae, Cixiidae e Flatidae (HUQ, 1984), sugerindo uma associação com seus hospedeiros, principalmente das famílias Cicadellidae, Cercopidae e Membracidae, as mais coletadas neste levantamento. Além disso, o mesmo autor afirmou que adultos destes insetos alimentam-se de excreções açucaradas como néctar de plantas e “honeydew”, o que provavelmente justificou o maior número capturado na área com plantas invasoras. Durante o período de estudo observaram-se larvas de Syrphidae predando pulgões (Figura 12 f) que infestavam as plantas invasoras e adultos visitando as flores (Figura 12 d, e). Estes fatores podem, provavelmente, justificar o número elevado de exemplares capturados. Também Somaggio (1999) afirmou que adultos de sirfídeos alimentam-se, basicamente de pólen e néctar e Weems (1954), Tenhumberg e Poehling (1995) relataram o hábito predatório das larvas sobre afídeos. Para o coqueiro, a presença desses insetos pode ser relevante, visto que, o pulgão-pretodo-coqueiro, C. brasiliensis é uma praga importante para a cultura (ADRIAN, 2006). 66 a b c d e f Figura 12. a) adulto de Tachinidae em planta invasora; b) adulto de Dolichopodidae em Sida sp.; c) adulto de Micropezidae em planta invasora; d) adulto de sirfídio visitando planta invasora; e) adultos de sirfídio visitando flor de planta invasora; f) imaturo de sirfídio coletado em B. pilosa se alimentando de pulgões. 4.3.4 Ordem Hemiptera Um total de 5.542 exemplares de hemípteros foi coletado, sendo que, destes, 66,11% ocorreram na área com plantas invasoras e 33,78% na área mantida roçada. Os valores de frequência relativa, constância e dominância, das famílias desses insetos encontram-se na tabela 11. O total de famílias de Hemiptera capturados foi semelhante em ambas as áreas amostradas, 21 e 22, respectivamente para a área com plantas invasoras e roçada. As famílias Delphacidae, Aethalionidae e uma não identificada, não foram capturadas na área com plantas invasoras, e Derbidae e Scutelleridae não ocorreram na mantida roçada, entretanto, o número de exemplares destas famílias foi baixo. As demais famílias apresentaram maior número de indivíduos na área com plantas invasoras. 67 Tabela 11. Frequência relativa, constância e dominância das famílias de Hemiptera, coletados nas áreas com plantas invasoras e roçada, em cultura de coqueiro-anãoverde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09. FAMÍLIAS Cicadidae Derbidae Cercopidae Membracidae Cicadelidae Fulgoridae Delphacidae Aethalionidae Psylidae Aphididae Pentatomidae Scutelleridae Coreidae Pyrrhocoridae Largidae Lygaeidae Tingidae Reduviidae Miridae Phymatidae Anthocoridae Aradidae Ploiariidae TOTAL Área com plantas invasoras N FR C 5 0.14 Z 4 0.11 Z 244 6.66 W 116 3.17 W 987 26.94 W 6 0.16 Z 5 0.14 Z 1.532 41.81 W 9 0.25 Z 2 0.05 Z 100 2.73 W 28 0.76 Z 40 1.09 Y 390 10.64 W 35 0.96 Y 17 0.46 Y 71 1.94 Y 8 0.22 Z 32 0.87 Z 19 0.52 Z 14 0.38 Z 3.664 100 - D nd nd d nd d nd nd d nd nd nd nd nd d nd nd nd nd nd nd nd - Área mantida roçada Total N FR C D N FRT 1 0.05 Z nd 6 0.11 - 4 0.07 80 4.26 W nd 324 5.85 111 5.91 W d 227 4.10 669 35.62 W d 1.656 29.88 2 0.11 Z nd 8 0.14 1 0.05 Z nd 1 0.02 1 0.05 Z nd 1 0.02 5 0.27 Z nd 10 0.18 747 39.78 W d 2.279 41.12 3 0.16 Z nd 12 0.22 - 2 0.04 44 2.34 Y nd 144 2.60 34 1.81 Y nd 62 1.12 3 0.16 Z nd 43 0.78 116 6.18 W d 506 9.13 22 1.17 Y nd 57 1.03 3 0.16 Z nd 20 0.36 22 1.17 Y nd 93 1.68 3 0.16 Z nd 3 0.05 2 0.11 Z nd 10 0.18 4 0.21 Z nd 36 0.65 4 0.21 Z nd 23 0.42 1 0.05 Z nd 15 0.27 1.878 100 - - 5.542 100 N: Número de hemípteros capturados; FR: Frequencia relativa (%); C: Constância, W: constante, Y: acessória, Z: acidental; Dominância, sendo dominante (d) e não dominante (nd); FRT: frequencia relativa do total de hemípteros coletados nas duas áreas. A maioria dos insetos da Ordem Hemiptera é fitófaga, sendo muitos deles considerados pragas importantes de diversas culturas, e outros são predadores de artrópodes (GALLO et al., 2002). Para a cultura do coqueiro algumas espécies são consideradas pragas, dentre elas citam-se, a cochonilha-transparente-do-coqueiro, A. destructor, e o pulgão-preto-do-coqueiro, C. brasiliensis. Também são relatados os percevejos Lincus lobulliger, L. cropius, L. apollo e L. dentinger (Pentatomidae) como transmissores do protozoário Phytomonas sp. causador da doença mucha-dePhytomonas (FERREIRA; WARNICK; SIQUEIRA, 1997). Entretanto, apenas a 68 espécie C. brasiliensis foi coletada nas armadilhas, sendo que, as outras não foram constatadas. Dessa maneira, os hemípteros fitófagos capturados deveriam estar alimentando-se das plantas invasoras na área e consequentemente, sendo utilizados como hospedeiros e presas para os seus inimigos naturais. Os resultados encontrados neste estudo corroboram com Brombal (2001), que realizando levantamento da influência de plantas invasoras na entomofauna olerícola em São Roque, SP verificou que a maioria dos hemípteros capturados não se constituiu praga para o cultivo avaliado. Também Nunes (2009) estudando a fauna de insetos em agroecossistema vimeiro sob influência de plantas invasoras em Lages, SC verificou baixo índice desses insetos no cultivo. A maior ocorrência de hemípteros na área com plantas estão de acordo com Root (1973), que relatou que populações de pragas podem ser diretamente influenciadas pela concentração ou dispersão espacial de suas plantas hospedeiras, assim, principalmente as específicas, têm maior probabilidade de encontrar e colonizar aquelas plantas adensadas que estariam fornecendo recursos concentrados, como nas monoculturas. O autor afirma que, quanto mais baixa a concentração das plantas hospedeiras, mais difícil será para a praga localizá-la ou maior poderá ser a probabilidade dela migrar. A baixa constatação de hemípteros pragas neste levantamento pode estar refletindo esse padrão. As famílias que apresentaram maiores valores de frequência relativa para as duas áreas foram Aphididae, Cicadellidae, Lygaeidae, Cercopidae e Membracidae, sendo que, as demais famílias representaram 10,78% e 8,25% para as áreas com plantas invasoras e roçada, respectivamente. Alguns exemplares da ordem Hemiptera que ocorreram neste estudo estão ilustrados na figura 13. 69 2 mm a 1 mm b 0,5 mm d 2 mm e 2 mm g 2,3 mm 1 mm 5 mm c f h Figura 13. a) Aphididae; b) Cicadellidae; c) Cercopidae; d) Membracidae; e) Lygaeidae; f) Ploiariidae; g) Coreidae; h) Reduviidae. Os índices faunísticos elevados observados para as famílias Cicadellidae, Cercopidae e Membracidae, provavelmente foram devido à presença de plantas invasoras e de gramíneas, haja visto que, a maioria deles vive gregariamente nos galhos de arbustos, folhas de plantas e flores (BORROR; DELONG, 1989). Muitas espécies são citadas como pragas em muitas plantas cultivadas, entretanto, para a cultura do coqueiro não existem relatos. A invasora L. camara constatada neste levantamento pode ter contribuído para a ocorrência dessas cigarrinhas, também observado por Mexzón e Chinchilla (1998), aos quais relataram ser visitantes comuns da espécie. À família Lygaeidae foi dominante e constante durante o período de estudo, sendo que o maior número de exemplares ocorreu na área com plantas invasoras. A maioria desses insetos apresenta hábito fitófago e algumas espécies são predadoras, geralmente encontradas em plantas invasoras e gramíneas. Poucas espécies apresentam hábito hematófago (BORRO; DE LONG, 1988). A presença de 70 plantas invasoras e presas provavelmente serviu como hospedeiros para a ocorrência destes insetos. Em relação à família Aphididae, dos 2.279 exemplares capturados, foi possível identificar 1.919 exemplares pertencentes a 4 espécies (Tabela 12). Tabela 12. Espécies de afídios coletados em cultura de coqueiro-anão-verde, em Linhares, ES, março/2008 a fevereiro/2009. Espécies Total coletado - número Cerataphis brasiliensis 943 Aphis gossypii 477 Aphis spiraecola 354 Myzus persicae 145 Total 1.919 Das espécies identificadas, apenas C. brasiliensis (Figura 14) é considerada praga do coqueiro. De acordo com Ferreira, Warwick e Siqueira (1997), este pulgão, em coqueiros jovens, provoca atraso no desenvolvimento da planta e, consequentemente, retardo do início de produção, e em coqueiros safreiros, provoca abortamento de flores femininas, queda de frutos pequenos e/ou em desenvolvimento. Além disso, permite a ocorrência de fumagina que reduz a taxa fotossintética da planta e consequentemente, a produção. Os maiores danos do pulgão são decorrentes do ataque à inflorescência em formação, retardando seu desabrochamento, sendo que este tipo de ataque estimula a exploração das flores pelo besouro curculionídeo P. obesulus e pela mariposa H. ptychis, espécies também constatadas neste estudo. Figura 14. Cerataphis brasiliensis em folha de coqueiro-anão-verde, em Linhares-ES. 71 As demais espécies de afídeos coletadas não estão registradas na literatura como prejudiciais para o coqueiro-anão-verde, desta forma, a sua ocorrência provavelmente possa ser justificada pelas plantas invasoras que ocorreram no cultivo, pois, segundo Evans e Halbert (2007) todas as espécies de plantas coletadas neste estudo são hospedeiras destes pulgões. Por outro lado, é importante mencionar que, também foi constatada a presença de algumas famílias de percevejos predadores, em número mais elevado na área com plantas invasoras, a exemplo da Família Reduviidae, Anthocoridae e Ploiariidae, provavelmente pela ocorrência de presas (BORROR; DE LONG, 1988). Além disso, as espécies B. pilosa e Alternanthera sp. podem ter propiciado a presença dos antocorídeos, concordando com Silveira et al. (2003) que relataram a sua ocorrência nessas invasoras nas culturas de milho, soja e alface. Thompson (1999) afirmou que espécies destes insetos alimentam-se de pólen e néctar de plantas invasoras na ausência de suas presas, o que também pode justificar a maior incidência destes predadores na área com plantas invasoras. 4.3.5 Ordem Coleoptera Foram coletados 4.638 exemplares de coleópteros distribuídos em 26 famílias, sendo que deste total, 68,37% ocorreram na área com plantas invasoras e 31,63% na área mantida roçada. Os índices de frequência relativa, constância e dominância, das famílias de coleópteros obtidas estão registrados na tabela 13. Comparando-se o número de famílias que ocorreram nas duas áreas, observa-se que, naquela com a presença de plantas invasoras estiveram presentes 26 famílias enquanto que, na mantida roçada, 22, com ausência de Bruchidae, Hydrophilidae, Orthoperidae e Phalacridae. As famílias que apresentaram os valores faunísticos de frequência relativa elevados foram Curculionidae, Staphilinidae, Chrysomelidae, Coccinellidae, Erotylidae, Scolytidae, Dasytidae, Carabidae e Lagriidae. As demais famílias representaram 72 conjuntamente, 12,99% e 8,65%, respectivamente, na área com plantas invasoras e roçada. Tabela 13. Frequência relativa, constância e dominância das famílias de Coleoptera, coletados nas áreas com plantas invasoras e roçada, em cultura de coqueiro-anãoverde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09. FAMÍLIAS Anthribidae Bruchidae Buprestidae Cantharidae Carabidae Cerambycidae Chrysomelidae Cicindelidae Coccinellidae Curculionidae Dasytidae Dytiscidae Erotylidae Hydrophilidae Lagriidae Lampyridae Lycidae Mordellidae Nitidulidae Orthoperidae Phalacridae Pselaphidae Scarabaeidae Scolytidae Silphidae Staphylinidae TOTAL Área com plantas invasoras N FR C 22 0.69 Y 4 0.13 Z 18 0.57 Y 2 0.06 Z 93 2.93 W 2 0.06 Z 532 16.78 W 113 3.56 W 410 12.93 W 579 18.26 W 110 3.47 W 9 0.28 Z 347 10.94 W 4 0.13 Z 89 2.81 W 5 0.16 Z 26 0.82 Y 18 0.57 Y 12 0.38 Z 1 0.03 Z 2 0.06 Z 14 0.44 Z 68 2.14 W 143 4.51 W 3 0.09 Z 545 17.19 W 3.171 100 - D nd nd nd nd nd nd d nd nd d nd nd d nd nd nd nd nd nd nd nd nd nd d nd d - Área mantida roçada Total N FR C D N FRT 7 0.48 Z nd 29 0.63 4 0.09 4 0.27 Z nd 22 0.47 1 0.07 Z nd 3 0.06 24 1.64 Y nd 117 2.52 4 0.27 Z nd 6 0.13 181 12.34 W d 713 15.37 25 1.70 Y nd 138 2.98 192 13.09 W d 602 12.98 379 25.84 W d 958 20.66 80 5.45 W d 190 4.10 2 0.14 Y nd 11 0.24 155 10.57 W d 502 10.82 4 0.09 52 3.54 W nd 141 3.04 2 0.14 Z nd 7 0.15 9 0.61 Z nd 35 0.75 3 0.20 Z nd 21 0.45 3 0.20 Z nd 15 0.32 1 0.02 2 0.04 1 0.07 Z nd 15 0.32 39 2.66 W nd 107 2.31 81 5.52 W d 224 4.83 3 0.20 Z nd 6 0.13 220 15.00 W d 765 16.49 1.467 100 - 4.638 100 N: Número de coleópteros capturados; FR: Frequencia relativa (%); C: Constância, W: constante, Y: acessória, Z: acidental; Dominância, sendo dominante (d) e não dominante (nd); FRT: frequencia relativa do total de coleópteros coletados nas duas áreas. A família Curculionidae foi a mais abundante neste estudo, provavelmente porque, segundo Gallo et al. (2002) dentre as famílias da ordem Coleoptera, ela é a que apresenta o maior número de espécies descritas. Dos 958 exemplares capturados, 73 foram identificados onze gêneros, sendo quatro identificadas ao nível de epécie (Tabela 14). Tabela 14. Espécies de curculionídeos coletados em cultura de coqueiro-anão-verde, no município de Linhares, ES, março/2008 a fevereiro/2009. Gênero / Espécie Parisoschoenus obesulus Andranthobius bondari Metamasius hemipterus Apion sp. Baris sp. Sibariops sp. Sitophilus zeamais Conotrachelus sp. Auletes sp. Sibinia sp. Anthonomus sp. Total Número de indivíduos 415 293 88 65 41 14 10 13 13 3 3 958 A espécie P. obesulus (Figura 15 i) conhecida como “gorgulho das flores e frutos”, foi a mais coletada entre os curculionídeos e ocorreu durante o ano todo. Este inseto é citado como uma importante praga para o coqueiro-anão-verde, pois as larvas desenvolvem-se sob as brácteas dos frutos e flores, construindo galerias e, consequentemente, provocando sua queda nos primeiros estágios de desenvolvimento. Em condições de altas infestações, pode ocorrer a queda de frutos próximos à colheita, sendo que as perdas em coqueirais em produção podem ser muito significativas (FERREIRA; WARNICK; SIQUEIRA, 1997). Contudo, há controvérsias entre estudos sobre o ataque de P. obesulus em coqueiro, pois, segundo observações em campo, realizadas por Moura e Vilela (1998), este inseto ataca somente frutos em processo de abortamento. Também Moura et al. (2009), verificaram, em condições de laboratório, que estes gorgulhos só ovipositam em frutos em processo abortivo, não constituindo praga para o coqueiro. A ocorrência de A. bondari pode ser justificada pelo fato desta espécie estar associada a flores de palmeiras, sendo que Santos et al. (2003) coletaram 87 74 exemplares desta espécie em palmeiras nativas da Amazônia e Storti (1993) e afirmaram ser um importante polinizador na palmeira buriti. Também neste estudo observou-se a sua presença nas inflorescências das plantas de coqueiro. A espécie M. hemipterus (Figura 15 h) foi a terceira mais coletada e provavelmente ocorreu na área por estar associada a várias plantas hospedeiras como cana-deaçúcar, coqueiro, bananeira e gramíneas, e foi registrada em diversos estados brasileiros, inclusive o Espírito Santo (SILVA; MARTINS-SILVA, 1991). Estes mesmos autores relataram ser a espécie, vetora da doença do anel vermelho causada pelo nematóide Rhadinaphelenchus cocophilus. Entretanto, a ocorrência de M. hemipterus neste levantamento, não indica, necessariamente, que o mesmo constitui ameaça no coqueiral avaliado, uma vez que, próximo ao cultivo de coqueiro avaliado, havia uma cultura de bananeira e de cana-de-açúcar. Todavia, vale salientar que a presença destas culturas adjacentes, pode favorecer a dispersão destes besouros para o coqueiral, podendo desta forma favorecer a sua disseminação no cultivo. Apesar do coqueiro-anão-verde ser atacado por várias espécies de curculionídeos, as demais espécies capturadas não estão registradas na literatura como praga para a cultura. Provavelmente a presença de plantas invasoras pode ter servido como sítios para alimentação e sobrevivência destes gorgulhos, justificando a sua ocorrência, pois Mexzón e Chinchilla (1998) relataram que várias espécies de Curculionidae são visitantes comuns na planta invasora L. camara em cultivo de dendezeiro. Com relação ao gênero Conotrachelus, Boscán e Cásares (1980) relataram que estes insetos podem sobreviver em raízes, caules, brotações ou frutos de diversas plantas; Baris é relatado como indutor de galhas (MANI, 1964). O gênero Apion ocorre em inflorescências e sementes de leguminosas (VALÉRIO et al., 2008). Sibinia foi relatado em copa de palmeira nativa na região da Amazônia por Santos et al. (2003). A alta abundância de exemplares da família Staphylinidae, provavelmente deveu-se à ampla variedade de nichos que estes insetos utilizam como matéria orgânica em decomposição, fungos, e presas, uma vez que, tanto os adultos como as larvas podem ser saprófagos, alguns são predadores, outros são encontrados 75 frequentemente dentro da corola das flores, alimentando-se de pólen, algumas espécies são fungívoras ou ainda fitófagos (BORROR; DE LONG, 1988). A maior ocorrência desses insetos ocorreu na área com plantas invasoras, fato este considerado um fator importante para o cultivo de coqueiro, pois segundo Pfiffner e Luka (2000), muitos são predadores com potencial para o controle biológico e manejo integrado de pragas. A família Coccinellidae, besouros conhecidos como “joaninhas”, foi a quarta mais coletada entre os coleópteros deste estudo, com 602 exemplares, de seis espécies e oito gêneros (Tabela 15). As espécies foram representadas pelas predadoras: Azya luteipes, Colleomegilla maculata, Pentilia egena, Cycloneda sanguinea, Coccidophilus citricola, Stethorus sp. e Symnus (Pullus) sp., e a espécie micófaga Psyllobora confluens. Tabela 15. Espécies de coccinelídeos coletados em cultura de coqueiro-anão-verde, no município de Linhares, ES, março/2008 a fevereiro/2009. Espécie / Gênero Cycloneda sanguinea Coccidophilus citricola Pentilia egena Psyllobora confluens Colleomegilla maculata Scymnus (Pullus) sp. Stethorus sp. Azya luteipes Total Área com plantas invasoras 90 60 52 17 13 138 31 12 413 Área mantida roçada 41 27 18 6 1 83 9 3 188 Resultados semelhantes foram encontrados por Shuber et al. (2008), em cultivo de pessegueiro, por Silva (2005), em pinus, Fadini et al. (2005), em vinhedo, Benassi e Raga (2009), em café e Barbosa et al. (2003), em goiaba, quando estes autores verificaram uma maior abundância de coccinelídeos em área com cobertura vegetal com invasoras. Segundo van Emden (1965) e Altieri (1988) flores de plantas invasoras são importantes fontes de alimento para vários insetos predadores, sendo o pólen uma fonte significativa de alimentos para muitas joaninhas, servindo para muitas espécies 76 de alimento ao estágio de vida em que não apresentam hábito entomófago, e para outras, podem representar suplemento às presas de qualidade inferior, fato este que pode ter justificado a maior incidência de joaninhas na área com invasoras neste estudo. Além disso, Segundo Altieri (2002) plantas da família Asteraceae e Fabaceae também podem ser utilizadas para alimentação, acasalamento e abrigo para muitas joaninhas. Neste estudo, as espécies da família Asteraceae, conhecidas como apaga-fogo, trapoeraba, guanxuma, fedegoso-peludo e o gervão foram as que ocorreram floridas na maioria dos meses do ano, coincidindo com maior presença de joaninhas, corroborando com Wyss (1995), que constatou maior número desses insetos durante o período de florescimento de plantas invasoras. Outro fator que pode ter contribuído para a ocorrência dos coccinelídeos foi a presença de pulgões em muitas das espécies de invasoras amostradas, corroborando com Elliott et al. (1998) que, verificaram em plantio de trigo nos Estados Unidos, um incremento na abundância, riqueza e diversidade das populações de predadores de afídeos com o aumento da diversidade da vegetação. As espécies de joaninhas mais abundantes para ambas as áreas foram Symnus (P.) sp., seguida de C. sanguinea e C. citricola. As espécies menos coletadas foram P. egena, Stethorus sp., P. confluens, A. luteipes e C. maculata resultados semelhantes aos obtidos em algodoeiro e citros onde ocorreu maior abundância das joaninhas Scymnus sp. seguida de C. sanguinea (MICHELOTTO et al., 2003; SANCHES et al., 2002). Os picos populacionais mais elevados de Scymnus. (P.) sp. ocorreram nos meses de outubro e fevereiro, época de maior incidência de afídeos na cultura. As espécies deste gênero são principalmente afidófagas (HODEK, 1973; TAWFIK et al., 1973; NARANJO et al.,1990), e foram relatadas para a cultura de coqueiro predando afídeos (VEIGA et al., 1975). Além disso, no mês de outubro, ocorreu alta frequência da invasora B. pilosa, que segundo Schuber et al. (2007), é uma planta hospedeira destes insetos. 77 A espécie C. sanguinea (Figura 15 d) foi a segunda de maior ocorrência, também tendo seu pico populacional em outubro, sendo que neste mês, foi observada uma maior abundância da invasora A. conyzoides, coincidindo com estudos de Santos e Pinto (1981), os quais relataram a presença de até 22 larvas de C. sanguinea por planta, e mesmo considerando esta espécie de coccinelídeo polífaga, estudos conduzidos por Moraes, Porto e Braun (1995) e Silva, Gonçalves e Galvão (1968) mostraram que tem preferência alimentar por afídeos. C. citricola, foi a terceira espécie mais abundante, sendo que, esta joaninha é considerada uma das principais predadoras de dispidídeos (SILVA et al., 2003), fato importante em coqueiro, uma vez que, a cochonilha A. destructor, é responsável por grandes prejuízos para esta cultura (SILVA et al., 1968). Apesar das espécies P. egena, Stethorus sp., A. luteipes, P. confluens e C. maculata, terem sido menos abundantes na cultura, a ocorrência destas espécies é importante em coqueiro, visto que P. egena é uma importante espécie predadora de cochonilhas (SILVA et al., 1968); A. luteipes tem sido muito utilizada em programas de controle biológico de A. destructor e outros diaspidídeos (BARTLETT, 1978), e embora a espécie P. confluens ser micófaga, já foi relatada em cultivo de citros e feijão alimentando-se de doenças fúngicas. A espécie Stethorus sp. alimenta-se exclusivamente de ácaros (ROY; BRODEUR; CLOUTIER, 2005), fato importante para o coqueiro, pois o mesmo é atacado por um complexo destes artrópodes. Colleomegilla maculata, preda, principalmente de aleirodídeos e afídeos, e apesar de pouco coletada, 92,86 % foi representada na área com plantas invasoras, fato que pode ser explicado por Weeden, Shelton e Hoffmann (2008) que afirmaram que o pólen pode constituir até 50% da dieta alimentar desse coccinelídeo, e estudos conduzidos por Agarwala e Dixon (1992) mostraram que a presença de plantas invasoras da família Euphorbiaceae em cultivo agrícolas pode reduzir o canibalismo de ovos e larvas para esta espécie de joaninha, contribuindo dessa maneira para a o aumento de suas populações em cultivos. 78 Os besouros da família Chrysomelidae, são fitófagos (Figura 15 a – c), conhecidos popularmente como “vaquinhas”, e muito frequente em levantamentos, cujos adultos alimentam-se principalmente de folhas e flores (BORROR; DE LONG, 1988). Várias espécies são pragas importantes em diversas culturas (ÁVILA, 1999). Para o coqueiro apenas as espécies H. tristis (inseto-rodilha-do-coqueiro) e C. brunnea (falsa-barata-do-coqueiro), são consideradas pragas (FERREIRA; WARWICK; SIQUEIRA, 1997), entretanto, estas não foram coletadas neste estudo. Laumann (2004), realizando levantamento de crisomelídeos pragas em cultivo de abóbora e milho em Brasília, DF constataram diversas espécies que não foram consideradas pragas, e atribuíram a sua presença relacionada às plantas invasoras fornecedoras de alimento. Em relação à Erotylidae, a sua alta abundância pode ser justificada pela presença de fungos em matéria orgânica em decomposição, bem como frutos de coqueiro, uma vez que, Borror e De Long (1988) afirmaram que estes insetos são frequentemente coletados em locais com presença de matéria orgânica que tenham abundância de fungos decompositores. A ocorrência da família Dasytidae, pode ser justificada pela presença de plantas invasoras em florescimento, pois de acordo com Borror e De Long (1988) os adultos destes insetos são comumente coletados em flores. Também Brombal (2001) estudando a fauna de artrópodes associados a plantas invasoras em agroecossistemas olerícolas orgânicos e convencionais no município de São Roque, SP observou dominância desses insetos nos dois agroecossistemas. A presença de insetos da família Carabidae (Figura 15 g) em coqueiro é de extrema importância, pois estes insetos são predadores, estando incluídos entre suas presas, os afídeos e larvas de lepidópteros (HOLLAND; LUFF, 2000), sendo algumas espécies, pragas de coqueiro. Fator relevante foi a constatação de maior número de indivíduos ocorrendo na área com plantas invasoras, o que pode possibilitar a sua manutenção na cultura e auxiliar no controle natural das pragas do coqueiro, pois, de acordo com French e Loreau (2001) a presença de habitats alternativos tem sido considerado componente importante dos agroecossistemas, por favorecerem elevada densidade de carabídeos. 79 Os exemplares da família Lagriidae, pertenciam à espécie Lagria villosa (Figura 15 e, f), popularmente conhecido como “idiamin”, um coleóptero nativo da África que foi introduzido no Brasil em 1976, no estado do Espírito Santo. É uma espécie cosmopolita, estando presente em cultivos de inúmeras espécies vegetais, como, café, soja, feijão, milho e hortaliças em geral (LIZ et al., 2009). Em coqueiro não há registros de danos causados por este inseto, assim provavelmente, ou estavam alimentando-se das plantas invasoras presentes no cultivo, ou da matéria orgânica, uma vez que, foram observados nessas plantas durante as amostragens. a d 16 mm g c b e 12 mm f h 3 mm i Figura 15. a) Adulto de Chrysomelidae visitando a planta invasora S. cayenensis; b) Adulto de crisomelídeo visitando flores de A. conyzoides; c) Adultos de crisomelídeos em cópula em plantas invasora; d) adulto de C. sanguinea visitando flores de A. conyzoides; e) e f) adulto de L. villosa visitando flores de plantas invasoras; g) adulto de Carabidae; h) adulto de M. hemipterus; i) adulto de P. obsesulus. 80 4.3.6 Ordem Lepidoptera Coletou-se 1.620 exemplares de lepidópteros, sendo que, destes, 73,09% ocorreram na área com plantas invasoras e 26,73% na área mantida roçada. Os índices de frequência relativa, constância e dominância, das famílias de lepidópteros coletados estão relacionados na tabela 16. Tabela 16. Frequência relativa, constância e dominância das famílias de Lepidoptera, coletados nas áreas com plantas invasoras e roçada, em cultura de coqueiro-anãoverde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09. Área com plantas invasoras FAMÍLIAS Arctiidae Amatidae Brassolidae Danaidae Geometridae Gelechiidae Gracilariidae Heliconiidae Hesperiidae Noctuidae Notodontidae Papilionidae Pieridae Pterophoridae Pyralidae Saturniidae Satyridae Sphingidae Tortricidae Uraniidae TOTAL Área mantida roçada Total N FR C D N FR C D 4 6 3 3 84 269 21 4 9 19 55 2 6 122 232 46 267 13 3 16 1.184 0.34 0.51 0.25 0.25 7.09 22.72 1.77 0.34 0.76 1.60 4.65 0.17 0.51 10.30 19.59 3.89 22.55 1.10 0.25 1.35 100 Z Z Z Z Z W Z Z Z Z Y Z Z Z W Z W Z Z Z - nd nd nd nd d d nd nd nd nd nd nd nd d d nd d nd nd nd - 3 4 2 2 180 15 2 1 16 1 133 68 4 2 433 0.69 0.92 0.46 0.46 41.57 3.46 0.46 0.23 3.70 0.23 30.72 15.70 0.92 0.46 100 Z Z Z Z W Z Z Z Z Z W W Z Z - nd nd nd nd d nd nd nd nd nd d d nd nd - N FRT 7 0.43 10 0.62 5 0.31 3 0.19 86 5.31 449 27.72 36 2.22 4 0.25 11 0.68 20 1.23 71 4.38 3 0.19 6 0.37 122 7.53 365 22.53 46 2.84 336 20.74 19 1.17 3 0.19 18 1.11 1.620 100 N: Número de Lepidoptera coletados; FR: Frequência relativa (%); C: Constância, W: constante, Y: acessória, Z: acidental; Dominância, sendo dominante (d) e não dominante (nd); FRT: frequência relativa do total de Lepidoptera coletados nas duas áreas. Cerca de 20 famílias de lepidópteros foram obtidas na área com plantas invasoras e 14 na área mantida roçada. Os exemplares das famílias Danaidae, Heliconiidae, Pieridae, e Tortricidae não ocorreram na área roçada, embora o número de 81 exemplares capturados destas famílias terem sido baixo na área com plantas invasoras. Interessante observar, que as famílias Pterophoridae e Saturniidae também não ocorreram na área roçada, entretanto, o número de exemplares destas famílias pode ser considerado alto na área com plantas invasoras, com mais de 90% dos exemplares capturados em setembro, o que pode ser justificado pela elevada abundância de plantas invasoras nesse mês. As famílias com os índices mais elevados de frequência relativa foram Gelechiidae, Satyridae, Pyralidae, Pterophoridae, Geometridae, Notodontidae, Saturniidae e Gracilaridae, sendo mais comuns, ou seja, que apresentaram os valores de constância e dominância combinados em ambas as áreas as três primeiras. A presença constante de exemplares de Pyralidae e Gelechiidae, provavelmente deveu-se ao fato de que esses insetos são minadores de plantas, além das famílias Gracillariidae, Nepticulidae, (HESPENHEIDE, 1991; BYERS, 2002), Noctuidae, e Tortricidae (CARLETTI, 2004), que ocorreram em maior número na área com plantas invasoras. Santos et al. (2009) estudando os lepidópteros minadores de plantas invasoras em cultura de citros, registraram a presença de 332 indivíduos, distribuídos em 11 espécies, pertencentes às famílias Gracillariidae, Gelechiidae, Acrolepiidae, Nepticulidae, Tischeriidae e uma não identificada. Segundo esses autores, as principais plantas invasoras utilizadas pelas mariposas foram Ipomoea sp., Desmodium sp. e Sida sp., o que pode sugerir uma associação com os exemplares capturados neste estudo com estas plantas, considerando-se que estas estiveram presentes neste levantamento. A espécie H. ptychis, conhecida como “traça-dos-cocos-novos”, pertence à família Pyralidae e é considerada uma das pragas-chave para a cultura de coqueiro, uma vez que, as lagartas destas mariposas desenvolvem-se nas inflorescências recémabertas do coqueiro, danificando as flores femininas, perfurando as brácteas dos frutos novos e penetrando neles. Além disso, alimentam-se dos tecidos do mesocarpo, fazendo galerias que interrompem o fluxo de seiva. Grande parte dos cocos atacados não amadurece, e eles acabam caindo ainda pequenos, enquanto 82 que, aqueles que atingem a maturação ficam deformados, perdendo peso e valor comercial (FERREIRA; WARWICK; SIQUEIRA, 1997). Em um estudo feito por Giacomim (2003) na mesma lavoura de coqueiro deste trabalho, foi confirmada pela primeira vez, a presença de H. ptychis em Linhares, ES, sendo que este autor constatou 19,88% de abortamento das flores femininas e frutos novos causados por esta mariposa. Em relação à Satyridae, a alta abundância constatada neste levantamento por ser explicada pelo fato de que, suas larvas alimentam-se de gramíneas e os adultos habitam lugares úmidos, conforme afirmações de Borror e De Long (1988). Sobre as demais famílias, a ocorrência das mesmas pode ser justificada pela presença de flores de plantas invasoras em florescimento para obtenção de néctar pelos adultos, uma vez que a constância dessas outras famílias foi tida como acidental, com exceção para Notodontidae que foi considerada acessória. Dessa maneira, apesar do coqueiro possuir várias espécies de lepidópteros pragas, nenhuma foi constatada neste trabalho, sendo que a maioria dos exemplares capturados, compreendem principalmente os minadores de plantas invasoras, o que pode ser importante no agroecossistema coqueiro-anão-verde, pois estas lagartas poderão servir como refúgio e reservatório de agentes de controle biológico, uma vez que Santos et al. (2007) estudando os inimigos naturais presentes em lepidópteros minadores de plantas invasoras em cultivo de citros, obteve 30 espécies de parasitóides emergidos de 10 espécies de lepidóptera, de 35 plantas invasoras, sugerindo que estes parasitóides podem utilizar os minadores das plantas espontâneas como hospedeiros alternativos, favorecendo a sua manutenção no cultivo em períodos de escassez de suas presas. 83 4.3.7 Ordem Neuroptera Foi coletado um total de 208 exemplares de neurópteros pertencentes a quatro famílias e nove espécies. Deste total, 152 ocorreram na área com plantas invasoras e 37 na área mantida roçada (Tabela 17). Tabela 17. Espécies de neurópteros capturados em cultura de coqueiro-anão-verde em área com plantas invasoras e roçada, Linhares, ES, março/2008 a fevereiro/2009. Famílias Chrysopidae Hemerobiidae Manstipidae Myrmeleontidae Espécies Chrysoperla externa Ceraeochrysa cubana Leucochrysa (Nodita) marquezi Leucochrysa (Nodita) lancala Leucochrysa (Nodita) cruentata Megalomus rafaeli Nusalala tessellata morfoespécie 1 morfoespécie 1 Total Área com plantas invasoras 28 41 9 6 5 38 2 5 18 152 Área mantida roçada 10 17 3 4 1 0 0 0 2 37 Total 38 58 12 10 6 38 2 20 5 189 Alguns exemplares de neurópteros capturados estão ilustrados na figura 16. 0,7 mm 6 mm a 0,9 mm b c 7 mm d Figura 16. a) Hemerobiidae; b) Chrysopidae; c) Myrmeleontidae; d) Mantispidae. 84 Em relação aos crisopídeos, resultados semelhantes foram encontrados por Freitas e Scalopi (1996), Durigan e Pitelli (1994), Ribeiro (2005) em cultivo de citros, café e manga, onde constataram maior número em área com presença de vegetação espontânea. A maior abundância de crisopídeos na área com plantas invasoras pode ser justificada pelo fato dos adultos se alimentarem principalmente de néctar e pólen (NEW, 1988; 1991), fato corroborado com Ribeiro et al. (2007) pelo método de acetólise, que verificaram 11.335 grãos de pólen de 21 famílias botânicas, em adultos da espécie C. externa. As plantas mais comuns pertencem às famílias Asteraceae e Poaceae, sendo que, neste estudo as plantas da família Asteraceae foram as mais frequentes e abundantes. A importância da ocorrência dos crisopídeos no agroecossistema coqueiro-anãoverde, reside o fato das larvas serem predadoras vorazes de artrópodes pequenos e com tegumento facilmente perfurável. Principi e Canard (1984) citaram uma ampla variação de presas utilizadas pelas larvas desses insetos, tais como pulgões, cochonilhas, cigarrinhas, mosca-branca, ovos e lagartas de lepidópteros, psilídeos, tripes e ácaros, sendo alguns deles considerados pragas em coqueiro. Além disso, esses predadores destacam-se no contexto tanto do controle biológico natural, como em programas de liberações inundativas (GRAVENA, 1980), tendo as espécies dos gêneros Chrysopa e Chrysoperla recebido considerável atenção em programas de manejo (RIBEIRO, 1988). A espécie C. cubana foi a mais abundante, considerada de grande importância para utilização no controle biológico e no manejo integrado de insetos praga em regiões tropicais e subtropicais, podendo ser criadas massalmente e comercializadas (LÓPEZ-ARROYO; TAUBER; TAUBER, 1999). Além disso, ela constitui-se um importante agente controlador de pulgões (ALCANTRA et al., 2008), fato importante em coqueiro que é prejudicado por estas pragas. Outra espécie de maior ocorrência foi C. externa, que, segundo Gravena (1980) possui potencial no controle de moscas brancas (Hemiptera: Diaspididae), o que é importante em coqueiro, pois estes insetos podem causar danos a esta cultura. 85 Em relação ao gênero Leucochrysa, constatou-se a presença de três espécies, e de acordo com Mantoanelli et al. (2005) este gênero destaca-se pela diversidade encontrada nas Américas do Sul e Central, e é considerado o crisopídeo mais abundante do mundo, embora as funções das espécies deste gênero sejam ainda totalmente desconhecidas (TAUBER, 2004). À família Hemerobiidae, este é o primeiro registro das espécies ocorrendo no cultivo de coqueiro-anão-verde no município de Linhares e no estado do Espírito Santo. Estes insetos são considerados importantes agentes de controle de pragas, atuando como predadores, tanto na fase larval quanto adulta, de pulgões, coccídeos e ovos de Lepidoptera. Nos últimos anos, tem se destacado a sua importância em programas de manejo integrado de pragas e/ou controle biológico em diferentes cultivos agrícolas (LARA, 2002; SYRETT; PENMAN, 1980), confirmando assim, a sua importância no agroecossistema coqueiro-anão-verde. Observou-se neste estudo, a predominância do hemerobiídeo M. rafaeli. Estudos realizados por Chagas et al. (1982) em cultivo de citrus, encontraram Megalomus sp. predando mosca-branca (Hemiptera: Aleyrodidae). Para o coqueiro anão verde, essa constatação torna-se importante, pois esse inseto pode causar danos à cultura. Em citros, Gonzáles-Olazco (1987) verificou N. tessellata predando várias espécies de afídeos e lepidópteros. Como o coqueiro é também atacado por pulgões e lagartas, esses predadores podem constituir importante ferramenta em programas de manejo e controle biológico destas pragas. Em relação à Myrmeleontidae, cujas larvas predadoras são conhecidas como “formiga-leão”, constroem armadilhas em forma de funil no solo para capturar suas presas. Artrópodes que se movem na superfície do solo ao caírem nestas armadilhas têm dificuldade de escapar devido à inclinação das paredes do funil, sendo facilmente subjugados pelas larvas (FARJII; BRENER, 2003). A maior incidência dos adultos destes insetos na área com plantas invasoras pode ser explicada pelo fato deles alimentarem-se de pólen e néctar dessas plantas, e sua ocorrência em coqueiro, é importante, uma vez que, podem atuar no controle natural de artrópodes pragas que ocorrem na cultura. 86 Sobre Mantispidae, apesar de pouco coletada, a sua constatação também é importante para o coqueiro, uma vez que, estes insetos atuam como predadores de outros artrópodes, como ovos de aranhas, larvas de besouros escarabeídeos, etc (CARVALHO; CONSEUIL, 1995), podendo, dessa maneira, contribuir para o controle biológico natural de pragas que ocorrem na cultura. 4.3.8 Outras ordens Foram constatados 1.981 exemplares de insetos pertencentes às ordens Blattodea, Orthoptera, Mantodea, Isoptera, Thysanoptera, Dermaptera, Psocoptera, Trichoptera e Strepsiptera (Tabela 18), aos quais, embora ocorreram em menor número em relação às demais mencionadas, estavam presentes em maior frequência na área com plantas invasoras Tabela 18. Número de indivíduos das ordens menos abundantes, coletados nas áreas com plantas invasoras e roçada, em cultura de coqueiro-anão-verde em Linhares, ES, março/08 a fevereiro/09. ORDEM Blattodea Orthoptera Total Mantodea Isoptera Thysanoptera Total Dermaptera Psocoptera Trichoptera Strepsiptera TOTAL FAMÍLIAS Blattidae Acrididae Gryllidae Tettigoniidae Mantidae Aeolothripidae Phlaeothripidae Thripidae Forficulidae - Área com plantas invasoras 178 257 113 74 444 11 63 25 260 60 345 67 46 7 2 1.163 Área mantida roçada 99 77 56 16 149 49 3 130 41 174 22 20 5 818 TOTAL 277 334 169 90 593 11 12 28 390 101 519 89 66 12 2 1.981 Esta diversidade de ordens e abundância de indivíduos pode ser explicada por Duelli (1997), que afirma que a manutenção de plantas invasoras em cultivos agrícolas, 87 traz uma maior diversidade florística e favorece a formação de mosaicos, mosaicos estes, que podem ser representados neste estudo pela ampla variedade de ordens e espécies de insetos, fato que geralmente não ocorre em monocultivos, ou em culturas de manejo convencional. Este resultado se deve, provavelmente, à maior disponibilidade de alimento (SILVA; AQUINO; MERCANTE, 2006) oferecido pelas plantas invasoras, estimulando a diversidade das diferentes comunidades destes insetos. Dessa maneira, a diversidade trófica destes insetos intimamente relacionada com a composição e a estrutura da vegetação, revelando um mecanismo natural de atração, abrigo e alimentação (ROCHA, 2008), justificando a ocorrência destas ordens. À ordem Orthoptera, pertencem insetos conhecidos como “grilos, gafanhotos, taquarinhas e esperanças”, que são fitófagos, e muito migratórios, ou seja, locomovem-se facilmente em busca de alimentos, por isso é encontrado em qualquer local que haja possibilidade mínima de sobrevivência, não sendo bruscamente perturbado com grandes alterações no ambiente (BARRETTA, 2003). Em cultivo de coqueiro, o gafanhoto Tropidacris collaris (Acrididae) é considerada praga secundária, entretanto, não foi possível identificar as espécies dessa família que ocorreram na área, todavia, não foram verificados ataques desses insetos durante os levantamentos. A ocorrência da família Blattidae (Blattodea) pode ser justificada pelo habitat propício nas áreas estudadas, principalmente naquela com plantas invasoras onde foram mais abundantes, uma vez que, que necessitam de habitats mais específicos (ombrófilos e com alto teor de matéria orgânica) (LOPES, 2008), ou seja, locais mais equilibrados e com variedade de alimentos. A presença de maior número de representantes da família Forficulidae (Dermaptera) conhecidos como “tesourinhas” na área com plantas invasoras foi importante para o cultivo de coqueiro, visto que, estes insetos são predadores, e são muito susceptíveis às mudanças no sistema, pois, de acordo com Terborgh (1992), qualquer perturbação da vegetação ou retirada de predadores, reduz o número de indivíduos nos níveis tróficos das cadeias alimentares. 88 A maior incidência de exemplares da odem Thysanoptera na área com plantas invasoras provavelmente pode ser atribuída à presença das espécies Euphorbia sp., I. hirsuta, A. tenella, Desmodium sp., E. sonchifolia. Sida sp., B. pilosa e C. benghalensis, corroborando com estudos realizados por Lima, Martinelli e Monteiro (2000) nas culturas de amendoim, milho, soja, sorgo, aveia, citros, goiaba, pêssego, café e macadâmia. Além disso, apresentam também hábito predatório (MOUND; MARULLO, 1996). Os insetos conhecidos como “cupins” ou “térmitas”, pertencem a ordem Isoptera e algumas espécies são consideradas pragas em coqueiro, podendo estabelecer suas colônias nas plantas, atacando a casca fibrosa do fruto e o coleto das plantas jovens, provocando o secamento das folhas (FERREIRA; WARNICK; SIQUEIRA, 1997). Entretanto, os exemplares coletados neste estudo eram alados e ocorreram principalmente no mês de novembro, provavelmente no seu período de revoada. Também não foram constatadas colônias de cupinzeiros na lavoura. A ocorrência de Mantodea, somente foi constatada na área com plantas invasoras, apesar de poucos exemplares, sua presença é importante, haja visto que estes insetos são predadores generalistas, e podem atuar no controle natural de pragas (GALLO et al., 2002). 4.4 INFLUÊNCIA DOS FATORES CLIMÁTICOS Os coeficientes de correlação de Pearson entre os valores de captura de insetos e as variáveis meteorológicas durante o período de estudo estão relacionados na tabela 19. Apesar de amplamente reconhecidas a importância das variáveis climáticas para os insetos (GALLO et al., 2002; GULLAN; CRANSTON, 2008), para os valores obtidos neste trabalho para as ordens de insetos coletadas, as análises dos dados de temperatura média e precipitação não evidenciaram correlações significativas. Entretanto, houve correlação significativa e negativa entre a umidade relativa e o número total de indivíduos coletados. 89 Estes resultados concordam parcialmente com Wolda (1988), que afirmou que o padrão sazonal de atividade em insetos é frequentemente correlacionado com temperatura, mas em áreas tropicais as variações de temperatura são mínimas e, portanto, a umidade e o regime de chuvas parecem influenciar mais a sazonalidade dos insetos. Tabela 19. Coeficientes de correlação de Pearson entre os dados de captura total de insetos e as variáveis meteorológicas no período de março/08 a fevereiro/09, em cultura de coqueiro-anão-verde, Linhares, ES. Precipitação Meses / Período Temperatura média (°C) (mm) mar/08 25,9 98,4 abr/08 26,1 101,4 mai/08 22,8 12,6 jun/08 21,9 25,2 jul/08 20,8 30,8 ago/08 22,3 27 set/08 22,6 25,4 out/08 24,6 86,2 nov/08 24 449,2 dez/08 24,8 291,8 jan/09 26 378 fev/09 26,8 97,8 Amostra total (N) r (Perason) 0, 399 ns - 0, 1969 ns ns Probabilidade: * (< 0,05); ** (<0,01); : não significativo (> 0,05) Umidade relativa do ar (%) 80,6 79,5 78,5 79,2 77 77,1 72,3 75 82,3 80,7 79,5 74,9 - 0, 6207 * 4.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ÍNDICES DE RIQUEZA, DIVERSIDADE E EQUITABILIDADE Os valores dos índices de Riqueza de famílias (S), Diversidade de Shannon-Wiener (H‟) e Equitabilidade (J) para as principais ordens coletadas neste estudo estão registrados na tabela 19. Os valores de riqueza das famílias de insetos das principais ordens foram semelhantes para ambas as áreas estudadas, entretanto, com maior abundância de todas as famílias na área com plantas invasoras. Esses resultados podem ser 90 explicados devido à proximidade entre as duas áreas (37,5m), o que possibilitou a dispersão e colonização dos insetos da área roçada para a de plantas invasoras, pois segundo Brombal (2001) a manutenção ou remoção de plantas invasoras influenciam na heterogeneidade do ambiente, e, ambientes mais heterogêneos emitem uma maior variedade de sinais (estímulos visuais ou químicos provenientes da presença de plantas invasoras e de seus hospedeiros) que atraem um maior número de artrópodes, mas de menos espécies, de uma área menos diversificada para uma mais diversificada. Esta alta similaridade de riqueza obtida para as famílias de algumas ordens podem estar refletindo esse padrão. Tabela 20. Índices de Riqueza (S), Diversidade de Shannon-Wiener (H’) e Equitabilidade (J) das principais ordens de insetos coletados na cultura de coqueiroanão-verde, em Linhares-ES, março/2008 a fevereiro/2009. Área com plantas invasoras Ordens S H' Hymenoptera: Parasitica 27 0, 8862 Hymenoptera: Aculeata 10 Diptera J Área mantida roçada S H' J 0, 6191 27 0, 9277 0, 6481 0, 7089 0, 7089 9 0, 5174 0, 5422 23 0, 5440 0, 3995 19 0, 5502 0, 4305 Hemiptera 21 0, 7534 0, 5698 22 0, 6890 0, 5133 Coleoptera 26 0, 9782 0, 6998 22 0, 9645 0, 7185 Lepidoptera 20 0, 9179 0, 7055 S. Riqueza de famílias; H’. Diversidade; J. Equitabilidade. 14 0, 6536 0, 5703 Numa escala de 0 a 5, o Índice de Diversidade de Shannon-Wiener foi considerado elevado em ambas as áreas para as diferentes ordens de insetos, uma vez que, os valores encontrados nunca foram inferiores a 0,5. Entretanto, para algumas ordens, os valores de diversidade e equitabilidade foram semelhantes nas duas áreas, como para os Hymenoptera Parasitica, Diptera, Hemiptera e Coleoptera. Para as ordens Lepidoptera e Hymenoptera Aculeata o valor de diversidade foi maior na área com plantas invasoras em relação à área mantida roçada. Para os Hymenoptera Parasitica e Diptera, apesar dos valores de diversidade terem sido semelhantes em ambas as áreas, foi maior na mantida roçada. Esses resultados provavelmente possam ser explicados pela afirmação de Silveira-Neto et 91 al. (1976) de que ambientes que sofrem forte influência dos fatores limitantes associados a uma forte competição interespecífica tendem a apresentar um baixo índice de diversidade, apresentando um número maior de espécies comum e menor de espécies raras, fato este que pode ter ocorrido na área com plantas invasoras pela diversidade vegetal apresentada neste tratamento. Além disso, a área com plantas invasoras apresentou dominância das famílias Diapriidae, Ceraphronidae, Scelionidae, Ichneumonidae, Eucharitidae, Braconidae, Mymaridae e Figitidae (Hymenoptera Parasitica), Dolichopodidae, Tachinidae e Drosophilidae (Diptera), e de acordo com Odum (2001) a Equitabilidade e Diversidade comportam-se inversamente à dominância, uma vez que, baixa diversidade indica a ocorrência de organismos dominantes. A dominância exercida por estas famílias de Diptera pode ser considerada como positiva em cultivo de coqueiro-anão-verde, visto que, de todas as famílias de dípteros capturados neste levantamento, as mais importantes no controle natural das populações de insetos fitófagos correspondem às famílias Tachinidae e Dolichopodidae, mostrando dessa maneira, que os insetos destas famílias poderiam estar adaptados aquele ambiente e consequentemente, efetuando o controle de pragas no cultivo, corroborando com Silveira-Neto et al. (1976) que afirmaram que a presença de indivíduos dominantes indica que estes podem estar estabelecidos no habitat, reproduzindo-se e alimentando-se com êxito. Também é importante salientar em relação aos Hymenopteras Parasitica e aos Diptera das famílias Tachinidae e Dolichopodidae, que na área mantida roçada, não há uma diversificação de nichos e hospedeiros para estes inimigos naturais ao qual é oferecido pelas plantas invasoras, isso diminui a quantidade de hospedeiros e consequentemente favorece a equitabilidade de parasitóides devido à menor diversidade de suas presas. Além disso, na área roçada não há condições adequadas para a manutenção dos parasitóides ao longo do ano, pois este ambiente sofreu impacto de roçadas periódicas, e não teve a presença de plantas invasoras em florescimento, que é de extrema importância para a manutenção dos indivíduos destas famílias. 92 Nas ordens Hemiptera, Lepidoptera e Coleoptera, os valores de diversidade foram maiores na área com plantas invasoras, apesar de serem semelhantes em relação à área mantida roçada. Este fato, pode ser atribuído a dominância também de algumas famílias como Cicadellidae, Membracidae, Cercopidae, Lygaeidae e Aphididae (Hemiptera), Gelechiidae , Pyralidae e Satyridae (Lepidoptera) e Curculionidae, Coccinellidae, Staphylinidae, Dasytidae, Chrysomelidae, Erotylidae e Scolytidae. Embora não haja consenso sobre a relação entre riqueza, diversidade e resiliência em agroecossistema, Altieri (1999) afirma que estes fatores parecem estar positivamente relacionados, pois riqueza e diversidade maiores seriam então indicativos de maior resiliência nos tratamentos avaliados, o que é de grande importância em sistema constantemente perturbado (BROMBAL, 2001), como no agroecossistema avaliado. 93 5 CONCLUSÕES - A manutenção de plantas invasoras favoreceu a ocorrência de insetos; - As espécies de plantas invasoras das famílias Asteraceae e Fabaceae foram as mais comuns e apresentaram-se floridas durante todo o ano; - As ordens de insetos com número mais elevado de exemplares coletados foram Hymenoptera, Diptera, Hemiptera, Coleoptera e Lepidoptera; - A área com plantas invasoras apresentou maior riqueza, abundância e diversidade de insetos do que a mantida roçada; - Dos insetos predadores e parasitóides capturados, o maior número de indivíduos foi obtido na área com plantas invasoras, representados pelas principais famílias: Vespidae, Pompilidae (Hymenoptera Aculeata), Scelionidae, Ceraphronidae, Diapriidae, Mymaridae, Eulophidae, Ichneumonidae, Braconidae, Eulophidae, Eucharitidae, Encyrtidae (Hymenoptera Parasitica), Dolichopodidae e Tachinidae (Diptera), e pelas espécies C. sanguinea, Scymnus. (P.) sp. e C. citricola (Coleoptera: Coccinellidae), C. externa e C. cubana (Neuroptera: Chrysopidae); - As espécies predadoras de Hemerobiidae, M. rafaeli e N. tessellata, foram constatadas pela primeira vez, em cultivo de coqueiro no estado do Espírito Santo. 94 6 REFERÊNCIAS ADAMS, J. B.; DREW, E. Grain aphids in New Brunswick. III Aphid populations in herbicide-treated oat fields. Canadian Journal of Zoology, v. 43, p. 789-794, 1965. AGARWALA, B. K.; DIXON, A. F. G. Laboratory study of cannibalism and interspecific predation in ladybirds. Ecol. Entomol., v. 17, p. 303-309, 1992. AGUIAR-MENEZES, E. L. Controle Biológico: na busca pela sustentabilidade da agricultura brasileira. Campo & Negócios, Uberlândia, v. 4, n. 42, p. 66-77, 2006. AGUIAR-MENEZES, E. L. Diversidade Vegetal: uma estratégia para o manejo de pragas em sistemas sustentáveis de produção agrícola. Seropédica: Embrapa Agrobiologia. (Embrapa Agrobiologia. Documentos, 177). 68 p., 2004. 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