IGREJA LUTERANA - Seminário Concórdia

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IGREJA LUTERANA
(ISSN 0103-779X)
CONSELHO EDITORIAL: Acir Raymann, editor
Elmer N. Flor
Gerhard Grasel
Martim Carlos Warth
Vilson Scholz
DIRETOR GERAL: Hans Horsch
ASSISTÊNCIA ADMINISTRATIVA: Cláudio A. Kaminski
PROFESSORES:
Acir Raymann, Christiano Joaquim Steyer, Elmer
Nicodemo
Flor,
Gerhard
Grasel,
Hans
Horsch, Martim Carlos Warth, Paulo Moisés
Nerbas, Vilson Scholz, Walter Olmar Steyer.
PROFESSORES EMÉRITOS: Arnaldo J. Schmidt, Arnaldo Schueler, Johannes H. Rottmann, Otto A.
Goerl
IGREJA LUTERANA (ISSN 0103-779X) é uma revista semestral
de teologia publicada pela Faculdade de Teologia do Seminário
Concórdia, da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB), São
Leopoldo, Rio Grande do Sul. Toda correspondência relativa à
alteração de endereço, assinaturas, recensões bibliográficas, permuta deve ser endereçada a:
Revista IGREJA LUTERANA
Seminário Concórdia
Caixa Postal, 202
93.030 São Leopoldo, RS.
IGREJA LUTERANA
VOLUME 51
JUNHO 1992
NÚMERO 1
ÍNDICE
EDITORIAIS
Nota do Editor .....................................................
2
In Memoriam ......................................................
3
ARTIGOS
O Papel Hermenêutico do Catecismo Menor de Lutero
Vilson Scholz .......................................................
..........................................................................5
O Ministério da Igreja e os Meios de Comunicação
Nilo L. Figur..........................................................
13
AUXÍLIOS HOMILÉTICOS ..............................................
19
DEVOÇÕES .................................................................
98
LIVROS .....................................................................
106
LIVROS RECEBIDOS ....................................................
109
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
1
EDITORIAIS
Nota do Editor:
No Dia do SENHOR, 29 de março de 1992, o Prof. HansGerhard Rottmann adentrou para sempre os anais da história da
igreja. Por mais de dezoito anos regeu ele os estudantes do Seminário Concórdia na compreensão da marcha do povo de Deus
através dos séculos. A Congregação de Professores e o corpo
discente do Seminário, uma hoste de alunos hoje no Santo Ministério bem como líderes da igreja lamentam sua morte e com
fé inabalável no poder do Cristo Ressurreto aguardam para partilhar com 0 colega e professor a graciosa presença nas glórias
da eternidade divina.
Enquanto aguardamos a manifestação Daquele que há de
vir, continuamos na Igreja Militante a realizar a Sua vontade
expressa em Sua Palavra e testemunhada nas Confissões legadas
pelos Pais da Igreja e aonde precisamos recorrer para dar sentido e continuidade à vida. Neste processo, análises, reflexões,
questionamentos devem ser continuamente elaborados. Quis o
Dr. Lutero, por exemplo, que o Catecismo Menor fosse objeto de
uma memorização mecânica por parte dos adolescentes? Qual a
relação que deve existir entre Bíblia e o Catecismo? Houve tempos em que por vezes o Catecismo se sobrepunha à Bíblia nas
pregações (período da Ortodoxia) e outros tempos em que o
Catecismo foi relegado a um plano bastante irrisório (Moderno
Criticismo). Em seu artigo sobre "O Papel Hermenêutico do
Catecismo Menor de Lutero", o Prof. Vilson Scholz procura mostrar a interação que existe entre a Bíblia e o Catecismo e demonstra que o uso adequado dessa interação é necessário para
a formação de uma estrutura interpretativa nos catecúmenos.
O segundo artigo aborda uma outra relação: a do Santo
Ministério com a comunicação. O Rev. Nilo L. Figur fundamenta-se a partir do Ministério público de Jesus para falar da necessidade de estratégia de comunicação como elemento persuasivo importante no Santo Ministério da Igreja.
Desejamos a você uma abençoada leitura. A vida continua.
Até o próximo número. Se Deus quiser. — AR
2
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
IN MEMORIAM
A Igreja Evangélica Luterana do Brasil perdeu o seu
MAESTRO!
Aprouve a Deus transferir o Prof. Hans-Gerhard Friedrich
Rottmann para a Igreja Triunfante. Agora ele integra o coro
celestial. Participa do "cântico do Cordeiro" (Ap 15.3,4).
Surgirá outro maestro. Outro professor de liturgia e música sacra. Mas o Prof. Hans-Gerhard sempre será lembrado
como o primeiro grande músico e maestro oriundo da Igreja
Evangélica Luterana do Brasil (IELB). Será lembrado pelas suas
obras editadas, como os dois volumes de "Cantai Louvor"; pela
"Liturgia Luterana", edição para organista e pelo novo "Hinário
Luterano". Será lembrado pelos seus concertos. Discos gravados. Aulas proferidas. Mas principalmente será lembrado pela
preservação e divulgação da tradicional arte sacra luterana.
Seu talento marcou toda uma geração de pastores e professores, uma vez que atuou como docente titular de música
sacra na IELB desde 1963. Com ímpar eficiência transmitiu a
seus alunos o grandioso acervo luterano de hinos, corais e cantatas, que fizeram da Igreja Luterana a "igreja que canta". Era
este enfim seu objetivo último, fazer com que cada congregação
com júbilo cantasse ao SENHOR.
Fundador do Coral Luterano, por 23 anos organizou e dirigiu o Culto Cantate, o maior evento sacro da capital gaúcha.
Coube também ao Coral Luterano dar a despedida final a seu
fundador, pois quando a última pazada de terra se fez cair sobre
o túmulo do Prof. Hans-Gerhard, ouvia-se entre soluços e lágrimas de seus antigos e novos cantores, a estrofe final do hino com
o qual o Prof. Hans-Gerhard costumava finalizar os cultos cantate: "Glória seja a ti cantada" {Hinário Luterano, hino 534,
estrofe n° 3}.
Com o prematuro falecimento do Prof. Hans-Gerhard, fecha-se um ciclo histórico na arte sacra da IELB: a "Era HansGerhard". Período firmemente alicerçado na tradicional herança
sacra luterana do século XVI e XVII, cujos expoentes máximos
foram Bach, Paul Gerhard, Schütz e Buxtehude.
A solenidade fúnebre ocorreu no dia 30 de março de 1992,
no cemitério luterano de Porto Alegre, RS. A parte litúrgica esteve a cargo do Rev. Nelson Lautert (São Leopoldo, RS). A alocução fúnebre foi proferida pelo Rev. Carlos W. Winterle (1º
vice-presidente da IELB). O Dr. Martim C. Warth falou em nome da Faculdade de Teologia. 0 Coral do Seminário Concórdia
prestou sua homenagem a seu maestro e professor com os hinos:
"ó Divino Protetor" e "Os que amam Deus". Usou também da
palavra o Sr. Presidente da IELB, Rev. Leopoldo Heimann. Deu
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
3
comovente testemunho da fé cristã na qual adormeceu seu cunhado. Agradeceu em nome da família pelas orações e apoio recebido durante os meses de enfermidade que precederam o desenlace.
O Prof. Hans-Gerhard Friedrich era filho do Dr. Johannes
Ifeinrich Rottmann e de da. Kathe Schlage Rottmann. Nasceu
no dia 26 de dezembro de 1935, em Cruz Machado, PR. No ano
de 1960 formou-se em Teologia pelo Seminário Concórdia e em
Letras pela PUG-RS. Em 1961/62 fez curso de pós-graduação em
Música Sacra na Washington University, o Curso de órgão sob
a direção de Anton Heiler e Litúrgica no Concórdia Seminary
de St. Louis USA. Em 1971 ainda cursou Teoria e Solfejo no
Conservatório Mozart e Música Sacra no Colégio Americano, em
Porto Alegre, RS. Entre 1974 a 1977 foi regente do Coral Sinfônico da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA). Desde
1963 foi professor de música no Curso Pré-Teológico do Seminário Concórdia. Em 1974 foi eleito professor de Teologia Prática
da Faculdade de Teologia. Integrava também a Comissão de
Culto e Liturgia da IELB.
Seu matrimônio com Ingeborg Rosa Becken em 27 de outubro de 1962, foi abençoado com três filhos: Ingrid, casada com
Rodncy Krick; Cristiane e Hans-Gert. Pranteiam seu falecimento: sua esposa, filhos, a nela Nataly, seu idoso pai, sua irmã
Marie-Luise Heimann, seu irmão Martinho, cunhado e sobrinhos.
Na alegre certeza do encontro na igreja triunfante, confortamos os familiares com a última estrofe do hino 78 do
Hinário Luterano, de autoria do próprio Prof. Hans-Gerhard F.
Rottmann,
Cristo, tu nos resgataste,
com teu sangue nos compraste
somos teus, ó bom SENHOR.
Walter O. Steyer
4
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
ARTIGOS
O PAPEL HERMENÊUTICO DO CATECISMO MENOR
DE LUTERO
Vilson Scholz*
INTRODUÇÃO
Martinho Lutero considerava o Catecismo, ao lado do De
Servo Arbítrio, sua obra mais importante. Em carta endereçada
a Wolfgang Capito, em data de 9 de julho de 1537, Lutero expressou o desejo (um tanto exagerado, talvez) de que apenas
essas duas obras fossem preservadas. Lutero escreve: "Preferiria ver todos eles (i.e., meus escritos) destruídos. Porque não
reconheço nenhum deles como sendo realmente meu, exceto talvez o De Servo Arbítrio e o Catecismo".1
De todos os escritos confessionais da Igreja Luterana, a
linguagem do Catecismo Menor é, sem dúvida, a mais popular.
Afinal, Lutero escreveu-o para o povo simples. Acabou se tornando o mais difundido dos escritos de Lutero.
Qual é a importância e o papel desse livreto tão valorizado
por seu autor e por seus incontáveis leitores? Esta questão pode
ser abordada de diferentes perspectivas. Neste ensaio tentaremos
abordar a questão numa perspectiva hermenêutica, procurando
ver a importância hermenêutica do Catecismo. A questão que
se coloca ó a seguinte: qual o papel do Catecismo na tarefa de
compreender tanto a Palavra de Deus quanto o sentido da vida
cristã? Em resposta a essa pergunta, teremos que dar atenção
especial a um conceito que tem recebido destaque na discussão
hermenêutica contemporânea: o conceito de "comunidades interpretativas".
I
COMUNIDADES INTERPEETATIVAS
Teóricos da hermenêutica insistem hoje que nenhum
térprete é uma ilha, e que toda interpretação se dá no contexto
in-
* Rev. Vilson Scholz, STM, é professor de Teologia Exegética no Seminário Concórdia desde 1985. Atualmente está em licença realizando estudos
de pós-graduação no Concórdia Seminary, St. Louis USA.
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
5
de uma comunidade interpretativa. James W. Voelz insiste que
“um leitor interpreta em comunidade, com outros leitores, com
outros receptores, com aqueles que são seus contemporâneos, e
com aqueles que o precederam. Isso tem ficado cada vez mais
evidente”. 2 Todo interprete faz parte de uma comunidade interpretativa, esteja ele consciente deste fato ou não. 0 ser humano
é essencialmente um ente interpretativo, um homo hermeneuticus.
Stanley E. Fish constata que "a habilidade interpretativa não se
adquire; ela é parte integrante do ser humano".3 O que se adquire ou aprende são estratégias interpretativas, diferentes maneiras
de interpretar. Estas tendem a variar de comunidade para comunidade e explicam as diferentes interpretações individuais.
Através e a partir do batismo, o cristão é membro da comunidade interpretativa cristã. Na Igreja Luterana, é membro
da comunidade interpretativa luterana. Na igreja lhe são ensinadas estratégias interpretativas. Isto faz parte da missão da
igreja, descrita por Lutero como "a mãe que gera e carrega a
cada cristão mediante a palavra de Deus" {Catecismo Maior, Do
Credo, 42; Livro de Concórdia, p. 453). A comunidade de fé tem
tanto o direito como a responsabilidade de ensinar a seus membros as estratégias interpretativas que lhe são peculiares (Dt
6.6, Ef 6.4).
Este processo de ensino-aprendizagem é iniciado bem cedo
na vida do batizado, muito antes do inicio da instrução catequética formal. A criança presente ao culto já está sendo educada.
Ali ela já aprende o que é ser cristão. Ali ela tem um modelo
visível do que é a igreja. Símbolos, textos, hinos, gestos identificam a comunidade cristã. Ao participar do culto, a criança
está aprendendo a ser parte desta comunidade. 4
II
A IMPORTÂNCIA DO CATECISMO NA FORMAÇÃO
DA COMUNIDADE INTERPRETATIVA LUTERANA
No contexto amplo de aprendizagem referido acima, a instrução de confirmandos é um evento significativo que se dá num
momento específico, com um propósito específico. O momento
é, via de regra, a adolescência, período em que se desenvolve ou
pode ser desencadeada a capacidade de pensamento formal ou
abstrato. O principal propósito da instrução catequética deveria
ser o de "iniciar o jovem adolescente na aprendizagem de uma
nova maneira de pensar, de ensinar-lhe uma nova tarefa interpretativa”. 5
0 Catecismo Menor de Lutero foi e continua sendo para a
comunidade luterana um paradigma de interpretação e de orga6
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
nizacão de toda a vida à luz de e em relação à pessoa de Jesus
Cristo. O propósito do Catecismo é o de estimular a aquisição
de uma estrutura interpretativa 6 à base e por meio da qual o
jovem cristão apreenderá as realidades de fé e vida da comunidade.
Posto isto, surgem algumas questões; 1. Será que Lutero
escreveu o Catecismo com um tal propósito em vista? 2. O Catecismo Menor se adeqúa a tal propósito?
Pode-se fundamentar a tese de que Lutero via no Catecismo Menor um paradigma para a interpretação das Escritoras e
da vida cristã? É evidente que, sendo parte das Confissões LUteranas, o Catecismo cumpre esse papel. Isto, no entanto, ainda
não responde a pergunta a respeito da intenção de Lutero. Em
resposta, pode-se tomar como ponto de partida a constatação de
que Lutero acrescentou às partes principais do Catecismo uma
breve forma de confissão (de pecados), orações para diferentes
momentos do dia, uma tábua de deveres, e até mesmo um manual de batismo (Taufbüchlein), e uma liturgia de casamento
(Traubiichlcin). Disto se pode deduzir com relativa margem de
segurança que Lutero via no Catecismo muito mais uma porta
de acesso ao cristianismo do que um simples livro de dogmática
para leigos. O propósito de Lutero, no entanto, não precisa ficar
no campo das deduções, pois está claramente expresso no prefácio ao Catecismo Menor (1529) e, especialmente, na Missa Alemã (1526).
No Prefácio ao Catecismo Menor, Lutero roga a Pastores
e pregadores que o ajudem a "inculcar o Catecismo às Pessoas,
especialmente à juventude". (Prefácio, 6; Livro de Concórdia,
p. 364). Um pouco adiante Lutero enfatiza um ponto que lhe é
característico, a saber, que "a ninguém se pode nem se deve
obrigar à fé". Isto, no entanto, não resulta em passividade. Ao
contrário, Lutero sabe que é responsabilidade cristã "insistir e
urgir com o povo para que saiba o que é justo e injusto entre
aqueles com quem querem morar alimentar-se e viver. Pois quem
quer morar em uma cidade tem a obrigação de conhecer e observar suas leis..." (Ibid.).
O que Lutero escreve no Prefácio ao Catecismo Menor não
é fruto de inspiração momentânea. Já na Missa Alemã de 1526
Lutero enfatizava que o Catecismo deveria ser ensinado do púlpito e dos lares para benefício das crianças e dos servos, para
treiná-los como cristãos. 7 O objeto não é fazer com que memorizem as palavras, mas que entendam o que cada parte significa
e saibam explicar como eles entendem cada parte. O objetivo
último de toda essa repetição é que o coração apreenda totalidade da verdade cristã sob dois títulos ou, por assim dizer, em
duas "bolsas": fé e amor.
Lutero insiste em que se tenha um
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
7
princípio organizador, uma estrutura interpretativa, ou, numa
imagem típica de Lutero, "duas bolsas". O que interessa não é
tanto a quantidade de coisas que se coloca dentro das bolsas (e
aqui Lutero entende que os textos bíblicos aprendidos do sermão
serão colocados em uma ou outra dessas "bolsas"), mas o fato
de se ter ou não ter as bolsas. Sem as bolsas, sem a estrutura
interpretativa, "as pessoas podem ir à igreja diariamente e sair
do mesmo jeito que entraram".
Fica evidenciado que Lutero não entendia o Catecismo como um mero livro-texto de instrução catequética a ser usado por
um ou dois anos e então descartado. Lutero enfatizava repetição
e constante pregação sobre o conteúdo do Catecismo, pois não é
de um dia para o outro que se forma essa estrutura interpretativa.
A segunda questão é se o Catecismo de Lutero se adeqúa
a tal propósito. Aqui talvez a melhor resposta seria: "experimente e verá". No entanto, também é possível dar uma resposta
a priori. Diferentes aspectos podem ser levados em conta. O
primeiro é de ordem histórica: o Catecismo já provou que é
adequado. Outro aspecto é a catolicidade do Catecismo Menor.
Trata-se de um documento que não tem nada de sectário. 8 Em
terceiro lugar, a concisão do Catecismo de Lutero é um aspecto
altamente positivo.9 Por último, o Catecismo de Lutero é apropriado para a função de formar a estrutura interpretativa devido
a seu caráter evangélico, ou seja, sua ênfase no evangelho.
III
USANDO O CATECISMO COMO CHAVE HERMENÊUTICA
O Catecismo Menor é chave hermenêutica tanto para a interpretação da Escritura como para a compreensão da vida cristã.
Ambos aspectos precisam ser investigados.
Em primeiro lugar, o relacionamento Catecismo-Bíblia,
blia-Catecismo. Como descrevê-lo? Como se relacionam?
Bí-
Uma possibilidade, equivocada por sinal, é permitir que o
Catecismo tome o lugar da Bíblia pura e simplesmente. Isto se
dá, por exemplo, quando pastores pregam (pregavam?) o Catecismo em lugar da Bíblia. Martin H. Franzmann, escrevendo em
1965, cita o exemplo de um antigo pastor do Sínodo de Missouri
que dizia: "Somos uma igreja do Catecismo, e não uma igreja
da Bíblia”. 10 Franzmann percebeu que tal raciocínio freqüentemente resultava no que ele chama de "refúgio no dogma".
Franzmann explica:
O pregador foge do Novo Testamento para seu Catecismo ou livro de dogmática. Se a consciência o acusar,
8
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
dizendo que ele colocou o mapa dogmático em
da paisagem querigmática do Novo Testamento,
pre poderá se consolar, dizendo ter pregado "um
mão doutrinariamente sólido, e que é disso que o
precisa".11
lugar
semserpovo
Franz Pieper, eminente dogmático do Sínodo de Missouri,
escreveu um artigo, nos idos de 1929, explicando o que significa
“pregar o Catecismo". Pieper nos assegura de que Lutero não
pretendia que as palavras do Catecismo se tornassem o texto do
sermão. O texto precisa ser tirado da Escritura, diz Pieper, embora cada sermão deveria apresentar sempre de novo as doutrinas que o cristão precisa conhecer. 12 A função do Catecismo é
dar olhos para ver e ouvidos para ouvir o que a Escritura
apresenta com tanta riqueza de cor e de forma tão variada”. 13
A contar pela Missa Alemã de 1526. Lutero diria que o ouvinte,
e não tanto o pregador, é que precisa do Catecismo!
Existe uma secunda possibilidade de descrever o relacionamento Catecismo-Biblia. Trata-se de um ponto-de-vista que
surgiu em meados do século dezenove, na esteira do método
bistórico-crítico (com seu programa de fuga do dogma!) e da
secularização do ensino religioso na Europa. Segundo esta visão,
cumpre enfatizar a interpretação de textos bíblicos. Disso resulta
que o Catecismo é empurrado para um canto, assumindo, quando
muito, uma função auxiliar. Segundo Kurt Frör, 14 antes do século dezenove a igreja nunca tinha feito nada semelhante. Desde
o segundo século, quando a igreja reconheceu a importância do
cânone e da regra de fé (credo), até o século dezenove a igreja
nunca tinha ousado colocar o Catecismo num canto. Fato é que
jamais se deveria reduzir a instrução catequética à mera interpretação de textos bíblicos. Acontece que cedo ou tarde se acaba
com uma forma de Catecismo. A própria seleção de textos a
serem interpretados já revela pressupostos que se constituem inconscientemente num Catecismo.
A melhor maneira de descrever o relacionamento Catecismo-Biblia é em termos de interação ou diálogo. Werner Krusche
apresenta uma detalhada descrição de três fases desse diálogo: 15
1. O Catecismo é tirado das Escrituras e conduz às Escrituras. O Catecismo e chave que abre as Escrituras e guia que
conduz através delas. Lutero alude a isto, no Prefácio ao Catecismo Menor, seção 25:
Bem sabidas essas partes, também se podem propor
em seguida, como suplemento e para confirmação, alguns salmos, ou alguns hinos, que foram compostos a
esse propósito. Destarte se pode introduzir a juvenIGREJA LUTERANA/NÜMÉRO 1/1992
9
tude na Escritura
Concórdia, p. 394).
e
avançar
diariamente
(Livro
de
O Catecismo, no entanto, não se torna obsoleto no momento em que se obteve acesso às Escrituras, pois o Catecismo também nos espera no final da caminhada, como resumo das Escrituras. Em outras palavras, trata-se de uma rua de mão dupla,
do Catecismo às Escrituras è das Escrituras ao Catecismo.
2. O Catecismo não apenas ajuda a entender as Escrituras, como também ajuda a reter o que se entendeu. O Catecismo
aponta para a soma de tudo que a Bíblia tem a dizer e ajuda a
ver cada texto no contexto desse todo.
3. O Catecismo explica as Escrituras e estas, por sua vez,
explicam o Catecismo. O Catecismo explica a Bíblia na medida
em que ensina a relacionar tudo ao centro cristológico-soteriológico, bem como a entender a ação salvífica de Deus como pro me
(em meu lugar e a meu favor). Por outro lado, as Escrituras
interpretam o Catecismo na medida em que expandem e dão
concretude às afirmações temáticas do Catecismo.
O Catecismo também ajuda a entender a dinâmica da vida
cristã. O Catecismo apresenta a visão teológica, fundamental em
Lutero, de que a vida cristã é um conflito entre o velho e o novo
homem. 16 O cristão é simul iustus et peccator. Lutero se reporta
a isso especificamente na quarta parte da explicação do Batismo:
Que significa esta imersão em água? Resposta: Significa que o velho homem cm nós, por contrição e arrependimento diários, deve ser afogado e morrer com
todos os pecados e maus desejos, e, por sua vez, sair e
ressurgir diariamente novo homem, que viva em justiça e pureza diante de Deus eternamente (Livro de
Concórdia, 376).
A mesma visão aparece em diferentes pontos do Catecismo.
Antes de tudo, o simul iustus et peccator pode ser encontrado na
explicação aos Dez Mandamentos.
"de maneira que não"
pressupõe o velho homem. O "porém" que segue tem em vista
o novo Adão. Um exemplo é a explicação ao oitavo mandamento. Mentir com falsidade ao nosso próximo, trair, caluniar e
difamá-lo são características do velho homem. Desculpar o próximo, falar bem dele e interpretar tudo da melhor maneira são
atitudes que caracterizam o novo homem.
O mesmo simultaneamente justo e pecador aparece na explicação dos artigos do Credo. No primeiro Artigo, aquele "sem
mérito ou dignidade de minha parte" aponta para o peccator,
ao passo que o "devo dar-lhe graças e louvor, servi-lo e obede10
IGREJA LUTERANA/NUMERO 1/1992
cer-lhe" se dirige ao novo homem. No segundo Artigo, o cristão
confessa ser homem perdido e condenado, que foi resgatado por
Jesus Cristo para lhe pertencer e viver submisso a ele em seu
reino. No terceiro Artigo, o peccator aparece no "creio que por
minha própria razão ou força não posso crer em Jesus Cristo",
enquanto o iustus confessa que o Espírito Santo o chamou, iluminou com seus dons, santificou c conservou na verdadeira fé.
A explicação do Pai-Nosso, no Catecismo de Lutero, está
repleta de referências à nossa natureza pecaminosa e ao pecado.
No entanto, ao mesmo tempo ensina que Deus é "nosso verdadeiro Pai e nós, os seus verdadeiros filhos".
Outra articulação do simul iustus et peccator se encontra
nas Orações, especialmente na assim-chamada Bênção da Manhã:
“Peço-te que me preserves também neste dia do pecado e de
todo o mal, para que todas as minhas ações e a minha vida te
agradem".
CONCLUSÃO
Para muitos, o Catecismo Menor é apenas um dos tantos
escritos de Lutero. Para a Igreja Luterana, o Catecismo Menor
é um importante documento confessional. Para o pastor Luterano na capacidade de educador, o Catecismo Menor é o livro-texto
que se impõe. Para a maioria dos catecúmenos, o Catecismos é
um livro a ser aturado, parcialmente memorizado, e descartado
após a confirmação. No entanto, usado adequadamente, o Catecismo Menor é um importante instrumento hermenêutico.
O Catecismo Menor foi e continua sendo o mais importante instrumento para a formação da comunidade luterana de fé.
Esta comunidade de fé é uma comunidade interpretativa, que
interpreta especialmente as Escrituras Sagradas e sua própria
existência como igreja de Deus. Para entender adequadamente
a Bíblia e a vida cristã à luz de lei e evangelho, simul iustus et
peccator, o Catecismo Menor é chave hermenêutica fundamental.
NOTAS
WA, Briefwechsel 8, 99 (LW 50, 172-173).
2
VOELZ, James W. Receptor-Oriented Interpretation of the Holy
Scriptures. In: Receptor-Oriented Gospel Communication. Eugene W.
Bunkowskc e Richard French, ed. Fort Wayne: Concórdia Theological
Seminary, 1989, p. 59.
3
FISH, Stanley E. "Interpreting the Variorum". In: Reader-Response
Criticism: From Formalism to Post-Structuralism. Jane P. Tompkins, ed.
Baltimore: John Hopkins University, 1980, p. 183.
4
GOBBEL, Roger A. "Catechetical Instruction: An Invitation to Thinking". Lutheran Theological Seminary Bulletin 60 (1980): 36.
1
5
Ibid., p. 32.
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
11
6
FRöR, Kurt. "Theologische Grundfragen zur Interpretation des Kleinen Katechismus D. Martin Luther". Monatschrift für Pastoraltheologie 52
(1903): 482. Frör usa o termo "Verständnisfelder".
7
Notar que, em Lutero, Catecismo é um conceito que não se restringe
aos dois livros que ele próprio redigiu. Em 1526 estes ainda nem tinham
sido escritos. A Lutero interessa o conteúdo do Catecismo, a catequese,
esteja ela em que livro estiver.
8
Tampouco a polêmica faz parte do Catecismo Menor. Não há referência a papistas e entusiastas embora se possa dizer que aqui e ali
Lutero refuta um ponto-de-vista contrário. Ninguém, todavia, é mencionado diretamente.
9
Aqui surge a seguinte questão: até que ponto ou por que ocupar-se
com a explicação anexada ao Catecismo de Lutero, seja aquela conhecida
como sendo do Dr. Schwan ou outra qualquer (Crescendo em Cristo, etc).
Não seria melhor limitar-se ao que o próprio Lutero escreveu? Há quem
insista que o Catecismo de Lutero deveria ter prioridade absoluta, para
não dizer exclusividade. Uma solução conciliatória poderia se dedicar
metade do tempo ao Catecismo Menor e o resto à explicação apenas.
10
FRANZMANN, Martin H. "The Hermeneutical Dilemma: Dualism in
the Interpretation of Holy Scripture". Concórdia Theological Monthly 30
(1905): 532.
11
Ibid.
12
PIEPER, Franz. "Der Zweck
Lehfe und Wehre 75 (1929): 34.
des
Kleinen
Katechismus
Luthers".
13
FRANZMANN, op. cit., p. 532.
FRÕR, Kurt. "Textinterpretation und Katechismusunterricht in
kirchlichen Unterweisung". Theologische Literaturzeitung 86 (1961): 22-23.
14
15
KRUSCHE, Werner. Zur Struktur
rische Monatshelfte 4 (1965): 319-20.
des
Kleinen
Katechismus.
der
Luthe-
16
GRITSCH, Eric W. Luther's Catechisms of 1529: Whetstones of the
Church. Lutheran Theological Seminary Bulletin 60 (1980): 10.
12
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
O MINISTÉRIO DA IGREJA CRISTÃ E OS MEIOS
DE COMUNICAÇÃO
Nilo L. Figur*
Disse Jesus em Mateus 10.27: "O que vos digo às escuras,
dizei-o em plena luz; e o que se vos diz ao ouvido, proclamai-o
dos eirados". E o apóstolo Paulo aos Romanos, no capítulo 10.13
e 14: "Por que: Todo aquele que invocar o nome do Senhor, será
salvo. Como, porém, invocarão aquele em que não creram? e
como crerão naquele de quem nada ouviram? e como ouvirão,
se não há quem pregue?
Há uma relação importante entre a Comunicação ou a
ciência da comunicação e a Igreja e conseqüentemente o ministério pastoral. A Comunicação esteve presente na história da
igreja cristã através dos tempos: na variedade dos símbolos litúrgicos, nas torres com cruzes e sinos e no uso da imprensa, de
Gutenberg até nossos dias. O primeiro livro impresso através do
processo de tipos móveis foi a Bíblia. O alastramento do movimento da Reforma, liderado por Lutero, a partir de 1517, esteve
fortemente relacionado à mídia impressa. Ao pregar as 95 teses
na porta da igreja do castelo de Wittenberg e usar a imprensa
de então para divulgar suas idéias e posições, Lutero estabeleceu
um vínculo importantíssimo da causa da Reforma com, os meios
de comunicação de massa da Idade Média.
O relacionamento da Igreja com, os meios de comunicação
de massa foi preservado pelo luteranismo através dos tempos,
especialmente no que diz respeito à publicação das obras de
Lutero, iniciando pela impressão da própria Bíblia na língua do
povo.
* Rev. Nilo L. Figur tem mestrado em Comunicação pela Webster Uni
versity, St. Louis, MO. USA e é Secretário Executivo da Área de Comunicaçao da IELB. Rev. Nilo L. Figur proferiu esta aula inaugural a
alunos e professores do Seminário Concórdia no dia 19 de fevereiro
de 1992.
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
13
A comunicação como tal tornou-se um dos importantes
campos de estudo nas últimas décadas. Não é preciso enumerar
aqui os resultados do impacto da comunicação e dos meios de
comunicação de massa na sociedade, nos últimos 20 anos, especialmente. Sob esta perspectiva de análise é possível ver como
historicamente a comunicação esteve, está e deverá estar presente na ação global da Igreja de Cristo. Não se trata de alterar
dogmas, doutrinas e conceitos estabelecidos pela teologia. Trata-se, isto sim, de estabelecer formas e princípios inerentes à
ciência da comunicação para melhor comunicar, com mais clareza, com maior objetividade e sem ruídos a preciosa mensagem
de Jesus Cristo à nossa gente, à sociedade e ao nosso mundo. E
isso tem muito, ou melhor, tem tudo a ver com o Ministério
Pastoral.
Por mido entende-se tudo aquilo que interfere direta ou
indiretamente no processo de comunicação de tal forma que a
comunicação perca a sua eficácia.
I. A IGREJA, SUA MISSÃO E A MÍDIA.
Como luteranos, cremos e confessamos que a Igreja de
Cristo é estabelecida por Deus, segundo o seu propósito. Não é
uma organização meramente humana. Ela está centrada no
Evangelho de Cristo, que é a própria ação de Deus em favor de
sua criatura humana. E é com este propósito e nesta perspectiva
que se estabelece e se insere o Ministério Pastoral.
A Igreja, ou a. congregação local, tem como sua missão
primordial a tarefa de proclamar o Evangelho. Há uma dimensão missionária em toda a sua ação de testemunho, de culto, de
serviço, de ação fraternal e de crescimento na Palavra. "Missão
inicia no coração de Deus c expressa o Seu amor ao mundo”.
("Gospel and Scripture", CTCR-LC-MS). A Comunicação é parte integrante do processo através do qual a Igreja se organiza e
atua no seu meio, no mundo. A comunicação é parte de toda a
ação de Deus no mundo. "Haja luz", "está escrito", "o Verbo
se fez carne", "está consumado", "pregai o Evangelho a toda a
criatura", são formas concretas de comunicação na ação misericordiosa de Deus no mundo.
O estudo das diversas teorias da comunicação nos leva a
buscarmos uma aplicação coerente da comunicação com nossos
princípios teológicos. Por isso, é importante uma análise da comunicação e uma aplicação correta da mesma à ação da Igreja
e particularmente no Ministério Pastoral.
"Comunicação de massa é muito mais do que a variedade
de novas tecnologias desenvolvidas como equipamentos que se
14
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
somam para o entretenimento, o lazer e a comunicação mais rápida e eficiente entre pessoas. O resultado da assim chamada
revolução eletrônica tem sido a criação de um novo meio-ambiente que tem modificado o modo de vida das pessoas e influenciado todo o relacionamento humano da sociedade (Allan More,
“Viewpoints").
Assim, quando a Igreja pensa sobre o uso dos meios de
comunicação para alcançar seus objetivos, é importante analisar
como a comunicação nas suas mais variadas formas está relacionada à vida e à cultura das pessoas.
As mudanças nos meios tecnológicos de comunicação afetam as dimensões da vida, porque, segundo Eugen Nida, "Comunicação nunca acontece num vácuo social, mas sempre entre
indivíduos que são parte de um contexto social mais amplo. E
estes indivíduos participam de um evento comunicativo que os
coloca definitivamente numa relação de um para com o outro".
O desenvolvimento da comunicação neste século tem sido
algo muito mais do que simplesmente a soma de mais meios de
comunicação à disposição da sociedade. Comunicação de massa se
tornou algo mais do que simples canais de informação, entretenimento e persuasão. "São instituições ou organizações da sociedade contemporânea manobrando um poder enorme para o bem
ou para o mal. Conseqüentemente, a Igreja não somente busca
se comunicar com a sociedade através destes meios de comunicação. Ela também fala aos meios, confrontando as grandes organizações de comunicação com os valores e parâmetros cristãos".
"Há uma grande necessidade de uma comunicação cristã
em nossas comunidades e vozes luteranas podem ser parte de
todo um processo. A mudança de estilos de vida, as rupturas
sociais e de relacionamentos e a solidão observada e percebida
na vida das pessoas de todos os níveis, clamam por novos canais
de comunicação que permitam alcançar estas pessoas", declarou
o Secretário de Comunicação da Lutheran Church-Missouri Synod,
Rev. Paul Devantier. Num documento de "Afirmações Missionárias", publicado em 1965 pela mesma Igreja, está presente a
preocupação e a relação da comunicação com respeito à missão
da Igreja: "Nós nos reconsagramos com tudo o que somos e
temos para com a tarefa de testemunhar a Cristo em palavras
e ações para todo o mundo, agradecidos e fazendo pleno uso dos
recursos da comunicação que Deus está oferecendo à Igreja, através da ciência e tecnologia, nesta era de explosão demográfica".
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
15
II.
COMUNICAÇÃO E MINISTÉRIO PASTORAL
Algumas considerações práticas
A questão da comunicação no Ministério Pastoral é complexa e se inter-relaciona a toda atividade do pastor. A escola
norte-americana, sob o ponto de vista da comunicação específica
este lado da atuação pastoral como "public relations". O pastor é considerado o relações pública da congregação e da Igreja.
A partir daí pode-se estabelecer um programa de relações públicas para todo o trabalho da congregação.
O princípio básico para isso é que a Igreja está inserida
num lugar com uma mensagem que precisa ser vivida e compartilhada. Mas existe algo muito importante entre o que se quer
transmitir ou comunicar c o que é compreendido pelo receptor.
Para Joan Graz, essa dialética entre o que o emissor entende que
está comunicando e o que o receptor realmente está entendendo
é o que está no coração do processo das relações públicas.
De uma forma geral deveriam ser estabelecidos e seguidos
4 passos básicos na elaboração de um programa de relações públicas para a congregação local ou a Igreja:
Passo 1:
Como este trabalho foi desenvolvido até aqui?
— Pesquisa e análise: Qual é o nosso problema?
Passo 2:
Passo 3:
Planejamento de um programa de comunicação.
— Quem vai fazer o quê?
A ação de comunicar.
O desenvolvimento do plano, considerando os
diferentes público-alvo.
Passo 4:
Avaliação das ações e dos resultados.
Um plano de ação global no Ministério Pastoral incluirá
necessariamente uma variedade enorme de atividades desenvolvidas na Igreja. O pastor se vê envolvido com a comunicação
no culto, na liturgia, na pregação e em toda a sua atividade
administrativa na congregação. Aí se estabelecem aspectos de
um programa, de relações públicas na forma como se dá a comunicação interna na congregação e externa com a sociedade.
Como parte do programa pode-se identificar o boletim informativo, o material de expediente, a recepção aos visitantes,
quadros murais, placas identificativas e com mensagens, produção e distribuição de materiais gráficos, de áudio e vídeo, uso de
jornal, rádio e TV locais, etc.
Possivelmente todas estas coisas estejam ocorrendo, de uma
ou outra maneira na ação da Igreja e do Ministério Pastoral. A
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IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1092
questão que se coloca é de que forma e com que eficiência elas
estão sendo desenvolvidas.
Um dos meios de comunicação mais usados no Ministério
Pastoral da IELB hoje é o rádio. Infelizmente, de uma forma
geral, sob a análise objetiva da comunicação, na maioria das
vezes, há um equívoco na sua forma de uso: A linguagem e forma de púlpito é levada ao ar a um público diverso e sem uma
estratégia definida.
Segundo Peterson e Kempff, considerando os diferentes
meios de comunicação de massa, a Igreja deveria considerar os
seguintes passos e aspectos na implantação de um programa de
rádio:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
Determinar a necessidade do programa.
Definir a audiência, o público alvo.
Analisar os recursos humanos e financeiros disponíveis.
Definir a estratégia, o marketing.
Estabelecer metas concretas e objetivas.
Produzir as mensagens, os programas.
Implementar o programa.
Manter estatísticas e análises.
Avaliar periodicamente.
Compartilhar os resultados.
A partir deste exemplo, pode-se estabelecer paralelos com
todos os outros aspectos do Ministério Pastoral onde a comunicação está presente. Analisando genericamente esta situação na
IELB, parece que sobressaem duas conclusões básicas:
Primeiro:
Há uma falta de compreensão por parte dos
membros (e pastores?) do propósito fundamental da Igreja (Mission Statement). Por que pertenço a esta igreja e qual o meu papel na mesma?
Segundo: Considerando que a comunicação é inerente ao
ser humano, parece haver uma desconsideração
a uma aplicação metodológica da mesma ao
processo de ação e serviço na Igreja. É cômodo deixar esta questão por conta do Espírito
Santo.
CONCLUSÃO
O uso dos meios de comunicação pela Igreja é um importante e decisivo aspecto da sua ação neste mundo. O uso correto
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17
da comunicação é um desafio para a Igreja e sua missão. E o
pastor neste contexto é fundamental.
Para alcançar os melhores resultados do bom uso da comunicação, é necessário que a mesma seja usada corretamente,
segundo os conceitos fundamentais do campo do conhecimento
de comunicação.
Isto não implica na alteração de doutrinas
e confessionais que definem nossa fé e nossos valores.
fundamentais
Para Norman Cousins, "a coisa mais precária no mundo
é a comunicação efetiva. A comunicação efetiva é a arte maior".
Para Jesus pode ser o "proclamar dos telhados", para o
apóstolo Paulo, "como ouvirão se não há quem pregue?", e para
nós da era do impulso eletrônico — como podemos alcançar eficiência na comunicação da preciosa mensagem do Evangelho em
nosso Ministério Pastoral.
18
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
AUXÍLIOS HOMILÉTICOS
SÉRIE TRIENAL — C
EVANGELHOS
DIA DE PENTECOSTES
7 de Junho de 1992
João 15.26-27; 16.4b-11
Com a Festa de Pentecostes, encerra-se o Ciclo da Páscoa.
Pentecostes é, neste sentido, um, divisor de águas, pois com ela
encerra-se a parte do Ano Litúrgico que trata dos grandes eventos que envolveram o Senhor Jesus e sua igreja de uma forma
muito especial.
O evento do Pentecostes não é algo novo despencando sobre as cabeças e corações dos discípulos. A Festa de Pentecostes
era antes de mais nada a culminância da Páscoa, e com muita
propriedade pertencia ao Período da Páscoa. O Senhor ressuscitado, tendo subido ao céu, agora envia o Espírito da promessa
à igreja expectante.
O Espírito concede à igreja (primitiva e contemporânea)
o poder e os dons para proclamar a boa notícia da ressurreição.
A motivação, em, si, já existe: a ressurreição! E a Primeira Leitura das três séries durante a Páscoa, basicamente de Atos dos Apóstodos, é uni marco testemunhai de que o empreendimento missionário da igreja cristã brota da firme convicção de que o Cristo
ressuscitou, vive e está com a sua igreja onde quer que vá!
O tema do dia é a doutrina do Espírito Santo — pessoa e
obra. A Primeira Leitura (Gn 11.1-9) narra a construção da
Torre de Babel enfatizando a orgulhosa rebelião do povo contra
o seu Deus e que tem como resultado a frustração e a confusão.
A Segunda Leitura (Atos 1.2-21), que está em lugar da Epístola,
prove o relato histórico do evento — a nova comunidade cristã é
constituída pela dispensão do Espírito Santo. Observe-se, a Epístola é a culminância de uma poderosa pregação de Lei e Evangelho por parte de Pedro. A Terceira Leitura (Jo 15.26-27;
16.4b-11) aponta de volta para a promessa do Consolador.
Paulo define a igreja como corpo de Cristo. O Espírito
Santo é a alma deste corpo. À medida em que o Espírito está no
corpo, o corpo vive. Sem o Espírito, o corpo morre.
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A Festa de Pentecostes é, para o povo de Deus, uma oportunidade de retroceder no tempo e colocar-se no meio da multidão de judeus de todas as partes do mundo e experimentar os
poderosos efeitos da mensagem do Pentecostes que não está limitada às barreiras do tempo e espaço.
Texto e Contexto
Os discursos finais de Jesus incluem referências específicas
à doutrina do Espírito Santo. O evangelista João contém freqüentes referências à pessoa, à obra e à necessidade da vida
deste que um determinado autor chama de "o Deus quase desconhecido".
No trecho que antecede ao texto do evangelho, o Senhor
Jesus explica que a hostilidade dos judeus em relação a ele é
pecado, por não terem reconhecido suas palavras, suas obras e
sua missão divinas. Esta era a razão do seu ódio por Jesus: eles
não conheciam, Aquele que deveriam ter reconhecido. Odiaramno sem motivo.
E esta seria exatamente a função do Espírito Santo. Ele,
o Espírito da verdade, testemunhará de Jesus,
É interessante observar a ênfase que o Senhor dá ao fato
de que o Espírito tem como missão convencer o mundo da mentira ou engano promovendo a verdade. E a verdade não é outra
senão a pessoa e a obra de Jesus.
Pode parecer, e há os que defendem a tese, que existem 2
tipos de testemunhos: um do Espírito Santo, outro dos discípulos (vv. 26-27). Quando, porém, o Senhor Jesus afirma, "e vós
também testemunhareis", os melhores comentaristas insistem que
o testemunho dos discípulos é conseqüente. O Espírito Santo usa
dos discípulos para testemunhar das coisas que viram e ouviram.
Como o Espírito Santo está presente nos discípulos, todas as
coisas feitas por palavras e atos são feitas pelos discípulos como
instrumentos do Espírito Santo.
Segue-se que o testemunho do Espírito Santo e dos discípulos chega ao indivíduo como sendo uma e a mesma coisa. Ao
testemunharmos hoje de Cristo, o mesmo Espírito cumpre suas
funções em e através de nós.
Proposta Homilética
I- O Espírito Santo atua como Advogado Divino.
1. Ele advoga em favor dos discípulos:
— ajudando-os nas suas dificuldades e necessidades;
20
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
— apoiando-os em seu testemunho por Cristo.
2. Ele advoga a Pessoa e Obra de Cristo:
— defendendo a causa de Cristo no mundo contra falsas acusações e dando testemunho da
verdade.
II — 0 Espírito Santo atua também como o Acusador.
1. Convencendo o mundo do pecado
— Da rejeição de Jesus;
— Da falta de reconhecimento da missão de Cristo.
2. Convencendo o mundo da justiça de Cristo autenticada pela sua morte e ressurreição e oferecida a todas as pessoas indistintamente.
3. Convencendo o mundo do juízo
— Apontando para a derrota do usurpador do
mundo;
— Revelando quem verdadeiramente governa o
mundo.
A mensagem é clara — o Espírito Santo é tanto o Advogado de Cristo e dos discípulos como o Acusador do mundo. À
medida em que os cristãos testemunham, o Espírito executa as
mesmas funções ainda hoje em e através de nós.
Oscar Lehenbauer
Porto Alegre, RS.
PRIMEIRO DOMINGO APÔS PENTECOSTES
A Santíssima Trindade
14 de Junho de 1992
João 16.12-15
Leituras do Dia
No SI 8 o Espírito Santo move Davi a cantar e dar glória
a Deus. O Salmista exprime seu louvor exaltando a glória de
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
21
Deus manifesta na criação, e, especialmente, a honra que Deus
deu aos homens e ao Filho do Homem.
Em Pv. 8.22-31 o Espírito exalta a eternidade do Filho de
Deus, aqui, denominado de Sabedoria. Ele é o Verbo eterno que
existiu antes de todas as coisas serem criadas. Jesus Cristo é o
verdadeiro "arquiteto" de toda a criação (cf. Jo 1, Cl 1, Hb 1).
Ele esteve com o Pai e o Espírito Santo antes da criação e na
criação.
Rm 5.1-5 destaca que o Espírito Santo é quem nos dá a
fé que confia na obra redentora de Jesus Cristo. É ele também
quem nos assegura paz em nossa caminhada de peregrinos, muitas vezes árdua e repleta de sofrimentos. Dá-nos esperança, porque nos fez crer que somos herdeiros do novo mundo que virá
no amanhã de nossa vida de justificados em Cristo.
Tema
O tema destas leituras é o mesmo que aparece também no
Evangelho, isto é: a função do Espírito Santo em glorificar ao
Pai e ao Filho pela obra da criação, redenção e justificação.
Contexto
Jo 13-16 registra o que Jesus disse direto e pessoalmente
aos apóstolos. No capítulo 17 Jesus fala com o Pai. Portanto o
Evangelho é uma parte desta longa instrução e do consolo que
Jesus dá aos apóstolos a respeito do seu sofrimento, sua paixão
e morte, mas também de sua ressurreição e ascensão. O consolo
está relacionado diretamente à promessa do envio e da vinda
do Consolador. Podemos denominar este capítulo de "a teologia
pastoral de Cristo".
Texto
V. 12 — Jesus demonstra que é um "professor" que conhece muito bem seus alunos. É compreensivo diante da suas fraquezas. Muitas coisas ele lhes poderia dizer a respeito dele mesmo e deles, mas eles não o entenderiam agora. Por isso Jesus
adia a lição sobre o significado de sua morte, ressurreição e
ascensão. A intenção de Jesus em dizer "muitas coisas" aos
apóstolos cumpriu-se. Nós os recebemos como legado através
dos seus escritos nas Escrituras Sagradas do Novo Testamento.
V. 13 — Aquilo que os apóstolos não podiam suportar naquela ocasião, O "Espírito da Verdade" lhes tornaria realidade.
"Ele vos guiará a toda a verdade". Era uma promessa grandiosa. Para nós cumprida plenamente. A revelação que temos
22
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
nas Escrituras é o único referencial pelo qual devem ser julgadas
todas as idéias religiosas. A proliferação de seitas e cultos pagãos no Brasil nos desafiam por um testemunho eloqüente da
verdade que salva e liberta (8.32).
Vv. 14 e 15 — O único propósito da ação do Espírito Santo
é glorificar a Cristo. Deus Pai o glorifica nos céus. O Espírito
Santo, na terra. Como? Revelando a obra do Filho em favor da
humanidade e do mundo.
O Espírito era mandado pelo Pai em nome do Filho para
completar a obra do Filho. Assim a missão salvadora do Filho
seria levada avante.
Jesus garante que o Espírito vai transmitir aquilo e só
aquilo que o próprio Jesus lhe disse: Assim como ele é a verdade (Jo 14.6), o Espírito Santo também o é e está a serviço (mordomo) desta verdade.
A seqüência desta mordomia do Espírito pode ser colocada
assim:
1.
2.
3.
4.
5.
A verdade está no Pai e no Filho.
O Espírito Santo recebeu a verdade de Cristo.
O Espírito transmitiu esta verdade aos apóstolos.
Nós recebemos a verdade do Espírito nas Escrituras.
Nós transmitimos a verdade no poder do Espírito, para
que a missão de Cristo continue. Assim Cristo continuará sendo glorificado pela salvação de muitos e o Pai
é honrado pela obra que o Espírito Santo continuará
realizando por nosso intermédio.
Somos parceiros do Espírito na administração da verdade que salva. O Espírito Santo foi mordomo fiel.
Proposta Homilética
Tema: O ESPÍRITO DA VERDADE GLORIFICA A JESUS
ENTRE NÓS.
O Espírito Santo glorifica a Jesus tanto no mundo (16.8-11)
como na comunidade dos seus discípulos (16.13-15).
1. O Espírito mostra que temos necessidade de uma palavra que é verdadeira.
1.1
As muitas propostas humanas de verdade que ouvimos são confusas e enganosas.
1.2
A verdade que mais desejamos é sobre nós mesmos. Quem somos? De onde viemos? Para onde
vamos? Por que sofremos?
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
23
1.3 A verdade que mais necessitamos é a verdade sobre
Deus.
Quem é o único Deus verdadeiro?
Por capacidade própria somos incapazes de encontrar respostas verdadeiras às perguntas vitais de
nossa existência.
Nascemos cegos espiritualmente. Continuamos fracos. Precisamos de auxílio (1 Co 2.14), da verdadeira sabedoria.
2. O Espírito da verdade nos revelou toda a verdade.
2.1
Deus Pai conhece a verdade desde a eternidade.
a) Ele sabe que todos os homens estão perdidos
em seus pecados e afastados dele.
b) Ele enviou seu Filho como Salvador de todos.
2.2
Deus Filho veio compartilhar e cumprir a verdade
de Deus.
a) Jesus falou toda a verdade durante seu ministério terreno.
b) Jesus viveu vida perfeita, de acordo com a verdade.
c) Jesus morreu para cumprir a verdade sobre sua
obra redentora.
2.3
Deus Espírito Santo nos deu e assegurou esta verdade.
a) Inspirando os apóstolos.
b) Preservando as Escrituras Sagradas.
•
3. O Espírito nos guia e consola em toda a verdade.
3.1
3.2
3.3
Ele nos garante que somos justificados pela fé em
Jesus Cristo.
Ele nos consola nas tribulações desta vida.
Ele nos dá paz e esperança quanto ao futuro (Rm
5).
Conclusão
Na Palavra e nos Sacramentos o Espírito Santo nos coloca
e mantém em comunhão com Cristo. Prestando-nos este divino
serviço ele glorifica a Cristo entre nós e nos capacita a glorificarmos, igualmente, Cristo entre os irmãos e no mundo. Ele nos
torna mordomos fiéis.
Ari Lange
Porto Alegre, RS.
24
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
SEGUNDO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
21 de Junho de 1992
Lucas 7.1-10
1)
As Leituras do Dia
Salmo 117 — Salmo mundial, de alcance universal, contrabalançando a oração individual do SI 116. A benignidade e a
verdade do Senhor são para sempre e para todas as nações.
1 Rs 8.22-23, 27-30, 41-13 — Trata-se de uma oração de
Salomão por todas as pessoas, pelo estrangeiro e pelo israelita,
em todos os tempos.
Gl 1.1-10 — Deus chama a todos os seres humanos pela
sua graça — "na graça de Cristo" — e não pelas obras ou observâncias cerimoniais c/ou litúrgicas. Esse evangelho não pode ser
pervertido, sob nenhuma hipótese, mesmo que através de "um
anjo vindo do céu".
2)
O Contexto
O ministério de Jesus na Galiléia alcançava seu ponto alto,
inclusive aumentava sua popularidade. Certa noite, Jesus retirou-se para um, monte a fim de orar e "passou a noite inteira
orando a Deus" (Lc 6.12). Quando amanheceu, escolheu os 12
apóstolos entre seus discípulos. Na seqüência, Jesus proferiu
uma importante e bela mensagem, também conhecida como o
Sermão da Montanha. Após o sermão, Jesus retornou a Cafarnaum.
3)
O Texto
Em Cafarnaum, Lucas descreve em detalhes a cura do
servo de um, centurião. Trata-se, sem dúvida, de um, dos mais
impressionantes e maravilhosos milagres de Jesus. Sem ver o
paciente, sem tocá-lo, o Mestre restitui a saúde ao moribundo
por meio unicamente da sua palavra. Lucas assim quer mostrar
que o Senhor Jesus veio como Salvador em sentido universal,
para as pessoas de todos os níveis, condições, etnias e de todos
os tempos: Judeus, Samaritanos, pagãos, romanos, etc. Desse
milagre pode-se aprender, entre outras coisas, que a fé verdadeira prova seu poder e sua vida através de boas obras, na diaconia e no amor ao próximo.
vv 1-5: O centurião pertencia ao exército romano e, portanto, era gentio. Era provavelmente a pessoa do governo mais
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
25
importante e poderosa em Cafarnaum. Durante sua estadia na
Palestina, ele havia conquistado a simpatia do povo judeu, conforme testemunham alguns anciãos enviados a Jesus que disseram: "Ele... é amigo do nosso povo, e ele mesmo nos edificou
a sinagoga". Ele afeiçoara-se, de coração, ao Deus de Israel e,
portanto, antes de entrar pessoalmente em contato com, Jesus,
já era um fiel israelita, reconhecendo neste Jesus o Messias prometido. Diz Lutero: "Percebe-se claramente à fé verdadeira desse centurião no fato de que ele, mesmo não sendo judeu, envia
mensageiros a Jesus na plena confiança de que não seria desprezado, porém, seria atendido do jeito e na hora que o Mestre determinasse. A fé apega-se sempre ao poder e à graça de Jesus".
Vv 6-8: Além da fé colocada em ação pelo oficial romano,
como nos mostra sua dedicação e amor para com seu servo, a
humanidade do centurião também é algo a ser destacado: "Senhor,... não sou digno de que entres em minha casa". Ele se
considerava como pobre gentio, que não podia subsistir na presença do Senhor. Porém, inclui em sua súplica: "Manda com
uma palavra, e o meu rapaz será curado". Quem possui uma
fé viva e verdadeira, reconhece sua indignidade e imperfeição,
porém, mesmo assim, não vacila e não duvida de que o grande
Deus lhe é favorável c lhe fará sempre bem. Provavelmente, o
centurião pensou: se eu que sou humano, dou uma ordem, e minha palavra é obedecida, quanto mais será poderosa uma ordem
proferida por uma palavra de Cristo. Realmente, uma palavra
de Jesus é suficiente para a fé.
Vv 9-10: A fé do oficial romano trouxe agradável admiração para Jesus: "Afirmo-vos que nem mesmo em Israel achei
fé como esta". Inclui também, um certo desapontamento pela
incredulidade do seu povo escolhido.
A fé apega-se a palavra do Senhor e recebe seus benefícios.
"E voltando para casa os que foram enviados, encontraram curado o servo".
4) Alguns temas como sugestão:
a)
b)
c)
d)
A graça do Senhor é para sempre e para todos;
Humildade não significa dúvida, pelo contrário;
A fé verdadeira prova seu poder e sua vida na diaconia, no amor ao próximo;
A fé viva apega-se a palavra do Senhor e recebe seus
benefícios.
Norberto E. Heine
Porto Alegre, RS.
26
IGREJA LUTERANA/NUMERO 1/1992
TERCEIRO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
28 de Junho de 1992
Lucas 7.11-17
Leituras do Dia
O amor de Deus e nossa resposta a ele estão presentes nas
leituras deste domingo, a partir do Salmo: o Senhor me ouve,
apesar de laços de morte me cercarem. Ele livra da morte a minha alma, e por isso decidi que andarei na presença do Senhor.
A leitura do AT é protótipo profético do milagre relatado no
evangelho. Pelas mãos de Elias, o "homem, de Deus", o filho da
viúva de Sarepta ressuscita dos mortos, e nesse fato a mulher
reconhece que "a palavra do Senhor na tua boca é verdade”.
Pela epístola aprendemos que aprouve a Deus revelar seu Filho
em Paulo, para que ele o pregasse entre os gentios. E o evangelho confirma: Deus visitou o seu povo!
Contexto
Lucas, o evangelista mais detalhado e volumoso, prefere
relatar os milagres de Jesus que têm a ver com a vida e sua
preservação ou restabelecimento. O cap. 7 inicia com a cura do
servo do centurião de Cafarnaum Prova-se aí que a distância
não é impedimento para o poder e a autoridade do Salvador, que
veio como diz o contexto posterior, para que os próprios mortos
sejam ressuscitados, e aos pobres se anuncie o evangelho. Somente Lucas relata o milagre de Naim, e o grande contexto da
Escritura apresenta Jesus e o jovem de Naim. Como antítipos ao
tipo de Elias c o filho da viúva de Serepta.
Texto
a — O Local: Naim, nome que no original hebraico significa, no dual, "duplamente querido", era uma pequena vila na
tribo de Issacar, 3 km ao sul do Monte Tabor, e cerca de um dia,
a pé, de Cafarnaum, donde Jesus estava chegando. Deus não
necessita de lugares famosos, nem de muito Ibope, para mostrar
seu poder e glória. Quer consolar no encontro pessoal, na quietude de nossos corações e vidas tão inquietos. O local específico
da glorificação divina, no texto, é a porta da cidadezinha.
b — Os Personagens: Uma viúva, carregadores do esquife,
um jovem morto e grande multidão da cidade — caminham para
acompanhar a morte. Jesus, seus discípulos e numerosa multiIGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
27
dão — andam no sentido contrário, acompanhando o Autor da
Vida. Os dois cortejos se encontram e no confronto entre a
morte e a Vida, esta precisa vencer e vence.
Jesus dispensa apresentações. "Seus discípulos" (matheetai) devem ter incluído os 12 e o círculo maior que acompanhava freqüentemente. A multidão (óchlos), por seu sentido abrangente, envolvendo a idéia de "turba", deve. ter-se composto de
curiosos, interesseiros, críticos. Desde o recente Sermão do Monte, a palavra de Jesus arrastava as pessoas, fazendo discípulos
de muitos. Era um grupo que, consciente ou não, caminhava
com a Vida.
A viúva, num contraste imenso, liderava a outra multidão,
que, por razões de afeição' ou por mero compromisso social, tristemente acompanhava a morte, presente no esquife em que era
levado o jovem e filho único da mesma. Abatida e desesperançada, esta mulher levara o segundo choque de vida e morte em
seu lar. Acompanhava o arrimo de sua velhice para a sua "última morada". E nesta caminhada fatídica, uma nova morada
surge: "Deus visitou o seu povo". A extrema carência, com a
presença nada consoladora de outra "grande multidão", chorosa
e desorientada, se encontra com a total "plenitude da Divindade"
(Cl 2.9). Foi a providenlia specialissima, e não mero acaso, que
fez coincidir o tempo da morte deste jovem, o caminho trilhado
pelo' cortejo fúnebre, com a "visita" particular do Deus vivo e
vivificador, que se revela em Cristo, com esta viúva.
c — O Fato: Morte e Ressurreição se encontram nesta dupla caminhada. "Não chores" — é o imperativo que se baseia
na autoridade do "Senhor", termo empregado pela primeira vez
em Lucas, e na qualidade divina de compaixão. O substantivo
splanchnon, que contém a raiz do verbo usado no texto, refere-se aos órgãos vitais (coração, pulmões, fígado), também traduzido por "entranhas", onde os antigos localizavam a sede dos
sentimentos humanos. A raiz aparece em outros textos como a
“entranhável misericórdia" (Lc 1.78), "ternos afetos de misericórdia" (Cl 3.12), ou, simplesmente, "coração quebrantado" (Ez
21.6). A ordem de não chorar intende estancar essa evasão de
um sentimento, que, ainda que seja salutar expeli-lo, revela profunda prostração e noção de perda. Jesus quer substitui-lo por
algo mais estável e duradouro.
"Tocou o esquife" — Tocar um esquife, e, com isso, o próprio cadáver, deixava a pessoa impura, e era uma das proibições
do nazireado. O corpo, no enterro judaico, não estava em caixão
fechado, mas apenas enfaixado, e o rosto era coberto por um
sudário. Os carregadores pararam diante do toque de Jesus, em
admiração ou expectativa. O Salvador não apenas cruza os caminhos da morte; ele chega, ele pára e manda parar o cortejo
28
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
da desesperança; ele toca a vítima da morte; ele adentra o cenário da desolação e o transforma em consolo.
"Levanta-te" — A ordem de levantar-se dentre os mortos
é a forma de mostrar os sêmeia, sinais da atividade portentosa
de Deus no Messias. Somente pela fé na natureza divina/humana de Cristo estes sinais podem ser cridos e confessados. Mais
que o fenômeno da restauração da vida, o que marca o crente
é o milagre do amor e da compaixão divinos revelado em Cristo,
extensivo aos que acompanham o seu séquito de vida, e não de
morte, de descrença, reclamações e queixumes.
"Grande profeta" — O versículo apresenta o cumprimento
da profecia de Zacarias em Lc 1.68,79: "Bendito o Senhor...
porque visitou e redimiu... os que jazem nas trevas e na sombra
da morte!" Trata-se, sem, sombra de dúvida, da presença do
“Profeta semelhante a Moisés" (Dt 18.15), o cetro de Siló, a
quem os povos obedecerão (Gn 49.10), o "renovo de Jessé", de
conselho e de fortaleza (Is 11.1,2), que tornaria novas todas as
coisas.
"Deus visitou o seu povo" — O verbo episképtomai, visitar,
contém a raiz empregada em epískopos. Além de "inspecionar”,
tem o significado de buscar, trazer socorro, prover. O "Pastor e
Bispo" das nossas almas (1 Pe 2.25) vem prover as almas desgarradas e desoladas do verdadeiro consolo e orientação. Veio
prover as necessidades de seu povo, o que causa ao mesmo tempo espanto, temor e glorificação. Que procuram as multidões
que nos encontram hoje, nos caminhos da vida? Temos no coração compassivo e na vida cristã o antídoto para as suas desesperanças, ou fazemos coro com suas murmurações e lágrimas?
Trilhamos com o mundo perdido o caminho da morte, ou vamos
a seu encontro com a mensagem e o testemunho da Vida? Somos
meros acompanhantes de multidões desordenadas, ou seguimos
decididos o único Caminho, a Verdade, e a Vida?
Proposta Homilética
NA JORNADA DA VIDA, DUAS MULTIDÕES SE
ENCONTRAM
1. Uma, desesperançada, a caminho da morte
1.1
São ovelhas que não tem pastor
1.2
1.3
Não sentem sua verdadeira carência
É preciso mandá-la parar e tocá-la com o poder
de Deus.
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
29
2. Outra, menor e confiante, acompanha o Autor da vida
2.1
A porta de Naim, uma escola para o sofrimento e
a consolação cristãos
2.2
Jesus transforma o mero acompanhante em testemunha de sua glória e salvação.
Elmer Flor
QUARTO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
5 de Julho de 1992
Lucas 7.36-50
1) As Leituras do Dia:
SI 32 - A bem-aventurança de quem recebe o perdão divino. Um testemunho de Davi, em que nos vv. 1 e 2 ele faz a
declaração do "bem-aventurado"; nos vv. 3 e 1 ele constata o
erro do "não-confessar"; no v. 5 ele confessa o pecado e recebe
o perdão (cf. palavras da Liturgia!); nos vv. 6 e 7 ele confirma
a sua fé no Deus que perdoa; nos vv. 8, 9 e 10 ele instrui e
admoesta as demais pessoas a respeito deste assunto; e nos vv.
10b e 11 ele conclama à alegria pela graça recebida!
2 Sm 11.26 — 12.10,13-15 — O adultério de Davi com Bate-Seba e a repreensão do profeta Nata. Não há pecado tão
grande que não possa ser perdoado quando há arrependimento
e fé. No instante em que Davi disse: "Pequei contra o Senhor!”
- o profeta pôde anunciar-lhe: "O Senhor perdoou o teu pecado".
Gl 2.11-21 — O apóstolo Paulo tem uma desavença com o
apóstolo Pedro por causa da doutrina da justificação. O que nos
justifica perante Deus? O que nos dá o perdão divino? Não são
obras da lei, ritos ou costumes; mas é a fé cm Cristo Jesus!
(v. 16).
Lc 7.36-50 — A mulher pecadora que ungiu os pés de Jesus
na casa do fariseu Simão. No Evangelho culminam as leituras
anteriores! O próprio Senhor Jesus declara: "Perdoados são os
teus pecados!" e diante da crítica dos presentes, Ele reforça: "A
tua fé te salvou; vai-te em paz!"
30
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
2) Texto e Contexto:
V. 36 — Apesar da crítica anterior dirigida aos fariseus
(v. 30) e de muitas outras críticas a eles feitas, Jesus não discriminava nem desprezava ninguém. Convidado pelo fariseu para
jantar em sua casa, aceita o convite. Certamente se apresentaria uma oportunidade para chamar o hospedeiro mais de perto
ao arrependimento e à fé. Era uma alma que poderia ser salva. — A "opção pelos pobres" é uma deturpação dos ensinos de
Cristo. A igreja foi enviada ao mundo! "CRISTO PARA TODOS" (Lema IELB-2000) sem distinção de classes!
Vv. 37-38 — Não é dito o nome da mulher; a tradição diz
que foi Maria Madalena. Não importa o nome, mas sim que
Jesus não rejeitou o seu gesto, como não havia rejeitado o convite do fariseu. Novamente: CRISTO PARA TODOS, tanto para
o fariseu, que se considerava santo, como para esta mulher, uma
pecadora notória. — Não confundir este episódio com o relatado
em Jo 12.1-8 (Mt 26.6-13; Mc 14.3-9). — “Importante notar" que
junto com a reação de arrependimento e lágrimas, a mulher
trouxe uma oferta: um vaso de alabastro com ungüento. Esta
sua atitude é um bom exemplo de como alguém "RESPONDEU
AO AMOR DE DEUS" (Lema IELB — 1992). Quantas vezes chegamos diante de Jesus de mãos vazias? Cremos no seu perdão,
somos gratos, nos alegramos, mas nada fazemos de concreto para demonstrar esta nossa certeza e alegria. — Vejam também:
Sua oferta foi espontânea; Jesus não pediu nada! não foi cobrado nada! nem foi dada em troca do perdão! Esta é a "Fé
ativa no amor". — Em alguns lugares há necessidade de se explicar a posição reclinada das pessoas à mesa: não sentados em
cadeiras, mas reclinados sobre um sofá (diva), escorados sobre
o cotovelo esquerdo, servindo-se com a mão direita, ficando os
pés longe da mesa, de fácil alcance para quem vinha por trás,
como foi o caso dessa mulher.
V. 39 — Jesus sabia quem era a mulher e sabia o que se
passava na mente do fariseu. Simão foi surpreendido em seus
próprios pensamentos pelo comentário de Jesus! — Muitos se
escandalizam em Jesus por causa das pessoas que o cercam.
Muitos se afastam da igreja com a desculpa de que nela há pecadores. As críticas dos fariseus e sua pretensa santidade existem hoje ainda e são um grave entrave no acesso de outras pessoas a Jesus (Mt 7.1-5).
Vv. 40-43 — A sabedoria de Jesus ao lidar com Simão. À
semelhança do profeta Nata quando tratou com Davi (Cf. leitura
do AT), Jesus conta uma história e faz a devida aplicação a partir das próprias palavras do interlocutor. Não se deixa intimidar
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
31
pela posição do seu anfitrião; mas prega a lei com sabedoria e
firmeza, sem estupidez.
Vv. 44-46 — Jesus faz menção aos costumes de hospitalidade: Cf. Gn 18.4; 1 Sm 25.41; 1 Tm 5.10; Gn 33.4; Êx 4.27;
Mt 26.48; SI 23.5; Ec 9.8. Simão não havia praticado nenhum
deles; a mulher, mesmo não sendo a hospedeira, os praticava
intensamente, à sua maneira!
Vv. 47-50 — Cuidado! O amor da mulher não é a causa
do perdão, mas sim o sinal externo do grande perdão que recebera! Simão, justificando-se a si mesmo (santos e separados
como os fariseus se consideravam), não tinha amor a dar a Jesus. — Seria a falta de amor para com a obra de Jesus, vista em
tantos cristãos hoje, uma atitude semelhante à de Simão? nos
auto-justificamos e não valorizamos o perdão que Jesus nos dá?
Como estamos respondendo! Ao amor de Deus? Como a mulher?
Ou como Simão? — "Quem é este que até perdoa pecados?" Cf.
Lc 5.21. — "A tua fé te salvou; vai-te em paz!" Não foi a obra
realizada, mas a fé que salvou! Mas como a fé não anda sozinha,
ela se manifestou na obra.
3) Os Problemas e a Solução:
Os problemas: a auto-justificaçào, comum aos fariseus,
o formalismo da religião tradicional,
a discriminação, a crítica e o julgamento.
A solução: Jesus Cristo conhece e perdoa o pecador arrependido!
A) Disposição:
Tema: A nossa resposta ao perdão divino.
Objetivo: Estimular a uma reação visível, palpável, diante
da graça do perdão que recebemos de Cristo.
Introdução: A oração à mesa, um antigo costume das famílias cristãs. "Vem, Senhor Jesus, sé nosso convidado..." Estamos conscientes destas palavras? Convidamos Jesus para sentar-se à nossa mesa; como tratamos a Jesus em nossa mesa?
Em nosso lar? Em nossa vida particular? Como Simão, ou como
a mulher? Qual tem sido a nossa resposta à graça que Jesus nos
concede da sua presença e do seu perdão?
32
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
I — A "resposta" de Simão:
— Não via necessidade de perdão (fariseus = justos)
— Não tinha fé que Jesus = Messias (v. 39)
— Por isso: sua "resposta" foi uma mera formalidade social — o convite para a refeição —, recheada de criticas (vv. 39, 49).
II — A resposta da mulher:
— Reconhecia seus muitos erros
— Tinha fé em Jesus (v. 50)
— Por isso: sua resposta foi demonstrada em amor
concreto: ofertou, serviu com humildade.
III — A nossa resposta:
— Assemelha-se mais à de Simão? Formalisrno, igreja = compromisso social.
— Ou à da mulher? Amor em ação: oferta, serviço.
Conclusão: M. Lutero conta: "Certo dia o diabo me apareceu e me disse: 'Martinho, tu és um grande pecador e por isso
estás condenado! ' — 'Calma', respondi; 'primeiro uma coisa e
depois a outra. É verdade, eu sou um grande pecador. E o que
mais? ' — 'Por isso estás condenado! ' Repetiu o diabo. — 'Não’,
respondi; 'isto não está certo. Eu sei que sou um grande pecador, e por isso eu estou salvo! Pois está escrito: Cristo Jesus
veio ao mundo para salvar os pecadores! (1 m 1.15)'. — Com
esta resposta espantei o diabo e a tentação que queriam me fazer
duvidar do amor de Deus e da minha salvação!" (Wegeleit zur
Ewigkeit, p. 178).
Carlos Walter Winterle
Porto Alegre, RS.
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
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QUINTO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
12 de Julho de 1992
Lucas 9.18-24
1)
As leituras do dia:
Salmo 119.41-48: O Salmista deseja que sobre ele venha
a misericórdia e a salvação prometidas pelo Senhor. Ele, por
sua vez, promete falar dos testemunhos do Senhor na presença
dos reis, sem vergonha.
Zacarias 12.7-10: Zacarias fala de um tempo em que Jerusalém receberia o Espírito Santo e prantearia o Cristo a quem
então já teriam transpassado.
Gálatas 3.23-29: Paulo afirma que todos os que são filhos
de Deus mediante a fé no Cristo (Messias — Ungido) Jesus, também são herdeiros de acordo com a promessa.
Lucas 9.18-24: Neste evangelho Jesus apresenta a pergunta essencial: Quem sou eu? E a resposta não podia ser mais
clara: És o Cristo de Deus, aquele que precisa morrer e ressuscitar ao terceiro dia.
2)
O contexto:
Havia muita confusão a resposta da pessoa de Jesus. Seus
milagres levaram o povo a emitir pareceres, os mais variados,
sobre a sua pessoa. Cristo, agora, quer de seus discípulos uma
resposta sobre o assunto: Quem dizeis que eu sou? E, dependendo da resposta, ele poderia dirimir eventuais dúvidas mostrando
quem de fato ele era.
3) O Texto:
V. 18-19: Mateus e Marcos localizam este acontecimento na
vizinhança de Cesaréia de Filipe e, provavelmente, perto do sopé
do monte Hermom. Jesus estava orando em particular quando,
de repente, iniciou uma conversa com seus discípulos ao perguntar-lhes: "Quem dizem às multidões que sou eu?" A resposta é
clara, sem deixar dúvidas. Eles afirmam que muitos pensam
que Jesus era João Batista, ou Elias ou ainda qualquer outro dos
antigos profetas que havia ressuscitado.
V. 20: Aqui Jesus quer ouvir a opinião deles. Pedro, como porta-voz, afirma: "És o Cristo (o Ungido, o Messias) de
Deus.
34
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
V. 21: Jesus pede que não revelem este fato a ninguém.
Provavelmente o Mestre assim o quer para que não aconteçam
mal-entendidos. Já que os judeus esperavam pela libertação da
opressão romana, Jesus poderia ser confundido com um libertador político, o que ele não queria de modo algum.
V. 22: O Salvador explica sua função como o Ungido,
mostrando que era necessário preciso, que ele sofresse, fosse rejeitado, morresse e ressuscitasse. A sua morte teria que acontecer assim como também ele teria que depois, ressuscitar.
V. 23-24: Aqui Jesus demonstra que o seu seguidor teria
que negar-se a si mesmo, renunciar a si próprio, tomar a sua
cruz e segui-lo, andar nas suas pisadas. Quem quisesse salvar a
sua vida, isto é, quem quisesse vantagens pessoais, quem procurasse obter o melhor da vida para si mesmo, egoisticamente, na
verdade a perderia. Aquele, porém, que viesse a perder a vida,
isto é, que a dedicasse ao seu Senhor e que por amor e ele a
“gastasse" em favor dos outros (o próximo), este a salvaria.
1) Disposição:
Introdução:
Existe um ditado popular em nossa Pátria que diz que a
voz do povo é a voz de Deus. E isto verdade? Às vezes é; às
vezes não é.
I — A voz do povo não foi a voz de Deus quando
1. a — foi dito que Jesus tinha o demônio (Jo 10.20)
b - os fariseus o acusaram dizendo que estava com
Belzebú (Mt 12.24) e que era bêbado e glutão (Lc
7.34)
c — o sumo-sacerdote afirmou que Jesus
(Mt 26.63-66)
blasfemara
d — o povo afirmou que Jesus era Elias, João Batista
ou outro profeta (nosso texto).
2. a — Já tentaram descobrir o que os vizinhos e amigos
Disseram a respeito dele? E os espíritas? E as Testemunhas de Jeová? Não teremos que concluir
que de fato nem sempre à voz do povo é a voz
de Deus?
Transição: No entanto, embora nem sempre a voz do povo seja
de fato a voz de Deus, podemos afirmar que por
vezes ela o é. Sim,
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
35
II
A voz do povo é a voz de Deus quando
1. a — Ouvimos Pedro dizendo que Jesus é o Cristo (nosso texto)
b — Ouvimos Paulo afirmar que o evangelho é o poder
de Deus para a salvação de todo aquele que crê
(Rm 1.16)
c — Ouvimos Lutero declarar: “Creio”... (2° artigo do
Credo, explicação).
d — Nós cantamos baseados nas Escrituras que "Digno
és, ó Cordeiro,..." Hino 205.
Transição: Mas será que somos sempre a voz de Deus?
III — Não somos a voz de Deus quando
1. a — Nos calamos e não repartimos a boa nova;
b — Não nos negamos a nós mesmos e não seguimos
nos seus caminhos.
Conclusão:
Sejamos a voz de Deus! Respondamos ao seu amor anunciando que Jesus é o Cristo e que ele é para todos o único caminho da salvação.
Egon Martin Seibert
Canela, RS.
SEXTO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
19 de Julho de 1992
Lucas 9.51-62
a) Leituras do dia: "Digo ao SENHOR: Tu és o meu SENHOR”
- esta frase do Salmo 16, o Salmo do dia, dá a tônica das leituras deste domingo: Deus é o maior bem que a gente pode possuir. Uns o querem, outros o rejeitam. A Leitura do Antigo
Testamento, I Reis 19.14-21, mostra como alguém convidado a
seguir a Deus (Eliseu) fez de tudo para concretizar isso. Já o
Evangelho, Lc 9.51-62, mostra que os samaritanos não receberam
a Jesus e também como três outras pessoas reagiram à experiên36
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
cia de seguir e servir a Jesus. Por fim, a Epístola, Gl 5.1,13-25,
mostra quando e como servimos ou não servimos a Deus com as
nossas obras. Ou vivemos na carne e achamos mil desculpas para não servir a Jesus ou andamos no Espírito, pela fé em Jesus,
e fazemos à vontade de Deus. No 1° Mandamento Deus lembra-nos: "Eu sou o SENHOR teu Deus. Não terás outros deuses
diante de mim".
b) Contexto: todos estavam maravilhados do que Jesus fazia
(9.43b). Quando estavam, nessa empolgação, Jesus falou para
seus discípulos: "O Filho do homem está para ser entregue nas
mãos dos homens" (9.44). Não entenderam, não puderam descobrir e não compreenderam isso; e, além disso, temeram interrogá-lo a este respeito (9.45).
Um certo orgulho, uma soberba danosa parece ter se apoderado dos discípulos (9.46-50) por causa da empolgação que
tinha tomado conta, maravilhados que estavam todos "ante a
majestade de Deus".
Jesus empenhou-se por ensinar-lhes a serem humildes. O
reino de Deus não se caracteriza pelo oba-oba, mas por humildade, fidelidade e perseverança em fazer a vontade de Deus.
c) Texto; Vv. 51-53: Assim como em "vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido
sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei" (Gl 4.4,5),
assim também, conforme nosso texto, v. 51, "ao se completarem
os dias em, que devia ele ser assunto ao céu, manifestou (Jesus)
no semblante a intrépida resolução de ir para Jerusalém". A
palavra é análempsis e vem do verbo analambáno (= subir;
cf. Ef 4.8). A análempsis é, portanto, a Ascensão de Cristo, a
volta de Jesus ao Pai. Jo 14; Lc 18.31-33.
Jesus estava, portanto, chegando ao fim de sua vida e de
seu Ministério terrenos e, assim, importava fosse ele para Jerusalém, "porque não se espera que um profeta morra fora de
Jerusalém" — diria o próprio Jesus um pouco mais tarde. Lc
10.33; por isso "manifestou a intrépida resolução de ir para
Jerusalém", porque chegara à hora de voltar para o Pai. Ele
“enviou mensageiros que o antecedessem". Os samaritanos dessa
vila não receberam a Jesus; talvez porque ele só quisesse passar
uma noite e eles talvez desejassem ver milagres, durante dias,
como Jesus vinha fazendo na Galiléia. Mas Jesus tinha plena
consciência e total convicção de que era hora de ir para Jerusalém, porque estava aproximando-se o dia de sua Ascensão, sua
volta ao Pai.
Vv. 54-56: Devido ao espaço limitado para uma
mais demorada destes versículos e de toda a perícope aqui, reIGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
análise
37
comendo Lenski, volume de Lucas. Ele faz uma exegese muito
boa e vale a pena ser consultado.
Vv. 57-62: Aqui há três situações diferentes: 1) Alguém
se oferece para seguir a Jesus "onde quer que fores"; mas Jesus
não tem o mínimo de conforto material a oferecer. 2) Um outro
é convidado por Jesus a segui-lo para pregar o reino de Deus,
sem preocupar-se com, outras coisas, ainda que pessoais e familiares. 3) O terceiro também prontificou-se e prometeu segui-lo,
mas achou-se no dever de desligar-se primeiro dos de casa. Sugestão de tradução melhor para o versículo 62: "Ninguém que
lança a mão no arado e que olha para trás é adequado ao reino
de Deus". Quer dizer: quem quer seguir a Deus e ao mesmo
tempo fica olhando para o mundo, para as coisas que ficam para
trás (eis tà opíso), não serve para o reino de Deus; ninguém
pode servir a dois senhores. O profeta Eliseu foi um bom exemplo em seguir ao chamado de Deus.
d) Tema e partes:
JESUS É NOSSO BEM SUPREMO.
Por isso
I — Vamos prezá-lo como tal;
II — Vamos servi-lo no Espírito e
III — Vamos anunciá-lo aos outros.
Curt Albrecht
Novo Hamburgo,
RS.
SÉTIMO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
24 de Julho de 1992
Lucas 10.1-12, 16
O tema do dia de hoje não poderia ser mais adequado para
integrar a mensagem ao lema da IELB até o início do terceiro
milênio: Cristo para todos. O objetivo desta segunda fase do
programa (iniciada no Dia de Pentecostes) visa a reconsagração
dos dons de Deus em nós para a ação evangelizadora.
A série de leituras da Trienal tem como princípio a lectio
continua em que os próprios contribuem de alguma forma para
o tema do dia culminando com a mensagem baseada no Santo
Evangelho. O Salmo 19 diz que podemos conhecer algo a respeito de Deus pelo conhecimento natural; contudo, o conhecimento
38
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
pleno e salvífico de Deus vem pela Sua revelação em Sua Santa
Palavra. Isto significa que temos muito a dizer à humanidade
enferma quando, com fidelidade, vivemos e proclamamos o que
Deus revela sobre Si mesmoi na Escritura. A leitura do Antigo
Testamento (Is 66.10-14) apresenta uma imagem surpreendente.
Retrata as nações todas mamando nos peitos de Israel. Enseja a
idéia de total dependência para a sobrevivência. Necessário se
faz lembrar qual a origem do leite do povo de Israel para amamentar outros (v. 11 fala da kavôd, "Glória", termo hipostático
para a pré-encarnação de Cristo no Antigo Testamento). A leitura da epístola (Gl 6.1-10, 14-16) engancha-se aqui com as várias referências à ceifa como resultado da vida de fé pessoal.
O sermão, baseado no Evangelho, enfatizará, por certo, a
evangelização. Um alerta, porém, precisa ser dado: a ênfase
não está no que nós fazemos, mas sim no que o SENHOR tem
feito com, o propósito de ajuntar os "feixes".
O contexto deste episódio provavelmente envolve os acontecimentos finais da Festa dos Tabernáculos. Comparando-se o
evangelho segundo São Lucas com São João 7 chega-se a esta
conclusão. Se a hipótese estiver certa, o contexto é teologicamente significativo. A Festa dos Tabernáculos celebrava não apenas
a peregrinação dos 40 anos pelo deserto como também — e especialmente — as bênçãos da colheita dos primeiros frutos. Portanto, a Festa dos Tabernáculos é uma festa de alegria, celebração, comemoração. É com este pano-de-fundo que deve-se entender a missão dos discípulos.
A missão dos Setenta é narrativa exclusiva de São Lucas.
(O número 70, ou 72, é assunto de debate e a análise das variantes neste momento não é relevante). Setenta é o cômputo tradicional das nações em Gênesis 10, como 12 é o número das tribos
de Israel (Mt 10.1-4). O número pode até ser simbólico, mas
aponta para a universalidade da missão salvífica de Jesus: a
Boa Nova é para todos os povos.
É preciso tomar cuidado para não nos identificarmos em
todos os detalhes com o grupo dos Setenta. A estratégia dois a
dois expressa no texto era bem específica por ser esta uma missão restrita enquanto Jesus subia a Jerusalém para o estágio
final de sua atividade redemptiva.
O que chama a atenção no versículo 1 é o verbo apostéllo,
"enviar" (donde vem "apóstolo"), ou seja, enviar como legítimo
representante, com; toda a autoridade Daquele que envia (cf.
v. 4 e especialmente o v. 16). A palavra terismós é importante,
é necessário chamar a atenção que a seara, a colheita é a melhor
parte de todo o processo ceifeiro. Arar, gradar, semear, fertilizar,
irrigar, capinar são as partes mais difíceis. Mas no texto somos
lembrados que estas partes mais difíceis já foram realizadas pelo
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
39
SENHOR da Igreja.
Nós apenas somos chamados a alegrar-nos
com a melhor parte — a colheita.
O objetivo do sermão não é recrutar uma "tropa" para
realizar essa difícil tarefa que é evangelizar — e nós muitas vezes
a fazemos parecer ainda mais difícil. A lei não é o motivo correto para a evangelização. O temor diante da iniciativa, o medo
de não saber abordar as pessoas, as dúvidas quanto às palavras
a serem empregadas, as barreiras psicológicas — todos estes aspectos estão presentes e o sermão deve procurar eliminar ou
atenuar estas dificuldades. Evangelização faz parte do terceiro
uso da lei; por isso o sermão visa estimular, incentivar, mostrar
oportunidades. Tomado isto em consideração, os "resultados”
certamente serão mais salutares e situações bem menos frustrantes ocorrerão no privilégio que temos de evangelizar. Por isso
também hgpágete (v. 3) dever ser visto como imperativas evangelicus, ou seja. Um convite Daquele que nos criou, redimiu,
chamou e nos iluminou com Seus dons.
No v. 3 Jesus convida Seus 70 discípulos a orar e então
envia-os para a tarefa. Aqui explicita-se uma profunda verdade:
ora et labora! Se os corações estão prontos a orar por alguma
causa também estarão dispostos a envolver-se com ela e levá-la
a termo seja como cristãos, diáconos, pastores.
Os vv. 4-5 longe de serem, tomados literalmente, simbolizam a urgência de ser a mensagem da Boa Nova apostolada. O
v. 7 tem seu eco em 1 Co 10.27. Nesta passagem o cristão não
deve inquirir se a carne colocada diante dele é pura ou impura
segundo as tradições farisaicas/judaizantes. Não é sem, razão
que a linguagem de São Paulo seja um replay desta injunção
de Cristo adaptada às condições da missão gentílica no tempo
do apóstolo. Em outras palavras, "permanecei na mesma casa”
envolve convivência, amizade e, portanto, estudo de hábitos, atitudes, linguagem, comportamento — evangelização e ética cristã
sem dúvida caminham juntas, No tempo de Jesus e nas circunstâncias em que nós vivemos a última precisou e precisa falar bem
mais alto (cf. 1 Pe 3.1-2).
Sugestão de tema:
Deus preparou uma colheita — você está convidado a trabalhar, e alegrar-se com ela.
Acir Raymann
40
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
OITAVO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
2 de Agosto de 1992
Lucas 10.25-37
1. A temática das perícopes:
O texto de Salmo 25.1-10 é uma oração na qual Davi expressa seus fortes sentimentos de suas experiências de vida. É
uma prece pela libertação, um pedido de orientação para conhecer os caminhos do Senhor uma súplica por perdão e um confessar sua confiança na misericórdia de Deus.
Na leitura do A.T. de Dt 30.9-14 Deus convida seu povo
a renovar a aliança que Ele tem firmado e reafirma sua fidelidade para com os que derem ouvido a Sua voz, guardarem seus
mandamentos e a Ele se converterem de todo coração e de toda
alma.
Na leitura de Cl 1.1-14 Paulo intercede pelos colossenses
para que cresçam no conhecimento do Evangelho, o conhecimento da graciosa vontade de Deus. Esse conhecer a Deus, diz o
autor da epístola, produz uma vida rica de boas obras. Com
alegria Paulo constata um crescimento no conhecer e no amar
por parte dos colossenses.
2. Texto:
Com mais essa ilustração Jesus quer ensinar a todos como
devem viver a vontade do Pai. A vida de verdadeiro filho de
Deus é uma prática, não mera contemplação mística distante de
tudo e de todos.
A principal característica do discípulo é o amor. O modelo desse amor o discípulo encontra no Senhor que se faz servo,
servidor (cf. Lc 22.27; Jo 13.15s).
Todo bom judeu sabia que o cumprimento da lei é o amor
e que o amor a Deus e ao próximo era o caminho para a vida
eterna.
V. 25 — O intérprete da lei, o competente homem versado no A.T. e na tradição e lei judaica, o "teólogo" resolve testar
as qualidades do "leigo" Jesus. O qualificado intelectual queria
mostrar algo e ainda conhecer mais de perto as fragilidades
desse tão falado mestre que movimentava as massas carentes e
necessitadas.
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
41
O qualificado conhecedor da lei, no entanto, não é sincero
desde o início. Quer armar uma cilada com uma pergunta que
ele sabe responder até com profundidade, pois é competente "conhecedor" da vontade de Deus.
V. 26 — Jesus o trata com paciência. Reage à pergunta
com outra pergunta, e conduz o diálogo para a Tora, a Lei, as
Escrituras da época. É Deus quem tem que responder essa pergunta de eternidade. Com essa resposta Jesus não "caiu na rede”
desse astuto teólogo.
V. 27 — A resposta do intérprete é correta, resumida e
objetiva. Ele cita Dt 6.5 e Lv 19.18. Quem sabe e conhece pode
ser conciso. Jesus talvez esperou que ao dizer "seu versinho de
cor e salteado" ele fosse refletir sobre o que dissera! Aliás, isso
acontece com muita gente. Palavras gastas derrepente dizem
muito, como por exemplo, junto a um leito de morte ou momento de crise.
V. 28 — Jesus então responde ao "testador que foi transformado em testado": "Você está certo. Muito bem. Boa resposta. Tudo o que você tem a fazer é viver essa resposta! Quando Jesus diz: "faze isto, e viverás" o testador está sendo testado.
O teólogo está sendo conduzido a refletir sobre a verdade de
que discutir é mais fácil do que fazer praticar. Mas, havia algo
mais que o auto-suficiente intérprete devia começar a pensar, a
saber, que a lei não pode garantir sua vida. Javé nunca quis
que a lei em si fosse caminho para a vida eterna. Faltava-lhe o
conhecimento essencial de Deus, a saber, sua graça e misericórdia, também presente no livro que tão bem conhecia. Conhecia?
V. 29 — A resposta de Jesus leva o intérprete da lei, desarmado por Jesus, a se justificar. Essa é uma das características dos farisaísmo (Lc 16.15; 18.9ss). A resposta de Jesus encerrava a questão proposta, mas o intérprete quer agora justificar
sua pergunta original, e para tal tem que fazer sua segunda pergunta, porque tinha sido colocado em situação constrangedora
como teólogo. Aí então pergunta pelos limites do amor em relação a outras pessoas. Agora quer saber até que ponto deve
amar. Pergunta pela linha que separa o amigo do inimigo. Quer
definir termos. Aliás, definições e termos é seu prato predileto.
Gosta de teoria.
V. 30 — O percurso da estrada que liga Jerusalém a Jerico é de 27 km. O trajeto era conhecido como perigoso, por não
ser habitado, e pela localização topográfica. Nessa estrada, propícia para assaltos, um homem é assaltado e ferido.
À segunda pergunta do intérprete Jesus responde com, uma
estória, uma ilustração. Vai mostrar ao "sabichão" que o problema não é o definir termos, mas de praticar o que sabe. "Pró42
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
ximo não é uma generalidade a ser definida mas um indivíduo
a ser encontrado". Deus certamente vai "definir" quem é o próximo ao colocá-lo no meu caminho semi-morto, necessitando de
mim. Certamente não preciso defini-lo ou procurá-lo. Ele será
colocado na minha frente. A vida se encarrega disso.
V. 31 — O sacerdote vê o sofredor, mas passou de lado.
O sacerdote também é um teólogo. É um homem que lida com
o altar de Deus. É um ministro que vive no santuário e que
ensina o povo o caminho de Deus. Ele sabe das coisas, mas sua
decisão de seguir adiante revela que é um que sabe, mas não faz,
ensina, mas não pratica.
É bem possível que tenha passado rapidamente e ninguém
o tenha visto, nem o sofredor agonizante. Mas Deus viu!
V. 32 — Tanto o sacerdote como o levita serviam no templo, e como tal estavam a serviço direto de Deus. Esses dois
evitaram o simples dever do amor. Talvez por medo que o ferido
pudesse morrer e polui-los (Cf. Lv 21.1). Duas testemunhas
confirmam a falta de misericórdia.
V. 33 — Não há dúvida de que o ouvinte dessa estória fica
curioso para saber agora quem é o próximo personagem a entrar
em cena. E, contrastando com os dois cléricos anteriores, a narrativa apresenta um, leigo. Mas, para provocar ainda mais "esse
testador neófito", Jesus fere os seus ouvidos e sentimentos com
o fato que o que cumpre o mandamento do amor na estória é
um samaritano. Esse é o grande impacto do diálogo. Os judeus
desprezavam os samaritanos. O relacionamento entre esses dois
grupos étnicos era de tensão. O ódio existente não permitia
qualquer reconciliação. Jesus está ensinando ao intérprete e aos
demais ouvintes desse diálogo que "ante o fracasso dos servos
de Deus e o desprendimento do mestiço odiado, que o mandamento do amor não conhece limites e limitações".
Vv. 34-35 — O samaritano provavelmente era viajante, pois
estava muito bem equipado para sua viagem. Carregava consigo
velhos remédios para situações de emergência. Até parece ser
rico, mas esquece o perigo de ele próprio ser assaltado! Cuida
do necessitado pessoalmente, assume as responsabilidades pelas
despesas futuras. Um judeu é ajudado por um não-judeu. As
barreiras colocadas pelos homens entre si são eliminadas. A ação
de amor, de misericórdia é o caminho para a vida.
V. 36 — Jesus aponta para o "tertio", para o ponto de
comparação da estória. A pergunta não é quem é o nosso próximo, mas a pergunta crucial para cada um, é: a quem podemos
ser próximo? Enquanto o teólogo teórico perguntava pelo objeto
do amor (quem e até onde devo amar?), Jesus perguntava pelo
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
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sujeito do amor. Será que o intérprete se deu conta de que não
há limite para o mandamento do amor?
V. 37 — O intérprete da lei não pode deixar de reconhecer que o samaritano agiu corretamente, mas o velho sentimento
judeu o impediu de dizer o nome. Então, como fizera no vers.
28, Jesus lhe diz: "Vai, e procede tu de igual modo". O (X) xiz
da questão é o "procede, faze, pratica". O verdadeiro sábio entre os sábios, o Mestre, está mexendo com a consciência do estudioso da lei. Era hora de ele perceber sua falta de amor, toda
sua incapacidade de ganhar a vida eterna por meios do amor.
Jesus queria prepará-lo para ver o que disseram os profetas, a
saber, a bênção da graça que o Messias traz a todos que o aceitam
pela fé.
3. Meditação: O intérprete da lei é um homem "de leituras tranqüilas, de estudos profundos". Ele quer e gosta de profundas
discussões acadêmicas. Sua capacidade de raciocínio é extraordinária, mas sua prática é muito deficiente. Conhece a doutrina
mas ignora a prática. Sabe mas não faz o que sabe. Falta-lhe a
prática de sua teologia.
O samaritano ama seu inimigo. Deus quer que nosso amor
não tenha limites e fronteiras. O teólogo da estória quer saber
quem é seu próximo para que possa saber a quem ele não precisa
amar, e aí estar seguro de que ele atingiu a perfeição. O intérprete quer saber quem é e quem não é próximo. Jesus então
lhe mostra que é a hora, a necessidade que faz o próximo, e não
a sua cor, sua nacionalidade, sua crença religiosa. Nosso compromisso é com: os que estão no nosso caminho. O amor "se
orienta pelas exigências do momento, e é o momento que faz de
nós próximos.
O teólogo da estória ainda está preso aos parágrafos da
lei. Ainda não conhece o "crê em Mim" e viverás de Jesus, o
Redentor. A exigência da lei de amor a Deus e ao próximo ainda
o escravizam. Quem, pela fé está livre da culpa do pecado pode
amar sem medo da imperfeição do seu amor. Ele ainda não
conhece a liberdade de uma vida perdoada.
Jesus é o nosso misericordioso Próximo. Ele tornou-se o
nosso Próximo, "sem mérito ou dignidade de nossa parte". Veio
ao mundo em favor da humanidade caída, arriscou e deu sua
vida para nos atirar da situação desesperadora do pecado da perdição e condenação eterna. Ele veio para curar nossas feridas.
O amor
aproximou de
próximo sem
vida por nós.
próximos".
44
de Deus é amor ao inimigo. "Em Cristo Ele se
nós apesar de tudo. Quando nós passamos pelo
auxiliá-lo, esquecemos O PRÓXIMO que deu sua
Por causa Dele posso e quero ser próximo dos
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4. Disposição: Tema: Sendo um próximo!
1.0 que é o amor?
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
É ser próximo às pessoas em necessidade
Amor é basicamente ação, não menos sentimentos
O amor é gracioso, imerecido
O amor ignora limites estabelecidos pelos homens
O amor custa muito
O amor está disposto a sacrifícios
O amor não se alegra com a injustiça.
2. O amor de Deus em ação.
a) O amor de Jesus é gracioso
b) O amor de Jesus sempre quebra barreiras humanas
c) O amor de Jesus custou caro.
3. Você será um próximo?
a) Jesus contou essa estória para nos convidar a sermos
um próximo.
b) Convém você abrir os olhos para as muitas oporltunidades de ser um próximo.
Gerhard Grasel
NONO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
9 de Agosto de 1992
Lucas 10.38-42
Contexto e texto
Lucas não está fazendo uma narrativa seguindo uma seqüência cronológica. A perícope aqui em estudo é o relato de
um episódio sucedido durante uma jornada de Jesus à Jerusalém.
Embora Lc 9.51 pareça dar a entender tratar-se da última viagem de Jesus àquela cidade, os capítulos seguintes falam contra
esta hipótese.
V. 38 — "Indo eles a caminho", Jesus estava em companhia de seus discípulos. Pelo fato de Lucas ser um historiador
há, neste relato, algumas omissões que são de estranhar. Ele não
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
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menciona o nome da cidade de Betânia, palco do episódio, nem
faz referência a Lázaro, irmão de Maria e Marta (Jo 11.1-3).
Talvez Lázaro não se encontrava em casa nessa ocasião. Ou, não
estaria Lucas intencionalmente, desde o início, ao mencionar
apenas o absolutamente necessário, querendo chamar a atenção
para a "uma só cousa necessária"?
Marta parece ter sido a irmã mais velha. Tudo indica que
a administração da casa estava sob sua responsabilidade. O nome "Marta" significa "senhora" ou "dona de casa". Foi ela
quem hospedou a Jesus. A julgar pelas muitas pessoas que foram consolar as irmãs por ocasião da morte de Lázaro (Jo 11.19),
conclui-se que se tratava de uma família muito bem conceituada
na cidade.
V. 39 — "Assentar-se aos pés" é expressão que retrata a
atitude do discípulo diante de seu mestre. É assim que Paulo
fala de seu relacionamento com Gamaliel (At 22.3). Maria ouvia
os ensinamentos de Jesus. Não se tratava de uma simples conversa. Sentar-se aos pés de Jesus e ouvir seus ensinamentos, esta
é a característica dos discípulos ou da igreja de todos os tempos.
"As minhas ovelhas ouvem a minha voz" (Jo 10.27). O "ouvir”
de Maria, no original, está no imperfeito, isto é, tratava-se de
um ouvir contínuo.
A sala na casa de Marta, onde o SENHOR ensinava tornou-se, naquele momento, um templo onde a misericórdia de
Deus foi proclamada. Um santuário onde Deus mesmo se aproximou do pecador. Pelas devoções em nossas salas, quartos e
cozinhas, tornamos estes recintos templos nos quais o SENHOR
fala.
V. 40 — Não foi imprópria e inoportuna a atitude de Marta
ter-se dirigido a Jesus fazendo queixa de sua irmã? Não teria
sido um gesto mais educado se ela tivesse feito apenas um, sinal
para sua irmã vir ajudá-la, sem que Jesus o percebesse? Quem
sabe ela já havia feito tudo isto, e agora, finalmente, perdendo
a paciência, queixou-se junto a Jesus. Ela é autêntica. Põe a
descoberto seus sentimentos. Desabafa diante de Jesus. Há até
uma velada acusação dirigida ao hóspede divino: "Não te importas...". Jesus, porém, parece não repreendê-la por isto.
Igualamo-nos a Marta quando desabafamos: "Senhor! Por
que eu? Por que preciso sofrer mais do que outros? Por que não
tenho tantos dons quanto outros? Por que não tenho tanto dinheiro quanto outros?". Faz bem desabafar. Melhor ainda é desabafar diante de Jesus. Ter intimidade com Jesus, é também para
isto, para desafabar! Jesus era o pastor visitando aquela família.
Quando o pastor de nossa congregação nos visita, podemos derramar nosso coração diante dele. Ele está preparado para isto.
46
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
Marta, por certo, também deve ter tido o desejo de ouvir é
os ensinamentos de Jesus, mas havia tantas coisas para fazer!
Limpar o arroz, assar a carne, providenciar a lenha, limpar as
verduras, arrumar a mesa. Não havia mais tempo para tudo
isto é muito menos para também sentar-se aos pés de Jesus. E
sua irmã, tranqüila, escutando a Jesus... Também nós temos
tantas coisas para fazer. Somos absorvidos por problemas, dificuldades, objetivos, planos, projetos e compromissos, de sorte que
não resta sequer uma horinha tranqüila para ler a Escritura,
para orar, para meditar, para ir ao culto.
V. 41 — Não é Marta nem Maria que se quer apresentar
nesta perícope e sim "a uma só cousa necessária", "a boa parte",
isto é, a palavra salvadora de Jesus.
A repetição do nome "Marta! Marta!" indica que um
assunto muito importante haveria de seguir e de outra parte é
demonstração de interesse como se Jesus dissesse: "Minha filha!
Minha filha!". Marta era uma filha de Deus preocupada em
servir, no entanto, não conseguia colocar as prioridades no seu
devido lugar. E as nossas prioridades? Estamos lembrados de
que "não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus"? (Dt 8.3; Mt 4.4). Buscamos "antes de
tudo o seu reino"? (Lc 12.31). "Que aproveitará o homem se
ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma"? (Mt 16.26). A
vida é mais feliz para quem, escolhe a "uma só cousa necessária”.
Sem ela não há verdadeira felicidade, tudo é vazio, inútil, vão.
As prioridades aqui estão em jogo. "Marta! Por que você não
vem primeiro ouvir a palavra e depois vocês duas aprontam a
comida, não importa se o almoço sai mais tarde". Jesus não é
contra o trabalho nem contra a comida, mas tudo no seu devido
tempo (Mt 6.25-34). Não se pode também dizer que Maria não;
estivesse disposta a servir, pois foi ela quem, em outra ocasião,
ungiu a Jesus com um bálsamo muito precioso (Jo 11.2; 12.1-8).
V. 42 — "A boa parte", a palavra de Deus é o meio da
graça através do qual Deus realiza sua graciosa obra oferecendo
o tesouro do evangelho. Em breve o sofrimento iria abalar profundamente este lar com a enfermidade e morte de Lázaro. Todos precisariam estar preparados para enfrentar dias tão sombrios.
Seguem duas sugestões de tema e partes para sermão:
Na visita que faz aos seus amigos em Betânia, Jesus nos
ensina
1. Que o mais importante não é o que nós oferecemos a ele
2. Mas o que ele tem e quer nos oferecer
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Jesus recebe a atenção de Marta e Maria
1. Marta se preocupa em oferecer coisas materiais
2. Maria se ocupa era ouvir os seus ensinamentos.
Christiano Joaquim Steyer
DÉCIMO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
16 de Agosto de 1992
Lucas 11.1-13
Perguntas e questionamentos: Existe uma relação entre a oração e o trabalho na igreja? O trabalho na igreja cristã subsiste,
em qualidade, sem o uso da oração? Por que o trabalho em
muitas paróquias da IELB não vai "em frente"? Quais os fenômenos ou sintonias que aparecem com a "ausência da oração"
na vida do crente, da congregação ou da igreja em geral? O
que afinal é a oração? É preciso orar? O que diz o Novo Testamento sobre a oração? Quem ora? Quando? Como? Procuramos, em nossas orações, cumprir a vontade do Senhor da igreja
ou buscamos satisfazer somente o interesse próprio? Nossa oração é resposta viva e atuante? A quem respondemos? Existe,
hoje em dia, a necessidade de aprender "como orar"?
A solicitação: Jesus se dirige ao Pai Celeste. Foi observado pelos
discípulos. Surge a necessidade: Senhor ensina-nos a orar. Um
pedido, necessário também para o nosso tempo. Poderíamos
afirmar, por exemplo: Oração fraca deixa a igreja fraca. Os discípulos de Jesus necessitam espelhar-se no exemplo de seu Mestre. Perante a pobreza de uma vida sem oração, isto é, sem o
contato vivo com aquele que mantém viva a fé e o amor daqueles
que o seguem, surge a grande necessidade. Temos que aprender
a orar de maneira mais intensiva, permanente ou ser até mais
persistente. Faria bem a todos nós fazer um estudo sobre a vida
de oração de Jesus. Poderiam surgir para a nossa igreja muitos
impulsos inesperados.
A instrução: Jesus atende o pedido. Mostra aos seus discípulos,
e a toda igreja, como orar. "Ele os ensinou". A oração de Jesus
é modelo, digno de ser seguido por toda igreja cristã. De fato,
esta oração e com ela a maneira como orar está sendo praticada
por todos os seus seguidores. Todos os cristãos conhecem esta
48
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
maneira como se dirigir a Deus. Esta instrução, com todas as
conseqüências práticas, é importante para a vida da igreja,
A invocação: "Pai" Jesus fala com Deus como fala com, o seu
pai. Um gesto revolucionário para a sua época. Chegar a Deus
como uma criança e comunicar-se, de maneira intima com o
Senhor do mundo, representa assumir uma atitude impar, no
mundo religioso da época. Para falar com Deus não é necessário fazer uso de intermediários. O filho de Deus pode comunicar-se de maneira como o filho com o pai. Esta atitude nova
expressa toda confiança e ternura possível no relacionamento
entre o criador e sua criatura (Pai e filhos). Mudou a imagem
de Deus. Deus deixa de ser "majestoso", "soberano", "tirano”
ou "vingativo", perante o qual todos tremem ou se consomem
em medo. A cristandade aprendeu a lidar com Deus como lidar
cem um amigo. Um amigo que ouve em toda e qualquer situação.
Segundo Dr. Martinho Lutero "Deus quer atrair-nos carinhosamente”. Todos os cristãos deveriam ter esta confiança de comunicar-se com Deus nas mais diversas oportunidades. Dirigirse ao "pai" significa reconhecer a situação de "filho" que busca
permanentemente as soluções para os problemas que enfrenta e
espera, com toda confiança, a resposta.
A santificação: As petições que seguem devem ser entendidas
como feitas por alguém que necessita a ajuda divina no cumprimento. Depende exclusivamente do poder de Deus a realização
de tudo o que se pede, nesta oração. Esta é a razão das petições.
O filho tem que reconhecer sua dependência. Qualquer tentativa
de autonomia, por parte dos filhos de Deus, provoca ruídos na
comunicação com o Senhor da Igreja. A igreja cristã tem que
aprender, e isto sempre de novo, que necessita a ação de Deus
no seu trabalhar e realizar a obra do Senhor. Convém lembrar
a palavra de Jesus: Sem mim nada podeis fazer. Como filhos
de Deus dependemos, em tudo, da ação graciosa do Pai. Ele é
a fonte de vida que proporciona, por intermédio de sua Santa
Palavra, as condições necessárias para a vida da igreja. Merece
um estudo aprofundado e detalhado cada pedido, pois santificar
o Nome do Pai significa uma mudança radical e diária no comportamento e na vida diária do crente. Para aqueles que viveram, até agora, uma vida sem, maiores compromissos, representa
uma grande perturbação; ou incomodação, para aquele que quer
viver tranqüilamente, ter que pedir "Venha o teu Reino", incluindo todas as conseqüências para a vida autêntica do crente. A
vinda do Reino traz consigo sempre a aniquilação do "velho" e
o surgimento do "novo". A vinda do Reino poderia ser muito
perigoso para muita gente na igreja. Da mesma maneira ser
dependente, na vida cotidiana, da graciosidade de Deus, significa
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
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começar dar menos valor ao poder próprio (aquilo que produzimos com nosso empenho e esforço) e dar muito mais valor ao
poder de Deus que opera onde e quando ele quiser. Tomar conhecimento de tudo isso e levar a sério significa estar sujeito a
grandes turbulências, pois os fundamentos normais da vida humana serão questionados e sacudidos. Da mesma forma a vida
cristã depende da paciência de Deus (perdão) e passa constantemente por provas que testam o filho de Deus em sua fé. Enfim,
o filho de Deus tem que aprender a ser persistente em sua vida
de oração, pois tanto a certeza de sua salvação como a, certeza
de serem ouvidas as suas petições influenciarão toda a sua vida
cristã. É este o desafio perante o qual o Senhor da igreja coloca,
sempre de novo, o seu povo. Enfrentar os desafios na igreja
significa confiar e orar.
A vida da igreja é vida em oração
a) Existe uma relação entre a oração e a vida espiritual
da igreja?
b) Como viver um relacionamento entre pai e filho?
c) Pode a oração ser um instrumento poderoso no trabalho
da igreja?
Hans Horsch
DÉCIMO PRIMEIRO DOMINGO APÔS
PENTECOSTES
23 de Agosto de 1992
Lucas 12.13-21
Leituras do dia:
Salmo 100 —
Celebrai, servi ao SENHOR
Foi ele quem nos fez e dele somos
Rendei-lhe graças... Porque o SENHOR é bom.
Ec 1.2; 2.18-26
V. 24 e 25: pois, separado de Deus, de cuja mão
vem tudo, quem pode comer ou quem
pode alegrar-se?
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IGREJA LUTERANA/NUMERO 1/1992
Cl 3.1-11
V. 2 e 3 - Pensai nas coisas lá do alto... a vossa vida está oculta juntamente com
Cristo, em Deus.
As leituras, deste domingo formam um conjunto maravilhoso de testemunhos que atraem o nosso espírito com o consolo
e a satisfação daqueles que aprenderam a buscar primeiro o
reino de Deus e que deixam as coisas acrescentadas ao cuidado
de Deus. O "pensai nas coisas lá do alto" não é alheamento, mas
a única maneira possível de conviver felizes com as coisas aqui
de baixo.
Isto, especialmente, é o assunto da parábola de Jesus. A
princípio parece que a parábola é uma interrupção ao pensamento de Jesus. Mas, pelo contrário... Jesus está descrevendo que
a questão "para que vivo eu" será posta diante dos seus seguidores da forma mais drástica diante das sinagogas, governadores
e autoridades (v. 11). O que dá valor à vida? O que se deve
procurar? Quais as coisas que podemos dar em troca de uma
vida feliz? Em que consiste a felicidade?
A interrupção (v. 13) enseja a que Jesus estenda a sua
afirmação até à sua real dimensão num caso prático do dia a dia.
Desta maneira, Jesus indica que o confessar a Cristo diante dos
tribunais não e somente um discurso, ou um ato momentâneo
reservado para certas ocasiões, mas é fruto de uma correta postura e atitude diante da vida em todos os seus aspectos. Por
exemplo, neste caso da herança que para muitos não teria a ver
diretamente com a fé cristã, entretanto, para Jesus, também aí
se manifesta ou não a fé na atitude que gera o discurso.
Neste texto Jesus é confrontado com um problema: a partilha de uma herança. E já no enunciado do problema está revelado algo que é bastante comum; alguém se viu prejudicado,
injustiçado. Mas em vez de tentar resolver a desavença entre os
irmãos pela aplicação da justiça. Jesus avança mais e expõe o
problema dentro do problema: O homem é proprietário daquilo
que lhe cabe por direito? Jesus ainda vai mais além e revela
que o uso dos bens está ligado ao uso, finalmente, da própria
vida. "Quem é proprietário de quê?"
Iludindo-se de que é proprietário, o homem perde a possibilidade de ser feliz. Perder os seus bens, por isto, pode antes
torná-lo feliz porque o aproxima do "outro" afastando-o da solidão do "meu".
Paralelo: Os rabis do tempo de Jesus assumiram o papel
que o homem agora atribui a Jesus. "Diga quem de nós tem
razão". Quando hoje as pessoas se aproximam pressionando o
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
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pastor para que este lhes dê razão, porque será? Será que, tal
como os Rabis, os pastores adotaram o papel de "repartidores
da justiça", os que dizem que tem razão. Será que os pastores,
tais como os rabis, supõem que ter razão é suficiente?
Jesus se nega a assumir este papel de "partidor" (meritês)
porque o seu é o papel reconciliador (mesitês). O ministério
é o da reconciliação. Por isto Jesus vai em busca da motivação
por trás dos atos. Então Jesus aponta o problema dentro do
problema e diz: Observai com atenção e buscai proteção contra
ambição (ou avareza). Cuidai-vos contra a suposição de que da
abundância de bens brotasse abundância de vida.
Apontando este problema dentro do problema, Jesus deixa
de ser um moralista para ser o pregador da palavra de Deus que
vai ao ponto de "separar alma e espírito" revelando o mais íntimo nas motivações que geram atitudes, que por sua vez geram
comportamentos e palavras. Agora Jesus introduz a parábola,
na qual quer o modo divino e o humano de compreender a Zoe,
do que realmente consiste a Zoe, a Vida.
(Leituras paralelas neste ponto são o Salmo 49, Ec 2.1-11,
Jó 31.24-28.)
Para aquele que quer ter, Jesus mostra o que é a vida dos
que pensam que a abundância de vida depende de ter com abundância. Então introduz aquele que já tendo, ainda recebe mais.
Como dizendo: Imaginemos que seu irmão agora tivesse conseguido licitamente todos os bens e então fosse abençoado com a
absoluta sobra de bens.
E então Jesus pinta o quadro de um homem que fala
“consigo mesmo" e que pensa em tudo aquilo como "minhas; colheitas".
Com isto Jesus lembra que o mundo da abundância de
bens, tal conto os dois irmãos em litígio o entendiam, é um mundo
muito pobre de vida, porque isola a indivíduo e reduz à solidão.
Ao pensar naquilo que tem como "meu", (minha colheita, minha
mulher, meu marido, meus filhos) os dois irmãos e, por extensão,
as pessoas em geral, levantam barreiras invisíveis entre si e os
que se aproximam deles, e começam a existir num mundo isolado onde o "outro" sempre é visto com desconfiança, como uma
ameaça ao "meu". Neste vazio, as coisas parecem preencher o
espaço, ocupar o tempo e dar algum sentido à vida. Mas este
sentido que o dinheiro e bens dão à vida, que sentido é este?
Jesus mostra que o estar ocupado com o "meu" pode até
ter momentos espetaculares como este: derrubar e edificar. Derrubar o que existe e progredir, melhorar, aumentar. Como é comum; ouvir homens e mulheres ocupados com a "nobre" missão
de dar tudo à família trabalhando até o sacrifício.
52
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
Mas não se dão conta que aquilo que fazem é aquilo que
decidiram "falando consigo mesmos", decidindo pelos outros, tal
como cada um dos irmãos tentava fazer. "Eu é que sei o que é
bom para vocês" é infelizmente uma atitude que permeia muitos
dos "diálogos de surdos" familiares.
O homem da parábola não se dá conta da sua solidão,
inebriado consigo mesmo. "Eu sei", "Eu consegui". Só a sua
própria alma ainda está disponível para lhe dar atenção. Ninguém mais consegue estar perto dele e ouvir o homem, que sempre sabe, sempre tem razão, e cujo sucesso parece depender dele
mesmo e que serve para que sempre possa ter razão. Sua satisfação é tanta que a sua alma é certificada com a sentença que
tem som de coisa final e definitiva: Descansa, come, bebe, regala-te.
Este sonho cuidadosamente imaginado e tecido em torno
do sucesso pessoal explode com uma palavra vinda de Deus:
“Louco".
Interessante é de notar a escolha de palavras de Lucas ao
escrever o texto:
Louco é afron no original. A raiz é fron, diafragma, entendida como sede do sentimento, do intelecto e do espírito. O
homem está em estado de felicidade (eufron) porque produziu
em abundância (euforeo). Mas Deus o declara (afron), louco, e
pergunta o inevitável: Uma vez morto, para quem será?
Ele esquecera que a vida e tudo o que lhe pertence na
verdade é um empréstimo que Deus graciosamente oferece e dá.
Ele esquecera de perguntar a Deus em vida: "Para que e para
quem. Recebi este empréstimo tão generoso." Deus, na sua palavra lhe teria ensinado muitos destinos diferentes para os seus
bens, de modo que ele poderia ser mais feliz e menos ocupado
com os bens. Porque Deus prova que a sua generosidade não
tem limites. "Ela faz descer a chuva sobre maus e bons, etc.
“ e nisto aquela porção que pertence à nossa felicidade. Mas uma
felicidade compartilhada, para que não acabemos sozinhos, tendo somente a alma para ouvir o que temos a dizer.
"Reunir riquezas para dentro de Deus (eis Theon) é uma
indicação nada misteriosa de Jesus. Basta lembrar o que Jesus
vai dizer no juízo: "Tive fome e me destes de comer, tive sede... "
etc. Deus de nada necessita, mas o Deus que se revelou em; Jesus
Cristo assumiu as carências e pecados de todos. Agora vive nos
seus crentes que o revelam ao mundo pelos dons que lhes concede, Mas também vive nos mesmos crentes que, em suas fraquezas, angústias e opressões buscam, o amor que derramou ricamente nos seus, na sua igreja, seu corpo.
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
53
A partir de uma questão de herança, Jesus leva o injustiçado a não concentrar a sua atenção na injustiça. Mas faz com
que ele reflita, a partir daí, na realidade de que os bens são na
verdade uma dádiva de Deus que tanto podem ser administrados
a partir desta fé. Ou então que se tomam, em nossas mãos, propriedade nossa, causando divisões, solidão e, finalmente, o absurdo porque quem o deu, continua a ser Proprietário. "Para quem
será depois de ti?"
TRATAMENTO HOMILÉTICO
Sugestão
Ponto de comparação:
Jesus demonstrou que por mais que se venha a ter, é loucura limitar-se à felicidade que as coisas oferecem. Assim,
enquanto o ter coisas for o objetivo e motivação na vida,
a falta de senso domina a vida.
Pensamento central:
Já que as coisas materiais fazem parte da vida, vamos
destiná-las para Deus.
Disposição
Introdução: Herança é um assunto sério. Ainda hoje árabes e israelitas fazem guerra por uma porção de deserto do qual
se julgam herdeiros legítimos. Inventários são muitas vezes causas de incompreensão e amargura. Ações de divórcios são interrompidos por causa da partilha de bens. Citar casos famosos
de conhecimento geral.
Tema: Mais valioso do que a posse da herança é saber-se
herdeiro
— De um Proprietário generoso
— De uma herança inesgotável.
Paulo P. Weirich
Niterói, Canoas, RS.
54
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
DÉCIMO SEGUNDO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
30 de Agosto de 1992
Lucas 12.32-40
Leituras do dia:
A partir das leituras do dia não encontramos dificuldades
para determinar o tema do domingo. Ele salta aos olhos no
conjunto dos textos indicados e podemos resumi-lo em poucas
palavras, como, por exemplo, a excelência da fé.
O salmo transmite a verdade de que a excelência da fé
produz o verdadeiro culto a Deus. Não são as cerimônias exteriores e formais que estabelecem um cultuar correto ao Senhor.
O culto exterior tem que ser precedido do culto interior tem que
ser precedido do culto interior e este, por sua vez, nasce de um
coração unido a Deus por meio da fé. Da comunhão interior
com Deus procede uma vida cúltica, caracterizada não apenas
pela observância de certos momentos de adoração, mas por uma
seqüência de vida em que os atos expressam confiança no Senhor
e amor por sua palavra.
A leitura do Antigo Testamento depõe a favor de Abraão
e testemunha a respeito de sua confiança na palavra do Senhor.
Seu exemplo de fé estimula a todos quantos o conhecem. Por
confiar no que Deus disse, tornou-se herdeiro de uma maravilhosa promessa.
O texto de Hebreus define o conceito de fé e divulga seus
excelentes resultados espalhados no testemunho deixado pelos
grandes heróis do Antigo Testamento.
Contexto do Evangelho
Jesus vem falando sobre a fé e seu valor na vida dos filhos
de Deus. Falava ao povo (multidão, segundo Lc 12.1) e especialmente aos discípulos (também 12.1). Ressaltou o valor da
fé para enfrentar os adversários (12. 1-12); a superioridade da
fé sobre a cobiça às riquezas (12. 13-21); o proveito da fé diante
da ânsia e cuidado pelas necessidades corporais e materiais
(12. 22-31): a fé como meio de recebimento do verdadeiro tesouro (12. 32-34): e a necessidade de conservar a fé para a vigilância diante da iminência da vinda de Cristo (12. 35-40).)
O texto
V. 32 — Um "pequenino rebanho": a expressão
imediatamente uma idéia de fraqueza, de inferioridade em relaIGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
revela
55
cão ao que está ao redor. O grupo dos discípulos era um pequeno rebanho no meio do mundo que não deixaria de se opor a
eles como se opôs ao seu Mestre. Os cristãos continuam sendo
um pequenino rebanho em meio ao enorme mundo de descrentes
ou seguidores de falsas crenças. Olhando só para eles e o que
os cercava, os discípulos, certamente iriam se sentir desguarnecidos, desprotegidos e, conseqüentemente, com medo. Pouca ou
quase nenhuma é a força do homem frente às forcas que se conjugam ao lado contrário. Por isso, quando está só ou num pequeno grupo, não há lugar para outro sentimento no coração
humano a não ser o temor.
O pequenino rebanho, porém, não estava só. Havia um
fato relacionado a eles que transformaria completamente a situação. Se os olhos do corpo podiam contemplar somente a vulnerabilidade do grupo, por outro lado, todavia, era desvendado
aos olhos da fé aquilo que é sempre um mistério, ou seja, a graciosa providência de Deus em favor dos seus. É mistério porque
não atinamos com nossa razão em. descobrir o que leva Deus a
olhar benevolentemente para criaturas pecadoras. Sabemos apenas que isso significa que o Senhor se achega em graça junto
aos pecadores. Em graça ele também se aproximava dos discípulos, "agradando-se" (sem mérito deles) em lhes dar o seu
reino. Por isso, a graça divina a eles alcançada por intermédio
de Cristo e aceita por eles através da fé, agigantava-os sobremaneira, embora numericamente continuassem um pequenino rebanho. Desfrutavam do reino de Deus, sob os cuidados do Senhor, não estando mais à mercê do movimento de forças opostas,
mas fundamentados na proteção amorosa de Deus.
V. 33 — Não há aqui nenhum conselho para se apossar de
uma pobreza meritória. O rumo mostrado é outro. A confiança
nos resultados da ação graciosa de Deus (agradou-se em dar-nos
o seu reino) faz nosso coração repousar não na ilusória segurança dos valores materiais, como fez o rico insensato, descrito
nos versículos 16 a 20. Guardou o que conseguiu em bolsas que
se desgastaram e deixaram escapar tudo que havia ajuntado. O
coração do filho de Deus encontra repouso na providência amorosa do Senhor como fruto de sua graça. Tal fé dirige toda a
sua vida, libertando-o do domínio das posses a tal ponto que
até pode delas se desfazer para a prática da caridade. Uma fé
que se mostra assim ativa no amor coloca também a esperança
de vida, tanto de agora quanto do depois, no único que pode
concretizá-la: Deus. Dele vem à vida plena garantida pela intermediação de Cristo com sua obra redentora. Tal vida se constitui no tesouro inextinguível imune ao ladrão e à traça. Por
recebermos do Pai o seu reino, já desfrutamos em parte desta
56
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
vida, deste tesouro, aqui na terra, enquanto aguardamos a sua
plenitude nos céus.
V. 34 — O coração sempre pende para aquilo que é o tesouro de alguém. A oferta do reino trazida por Jesus ao pequenino rebanho quer mover os corações dos discípulos em direção
ao tesouro incorruptível e glorioso. Que diferença em relação
ao rico insensato anteriormente mencionado!
Vv. 35-40 — Em lugar da análise exegética de cada destes
versículos em separado, podemos agrupá-los e extrair do conjunto a verdade neles englobada. A ênfase está na vigilância
diante da iminência da chegada do senhor, apontando para o
Filho do homem que virá. Trará com ele a consumação de tudo
aquilo que agora é parcial (por ex., nosso tesouro). Pela fé nele
teremos acesso a tal plenitude. Será a vez do pequenino rebanho, tão inexpressivo frente aos grandes e poderosos do mundo,
ser alçado à glória e ao poder com. aquele que é o Senhor da
glória e do poder.
Para se chegar a esse final feliz da história de nossa vida,
há que existir a vigilância. Não há da parte do Senhor nenhuma
menção com referência ao momento de sua vinda, o que requer
vigilância constante dos servos que o aguardam, com os corpos
cingidos e as candeias acesas. Pois o que conserva os discípulos
vigilantes é a fé no Senhor Jesus e na promessa do seu regresso.
Mais uma vez comprova-se a excelência da fé! É nada menos
do que confiança naquilo que a graça divina já operou a nosso
favor — deu-nos o reino do Pai, sendo esta dádiva possível pela
intermediação de Cristo; ofereceu-nos um tesouro inextinguível e
incorruptível (lembre 1 Pe 1.4) — e ainda quer realizar: trazer
o Filho do homem novamente ao mundo para nos transformar
num rebanho triunfante.
A fim de garantir a subsistência de coisa tão excelente, a
fé, nosso Senhor Jesus providencia sua permanência operante
em nossa vida. Esteve pessoalmente com os discípulos e chega
a nós pelos meios da graça, pelos quais opera em defesa e para
crescimento da fé.
Proposta homilética
Tema: A Excelência da Fé
Introdução: A fé, algo tão precioso, não pode ser mal avaliada.
O que pouco vale facilmente é abandonada. Mensagem visa colocar diante do ouvinte a preciosidade da fé.
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
57
I — O pequenino rebanho e seus medos
1) O contexto do capítulo 12 de Lucas até o versículo 29
fala dos medos comuns àqueles que se sentem pequenino rebanho.
II — O pequenino rebanho não está só e desguarnecido
1) Sobre ele paira o favor (graça) do Pai: dá o seu reino.
A — Em vez de estar abandonado diante dos perigos
e inquietações, percebe a ação do Pai em seu benefício: nada menos do que a oferta de ingresso
no reino do Pai todo-poderoso.
2) Forma de aceitar a dádiva do reino: pela fé em Cristo
tão somente. Eis a excelência da fé!
III - O pequenino rebanho no reino do Pai
1) Entre outras bênçãos ali recebidas, descobre o verdadeiro tesouro.
2) A fé nas promessas do Pai inclina os corações para o
verdadeiro tesouro, ao mesmo tempo em que liberta
da escravidão aos tesouros guardados em bolsas que se
desgastam. Eis novamente a excelência da fé!
IV - O pequenino rebanho prepara-se para a vinda do Pastor
Jesus
1) No reino do Pai caminha para a glória.
A — Ainda, porém, não chegou lá. Atitude a
mada durante o tempo do "ainda não":
cia!
B — Apenas saber que Cristo virá não garante
tro feliz com ele. É preciso também o
adequado.
ser toVigilânenconpreparo
2) A vigilância evita surpresas desagradáveis.
A — Conserva-se vigilante aquele que permanece em
fé no Salvador Jesus. A excelência da fé!
B — A providência divina para conservar e fortalecer
em nós coisas tão excelente: ação do Espírito
Santo pelos meios da graça.
58
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
Conclusão: Toda a graça que o Pai dispensa ao pequenino rebanho (dá o seu reino, opera a fé, conserva-a para que a vigilância seja mantida, oferece o tesouro incorruptível da vida
eterna) motivo-o a uma vida de serviço voluntário dedicada ao
Pastor Jesus.
Paulo Moisés Nerbas
DÉCIMO TERCEIRO DOMINGO APÔS PENTECOSTES
6 de Setembro de 1992
Lucas 12.49-53
Avaliação: Qual a posição que a igreja cristã ocupa hoje na
sociedade moderna? Esta posição é a mesma segundo os relatos
novotestamentários e da igreja primitiva? A igreja conhece e
segue a sua missão aqui no mundo? Com o passar do tempo a
igreja não sofreu modificações ou alterações em sua própria concepção de ser igreja? A igreja cristã sabe de maneira clara e
definida o que ela ensina e o que ela quer em nossos dias? Como
explicar que a igreja cristã, ao longo do tempo percorrido, enfrentou os perigos da inanição e da alienação? Como explicar
o fato de que muitas vezes o mundo invade a igreja em vez de
a igreja invadir e transformar o mundo com a sua mensagem?
Será que a igreja levou a sério, sempre, que ela não é dona de
seu destino? Como "remir o tempo" para chegar no fim do século vinte com a consciência tranqüila de ter obedecido a voz
do evangelho? Qual o modelo de ser igreja no 3º milênio? Como
interpreta a IELB a sua maneira de ser igreja, o seu papel, em
terras brasileiras? Todos os luteranos vivem aguardando ardentemente à segunda vinda de Cristo? A esperança da segunda
temente a segunda vinda de Cristo? A esperança da segunda
vinda de seu Mestre influencia em sua vida e na vida das congregações? Podemos dizer que somos iguais àqueles que esperam pelo seu Senhor? Vivemos a fé cristã de maneira determinada e decidida? Vivemos conscientes de ser o povo escolhido
para fazer a obra do Senhor? Estamos prontos, isto é, aptos e
preparados, para cumprir a nossa missão? Cumprir a missão de
Cristo é um assunto sério para todos nós?
O texto aparece num contexto (cf. todo capítulo doze) que está
sob o peso do tempo escatologia). Isto significa que o próprio
Senhor do tempo determina os acontecimentos e os discípulos
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
59
terão que avaliar a sua posição no mundo. Sua posição no mundo decidirá sobre a sua posição no Reino de Deus. Assumir uma
posição clara e definida significa olhar para o futuro, a consumação dos séculos. Decidir-se significa separar-se de tudo o que
poderia impedir de seguir a Jesus. O início do texto não deixa
dúvida sobre o porquê e a finalidade da vinda de Jesus.
O juízo. Com, uma seriedade, sem igual, o próprio Senhor da
igreja lembra que veio para "lançar fogo sobre a terra" (v. 49).
Entre as muitas interpretações sobre o "fogo" destacamos o conteúdo do "juízo" de Deus. O fogo traz purificação e transformação. Este significado fecha com, as observações posteriores sobre
0 batismo. Tanto no AT como no NT encontramos a ação purificadora de Deus revestida de termos como o "fogo" (At 2.3:
1 Co 3.13; 1 Pe 1.7; etc). Observando o que foi dito em Lc 3,16
percebemos qual a finalidade da vinda de Jesus Cristo. A sua
pessoa é o divisor de águas. Quem não está a favor dele é contra
ele. Com a interpretação a respeito da pessoa de Jesus Cristo se
define a posição e o destino do homem (cf. Jo 5.24;).
O martírio. Antes de ver o "arder do fogo", Jesus tem que cumprir sua missão. O batismo pelo qual ele deve ser batizado recebe
sua explicação com Mc 10.38ss, O martírio de Jesus, descrito
como batismo, tem, um poder purificador e redentor. Somente
após este passo Jesus pode lançar o fogo sobre a terra. A dádiva
do Espírito Santo purifica, na fé, o homem (At 2.33: 15.8;). A
igreja cristã de todos os tempos conhece esta verdade. Muitas
pessoas seguiram a Jesus, mesmo passando por formas idênticas
de martírio. Para a vida da igreja cristã é de suma importância
saber que tem a vida verdadeira com os frutos da cruz de Cristo,
sua morte e ressurreição. E de fato, após a ressurreição de Jesus
Cristo o seu povo, a igreja cristã, é o divisor de águas, pois por
intermédio dos portadores da Palavra da vida o Senhor da igreja
faz arder os corações das pessoas, povos e nações.
A divisão. A palavra é clara. "Vim para dar divisão". Cada
pessoa será solicitada a tomar uma posição clara e definida. Os
tempos escatológicos obrigam, a tomar uma posição clara e definida. Cada homem tem que tomar sua decisão individual. O
conceito usado para descrever este fato fala em divisão. A humanidade será dividida. Esta divisão acontecerá sempre de novo. Ninguém poderá passar perante Jesus sem tomar posição. A
decisão individual atinge casas, famílias, amizades e parentes. Os
discípulos de Jesus não podem assumir uma atitude dupla ou
comprometedora. Quem decide ir com Jesus deverá assumir uma
vida compromissada com Jesus. É impossível declarar-se estar
ao lado de Jesus e querer viver uma vida determinada pela pró60
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
pria carne, pelo mundo e pelas tentações. Viver com Jesus significa entrega total, sem receios ou desculpas.
A igreja cristã, esperando a vinda do Senhor, jamais pode
se satisfazer somente com os negócios desta vida. Ela deve ter
“ouvidos para ouvir" e seguir o convite do mestre. Desobedecer
ao chamado do Senhor da igreja significa enfraquecer na fé e
na ação Faz-se necessário, em nossos dias, avaliar a vida das
igrejas à luz da palavra apostólica. Eis o motivo para o arrependimento sincero e a proposta de uma nova vida sob a influência do Senhor da igreja.
Na vida da igreja cristã se cumpre à finalidade da vinda
de Jesus
a) Vivemos integrados nos propósitos de Cristo
b) Somos os portadores autênticos de sua mensagem
c) Queremos servir a ele com tudo o que somos e temos.
Hans Horsch
DÉCIMO QUARTO DOMINGO APÔS PENTECOSTES
13 de Setembro de 1992
Lucas 13.22-30
I. Leituras do dia:
A leitura do Antigo Testamento, de Isaías 66.18-23, está
diretamente relacionada ao evangelho de dia. Profetiza que as
nações do oeste, sul e norte estarão no reino de Deus. Algo semelhante Jesus prevê no nosso texto ao dizer que "muitos virão
do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul" (v. 29). Já a epístola de Hebreus 12.18-24 fala do cumprimento desta promessa,
inclusive do cumprimento pleno na eternidade. E o Salmo 117
só é pequeno no número de versículos, pois diz uma verdade
maravilhosa: "Louvai ao Senhor vós todos os gentios, louvai-o
todos os povos" (v. 1). Vale ressaltar: Deus quer salvar todos
os povos! Daí poderíamos tirar o tema: Cristo, a porta estreita,
é porta aberta para todos. Ficamos assim bem dentro do tema
da IELB para a década em curso: CRISTO PARA TODOS.
Podemos destacar ainda o Intróito, Oração do Dia e Gradual que encontramos em "Preciso Falar", volume seis, próprios
para as leituras trienais. Também se relacionam diretamente
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
61
com a verdade de que Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida
para TODOS. Destacamos o Gradual que louva a insondável sabedoria de Deus em abrir as portas da fé aos gentios.
II.
Contexto;
'
Tanto o texto quanto o contexto respondem à pergunta:
“Quem entrará, no reino de Deus?" Resposta: "Não quem vocês
pensam." Muitos "últimos" serão "primeiros". Entrarão aqueles que são vigilantes (Lc 12.35-48); os que são separados pelo
fogo (12.49-53); os que interpretam os sinais dos tempos, "kairós”
(12.54-56); os que se arrependem e produzem frutos (13.1-9);
os que se humilham (14.7-11); os que amam seu semelhante
(14.12-14); os que seguem a Jesus (14.25-33); os que têm, os pecados perdoados (15). Mas não entrarão no reino de Deus os
de Jerusalém que rejeitaram a Jesus (13.34); os que se exaltam
a si mesmos (14.7-11); que recusam o convite para o banquete
(14.15-24); os que não gostam que Deus aceita o pecador
(15.25-32); que tentam se justificar a si mesmos (16.14-15); que
não ouvem Moisés e os profetas (16.19-31).
III.
Texto:
O texto enfatiza que a salvação é unicamente por graça.
À primeira vista Jesus parece apontar para a justiça própria,
por boas obras, ao dizer: "Esforçai-vos por entrar pela porta estreita". Naturalmente isto contradiz o resto do evangelho de
Lucas. O centro do ensino de Lucas a respeito da salvação por
graça pode ser expresso com as palavras de Jesus: "O Filho do
Homem veio buscar e salvar o perdido" (19.10). Também as
parábolas de Lucas 15 ilustram isto muito bem.
No versículo 22 do texto Jesus está rumando a Jerusalém.
Para quê? Rumo à morte redentora. A qual nos salva.
Nos versículos 25 e 27 Jesus diz que ele "sabe", "oida”,
quem são os salvos. São os que Deus "conhece" segundo o sentido do Antigo Testamento. É um conhecer profundo, um; escolher por graça e não por merecimento.
Igualmente a inversão do versículo trinta ilustra este ponto
ao dizer que "há últimos que virão a ser primeiros", e "primeiros
que serão últimos". É a graça de Deus que faz dos "últimos”
“primeiros".
Uma outra questão é a pergunta especulativa: "São poucos
os que são salvos?". Jesus não responde à especulação com especulação. Ele muda a conversa para o que é realmente importante, ou seja, ele trata de arrependimento e fé, como no caso
de Lucas 13.1-5, ao falar-lhes: "esforçai-vos por entrar na porta
62
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
estreita" (13.24). É um chamado à santificação provinda da fé
e não da justiça própria. É um chamado para "arrependimento" (13.1-5), para "confessar" Jesus diante dos homens (12.8),
para ser "seu discípulo" (14.25-33) e para "dar frutos" (13.6-9).
É um chamado urgente pois a "porta estreita" pode se tornar
uma "porta fechada". Isto acontecerá repentinamente (12.40,
46; 21.34). Isto está ilustrado com o fato de que alguns chegarão
à porta depois que esta foi fechada. Então não haverá uma segunda chance, nem depois do "arrebatamento" e nem durante
um "milênio".
Nosso texto aponta para o "escândalo da particularidade”:
Cristo é o Caminho, e o único Caminho. Ele não é só a porta
(João 10.9) mas também o que guarda a porta e a fecha. Muitos
ficarão fora. Serão descendentes de Abraão (v. 28), os de Jerusalém que rejeitaram a Jesus (13.34), e também dos que "comiam c bebiam" na presença de Jesus (Mt 7.21-23).
A bem da verdade, Jesus "comeu c bebeu" com muita
gente. Mas uma mera aceitação exterior dele e de sua palavra
não é o mesmo que, fé. Só os que Jesus, o "dono da casa", conhece podem, assentar-se à sua mesa. Os "que praticam a iniqüidade" deverão se afastar dele (Salmo 6.8). Serão jogados no
inferno (10.15), onde haverá "choro e ranger de dentes" (Mateus
13.42-50). Porém nem, todos os judeus serão excluídos. Há "primeiros que serão últimos", mas nem todos os "primeiros" serão
“últimos".
O versículo 29 aponta para a inclusão dos gentios,
mos que serão os primeiros" neste contexto. Através de
Antigo Testamento esta é uma verdade constantemente
(Gn 12.3; Is 11.10-12; 19.18-24; 42.1-7; Amos 9.11-12).
Atos especialmente enfatizam isto.
os "últitodos o
repetida
Lucas e
A porta estreita é a entrada para o reino de Deus. Este
reino é tanto uma realidade presente quanto futura. Geralmente
a ênfase está no reinado amoroso de Deus em Cristo, mas aqui
a conotação é mais a do reino como uma casa, o banquete da
salvação (14.15). Os crentes aguardam o banquete celestial. De
fato, a Santa Ceia é penhor e antecipação deste banquete (22.16,
18, 29-30).
IV.
Proposta Homilética:
Tema: Cristo, a porta estreita, é porta aberta para todos.
Disposição: Uma disposição natural, lógica, seria discorrer
diretamente sobre a Lei e o Evangelho que o texto e contexto
apresentam. A Lei apresenta a possibilidade da porta estar fechada. É uma advertência a não rejeitarmos a Cristo e também
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
63
a que não o aceitemos apenas de forma intelectual, sem fé genuína, na sua palavra, ou na Santa Ceia. Mas quando confessamos os nossos pecados, nos achegamos de Cristo, então somos
confortados pela doçura do evangelho. Este nos aponta para a
porta aberta porque Jesus foi a Jerusalém para morrer por nós.
Nos assegura que ele nos transforma de "últimos" em "primeiros" justamente porque ele se fez "último" em nosso lugar. Ele
nos "conhece" de fato, ou seja, nos "escolheu" e salva. Nossa
participação na Santa Ceia agora é penhor da mesa celestial da
qual participaremos. Isto nos impulsiona a continuamente nos
esforçar para entrar na porta estreita. Não podemos esquecer
também que o evangelho é para todos os povos, ao fazermos a
aplicação do texto.
Edgar Züge
Cachoeirinha, RS.
DÉCIMO QUINTO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
20 de Setembro de 1992
Lucas 14.1,7-14
Leituras do dia:
O Salmo destaca o reconhecimento e a exaltação da justiça
de Deus revelada em sua lei. Para se reconhecer esta justiça de
Deus, é necessário a devida humildade, pois, a justiça própria
no homem, gera o orgulho e a exaltação e, todo o que se exalta
será humilhado (conforme Provérbios 25.6-7). A Epístola relembra certos preceitos desta lei de Deus, a serem, observados
pelos crentes.
Texto:
Vv. 7-8
Jesus se utiliza do exemplo de uma festa de casamento
como símbolo de todas as importantes funções sociais, onde geralmente se observavam ambições tolas pelos primeiros lugares.
Observando a parábola como um todo, vemos que o que Jesus
quer ensinar não é propriamente algumas regras para serem
observadas nos encontros sociais, e sim, uma lição sobre a humildade.
64
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1902
Vv. 9-10
Temos ilustrado nestes versículos o fato de que a vaidade
impensada é detrimente ao próprio indivíduo, porquanto os outros, e especialmente as pessoas investidas de autoridade, não
são necessariamente bem impressionadas pelas ações pretenciosas, mas podem ser até mesmo repelidas. No terreno espiritual,
podemos observar que Deus é mais exaltado do que qualquer
“hóspede" ou "autoridade" que porventura quiséssemos impressionar, pelo que também, deve ser desenvolvida uma autêntica
humildade espiritual, pois, a promessa que Deus faz é que exaltará os humildes e humilhará os soberbos.
Vv. 11
Diante de Deus, todo orgulho e arrogância egoísta do hipócrita será castigada. Deus só aprecia a humildade sincera, a qual
jamais se esforça para ser exaltada nem, astutamente, se empenha para alcançar proeminência. Foi este orgulho mundano dos
judeus, esta superioridade insana e carente de espiritualidade,
especialmente a dos fariseus, que os levou a desprezarem um
Messias tão humilde como o foi Jesus.
A humildade resulta do fato de descobrir um homem que
tudo quanto ele é e possui se deriva de Deus. Acima de tudo,
a humildade de espírito vem da consciência do fato que ninguém
é salvo senão pela graça incondicional de Deus, em Cristo Jesus.
Esta consciência da dependência absoluta de Deus leva o cristão
a sentir-se seguro (SI 119.165) e feliz. É preferível andar nos
mandamentos de Deus os quais delineiam um caminho claro,
preciso e seguro do que apoiar-se sobre preceitos humanos que
se mostram falhos e cheios de mentira (SI 119.163), cheios de
maldade e injustiça (SI 119.161).
Esta lição de humildade de Jesus neste texto e a lição de
obediência à lei de Deus revelada pelo salmista, nos levam, a
refletir sobre a qualidade de obediência e humildade que estamos demonstrando diante da Lei e do Evangelho, hoje. O desprezo a pregação (cultos) da Palavra e a rejeição ao Cristo nos
meios da graça é uma forma sutil de arrogância e desobediência,
sinalizando a falta de amor a Deus e à sua Palavra, seus mandamentos.
Proposta Homilética:
Tema: A humildade diante da justiça de Deus.
I — O orgulho endurece o coração e a mente
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
65
a) Característica dos fariseus no tempo de Jesus
b) Característica dos homens de hoje em sua justiça própria
c) Característica nas igrejas quando há resistência
e desprezo à Palavra e sacramentos.
II — A humildade reconhece a Justiça de Deus.
a) Deve caracterizar os cristãos
b) Os humildes serão exaltados por Deus
c) Procede de um coração agradecido pela salvação
pela graça
d) Transparece na vida diária do filho de Deus,
Nereu Rui Weber
São Leopoldo, RS.
DÉCIMO SEXTO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
27 de Setembro de 1992
Lucas 14.25-33
1. Próprios do dia: o Intróito (SI 119.169-176) leva o cristão à
presença do Senhor, em busca de entendimento e compreensão
da palavra e justiça de Deus. E uma súplica para que o Senhor
revele a sua salvação e guie o seu povo por sua palavra. A leitura do AT (Pv 9.8-12) destaca o princípio fundamental da sabedoria — o temor do Senhor, e aponta para o fato de que, na
cruz de Cristo, estão a verdadeira sabedoria e o poder de Deus.
A epístola a Filemom, foi escrita com o objetivo de interceder em
favor de Onésimo, escravo fugido e agora convertido. Paulo roga que Onésimo seja tratado como a um irmão, motivando Filemom na prática do amor cristão e a reanimar o coração de Paulo.
O evangelho aponta para as dificuldades do discipulado e para
a necessidade de calcular o seu custo.
2. Contexto: Jesus já havia manifesto a "intrépida resolução de
ir para Jerusalém" (9.51) e cumprir o plano de Deus para a
salvação da humanidade. Como parte deste plano, estava a preparação dos discípulos para a continuidade da obra do reino, o
que Jesus fez pondo à prova os que querem segui-lo (9.57-62),
enviando os setenta (10.1-20), incitando à oração (11.1-13),
orientando por parábolas (14.1-14,15-24) e ressaltando a abnegação necessária para o discipulado (14.25-33).
66
IGR/EJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
3. Texto:
V. 25: é provável que muitos da multidão que acompanhava Jesus estivessem pensando em tornarem-se seus discípulos.
Por isso, Jesus lhes mostra o que envolve o discipulado.
V. 26: Jesus não ensina aqui o ódio à família, pois miseo
— "aborrecer" (ARA) ou "odiar" (BJ) tem o sentido de "amar
menos" (Mt 10.37). Se houver necessidade de uma decisão, devemos escolher a ele, Cristo. Não devemos permitir que tais
desculpas interfiram em nosso discipulado. Ser discípulo é seguir o chamado feito por Jesus à fé e ao serviço, é ser cristão.
Vv. 27,33: a "cruz" é aquele tipo de problema que enfrentamos pelo fato de sermos cristãos. A cruz e o cristianismo andam juntos, e isto Jesus repetidas vezes mostrou aos discípulos.
Cruz e discipulado não podem ser desvinculados. O Mestre abandonou sua glória e humilhou-se até à morte de cruz (Fp 2.7,8),
e a cruz do discipulado não é diferente, pois o discípulo "renuncia a tudo quanto tem" (v. 33), "a si mesmo se nega" (Lc 9.23)
"'toma a sua cruz e segue a Cristo" (Mt 10.38; 16.24; Mc 8.34).
O discipulado é entrega total, abnegação real, confiança irrestrita no Senhor e desapego aos bens e valores deste mundo. O
discípulo considera sua cruz como parte da glória do discipulado (1 Pe 2.1825; 3.13-18), e alegra-se por ser co-participante
dos sofrimentos de Cristo (1 Pe 4.12-19).
Vv. 28-32: Jesus ilustra o "custo do discipulado" com duas
histórias (o construtor da torre e o rei previdente), mostrando a
necessidade de avaliarmos e compreendermos o que o discipulado envolve.
4. Pensamento central: Jesus deseja que construamos a torre
chamada cristianismo' e que vençamos o inimigo chamado Satanás. Temos certeza deste fato, pois Jesus viveu, morreu e ressuscitou para que pudéssemos ser seus discípulos. Mas Jesus
deixa claro que ser discípulo é mais do que ser membro da
igreja, pois cristianismo é vida sob influência total de Deus, que
espera tudo de nós — "todo aquele que dentre vós não renuncia
a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo" (v. 33).
5.
Persuasão:
a)
Objetivo: pelo discipulado, Deus deseja que sejamos
inteiramente dele, que doemos tudo de nós a ele e vivamos como
discípulos.
b) Moléstia: não podemos construir esta torre chamada
cristianismo nem vencer o inimigo por nós próprios, e menos
ainda nos doarmos inteiramente ao Senhor, vivendo como seus
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
67
discípulos.
Somos impotentes por causa de nossa separação de
Deus, de nosso pecado, de nosso errar o alvo divino.
c) Meio: Deus nos deu seu Pilho para que pudéssemos
ser pecadores perdoados e viver como seus discípulos. Este discipulado é um processo iniciado pela fé no Salvador que se estende por toda a vida, e que é possibilitado pela ação poderosa
de Deus nos meios da graça.
6. Disposição:
DISCIPULADO — UM PROCESSO DE VIDA
I. Jesus nos chama ao discipulado
A.
B.
C.
II.
Muitos queriam seguir como discípulos
O pecado impede o discipulado
Cristo destruiu o pecado c chama os homens ao discipulado.
Jesus nos ensina a calcular o custo do discipulado
A.
B.
C.
Discipulado é processo continuo e permanente
Discipulado envolve a totalidade da vida.
Discipulado é luta contra o inimigo para a edificação
do reino.
Jesus nos mostra o caminho do discipulado
A.
B.
C.
Confiança irrestrita em Cristo.
Entrega total a Cristo
Abnegação real sob a cruz diária.
Rony Ricardo Marquardt
São Leopoldo, RS.
DÉCIMO SÉTIMO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
4 de Outubro de 1992
Lucas 15.1-10
Texto:
1. O texto divide-se em três partes: a introdução, vv. 1 e 2, que
nos apresenta o motivo pelo qual Jesus contou as parábolas se58
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
guintes e quem eram os seus destinatários; a parábola da ovelha
perdida (ou da ovelha achada!), vv. 3 a 7 e a parábola da dracma
perdida (ou achada!), vv. 8 a 10.
2. As parábolas são gêmeas, isto é, trazem o mesmo assunto,
querem fazer a mesma colocação, querem evocar a mesma resposta por parte dos ouvintes.
3. Prosdéchctai (v. 2), pres. médio de prosdèchomai, de uni modo geral significa pegar, receber, aceitar, dar as boas-vindas. Em
se tratando de pessoas, entretanto, tem um sentido muito mais
forte, ligado à hospitalidade oriental: compartilhar, recepcionar,
receber na comunhão. Na atitude de Jesus, evoca não somente
as leis comunitárias e sociais, mas especialmente a manifestação
visível do amor de Deus para com o ser humano pecador.
4. Synesthiei (v. 2), pres. ativo de synesthio, é o comer junto, o
comer com alguém. Para os orientais, a fraternidade à mesa
simboliza a fraternidade de um modo geral. Veja-se os exemplos da Santa Ceia e da Grande Ceia (Lc 14.15ss).
5. apololós (v. 4), part. Perfeito de apóllymi, vindo desde a
cultura grega clássica e do AT, tem um sentido muito mais profundo do que o simples "perdida". Acrescente-se a isso a idéia
de ruína, destruição, morte. Evoca a triste condição existencial
daquele que vive afastado de Deus (Ef 2.1-10). Aproveitando-se
a figura, pode-se lembrar que, sem a proteção do pastor, a ovelha estaria praticamente condenada à morte diante dos perigos
que o éremos palestino comportava.
6. Três conceitos fundamentais são subjacentes a estas duas
parábolas: Deus; pecado; arrependimento. Deus, conforme revelado em Jesus Cristo, é o personagem principal, estando representado na forma do homem das ovelhas e da mulher das
dracmas. E ele quem age, quem se importa, busca, salva (resgata), encontra, traz de volta, se alegra; enfim, aquele que ama.
Não há como voltar, não há como ser achado se Deus não agir.
O pecado é a perda, aquilo que afasta o ser humano do Criador;
a ovelha do homem; a dracma da mulher (o filho do pai, na
parábola seguinte, Lc 15.11-32). Fazendo a conexão com os versículos 1 e 2, vemos que Jesus não sanciona as práticas pecaminosas, como poderia parecer ao leitor desavisado, pelo contrário,
mostra que elas afastam de Deus. O arrependimento é a chave
de todo o discurso de Jesus! Aparecem nitidamente dois grupos:
os que pecam e não se arrependem, os "justos" e os que pecam
e se arrependem, os "achados" (na figura da ovelha e da dracma).
E o arrependimento que poderá diferenciar publicanos e pecaIGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
69
dores de fariseus e escribas. Este é exatamente o motivo pelo
qual Jesus está entre os "pecadores": para colocá-los diante do
divino que desmascara o pecado humano, que coloca o ser humano a par de sua existência infame, mas que, em contrapartida,
oferece a graça perdoadora, a volta. Era o arrependimento que
Jesus queria evocar nas "pessoas de má fama" (BLH). Isto faltava aos fariseus e escribas. Esta é a chave homilética do texto
e o tema geral do culto, associado, necessariamente, à graça de
Deus, que vai ao encontro do pecador, que evoca o arrependimento, e que acolhe o arrependido.
7. O versículo 7 seria algo problemático se o interpretássemos
literalmente, pois iria parecer que Jesus gosta menos daquelas
pessoas que se mantêm fiéis, que tentam, com o auxílio do Espírito Santo, viver uma vida consagrada, de acordo com, a vontade de Deus. A luz do Salmo 143.2, parece ser mais prudente
ver que Jesus está usando de ironia para com os fariseus e escribas (as duas parábolas são originalmente dirigidas a eles!) por
causa da pretensa justiça deles. Em última análise, Jesus está
dizendo que aqueles que se consideram "justos" por si mesmos
na realidade estão dizendo que não precisam de Deus e estão
talvez mais afastados dele do que os publicamos e pecadores.
8. O Salmo 51.1-17 introduz o tema do arrependimento, aquilo
que falta aos fariseus e escribas no contexto das parábolas. Pode
bem ser usado como texto para a confissão dos pecados no início
do culto.
9. O texto do AT nos mostra o imenso contraste existente entre
o pecado humano e a infinita misericórdia de Deus. Um aspecto
interessante a ser observado é a atitude de Moisés. Este diferentemente dos fariseus e escribas, os quais condenam de antemão aqueles a quem consideram "pecadores"; roga pela misericórdia de Deus em favor daqueles que estão em práticas pecaminosas. E o reflexo, ao nível humano, da atitude de Jesus de
ir em busca dos pecadores.
10. Em conexão com Lc 19.10, o texto da epístola, 1 Tm 1.12-17,
vem explicitar aquilo que está implícito no texto das parábolas
de Lc 15, isto é, que Jesus está entre os pecadores exatamente
porque ele veio chamá-los ao arrependimento, à fé e à nova vida.
Apresentação:
1. Sugere-se a leitura do Evangelho na Bíblia na Linguagem, de
Hoje, que traz um português mais acessível e expressões mais
70
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
próximas do nosso quotidiano. A ironia de Jesus no v. 7 também
fica mais clara nesta tradução.
2. Todas as leituras estão bastante próximas, sendo interessante, talvez, usar todas elas em uma mensagem diferente, mais em
estilo de estudo bíblico.
3. Dentro do contexto do lema da IELB, "Cristo para todos", o
texto tem muito a nos dizer. No aspecto de lei, a condenação
de nossa auto-justiça, de nosso juízo temerário e precipitado sobre os outros, de nossa indiferença para com os perdidos. No
aspecto de evangelho, o texto evoca a ação de Deus em buscar
e salvar; o seu amor pelo ser humano, seja ele quem for; a identidade de Jesus com o ser humano que sofre por causa do pecado; a graça de Deus que vem ao encontro de todos nós.
Gilberto V. da Silva
São Leopoldo, RS.
DÉCIMO OITAVO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
11 de Outubro de 1992
Lucas 16.1-13
1. Leituras do dia: SI 119.33-40; Am 8.4-7; 1 Tm 2.1-8; Lc
16.1-13, A ênfase das leituras deste domingo gira ao redor da
obediência ou desobediência da Lei de Deus, aplicados à administração dos bens terrenos: a obediência é sinal de sabedoria e
resulta numa boa administração dos bens; por outro lado, a desobediência é atitude tola e iníqua, que será condenada ao Juízo
Final.
2.
Contexto:
2.1. Contexto literário: A parábola do administrador infiel é precedida pela parábola do filho pródigo (15.11-32). Ambas possuem elementos semelhantes: o contraste entre o Pai e o
filho e entre o Senhor e o administrador, o desperdício da herança e dos bens, a misericórdia do Pai e do Senhor-, o retorno do
filho e a solução sábia do administrador. Tais semelhanças demonstram uma continuidade no ensino de Cristo sobre a situação do homem que está fora do âmbito da vivência com Deus e
a necessidade do arrependimento e da fé na misericórdia divina.
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
71
Além disso, o advérbio "também" (16.1: kaí) indica uma conexão
com a parábola anterior.
Do mesmo modo, a história (ou parábola) que segue, ou
seja a história do rico e do Lázaro (Lc 16.19-31), é uma ótima
ilustração para os ensinamentos de Jesus acerca do uso dos bens
materiais (vv. 9-13). O rico não soube "fazer amigos das riquezas iníquas", isto é, não usou seus bens para o auxílio e bemestar do seu próximo, o que demonstrou que ele amava mais o
“deus Mamom" do que o Deus verdadeiro (v. 13) e lhe custou a
condenação eterna (pois o amor a Deus se concretiza no amor
ao próximo).
2.2. Contexto histórico-cultural: Conhecer o fundo cultural no qual está baseada esta parábola é indispensável para a
sua interpretação teológica. Devido ao fato de que esta parábola é uma das mais difíceis de se interpretar, os exegetas dão
diversas explicações. 0 contexto cultural mais provável para esta parábola é o de uma propriedade rural com um administrador
(oikonomos) que tinha autoridade para executar os negócios da
propriedade. Os devedores eram provavelmente arrendatários
que haviam concordado em pagar uma quantidade fixa de produtos pelo seu aluguel anual. O administrador sem dúvida estava recebendo dinheiro extra "por baixo do pano", mas essas
quantias não apareciam nas contas assinadas. Ele era um oficial
assalariado. O Senhor era um homem de nobre caráter, respeitado na comunidade, que se interessava suficientemente pela sua
riqueza, a ponto de despedir um administrador infiel (para maiores detalhes, conferir BAILEY, Kenneth, As parábolas de Lucas.
Editora Vida Nova, pág. 257ss).
3. O texto:
Vv. 1.2. Esta parábola é dirigida aos discípulos, mas provavelmente os fariseus também a ouviram, pois zombaram daquilo que Jesus disse (vers. 14). Além disso, o suborno praticado
pelo administrador da parábola era prática comum entre os fariseus, que haviam interpretado a Lei de Moisés conforme os seus
interesses (a Lei proibia a cobrança de juros sobre empréstimos
feitos entre judeus, cf. Ex 22.25, Lv 25.36, Dt 23.19-20). O termo
“administrador" (oikonomos), quando usado nas parábolas, possui sempre o sentido metafórico que está relacionado ao uso ou
administração de tudo o que Deus concede ao homem (vida, corpo, tempo, bens, etc). A raiz desse termo é oikos (casa). O
povo de Deus é sua casa, cuja administração foi confiada aos
cristãos, que são meros mordomos dos dons que lhes foram dados por Deus e que devem prestar contas da sua mordomia (Lc
16.2, 19.11; Mt 25.14 e segs.).
72
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
Vv. 3-7. O administrador esbanjador, avisado já da sua
demissão e devendo prestar contas ao seu Senhor, tem um plano
e o coloca rapidamente em ação: ele chama os arrendatários e
retira a parte de juros a mais que seria o seu beneficio. Dessa
forma, sabiamente ele faz com que os arrendatários, que ele
explorava, o vejam como um homem bom e generoso.
V. 8. Não podendo mais voltar atrás e desfazer o que o
administrador havia feito, o Senhor apenas pode elogiá-lo. É
aqui. Que está a "crux interpretorum", que causa más interpretações da parábola de Jesus, Mas entendida corretamente, vemos
que o Senhor elogia a forma sábia do procedimento do administrador, que soube reverter a situação para o seu favor, mas não
elogia a sua desonestidade. O advérbio "sabiamente" (phronimos) tem, suas raízes no Antigo Testamento, de forma especial,
na Literatura Sapiencial, onde o significado que prevalece é o
de. "Discernimento". Nos evangelhos, o termo se confina a parábolas ou à linguagem figurada e se refere ao comportamento sábio e judicioso que deve caracterizar aqueles que estão no Reino
de Deus (cf. Mt 7.21, 25. ss, 24.45ss). A sabedoria que se propõe
aos discípulos, como aquela que se harmoniza com o Reino de
Deus, não é mero bom senso humano, mas está ligada com o
conceito veterotestamentário de sabedoria: o sábio é aquele que
faz a vontade do Senhor (Mt 7.24). Por isso, a sabedoria do
crente se acha na sua obediência.
Vv. 9-13: Esta seção que segue à parábola é uma exortação quanto ao uso correto das posses e riquezas deste mundo, o
que faz parte da boa administração do mordomo de Deus. Especificamente, o mordomo deve usar suas posses para o bem
do próximo (vers. 9) e de forma piedosa, ao contrário do que
fazem, os "filhos do mundo". Esses "amigos" do vers. 9 talvez
se refiram, àquelas pessoas que receberam benefício do emprego
piedoso das riquezas. O jogo de palavras do vers. 11 contrasta
o valor relativamente mínimo das coisas materiais com as riquezas verdadeiras que existem num plano superior e pessoal. 0
discípulo deve provar sua mordomia fiel das posses que são de
"outro" (o que temos neste mundo não é nosso, cf. as parábolas
das minas, Lc 19, e dos talentos, Mt 25), para então receber as
que são dele próprio. O discípulo não pode ser servo de "mamom", que personifica o domínio que as riquezas podem exercer
sobre o homem pecador ao ponto de ele amar mais o dinheiro
do que a Deus (Mt 6.24).
4.
Sugestão homilética:
Idéia Central: A parábola do administrador infiel é mais
uma que Jesus usa para alertar os seus discípulos sobre a admi1GREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
73
nistração sábia dos dons concedidos e confiados por Deus. Ela
possui um caráter escatológico, pois se refere à "cobrança de
contas". Em conexão com, as demais leituras e levando em conta o domingo do ano eclesiástico, a idéia central para a mensagem é esta: o cristão deve administrar sabiamente os bens que
lhe foram confiados neste mundo, em obediência à vontade de
Deus (e não do "deus mamom") e para o engrandecimento e
propagação do Reino de Deus, enquanto o Juízo Final não chega.
Assim interpretada e aplicada, a parábola pode oferecer subsídios para o lema da IELB: "Cristo para todos, Respondendo ao
amor de Deus".
Objetivo, moléstia e meio: o objetivo pode ser o de alertar
e motivar para uma sábia e cristã administração (mordomia)
dos bens; a moléstia é o perigo sempre constante do amor ao
“deus Mamom"; e o meio para se atingir o objetivo é o evangelho salvífico que transforma o coração humano e o faz viver
de acordo com a vontade de Deus.
Disposição:
Tema: Sejamos bons administradores dos dons de Deus
I. Agindo com; sabedoria neste mundo (tratar os aspectos básicos sobre mordomia: o que é, porquê, como,
etc).
II.
Não nos apegando aos bens deste mundo mostrar
que para que haja verdadeira mordomia é necessário
que Deus seja o Senhor em nossos corações pela fé
em Cristo, ou seja, a motivação e o alvo final: propagação do Reino de Deus, "Cristo para todos".
João Carlos Schmidt
São Leopoldo, RS.
DÉCIMO NONO DOMINGO APÔS PENTECOSTES
18 de Outubro de 1992
Lucas 16.19-31
O TEMA DO DIA gira em torno da orientação de Deus
quanto à correta atitude das pessoas diante dos bens terrenos.
74
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
Salmo 146 — Destaca o interesse de Deus pelo desamparado e necessitado. Provém da época de Ageu, Zacarias e Neemias,
e exorta ao louvor, à não confiança em príncipes, mas no Senhor,
cujo Reino não finda.
Amos 6.1-7 — Amós fulmina, em nome do Senhor, um
“ai” sobre os que vivem regaladamente, mas não se importam
"com a ruína de José". O texto denuncia uma complacência que
permite abusos, que vive do agrado de si mesmo, do deleite pessoal e da alienação dos problemas de outras pessoas. Esta atitude não é própria de uma época ou classe de pessoas específicas,
mas aparece em todos os períodos da história e em todos os
níveis da sociedade.
Timóteo 6.6-16 — Num primeiro momento (vv. 6-10), temse uma ligação estreita com a leitura do AT, Am 6.1-7. Percebese a diferença entre a complacência descrita em Amos e o contentamento que decorre da piedade — descrito como "grande
fonte de lucro". Nos vv. 11-16 ocorre uma orientação muito clara
e objetiva para que Timóteo — e por extensão cada cristão —
permaneça vigilante para não ser arrastado para a mesma atitude, e sim, permanecer fiel "até à manifestação de nosso Senhor
Jesus Cristo".
Lucas 16.19-31 — O contexto
Havia uma nítida diferença entre Jesus e os líderes religiosos de seu tempo. Jesus tinha toda a preocupação pelo bem
neste mundo e eterno das pessoas; ao mesmo tempo abria mão
das riquezas deste mundo e orientava a todos a não se apegarem
a elas. Os líderes religiosos tinham toda a preocupação com as
riquezas desta vida e esforçavam-se para aponderar-se delas e
mantê-las; já pelo bem das pessoas pouco faziam.
Jesus, depois de orientar seus discípulos com a parábola
do administrador infiel, passa a dirigir suas palavras aos fariseus,
condenando-lhes os pecados da avareza e na área matrimonial.
Prossegue, então, com a parábola do rico e Lázaro, fazendo nela uma confrontação com a do administrador infiel.
O Texto
V. 19 — O homem rico habitualmente se vestia bem: roupa exterior tingida de púrpura, e roupa interior de fibras de
linho. Sua vida era uma festa permanente, livre de dificuldades
e trabalho enfadonho. É à boa vida que as pessoas ricas normalmente dedicam seus recursos, tratando de alimentar e apresentar-se bem. Nisto encontram, sentido para sua existência. Jesus,
porém, coloca o sentido no relacionamento com as pessoas.
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
75
Vv. 20-21 — Lázaro é o único nome próprio que Jesus emprega numa parábola. Lázaro, um mendigo doente, cheio de feridas, é depositado e permanece junto à porta do rico. Lázaro
desejava obter as sobras da casa do rico. Ali estava a oportunidade criada por Deus para o rico exercitar-se no amor ao próximo. Isto, porém, passa-lhe despercebido — atitude talvez
pior do que a do sacerdote e do Levita que ignoraram o assaltado
em necessidade. Os cachorros vieram a Lázaro, o rico não.
V. 22 — Lázaro, tendo morrido, recebe o lugar de honra
junto a Abraão, entra na glória eterna; quanto ao rico, recebe
de seu dinheiro o último bem possível: um sepultamento.
Vv. 23-24 — No mundo dos mortos o sofrimento do rico é
descrito como de sede em vista de calor de fogo. Percebendo
ele a Lázaro, acolhido por Abraão, é a vez do rico implorar por
uma "migalha de ajuda", a. ponta de um dedo molhado em água.
V. 25 — Pelo senso de justiça comum, o rico precisava
conformar-se. Com, a situação, pois ele tivera situação conveniente antes, e Lázaro agora; Lázaro sofrerá antes, e ele agora. A
linha de advertência de Jesus, contudo, não é no sentido daquilo
que as pessoas têm, mas do que fazem com isto em relação às
outras pessoas.
V. 26 — Jesus não coloca os dois lugares em termos de
altitude entre si, e sim, nivelados; há, porém, entre eles "um
grande abismo", o qual impossibilita qualquer alteração dos fatos.
Vv. 27-29 — Jesus deixa claro que a Escritura é suficiente
e está suficientemente clara para possibilitar a qualquer pessoa
a orientação suficiente para escapar da condenação eterna.
Vv. 30 e 31 — Diante do chamado ao arrependimento, o
ser humano procura mais e mais alternativas para adiar e/ou
evitar sua aceitação. Jesus reafirma que a resistência à Escritura é demonstração suficiente de que também haveria, caso fosse
acontecer, resistência a quem do mundo dos mortos viesse para
advertir. Teria Jesus em mente sua própria situação, visto que
após a sua ressurreição igualmente não foi levado a sério pelos
seus inimigos?
SUGESTÃO DE TEMA E PARTES
O CORRETO USO DAS RIQUEZAS MATERIAIS
1. A atitude negativa do homem rico.
2. A recomendação bíblica: usá-las a serviço das pessoas
— para o bem terreno
— para o bem eterno.
Nelson Lautert
São Leopoldo, RS.
76
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
VIGÉSIMO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
25 de Outubro de 1992
Lucas 17.1-10
a) Leituras do dia: O Salmo do Intróito, Salmo 62, estimula à
confiança em Deus: "Somente em Deus, ó minha alma, espera"
(vv. 1, 5); "de Deus depende a minha salvação" (v. 7); "confiai
nele, ó povo, em todo tempo" (v. 8). A leitura do Antigo Testamento, Habacuque 1.1-3; 2.1-4, confirma isto ao dizer: "o justo
viverá pela sua fé" (2.4). No Evangelho, Lucas 17.1-10, os apóstolos pediram ao Senhor: "Aumenta-nos a fé" (v. 5). Na Epístola, II Timóteo 1.3-14, Paulo confessa a sua fé, sua confiança
em Deus, em Jesus: "sei em quem tenho crido, e estou certo de
que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia"
(v. 12). Assim, o assunto central das leituras deste domingo é
a FÉ, a confiança em Deus, realçado pelo pedido específico dos
apóstolos: AUMENTA-NOS A FÉ.
b) Contexto: Jesus estava em plena atividade de sua pregação
pela Galiléia e Samaria antes de dirigir-se para Jerusalém (Lc
17.11). Acentuou a necessidade de os discípulos serem fiéis a
Deus: "Não podeis servir a Deus e às riquezas" (Lc 16.13). A
fidelidade a Deus manifesta-se pela fidelidade que se tem à sua
palavra (Lc 16.29-31). A fidelidade a Deus salva-nos; ou como
lemos em Hc 2.4: "o justo viverá pela sua fé". Esta fé é pedida
pelos discípulos e é ressaltada por Jesus (Lc 17.5,6). Esta fé
salva (Lc 17.19).
c) Texto: Vers. 1-4: Jesus admite: "é inevitável que venham
escândalos" (v. 1). O que é um escândalo? Escândalo é uma
ofensa, algo que leva alguém a pecar, ofendendo a Deus. A palavra de Jesus é especialmente drástica e severa contra quem, faz
tropeçar “a um destes pequeninos (tôn mikrôn toúlôn héna)”.
Quantos não afastam crianças de Jesus, ensinando-lhes bobagens
e violências ou deixando de levá-las a Jesus, pelo batismo e pela
palavra.
É inevitável virem escândalos, porque o pecado está no
mundo; "o mundo inteiro jaz no maligno" (1 Jo 5.19). Pessoas
malvadas sempre colocarão tropeços especialmente para crentes
inexperientes. Por isso Jesus fala com veemência contra esses
escandalizadores.
Por outro lado, aconselha Jesus cautela, quando se trata
de irmãos na fé: "Se teu irmão pecar, repreende-o; se ele se
arrepender, perdoa-lhe" (v. 3). Sempre que ele peca, mas se
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
77
arrepende, perdoa-lhe (v. 4). Vers. 5, 6: Isto explicado, — de
como se deve viver ou conviver com os irmãos na fé no dia-a-dia
— os apóstolos só têm uma coisa a pedir ao Senhor Jesus: AUMENTA-NOS A FÉ (v. 5). Só com muita e grande fé, fidelidade
a Jesus eles conseguiriam conviver com os outros crentes. Foi
uma boa oração. Cfe. Lc 11.1.
Jesus então responde com palavras que são difíceis de entender e de explicar, pois a construção da frase é incomum, porque tem três tipos de condições: 1) ei échete pístin = se tendes
fé (prótase de realidade; próíase é a primeira parte dum período
gramatical); 2) elégeíe àn (apódose de irrealidade presente, imperfeito com àn; apódose é a última parte dum período gramatical); 3) hipékousen àn (uma segunda apódose, agora de irrealidade passada, aoristo com àn). É uma frase gramatical e exegeticamente difícil. O que Jesus realmente quis dizer com ela?
Que eles tivessem, uma fé carismática, de fazer milagres, ou que
eles não usavam o grande poder da fé normal a serviço do reino
de Deus? Uma amorcira pode ser plantada no mar? Há, pois,
sentido metafórico nestas palavras de Jesus.
Lenski entende, que, pela palavra dos apóstolos, o reino
de Deus seria transplantado, raiz e galhos, de Israel para dentro
do mundo gentílico, de congregação cm congregação, para dentro
dum território no qual nenhum homem poderia ter pensado que
ele pudesse crescer e florir. Nenhuma fé carismática seria necessária para isso, pois o evangelho não foi espalhado pelo mundo por algo que não fosse à fé normal dos crentes (Lenski, volume de Lucas, p. 867-869).
Vv. 7-10: Como sempre, também aqui Jesus vê todos os
lados duma questão. Os apóstolos estão humildes e sentem quão
pequena é a fé deles em vista do que Jesus falou nos versículos
1-4. Ela deve continuar humilde, quando, agora, ela vai para
dentro do mundo e ali realiza milagres. Este é o ponto-chave
da parábola.
Nenhum discípulo de Jesus deve querer engrandecer-se e
achar-se maior que o seu Senhor. Nem entre os homens tal acontece, mas servo é servo e patrão é patrão. No reino de Deus esta
regra é imutável: "o servo não é maior do que seu senhor" (Jo
13.16). Deus é o Senhor que deu e dá ordens. Fazer tudo o que
nos foi ordenado é apenas cumprir o dever. Logo, a fé precisa
ser grande e forte, para manter-nos humildes diante de Deus e
para tornar-nos muito ativos, incansáveis, no reino de Deus.
Temos, portanto, todos os motivos para dizer à nossa alma:
"Somente em, Deus, ó minha alma, espera silenciosa", porque "de
Deus depende a minha salvação" e, por isso, pedir sempre como
e com os apóstolos: Aumenta-nos a fé".
78
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
d)
Tema e partes: AUMENTA-NOS A FÉ
I — Para manter-nos humildes diante de Deus e salvos e
II — Para tornar-nos muito ativos no reino de Deus.
Curl Albrecht
Novo Hamburgo, RS.
FESTA DA REFORMA
31 de Outubro de 1992
João 8.31-36
SI 46 — Deus é refúgio e fortaleza. Ajuda (socorro) para os que
tem problemas/angústias. Deus está com seu povo; com seus
filhos. Deus é o que dirige a história humana. Ele está acima
de todos os acontecimentos. As nações esperneiam e se agitam
(v. 6) mas Deus tem, as "rédeas" de toda a história humana nas
suas mãos! Ele é o SENHOR de toda a terra. Isto traz conforto,
consolo e segurança para nós.
Jr 31.31-34 — O profeta, como mensageiro de Deus, anuncia restauração ao povo de Israel. Deus firmará nova aliança! Uma
aliança melhor e mais eficaz do que aquela firmada com os antepassados, a qual foi descumprida/anulada pelo povo. A essência da aliança consiste em que o povo conhecerá o Senhor; crera
e, por conseqüência, atenderá a sua voz — e receberá o perdão.
Rm 3.19-28 — Este texto trata do grande "cavalo de batalha" da
igreja luterana: a justificação do pecador, que resulta da fidelidade de Deus às suas próprias promessas, e que o ser humano
recebe gratuitamente por meio da fé em Jesus Cristo. 'Cristo é a
própria salvação, e este Cristo é recebido pelo pecador por meio
da fé, independente de qualquer obra ou realização pessoal.
Jo 8.31-36 — Este texto diz que Cristo traz a verdade (realmente
ele é a verdade) que liberta do pecado. Este Cristo libertador é
recebido pela fé! Portanto é importante crer! Crer em Cristo!
Crer em Jesus Cristo é a maneira de receber a justiça de Deus
da qual o apóstolo fala em Rm 3.
O assunto que percorre os 4 textos é o de "crer (permanecer, pela fé) em Jesus Cristo".
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
79
O TEXTO ( Jo 8.31-36) NO CONTEXTO
Para se estabelecer a época e as circunstâncias do acontecido, temos que iniciar no capítulo 7. Trata-se da parte do evangelho que é denominada por alguns autores de "o ministério de
Jesus em Jerusalém", e que abrange 7.1 até 10.39.
No início do capítulo 7 estão as explicações a este respeito.
Estava em andamento a "festa dos tabernáculos", para a qual
Jesus "subiu em oculto", depois dos discípulos (7.8-10), para não
chamar a atenção e não causar alvoroço.
Uma vez estando em Jerusalém, contudo, foi ao templo
para ensinar. Ensinar era a grande maior tarefa de Jesus; era
sua ocupação principal. Ensinar as verdades celestiais! Ensinar
a correta compreensão das coisas de Deus! "Os judeus se maravilhavam" (7.15). E Jesus testificava: "o meu ensino não é meu,
mas daquele que me enviou" (7.16).
O trecho do nosso Evangelho é parte de um destes discursos de ensinamento de Jesus. Segundo se verifica em 7.37 já
tinha chegado o "último dia, o grande dia da festa", isto é, o dia
em que a festa chegava ao seu auge. Novamente Jesus vai ao
Templo; novamente os guardas tentam prendê-lo, mas não conseguem. Novamente há o conflito com os líderes, os principais
judeus, que eram os "manda-chuvas" religiosos.
Nesta altura dos acontecimentos estes judeus incrédulos
mais uma vez questionam Jesus: "quem és tu?" Seu coração
estava endurecido. Não aceitavam Jesus. Fechavam o seu entendimento para os ensinamentos de Cristo, pois estavam cheios de
inveja, orgulho e falsidade.
Jesus sabe o que vai pelo coração daquelas pessoas. E fala
sobre o assunto, sabendo, no entanto, que entre seus ouvintes
havia também os que já criam nele. Suas palavras, portanto,
dirigem-se primeiramente aos crentes, servindo-lhes de estímulo
e incentivo. Servem, contudo, também, ao mesmo tempo de
alerta aos descrentes.
"Se vós permanecerdes na minha palavra sois verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade e a verdade vos
libertará" (8.31 e 32). São claramente palavras de sentido espiritual. Conhecer a verdade traz a libertação espiritual; a libertação que lira do domínio do pecado, conforme Jesus também
esclarece no v. 34.
Os judeus se auto-justificavam. Achavam-se donos da verdade; consideravam-se "campeões da fé"; achavam que eram
possuidores e depositários da completa proteção, ajuda e socorro
de Deus. Isto porque assim tinha sido no passado... Também
80
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
porque eram "filhos de Israel", "descendentes de Abraão", e tinham, Jerusalém por capital.
Mas por dentro estavam vazios das coisas de Deus. Estavam longe do Senhor. Tanto por arrogância, como por ignorância. Duas palavras que, aliás, descrevem muito bem a característica da humanidade: ignorância e arrogância. Reflitamos sobre a história humana: que sobejas provas e demonstração não
temos do tanto que o ser humano ignora sobre Deus e sobre o
amor divino. Da mesma forma: quão clara não é sua arrogância ao repelir Deus de seu lado e desejar ser soberano de sua
própria vida.
Estas duas palavras, "ignorância" e "arrogância" também
descrevem bem o mundo e a época de Lutero. Tanto o povo comum como o clero viviam em, grande ignorância das coisas do
Deus e, até por conseqüência, tornava-se arrogante e orgulhoso
(especialmente o alto clero).
Os textos de hoje nos oportunizam uma reflexão sobre a
fé em Cristo, o qual verdadeiramente nos liberta dos pecados, e
sobre o "ficar firmes" nesta fé, pela qual tantos já lutaram e até
deram a vida.
Sugestão de Tema:
Permaneçamos em Cristo
1.
2.
3.
4.
Ele nos oferece a proteção de Deus (alusão ao Salmo).
Ele restaura nosso relacionamento com Deus (alusão ao AT).
Ele é a nossa justiça diante de Deus (alusão à epístola).
Ele é o caminho da verdade. — e a própria verdade! (alusão
ao evangelho).
Ou:
"Permaneçamos em Cristo"
1. Sendo seus verdadeiros discípulos (o contrário do que eram
os judeus que o questionaram).
2. Conhecendo a verdade (o grande mal da humanidade é a
ignorância espiritual).
3. Vivendo a verdadeira liberdade que ele nos oferece (que se
mostra no serviço em resposta ao amor de Deus).
Irwo A. Hübner
Imbituva, PR.
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
81
VIGÉSIMO PRIMEIRO DOMINGO APÔS
PENTECOSTES
1 de Novembro de 1992
Lucas 17.11-19
O Contexto: Jesus escolheu a divisa entre Samaria e Galiléia em
direção do rio Jordão e logo seguiu o curso deste até Jerico.
Lucas não informa o porquê desta atitude e nem discute o assunto. Certamente esta decisão não foi tomada por acaso.
Lucas é o único que narra este acontecimento, depois de
escrever sobre a parábola do "Rico e do Lázaro", os "tropeços”
e os ensinamentos de Jesus sobre "quantas vezes se deve perdoar
a um irmão". Conforme Lucas, o último grande pedido dos discípulos, antes de presenciar a cura dos leprosos, foi; "Senhor,
aumenta-nos a fé".
a) A lepra; Esta devora o homem aos poucos e mata o ,
homem apenas depois de o fazer passar por longos anos de sofrimentos.
A lepra trazia consigo um estigma quase pior ainda que
as dores físicas: desprezo e horror de todos, e pela Lei de Moisés
(cap. 13 e 14 de Lev. e Dt. 24.8), o leproso tinha de viver completamente isolado da sociedade (cavernas e lugares desertos).
Ao ver alguém, de longe tinha que gritar: "Afastai-vos, aqui vem
os leprosos".
b) Os dez leprosos: Os samaritanos e judeus viviam em
constantes atritos. Não conviviam. Os judeus desprezavam os
samaritanos ao ponto de afirmar que se algum judeu comesse da
comida dos samaritanos, estaria comendo comida de porcos. Debaixo da desgraça da lepra, porém, precisavam conviver.
O texto:
"Ficaram de longe e lhe gritaram" (v. 13): Jesus operou
este milagre em, sua última viagem para Jerusalém. A fama de
Jesus levou muitas pessoas a acompanhá-lo em, suas viagens. Os
leprosos ficaram de longe também, por causa da multidão.
Gritaram para serem ouvidos. Mas, também gritaram porque suas vozes já estavam fracas por causa da doença.
"Jesus, Mestre, compadece-te de nós": Em seu pedido não
fazem exigência nenhuma de Jesus, nem tão pouco acham que
eles fizeram algo para merecer a cura. Imploram, apenas por
misericórdia. O seu pedido foi correto.
82
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
"Ao vê-los, disse-lhes Jesus: Ide, e mostrai-vos ao sacerdotes. Aconteceu que, indo eles, foram purificados" (v. 14): Jesus
dá ouvidos à súplica dos dez leprosos e mostra o seu amor, mesmo durante uma viagem, que o levaria para a prisão, onde sofreria blasfêmias, açoites, escárneo e morte. O prêmio da confiança dos dez na promessa de Jesus, mesmo que implícita, de
que se eles fossem, seriam curados, foi a sua purificação.
"Um dos dez, vendo que fora curado, voltou, dando glória
a Deus em alta voz, e prostrou-se com o rosto em terra aos pés
de Jesus, agradecendo-lhe, e este era samaritano" (v. 16): Para
serem curados, os nove confiaram em Jesus, mas para voltar,
prostrar-se aos seus pés e reconhecê-lo também como o Salvador
de suas almas, isto era demais para eles. Pode ser que tenham
sido enganados pelos sacerdotes aos quais foram mostrar-se e
eram inimigos de Jesus, seja como for, eles não voltaram.
Mas, o samaritano não pode calar, ele tem de mostrar a
sua gratidão, dar glória a Deus, lançar-se aos pés de Jesus, agradecer-lhe e adorá-lo como Salvador. O samaritano faz confissão
pública de sua fé e por causa da fé, não só o seu corpo, também
sua alma é curada. Os nove tiveram só o seu corpo curado, mas
não a alma.
"Onde estão os nove"? (v. 17): A parábola do credor incompassivo ilustra esta verdade, Lc 7.41. Se alguém diz que
Deus lhe perdoou os pecados, mas recusa-se a perdoar uma ofensa a um irmão, assemelha-se a este credor incompassivo. Se alguém despreza a Cristo e sua Palavra, deixando-se levar pela
indiferença, fazendo pouco caso da Palavra de Deus; se alguém
procura servir a dois senhores, quer ser cristão e ao mesmo tempo acompanhar o mundo em seus prazeres, se alguém persiste
em viver num pecado apesar de saber que é pecado o que está
fazendo, este não se mostra agradecido a Deus, mas faz como os
nove leprosos que não voltaram que tiveram os corpos curados
mas não à alma.
Leituras do dia: O Salmo 111 destaca as grandes bênçãos
que o povo de Deus recebe continuamente e convida ao louvor
e gratidão permanente. O exemplo de Rute nos leva a considerar a solidariedade, o amor e a gratidão, frutos do amor de Deus
(Rt 1.1-19). Em 1 Tm 2.8 o apóstolo é claro quando expressa o
resultado da fé em relação ao próximo e a Deus: "Quero, portanto, que os varões orem em todo o lugar, levantando mãos
santas, sem ira e sem animosidade".
Disposição:
Introdução
a) O povo que mais privilégios recebeu de Deus foi o povo
de Israel. Deus guiou este povo; protegeu-o com sinais
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
83
e prodígios e lhe deu a terra de Canaã. De seu meio:
Deus fez surgir os profetas, revelou e confiou a sua Palavra. Até seu Filho Unigênito Deus fez nascer entre o
povo. Por causa da ingratidão o povo de Israel foi regeitado por Deus — Dt 32.15; Jr 13.24; Jr 18.14,15.
b) Nós temos a Palavra de Deus entre nós como Israel a
teve. Cuidemos para que não aconteça que a desprezemos e nos tornemos ingratos, forçando Deus. A tirar o
Evangelho salvador do nosso meio.
c) A primeira ênfase debaixo do grande lema da IELB
para dentro do ano 2.000 — Cristo para todos, é: "Respondendo ao amor de Deus". A história de nosso texto
nos ensina que:
LOUVAR E MOSTRAR SUA GRATIDÃO A DEUS É
CARACTERÍSTICA DOS CRISTÃOS
1 — Que motivos temos para isto?
2 — De que modo podemos fazê-lo?
a) A lepra não deixou esperança de cura para os dez. Assim
como a lepra conduzia à morte, o pecado leva o homem
à condenação eterna. O pecado é a doença espiritual de
que todos os homens são vítimas, pior que a lepra, pois
os leprosos a viam e sentiam, enquanto que os homens
muitas vezes não reconhecem o seu estado de perdição.
Os leprosos pediram misericórdia. Confiaram na purificação. Este foi o motivo que os leprosos tiveram para
agradecer a Deus. O amor de Deus em Jesus Cristo que
nos limpa de nossa doença espiritual é o motivo e o que
nos dá forças para nos mostrar-mos gratos a Deus.
b) Bênçãos terrenas: não nos curou da lepra, mas protegeu-nos dela; liberdade de consciência (em outros tempos os cristãos tinham que se refugiar para praticar a
fé); evangelho inalterado; guias espirituais fiéis; oportunidades de trabalho; direito de posse (apesar das injustiças sociais). Maior bênção: paz que temos com
Deus por intermédio de Jesus Cristo.
II
a) Deus não desculpa a ingratidão, Rm 1.20,21.
incompassivo, Lc 7.41-43.
84
O credor
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
b) O samaritano confessou publicamente a respeito de Jesus
e o adorou. Em sincero arrependimento e fé, também
não podemos calar. Nos cultos (Santa Ceia); com hinos
de louvor; em casa com a família; tomar parte ativa na
congregação; ofertar com liberalidade; testemunhar de
Cristo ao mundo (começando pelos mais próximos de
nós). Assim, "respondemos ao amor de Deus".
c) Louvar a Deus não é fazê-lo só com palavras, também
significa deixar o pecado e louvar a Deus com, a vida.
"Amai-vos uns aos outros como eu vos amei", Jo 13.34-35.
Conclusão: Somos os dez que Jesus curou. Somos filhos de Deus
e herdeiros da vida eterna. Ficamos com os nove? ou com o
samaritano?
Não nos impressionemos com "as maiorias". Na história
elas revelaram ingratidão, que é abominável. Se somos minoria,
consolemo-nos com o fato de que estamos no Senhor, temos paz
no coração e Deus poderá assim, realizar a sua obra capacitando-nos a responder ao seu amor. Amém,
Daltro B. Koutzmann
Porto Alegre, RS.
ANTEPENÚLTIMO DOMINGO DO ANO DA IGREJA
8 de Novembro de 1992
Lucas 17.20-30
Próprios do Dia
A temática geral deste domingo é a ênfase escatológica
cem, a urgência da missão dos cristãos enquanto Deus ainda concede o "kairós" da sua graça.
O Salmo 88 expressa a tribulação dos tempos do fim, mas
também a esperança baseada na fidelidade de Deus (v. 11). A
visão escatológica está na pergunta pela ressurreição (v. 10) e na
confiança no socorro de Deus (v. 13), o Deus da salvação (v. 1).
Ex. 32.15-20, com a história do bezerro de ouro, lembra a
despreocupação do povo com a aliança de Deus, como também
Jesus lembra o que aconteceu nos dias de Ló e de Noé, antes do
fim. Ml 4.1-2a fala do dia do acerto de contas que virá. O dia
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
85
do Senhor será terrível para os que se perdem, mas será um
grande consolo para os que se salvam.
2 Ts 3.1-5 fala da fidelidade de Deus e da necessidade da
oração nos dias maus do fim em que haverá muita desfé. A "palavra do Senhor" (v. 1) precisa ser levada ao mundo enquanto
há tempo. 2 Ts 3.6-13 mostra que neste tempo do fim nosso
trabalho precisa continuar sem preocupações (vv. 10-12), porque,
mesmo diante da certeza do dia final do Senhor, não devemos
cansar de "fazer o bem" (v. 13).
A leitura alternativa do evangelho em Lc 21.5-19 descreve
as dificuldades do tempo do fim, mas também a certeza da fidelidade de Deus (v. 18). A recomendação é continuar a viver com
perseverança (v. 19). Em Cristo não há temor. Esta mensagem
o mundo precisa ouvir.
Contexto
O relato a respeito da vinda do Reino faz parte do ministério das viagens de Jesus na Peréia e seus arredores antes dos
seus últimos dias em Jerusalém.
Lc 17.20 até 18.30 fala a respeito da presença e da vinda
do Reino. Fé e esperança são inseparáveis. Os discípulos haviam pedido "aumenta-nos a fé" (Lc 17.5). Agora o texto fala
da esperança. Os fariseus perguntam pela presença do Reino e
sua vinda futura (Lc 17.20-21). Jesus fala de "um dos dias do
Filho do homem" (17.22-37), que é uma outra maneira de falar
do Reino. Todos os relatos subseqüentes apontam para o Reino:
a oração pelo Reino (18.1-8), a humildade para entrar no Reino
(18.9-14), as crianças no Reino (18.15-17), a vida eterna no Reino
(18.18-30). Jesus é o mistério do Reino, que se ganha ou perde
por fé ou desfé. A glória ainda vem.
Texto
Há duas partes distintas. Lc 17.20-21 trata da pergunta dos
fariseus a respeito da vinda do Reino. Lc 17.22-37 fala da esperança dos discípulos o dia do Filho do homem.
V. 20 - A pergunta dos fariseus tinha ligação com; o fato
anterior. Jesus havia curado os 10 leprosos, como que realizando
uma ressurreição. Isto era claro sinal do muito aguardado
Reino. Lucas usa o termo "reino de Deus" mais de 30 vezes com
diferentes conotações: pode ser o eterno reinado de Deus, a presença do Reino na pessoa do Rei Jesus, a vinda da forma espiritual do Reino, e o futuro Reino escatológico. Mateus usa, a expressão "reino dos céus" 33 vezes e "reino de Deus" 4 vezes.
Sempre é o governo de Deus, presente e futuro. Marcos mostra
86
IGREJA LUTERANA/NUMERO 1/1992
que "céu" é equivalente a "Deus" (Mc 11.30). Jesus afasta toda à esperança de um reino glorioso "de visível aparência" agora, como esperavam os judeus que queriam a liberdade de Roma.
Dentro desse espírito ainda hoje os milenistas esperam por uma
manifestação visível antes do fim. A teologia da glória de grupos evangélicos insiste em, "construir" o Reino aqui e agora, eliminando a miséria humana e impondo a futura glória já agora
no mundo político e social. Mas a igreja cristã vive uma "teologia da cruz", como Lutero ressaltou, onde ainda é necessário esperar e até sofrer. O Reino ainda não aparece claramente, embora esteja presente em Cristo, na promessa, nas "marcas" da
igreja (Palavra e sacramentos). Não é possível passar do Reino
do poder para o Reino da glória, sem passar pelo Reino da graça
onde está a cruz.
V. 21 — O Reino está "entòs hymoon". A tradução tanto
pode ser "em vós" como "entre vós". "Em vós" falaria da espiritualidade do Reino: em que Cristo reina nos corações pela
fé. Nesse caso Jesus estaria falando só aos discípulos. Mas pode
ser "entre vós": neste caso o Reino já estaria presente, especialmente em Cristo, nos seus milagres e sinais. Os fariseus deveriam abrir os olhos e ver, sem esperar uma manifestação final
agora. Parece que o contexto favorece mais esta segunda opção,
como um argumento missionário que chamaria ao arrependimento e à fé. O Reino aparece em Cristo (Mc 11.9-10). Os sinais
já estão claros (Mc 4.26-27; Jo 3.3; Rm 14.17). É só aceitar o
Reino pela fé e assim viver o Reino "em nós" e por meio de nós.
Esta é a missão do Reino: "Venha o teu Reino".
V. 22 — Agora Jesus se dirige aos discípulos. Eles tambem ansiavam: pelo Reino da glória: queriam ver "um dos dias
do Filho do homem". Moisés já ansiava por ver o rosto de Deus
(Ex 33.18-23), mas Deus só se mostrou "pelas costas", depois que
havia passado. Moisés só veria a face de Deus se morresse. Os
discípulos só poderiam ver "um dos dias" de glória depois de
passar pela humildade do sofrimento e da cruz. Agora "não vereis". Agora este dia é só uma promessa.
V. 23 — Sempre haverá os que querem, "o dia" para já e
contam sinais especiais de sua invenção, como certos grupos dispensacionalistas e milenistas de hoje. Mas não virá quando homens o quiserem calcular.
V. 24 — Virá, sim, mas de surpresa. Por isso é necessário vigiar e estar preparado. Os discípulos devem também, preparar os outros, falando da missão de Cristo no mundo.
V. 25
tornou-se o
Esta seria a
to, a etapa da
— Os homens merecem a condenação. Mas Cristo
homem-Deus para carregar os pecados do mundo.
próxima etapa do "Filho do homem" neste momenpaixão que precisa ser anunciada a todos para
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
87
salvação, É uma missão ingrata, porque o Cristo será rejeitado
"por esta geração" e muitas outras depois dela. Isto ainda é
Reino da graça: o "kairós" da graça de Deus ainda não terminou, o tempo oportuno para arrependimento é agora.
V. 26 — A mensagem do amor de Deus é ignorada. Assim
já foi no tempo de Noé. O atual "dia do Filho do homem" é
também de uma rejeição geral.
V. 27 — Mas este "dia do Filho do homem" vai se revelar
como uma crise: Deus vai destruir os que o rejeitam, como ao
tempo de Noé.
V. 28 — Não é novidade, pois no tempo de Ló também
aconteceu. O mais terrível é a indiferença "desta geração". O
juízo virá.
V. 29 — A história de Ló o comprova. "Todos" foram destruídos, com exceção do pequeno grupo de Ló.
V. 30 — Aquele "um dia do Filho do homem" que virá
será semelhante. Só uns poucos serão salvos. Os outros "todos”
perecerão. A missão dos discípulos é fazer tudo para que estes
“todos" sejam menos, e que os salvos sejam mais.
Jesus ainda continua a enfatizar a necessidade de missão
mesmo em. casa, em família, onde "um será tomado" e "deixado
o outro". E uma séria advertência: "Lembrai-vos da mulher de
Ló!" (v. 32).
Esboço
Dentro do lema da igreja "Cristo, para todos", este texto
oferece uma boa oportunidade para falar da missão e de sua
urgência. O "dia do Filho do homem" pode estar aí como um
relâmpago. Os discípulos podem ajudar para que menos pessoas
sejam condenadas. Sempre será um "pequeno rebanho" (Lc
12.32), mas isto não autoriza a fazer um. "pequeno" trabalho de
missão. Jesus investiu tudo e nos convida a fazermos o mesmo.
A missão total do pequeno rebanho.
I. As pessoas precisam ser ensinadas a respeito do Reino.
88
A.
O Reino não vem com aparência exterior.
“construir" o Reino neste mundo.
Não se pode
B.
Mas o Reino está aí no meio do mundo. Cristo veio
para salvar o perdido. Ele quer reinar nos corações
pela fé (Palavra e Sacramento).
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
II.
Os discípulos precisam conhecer a missão de Cristo.
A.
B.
Haverá dias difíceis, até perseguição e grande confusão.
Haverá falsos mestres que enganam, negam a Deus e
seu Reino verdadeiro.
C.
Os discípulos precisam aprender a falar do Reino.
1. A necessidade do sofrimento de Cristo e sua ressurreição.
2. A realidade do mundo moderno que rejeita.
vem o "dia terrível" do Senhor.
Mas
3. A salvação final: o reino da glória virá.
Martim C. Warth
PENÚLTIMO DOMINGO DO ANO DA IGREJA
15 de Novembro de 1992
Lucas 19.11-27
I. ASPECTOS TEXTUAIS:
1. Texto
O v. 11 coloca o contexto da parábola: a última jornada
de Cristo a Jerusalém.
O v. 13 destaca o fato do homem nobre dar a todos os servos a mesma quantia. Deus dá a todos os mesmos recursos do
seu amor. Pode haver diferenças naturais entre as pessoas, mas
todas recebem o mesmo dom. Mina = cem denários --- o salário
de cem dias de trabalho.
Nos vv. 15-19 temos a prestação de contas dos servos fiéis,
que investiram no mundo os dons recebidos. O destaque está em
"a tua mina rendeu", e não em "eu fiz render".
Os vv. 20-23 apresentam o servo infiel, que escondeu o dom
no lenço e não o investiu nem, fez render. O servo mau é aquele
que vive por temor e não por amor. Vive sob a lei e será assim
julgado por ela.
O v. 26 mostra que o servo responsável receberá, como recompensa pela sua fidelidade, maior responsabilidade, e que o
servo inútil será privado de sua participação no reino.
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
89
O v. 27 destaca o juízo público e a condenação dos que
não aceitaram o governo do Rei (v. 14), tornando aparente a situação que já existia em seus corações — morte.
2. Crítica textual
0 códex Bezae acrescenta, ao final da perícope, o trecho
de Mt 25.29, mostrando que cedo esta parábola foi considerada
paralela à dos talentos em, Mt 25.14-30. Mas há muitos pontos
que as diferenciam e que mostram que são duas parábolas independentes:
Parábolas das minas
Parábola dos talentos
— Proferido entre Jerico e
Betânia;
— Proferida no monte das
Oliveiras;
— Dirigida aos discípulos e à
multidão;
— Dirigida somente aos
discípulos;
— Fala de servos e de cidadãos
rebeldes;
— Fala apenas de servos;
— Cada servo recebe uma mina;
— Diferenciação nos talentosrecebidos;
— Enfatiza o uso produtivo de um.
dom idêntico.
— Enfatiza o uso fiel de dons e
habilidades naturais.
II.
ASPECTOS TEOLÓGICOS
1. Contexto do evangelho
Como mostra o capítulo, após a estada em casa de Zaqueu
em Jerico, Jesus está a caminho de Jerusalém, e muitos esperavam que o reino de Deus seria manifesto imediatamente (v. 11).
Por causa desta falsa esperança, e antes de entrar triunfalmente
em Jerusalém, Jesus lhes conta a parábola das dez minas, mostrando que o reino não viria imediatamente, mas haveria um
período no qual os servos do Rei investiriam os dons dele (v. 15).
2. Situação histórico-cultural
Alguns aspectos da parábola eram conhecidos dos ouvintes.
Com a morte de Herodes, o Grande, seus filhos foram indicados
como herdeiros de seu governo. Arquelau, no ano 4 a.C, viajou a Roma para que o Imperador confirmasse a vontade de seu
pai, concedendo-lhe o governo da Judéia. Esta é a provável alusão do v. 12. O v. 14 seria, então, uma alusão à delegação de
90
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
judeus que seguiram Arquelau, com a finalidade de impedir que
reinasse sobre eles.
3. Relação da parábola com o reino de Deus
O objetivo da parábola está relacionado com o conceito do
reino de Cristo. Em seu reino, Cristo capacita os homens ao seu
serviço. O fato de dar aos homens um capital que devem investir implica em que esta "mina" é concedida com, a finalidade de
produzir lucro.
A parábola foi contada quando da ida de Cristo a Jerusalém a fim: de consumar a obra da salvação, e aponta para a sua
ida ao Pai e à sua segunda vinda. Tem, portanto, caráter escatológico. 0 reino de Cristo já veio a nós, mas não ainda em sua
plenitude. Neste período, usamos os dons do reino para produzir
lucro, para estender e multiplicar o reino.
A administração a que esta parábola estimula é a do mais
alto dom, o dom do próprio Espírito (1 Pe 4.10,11), na perspectiva do fato de que a fidelidade a Cristo será testada antes do seu
retorno (1 Pe 4.12-19). O reino que já veio aos cristãos pela fé
é um tesouro que deve produzir lucros, a fim de vir a outras pessoas e ser ativo nelas. Onde o cristão é fiel nesta obra, aparecerão os lucros do testemunho cristão, na pregação de arrependimento para remissão dos pecados, da obra do sacerdócio real.
Para a fidelidade nesta tarefa, Jesus contou a parábola.
O reino de Cristo não é aparente e visível. Mas, apesar de
não ser deste mundo (Jo 18.36), está ativo no mundo pelos meios
da graça. O governo de Cristo sobre o mundo é fazer com que
os homens saibam da vida e salvação que Deus oferece em Cristo.
Por isso, quando seus servos administram os dons deste reino,
estão partilhando com os homens a vida divina em Cristo, estão
negociando com os dons do Senhor, até que ele volte.
III.
ASPECTOS PRÁTICOS
1. Leitura do dia
a) SI 92.1-8: como participantes do reino, nos alegramos
com os feitos do Senhor e damos graças pelas suas obras, pois
ele é o Altíssimo eternamente, o Rei que governa apesar do não
reconhecimento dos ineptos e da falsa prosperidade dos ímpios.
b) Jr 8.4-7: apesar da natureza reconhecer os caminhos
do Senhor, o povo de Israel não falava o que era reto nem se
arrependia de sua maldade. O texto mostra o juízo do Senhor
sobre o servo que se desvia do caminho e não quer voltar. Outro
texto indicado como opção é Is 52.1-6, um convite à igreja de
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
91
Deus para que desperte e, revestida de sua fortaleza — o Senhor
— viva como seu servo.
c) 2 Co 5.1-10: estabelece a comparação da situação presente e futura dos cristãos, destacando o fato de termos recebido
o dom do Espírito e o comparecimento perante o tribunal divino,
para que cada um, receba segundo o bem ou o mal que tiver
feito. Outra opção é 1 Co 15.54-58, que aponta para a vitória
de Cristo — a nossa vitória, pela fé — sobre a morte e o pecado,
com o objetivo de permanecermos firmes, inabaláveis e abundantes na obra do Senhor, pois é certo o nosso galardão eterno.
2. Pensamento central
A intenção da parábola é a de levar as pessoas a verem
sua situação à luz da verdade de que, se não investirem, as minas
no reino, não haverá lucro. A parábola é uma repreensão aos
que pensam primeiramente em segurança, que é melhor preservar a herança religiosa do que deixá-la exposta a novas idéias.
A observância farisaica da lei não traz benefícios, e Deus não
tem interesse em tal capital. A parábola mostra que quem, não
usa, perde. Os cristãos precisam negociar os dons do reino- de
Cristo — os meios da graça — até que ele volte. Se não expandirem o reino e não estiverem dispostos a correr riscos, serão
infiéis para com o evangelho.
3. Esboço
NEGOCIAI ATÉ QUE EU VOLTE
Pois vos tornei membros de meu reino
A.
B.
C.
II.
Muitos não querem que Cristo reine
Sua situação é de morte
Pela fé fomos feitos membros de seu reino.
Pois vos dei o capital
A.
B.
C.
Cristo investiu em nós, entregando-se à morte
Cristo nos deu os dons de seu reino — meios da graça
E espera que invistamos os seus dons.
E voltarei para auferir os lucros
A.
B.
C.
O medo de arriscar as minas
A fidelidade cristã no investimento
A recompensa pela apresentação de lucros.
Rony Ricardo Marquardt
São Leopoldo, RS.
92
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
ÚLTIMO DOMINGO DO ANO DA IGREJA
22 de Novembro de 1992
Lucas 12.42-48
1.
Leituras do dia
1.1. Salmo 130: é uma oração penitencial pelo perdão divino, baseada na misericórdia de Deus (v. 1-4), na, qual o salmista confia e espera muito (v. 5-6), e quer que todo o povo
tenha a mesma atitude (v. 7-8), pois a salvação do Senhor vem
certa.
1.2. Malaquias 3.14-18: o texto fala de diferença entre
fiéis e infiéis. No presente muitas vezes e sob vários aspectos
os ímpios levam vantagem. Mas o profeta adverte que no juízo
final se evidenciará mais claramente a compaixão de Deus sobre
os que o temem, e servem.
1.3. Apocalipse 22.6-13: proclama a autenticidade das visões narradas no livro. E, em vista desta futura realidade, chama a atenção para a necessidade de santificação, pois cada um
será "recompensado" segundo as suas obras.
2. Contexto: Lucas 12.42-48 é perícope integrante do pronunciamento de Jesus que começa mais precisamente em Lc 12.22. A
idéia que perpassa a seção é a importância de se buscar acima
de tudo as coisas do reino (Lc 12.31), que significa agir sabiamente.
3. Texto: nesta parábola Jesus se refere a sua segunda vinda
e compara seus discípulos a servos que devem estar fazendo o
que lhes cabe, para um bom encontro com seu Senhor por ocasião da volta deste. Ensina, entre outras coisas, que a religião
deve ser ativa, prática e fecunda; que quanto maior o conhecimento religioso de uma pessoa, maior será sua responsabilidade
no exercício de sua fé. O texto visa todos os cristãos, mas é um
chamativo todo especial aos que têm funções específicas. Nota:
as palavras aparecem sob a perspectiva da santificação; trata-se,
essencialmente, de saber o que um homem atingido pela graça
de Deus, deve fazer.
V. 42: "mordomo" — oikonomos emprega-se alternadamente com. doulos (escravo, servo) neste texto (vv. 43, 45, 46,...).
Oikonomos era um escravo comissionado c/ou nomeado por seu
senhor para a superintendência do lar. Para receber a aprovação final o mordomo deveria agir em fidelidade ao seu senhor e
com prudência. Em 1 Co 4.1 Paulo emprega oikonomos para
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
93
descrever a tarefa apostólica. 1 Pe 4.10 mostra que todos os
crentes são oikonomos da multiforme graça de Deus; cada um
conforme o dom que recebeu.
Vv. 43-44: aquele servo que age com fidelidade e prudência é makarios (afortunado, bem-aventurado, feliz). O que estiver agindo assim, por ocasião da volta do Senhor (XP) será. bem
sucedido (Cf. Lc 12.37; Mt 25.21; Mt 25.26).
Vv. 45-46: aqui aparece a possibilidade negativa — os oikonomos podem ser infiéis e irresponsáveis. Estes o Senhor condenará. A ira do Cordeiro sobre os impenitentes e irresponsáveis é real.
Vv. 47-48: Quem conhece a vontade de Cristo e não vive
segundo ela, é objeto da ira e receberá pollás piegas (muitos
açoites). Quem não fez a vontade do Senhor por não conhecer,
não está isento de açoites, mas receberá olígas piegas (poucos
açoites). Esta linguagem refere-se aos tempos de escravidão,
quando escravos eram açoitados por sua desobediência. Aqui figura o castigo no inferno, indicando também proporcionalidade.
Lembremos: a quem. Se tem dado muito, muito se pedirá. Mas
quanto a isto um comentarista diz que todos recebem tanto que
pode ser considerado muito. Quanto aos erros cometidos na
ignorância, a culpabilidade existe, pois não existe a ignorância
moral absoluta (Rm 1.20) e pior ainda: a ignorância faz parte
da pecaminosidade.
4.
Dados Homiléticos
4.1. Sugestão
CRISTO
de
lema:
PREPAREM-SE
PARA
A
VOLTA
DE
1. Permanecendo fiéis a Ele
2. Fazendo as obras de Sua vontade.
4.2. Objetivo: Enfatizar a mordomia que deve ser exercida
com os dons que Deus nos concede e com as tarefas que
nos confere, no tempo presente, para que na volta de
Cristo não sejamos surpreendidos pela nossa falta.
4.3. Moléstia: negligência com os dons e com o trabalho do
Reino pensando que Deus não leva isto em conta porque o importante é a fé (acontece que a "fé sem obras
é morta" — Tg 2.26), e a idéia de que ainda há muito
tempo.
4.4. Passagens auxiliares: Jo 15.8; Mt 5.16; Tg 4.17 e 2 Pe
2.21.
Eliseu Teichmann
São Leopoldo, RS.
94
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PRIMEIRO DOMINGO DE ADVENTO
29 de Novembro de 1992
Mateus 24.37-44
1.
A temática
Os quatro textos das perícopes deste 1° Domingo de Advento, direta ou indiretamente, apontam para uma só grande temática: A vinda do Senhor Jesus Cristo! Há muitos detalhes relacionados com a temática que não podem ser omitidos. No momento da elaboração e anunciação do sermão:
O SI 50.1-15, entre outras, fala do "desde Sião", do "vem
o nosso Deus", do "invoca-me";
Is 2.1-5 — fala em "últimos dias" e "de Sião
lei, e a palavra do Senhor..." e do "julgará e
casa do Senhor";
sairá
vinde
a
à
Rm 13.11-14 — fala em "conhecer o tempo", em "já é
hora de despertar", do "dia da salvação que está perto", de "revestir-se do Senhor Jesus Cristo";
Mt 24.37-41 — que é a perícope sugerida para o domingo de hoje, confirma toda a temática, ao falar em. "vigiai", em "não sabeis em que dia vem o Senhor". Em
suma: todos os textos apontam para um grande acontecimento na história da salvação: Jesus Cristo virá!
2.
Contexto
Para não prejudicar a unidade da temática, é preciso não
esquecer as perícopes que, circundam Mt 24. O NT apenas será
compreendido à luz das profecias do AT. E vice-versa,
O AT e o NT se complementam e se explicam. É preciso
cuidar com o velho órgão: "AT é lei; o NT é evangelho".
Cristo está concluindo o exercício de seu ministério público.
O Calvário já está bem próximo. E agora está pronunciando
seus sermões escatológicos, apontando para sua última vinda, e
não para o berço de Belém!
Por esta razão, por mais paradoxal que possa parecer, o
tempo do Advento — quatro semanas que precedem o Natal de
Belém — é tido, ao longo da História da Igreja, como "tempus
clausum", i.e. tempo de clausura, de retiro, de autoavaliação, de
penitência, de arrependimento — e não de "promoções comerciais" ou de "alegrias natalinas". Houve inversão da ordem. No
IGREJA LUTERANA/NUMERO 1/1992
95
período do Advento é impossível desvincular a vinda de Cristo
de Belém e a vinda de Cristo do último dia.
3.
Texto
Agora, algumas observações que poderão ser úteis para a
redação do sermão:
—
"greegoréu": vigiar. Aqui está no presente imperativo,
o qual indica uma vigília constante, continuada, permanente. Vigiar, em seu sentido lato, pode significar: estar de prontidão, de plantão, de olhos abertos; observar
atentamente, velar, estar acordado, como a sentinela;
também tem o sentido de vivência cristã, perseverança,
constância, fidelidade — "ser fiel até que ele venha".
0 contrário de vigiar é: dormir, ignorar alguma informação ou advertência, ser displicente, irresponsável, infiel, morno, negligente, "ser cristão de nome ou de domingo" (cf. Lc 2.8; Mt 26.38; 26.41; Mc 13.33; 13.35;
Ef 6.18; 1 Ts 5.6; Ap 16.15);
— "heméra" e "hoora": Dia e hora (vv. 36, 42, 44). Fala
sobre o quando, i.e. o tempo, o século, o ano, o dia, a
hora, o segundo — o horário da chegada! Este retorno
de Cristo está marcado apenas "no relógio de Deus”;
nem o Filho do homem, segundo sua natureza humana,
sabe o momento de sua própria vinda (v. 36). Esta incerteza, do horário da chegada de Cristo reforça o imperativo: "vigiai".
0 que deve ser aceito como verdade absoluta é esta afirmativa: "Cristo vem, Cristo virá!", pois "passará o céu e a terra,
porém as minhas palavras não passarão" (v. 35). "A dissolução
do céu e da terra se constituiria no fim da presente era". "O
mundo passará e minha predição sobre isto não falhará".
4. Disposição
Como
gestões:
introdução
ao
sermão,
alguma
das
seguintes
— A zombaria sobre o "último dia" e a vinda de Cristo
(1 Pe 3.2-10);
— 1° Domingo de Advento: ano novo da igreja cristã (significado);
— 1º Domingo de Advento: quatro semanas de preparo
para o Natal;
96
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
su-
— a história das 10 virgens (Mt 25.1-13).
Como as sub-partes e as ilustrações são muito fáceis e
abundantes, sugerimos o tema e partes:
VIGIAI
I — Porque sabeis que Cristo voltará
II — Porque não sabeis o dia em que Cristo voltará.
Como conclusão, considerando o tema e as partes, e o que
é afirmado em Mt 25.32,31, 41,46 e fp 2:10,11, seria apropriado
apontar para a importância, necessidade e urgência de transformar em realidade o lema/programa que a IELB escolheu para a
última década do Século XX: Cristo para todos!
Leopoldo Heimann
Porto Alegre, RS.
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97
DEVOÇÕES
AS MARAVILHOSAS OBRAS DE DEUS PARA
CONOSCO
Lc 17.11-19
Conta um amigo que um dos lugares mais belos e atraentes da Suissa, encontra-se num parque junto ao lago Lucerne.
No meio desse parque ocorre um extraordinário fenômeno da
natureza, Está ali uma enorme pedra de granito tão plana e
tão bem polida naturalmente que parece uma piscina congelada
brilhando no parque. Sua beleza é tão notável que os visitantes
muitas vezes passam horas admirando-a extasiados. 0 superintendente do parque, entretanto, desejava que os visitantes não
apenas observassem o fenômeno. Queria que também refletissem
sobre ele. E assim, num lado da pedra ele colocou uma tabuleta
com duas perguntas: "Vocês, geólogos — quando?"
"Vocês, teólogos — como?"
E debaixo destas perguntas escreveu o pertinente versículo da
Escritura: "Asseguro-vos que se eles se calarem, as próprias, pedras clamarão" (Lc 19.40). Em verdade a mensagem é esta:
vocês cientistas, vocês pastores não esqueçam de lembrar-nos das
maravilhosas obras de Deus.
Hoje é Dia de Ação de Graças. É dia especial de louvor e
agradecimento a Deus. Mas, fôssemos nós alistar as maravilhosas obras de Deus que Dele recebemos neste belo mundo que
Ele criou e onde nos colocou, neste país riquíssimo onde vivemos,
na comunidade em que moramos, nesta escola onde estudamos
— ela seria uma lista deveras longa e tomaríamos uma tangente
bem fora do nosso texto, que é o evangelho para o dia de hoje
em toda a Igreja Cristã no mundo. Por isso, ficamos no texto.
E, a partir dele, a primeira obra maravilhosa de Deus para conosco é que podemos dizer: Iesu eleison — Jesus, tem misericórdia de nós.
Jesus está a caminho de Jerusalém pela última vez. Caminha para Sua morte. Ao aproximar-se de uma vila, ouve a
voz súplice de 10 homens. Como leprosos, estes homens estavam
provavelmente morrendo uma morte lenta. O Antigo Testamento fala sobre a lepra. Mas ela podia ser curada. O leproso ficava fora do arraial e esporadicamente visitava o sacerdote que
ao atestar a ausência da doença purificava-o e ele voltava para
casa.
98
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
Aqui no Novo Testamento, ao tempo de Jesus, os judeus,
como sempre, exageravam na interpretação da Lei e também da
lepra. O leproso jamais podia entrar em Jerusalém — muito
menos no templo, não podia viver em cidades muradas, e era
condenado a viver segregado da família e da sociedade. A pressão psicológica e social sempre é opressiva e sufocante. No caso
dos leprosos ela era tamanha que a esperança de cura estava
quase fora de cogitação.
Em nosso texto estes homens tinham lepra. Você pode
perguntar: por que tinham lepra? Eram mais pecadores que os
outros? A Escritura diz que não. Tinham cometido pecado mais
grave? A Escritura nega com veemência. Por que tinham lepra?
A questão parece meio - complicada, mas se abrirmos Levítico 13
e 14 vemos que quando o leproso apresenta-se ao sacerdote ele
deve, depois de curado, oferecer nada menos que quatro sacrifícios distintos: sacrifício pela culpa, pelo pecado, holocausto e
sacrifício de manjares. Envolve um ritual, uma liturgia específica que culmina com expiação de pecados. A lepra, portanto,
assim como o fluxo seminal no homem, a menstruação e o parto
na mulher precisava de purificação, expiação. Isto significa que
estes sinais, no Antigo Testamento, de alguma forma, eram também símbolos que lembravam ao povo de Deus de que este povo
— e toda a humanidade — havia nascido manchado com o pecado.
Os 10 leprosos a meu ver eram cristãos. Conhecem a
Jesus. Foram ao Seu encontro. Sabiam-se doentes e pecadores,.
Sabem também que Jesus é o único que tem poder de curar doença e de perdoar pecados. Por isso clamam: Iesu eleison — Jesus,
tem misericórdia de nós.
Talvez nenhum de nós tenha a doença de Hansen, a mancha na pele. Mas temos algo pior: a mancha está lá dentro e
por isso também precisamos dizer: Iesu eleison — Jesus, tem
misericórdia de nós.
Esta é a primeira obra maravilhosa de Deus para conosco.
Ele nos ensina dizer: Kyrie eleison — SENHOR tem misericórdia de nós, É preciso ser agradecido pelo fato de sabermos que
somos pecadores. Isto é fundamental para a fé cristã. Pois é
apenas reconhecendo os nossos pecados que seremos ajudados e
abençoados por Deus. É apenas reconhecendo os pecados que
sentiremos a presença e a necessidade salvífica de Jesus. Se
identificarmos a doença, buscamos o remédio. Cristianismo é o
remédio; a Igreja o hospital. Iesu eleison, Kyrie eleison: esta é
a primeira obra maravilhosa de Deus a ser lembrada neste Dia
de Ação de Graças.
A segunda obra de Deus para conosco é que Ele se alegra
com a nossa gratidão. Sim, Deus alegra-se com a nossa gratidão.
Mas, aqui no texto, Deus se entristece. Dez foram os suplicantes.
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Dez foram os perdoados e curados. Apenas um agradece e este
era um samaritano, Na hora da dor, da segregação, da fatalidade a união é grande. Desaparecem até as barreiras da nacionalidade, do racismo, da hostilidade. No momento do "Kyrie"
quando o coral deve cantar de forma suave e suplicante ele está
completo e ruidoso. Mas no momento do "Glória", quando deveria cantar de maneira festiva e doxológica, o coral só possui um
integrante, talvez neófito, com sotaque estrangeiro e quiçá desafinado religiosamente...
"Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove?" — pergunta Jesus. É essa ingratidão típica da humanidade?
Alguns afirmam que sim. Há pouco tempo famoso advogado de
causas criminais nos USA dava entrevista onde dizia que ele já
salvou mais de 75 pessoas seja da pena de morte ou da prisão
perpétua. Entretanto nenhuma delas sequer preocupou-se em
lhe enviar nem mesmo um cartão de Natal. Seriam ingratas estas
pessoas? Não podemos afirmar que são absolutamente ingratas.
Por exemplo, os 9 leprosos, na ânsia da cura e no desejo de retornar para suas famílias e amigos estavam apenas protelando
seu agradecimento pessoal a Jesus. Na primeira oportunidade
iriam procurá-Lo e demonstrar-Lhe sua gratidão. Talvez alguns
o fizeram. 0 mais provável, contudo, é que jamais tiveram a
oportunidade de fazê-lo porque Jesus nunca mais passou por ali.
E em poucas semanas Ele estava morto. Quando você tiver motivos para agradecer, agradeça — e faça-o prontamente ao seu
semelhante, ao seu Deus. Pois assim como no culto o Kyrie sem
o Glória é culto incompleto, na vida cristã a súplica sem o sacrifício de Ação de Graças é vida cristã incompleta. O samaritano que voltou foi elogiado por Jesus e recebeu Dele a bênção
salvífica: "Levanta-te, vai a tua fé te salvou.
Esta é a segunda obra maravilhosa de Deus que lembramos neste Dia de Ação de Graças: Deus se alegra com a nossa
gratidão. Semana que vem todos nós, e especialmente vós formandos, estaremos voltando às cidades, vilas, parques onde pessoas perplexas estão refletindo não apenas sobre a beleza de
pedras de granito, mas também sobre o sentido e destino de suas
vidas.
Vocês como teólogos, pastores, diaconisas têm a resposta
da maravilhosa obra de Deus para essas pessoas inquietas. Tenho certeza que as pedras não precisarão clamar. Mas, como no
Antigo Testamento, elas, por vossa divina mensagem, se tornarão
em monumentos, testemunhas, memoriais de que Deus está presente para em Cristo perdoar e curar, e alegrar-se com a nossa
gratidão. Certamente pelo poder de Deus multidões se reunirão
100
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
num perene Dia de Ação de Graças para cantar: Kyrie eleison;
e acrescentar: Soli Deo Gloria. Amém.
Sermão proferido pelo Prof. Acir Raymann na capela do Seminário Concórdia no culto especial do Dia de Ação de Graças de
1991.
NEM TUDO Ê LÍCITO
1 Co 6.12-20
Partindo de uma premissa falsa, os coríntios estavam chegando a uma conclusão também falsa. Segundo o raciocínio incorreto desenvolvido por eles, "todas as coisas são lícitas," como
premissa conduz a uma má compreensão da liberdade cristã e
um conseqüente abuso dela. "Todas as coisas são lícitas" não é
um princípio absoluto por si só. Em questão de adiáforos, sim;
todavia nem tudo são adiáforos. Há coisas que não são lícitas,
porque vão contra a vontade de Deus e, por conseguinte, estão
sob a sua proibição.
Baseados na conclusão falsa a que haviam chegado, caíram
no nível mais baixo a que o homem pode despencar em sua existência: no nível da prostituta, daquela que vende o seu próprio
corpo e o usa para desonra. A tal nível chega quem se une a
ela! "Tudo é lícito" pensavam os coríntios. A imoralidade entre eles estava a tal ponto que houve quem se atrevesse a possuir
a mulher do seu próprio pai (5.1).
Escândalo tal comportamento? Sim, escândalo! Merecia
a condenação, apregação da lei? Sim, com todo o rigor. Paulo o
fez. No texto ele mostra a monstruosidade daquela prática que
os coríntios julgavam lícita. Tomar os membros de Cristo, comprados por Cristo e inferiorizá-los tanto ao ponto de uni-los à
mulher que se prostituía... Que horrível! Era um desrespeito
ofensivo ao Senhor Jesus que havia pago preço tão alto para
tê-los.
Até aqui a nossa análise do texto já revelou algo muito
profundo: a gravidade da prostituição. Estava encoberta aos
olhos dos coríntios, que, até a justificavam. Algo semelhante se
passa no contexto de hoje. Não há simpatia pelas verdades
absolutas; "tudo é lícito", desde que feito com "amor". Além de
um conceito deturpado de amor, há por detrás de tal princípio
um desconhecimento total da vontade divina.
Existe, todavia, uma outra verdade neste texto que não
pode ficar sem destaque. Se for ignorada, a análise do texto
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
101
ficará capenga, Ao mesmo tempo em que Paulo revela, sem
meias palavras, os malefícios e as conseqüências da prostituição
e coloca seus adeptos no nível mais baixo da existência humana,
contrapõe a isso uma palavra de esperança, uma mensagem que
é capaz de arrancar da baixeza e elevar à nobreza. Paulo leva
os cristãos de Corinto a descobrir que, apesar de o pecado inferiorizá-los tanto, torná-los tão desprezíveis aos olhos de Deus por
terem desprezado a sua vontade para com o uso do corpo, mesmo assim ainda havia neles algo incompreensível para nós, porém possível para a misericórdia divina: o corpo continuava
sendo santuário do Espírito Santo; o Espírito permanecia neles;
eles não pertenciam a si próprios, eram propriedade do Espírito
de Deus, comprados por um preço elevadíssimo. Eis a misteriosa, porém maravihosa graça de Deus sendo revelada aos coríntios! Em troca de uma vida degradante e ofensiva ao Senhor, a
graça divina propunha aos coríntios exatamente o oposto: a
oferta para continuarem desfrutando da presença do Espírito
Santo em seus corpos, Espírito este que queria capacitá-los a
alcançar o alvo mais elevado proposto ao nosso corpo mortal,
ou seja, que através dele Deus seja glorificado. Nada menos do
que este nosso corpo mortal servir de instrumento para que seu
Criador receba glória! Só mesmo Deus, por causa do seu amor,
é capaz de propor tamanha transformação existencial para alguém. Sim, coríntios, valia muito fugir da impureza!
Resta ainda fazer uma aplicação mais direta para nós.
Poderia ser um alerta ao perigo da impureza que também: ronda
a nós e aos nossos familiares dentro de um mundo onde a imoralidade se tornou um dos objetivos de vida. Há que nos precavermos, recorrendo ao socorro da graça de Deus oferecida a
nós na Palavra e sacramentos. Trata-se de uma aplicação possível. No entanto, há outra também que, por encher de consolo
o coração de um pobre pecador como eu, não pode deixar de ser
repartida com os irmãos. É aquela que revela a ação graciosa,
misericordiosa de Deus frente ao infortúnio ocasionado pelo pecado. Ora, era gravíssima a desgraça moral e espiritual daqueles cristãos de Corinto. Porém Deus chegou a eles por meio da
pregação de Paulo e fez duas coisas: abriu os olhos deles para
a horrenda transgressão e suas conseqüências, ao mesmo tempo
em que também lhes abriu os olhos para o notável privilégio à
disposição deles: a graça divina ainda pairava sobre suas vidas,
podiam recorrer em arrependimento ao Salvador Jesus para dele
receberem o perdão consolador e continuarem desfrutando da
presença do Espírito Santo, que os capacitaria a nada menos do
que glorificar a Deus por meio do próprio corpo.
Esta mesma graça divina é motivo de nossa alegria quando sentimos vontade de chorar por causa dos nossos pecados;
esta mesma graça divina garante-nos que nem tudo está perdido
102
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
quando vamos lá no chão com nossas vergonhosas transgressões;
esta mesma graça divina nos acena com a possibilidade de, apesar de nós, Deus assim mesmo deseja que aconteça algo extraordinário por nós, isto é, sua glorificação por meio daquilo que
somos e praticamos.
Saiamos hoje daqui dispostos a seguir duas atitudes; primeira, a recorrer confiantes sempre à graça divina que é capaz
de elevar da miséria para a glória; segunda, além de estarmos
dispostos a denunciar o pecado, não nos cansemos de anunciar
também essa graça para que ela console, alegre e enobreça a vida
daqueles que o Senhor coloca no nosso caminho. Amém;.
Devoção apresentada na capela do Seminário Concórdia de São
Leopoldo pelo Rev. Prof. Paulo Moisés Nerbas, em 20 de marco
de 1992.
A TERÇA E A QUARTA
Mt 6.16-21
Hoje nós amanhecemos na Quarta-feira de Cinzas. Tradicionalmente, é o dia que marca o início da Quaresma, o período
de 40 dias que antecede a Semana Santa. Esta quarta-feira tem
este nome por causa do costume observado desde a Igreja Antiga
de se colocar cinzas sobre a cabeça, em sinal de penitência. Um
costume certamente herdado do AT. A partir do século X, o ato
de se colocar a cinza passou a ser acompanhado da citação de
Gn 3.19: Lembra-te, ó homem, que tu és pó e ao pó tomaras.
A tradição da Igreja Antiga e Medieval também associa
estes quarenta dias de Quaresma com os quarenta dias e quarenta noites que Jesus passou no deserto, jejuando, oportunidade
em que foi tentado pelo diabo. O dia de ontem, na Igreja Antiga, era a terça-feira de penitência, quando as pessoas se preparavam para o jejum que seria feito durante a Quaresma. Sem
dúvida, algo bem diferente daouilo que acontece hoje, na terçafeira de carnaval, especialmente em nosso país.
Que contraste entre a terça e a quarta! Fazendo uma pesquisa histórica, entretanto, podemos verificar que existe um relacionamento bastante próximo entre o carnaval e a Quaresma.
Quase se pode dizer que o Carnaval existe por causa da Quaresma.
Apesar de ter origem obscura, de estar ligado com os ritos primitivos da fertilidade e com as orgias romanas dedicadas ao deus
Baco e a Saturno, não é sem motivo que o Carnaval está aqui,
logo antes da Quarta-feira de cinzas.
IGREJA LUTERANA/NUMERO 1/1992
103
A partir do momento em que se aliou ao poder, no Império
Romano, a igreja passou a ditar as regras, e uma delas era a
obrigatoriedade do jejum e da penitência na Quaresma. A igreja
tentou impor um ato externo de piedade, sem se perguntar se
os corações estavam realmente convertidos. A reação do povo
foi aproveitar tudo o que tinha direito antes que começasse este
período de privação e sofrimento. E assim o Carnaval se desenvolveu, até chegar naquilo que temos hoje.
Por isso hoje, Quarta-feira de cinzas, é importante ver o
que o Senhor Jesus nos diz neste texto de Mt 6. Todo o capítulo
está escrito no contexto de uma religiosidade hipócrita, uma religiosidade de leis e tradições que visam mostrar uma aparência
de piedade, mas que na realidade escondem o que se passa no
coração.
O sentido profundo de todo este capítulo é a escolha entre
a glória humana e a glória divina: entre a carne e o espírito;
entre o "eu" e o "tu" divino. Existe aqui uma tensão, uma dialética, uma bipolaridade (como quer que a queiramos chamar)
entre o terreno e o celestial.
Neste texto, transcrito por Mateus. Jesus condena a religiosidade hipócrita, externa, cujo único objetivo é receber a glória humana. Lembra aquela opção por si mesmo, aquela, tentativa de auto-endeusamento, já registrada na história de Gn 3.
Sobre aqueles que assim procedem, Jesus sentencia: Eles já receberam toda a recompensa. Exatamente. Se o que este tipo de
religioso quer é o reconhecimento humano, ele já tem o que
queria. Mas, nada mais, além disso. Aos nossos olhos, é bastante
coisa. É um verdadeiro tesouro. É possível com isso fazer nome
dentro da igreja, é possível alcançar postos nos altos escalões, é
possível ser importante. Assim como os fariseus o eram em seu
contexto.
Mas isso tudo é um tesouro que pode ser comido pelas
traças. É algo que mais cedo ou mais tarde apodrece. E isto
mostra que o coração também está podre, porque onde está o
teu tesouro, aí estará também o teu coração.
Seria muito fácil cair no lugar-comum de condenar os carnavalescos. Colocá-los já agora no inferno, porque, descaradamente, optaram pela carne. Por outro lado, seria difícil reconhecer que nós mesmos também gostaríamos de ter estado lá,
que se dependesse de nós, faríamos a opção pela carne e não
pelo espírito. Sim, realmente é bastante difícil reconhecer que
não adianta a igreja bonita, a liturgia, a tradição, o nome de
luterano ou cristão. Tudo isto parece ser muito religioso e piedoso, mas o interior, o coração, aquilo que está aqui dentro, este
não é tão fácil de mudar.
104
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
Para que este interior pudesse entrar em um processo de
mudança e transformação foi necessário que o Filho de Deus se
fizesse ele próprio carne, ser humano, habitasse entre nós, fosse
rejeitado, vergonhosamente torturado e morto. É essa história de
amor que a, Quaresma quer relembrar. É este entregar-se pelo
ser humano que o jejum, facultativo, não obrigatório, secreto,
não "show", quer lembrar. Este é o tesouro que Deus nos deu
de presente.
O contraste entre o Carnaval e a Quaresma existe porque
as pessoas que lá estavam ontem não conhecem esta historia; de
amor. Eles optam pela carne porque talvez seja o único caminho que eles conhecem. Talvez porque nós estejamos tão preocupados com a nossa aparência, com a nossa estrutura, com a
nossa tradição; estejamos vivendo tão em volta de nós mesmos,
que esquecemos de contar a estas pessoas sobre o verdadeiro
sentido da Quaresma, sobre a sexta-feira santa e sobre a Páscoa,
0 final feliz da história.
Quarta-feira de cinzas, dia de contar os mortos e feridos
do Carnaval, de juntar as garrafas vazias, de acordar os Últimos
bêbados. Nesta manhã, com as suas palavras, o Senhor Jesus
nos quer levar a questionar a nossa vida. Não perguntar se somos luteranos, se estamos no seminário, ou se vamos à igreja
todos os domingos. Ele pergunta pelo que se passa aqui dentro.
Ele pergunta onde está o meu e o teu tesouro.
A Quaresma é tempo de meditação, de análise de nossas
vidas diante da obra de Deus. Não estará o nosso coração enferrujado e sendo comido pelas traças? Se assim for, não somos
melhores do que aqueles que ontem; estavam no Carnaval. Se
assim for, a solução para eles e para nós está no personagem
principal da, Quaresma: Jesus Cristo. Este que, como diz o atual
lema da IELB, veio para todos. Nele está a vida. Nele está o
tesouro eterno, o tesouro que ninguém pode roubar.
Que o Deus Eterno perdoe a nossa hipocrisia, o nosso autoendeusamento, e nos conceda o seu Espírito, para que possamos
viver autenticamente a nossa fé. Amém.
Devoção proferida na capela do Seminário Concórdia pelo Rev.
Gilberto Valmir da Silva no dia 4 de marco de 1992.
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LIVROS
PALAVRA E ORAÇÃO: Guia de estudos e Orações
diárias. Por George Kraus. Traduzido por Johannes H.
Gedrat. Porto Alegre, Concórdia, 1990. 227 p.
"Continua a encorajar-me no meu estudo bíblico e vida de
oração pessoal. É muito fácil evitar isso com todas as desculpas
inerentes à profissão de ministro. Protege-me da tentação de
substituir, pelo motivo que for, o encontro diário com a tua palavra". Esta é parte de uma petição da Oração do Pastor para
Quarta-feira, nesta obra de Kraus. O autor foi pastor em uma
metrópole e professor do Concórdia Theological Seminary de
Fort Wayne e sabe, portanto, da premência de tempo por que
passa o ministro atarefado em atividades paroquiais. Por outro,
tem a convicção de que "Senhor, o dia já está perdido se tu não
estiveres comigo" (p. (52).
A obra destina-se especificamente para o pastor. A grande
novidade neste livro é o fato de ser ele centrado na oração, nas
Escrituras e nas Confissões Luteranas. Como explica o autor na
Introdução (que infelizmente não foi traduzida), a obra está planificada de tal forma a que em 65 semanas o pastor leia a Bíblia
toda (com cerca de 4 capítulos por dia cobre-se uma vez o Antigo
Testamento e três vezes o Novo Testamento). Ao lado das leituras bíblicas, e sem necessariamente haver correspondência no
conteúdo, passa-se todo o Livro de Concórdia sendo que a Confissão de Augsburgo, os Artigos de Esmalcalde, o Artigo IV da
Apologia e a Fórmula de Concórdia são lidos duas vezes, numa
média de duas páginas por dia.
O programa de Palavra e Oração está estruturado nos sete
dias da semana, da seguinte maneira: Preparação (Hino do Dia,
Oração de Compromisso); Ato de Reconciliação (Confissão, Profissão de Fé); Palavra e Doutrina (O Salmo, Leitura Bíblica, Leitura Litúrgica, Livro de Concórdia); As Orações (Oração do Pastor, Breves Orações Adicionais); Oração do SENHOR; Doxologia
de Encerramento; Orações Vespertinas.
Oratio Tentatio, meditatio faciunt theologum já dizia o Dr.
Martinho Lutero. Não é sem razão que o Reformador com sua
fé, intrepidez, ousadia e sucesso coloca a oração em primeiro
lugar. A meu ver o livro de Kraus vem ao encontro destes três
aspectos. O dia do pastor será certamente muito-abençoado após
esta uma hora diária orientada por este breviário. Norteado por
ele o pastor tornará sua vida devocional ainda mais viva e trans106
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
parente na medida em que "as pessoas que cruzam o meu caminho vejam o teu Filho em mim e ouçam as Suas Palavras por
meu intermédio" (p. 55).
Infelizmente a versão para o português revela certas carências. Idealizada para uso diário do pastor, a obra de Kraus no
vernáculo se apresenta em brochura, apenas colada, e após alguns
meses de uso sua perenidade fica visivelmente comprometida.
Comprometida fica também a tradução por não dar os créditos
às orações coletadas pelo autor, como ocorre no original (a questão parece ser editorial porque tentativa de citação houve, como
se pode observar nas pp. 18, 50, 57, 61, 72, 76). Tivesse havido
este carinho, nós nos integraríamos a uma gama de obras significativas na área como a Evangelisches Brevier (Dieffeubach),
Prayers Public and Private (Edward White Benson), Minister's
Prayer Book (Thomas a Kempis) entre outras. Uma segunda
edição precisa rever estes e outros problemas como erros datilográficos (pp. 20, 26, 39, 48, 65, 75, 167), referências bíblicas deslocadas (p. 68), paginação invertida (pp. 44-45).
A obra de Kraus vem preencher uma grande lacuna no
exercício do Santo Ministério. As orações expressam com, criatividade, fervor e cristocentricidade os sentimentos de preocupação,
esperança e ação de graças que têm ocupado o coração dos servos de Deus por toda a história da Igreja. Palavra e Oração não
devem apenas estar na estante de cada pastor luterano; deve antes
estar sobre sua mesa de trabalho para uso diário e, sem dúvida,
muito abençoado.
Acir Raymann
ÉTICA CRISTÃ PARA HOJE: Uma perspectiva Evangélica. Por Milton L. Rudnick. Traduzido por Sirlene
Passos da Silva. Rio de Janeiro, JUERP, 1988.
O autor é o Diretor do Seminário Concórdia Luterano de
Edmonton, Canadá, da igreja irmã que está ligada à The Lufheran Church — Missouri Synod. Primeiro se estranha que o seu
original não tenha sido impresso pela Concórdia Püblishing
House de St. Louis, mas pela Baker Book Ilouse de Grand Bapids, Michigan. A tradução e publicação no Brasil é dos batistas.
Ao ler o livro é possível entender as razões.
O livro tem a linha teológica da igreja luterana, como se
espera de um diretor de um seminário luterano. As primeiras
partes são' muito bem tratadas, pois fundamenta a ética cristã
na "nova pessoa" criada pela fé através dos meios da graça, Mas
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há alguns aspectos, que costumam aparecer em autores luteranos
da América do Norte, que correspondem mais à posição do Catecismo de Heidelberg do que à do Catecismo de Lutero. Assim,
quando o autor fala da "motivação" da ética, sugere que é nosso
amor e nossa gratidão (p. 35), em vez de colocar a motivação
na graça de Deus. Ora "gratidão" e "amor" já são boas obras.
Logo a boa obra ética está "motivada" pela própria boa obra, o
que é um círculo vicioso calvinista.
Um outro aspecto que agrada aos leitores do mundo evangélico calvinista é a questão da "obediência" (p. 90). Para se
falar em obediência é preciso ter em mente que a prescrição seja
absolutamente precisa e conhecida. Ora, Deus dá ampla liberdade ao cristão (1 Co 6.12). Apenas o limita com o "não" dos
mandamentos. Mas não há uma revelação de uma prescrição
precisa para todos os atos da vida humana. Isto seria uma "casuística" interminável. Esta o cristianismo só pratica no catolicismo romano e na sociedade organizada perfeita que Calvino
imaginava para Genebra. Logo, a "obediência" não está tanto
na área ética, mas na área do evangelho, em que "tudo está preparado" (Lc 15.17) para recebermos pela fé. Claro, o amor também obedece, mas sua essência é servir o próximo com criatividade.
Um terceiro ponto é certamente importante. Trata-se do
"progredir" na ética (p. 100). O autor supõe que há um progresso qualitativo e que, como cristãos, "somos capazes de desenvolver um caráter e conduta à semelhança de Cristo" (p. 100). Isto
certamente é o alvo, mas ele não é cumulativo. Isto é, não posso garantir que hoje eu sou melhor do que ontem, contando que
como ontem já venci um pecado eu hoje já não pecarei! O cristão continua simultaneamente "justo e pecador". Ele sempre é
pecador. Ele é ao mesmo- tempo tão justo quanto Jesus Cristo,
quando pela fé recebe o Seu perdão. Esta é a justiça alheia que
não cresce cumulativamente, mas é sempre do tamanho da fé na
promessa em Cristo. O que deve aumentar e progredir é o "exercício da fé", isto é, deve aumentar o número de boas- obras que
exercito cada dia novamente. É, portanto, um progresso "quantitativo", não qualitativo.
Mas, sem dúvida, o livro de Rudnick leva a muita reflexão
importante no campo da ética. Com as ressalvas luteranas o livro ajuda a refletir sobre a ação ética do cristão, mesmo que a
editora tenha colocado "ordenanças" onde se fala dos "sacramentos" na vida do cristão (p. 84). Ò livro não devia faltar na mesa
do pastor e professor.
Martim C. Warth
108
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110
IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1992
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Composição, impressão e acabamento na
Gráfica e Editora La Salle - Canoas, RS.
19 9 2
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