Mulher caiçara: significado na reprodução do modo de vida Alex Sória A. Farias, Júlio César Suzuki Departamento de Geografia/FFLCH/USP Introdução A mulher tem importância fundamental em qualquer comunidade seja ela tradicional, rural ou urbana. Ela é o alicerce na maioria das casas. Mesmo que o homem seja culturalmente considerado o “chefe” da família, cabe, em grande medida, à mulher coordenar e organizar o lar. Tomando como foco o papel das mulheres nas comunidades tradicionais, este trabalho tomará como mediação as mulheres do quilombo do Mandira, localizado no município de Cananéia, extremo sul do estado de São Paulo, região do Vale do Ribeira nos domínios da Serra do Cadeado. A comunidade é considerada tradicional por manter um modo de vida adaptado aos ciclos de reprodução da natureza e dominar técnicas de cultivo, adaptadas ao meio em que vive. e séries fotográficas. Após o trabalho de campo, seguiram-se a transcrição das entrevistas e a confecção de relatórios. Resultados Observou-se a importância da mulher na implantação de uma Unidade de proteção integral em 1969 onde a comunidade se viu obrigada a alterar seu modo de vida consuetudinário, baseado no extrativismo, na pesca e no cultivo de pequenas roças, para o comércio de ostras e o trato com turistas; bem como seu significado na manutenção do conhecimento religioso e de mitos, como o de Yemanjá, rainha do mar e dos peixes; além da manutenção da memória caiçara dos bailes de fandango e dos namoros. Atualmente, ainda, as mulheres se reúnem no galpão de costura, confeccionando artesanato, e integram a organização das festas da comunidade. Considerações finais Objetivo Buscamos discutir a importância da mulher na reprodução do modo de vida tradicional caiçara, na comunidade quilombola do Mandira, tomando como referência a contradição entre manter a tradição local e o vínculo com o capital por intermédio de turistas, bem como a importância das mulheres na conservação da cultura local e sua visão das transformações ocorridas. Metodologia Para atingir o objetivo proposto, os dados foram coletados de maneira direta e indireta, desenvolvendo-se o levantamento secundário com o auxílio de pesquisa documental e bibliográfica, particularmente em relação ao debate do modo de vida caiçara (DIEGUES, 2004) e da memória social (BOSI, 2007), e o levantamento primário mediante a realização de trabalho de campo, com entrevistas, a partir de roteiro semi-estruturado, O trabalho da mulher caiçara e quilombola da comunidade do Mandira não se limita aos afazeres do lar, tal como outrora, quando as atividades desenvolvidas por elas, de maneira geral, eram relacionadas aos cuidados com a casa, família, pequenas hortas e criações de pequenos animais em seu quintal, bem como auxílio na plantação e colheita dos produtos agrícolas. Referência DIEGUES, A. C.. O Mito Moderno da Natureza Intocada. São Paulo: NUPAUB/USP, 2004. BOSI, E. O Tempo vivo da Memória: Ensaios de Psicologia Social. São Paulo: Ateliê, 2007. Pesquisa realizada com apoio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo, junto ao projeto “Geografia da oralidade - Uma recuperação da história oral de populações tradicionais no estado de São Paulo”.