DIONÍSIO o areopagita Sérgio Roxo da Fonseca Num determinado momento de suas pregações, São Paulo esteve em Atenas, no Areópago. A Bíblia documenta que no local havia uma imagem dedicada ao Deus desconhecido por ele identificado como sendo de Cristo. O texto (Atos, 17:34) registra que duas pessoas permaneceram ouvindo o pregador: Dionísio e Tâmara. Muita indagação é lançada à inserção desses nomes, pois não faria sentido o seu registro no texto bíblico apenas por nada. Os fatos teriam ocorrido no século I. Alguns século depois, ou seja, no século V ou no início do século VI, mais ou menos 500 anos após o episódio de Atenas, surgiu um texto filosófico, ligado ao pensamento platônico, atribuído àquele Dionísio convertido por São Paulo. O texto fez um grande sucesso. A influência foi tão grande que inspirou até mesmo a construção do templo gótico dedicado à memória daquele Dionísio: uma de arquitetura extraordinária, erguida em Paris, batizada com o nome de Basílica de Saint-Denis, ou seja, São Dionísio em português. Tenho a gravação da Paixão segundo Mateus, apresentada no interior da famosa basílica com o acompanhamento do coral dos jovens estudantes de Oxford. Como se percebe, séculos foram passando durante os quais vários mestres examinaram o texto, muito aplaudido, sempre atribuído ao Dionísio convertido por São Paulo. Houve uma reversão. Os historiadores modernos, estudando o texto do novo Dionísio, demonstraram que há uma impossibilidade absoluta do seu autor ter convivido com São Paulo Apóstolo porque a linguagem usada como muitos dos vocábulos expressados eram inteiramente desconhecidos no século I depois de Cristo. Assim, no campo da filosofia, surgiu um novo protagonista que, por não ser aquele Dionísio da antiguidade, passou a ser hoje chamado como o “Pseudo-Dionísio, o Areopagita”. O caminho dos historiadores tem sido frequentemente alterado. Há alguns anos atrás, o estudo da história deferido aos estudantes permanecia ligado ao exame da biografia dos reis e das rainhas, com a qualificação de seus sangues, alguns azuis, outros vermelhos como o dos demais cristões. Hoje em dia, o estudo das línguas, a revelação dos alfabetos, permite aprofundar nossas visões quando olhamos para o passado. Muitos daqueles velhuscos textos. Fatos localizados na Idade do Bronze paradoxalmente retratam heróis munidos de armas de ferro, como, por exemplo, na tomada de Jericó pelos judeus, comandados por Josué, sob a direção de Moisés. Como estamos hoje lidando com uma sociedade babélica, é bem possível que uma nova forma de olhar para a história tenha começado a ser revelada. Não se sabe se para o bem ou para o mal. Suponho que seja para o bem.