Economia & Política – Os Dilemas do Brexit (I). Carlos Dix Silveira* O fim da segunda guerra mundial deixou destroçada a economia dos países europeus. Os custos do maior conflito internacional de todos os tempos redesenhou o mapa da região e criou conflitos de poder entre antigos aliados e novos adversários como o comunismo da Rússia e de seus satélites. Dessa situação conflituosa e de reciproca desconfiança nasceu a ideia de Robert Schuman, político democrata-cristão luxemburguês, apresentada no documento conhecido como Declaração Schuman, de integração dos países europeus para administração da produção de aço e carvão. Esperava o autor da proposta que tal acordo evitaria novas disputas entre os países produtores da região. Em 1951 foi firmado em Paris o tratado que criava a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), com a participação da Alemanha Ocidental, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e Países Baixos. Foi o inicio de um processo maior de integração de países vencedores e vencidos da grande guerra, que deu origem a União Europeia. A integração passou por várias fases, como Comunidade Europeia, Comunidade Europeia de Defesa (CED), União da Europa Ocidental (UEO), Comunidade Econômica Europeia (CEE), Comunidade Europeia de Energia Atômica (CEEA), Comissão Europeia (CE), Conselho da União Europeia. Foi um longo caminho até se chegar ao estágio atual da União Europeia (UE). A estruturação dessa entidade que hoje congrega 28 países levou mais de cinquenta anos de estudos, elaboração de tratados e aprovação de complexa legislação multinacional e nacional, constantemente revisada e atualizada. O processo de ingresso de um país está detalhado nas normas existentes. A saída de um membro da UE, porém, é um fato novo cuja efetivação exigirá complexa e demorada tramitação nos vários órgãos que compõem essa comunidade. O Reino Unido (RU) constituído pela Inglaterra, País de Gales, Escócia e a Irlanda do Norte, aderiu à União Europeia em janeiro de 1973. Mantém 73 deputados no Parlamento Europeu, presidiu o Conselho da União Europeia por seis meses, em mandato rotativo conforme os estatutos, nos anos de 1977, 1981, 1992, 1998 e 2015. Apesar de participar ativamente da gestão da UE o Reino Unido, ao contrário dos demais participantes, manteve sua moeda nacional. A costura dos tratados e acordos firmados para constituir a UE foi um árduo trabalho que envolveu centenas de especialistas dos 28 países que hoje compõe o grupo. A saída de um membro da UE não deve ser tão rápida como imaginam os britânicos favoráveis ao Brexit. As razões que levaram o RU a se desligar da UE ainda não foram explicadas convicentemente, embora versões as mais diversas estejam correndo nos canais de informações por todo globo. O que prevalece no dia seguinte ao escrutínio do Brexit é um grande dilema. O que vai acontecer agora? Como sair dessa encrenca sem perda econômica, evitando uma crise financeira e social de proporções? Como reverter a queda das principais bolsas mundiais e a da bolsa de Londres que fechou sexta-feira (24) com negativo de 3,15% e 2,55% na segunda-feira (27), acumulando em dois dias queda de 5,62%? Como resolver o problema do emprego de centenas de milhares de cidadãos europeus que trabalham no RU, sem aumentar o desemprego e desestruturar a organização do trabalho na região? Como reorganizar as operações bancárias estruturadas com base na legislação da UE, sem causar prejuízos ao complexo setor bancário doméstico? Como iniciar o processo de desligamento diante de cenário interno e externo adverso e de contrariedade dos principais líderes europeus, como Ângela Merkel, François Hollande, Jean-Claude Juncker da Comissão Europeia, Martin Schulz, Presidente do Parlamento Europeu. Como reorganizar a produção e o comércio exterior hoje regido por legislação e acordos realizados via UE? O fato de que já foram conseguidas mais de três milhões de assinatura numa petição para novo plebiscito é uma indicação de que os britânicos ficaram inseguros em relação ao resultado da primeira consulta e muitos eleitores arrependidos do voto pelo Brexit. A vitória do Brexit se deu com o voto dos eleitores de zonas menos prósperas do Reino Unido, como Inglaterra sem Londres e País de Gales. Aparentemente a saída do Reino Unido da UE, segundo analistas, causará mais prejuízos à economia dos britânicos e da eurozona do que ganhos e soluções para os eventuais problemas existentes. Há muito mais dúvidas do que certezas na consecução do processo de separação. As bolsas internacionais e o mercado de câmbio flutuarão bastante por algum tempo. Aguardemos. *Economista 28/06/2016