DOSSIÊ TÉCNICO Manejo Ecológico do Solo Analuce de Araújo Abreu Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais / CETEC dezembro 2007 DOSSIÊ TÉCNICO Sumário 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 2 2. OBJETIVO........................................................................................................................... 4 3. AS PLANTAS E A ABSORÇÃO DE ÁGUA E NUTRIENTES DO SOLO........................... 4 4. O SOLO............................................................................................................................... 7 5. CLIMA, TEMPERATURA, UMIDADE DO SOLO E VEGETAÇÃO..................................... 8 6. ADUBAÇÃO ORGÂNICA - ADUBAÇÃO VERDE.............................................................. 9 7. ADUBAÇÃO QUÍMICA E CALAGEM............................................................................... 12 8. FAUNA DO SOLO E MANEJO DE PRAGAS................................................................... 12 9. PLANTIO DIRETO ............................................................................................................ 14 10. QUEIMADAS................................................................................................................... 15 11. ROTAÇÃO DE CULTURAS ............................................................................................ 15 12. VENTOS E QUEBRA–VENTOS ..................................................................................... 17 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................................................... 18 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 19 Copyright © - Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas - http://www.respostatecnica.org.br 1 DOSSIÊ TÉCNICO Título Manejo ecológico do solo Assunto Consultoria em questões de sustentabilidade do meio ambiente Resumo Recuperar áreas degradadas pela erosão, pelo uso exaustivo do solo e ainda pelas queimadas tem alto custo, inviabilizando muitas terras que poderiam ser cultivadas e assim gerando danos à economia e ao meio ambiente. O uso sustentável da terra é possível através do correto planejamento de seu uso e de técnicas e práticas de manejo ecológico, desta forma a fertilidade do solo poderá ser mantida por longo período de tempo. Este dossiê não pretende esgotar o assunto, mas abordar algumas práticas tais como a adubação verde, a manutenção da cobertura vegetal no solo, a correta escolha das espécies vegetais a serem utilizadas em consórcios agroecológicos, formas de plantio e ainda lembrar que a sistematização destas técnicas para uso comunitário é importante no planejamento do uso do solo, favorecendo a sua conservação. Palavras chave Adubação verde; agricultura; agroecologia; conservação do solo; ecologia; manejo do solo; meio ambiente; preservação ambiental; recuperação do solo Conteúdo 1. INTRODUÇÃO Os recursos naturais água e solo são fundamentais para a sobrevivência da espécie humana, uma vez que são destes recursos que provem a fonte de energia e alimentação do homem. “O” pão “nosso de cada dia” depende e tem ligação com o solo e a água, logo a qualidade e produtividade está diretamente relacionada com o trato da terra (FIG. 1), seu correto manejo e planejamento adequado. FIGURA 1 – Manejo do solo Fonte: ABREU, 2003. Copyright © - Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas - http://www.respostatecnica.org.br 2 Apesar de recente a história da humanidade sobre a face da Terra, muito já se fez para romper a fina trama que é o equilíbrio dos ecossistemas, principalmente do solo que é o palco das atividades humanas, suporte das florestas que refrescam e purificam o ar, habitat de vidas microscópicas e tantas outras vidas animais e vegetais que reciclam a matéria viabilizando novas vidas. A agricultura moderna de larga escala, por exemplo, está alicerçada sobre os pilares do cultivo intensivo do solo, da monocultura, da irrigação, do uso de fertilizantes inorgânicos e controle químico de pragas, e da manipulação genética de plantas cultivadas. Gliessman (2001) lembra que desta forma as plantas se tornam fábricas de alimentos, tem sua produção maximizada através do uso de insumos e manipulação genética, que aumentam sua produtividade. Neste caso o solo acaba sendo apenas o suporte e o meio no qual as raízes irão se fixar. Segundo Gliessman (2001), “a política e a tecnologia que levaram ao aumento na produtividade agrícola mundial acabam por minar sua própria base”, ou seja, degradar os recursos naturais, solo, água e diversidade genética, tornando-se assim insustentável. O cultivo intensivo acaba por degradar o solo, através de práticas na qual seu uso é profundo, o uso e trânsito de máquinas pesadas tornam o solo mais compacto, propício ao alagamento, às erosões, enxurradas através das quais se perde muita matéria orgânica, declínio da qualidade da estrutura do solo e a perda da fertilidade do solo. O bombeamento constante de água de lençóis subterrâneos pode levar à salinização das águas, principalmente em regiões próximas à costa, pelo rebaixamento das terras e intrusão de águas salgadas. A adubação excessiva leva à contaminação da água por agrotóxicos, que é lavado com a chuva e penetra nos solo, atingindo as águas subterrâneas, córregos e rios. Desta maneira penetram na cadeia alimentar intoxicando algas, peixes, pessoas e alterando também os ecossistemas marinhos. Um estudo realizado pela Agencia para Proteção do Meio Ambiente no ano de 1995, mostrou que de 29 cidades que tiveram sua água analisada, 28 apresentavam herbicidas presentes na água de torneira. (GLIESSMAN, 2001) Áreas contaminadas e degradadas pela erosão, pelo uso exaustivo do solo e ainda pelas queimadas (FIG. 2) tem alto custo, inviabilizando muitas terras que poderiam ser cultivadas e assim gerando danos à economia e ao meio ambiente. (a) (b) FIGURA 2(a) - Degradação do solo e (b) recuperação da vegetação após queimadas. Fonte: CETEC, 2006. Copyright © - Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas - http://www.respostatecnica.org.br 3 2. OBJETIVO Este dossiê não pretende esgotar o assunto, mas alertar quanto aos fatores de degradação do solo (FIG. 3) e sensibilizar proprietários para o uso sustentável da terra, através do planejamento das atividades a serem trabalhadas, que respeitem as características regionais e de práticas de manejo ecológico, que possibilitem a manutenção da fertilidade por longo período de tempo e que sejam ações de defesa do solo contra a degradação natural e contra a erosão. Ao longo deste documento serão abordadas algumas práticas tais como o a importância da cobertura vegetal permanente no solo, da correta escolha das espécies vegetais a serem cultivadas, formas de plantio, uso de quebra-ventos, lembrar algumas plantas que são usadas como herbicida e inseticida, bem como alertar para o planejamento do uso do solo, favorecendo a sua conservação. Desmate / queimadas Recuperação do solo Solo exposto Planejamento Erosão/ enxurrada/ lixiviação Uso de agrotóxicos / Contaminação das águas Degradação /Solo fraco / baixa produção Maior produção Manejo ecológico Melhor qualidade de vida Monitorament FIGURA 3 - Fatores de degradação e ações de recuperação de solo. Fonte: ABREU, 2003. Para que as técnicas de manejo ecológico sejam abordadas ao longo deste dossiê, é importante que os elementos objetos deste manejo sejam bem compreendidos. Os elementos a serem tratados são as plantas, a fauna do solo, a adubação, a nutrição vegetal e outros elementos como clima, temperatura, vento entre outros. 3. AS PLANTAS E A ABSORÇÃO DE ÁGUA E NUTRIENTES DO SOLO O solo tem importante papel na vida das plantas, pois oferece suporte para sua parte aérea e é o berço para germinação, desenvolvimento da maioria das espécies vegetais, disponibilizando para estas nutrientes em forma de matéria orgânica, sais minerais e água. As plantas em contrapartida também tem sua importância para conservação dos solos e seus princípios básicos de produção são a transformação das que esta absorve do solo e da água para forma os tecidos e realizar fotossíntese. Substâncias tais como oxigênio e carbono, são transformadas em açúcares, amidos, celulose, enfim carboidratos, sob a luz solar e em presença da água. Os chamados macronutrientes, nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre são encontrados no solo. O nitrogênio é importante nutriente para as plantas, porém o mais deficiente no solo, universalmente Gliessman (2001), por que ele é facilmente absorvido pelas plantas, quando disponível e porque se perde com facilidade na água das chuvas. Copyright © - Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas - http://www.respostatecnica.org.br 4 A maioria das plantas obtém o nitrogênio através da troca de íons com a solução do solo, como NO³- ou a partir de NH4+. A maior parte das leguminosas ( Fabaceae), possuem microorganismo que vivem em suas raízes e fixam o nitrogênio do ar, transformando-o em nitrato que é absorvido pelas plantas. A falta deste nutriente confere à planta uma cor amarelada. Fósforo é um nutriente importante para a fotossíntese e pouco disponível no solo, mas quando está disponível as plantas absorvem uma grande quantidade deste nutriente. A falta do fósforo faz com que a planta fique deficiente, apresentando tons azulados ou verdeescuro com pigmentos roxos proeminentes na parte de baixo da folha e ao longo das veias. O desenvolvimento de raízes e frutos fica bem comprometido na falta do fósforo. O potássio é um pouco mais abundante no solo e está diretamente relacionado com pressão osmótica, ou seja, é regulador e tem responsabilidade em processos que envolvem a hidratação e permeabilidade das células. Na falta deste nutriente as plantas apodrecem facilmente suas raízes e tem as folhas ressecadas e endurecidas. Cálcio, magnésio e enxofre também são importantes e absorvidos pela raiz na troca de íons com a solução do solo, na sua falta pode-se notar deficiência nas plantas. Os micronutrientes encontrados na natureza agem como biocatalisadores sendo eles o ferro, zinco, manganês, cobre, boro, molibdênio, cloro. São importantes em pequenas quantidades e podem ser tóxicos quando em grande quantidade no solo. O magnésio e ferro participam da formação da clorofila que é o pigmento verde responsável pela captação da luz solar, imprescindível para a fotossíntese. O boro atua no transporte e metabolismo de carboidratos, o cloro importante para a hidratação das células e fotossíntese, o cobre no metabolismo basal, o molibdênio atua na fixação do nitrogênio, absorção e translocação do ferro, o zinco na formação da clorofila, biossíntese de hormônios e outros. Sendo assim, Primavesi (1984) afirma que solos pobres e deficientes em nutrientes são praticamente inviáveis para desenvolvimento de vegetação e cultivo, a não ser que sejam devidamente tratados e melhorados. A água é substância vital para todas as formas de vida na terra. A água é armazenada nos tecidos vegetais, sendo que 80 a 85% da estrutura dos vegetais são composta por água. Por ser tão importante, a água é também um fator limitante. É através do ciclo hidrológico que a água se movimenta da atmosfera para a terra e da terra para atmosfera. Assim é pela transpiração e evaporação que a água condensa e se precipita, atingindo o solo e percolando para seu interior e formando os aqüíferos e lençóis freáticos ou escorrendo nas enxurradas para os córregos, riachos, rios e oceanos. Portanto a água é fundamental aos processos biológicos, sendo assim importante que esteja disponível no solo, para que as plantas a absorvam através de suas raízes. A planta absorve água pela raiz por via física ou passiva. Quando a umidade relativa do ar é baixa e a temperatura do ambiente é alta, o vegetal transpira e perde água para o meio. Esta saída de água das células da plantas causa uma tensão na folha, fazendo com que a partir desta pressão negativa a água do solo entre na planta através da raiz. Em climas tropicais a planta absorve água por vias fisiológicas, ou seja, por processos osmóticos na raiz (simplificando, é a passagem de água do meio menos concentrado para o mais concentrado). Funciona da seguinte forma, quando a concentração de íons de micronutrientes é mais alta no interior das células vegetais do que no solo, então a água entra nas células vegetais da raiz com facilidade e atingem os vasos do xilema que a transportam para todo vegetal. Copyright © - Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas - http://www.respostatecnica.org.br 5 Então se entende que nos solos tropicais, segundo Primavesi (1984), nos quais a concentração de nutrientes é normalmente fraca em reação aos solos de climas temperados, sendo até mesmo considerados solos pobres, quando a planta apresenta-se bem nutrida e com conteúdo celular mais concentrado que o solo, ela absorve água mais facilmente, desde que o solo não esteja compactado e sua estrutura seja grumosa apresentando baixa densidade ( 0,9 a 1,2g/cm³). Em épocas de seca em solos muito adubados, a concentração de nutrientes poderá ficar muito alta tanto no solo quanto no interior das células das plantas, sendo assim além da escassez de água no solo, tão comum nestas ocasiões, a planta terá dificuldade em absorver água, pois a pouca diferença de concentração de seu interior para o solo não é o suficiente para realizar a osmose, ou seja, para que a água seja absorvida pela raiz. Em outro caso, quando o solo está pobre em nutriente e a planta também, a mesma dificuldade de absorção de água poderá ser notada, mesmo se a oferta for grande, uma vez que pequenas diferenças entre a concentração de nutrientes da planta e do solo não são suficientes para a realização da osmose, ou seja, a passagem da água do solo para a planta. Já em solos salinos, uma planta mal nutrida terá concentração de íons menor que o solo e mesmo havendo oferta de água no solo a planta provavelmente não conseguirá absorver esta água, podendo então sofrer a chamada seca fisiológica. De acordo ainda com Primavesi (1984), uma planta mal nutrida sofre de seca muito maior que uma planta bem nutrida. Uma planta estará bem nutrida quando houver nutrientes no solo que possam ser absorvidos pelas plantas e quando esta for capaz de metabolizar estes nutrientes, tranformá-los em açúcares tecidos vegetais, aproveitando-os em seu desenvolvimento. Ainda segunda Primavesi (1984), a pressão osmótica na raiz das plantas, se deve principalmente à concentração de carboidratos produzidos por estas no seu metabolismo, logo um dos pré-requisitos para que a planta tenha uma boa absorção de água é que tenha carboidratos na raiz. O elemento químico responsável por manter a concentração de carboidratos na raiz é o Boro ( B). A fotossíntese também é responsável pela absorção de nutrientes pela raiz, desta forma pode-se prever o ciclo vicioso, se a fotossíntese diminuir, diminui a absorção de água e nutrientes pela planta e consequentemente diminui a fotossíntese. Quando ocorre este ciclo, observa-se então o amadurecimento precoce das plantas e o fracasso da colheita. As sementes são a primeira fonte de energia das plantas e é através das reservas da semente que a planta produz sua raiz. Quanto mais rica a semente for de carboidratos, mais água ela irá absorver para sua germinação, logo uma semente rica em carboidratos germina melhor. A falta de Boro nas sementes possibilita sua necrose por vermes e estas apodrecem no solo. Primavesi (1984) lembra que é importante que o solo esteja bem grumoso para que a água fique disponível para as plantas e que em solo compactado, mesmo que a semente plantada seja rica em carboidrato, ela não conseguirá absorver água suficiente para sua germinação, sendo assim em solos compactados a taxa de germinação pode ser baixa por causa de pouca absorção de água. A semente também absorve água por pressão osmótica, por isso não é indicado adubar a terra em linha juntamente com o plantio das sementes, pois o solo ficará mais concentrado de íons e minerais e a semente poderá ter dificuldade de absorver água, sendo assim sua germinação ficará afetada. Copyright © - Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas - http://www.respostatecnica.org.br 6 Por exemplo, leguminosas pobres em carboidratos e rica em proteínas como soja e feijão, terão dificuldade em germinar em solos de solução concentrada, nestes casos a adubação com potássio não é recomendada. Segundo Primavesi (1984) o equilíbrio entre a fotossíntese e respiração é fundamental para uma boa produção vegetal, em climas tropicais para que seja mantida esta condição é importante: a) Que a estrutura grumosa do solo seja mantida, permitindo infiltração da água no solo e aeração; b) A adubação tem que ser equilibrada e adequada, as raízes precisam estar sadias e bem nutridas; c) É importante o sombreamento do solo com cobertura vegetal, para manter a temperatura e umidade desejáveis, principalmente em regiões muito quentes; d) É importante a existência de áreas de florestas, quebra ventos, para manter a temperatura e umidade desejáveis. Pode-se inferir que o bem estar das plantas está relacionado diretamente ao bem estar da raiz, pois ela é responsável por parte da síntese de aminoácidos e absorção de água e nutrientes, mas é ela também que em contato direto com a terra, sente o efeito das práticas agrícolas e do manejo do solo. O manejo ecológico do solo objetiva estabelecer condições favoráveis para que os vegetais enraízem e cresçam, pois condições desfavoráveis ao enraizamento das plantas são desfavoráveis ao cultivo e produção. 4. O SOLO O solo, segundo Gliessman (2001), é um componente vivo, dinâmico e em transformação do agroecossistema, sujeito às alterações e se sabiamente manejado é possível de se manter fértil por muito tempo. Segundo Odum (1971), o solo é a camada superficial da terra, intemperizada, misturada com organismos vivos e os produtos de suas atividades metabólicas e de decomposição. De acordo com Primavesi (1984), a formação do solo irá depender da rocha ou sedimento argiloso e ainda da poeira transportada pelo vento ou pela água, o clima, a vegetação, a temperatura, relevo e a ação do homem, também influenciam na formação do solo. Gliessman ( 2001) afirma que numa perspectiva agrícola, um solo ideal é composto de 45% de minerais, 5% de matéria orgânica e 50% de espaços preenchidos com ar e água. Porém devido às diferenças no relevo, clima, temperatura, cobertura vegetal, formam-se solos de diferentes tipos, mesmo que a rocha mãe seja a mesma, sendo que os processos naturais de formação do solo levam muito tempo. A cor do solo é um indicador de sua composição, por exemplo, solo de coloração escura indica alto teor de matéria orgânica, solos vermelhos e amarelos indicam altos índices de óxidos de ferro, do material de origem da rocha ou formado pela boa aeração e drenagem do solo. Cores cinza e amarelo-amarronzada podem ser indicadoras de pouca drenagem e pouco oxigênio e o ferro é encontrado em forma ferrosa. Solos esbranquiçados de cor clara indicam a presença de quartzo, carbonatos ou gesso. Mas é importante que amostras de solo sejam levadas para análise em laboratório especializado, para determinar o tipo e especificidades de cada solo. O pH do solo é importante para crescimento das plantas, sendo que a maioria delas tolera melhor a faixa de pH entre 5 a 8. Copyright © - Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas - http://www.respostatecnica.org.br 7 As leguminosas, por exemplo, são sensíveis ao solo ácido, pois as bactérias que fixam o nitrogênio na raiz são sensíveis ao pH baixo. É importante manter o pH na faixa ótima. Em regiões secas, onde a taxa de transpiração é alta e de precipitação é baixa, é normal o acúmulo de sais no solo, tanto na forma solúvel quanto insolúvel. Os solos salinos são aqueles com alta concentração de sais neutros, do tipo cloreto sódio e sulfato de sódio. Os alcalinos apresentam pH acima de 8,5 e nestes solos é comum que as plantas tenham dificuldade de absorver nutrientes. Segundo Primavesi (1984) para que o solo apresente boa produtividade ele depende de suas condições físicas, mas também das condições biológicas e químicas. Deve ser considerada também a capacidade genética das plantas escolhidas para cultivo e das técnicas agrícolas a serem empregadas para favorecer o ambiente que deverá ser propício à germinação e desenvolvimento da espécie a ser cultivada. Técnicas agrícolas que levam à compactação do solo, reduzem a capacidade de infiltração da água e durante as estações chuvosas causam baixa na produção. Segundo Primavesi (1984), não é a água que cai da chuva que faz a planta crescer, mas a água que se infiltra no solo e pode ser absorvida pelas plantas. O tipo de vegetação nativa é indicativa de solo local, segundo Primavesi (1984), o autor cita o mio-mio que nasce em solos rasos, já no caso do capim-caninha ( Andropogon incanis), nasce em solos encharcados. Desta forma os capins barba-de-bode ( Aristida pallens), capim cabeludo ( Trachypogon spp.) ou sapé ( Imperata exaltata) são típicos de solos que sofrem com queimadas. Já o capim seda (Cynodon dactylon) indicará solos compactados e samambaias solos com alto teor de alumínio trocável. É importante que a correta escolha das espécies para cultivo seja feitas, de forma que cada solo terá uma espécie ou várias, mais adaptadas às suas peculiaridades e também ao clima e região. O bom enraizamento das plantas dependerá da espécie vegetal escolhida, da nutrição vegetal, dos fatores climáticos, da bioestrutura grumosa do solo e da disponibilidade de água, ar, nutrientes e da ausência de substâncias tóxicas. Em solos grumosos o calor superficial provoca a ascensão da água, os solos compactados e com crosta superficial não oferecem bom ambiente para raízes. Solos com erosão e rachaduras, quando secos, provavelmente resultarão em raízes retorcidas e finas e produtividade baixa. Solos adensados são pobres em oxigênio e pouca aeração para raiz. A falta de oxigênio leva ao baixo rendimento, pois a planta tem de fazer respiração anaeróbica, libera menos energia, o metabolismo é mais baixo e também a taxa de fotossíntese, desta forma a raiz perde seu potencial de absorver água e nutrientes. 5. CLIMA, TEMPERATURA, UMIDADE DO SOLO E VEGETAÇÃO De acordo com Primavesi (1984), “o clima faz o solo e o solo faz o clima”. A pergunta é como o solo pode provocar alterações no clima? As florestas transpiram e a evaporação da água faz com que as nuvens se formem mais baixas e chova com mais freqüência e de forma regular. Se desaparecem as florestas as alterações podem ser facilmente notadas, chuvas menos freqüentes e mais violentas. As pastagens e lavouras transpiram menos que florestas e formam nuvens leves e altas, que só se descarregam quando estão com excesso de água e formam verdadeiros “torós”. Nestas áreas podem ocorrer também fortes ventanias. Copyright © - Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas - http://www.respostatecnica.org.br 8 Desta forma os solos são compactados pelas chuvas pesadas e as enxurradas levam sedimentos de forma que a erosão se estabelece e os rios ficam assoreados, a pouca infiltração da água no solo causa baixa na produção e a vegetação fica mais pobre. Uma boa cobertura vegetal pode influenciar o microclima do solo, fornecendo sombreamento e mudando a temperatura, conservando a umidade do solo e protegendo-o contra o excesso de sol, erosão e geadas. Para tal pode ser usada a cobertura vegetal morta, na qual os restos da colheita são deixados no solo para formar a cobertura, que irá prevenir contra a perda de umidade do solo e amenizar os efeitos da radiação solar (FIG. 4). Outros métodos podem ser usados para incorporar vegetação de cobertura ao solo tais como usar palha de trigo e aveia como cobertura seca, incorporar resíduos de grama cortada de jardim, aproveitar a limpeza de brejos e incorporar, por exemplo, restos de jacintos d’água (Eichornia crassipes). Plantas de cobertura também são usadas para sombreamento de solo, quando são semeadas entre as culturas são chamadas de cobertura viva. ( Gliessman, 2001) Outros materiais e tecnologias são também usados para mudar a temperatura do solo. As ferramentas tecnológicas contemplam desde os recursos mais acessíveis tais como papéis biodegradáveis, jornais, tecidos, folhas plásticas e telados todos usados para bloquear parte da radiação solar e baixar a temperatura do solo, a recursos mais sofisticados como estufas que são usadas para conservar o calor. O manejo sofisticado de estufa emprega tecnologia e automação computadorizada para atingir níveis notáveis de controle do microclima. Quando o caso é a chegada de geada, uma dica importante é elevar a temperatura do solo com irrigação, pois o vapor circundará as plantas cultivadas e a umidade poderá oferecer alguma proteção às plantas. (GLIESSMAN, 2001) FIGURA 4 - Cobertura do solo com colmos de bananeira. Fonte: PAIVA. In: SILVA; GOMES (2005) 6. ADUBAÇÃO ORGÂNICA - ADUBAÇÃO VERDE Fertilidade do solo é definida pelo Vocabulário de Ciência do solo (CURI et al.,1993), como o "Status de um solo com respeito à sua capacidade de suprir os nutrientes essenciais ao desenvolvimento das plantas”. ( FEIDEN, 2001) Matéria orgânica é fundamental para a vida dos microorganismos do solo e é formada por toda substância morta no solo, proveniente das plantas, folhas secas, raízes mortas, de fezes de animais ou restos de animais mortos, entre outros como húmus.Porém nem toda matéria orgânica é húmus. Copyright © - Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas - http://www.respostatecnica.org.br 9 Solos tropicais tem alto teor de carbono nem sempre são férteis. O papel da matéria orgânica não é só a adição de nitrogênio, mas outros benefícios, um deles é formar os grumos no solo, de forma que ele se torne arejado e estável através das substâncias agregantes fornecidas pela matéria orgânica. Uma vez que a terra começa a ser cultivada a quantidade de matéria orgânica no solo começa a declinar, por isso é importante o manejo de forma a manter uma quantidade satisfatória. Com a redução da matéria orgânica a porosidade do solo diminui e a estrutura grumosa pode ser perdida, assim a atividade biológica também fica reduzida, pode então acontecer o que é chamado pé-de-arado, que é a compactação do solo. A quantidade de matéria orgânica no solo é perdida tanto no cultivo orgânico quanto no tradicional (Gliessman, 2001) e irá depender da cultura e da forma de manejo. Durante a decomposição da matéria orgânica são formadas substâncias que são fontes de alimentos para os microorganismos que fixam nitrogênio no solo. Em contrapartida estes microorganismos produzem substâncias que atuam no desenvolvimento do vegetal e que são alimento para outros que protegem as plantas de pragas. Cobertura vegetal Rotação de culturas Adubação Verde Solo fértil Prevenção de queimadas Escolha das espécies p/cultivo Controle da erosão FIGURA 5 - Esquema de ações de manejo ecológico de solo. Fonte: ABREU, 2003. As culturas de cobertura são plantas cultivadas para ser incorporadas ao solo como adubação verde, fonte importante de matéria orgânica para o solo. Podem ser usadas sozinhas ou junto a outras, como algumas leguminosas consorciadas com não leguminosas. A biomassa poderá ser incorporada ao solo ou deixada na superfície para decomposição. A mucuna preta, o feijão guandu, o feijão miúdo ( incorpora fósforo), o Calopogonium mucunoides, a leucena são bons exemplos de plantas que incorporam nitrogênio no solo, tanto enquanto vivas como em decomposição. É importante lembrar que a massa vegetal não deverá ser enterrada profundamente no solo, pois poderá liberar substâncias tóxicas para as raízes durante sua decomposição. A cobertura viva e o cultivo entressafra são técnicas interessantes para proteção de solo. A técnica consiste na escolha de uma espécie adequada para consórcio, segundo Primavesi (1984) uma planta companheira, que é plantada entre as linhas da espécie produtiva durante seu ciclo, oferecendo proteção quanto às pragas, barreira contra ventos, cobertura de solo, etc. Para a escolha da cultura protetora deve-se observar os seguintes critérios: Copyright © - Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas - http://www.respostatecnica.org.br 10 • • • • • Que tenha propagação fácil por sementes, Seja de crescimento rápido, Tenha sistema radicular diferente da cultura agrícola, Não seja competitiva com a cultura pelos mesmos nutrientes e pela água, Seja resistente a pragas e pestes que possam atacar a cultura e não sejam hospedeiras delas. Por exemplo: • • • • • • • • • • • • Trevo com algodão, Feijão de porco com milho, Milho com guandu, Feijão fradinho e crotalaria com cana-de-açúcar, Cravo-de-defunto com tomate, Erva-santa-de-maria com cebola, Beldroega com soja, Algodão com soja, Algodão com amendoim, Crotalária com abacaxi, Gergelim com milheto, Moranga com milho e feijão. A cultura protetora é ótima para estação de chuvas, podendo ser picada e distribuída pelo solo na época de seca, para proteção contra perda de umidade. Vale para campos, cafezais, pomares, seringais e outros. A adubação verde é importante também no combate às ervas daninhas, um exemplo é o feijão-de-porco que combate com eficácia a tiririca, a aveia-preta e a ervilhaca. O azevém (Lolium multiflorum) também é eficiente no combate do capim-marmelada e da guanxuma. Na cultura entressafra a adubação verde pode ser plantada após a colheita das águas, pois ela fornecerá cobertura ao solo, num período em que este ficaria coberto por herbáceas e gramíneas nativas. Os estercos orgânicos tais como restos de dejetos de animais de estábulos ou currais, podem ser usados em áreas de produção pequena de hortaliças, por exemplo. Porém moscas podem ser atraídas pelo odor e dificultar o uso deste insumo. Quando o esterco é incorporado ao solo, deve-se esperar um tempo para a estabilização antes do plantio. Uma técnica que tem sido bem estudada é que o composto seja curtido antes da utilização. A compostagem de restos de material orgânico, de aparas de grama e capins, de estercos a subprodutos agrícolas estão sendo usados como corretivos. A matéria orgânica fresca é levada à decomposição e humificação, de forma que quando incorporada ao solo pode contribuir com maior eficácia para fertilização (GLIESSMAN, 2001). Outros corretivos de solo também são usados entre eles algas marinhas, humatos, farinha de peixe, farinha de osso, subprodutos animais, bagaço de maçã e uva, casca de arroz, farinha de penas, torta de soja, torta de mamona, polpa de café, cama de corte de frango de corte, cama de poedeiras, esterco de cabras, cavalos, gado, suínos, ovelhas, entre outros. O lodo de esgoto, vindo das águas servidas também é fonte final de matéria orgânica. Em seu percentual de peso seco pode conter de 6% a 9% de nitrogênio, 3% a 7% de fosfato e até 1% de potássio. Pode ser aplicado como torta seca ou em grânulos com 40 a 70% de água, ou com chorume de 80 a 90% de água. Alguns casos de uso destes efluentes tem sido a aplicação em gramados de campo de golfe, áreas de pastagens degradadas, pomares, laterais de auto-estrada entre outros. Copyright © - Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas - http://www.respostatecnica.org.br 11 Portanto vale lembrar que é importante o tratamento adequado destes efluentes, de forma que germes patogênicos e material tóxico não sejam incorporados ao solo. 7. ADUBAÇÃO QUÍMICA E CALAGEM As raízes necessitam de nitrogênio para se desenvolverem, porém quando colocado próximo à raiz da planta poderá impedir o crescimento da raiz. Quando for necessária a aplicação do nitrogênio e fósforo no solo, esta deverá ser feita de forma que o adubo seja colocado abaixo da raiz, assim o crescimento não ficará circunscrito e a planta poderá absorver água normalmente. É sabido que a adubação com NPK acidifica o solo (PRIMAVESI, 1984), portanto é importante cuidar para que ao longo do tempo fertilizantes químicos não tenham efeito negativo sobre o solo. É importante após a adubação com NPK, a correção com a calagem, a adubação orgânica e a adição esporádica de micronutrientes. Todos deverão ser prescritos por técnico especializado. O alumínio trocável se presente em quantidade e forma tóxica poderá ser corrigido com calagem, feita com cálcio. O cálcio tem função de corrigir o ph do solo, neutralizar alumínio e manganês tóxico, nutrir o vegetal e flocular o solo. A calagem deverá ser feita após análise do solo e prescrita por técnico competente, sendo que a quantidade de calcário aplicada deve ser de acordo com cada solo. Algumas dicas são importantes no caso do uso de fertilizantes: • • • • Quando o ph estiver entre 5,0 e 5,3, deve-se fazer prévia calagem antes de usar o adubo; Manter o solo com estrutura intata e matéria orgânica para que a raiz aproveite o adubo; Usar rotação de culturas para aproveitar os resíduos do adubo, por exemplo, a soja utiliza o enxofre do sulfato de amônio, que o algodão deixa de resíduo; Nas culturas perenes usar culturas protetoras. É importante lembrar que todo cuidado é pouco na hora de usar adubos comerciais, pois o excesso de determinado nutriente poderá significar toxidez no solo e levar à deficiência de outro nutriente, induzida pelo manejo errado. 8. FAUNA DO SOLO E MANEJO DE PRAGAS A fauna tem papel fundamental na reciclagem da matéria orgânica do solo, fragmentam o material mais grosso e estimulam a ação de decomposição pelos microorganismos, através das suas fezes, responsáveis também por incorporar outros microorganismos e matéria orgânica ao solo. Segundo Feiden (2001), num sistema de manejo agroecológico não é necessário conhecer profundamente cada grupo de organismos. Práticas agroecológicas simples tem se mostrado positivas no incremento da diversidade de organismos e das funções ecológicas realizadas por eles. Através da cobertura permanente do solo e da eliminação das queimadas, podem-se criar condições favoráveis à microfauna e aos microorganismos. Incorporar matéria orgânica, tanto pelos restos de culturas não queimados, como pelas culturas de cobertura, adubos verdes e adubação orgânica fornece substrato ao desenvolvimento tanto da fauna e dos microorganismos do solo (FIG. 6). Copyright © - Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas - http://www.respostatecnica.org.br 12 FIGURA 6: Camada de solo grumoso, raízes e com microoganismos. Fonte: STARUCK, 2007. O vermicomposto, ou seja, o composto produzido a partir das fezes da minhoca, por exemplo, é fonte de matéria orgânica, principalmente em pequenas áreas de produção. A minhoca conhecida por Eisenia foetida decompõe alimentos tais como restos de comida, que incorporados ao solo são adubos com alto teor de fosfato, nitrogênio e polissacarídeos que agregam o solo. Cupins, formigas, colêmbolos, larvas de insetos, ácaros, amebas, nematódeos entre outros, também são parte da trama complexa que é a vida em sociedade dos animais do solo. Por exemplo, os fungos controlam certos nematódeos nocivos, ácaros controlam fungos, formigas controlam ácaros. Além de comporem a teia alimentar, o trânsito destes pequenos habitantes no solo permite uma maior aeração e formação de galerias, que facilita o enraizamento das plantas. Microorganismos como algas, fungos e bactérias além de suprir de alimento a fauna do solo, são importantes fixadores de nitrogênio do ar, decompositores de matéria orgânica, especialmente celulose, transferindo a energia do sistema e reciclando a vida. Algumas bactérias fixadoras de nitrogênio são Azotobacter, Beijerinckia, Derxia, as Bacilaceas, as Pseudomonaceas, as Actinomycetaceas, além de algas cianofícias como Anabaena, Calthrix, Nostoc. Em estudo realizado foi observado que na decomposição de palhas de cobertura, bagaço e folhas secas, os fixadores de nitrogênio, que vivem na rizosfera de capins e gramas e necessitam dos decompositores de celulose, melhoraram sua performance de forma que houve grande fixação de nitrogênio e grande melhora na produção agrícola. (Primavesi, 1984) Porém a lavração, as queimadas e uso de adubos amoniacais é prejudicial à micro, mesofauna e macrofauna, fazendo com que esta desapareça. Copyright © - Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas - http://www.respostatecnica.org.br 13 8.1 Controle de pragas Quando há desequilíbrio a fauna do solo pode se tornar praga, porém é importante considerar todos os fatores do ambiente que podem estar interferindo e propiciando o distúrbio, ao invés de tratar da doença como fato isolado. De acordo com indicação de especialista competente, o controle biológico de pragas pode ser uma boa opção, toma-se como exemplo o controle da lagarta da soja, feito com o Baculavírus anticarsia. A adubação verde e o plantio de cordões de vegetação de plantas protetoras podem ser interessantes no controle de pragas, desde que não sejam competidoras com a cultura principal. Alguns exemplos são: • • • • • • • • • • • • o Eucaliptus citriodora ( contra praga de grãos armazenados e formigas), erva cidreira e o Allium sativum ( contra insetos), Nicotiana tabacum, Nicotiana rústica, Ryana speciosa, Physostigma venenosum, Melia azedarach,( contra insertos) A. odorata, ( boa eficácia no combate à Spodoptera littoralis), Daucus carota (contra lagartas), Thamnosma Montana ( contra lagartas), Hemizonia fitchii (contra mosquitos), Corydalis bulbosa (contra drosófilas), Quassia amara (contra pulgões), Ricinus comunis (contra formigas), Cordia verbenalis (uso em citricultura), Crotalaria sp. (nematódeos), Sesamum indicum, gergelim (contra formigas cortadeiras), mandioca, Manihot esculenta ( pode ser usada como carrapaticida, inseticida, nematicida e fertilizante). As pragas podem ser eliminadas também através da rotação de culturas, consórcios e da incorporação superficial da palha. 9. PLANTIO DIRETO A aração profunda e sistemática da terra empregada na forma de cultivo tradicional, bem como o uso de herbicidas após a semeadura, para controle das ervas daninhas, trazem problemas de erosão e lixiviação com perda de fertilidade. Algumas técnicas, baseadas em práticas tradicionais, demonstram que nem sempre é necessário o manejo extensivo e que o cultivo reduzido pode ajudar na recuperação do solo. O plantio direto pode evitar o desgaste da terra, pois limita o uso do solo às linhas das sementes, de forma que o preparo fica restrito à esta faixa de plantio. Técnicas de cultivo mínimo tem sido usadas com sucesso, por exemplo o consórcio de milho e soja, feito em canteiros (cultivo em camaleão), de forma que as ervas são capinadas com máquinas especiais que trabalham somente a parte superficial do solo. Através de técnicas de plantio direto em solos grumosos consegue-se conservar sua bioestrutura e manter boa disponibilidade de nutrientes, conseqüentemente manter sua produtividade. É sempre importante manter cobertura vegetal morta ou viva no solo, no qual será usada técnica de plantio direto, para que a água se infiltre com maior facilidade e não ocorra erosão. A cobertura morta poderá ser de palha picada da cultura anterior, ou da vegetação Copyright © - Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas - http://www.respostatecnica.org.br 14 nativa removida. A cobertura viva poderá ser com espécie companheira e protetora, podendo ser o guandu, feijão-de-porco entre outros citados anteriormente. 10. QUEIMADAS As queimadas controladas são uma técnica de baixo custo, comum na limpeza das ervas daninhas e restos de culturas, nos campos agrícolas e pastagens. As cinzas incorporadas ao solo provocam uma fertilidade de 1 ou 2 anos, com aumento de potássio e cálcio e redução do alumínio trocável. A parcela de fósforo acrescentada ao solo pelas cinzas é muito pequena. Logo as cinzas acrescentam cátions tais como magnésio, cálcio, sódio e potássio ao solo, mas em geral a partir do 2º ano desaparece e o solo fica mais pobre do que antes da queimada. ( PRIMAVESI, 1984) A partir do 3º ano o solo fica mais pobre e a decadência das colheitas são efeitos colaterais das queimadas. Os solos queimados perdem sua estrutura grumosa e se tornam mais densos, compactos o que dificultará a infiltração da água e o solo ficará mais seco. As queimadas de pastagens periódicas propiciam o aparecimento de uma vegetação típica de fogo, barba-de-bode, capim-cabeludo, capim flexa, o que poderá causar alterações na composição e quantidade de nutrientes do solo. Desaparecem as forrageiras boas e a fauna do solo. Pode-se verificar neste caso aumento do cálcio e cobre e diminuição do potássio, sódio e molibdênio. Pode-se considerar que o efeito da queimada descontrolada é negativo, este é um método barato que em longo prazo terá alto custo, por: • • • • Impedir que a matéria orgânica retorne ao solo, Expor o solo ao impacto das chuvas, Criar propriedades repelentes à água e tornar os solos mais secos, Criar vegetação de invasoras próprias de fogo. Em caso da queimada ser necessária e prescrita por técnico especializado, o manejo deverá ser feito de forma criteriosa, contemplando aceiros para evitar que o fogo se alastre com o vento, por toda vegetação nativa, provocando danos à fauna e flora. 11. ROTAÇÃO DE CULTURAS A rotação de culturas é um método eficaz para combate de plantas invasoras persistentes, para prevenir pragas e doenças e conservar a produtividade do solo. Porém pouco usado no Brasil e difícil em escala industrial. Este método consiste em alternar culturas para restabelecer o equilíbrio do solo, levando em consideração que cada cultura é um ecossistema diferente. Em agroecossistemas é vital conhecer o ambiente de cada planta, que é a soma dos fatores que afetam seu crescimento, sua estrutura e reprodução. Estes fatores incluem o solo, sua estrutura, os nutrientes disponíveis neste solo, o relevo, a gravidade, a umidade, a temperatura, os ventos, a radiação solar, o fogo, as plantas associadas, os animais associados e por fim os seres humanos (FIG. 7). Copyright © - Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas - http://www.respostatecnica.org.br 15 Sol homem Umidade Animais temperatura Planta vento Plantas fogo nutrientes l relevo rocha irrigação solo FIGURA 7 - Complexo ambiental. Fatores que interagem na composição do ambiente individual de uma planta. Releitura da adaptação de Billings (1952) Fonte: Adaptado de: GLIESSMAN, 2001. Então ao se optar pela rotação de culturas, deverão ser considerados os efeitos de cada tipo de cultura a ser aplicada sobre a bioestrutura do solo, sobre a fauna, sobre os nutrientes, sobre a reciclagem destes, para se obter o melhor aproveitamento das reservas do solo, sem esgotá-lo e incorporando novos nutrientes para seu restabelecimento. Aumentar a diversidade nos agroecossistemas poderá ser vantajoso para aumentar as interações benéficas entre plantas, culturas e evitar assim o aparecimento das pragas, mantendo a fertilidade e produtividade do solo. Diversidade desenhada pelo produtor: - cultivo consorciado - Ervas adventícias - rotações, - bordas e cercaduras. Diversidade biótica aumentada: - predadores naturais de herbívoros -organismos benéficos ao solo -ervas adventícias alelopáticas -fixadores de nitrogênio Melhoria das condições abiótica: -maior disponibilidade de nutrientes - diferenciação de micro-habitat - aumento de matéria orgânica no solo - melhoria da estrutura do solo Qualidade emergente no sistema: -interferências benéficas -ciclagem interna de nutrientes -manejo interno de populações de pragas - competição evitada - uso eficiente de energia - estabilidade - redução de risco. FIGURA 8: Dinâmica de sistema em agrossistema diversificado. Fonte: GLIESSMAN, 2001. Copyright © - Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas - http://www.respostatecnica.org.br 16 12. VENTOS E QUEBRA–VENTOS Os ventos podem causar impacto no solo, nas lavouras, na vegetação nativa. A energia do vento pode ser manejada em prol de benefícios para a agricultura. Medir a velocidade do vento com aparelho do tipo anemômetro é uma boa forma para estudar a velocidade e direção dos ventos, para planejar seu aproveitamento em agroecossistemas. Desta forma também poderão ser planejadas as intervenções necessárias para reduzir seu impacto em determinada área. Barreiras podem ser feitas com vegetação arbórea, arbustiva e até mesmo plantas individuais, o que será definido de acordo com a necessidade de modificar a ação do vento ou do seu aproveitamento. Algumas técnicas podem ser usadas para manejo do vento tais como (Gliessman, 2001): • plantar cinturões de proteção ou quebra-ventos ao longo de uma área, • canalizar o vento através das plantações, • usar sistema de plantio intercalado de plantas sensíveis ao vento com plantas mais tolerantes. Os quebra-ventos são estruturas para proteção, que modificam o fluxo do vento (Gliessman, 2001), reduz sua velocidade e por conseqüência seus impactos como à erosão eólica, além de proteger instalações rurais e aumentar o rendimento das culturas e de animais. Segundo estudos realizados por Kort, em 1988, através da revisão de literatura mundial sobre os benefícios de quebra-ventos para culturas de grãos de forragem, descobriu que algumas plantas se beneficiam mais que outras destas estruturas. Por exemplo, a alfafa, que tem folhas largas e se desidrata facilmente com o vento, tem nos quebra-ventos fortes aliados protetores. Gliessman (2001) lembra ainda que estudos realizados por Baldwin (1988) mostraram que o rendimento de culturas como feijão, beterraba açucareira, tomate, batata, melão, tabaco, bagas, cacau, café, seringueira, quiabo, algodão, tiveram seu rendimento aumentado de 5% a 50%, quando protegidos por quebra-ventos. O aumento da qualidade de frutíferas e videiras também foi verificado por Norton (1988), por causa da alteração no microclima a polinização pode melhorar e assim o desenvolvimento dos frutos. O quebra vento cria um obstáculo ao vento e o fluxo é jogado para cima. Perto da parte superior da barreira o fluxo é acelerado, já na região a sotavento o fluxo é bem pequeno se a barreira for densa. A densidade e impenetrabilidade da barreira têm efeito na distância sobre o qual ele pode alterar o fluxo do vento. Acima do topo do quebra-vento o fluxo é quebrado, o ar se move em sotavento e então se mistura ao ar na zona de turbulência, voltando ao seu estado normal a 20-30 alturas da barreira. Um exemplo de quebra-vento dado por Reis (2006) são as torres de cipó (FIG. 9), que redirecionam o fluxo do vento e ainda oferecem abrigo para aves e morcegos, formando núcleos de diversidade que, num processo sucessional, atraem outras espécies animais e vegetais. Copyright © - Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas - http://www.respostatecnica.org.br 17 FIGURA 9 - As torres de cipó oferecem abrigo para aves e morcegos e servem de quebra-vento. Fonte: REIS, 2006. Segundo Gliessman (2001) uma barreira com penetrabilidade de 40% reduz eficazmente a velocidade do vento por uma distância de 30 alturas de sotavento. Para compor uma barreira mais densa é necessário o plantio de arvores de diferentes tamanhos, para se formar um bom quebra-vento (FIG. 10). Figura 10 - Quebra-ventos de árvores. Maiores alturas requerem espécies de vegetação intermediárias para formar um bom quebra-vento. Fonte: ABREU, 2003. Conclusões e recomendações CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES A intervenção no solo não deve causar impacto em seu entorno, áreas produtivas devem continuar produtivas (com produtividades iguais ou maiores) ao longo do tempo. Portanto o manejo do solo requer seguir princípios orientadores tais como: • • • O cuidado de manter o solo sempre coberto, O planejamento das atividades produtivas, que deve respeitar as áreas de proteção permanente tais como as vegetações ciliares e de topos de morro, O uso de fontes renováveis de energia, Copyright © - Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas - http://www.respostatecnica.org.br 18 • • • • • • • • Valorizar a reciclagem de nutrientes e manter a fertilidade do solo através de técnicas como a adubação verde, Eliminar ao máximo o uso de insumos sintéticos não renováveis, que podem causar danos ao meio ambiente, Manejar pragas, doenças e ervas adventícias, ao invés de controlá-las, Restabelecer as relações biológicas que podem ocorrer naturalmente na unidade produtiva, ao invés de simplificá-las, A escolha das espécies corretas para cada tipo de solo, O conhecimento de fatores como a chuvas, o clima, a temperatura, o relevo, a biodiversidade natural da região, evitando escolhas erradas e o desgaste na terra, Valorizar a conservação do solo, água, energia e recursos biológicos, Incorporar a idéia de sustentabilidade a longo prazo no planejamento e desenho do agroecossistema (GLIESSMAN, 2001). De maneira geral o manejo adequado do solo deve ser fundamentado no reconhecimento e no respeito das limitações ambientais, na utilização dos ciclos naturais para otimizar os processos; ao invés de tentar em vão corrigir e eliminar as limitações. Referências REFERÊNCIAS ABREU, Paulo Giovani de. Sistemas de produção de frangos de corte: instalaçõesquebra-ventos. 2003. Disponível em: <http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Ave/ProducaodeFrangodeCorte /Quebra-v>. Acesso em: 26 nov. 2007. BALDWIN, C.S. The influence of field windbreaks on vegetables and specialty crops. Agriculture, Ecosystems & Environment, v.22/23 1988. BERTONI, José; LOMBARDI NETO, Francisco. Conservação do solo. São Paulo: Ícone, 1990. BILLINGS, W.D. The environmental complex in relation to plant growth and distribution. Quaterly Review of Biology, v.27. 1952. CETEC-FUNDAÇÃO CENTRO TECNOLÓGICO DE MINAS GERAIS. Curso de ecologia de florestas tropicais. CETEC, 2006. CURI, N.; LARACH, J. O. 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