HP48G/GX: UM MULTÍMETRO INTELIGENTE Cristiane G. Langner1,3 , Jonerlam R. Carvalho2, Percy Nohama1,2, Ivan J. Chueiri1,3, João A. Pereira3 Caixa Postal 19067 81531-990 – Curitiba, PR [email protected] (1) (2) (3) PUCPR – Pontifícia Universidade Católica do Paraná CEFET-PR – Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná LACTEC – Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento ABSTRACT This paper presents the design and implementation of a low-cost circuit that allows an HP48G/GX calculator to operate as a multimeter. The system is capable of measuring AC/DC voltage (in two channels), AC/DC current, resistance and ambient temperature, being all measurement ranges self-adjustable. The system also can test continuity and pn junctions. Additionally, calculate power, gain, transistor gain and energized circuit resistance. The core of the circuit is composed of an EPLD, which is responsible for generating all control and communication signals between the calculator and acquisition interface. It also responsible for part of the AC measurement and with little software adjustments this multimeter may be direct connected to PC or Palm-Top. 1. INTRODUÇÃO Na área da Eletrônica existem estudos e projetos de circuitos que podem ter um alto grau de complexidade e levar a cálculos bastante trabalhosos. Percebeu-se, então, a carência de um multímetro inteligente que fosse capaz de conciliar as função de multímetro digital com a de calculadora, ou seja, realizar as medições necessárias no circuito e armazenar estes valores para efetuar os cálculos. Levando em conta a enorme quantidade de universitários e técnicos das áreas de tecnologia, possuidores de uma calculadora com grande utilização e aplicação, como é a HP48G e GX [1], este projeto tem por objetivo dar uma nova função a essas máquinas, função esta que flexibilizá-las-á ainda mais, agregando um material também necessário e básico no dia-a-dia de qualquer universitário ou atuante nesta área, o Multímetro Digital. A calculadora HP foi escolhida para ser um multímetro devido ao baixo custo e versatilidade da nova implementação comparando-se ao alto preço dos Multímetros Digitais avançados existentes no mercado, os quais são de difícil aquisição para os estudantes. Também foi levantada a versatilidade, a enorme capacidade de processar os dados medidos e calcular parâmetros, além da capacidade de armazenamento de dados, cálculo e utilização de fórmulas que podem ser criadas pelos próprios usuários que nenhum multímetro apresenta e que a HP oferece, agregados a alguns luxos já existentes, tais como suas funções de hora, autodesligamento, fórmulas agregadas, programação, interface para comunicação com computadores entre outras. A realização deste projeto trará maior facilidade e eficiência na medição e no projeto de circuitos eletrônicos, pois possibilitará maior agilidade no momento de efetuar cálculos, comparar valores ou até mesmo esboçar gráficos simples através das funções já existentes na calculadora HP. As funções que o multímetro-calculadora HP48G/GX contém são: dois canais para medição de tensão contínua e alternada de até 2kHz; um canal para medição de corrente contínua e alternada de até 2kHz; ohmímetro; teste de continuidade com alarme; teste de junção pn, cálculo do ganho de transistores e medidor de temperatura ambiente. 2. IMPLEMENTAÇÃO A plataforma de hardware é composta por um circuito eletrônico, o qual atua como placa de aquisição do sinal. Tal circuito é acoplado, através de conector específico, à calculadora HP48 que, por sua vez, mostra em seu display, após processos de análise e conversão, os dados medidos pelo usuário, podendo ainda armazená-los para cálculos posteriores. A programação foi desenvolvida em PC, na linguagem SYS-RPL [9] [12] utilizada pela calculadora que recebeu apenas o software pronto. Este trata a função de comunicação com o hardware, via transmissão serial. A calculadora HP faz a interface com o usuário. Todo o estágio digital do circuito eletrônico foi desenvolvido em lógica programável com a utilização de EPLD (Erasable Programmable Logic Devices) [11]. A EPLD foi escolhida pela redução da área e número de componentes na placa de circuito impresso e pela facilidade e simplicidade do método de programação. 3. Os dois módulos são alimentados por uma fonte simétrica de +5V/-5V. ARQUITETURA INTERNA O hardware do sistema pode ser dividido em dois submódulos: interface de controle e conversão e interface de aquisição, conforme a Figura 1. Interface de Controle e Conversão Clock Ajuste da Tensão de Refe rência Fonte Simét rica Calculadora HP48 Interface de Entrada/Saída Controle de Canais e Circuito Controle de Escalas Tensão (divisor resistivo) EPLD Amplificação Resistência Canal 1 Circuito do Usuário Conversor A/D Temperatura Corrente HFE (beta) Tensão (divisor resistivo) Canal 2 Interface de Aquisição Figura 1 – Diagrama de blocos geral 3.1 Interface de Controle e Conversão A interface tem por objetivo receber e interpretar as informações de controle dadas pelo usuário à partir da calculadora HP48, acionando e transmitindo os dados do conversor A/D que estará operando no modo paralelo ROM, com clock externo, tensão de referência interna e entrada bipolar [8], por ser estas configurações as mais adequadas para este projeto. A interface de controle e conversão, cuja arquitetura está representada na Figura 2, é um sistema composto por uma interface de entrada/saída serial de dados, uma EPLD – responsável por toda parte lógica, circuito de sincronismo (clock), circuito de ajuste da tensão de referência do conversor A/D e o próprio conversor. O circuito eletrônico da Interface de Controle e Conversão pode ser subdividido em cinco blocos distintos: ?? Circuito de sincronismo (clock); ?? Circuito de interface de entrada/saída; ?? Ajuste da tensão de referência; ?? Conversor A/D; ?? Processador digital (EPLD). A parte lógica (EPLD), por sua vez, é composta por quatro partes distintas: ?? Controle de recepção; ?? Controle de transmissão; ?? Um controle de escalas; ?? Um controle do circuito. A Tabela 1 mostra a função dos principais sinais utilizados pela Interface de Controle e Conversão. Interface de Controle e Converção Clock Ajuste da Tensão de Refe rência EPLD TX GND Interface de Entrada/Saída Ref_OUT Controle de Recepção Conversor A/D Controle de Transmissão RX Controle de Escalas Controle do Circuito ch_escala circuito ctrl_circuito Ain+ Figura 2 – Interface de Controle e Conversão Tabela 1– Função dos sinais utilizados pela Interface de Controle e Conversão Sinal TX RX GND Ref_OUT Ain+ ch_escala ctrl_circuito circuito Função Sinal transmitido da calculadora para a Interface de Controle e Conversão (+5V/-5V – LO/HI). Sinal enviado à calculadora pela Interface de Controle e Conversão (+5V/-5V – LO/HI). Referência utilizada pela calculadora. Valor do sinal de referência utilizado internamente, para conversão, pelo ADC MAX191. Entrada do sinal analógico que será convertido. Três bits que acionarão o MUX que controla as escalas Onze bits que acionarão chaves MOS e relés que controlam os canais e tipo de circuito. Entrada de quatro bits extras que serão transmitidos à calculadora junto com a primeira seqüência enviada (MSB). 3.1.1 Circuito de Sincronismo (Clock) Este circuito utiliza a freqüência de um oscilador a cristal (1 MHz) como base de tempo para gerar o sinal de clock (ou sincronismo) para o processador digital (EPLD) e para o ADC. Este sinal é responsável pela cadência do fluxo de dados no circuito digital e pela taxa de amostragem e conversão dos dados no conversor A/D. 3.1.2 Circuito de Interface de Entrada/Saída Os dados que entram e saem da calculadora têm como nível lógico alto -5V e como nível lógico baixo +5V. A função da interface de entrada/saída é compatibilizar o nível desses dados com o padrão TTL (0V e +5V – nível lógico baixo e alto, respectivamente) que será utilizado no circuito digital. A EPLD gera dois sinais simétricos que contêm os dados seriais que serão enviados à calculadora. O sinal real, ligado ao GND (referência do circuito da interface de Entrada/Saída) e o sinal invertido, ligado ao RX, garantem o reconhecimento, pela calculadora, do sinal enviado pela EPLD em nível TTL. 3.1.3 Ajuste da Tensão de Referência A finalidade deste circuito é ajustar e manter constante o nível da tensão de referência interna do conversor MAX191, segue as recomendações do fabricante [8]. 3.1.4 Conversor A/D O conversor A/D utilizado é o MAX 191. O mesmo está configurado para trabalhar em modo paralelo ROM, com clock externo, tensão de referência interna e entrada bipolar [8]. novo ciclo. A transmissão é feita através do envio dos doze bits de dados armazenados em duas seqüências de oito bits. Como o conversor A/D é de doze bits, sobram quatro bits em uma das seqüências de transmissão. Esses bits são utilizados para enviar, à calculadora, informações provenientes da Interface de Aquisição e ficam disponíveis para uso em novas versões, se for necessário. 3.1.5 Processador Digital (EPLD) A EPLD utilizada neste projeto é a EPM7128SLC84-15 da ALTERA. Este dispositivo não é o mais adequado para este projeto. Será utilizado apenas na prototipação. Para o produto final será escolhido o componente de capacidade lógica mais otimizada, de menor custo e de menor tamanho físico. Tal fato não implicará em nenhuma modificação na lógica já programada, apenas na estrutura física da placa de circuito impresso e talvez na configuração da pinagem. 3.1.8 Controle de Escalas O circuito do Controle de Escalas envia o comando de controle das escalas para o circuito do bloco de mesmo nome na Interface de Aquisição. O bloco na EPLD começa com a escala mais baixa acionada e, a cada comando de escala recebido (estes comando são identificados pelo bloco Controle de Recepção), ocorre uma comutação para a próxima escala. 3.1.6 Controle de Recepção O bloco Controle de Recepção é o circuito responsável pelos comandos de acionamento do conversor A/D. Quando o circuito é energizado, é deste bloco que partem os sinais que farão com que o conversor A/D opere. O conversor A/D estará sempre convertendo a informação de tensão presente em sua entrada, exceto quando do recebimento de um comando de leitura. Este bloco também interpreta os dados seriais recebidos, gerando sinais de controle conforme o significado da informação. 3.1.9 Controle do Circuito O bloco Controle do Circuito é responsável pelo acionamento de chaves (MOS) e relés na Interface de Aquisição. Tais chaves irão controlar a seleção dos canais e dos circuitos que estarão ativos. Os comandos que irão atuar neste bloco são identificados pelo bloco Controle de Recepção. 3.2 O circuito eletrônico da Interface de Aquisição pode ser subdividido em sete blocos distintos: ?? Controle de Canais e Circuito; ?? Controle de Escalas; ?? Amplificação; ?? Temperatura; ?? HFE (beta) ?? Corrente, tensão e resistência; ?? Canais. 3.1.7 Controle de Transmissão No bloco Controle de Transmissão, todo dado recém convertido é comparado com o dado anterior. Se o dado novo for maior que o já armazenado, esse é substituído, ou seja, sempre o maior valor convertido é armazenado (módulo dos valores de pico). Quando o comando de leitura é recebido (identificado pelo bloco Controle de Recepção), o dado que está armazenado é transmitido e a memória de armazenamento é zerada, iniciando-se um ctrl_circuito Controle de Canais e Circuito Interface de Aquisição Ain+ ch_escala Controle de Escalas Tensão (divisor resistivo) Parâmetros do circuito do usuário Amplificação Resistência Temperatura Corrente Canal 1 Interface de Aquisição Figura 3 – Interface de Aquisição HFE (beta) Tensão (divisor resistivo) Canal 2 3.2.1 Controle de Canais e Circuitos Este circuito, através de chaves (MOS) e relés, acionados pela EPLD, controlam o acionamento dos canais que devem ser usados para a medição, para que o mesmo bloco de Amplificação possa ser utilizado para ambos os canais. Tais chaves também selecionam o circuito que será utilizado para medição. 3.2.2 Controle de Escalas Este módulo é composto por um multiplexador, controlado pela EPLD, responsáveis pelas mudanças de escala de medição. Conforme a seleção do MUX poderá ser obtida uma das quatro escalas possíveis, sendo: ?? ?1 ?? ? 10 ?? ? 100 ?? ? 1000 3.2.3 Amplificação Este módulo é composto por quatro amplificadores operacionais ligados em cascata. O primeiro está configurado como buffer para aumentar a impedância de entrada e evitar problemas de acoplamento. A saída de cada amplificador é ligada em um canal do MUX, possibilitando a seleção da escala adequada. Dependendo da escala que está sendo utilizada, o valor final já convertido pela calculadora pode ser maior do que o máximo permitido (2000). Neste caso, a calculadora solicita a mudança de escala para a maior (amplificação menor). Caso a escala selecionada seja a máxima e o valor continue ultrapassando o limite, a calculadora informa ao usuário. A saturação dos amplificadores operacionais em 3.6V garante que nunca haverá uma tensão maior que esta na entrada do conversor A/D, assegurando a integridade deste. 3.2.4 Temperatura Este circuito é responsável pela conversão de temperatura em sinal de tensão. Este módulo de medida não passa pelos amplificadores, pois seu sinal já está adequado à escala do conversor A/D. 3.2.5 HFE (Beta) Este circuito é responsável pela medição do ganho dos transistores (PNP e NPN). Conhecendo a corrente de base aplicada, o circuito fornecerá ao conversor A/D uma tensão que variará dependendo da amplificação do transistor. O beta é então calculado através do software. Este módulo de medida também não passa pelos amplificadores, pois seu sinal já está adequado à escala do conversor A/D. 3.2.6 Corrente, Tensão e Resistência Para medir tensão, ambos os canais possuem resistores que dividem a tensão de entrada em 1000 garantindo que, ao entrar 1000V, por exemplo no canal 2, resultará na entrada do buffer 1V. Como o circuito começará sempre a medir as escalas baixas, haverá uma saturação na amplificação de 1000. Cabe ao software, através do método de saturação, selecionar a escala de 1 que está dentro da faixa de medição do conversor A/D. Para medição de corrente o relé de corrente (canal 1) será acionado, fazendo com que resistor de tensão seja curto-circuitado e inserida uma resistência de 0,1? para não interferir no circuito do usuário. Dessa forma, a corrente que passa diretamente pelo resistor gera uma tensão que será amplificada para adequar-se ao conversor A/D. Para medidas de resistência, usa-se o canal 1. O relé que seleciona resistência estará fechado e o divisor de tensão correspondente estará aberto. Assim, toda a queda de tensão no resistor do usuário será transferida diretamente para o módulo de Amplificação. 3.2.7 Canais Existem quatro conectores: um de referência, dois para o canal 1 e um para o canal 2. O canal 1 é destinado para as medidas de tensão, corrente, resistência, continuidade e junção pn. O canal 2 mede apenas valores de tensão, o que permite a realização de cálculos, através do software, de ganho, potência e resistência do circuito energizado. 4. RESULTADOS ESPERADOS Mesmo com toda gama de multímetros digitais existentes no mercado, este projeto, que teve a princípio fins didáticos, tende a conseguir superar custos e versatilidade, tornando-se um produto competitivo e de ampla aplicação prática. Um dispositivo como este pode agilizar os processos de aquisição de dados e, como conseqüência, aumentar a produção e o rendimento dos alunos ou técnicos envolvidos em trabalhos que necessitem da análise de circuitos eletrônicos. 5. CONCLUSÃO A utilização de uma EPLD permite ao projeto ser facilmente adaptado para outros fins mais específicos através da alteração ou inclusão de funções, o que possibilita utilizá-lo em novas aplicações. Futuramente, com pequenas adaptações no software e mudança da linguagem de programação, o multímetro poderá ser conectado diretamente a um PC ou Palm-Top, sendo isso bastante vantajoso dentro de universidades ou até mesmo para técnicos da área. Com o hardware desenvolvido aliado a enorme capacidade de processar os dados medidos, calcular parâmetros, armazenar dados e utilizar fórmulas que podem ser criadas pelos próprios usuários que nenhum multímetro apresenta e que a calculadora HP 48 oferece, obter-se-á um equipamento muito útil, prático e versátil, o que compensará o investimento. 6. BIBLIOGRAFIA [1] BORTOLETO, Christiane Montenegro; LANGNER, Cristiane Garbin. Estudo de Viabilidade / Multímetro para Calculadora HP48G/GX. Curitiba, 2000. 23p. Relatório Técnico (Cadeira de Engenharia de Software) – Engenharia de Computação, Pontifícia Universidade Católica do Paraná. [2] BRAGA, Newton C. Curso de Instrumentação Eletrônica – MULTÍMETROS Volume 1. 1. ed . São Paulo: Saber, fev/2000. [3] HEWLETT PACKARD. Guía del usuario de la calculadora HP 48G. [s.n.t.], 1994. [4] HOROWITZ, Paul; WINFIELD, Hill. The Art of Electronics. 2 ed. USA: Cambridge University, 1998. [5] LALOND, David E.; ROSS, John A. 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