vet. em foco v.5, n.2.p65

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VETERINÁRIA EM FOCO
Revista de Medicina Veterinária
Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun. 2008
ISSN 1679-5237
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Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
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VETERINÁRIA EM FOCO
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www.ulbra.br/veterinaria/rfoco.htm
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V586
Veterinária em foco / Universidade Luterana do Brasil. – Vol. 1, n. 1
(maio/out. 2003). –
Canoas : Ed. ULBRA, 2003- .
v. ; 27 cm.
Semestral.
ISSN 1679-5237
1. Medicina veterinária – periódicos. I. Universidade Luterana do Brasil.
CDU 619(05)
Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero
Sumário
83
Editorial
84
Artigos científicos
Diversidade genética de doadoras de embriões das raças Nelore e Aberdeen Angus
Paulo Ricardo Loss Aguiar, Juliano Coelho Silveira, Werner Giehl Glanzner,
José Carlos Ferrugem Moraes, Tania de Azevedo Weimer
93
Análise econômica da terminação de novilhos aos 24 ou 36 meses em pastagem
de azevém (Lolium multiflorum) com ou sem suplementação alimentar
Carlos Santos Gottschall, Pedro Rocha Marques, Leonardo Canali Canellas,
Hélio Radke Bittencourt
102 Análise do sistema de comercialização e do abate de bovinos no estado do Rio
Grande do Sul: um estudo de caso
Luciana F. Christofari, Yara B. P. Suñé, Júlio O. J. Barcellos, Ênio R. Prates,
Ricardo P. Oiagen
121 Avaliação de parâmetros do perfil metabólico e do leite em diferentes categorias
de vacas leiteiras da raça Jersey em rebanhos do Sul do Rio Grande do Sul
Talita B. Roos, Lúcio Vendramin, Elizabeth Schwengler, Maikel Alan Goulart,
Pedro S. Quevedo, Viviane M. Silva, Paola M. Lima Verde, Francisco Augusto
B. Del Pino, Cláudio D. Timm, Carlos Gil-Turnes, Marcio N. Corrêa
131 Urolitíase em novilho nelore não-castrado
Paulo César Amaral Ribeiro, Cícero Araújo Pitombo, Luiz Fernando Oliveira
Caetano, André Gomes Lima, Vagner Sarmento Arêas, Lhilton Vargas Júnior
137 Urolitíase em eqüino
Renato S. Pulz, Camila Silva, Luis A. Scott, Cíntia Simões, Heloísa Santini,
Flávia Facin
143 Pneumonia por Rhodococcus equi
Tamarini Rodrigues Arlas, Marília Corrêa Borba, Cláudia Sant’Anna, Paulo
Ricardo Loss Aguiar, Eduardo Malschizky, Rodrigo Costa Mattos
154 Fármacos injetáveis para a anestesia total intravenosa em cães – revisão de
literatura
Anelise Bonilla Trindade, Luciana Dambrósio Guimarães, Emerson Antonio
Contesini, Cristiano Gomes, Paula Cristina Basso
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
81
173 Opióides de curta ação em infusão contínua no transoperatório de cães e gatos:
revisão bibliográfica
Giordano Cabral Gianotti, Wanessa Krüger Beheregaray, Emerson Antonio
Contesini
191 Ceratoconjuntivite seca em cães – revisão de literatura
João Antonio Tadeu Pigatto, Fabiana Quartiero Pereira, Ana Carolina da
Veiga Rodarte de Almeida, Raquel Redaelli, Luciane de Albuquerque
201 Tempo de sobrevida de cães com imagem radiográfica compatível com neoplasia
óssea no esqueleto apendicular, sem o uso de quimioterapia
Cristiano Gomes, Ruben Lundgren Cavalcanti, Lisiane Foerstnow, Camila
Spagnol, Vanessa Bergel Lipp, Kelly Cristine Ferreira, Luciana Oliveira de
Oliveira, Raquel Machnacz Kroetz, Emerson Antonio Contesini, Rosemari
Teresinha Oliveira
207 Normas editoriais
82
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
Editorial
A partir do volume anterior (volume 5, n0 1), os leitores constataram mudanças na
formatação da revista Veterinária em Foco, estando mais condensada na dimensão de
16 por 23 cm e com maior aproveitamento dos espaços internos, bem como da capa e
contracapa. Esta apresentação em tamanho menor não significou diminuição no volume
nem no número de artigos, pois está sendo mantida a média de números anteriores,
bem como o padrão de impressão. Em nosso entender, a forma e o tamanho dos volumes
atuais da revista, ao contrário de influir na qualidade, torna seu manuseio mais prático.
Quanto aos artigos, a revista tem um fluxo contínuo de recebimento de trabalhos
científicos e dissertações, que estão sendo analisados em boa proporção garantindo a
qualidade de edições posteriores. Professores pesquisadores de diferentes
Universidades, incluindo-se os do curso de Medicina Veterinária da ULBRA, vêm
divulgando temas científicos diversificados e importantes assegurando o processo de
evolução da qualidade científica da Veterinária em Foco.
Observa-se que atualmente há um “saudável” excesso de artigos para cada número
a ser editado, resultado da contribuição crescente de pesquisadores brasileiros, que
consideram adequado o patamar até o momento atingido pela revista, facilitando o
funcionamento das engrenagens que impulsionam cada vez mais rapidamente nosso
órgão de divulgação para níveis ainda mais elevados.
Comissão Editorial
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
83
Diversidade genética de doadoras de
embriões das raças Nelore e Aberdeen Angus
Paulo Ricardo Loss Aguiar
Juliano Coelho Silveira
Werner Giehl Glanzner
José Carlos Ferrugem Moraes
Tania de Azevedo Weimer
RESUMO
Foi analisada a diversidade genética, em doadoras de embrião puras de origem das raças
Nelore e Aberdeen Angus, através de marcadores moleculares (6 repetições curtas em tandem e
3 polimorfismos de um nucleotídeo) ligados à reprodução. A variação observada do número de
alelos detectados nas raças Nelore e Angus foi de 2 a 8 e 1 a 10, respectivamente. As duas raças
não apresentaram freqüências alélicas semelhantes em nenhum dos sistemas estudados e alguns
alelos foram observados somente em uma das raças, como para A. Angus BMS3004 129, HEL5
161, e, para Nelore BMS3004 132, 138, HEL5 149 e AFZ 111. Os valores de heterozigose
esperada, nos diversos sistemas, em A. Angus variou de 0 a 87%, enquanto que, em Nelore,
oscilou entre 0,03 e 0,75, sendo as médias de 56 e 50%, respectivamente. Conclui-se que as
práticas seletivas aplicadas a estes rebanhos não afetaram grandemente a variabilidade genética
dos mesmos. A diversidade entre rebanhos foi bastante alta, refletindo-se em baixa probabilidade (6x10-9) de encontrar dois indivíduos geneticamente identicos, um de cada rebanho.
Palavras-chave: Doadoras de embrião. Diversidade genética. Marcadores moleculares.
Genetic diversity of embryos donors of Nellore and Aberdeen Angus
breeds
ABSTRACT
This paper analyzed the genetic diversity of embryos donors from Nellore and Aberdeen
Angus pure of origin breeds, through molecular markers (6 short tandem repeats and 3 single
nucleotide polymorphisms) linked to reproduction. The variation observed in the number of
alleles in Nellore and A. Angus breeds was 2 to 8 and 1 to 10, respectively. No similarity in
allele frequencies was observed in both breeds in all investigated systems, and some alleles were
exclusive of one of the herds, such as BMS3004 129, HEL5 161, in A. Angus, and BMS3004
Paulo Ricardo Loss Aguiar – Med. Vet. Msc Professor Adjunto do Curso de Medicina Veterinária ULBRA/RS.
Juliano Coelho Silveira – Biólogo, Msc Pesquisador.
Werner Giehl Glanzner é Bolsista de Iniciação Científica - Laboratório de Biotecnologia do Hospital Veterinário da ULBRA Canoas.
José Carlos Ferrugem Moraes – Doutor, Pesquisador da EMBRAPA Pecuária Sul, Bagé/RS.
Tania de Azevedo Weimer – Profa. Doutora do Curso de Medicina Veterinária ULBRA, Canoas/RS.
Endereço para correspondência: Laboratórios de Fisiopatologia da Reprodução dos Animais Domésticos e
de Biotecnologia, do curso de Veterinária da ULBRA Canoas. E-mail: [email protected]
p . 82008
5-92
v. 5 v.5, n.2,
n.2jan./jun.
8 4Veterinária em Foco Veterinária
Canoasem Foco,
jan./jun. 2008
132, 138, HEL5 149 e AFZ 111, in Nellore. The expected heterozygosis varied from 0 to 87%
in A. Angus, and from 0.03 to 0.75 in Nellore, the average values being of 56 e 50%, respectively.
Therefore the selective practices applied to the breeds seem have not affected their genetic
variability. The diversity between breeds were very high and resulted in a very low probability
(6x10-9) to find two identical animals, one from each breed.
Keywords: Embryos donors. Genetic diversity. Molecular markers.
INTRODUÇÃO
Os principais tipos de bovinos criados em todo o mundo são os zebuínos (Bos
primigenius indicus) e os taurinos (Bos primigenius taurus; INTERNATIONAL
COMMISSION ON ZOOLOGICAL NOMENCLATURE, 2003), os primeiros de origem
indiana e os outros procedentes da Europa, e, devido a sua completa interfertilidade,
devem ser considerados como variações geográficas de uma mesma espécie (EPSTEIN,
1971; EPSTEIN; MASON, 1984; PAYNE, 1991; LOFTUS et al., 1994). Segundo a
Associação Nacional de Criadores de Zebuínos, a raça Nelore apresenta o maior número
de criadores e animais registrados nesta entidade, enquanto que a Associação Nacional
de Criadores – Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como a líder em
registros, nas de origem Européia.
Análises de polimorfismos curtos em tandem e de seqüências do DNA mitocondrial
revelaram que os ancestrais dos zebuínos e taurinos divergiram algumas centenas de
milhares de anos atrás e, que resultaram de eventos independentes de domesticação
(LOFTUS et al., 1994; MACHUGH et al., 1997).
Taurinos e zebuínos possuem diferenças morfológicas e fisiológicas que refletem
não só as mudanças ambientais onde estes animais se adaptaram, como diferentes
seleções genéticas aplicadas ao longo do tempo. Os animais foram submetidos,
historicamente, à seleção para a produção de leite e/ou carne, e em seguida, para
ausência de aspas, e cor de pelagem, resistência a doenças, docilidade e fertilidade.
Na pecuária brasileira, várias técnicas têm sido introduzidas visando aumentar a
eficiência da produção de animais puros, na tentativa de atender à grande demanda de
seus descendentes, e, principalmente, permitir uma expansão do mercado consumidor,
ávido por um produto de melhor qualidade a um menor custo. Entre estas técnicas,
destaca-se a transferência de embriões (TE), que tem mostrado não somente ser um
instrumento capaz de melhorar a performance produtiva, mas também possuir grande
importância no campo de investigação científica. De acordo com Land e Hill (1975) o
emprego da Múltipla Ovulação e Transferência de Embriões (MOET) aumenta em
quase duas vezes a taxa de ganho genético obtida em comparação com as estratégias
de programas de reprodução tradicionais.
Abordagens mais específicas que permitam o conhecimento de parâmetros
genéticos relativos a características da variabilidade das respostas das vacas doadoras
de embriões aos programas de superovulação são uma necessidade inerente à
aplicabilidade desta biotécnica. Com o aumento do conhecimento sobre o genoma
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
85
animal e, conseqüentemente, da posição e efeito de locos principais para características
quantitativas, tornou-se possível, utilizando-se marcadores moleculares, modificar-se
as técnicas tradicionais de seleção, baseadas exclusivamente no aspecto fenotípico
(DENTINE, 1999). Para Weimer et al. (2003) e Garcia e Porto-Neto (2006) os marcadores
moleculares, além de serem empregados para caracterizarem geneticamente populações,
raças, espécies, para estudos de genealogias e controle de paternidade, podem ajudar
a eliminar os inconvenientes da seleção baseada em análises exclusivas de fenótipo.
As primeiras aplicações de marcadores moleculares na produção animal envolveram a
identificação de características condicionadas por um loco principal. Estas, devido ao
padrão de herança mais simples, são mais fáceis de detectar, e por isso, já existem
muitos exemplos de marcadores empregados para identificar, corretamente, animais
portadores de características monogênicas. Davis e DeNise (1998) comentam que os
marcadores moleculares podem auxiliar técnicas reprodutivas avançadas como
ovulações múltiplas, transferência de embriões, cultura de células primordiais,
maturação e fertilização in vitro, pois permitem a identificação de genes específicos
introduzidos no rebanho ou raças de interesse.
A primeira estratégia para a aplicação de marcadores moleculares na seleção animal
é, no entanto, o conhecimento da variabilidade genética dos rebanhos-alvo. Assim, este
trabalho avaliou a diversidade genética, em nove marcadores moleculares (seis
polimorfismos curtos em tandem, STRs e três polimorfismos de um único nucleotídeo,
SNPs), em dois rebanhos bovinos selecionados para a transferência de embriões.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram analisadas 59 doadoras de embrião da raça Aberdeen Angus e 60 da raça
Nelore, sendo todos os animais puros de origem e registrados nas suas respectivas
associações. Os animais da raça Nelore foram obtidos de uma única central de
transferência de embriões, localizada no Estado do Mato Grosso do Sul, incluindo
vacas de diferentes origens, enquanto que as amostras de Aberdeen Angus foram
oriundas de 5 diferentes propriedades localizadas no Estado do Rio Grande do Sul.
Os DNAs foram preparados a partir de células sangüíneas, de amostras recolhidas
em tubos contendo anticoagulante à base do sal de sódio ácido Etileno Diamino Tetra
Acético (EDTA), congeladas e remetidas ao Laboratório de Biotecnologia da Faculdade
de Medicina Veterinária da ULBRA, localizada no município de Canoas/RS, região
metropolitana de Porto Alegre. Ao chegar ao laboratório, foram processadas as
extrações dos DNAs, utilizando-se a técnica descrita por Miller et al. (1988).
Os STRs foram investigados através da amplificação do DNA por PCR, com
técnica padrão e “primers” e temperaturas de anelamento específicas (Tabela 1), com
um volume final de 25ml e contendo 50ng de DNA.
86
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
TABELA 1 – Marcadores analisados, seqüências dos primers, tamanhos esperados dos produtos de
amplificação em pares de bases (pb), temperatura de anelamento (TA) e referências.
Marcadores
BM4325
ILSTS002
BMS3004
LepSau3A1
IDVGA51
HEL5
AFZ1
FSHR
a
Seqüência do Primers
F- 5’AGA GTC AGA CAG GAC TGA GCG 3’
R- 5’CTG TAA CTT GCA AAT GCA AAT GTC TCG 3’
F- 5’TCT ATA CAC ATG TGC TGT GC 3’
R- 5’CTT AGG GGT GAA GTG ACA CG 3’
F- 5’GGA CAG AGG AGC CTG GTT G 3’
R- 5’AGT TGC GTT GTT CAT CAT TCC 3’
Produtos (pb)
97-117
64-54ºCa
123-137
54ºC
129-138
56ºC
F- 5’GTC ACC AGG ATC AAT GAC AT 3’
A/B :400
R- 5’AGC CCA GGA ATG AAG TCC AA 3’
1/2: 690
F- 5’ATG GCA ATA TTT TGT TCT TTT TC 3’
R- 5’ATT CCT TGA TGG TCT AAT GGT TA 3’
F- 5’GCA GGA TCA CTT GTT AGG GA 3’
R- 5’AGA CGT TAG TGT ACA TTA AC 3’
F- 5’TTG GAC GAC AAA ACT CAC GG 3’
R- 5’GTG GCT GGA CTG GTC TGG TT 3’
F- 5’ CTGCCTCCCTCAAGGTGCCCCTC 3’
R- 5’ AGTTCTTGGCTAAATGTCTTAGGGGG 3’
TA
54ºC
Referências
KAPPES et al., 1997
STONE et al., 1997
KEMP et al., 1992
STONE et al., 1996
KAPPES et al., 1997
POMP et al., 1997
WILKINS e DAVEY., 1997
175-183
50ºC
KAPPES et al., 1997
147-169
58ºC
BISHOP et al., 1994
151-129
50ºC
JORGENSEN et al., 1996
306
58°C
HOUDE et al., 1994
PCR com “touchdown”.
Os produtos da amplificação da PCR foram analisados em gel vertical de
poliacrilamida não desnaturante (LAHIRI et al., 1997). Os fragmentos foram analisados,
após a coloração com nitrato de prata, usando para comparação, o marcador de peso
molecular de 25 pb (Promega).
Para a análise dos SNPs LepSau3A1 e FSHR, os produtos de amplificação foram
clivados com as endonucleases Sau3A1 (Promega) e Alu I (New England),
respectivamente, conforme o protocolo dos fabricantes. Os produtos de clivagem
foram analisados em gel vertical de poliacrilamida (SAMBROOK; RUSSELL, 2001).
As freqüências alélicas e genotípicas foram computadas por contagem direta. A
heterozigosidade esperada (H) e a probabilidade de identidade foram estimadas de
acordo com Nei (1978) e Van Zeveren et al., 1990.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As freqüências alélicas dos STRs e SNPs analisados em doadoras de embrião
das raças Nelore e Aberdeen Angus, estão apresentadas na Tabela 2. A variação
observada, no número de alelos detectados nas raças Nelore e Angus foi de 2 a 10 e 1
a 10, respectivamente. As duas raças não apresentaram freqüências alélicas semelhantes
em nenhum dos sistemas estudados e alguns alelos foram observados somente em
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
87
uma das raças, como BMS3004 129, HEL5 161, em A. Angus e BMS3004 132, 138,
HEL5 149 e AFZ 111, em Nelore.
Na Tabela 2 verifica-se, também, que animais da raça A. Angus, quando
comparados com os Nelores, apresentaram uma maior freqüência dos alelos 103 e 105
para o STR BM4325, enquanto, na raça Nelore, houve maior freqüência do alelo 101.
Estes foram também os alelos mais prevalentes em rebanhos das raças Aberdeen
Angus e Gado Geral, previamente analisados (SILVEIRA, 2007).
Para o sistema BMS3004, a amostra de Aberdeen Angus mostrou-se monomórfica,
para um alelo distinto dos observados em Nelore, sendo que nesta raça, o alelo 132 foi
o mais freqüente. O monomorfismo observado em BM3004, na raça A Angus, havia
sido descrito por Silveira (2007), trabalhando com animais puros de origem, da mesma
raça, mas de rebanho distinto deste, podendo-se supor uma origem taurina para o
mesmo. Esta hipótese pode ser confirmada ao não ser observado este alelo nos 60
animais da raça Nelore estudados, nos quais foram constatados, apenas os alelos
BMS3004 132 e 138. Adicionalmente, Steigleder et al. (2004), Silveira (2007) e Weimer
et al. (2007) encontraram, em rebanhos de origem taurina, freqüências de 0,59, 0,66 e
0,64 respectivamente, para este alelo, sendo este último valor similar ao que seria
esperado em animais com um componente 5/8 Aberdeen Angus (Brangus-Ibagé)
admitindo-se que a população A. Angus que originou a raça fosse também monomórfica
para tal alelo.
No marcador molecular ILSTS002 foi observado que os alelos 133 e 135
foram os mais incidentes para a raça Aberdeen Angus, enquanto, para a raça Nelore
as maiores freqüências ficaram com os alelos 137 e 135. As freqüências mais
observadas nas vacas Brangus-Ibagé e Gado Geral foram para os alelos 133, 135
e 135, 137, respectivamente, (WEIMER et al., 2007; SILVEIRA, 2007) e na raça A.
Angus, para o alelo 135 (SILVEIRA, 2007). Os valores dos alelos 133, 135 e 137
observados por Weimer et al. (2007), para o rebanho Brangus-Ibagé, manteve a
proporcionalidade referente à participação de cada subespécie na formação da
raça híbrida.
As freqüências alélicas do sistema IDVGA51 indicam que, para a raça Aberdeen
Angus, o alelo 175 foi altamente incidente seguido pelo 183; já em Nelore, este marcador
comportou-se de forma adversa, sendo constatado que o alelo 177 foi o mais freqüente,
seguido de 175 e 181. Em pesquisas anteriores o alelo 175 tem sido observado como
o mais freqüente, na maioria das populações (ALMEIDA et al., 2003, 2007; STEIGLEDER
et al., 2004, SILVEIRA; 2007).
Problemas na amplificação de algumas amostras da raça Nelore, para o
marcador HEL5, provocaram uma variação no número de indivíduos analisados
neste sistema, sendo o total estudado foi de 52 doadoras. A Tabela 2 mostra, na
raça Aberdeen Angus, uma freqüência maior para os alelos 165, 153 e 167 e, na
Nelore, houve uma alta freqüência do alelo 151 seguido do 153. Silveira (2007)
descreve os alelos 151 e 165 como os mais freqüentes, em A. Angus, enquanto
88
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
Oliveira et al (2005) verificaram valores mais altos para 163 e 165, em um rebanho
Brangus-Ibagé.
Os valores observados para as freqüências alélicas no marcador AFZ-1, nas
vacas Aberdeen Angus, foram maiores para o alelo 123, seguido de 117 e 125. Na raça
Nelore, o destaque deu-se para o alelo 121, sendo que os alelos 113 e 123 também
foram freqüentes, embora com um menor percentual. Estes alelos também apresentaram
altas freqüências em outros rebanhos bovinos previamente investigados (OLIVEIRA
et al. 2005; SILVEIRA, 2007).
No marcador FSHR, para a raça Aberdeen Angus ocorreu uma homogeneidade
para os alelos C e G, enquanto na raça Nelore, o alelo G foi superior em freqüência em
relação ao alelo C. Freqüências mais elevadas do alelo G foram também relatadas por
Marson et al. (2004) em animais híbridos taurinos/zebuínos.
Nos sistemas LEPSau3A1(A/B) e LEPSau3A1(1/2), os alelos A e 1 foram os
mais freqüentes, em ambas as raças, similar ao previamente observado em animais
das raças Aberdeen Angus, Brangus-Ibagé e Gado Geral (ALMEIDA et al. 2003,
2007; SILVEIRA, 2007).
Variações nas freqüências alélicas entre raças e, principalmente, entre rebanhos
de uma mesma raça refletem, provavelmente, diferenças nas estruturas de cruzamentos
utilizadas, no manejo aplicado aos vários plantéis e/ou nas práticas seletivas, que em
geral visam objetivos distintos. Este último fator, pode, muitas vezes resultar em perda
da variabilidade genética do rebanho.
A Tabela 2 apresenta, também, os valores de heterozigose esperada (H), nos
diversos sistemas; em A. Angus, H varia de 0 a 87%, sendo a media entre sistemas, de
0,56, enquanto em Nelore tal parâmetro oscilou entre 0,03 e 0,75, com média de 0,50.
Esses resultados de valores razoavelmente altos de diversidade genética são similares
ao previamente descrito em outros rebanhos bovinos e sugerem que as práticas
seletivas aplicadas a estes rebanhos não interferiram, grandemente, na variabilidade
genética dos mesmos.
A diversidade entre os rebanhos foi bastante alta, refletindo-se em baixos valores
de probabilidade de identidade entre as raças estudadas (PI), que oscilou entre zero e
6 % nos STRs e de 35 a 64%, nos SNPs (Tabela 2). Nestes últimos marcadores os
valores são em geral mais altos, por se tratarem de sistemas dialélicos. O uso simultâneo
dos nove sistemas investigados indica a grande variabilidade inter-populacional, já
que a chance de dois indivíduos, um de cada rebanho, apresentarem o mesmo genótipo,
é de 6x10 -9, ou praticamente nula, principalmente considerando os tamanhos
populacionais.
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
89
TABELA 2 – Freqüências alélicas dos marcadores moleculares nas diferentes amostras de Nelore e A. Angus.
Marcadores
Amostras
ALELOS
H
PI
STRs
BM4325
97
99
101
103
105
107
Nelore
0,08
0,16
0,45
0,20
0,10
0,01
0,72
A. Angus
0,01
0,04
0,12
0,33
0,41
0,09
0,71
BMS3004
129
Nelore
A. Angus
132
138
0,76
0,24
0,36
1,0
0,00
ILSTS002
127
129
131
133
135
137
139
141
Nelore
0,03
0,05
0,10
0,17
0,19
0,41
0,04
0,01
0,75
A. Angus
0,11
0,01
0,07
0,30
0,30
0,13
0,06
0,02
0,79
IDVGA51
173
175
177
179
181
183
Nelore
0,01
0,20
0,49
0,10
0,15
0,05
0,69
A. Angus
0,01
0,58
0,11
0,04
0,07
0,17
0,62
HEL5
149
151
153
155
157
159
Nelore
0,02
0,50
0,20
0,15
0,07
0,01
0,05
0,19
0,10
0,06
0,02
A. Angus
161
0,04
163
165
167
169
0,01
0,01
0,02
0,01
0,69
0,12
0,20
0,15
0,07
0,87
AFZ1
111
113
115
117
119
121
123
125
Nelore
0,04
0,21
0,02
0,01
0,06
0,43
0,22
0,01
0,72
0,10
0,03
0,15
0,07
0,10
0,40
0,15
0,78
A. Angus
0,05
FSHR
C
G
Nelore
0,25
0,75
0,39
A. Angus
0,50
0,50
0,50
0,00
0,05
0,06
0,01
0,04
0,35
H: heterozigose esperada; PI: probabilidade de identidade entre rebanhos
CONCLUSÕES
A análise da diversidade genética de fêmeas doadoras de embriões, realizada
através de nove marcadores moleculares, em duas raças bovinas (Nelore e Aberdeen
Angus) indicou considerável variabilidade intra-populacional, sugerindo que as
práticas seletivas aplicadas aos rebanhos não interferiram em seus níveis de diversidade.
A variabilidade inter-populacional foi bastante elevada, de modo que a probabilidade
de encontrar dois indivíduos, geneticamente idênticos, retirados aleatoriamente cada
um de um rebanho é próximo de zero.
90
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
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Recebido em: mar. 2008
92
Aceito em: maio 2008
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
Análise econômica da terminação de novilhos
aos 24 ou 36 meses em pastagem de azevém
(Lolium multiflorum) com ou sem
suplementação alimentar
Carlos Santos Gottschall
Pedro Rocha Marques
Leonardo Canali Canellas
Hélio Radke Bittencourt
RESUMO
O objetivo do presente trabalho foi avaliar o desempenho econômico de novilhos de corte
submetidos a dois sistemas de terminação intensiva para abate aos 24 ou 36 meses. Foram
utilizados 68 novilhos de corte com base racial britânica, sendo 37 novilhos terminados em
pastagem de azevém (Lolium multiflorum) recebendo concentrado na base de 0,8% do peso
vivo, abatidos em média aos 24 meses (grupo 2A) e 31 novilhos terminados exclusivamente em
pastagem de azevém, abatidos em média aos 36 meses (grupo 3A). O peso médio inicial (PMI),
o ganho médio diário de peso (GMD), o tempo médio de permanência (TMP) e o peso médio
de abate (PMA) foram, respectivamente, de 283,49 kg, 0,967 kg/dia, 100,8 dias e 380,65 kg
para o grupo (2A); e 322,10 kg, 1,024 kg/dia, 84,3 dias e 407,07 kg para o grupo (3A). A partir
destas informações, associadas aos custos de alimentação e compra dos animais, procedeu-se
uma análise econômica considerando os seguintes custos variáveis de produção: custo de compra/kg; custo de compra/animal; custo de alimentação/animal; custo total/animal; receita bruta/
kg; margem bruta/animal; lucratividade no período; lucratividade/mês; custo de produção/kg
produzido; e custo de produção/kg comercializado. O custo de compra/kg foi de R$ 1,60 para
todos os animais, enquanto a receita bruta/kg foi de R$ 2,18 e R$ 2,09, respectivamente para 2A
e 3A. Animais mais jovens e com menor peso inicial (grupo 2A) necessitaram de maior ganho de
peso para atingir o grau de acabamento desejado, permanecendo mais tempo em terminação. A
utilização do suplemento e o maior TMP geraram maior custo de alimentação/animal para o
grupo 2A. A receita bruta/kg obtida pelo grupo 2A proporcionou margem bruta/animal e
lucratividade no período semelhantes ao grupo 3A. A elevada diferença de preço compra/venda
foi o principal fator responsável pelo retorno econômico positivo das duas idades à terminação.
Palavras-chave: Novilhos de corte. Desempenho econômico. Custos de produção.
Carlos Santos Gottschall é Médico Veterinário. Mestre em Zootecnia. Faculdade de Medicina Veterinária da
ULBRA.
Pedro Rocha Marques é Acadêmico em Medicina Veterinária da ULBRA.
Leonardo Canali Canellas é Acadêmico em Medicina Veterinária da ULBRA e Bolsista de Iniciação Científica
– PROICT/ULBRA.
Hélio Radke Bittencourt é Estatístico, Mestre em Sensoriamento Remoto e Professor Assistente do Departamento de Estatística da PUCRS.
Endereço para correspondência: Av. Farroupilha, 8001, Bairro São Luís – CEP 92420-280. Canoas RS. Email: [email protected]
p . 9 32008
-101
Veterinária em Foco Veterinária
v. 5 v.5, n.2,
n.2 jan./jun.
Canoas em Foco,
jan./jun. 2008 9 3
Economic performance of finish beef steers slaughtered at 24 or 36
months old grazing Lolium multiflorum pasture with or without
supplementary feed
ABSTRACT
The main objective of this research was to evaluate the economic performance of finish
beef steers, from two production systems, slaughtered at 24 or 36 months old. Sixty eight
British beef steers were divided in two groups: 37 steers finished in Loliuum multiflorum
pasture supplemented with 0.8 % of live weight in concentrate, slaughtered with 24 months old
(24 group) and 31 steers finished in Loliuum multiflorum without supplementary feed,
slaughtered with 36 months old (36 group). Beginning weight (BW), average daily gain (ADG),
days on feed (DF), slaughter weight (SW) were, respectively, 283.49 kg, 0.967 kg/day, 100.8
days and 380.65 kg for 24 group; and 322.10 kg, 1.024 kg/day, 84.3 days and 407.07 kg for 36
group. Using those biological data, associated with feed and purchase costs, were analyzed
purchase cost/kg; purchase cost/steer; feed cost/steer; total cost/steer; sell value/kg; gross
margin/steer; profit on the period; profit/month; production cost/kg produced; and production
cost/sold kg. Purchase cost/kg was R$ 1.60 for both groups. Sell value/kg was R$ 2.18 and R$
2.09, respectively for 24 and 36 groups. Younger and lighter steers (24 group) needed higher
weight gain and more days on feed than 36 group to reach the fat level. Supplementary feed and
DF results in higher feed cost/animal for 24 group. Purchase value/kg allowed similar gross
margin/steer and profit on the period for both groups. The high difference between purchase
and sale value was the main variable that affected the economic performance in both groups.
Keywords: Beef steers. Economic performance. Production costs.
INTRODUÇÃO
A competitividade da bovinocultura de corte frente a outras explorações
agropecuárias depende da máxima eficiência de produção, planejamento adequado e
redução de custos, visando à obtenção de maiores lucros (SAMPAIO et al., 2001). Nos
últimos anos a atividade pecuária de corte vem apresentando sucessivas quedas de
rentabilidade, principalmente devido ao aumento desproporcional dos custos de
produção em relação ao preço do produto final (HECK et al., 2006). Nesse contexto, o
desafio da pecuária de corte no Brasil tem sido de estabelecer sistemas de produção
que sejam capazes de produzir, a baixo custo, animais jovens e que apresentem carcaças
com características adequadas às exigências do mercado (EUCLIDES et al., 2001).
Segundo Beretta et al. (2001), através da redução da idade de abate é possível
aumentar a produção de peso vivo/hectare e a taxa de desfrute do rebanho,
proporcionando a obtenção de maior rentabilidade ao sistema de produção. A
utilização de recursos alimentares como concentrados e pastagens cultivadas auxilia
no processo de redução da idade de abate através do incremento na taxa de ganho
de peso (ANUALPEC, 2003). Além disso, a suplementação energética em pastagem
cultivada de estação fria é uma alternativa para propiciar aumento de lotação, já
que o suplemento energético tende a substituir parte do consumo de pastagem
(PASCOAL et al., 1999).
94
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
A introdução de novas tecnologias ao sistema de produção, em um primeiro
momento, gera aumento dos custos diretos da empresa rural (ROCHA et al., 2003).
Somado a isso, a produtividade e a rentabilidade freqüentemente não cobrem esses
custos, devido a falhas ou falta de informações completas e adequadas para a utilização
eficiente da técnica proposta (GOTTSCHALL, 1999a). Portanto, é fundamental que a
opção pelo uso da suplementação tenha como base uma análise de rentabilidade, e
essa, por sua vez, será dependente das restrições econômicas do sistema de produção
(ROCHA, 1999). O objetivo do presente experimento foi analisar a eficiência econômica
de dois sistemas de terminação de novilhos aos 24 ou 36 meses submetidos a diferentes
sistemas de terminação em pastagem de inverno com ou sem suplementação alimentar.
MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho foi realizado entre 09/06 e 16/10/2006 em uma propriedade particular
situada no município de Glorinha, Rio Grande do Sul. Foram coletados dados de 68
novilhos cruzas Angus, Devon e Nelore, divididos em dois grupos: o grupo 2A,
composto por 37 novilhos, com peso médio inicial (PMI) de 283,49 kg, foi submetido à
terminação em pastagem de azevém (Lolium multiflorum) recebendo suplementação
com concentrado até serem abatidos em média aos 24 meses de idade. O grupo 3A era
composto por 31 novilhos com PMI de 322,10 kg, e foram terminados exclusivamente
em pastagem de azevém até serem abatidos em média aos 36 meses de idade.
Os novilhos, identificados individualmente, foram pesados no início do
experimento, posteriormente a cada 20 dias para ajustes na dieta e por ocasião das
vendas. Foram calculadas as variáveis peso médio inicial (PMI), tempo médio de
permanência (TMP), ganho de peso médio diário (GMD), peso médio de abate (PMA),
ganho médio de peso (GP) e porcentagem de ganho de peso (%GP). As pesagens
realizadas sempre pela manhã, e com jejum total prévio de 12 a 14 horas. Os abates
foram realizados de forma escalonada, utilizando como critério para a venda dos animais
o grau de acabamento, expresso pela visualização de gordura subcutânea. O peso de
carcaça foi obtido através da pesagem da carcaça fria.
O suplemento, fornecido ao nível de 0,8% do peso vivo (PV) para os animais do
Grupo 2A, era composto por milho, farelo de arroz e calcário calcítico. A proporção de
cada ingrediente utilizado na composição do suplemento era variável, buscando
assegurar níveis médios estimados de 12% de proteína bruta (PB) e 81% de nutrientes
digestíveis totais (NDT). A carga animal na pastagem de azevém foi de 550 kg de PV/ha
para o grupo 2A e de 400 kg de PV/ha para o grupo 3A. A carga animal foi calculada
com base na oferta visual de forragem para os dois grupos. No caso do grupo 2A, foi
considerado o efeito substitutivo do suplemento sobre o consumo da pastagem.
Na análise econômica somente foram computados os custos variáveis. Os custos
computados para os 2A foram: adubo de cobertura sobre pastagem de azevém, custo
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
95
de compra/animal e custo do suplemento. Para os 3A foram contabilizados os custos
referentes ao adubo de cobertura sobre pastagem de ressemeadura de azevém, e custo
de compra/animal. A pastagem utilizada era proveniente de ressemeadura natural em
lavoura de soja, não havendo custo de implantação. O custo da pastagem/animal foi
calculado com base na carga animal utilizada e no tempo de permanência de cada
novilho em processo de terminação. As variáveis utilizadas para a análise econômica
foram: receita bruta/kg, custo de alimentação/animal, custo de compra/animal, custo
total/animal, custo de produção/kg produzido, custo total/kg comercializado, margem
bruta/animal, diferença de preço compra/venda e lucratividade no período,
lucratividade/mês.
Para comparação das variáveis (todas quantitativas) entre as duas idades foi
utilizado o teste paramétrico t de Student e o coeficiente de correlação de Pearson.
Também foi utilizado um modelo linear (ANOVA) onde o peso inicial foi considerado
como co-variável e a idade ao abate como fator. O objetivo deste modelo é eliminar o
efeito do peso inicial sobre as demais variáveis. Os dados foram organizados em
planilha do Microsoft Excel e analisados no pacote estatístico SPSS versão 11.5.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 1, podem ser visualizados dados referentes ao desempenho biológico
dos animais submetidos aos dois sistemas de terminação (grupos 2A e 3A).
TABELA 1 – Peso médio inicial (PMI) em kg, tempo médio de permanência (TMP) em dias, peso médio de
abate (PMA) em kg, ganho de peso médio diário (GMD) em kg/dia, ganho de peso (GP) em kg, porcentagem
de ganho de peso (%GP), peso médio de carcaça (PC) e rendimento médio de carcaça (RC) dos animais
submetidos aos diferentes sistemas de terminação (Grupos 2A e 3A).
Variável
2A
3A
PMI (kg)
283,49a
322,10b
TMP (dias)
100,76a
84,29b
PMA (kg)
380,65a
407,07b
GMD (kg)
0,967a
1,024ª
GP (kg)
97,16A
84,98B
GP (%)
34,50A
26,80B
PC (kg)
206,92ª
212,03ª
RC (kg)
54,34ª
52,08ª
a,b na linha, diferem significativamente entre si (p<0,01).
A, B na linha, diferem significativamente entre si (p<0,05).
Na Tabela 2 podem ser visualizados dados referentes à análise econômica do
processo de terminação, baseada nos custos variáveis de produção bem como nas
receitas obtidas com a venda dos animais.
96
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
TABELA 2 – Custo de compra/kg, custo de compra/animal, custo de alimentação/animal, custo total/animal,
custo de produção/kg produzido, custo total/kg comercializado, receita bruta/kg, receita bruta/animal,
margem bruta na engorda, margem bruta na compra/venda, diferença de preço compra/venda, lucratividade
no período, lucratividade/mês.
Variável
Custo de compra/kg (R$)
Custo de compra/animal (R$)
Custo de alimentação/animal (R$)
Custo total/animal (R$)
Custo de produção/kg produzido (R$)
Custo total/kg comercializado (R$)
2ª
1,60ª
453,58ª
118,89ª
572,47ª
1,26ª
1,51ª
3ª
1,60ª
515,36b
70,80b
586,16ª
0,85b
1,44b
Receita bruta/kg (R$)
Receita bruta/animal (R$)
2,18ª
852,37ª
2,09b
831,57a
Margem bruta/animal (R$)
259,10ª
Diferença de preço compra/venda (R$)
26,57a
Lucratividade no período (%)
45,19ª
Lucratividade/mês (%)
13,70a
a,b na linha, diferem significativamente entre si (p<0,01).
266,21ª
23,44b
45,41ª
16,88b
O custo de compra/kg foi o mesmo para os dois grupos, no entanto, o custo de
compra/animal foi superior (p<0,01) para 3A em relação à 2A (R$ 515,35 vs R$ 453,58),
em função do maior PMI dos animais do grupo 3A no momento da compra. O custo de
compra/animal representou, em relação ao custo total, 79,23% e 87,9% respectivamente
para 2A e 3A, indicando que a aquisição dos animais foi a fração mais onerosa dentre
os custos de produção considerados. Peres et. al. (2004) relatam que o custo de compra/
animal está entre os custos de maior impacto sobre a viabilidade econômica em processos
de terminação intensiva. Lopes e Magalhães (2005) ressaltam a importância de uma
boa compra, afirmando que uma pequena economia na aquisição dos animais gera
redução considerável do custo total.
O custo de alimentação/animal foi superior (p<0,01) para os 2A em relação aos 3A
(R$ 118,89 vs R$ 70,80), e representou, respectivamente, 20% e 12% do custo total da
terminação. O custo de alimentação/animal está relacionado ao tempo de permanência
e ao sistema de terminação ao qual os animais foram submetidos. Ou seja, o maior
custo de alimentação verificado para o grupo 2A em relação ao grupo 3A pode ser
atribuído ao maior (p<0,01) TMP (100,75 vs 84,29 dias) desses animais em pastagem e
à adição de concentrado à dieta dos mesmos. Esses resultados demonstram que, nas
condições em que o trabalho foi realizado, o fornecimento de concentrado contribuiu
para o aumento do custo de produção do grupo 2A, mesmo considerando que a
inclusão do concentrado à dieta do grupo 2A permitiu a utilização de uma carga animal
em pastagem superior para esses animais em relação aos 3A (550 vs 400 kg PV/ha).
Caso o custo da pastagem fosse maior, possivelmente o efeito substitutivo
provocado pelo concentrado proporcionaria uma maior diluição do custo da pastagem,
através do aumento da carga animal. Portanto, na medida em que aumenta o custo da
pastagem, mais vantajosa tende a ser a utilização de suplementação alimentar, devendo
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
97
sempre considerar se o aumento da carga animal compensa o custo do suplemento a
ser utilizado. Gottschall et al. (2006), utilizando suplementação com concentrado em
pastagem de inverno para terminação de novilhos (as) abatidos aos 18 meses, não
encontraram diferença significativa para custo de alimentação (R$ 142,50 vs R$ 138,66)
em função destes animais apresentarem TMP (132 vs 122 dias) semelhantes. Desse
modo fica clara a relação entre o custo de alimentação e o tempo de permanência.
O menor custo de alimentação apresentado pelos animais do grupo 3A, explica o
menor (p<0,01) custo de produção/kg produzido em relação aos 2A (R$ 0,84 vs R$ 1,25,
respectivamente). Mesmo o grupo 2A apresentando GP cerca de 12 kg superior (p<0,01),
o custo de alimentação fez com que o custo de produção/kg produzido fosse maior
para animais em relação aos 3A. Analisando o desempenho em terminação de novilhos
para abate aos 15 ou 27 meses de idade, Canellas et al. (2008) verificaram maior custo
de produção/kg produzido para os novilhos de 15 meses, relacionando esse resultado
ao maior custo de alimentação apresentado por esses animais, visto que o GP foi
semelhante entre as duas categorias utilizadas no experimento. Gottschall (1999b)
relata custos de produção/kg produzido inferiores ao presente experimento em duas
propriedades particulares, utilizando novilhos submetidos à suplementação alimentar
para abate aos 17 meses (R$ 0,96/kg produzido) e aos 24 meses (R$ 0,55/kg produzido).
O custo total/kg comercializado foi superior (p<0,01) para 2A em relação a 3A (R$
1,51 vs R$ 1,44). Esse resultado ocorreu devido ao menor peso com o qual esses
animais foram vendidos, ocorrendo, desse modo, uma menor diluição do custo total
em relação ao número de kg comercializados. Segundo Sant’ana e Santos (2006), o
custo de alimentação é muito variável e depende do tipo e da quantidade de insumos
que serão utilizados. Desse modo, a comparação dos custos de alimentação e dos
custos de produção entre diferentes experimentos pode ser prejudicada.
A receita bruta/kg foi superior (p<0,01) para os 2A em relação aos 3A (R$ 2,18 vs
R$ 2,09) e indica uma característica de mercado, com melhor remuneração para novilhos
mais jovens em relação aos mais velhos. Além disso, estes animais foram vendidos em
épocas do ano diferentes e com isso acabaram sendo remunerados de forma distinta.
Dados relatados por Couto (1997) indicavam que o período de preços altos compreendia
os meses de maio a novembro, alcançando o pico no mês de outubro. Essa sazonalidade
vem diminuindo com o passar dos anos, mas ainda pode ser observada eventualmente,
aliada a fatores como clima e conjunturais (SUÑE, 2005). Por outro lado, o grupo 3A
apresentou maior (p<0,01) receita bruta/animal em relação aos 2A (R$ 852,37 vs R$
831,57). Esta superioridade deve-se ao maior (p<0,01) PMA obtido pelos novilhos do
grupo 3A em relação aos demais (407,07 vs 380,65 kg). Contudo, diversos são os
fatores que influenciam no preço do boi gordo, entre eles a oferta de animais de
reposição, o consumo interno de carne bovina, o destino da carne (mercado externo/
interno), a rastreabilidade, a classificação das carcaças entre outros (TORRES Jr., 2003).
A margem bruta/animal e a lucratividade no período não apresentaram
diferença significativa entre os grupos analisados (p>0,05). Esses resultados
demonstram que apesar de terem apresentado maiores custos de produção, os
98
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
novilhos do grupo 2A obtiveram um retorno econômico similar aos 3A no período,
o que ressalta a influência que o mercado exerce sobre o retorno econômico do
processo de terminação de novilhos precoces, através da remuneração obtida no
momento da venda (receita bruta/kg), gerando maior diferença entre preço de
compra/venda (26,57% vs 23,44%, respectivamente para 2A e 3A). A diferença de
preço compra/venda é a variável que mede o retorno obtido com a alteração no
preço do kg gordo em relação ao kg magro e exerceu influência direta sobre o
resultado econômico para os dois grupos, pois além do valor recebido pelo número
de quilogramas de ganho de peso durante a terminação, existe um valor agregado
ao kg de peso inicial (magro) em relação ao kg vendido. Gottschall et al. (2006) e
Canellas et al. (2008) ressaltam que em processos de terminação intensiva de
bovinos de corte é fundamental uma relação de troca favorável entre o preço de
compra e de venda dos animais, caso contrário o lucro fica restrito ao ganho com
a engorda dos animais, aumentando o risco do processo.
Ao analisarmos a lucratividade/mês, verifica-se que o grupo 3A foi superior
em relação ao 2A. Esse resultado está relacionado ao TMP, inferior para os animais
mais velhos, o que indica uma vantagem em termos de retorno e giro de capital em
relação aos novilhos mais jovens. Animais mais velhos tendem a apresentar maior
peso ao início do processo de terminação, o que inicialmente representa maior
desembolso para o produtor. Entretanto, em termos de retorno rápido do
investimento a terminação de animais mais maduros torna-se interessante, pois o
ganho de peso para atingir o peso de terminação desses animais é menor em relação
a animais precoces. Pacheco et al. (2006) também observaram um aumento da
lucratividade mensal com a redução do período de terminação de novilhos aos 22
meses. Arboitte et al. (2004) e Restle et al. (2003) também relatam que períodos
curtos de alimentação são importantes para o aumento da lucratividade da
terminação de novilhos de corte.
CONCLUSÕES
Animais mais jovens e com menor peso inicial (grupo 2A) necessitaram de maior
ganho de peso para atingir o grau de acabamento desejado, permanecendo mais tempo
em terminação. A utilização do suplemento e o maior TMP geraram maior custo de
alimentação/animal para o grupo 2A. A receita bruta/kg obtida pelo grupo 2A
proporcionou margem bruta/animal e lucratividade no período semelhantes ao grupo
3A. A elevada diferença de preço compra/venda foi o principal fator responsável pelo
retorno econômico positivo das duas idades à terminação.
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Recebido em: dez. 2007
Aceito em: abr. 2008
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
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Análise do sistema de comercialização
e do abate de bovinos no estado do Rio
Grande do Sul: um estudo de caso
Luciana F. Christofari
Yara B. P. Suñé
Júlio O. J. Barcellos
Ênio R. Prates
Ricardo P. Oiagen
RESUMO
O objetivo do trabalho foi analisar o comportamento do abate de bovinos a partir de
348.739 animais abatidos no frigorífico Mercosul, Bagé – RS, no período de setembro de 2003
a agosto de 2004. Ao comparar os dados em estudo com os dados de abate do IBGE e do
MAPA, estes representam 62,5% e 28,4% do total abatido, respectivamente. Os resultados
demonstram que os fenômenos de safra e entressafra não são mais observados, inclusive com
uma alta concentração de abates nos meses de inverno, identificando claramente a introdução de
melhorias nos sistemas de engorda. Aumento no número de fêmeas abatidas e maiores pesos de
carcaça também são resultados relacionados com mudanças tecnológicas nas criações. Com
relação ao sistema de compra pelo frigorífico é observado que a maior parte dos animais são
comprados a rendimento, o que reflete uma compra em busca de melhor qualidade. No período
analisado foi observado o baixo preço do boi recebido pelo produtor, sendo considerado um dos
principais limitantes para à manutenção e evolução tecnológica da bovinocultura de corte.
Palavras-chave: Cadeia produtiva da carne bovina. Sistemas de produção. Abate de bovinos.
System commercialization and beef cattle for slaughter analysis
in the state of Rio Grande do Sul: a case study
ABSTRACT
This work aimed to analyze the behavior of slaughters of 378,739 beef cattle realized in
the Mercosul – Bagé, of state Rio Grande do Sul in the period from September 2003 to August
Luciana F. Christofari é Médica Veterinária, DSc., Bolsista de Pós-Doutorado CNPq, Núcleo de Estudos em
Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPRO), UFRGS.
Yara B. P. Suñé é Engª Agrônoma, MSc., Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte
e Cadeia Produtiva (NESPRO), UFRGS.
Júlio O. J. Barcellos é Médico Veterinário, DSc., Prof. Adjunto – Dep. de Zootecnia, Núcleo de Estudos em
Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPRO), UFRGS.Bolsista CNPq.
Ênio R. Prates é Engº Agrônomo, DSc., Prof. – Dep. de Zootecnia, Núcleo de Estudos em Sistemas de
Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPRO), UFRGS.
Ricardo P. Oiagen é Médico Veterinário, MSc., Doutorando PPG-Zootecnia, Núcleo de Estudos em Sistemas
de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPRO), UFRGS.
Endereço para correspondência: Faculdade de Agronomia, Departamento de Zootecnia – Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves, 7712, Bairro Agronomia, Porto Alegre, RS.
p . 1 02008
2-120
Veterinária em Foco Veterinária
v. 5 v.5, n.2,
n.2jan./jun.
102
Canoasem Foco,
jan./jun. 2008
2004. When comparing the data in study with the data of IBGE and of the MAP, these
represent 62.5% and 28.4% of the abated total, respectively. The results show that the former
seasonal slaughter does not occur anymore, with slaughters being even more frequent during the
winter months, which indicates improvements in rearing. The increase in female slaughters and
greater carcass weights can also be related to technological changes in the production systems.
The acquirement criteria by the slaughterhouses favor yield and quality. Beef prices were down
during the period concerned limiting technology improvements and maintenance of this sector.
Keywords: Productive chain of the bovine meat. Production systems. Slaughters of
beef cattle.
INTRODUÇÃO
O agronegócio atualmente é responsável por 29% do PIB nacional e,
aproximadamente 12,5% deste total corresponde à cadeia produtiva da carne bovina
(CEPEA, 2004). Isto é devido ao fato do Brasil apresentar o maior rebanho comercial do
mundo, sendo constituído de 167 milhões de cabeça. O Brasil consolidou-se em 2003
como o maior exportador mundial de carnes. Foram produzidas 7,629 milhões de
toneladas de equivalente carcaça, sendo exportados 15,8% da produção, gerando
renda de aproximadamente 1,5 bilhões de dólares. O restante, representando 84,2% da
produção, foi absorvido pelo mercado interno, demonstrando a grande importância
deste segmento para a pecuária brasileira (ANUALPEC, 2004).
A pecuária de corte brasileira, numa análise retrospectiva, era caracterizada pelo
atraso, resistência às inovações tecnológicas e gestão arcaica, o que marcou
negativamente a atividade ao longo de várias décadas. Contudo, a bovinocultura de
corte contrapõe-se fortemente a essa situação e passa a utilizar importantes inovações
na gestão e no uso de tecnologias (BARCELLOS et al., 2004). A convivência com a
estagnação da pecuária deve-se ao fato do efetivo bovino ter servido de reserva de
capital durante a época de inflação, além de ter sido o principal instrumento de
consolidação das fronteiras agrícolas do país, baseado no modelo de exploração
extensiva e alicerçada no grande fluxo do fator terra.
Por outro lado, a quebra de paradigmas pelos produtores resultou no aumento
significativo na taxa de desfrute da pecuária brasileira, saindo de um patamar de 16%
na década de 1980 para de 24% no início dos anos 2000. Estes aumentos são devidos
ao incremento dos índices de produtividade, no entanto, ainda são inferiores aos dos
países de pecuária mais desenvolvida que se situam acima dos 32%. No Rio Grande do
Sul, conforme Barcellos et al. (2003) o aumento nos índices de produtividade são
representados pela diminuição na idade ao primeiro acasalamento, na idade de abate e
pelo aumento na taxa de natalidade. Considerações realizadas por Fürstenau (2004)
também evidenciam a modernização da pecuária brasileira nos últimos anos em
contraposição aos baixos índices zootécnicos das estatísticas oficiais.
Esses aumentos nos índices produtivos resultaram da aplicação de tecnologias de
processos. Na cria, muitos trabalhos foram conduzidos a fim de diminuir a idade de
acasalamento e aumentar as taxas de prenhez. Técnicas de manejo nutricional pré e pós-
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
103
parto, ajuste de carga, adequação da temporada de monta, desmame antecipado e desmame
precoce foram amplamente difundidos para aumentar a eficiência na cria e recria.
Na recria e terminação no Rio Grande do Sul, problemas relacionados com a
estacionalidade da produção de forragem acabavam por ocasionar grandes perdas de
peso durante o período hibernal, quando as pastagens nativas não expressam seu
potencial produtivo. Como forma de amenizar estes períodos, muitos trabalhos têm
mostrado a diminuição desta estacionalidade de produção com a introdução de práticas
de manejo. Dentre as tecnologias mais usadas se destacam: o ajuste de carga, introdução
de pastagens cultivadas, suplementação a campo e confinamento. A implementação
destas tecnologias teve como resultado a obtenção de uma matéria prima de melhor
qualidade à indústria frigorífica, além da redução da capacidade ociosa das plantas,
através de uma oferta mais constante ao longo do ano.
Diante disso, o presente artigo tem como objetivo fazer uma análise dos dados
dos bovinos abatidos no maior frigorífico do Estado do Rio Grande do Sul, e obter
características dos animais ofertados, de modo que, com estes resultados possa se
identificar melhor o mercado da carne bovina.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado a partir da avaliação do banco de dados do Frigorífico
Mercosul Ltda.1 que é uma empresa de capital fechado, com o início das suas atividades
em 1972 em Mato Leitão – RS. A partir de setembro de 1998, começou o projeto de
expansão, sendo que atualmente a empresa conta com plantas industriais localizadas
nos municípios de Bagé, Alegrete, Capão do Leão, Mato Leitão e Pelotas. Possui um
quadro de 2.610 colaboradores e é o maior frigorífico do Rio Grande do Sul em volume
de abates de bovinos.
Os dados analisados são referentes ao abate nas quatro plantas frigoríficas:
Capão do Leão, Mato Leitão, Bagé e Alegrete no período de setembro de 2003 a agosto
de 2004 e compreendem 348.739 bovinos abatidos a rendimento e a peso vivo que
equivale a 32.307 lotes (estes valores representam 62,5% e 28,4% do total de animais
abatidos segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE e Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA). Cada lote representa uma operação
de compra de animais pelo frigorífico. Os dados foram disponibilizados em um arquivo
eletrônico contendo as informações referentes à data de compra (a partir da data de
entrada dos animais), sistema de compra2 (peso vivo ou rendimento), número de animais
1
Rua Anselmo Garrastazu, S/Nº, Vila Industrial. CEP: 96400-570 – Bagé/RS. Fone: (53) 240.5700 / Fax: (53)
240-5721. E-mail: [email protected]
2
Tradicionalmente, a compra de bovinos realizada no Rio Grande do Sul se dá através de dois sistemas de
pagamento. A peso vivo, quando o pecuarista recebe pelo total de quilogramas que seus animais obtiveram no
momento do embarque para o frigorífico e a rendimento de carcaça, onde o produtor recebe pelo total de
quilogramas obtido após o abate dos animais. Neste sistema, os animais de melhor qualidade e melhores
rendimentos são mais bem remunerados.
104
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
(número de animais por praça de compra), peso (expresso em quilogramas), preço
(expresso em dólar3 ) e sexo (machos ou fêmeas).
Foi usada a análise estatística descritiva dos dados, devido ao grande número de
animais, sendo utilizada a média como principal medida de tendência central. Os dados
brutos foram organizados em tabelas e distribuídos por freqüências. Obtidas estas
freqüências foram construídos gráficos para melhor visualização dos resultados.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os dados de abate do Frigorífico Mercosul (348.739 cabeças) quando comparados
com os dados de abate do IBGE (1.748.000 animais) e do MAPA (795.000 animais) para
o Estado do Rio Grande do Sul, são representativos da população em análise. O rebanho
gaúcho é formado por aproximadamente 14.731.138 cabeças (IBGE, 2004), entretanto,
deve ser salientado que deste efetivo ao redor de 75% constituem as criações com
aptidão para carne (bovinos de corte) e 25% do rebanho é especializado para leite
(bovinos de leite). Portanto, qualquer análise sobre a bovinocultura de corte deve ser
realizada a partir de um efetivo de aproximadamente 11.000.000 de cabeças. Deste
modo, o desfrute de 25,4% (ANUALPEC, 2004) refere-se unicamente a fração dos
animais de corte, o que reflete um total de 2.794.000 bovinos abatidos anualmente.
Assim, os dados de abate do IBGE e do MAPA representam 62,5% e 28,4% do total
abatido pelo frigorífico, respectivamente. Evidentemente, que sobre o total de bovinos
abatidos a representatividade é menor, mas ainda reflete o perfil do rebanho gaúcho
envolvido na produção de carne. Um levantamento realizado por Pascoal (2004),
avaliando a compatibilidade das informações de várias fontes estatísticas, referentes
ao rebanho do Rio Grande do Sul, encontrou uma discrepância significativa entre elas,
sendo clara a ocorrência de problemas no registro de informações como: abate
clandestino, falta de controle das inspetorias veterinárias, mortalidade, consumo nas
fazendas, entre outros, que fazem com que não se tenha estatística confiável para
melhores comparações com a população objeto de estudo.
Distribuição mensal dos abates
Ao comparar o número de animais abatidos pelos dados do IBGE e MAPA para o
período de setembro de 2003 a agosto de 2004, no Estado, se observa a mesma distribuição
mensal para o Frigorífico Mercosul, demonstrando que a população estudada é
representativa da população bovina abatida no Rio Grande do Sul (Figura 1).
Analisando a distribuição ao longo do período estudado, observa-se um abate
melhor distribuído, com picos em março e agosto (Figura 1) verificando que a
3
Valores em reais convertidos para dólar na data de compra, conforme cotação mensal do Banco Central do
Brasil.
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
105
estacionalidade de produção que historicamente ocorria no Estado, caracterizada pelas
épocas de safra (abril e maio) e entressafra (julho, agosto) está sendo diminuída e outros
picos de produção, diferentes dos tradicionais, estão sendo observados. O sistema de
produção do Rio Grande do Sul tem como base alimentar o campo nativo que é composto,
principalmente, por espécies subtropicais de ciclo estival, podendo na primavera-verão
produzir ganhos nos animais de até 1,0 kg por dia (CAGGIANO FILHO et al., 1987;
NABINGER, 2002). Entretanto, no período de outono e inverno, ocorre um déficit na
produção de forragem, determinando perdas de peso vivo que comprometem todo o
desenvolvimento do animal (DEL DUCA; SALOMONI, 1987; MARASCHIN, 1998;
MARASCHIN, 1999). Esta estacionalidade de produção determinava a maior oferta de
animais nas épocas subseqüentes dos picos de produção de campo nativo (março a
maio) chamados de safra, assim como, na época de menor produção forrageira (junho,
julho, agosto), havia a escassez de oferta de animais para abate, a entressafra. A introdução
de pastagens melhoradas de clima temperado surgiu como alternativa para suprir as
deficiências no período de carência alimentar (inverno), reduzindo a sazonalidade de
produção de forragem, com os efeitos conhecidos na produção animal (REID; JUNG,
1981; QUADROS; MARASCHIN, 1987; RESTLE et al., 1999) Somente produtores com
alguma tecnologia destinada aos sistemas de engorda abatiam animais nesta época
(entressafra) e obtinham um melhor preço (ANUALPEC, 2004).
FIGURA 1 – Distribuição mensal (%) dos animais abatidos no período de setembro de 2003 a agosto de
2004 com base no Frigorífico Mercosul, IBGE e MAPA. Fonte dos dados brutos: MAPA, (2004); IBGE,
(2004); SUÑÉ, (2005).
As pequenas flutuações nos abates ao longo do período estudado (Figura 1)
podem vir resultando do aumento na adoção de novas tecnologias de alimentação,
direcionadas aos animais em terminação (RESTLE; VAZ, 1997). Assim é observado o
crescimento da participação de animais produzidos em sistemas de engorda mais
intensivo, como semi-confinamento e pastagens de inverno. Animais produzidos nestes
sistemas começam a ser abatidos a partir de agosto, explicando o pico de abate de
11,7% (PÖTTER et al., 1998; BERETTA et al., 2001), sendo que a integração lavourapecuária, decorrente da implantação de pastagens cultivadas nas restevas de lavoura
de arroz e mais recente pela expansão da soja em grande parte do território gaúcho
106
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
(IBGE, 2004), fazem com que esses processos tecnológicos sejam utilizados com mais
freqüência. No caso específico da cultura da soja ocorre uma implantação de pastagens
mais cedo (início do outono), logo após a “colheita”, fazendo com que os animais
passem a utilizar estes recursos alimentares no final de outono, e assim aptos para o
abate em agosto, portanto antecipando 2 a 3 meses o período de comercialização.
O pico de abate referente a março, se deve a animais oriundos do campo nativo,
pois no período de primavera-verão podem ser obtidos ganhos totais de peso em
torno de 100-120 kg (CACHAPUZ, 1985), pois 70% da produção de matéria seca ocorre
neste período (MARASCHIN, 1999). Assim, é factível afirmar que este pico de abate é
representado pelos sistemas menos intensivos de produção. Neste período também
inicia um aumento na oferta de fêmeas descartadas dos rebanhos. Para os produtores
esta informação pode ser útil nos seus sistemas de produção, uma vez que não se
possui mais safra e entressafra definida, é possível fazer uma programação das vendas
ao longo do ano.
Distribuição mensal do abate nas últimas décadas
Quando se compara as décadas de 1980, 1990 e início dos anos 2000 torna-se
evidente a diferença entre os anos, sendo que as inflexões das curvas diminuem década
a década como pode ser observado na Figura 2. A década de 1980 apresenta um
comportamento histórico, isto é, grande oferta em abril e maio (safra) e escassez em
junho, julho e agosto (entressafra). No final da década de 1990 e início dos anos 2000
ocorre uma grande redução nos picos de safra e entressafra, explicada pela adoção de
novas tecnologias de produção (PÖTTER et al., 1998; BERETTA et al., 2001; EUCLIDES
FILHO, 2000; BARCELLOS et al., 2004).
Esta inovação tecnológica na pecuária teve como base inicial a implementação
do plano real em 1994. A consolidação da economia, devido à eliminação da inflação,
fez com que a adoção de tecnologias e, conseqüentemente, os aumentos nos índices
produtivos fossem fundamentais à atividade, pois com a estabilização da moeda não
foi mais possível o ganho através dos mercados especulativos e de ativos financeiros
e os sistemas de produção foram conduzidos para uma melhora da eficiência e para
uma estabilidade física da produção no tempo (ORTEGA, 1998; CORRÊA, 2000;
BARCELLOS, 2002).
Com uma oferta contínua durante o ano foi possível uma melhor gestão dos
custos e da margem de lucro da atividade, tanto para os produtores e, principalmente,
para os frigoríficos, que se habilitaram a fechar contratos maiores e mais seguros para
atender os mercados internacionais, aumentando o volume de carne exportada no
âmbito nacional (EUCLIDES FILHO, 2000; NEVES et al., 2001; NEHMI FILHO, 2004).
Deste modo, os dados deste trabalho (referentes aos dados do frigorífico Mercosul)
refletem claramente o perfil de produção e oferta de animais para o abate de um modo
planejado, ainda que ocorram pequenas flutuações, em geral atribuídas a fatores
climáticos ou conjunturais do setor.
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
107
15,0
10,0
%
5,0
0,0
Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago
Década 80 5,0 6,1 7,6 8,9 8,6 6,8 10,2 12,4 13,9 10,1 5,7 4,8
Década 90 7,7 9,2 9,4 9,4 8,0 7,2 9,2 9,4 9,5 7,9 6,4 6,8
Década 00 7,5 9,5 8,4 8,3 8,0 7,5 8,8 8,8 8,3 7,9 8,2 8,7
Mercosul
7,1 7,9 6,8 7,2 7,0 7,3 10,0 8,7 7,7 9,2 9,4 11,7
Mês
FIGURA 2 – Distribuição mensal (%) do abate anual de bovinos nas décadas de 1980, 1990 e 2000 (valores
médios de cada década), segundo dados do IBGE e MAPA e de setembro de 2003 a agosto de 2004 no
Frigorífico Mercosul. Fonte dos dados brutos: MAPA, 2004; IBGE, 2004; SUÑÉ, 2005.
Peso de carcaça e mês de abate nas últimas décadas
A Figura 3 mostra as médias mensais de peso das carcaças4 de animais nas
décadas de 1980, 1990 e 2000 do MAPA e de setembro de 2003 a agosto de 2004 do
Frigorífico Mercosul.
240
230
220
210
kg
200
190
180
170
Out Nov Dez Jan
Fev Mar Abr Mai Jun
Jul Ago
Década 80 201
213
215
210
205
212
214
217
212
202
196
202
Década 90 216
222
221
221
220
220
229
229
232
219
216
218
Década 00 222
222
224
225
222
219
222
225
222
221
218
220
219
220
219
215
220
222
219
221
217
220
222
226
Mercosul
Set
Mês
FIGURA 3 – Médias de peso de carcaça nas décadas de 1980, 1990, 2000 (valores médios de cada
década) segundo o MAPA e de setembro de 2003 a agosto de 2004 no Frigorífico Mercosul. Fonte dos
dados brutos: MAPA, (2004); SUÑÉ, (2005).
Carcaça: animal abatido, desprovido de couro, patas, cabeça, chifres, vísceras torácicas e abdominais e
conteúdo do trato digestório. Em geral, para um bovino de 500 kg de peso vivo na fazenda, a sua carcaça teria
um peso de aproximadamente 250 kg.
4
108
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
Ao analisar a média de peso das carcaças nas 3 últimas décadas, se observa um
aumento significativo nos pesos médios de abate na década de 1990 (222 kg) comparado
a década de 1980 (208 kg). Na década de 2000 se observa um peso médio de abate
praticamente constante, com média anual de 222 kg, sendo que nos dados obtidos
neste trabalho é observado o mesmo comportamento, tendo uma média anual de 220
kg. Isto comprova que há um peso de abate praticamente constante ao longo do ano,
evidenciando que além de não ocorrer mais uma safra e entressafra característica,
existe um padrão de peso dos animais abatidos no estado, decorrente da introdução de
sistemas alimentares mais adequados e evoluídos.
Como a condição para o animal ser abatido é uma combinação de peso e
acabamento (quantidade de gordura), os novos sistemas de engorda mantiveram
estes parâmetros dentro de certos limites determinados pelo mercado, porém com
uma alteração no período de tempo para alcançá-lo (BYERS; SCHELLING, 1988; DI
MARCO, 1993; LUCHIARI FILHO, 2000; ARBOITTE et al., 2004). Na década de 1980
era comum os animais serem abatidos com até 60 meses, fato que na década de 2000
já não ocorre mais, devido a adoção de novas tecnologias, sendo a média de abate
aos 24-36 meses.
Outro fator de suma importância é a mudança ocorrida no padrão genético
dos animais abatidos no estado. Os cruzamentos e o surgimento das raças sintéticas
tiveram seus trabalhos iniciados nas décadas de 1950 e 1960 e seus principais
resultados foram observados nas décadas de 1970 e 1980. Porém, foi na década de
1990 com a difusão da tecnologia de inseminação artificial e a boa aceitação desta
pelos produtores, que os resultados foram mais expressivos. Deste modo, o perfil
das criações foi modificado pela grande participação de animais zebuínos pelos
métodos de cruzamentos. Isto resultou na boa adaptabilidade às condições, nem
sempre favoráveis do ambiente, e no aumento no peso de carcaça dos animais
abatidos na década de 1990 (LOBATO et al.,1999; LOBATO, 2003; LEAL, 2003;
BARCELLOS et al., 2004).
Sistema de compra praticado pelo frigorífico segundo o mês de
abate
Os sistemas de compra, feitos pelos frigoríficos, podem ser a rendimento5 ou a
peso vivo. Os frigoríficos tendem a comprar a rendimento, alegando que pagam o que
realmente interessa, a carne, enquanto os produtores tendem a vender a peso vivo,
pois ainda há discussões a respeito das porcentagens de rendimento apresentadas
pelos frigoríficos (ABIEC, 2004) .
5
A rendimento: o produtor recebe o valor relativo aos quilogramas de carcaça quente produzidos pelos seus
animais abatidos.
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
109
Atualmente, o Frigorífico Mercosul possui o sistema de compra qualificada, dividido
em classes6 conforme parâmetros de conformação pré-estabelecidos, evitando a compra a
peso vivo. No total dos animais abatidos no Frigorífico Mercosul, 82,3% são comprados a
rendimento e 17,7% a peso vivo. Esta compra qualificada foi implantada a partir de agosto
de 2003, e os reflexos da diminuição da compra a peso vivo já são observados de outubro
em diante (Figura 4), tendo períodos de grande pico da compra a rendimento (janeiro,
fevereiro, março, abril de 2004). No entanto em maio, junho e julho ocorre um discreto
aumento na compra a peso vivo, embora, significativamente abaixo da compra a rendimento.
Provavelmente este novo aumento na compra a peso vivo pode ser decorrente
da pequena redução da oferta percebida em maio. É observado que à medida que a
oferta novamente tem um pico em agosto, a compra a rendimento passa a ser o sistema
predominante. Este comportamento era muito comum nas épocas de safra e entressafra,
pois é sabido que na época de safra, devido ao maior volume de animais ofertados, os
frigoríficos determinavam o sistema de compra, já no período de entressafra, com
pouca matéria-prima disponível o produtor escolhia a forma que iria vender. Não foram
observadas diferenças nos sistemas de compra ao longo do ano para machos e fêmeas,
tendo a mesma tendência para ambos os sexos.
15,0
10,0
%
5,0
0,0
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
%R
3,7
5,9
4,8
5,1
6,2
6,8
9,4
8,0
6,1
7,5
8,1
10,7
% PV
3,4
2,0
2,0
2,1
0,8
0,5
0,6
0,7
1,6
1,7
1,3
1,0
%T otal
7,1
7,9
6,8
7,2
7,0
7,3
10,0
8,7
7,7
9,2
9,4
11,7
M ês
FIGURA 4 – Percentual de abate anual a peso vivo (PV) ou a rendimento (R) no Frigorífico Mercosul. Fonte
dos dados brutos: SUÑÉ, (2005).
6
A classificação comercial do Frigorífico Mercosul remunera os animais comprados a rendimento de acordo com
a classe na qual a carcaça enquadra-se, sendo que na Classe Exportação é exigida para machos de 0 – 4 dentes
um peso mínimo de 220 kg e de 6 –8 dentes acima de 240 kg, para fêmeas de 0 – 8 dentes, 220 kg no mínimo;
para ambos sexos a conformação deve ser C (convexa), Sc(subconvexa), Re (retilínea) ou S (subcôncava) e
acabamento entre 3 (3 a 6 mm de espessura de gordura subcutânea) e 4 (6 a 10 mm). A Classe Premium reúne
as carcaças oriundas de animais com maturidade entre 0 – 4 dentes e abaixo de 220kg para machos e fêmeas,
além de acabamento entre 3 e 4 e conformação C, Sc, Re e S. A classe 1 é composta de carcaças de animais
com acabamento entre 3 e 4 , conformação C, Sc, Re e S, peso abaixo de 240 kg para machos e 220 kg para
fêmeas com maturidade entre 6 –8 dentes, para animais mais jovens, de 0 – 8 dentes, com o mesmo peso, o
acabamento pode ser 2 (pouca gordura). Para a Classe 2, as carcaças devem prover de animais com acabamento 2, conformação C, Sc, Re e S, peso abaixo de 240 kg e 220 kg para machos e fêmeas respectivamente, com
maturidade entre 0 a 8 dentes. Na Classe 3 entram carcaças com acabamento 1 (sem gordura) e conformação
Co (côncava). A remuneração acontece em grau decrescente na forma que foram listadas entre as categorias.
110
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
A venda a peso vivo não relaciona as características de carcaça, sendo um
método não preciso da composição da carcaça, tanto para criadores, como para a
indústria frigorífica (TAROUCO, 1991; FELÍCIO, 2000). Apesar de nos dados do
frigorífico Mercosul 82,3% dos animais serem abatidos a rendimento, existe uma
tendência do produtor (os que abastecem o Frigorífico Mercosul) de vender a peso
vivo, isto porque dependendo do tipo de animal abatido, o peso vivo pode remunerar
melhor o produtor e além disto, na venda a peso vivo, no momento do embarque dos
animais já são conhecidos os valores a serem recebidos. Isto não ocorre na venda a
rendimento, quando os valores somente são conhecidos após o abate os animais.
Nos dados coletados, quando comparados os preços médios pagos por kg de
carcaça (US$ 1,20) e por kg vivo (US$ 0,60), para que os valores nominais pagos pelos
animais sejam semelhantes, independente do sistema de compra, é necessário ter um
rendimento médio de carcaça de 50% por animal, logo, animais com percentuais abaixo
deste valor receberão uma remuneração menor se comparada à venda a peso vivo.
Como muitos produtores não obtêm em seus animais estes rendimentos, acabam
optando pela venda a peso vivo. Entretanto, somente atingir o rendimento igual ou
superior a 50% não assegura uma melhor remuneração do que a venda a peso vivo,
pois, animais vendidos a rendimento são dependentes do sistema de tipificação feito
pelo frigorífico, que conforme a classe comercial destinada haverá uma remuneração
correspondente. Dentre os parâmetros avaliados somente peso vivo, peso de carcaça
e sexo são objetivos, enquanto acabamento e conformação da carcaça são medidas
subjetivas, que serão dependentes da experiência dos avaliadores na obtenção das
informações no momento do abate. Assim, frequentemente são identificados conflitos
nesse sistema de comercialização (FELÍCIO, 1999a; FELÍCIO, 1999b). Para que houvesse
uma maior segurança nas relações entre produtores e frigoríficos seria ideal o uso de
medidas mais objetivas nas avaliações das carcaças (TAROUCO, 1991).
Fêmeas abatidas conforme o mês do ano
Os dados referentes ao abate de fêmeas no Frigorífico Mercosul são similares
aos do abate no estado, segundo dados do IBGE e do MAPA. Comparando os
percentuais de abate ao longo dos anos, se observa o grande aumento no número de
fêmeas abatidas, principalmente de fevereiro em diante, tendo o pico em maio pelos
dados do Frigorífico Mercosul 03/04 (45% de fêmeas abatidas) e em abril e junho pelos
dados do IBGE 03/04 (45% de fêmeas abatidas) de acordo com a Figura 5. Desde a
criação do banco de dados do IBGE, que disponibiliza informações a partir de 1997,
não haviam sido constatados percentuais tão altos, sendo um recorde histórico no
abate de fêmeas. Nos dados do IBGE 01/02, 02/03 e 03/04 e do Frigorífico Mercosul 03/
04, as médias anuais para o abate de fêmeas foram, 29%, 35%, 41% e 38%,
respectivamente. Estes dados confirmam que a porcentagem de fêmeas abatidas em
relação ao total de gado comercializado teve o começo da sua escalada de alta em 2003,
avançando gradativamente, mantendo uma média anual ao redor de 38% (IBGE, 2004).
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
111
50
40
30
%
20
10
0
Set Out Nov Dez Jan Fev M ar Abr M ai Jun Jul Ago
IBGE 01/02
27
26
28
26
28
30
27
28
30
35
32
29
IBGE 02/03
30
32
35
33
34
36
35
34
35
40
40
34
IBGE 03/04
36
37
36
36
39
43
42
45
44
45
41
43
M ercosul 03/04
32
31
30
34
38
43
43
42
45
41
37
40
M ês
FIGURA 5 – Abate de fêmeas (%) nos períodos 2001/02, 2002/03, 2003/04 conforme o IBGE e 2003/04 no
Frigorífico Mercosul. Fonte dos dados brutos: IBGE, 2004; SUÑÉ, 2005.
O aumento no abate de fêmeas pode ser explicado pela adoção de novas
tecnologias, aumentos nos índices produtivos ou necessidade de maior renda no
sistema. É sabido que a idade ao primeiro acasalamento diminuiu no Rio Grande do Sul,
sendo que 70% das fêmeas têm seu primeiro parto aos 3 anos (BARCELLOS et al.,
2003; BARCELLOS et al., 2004). Este é um parâmetro importante, pois a maior
produtividade por fêmea é obtida quanto mais cedo esta for acasalada (BOEWDEN,
1977; PRICE; WILTBANK, 1978; PÖTTER et al., 1998; BERETTA; LOBATO, 1998,
BERETTA, 1999). Quando a parição ocorre aos 48 meses, o índice de desfrute7 do
rebanho fica ao redor de 10%, na medida que a parição ocorre aos 36 meses este índice
duplicará e atingirá 30% com o primeiro parto aos dois anos e o abate dos machos aos
12 e 13 meses (BERETTA et al., 2001).
Outro índice zootécnico que aumentou nos últimos anos foi a taxa de natalidade
do rebanho, a qual teve um incremento de 50 para 62%. Muitas tecnologias referentes
ao aumento nas taxas de prenhez e, conseqüentemente, nas taxas de natalidade, foram
difundidas e utilizadas nos sistemas de produção (LOBATO; BARCELLOS, 1992;
SIMEONE; LOBATO, 1996; SIMEONE; LOBATO, 1998; PÖTTER et al., 1998). A taxa
de reposição de um rebanho considerado estável é de 20%. Com o aumento no número
de terneiros produzidos, haverá um excedente de animais para a venda, inclusive de
fêmeas, além de ser feita uma pressão de seleção mais rigorosa (BARCELLOS et al.,
2003; BARCELLOS et al., 2004).
O grande avanço nas áreas de agricultura pode ter contribuído para esse
aumento no número de fêmeas abatidas. O bom desempenho do soja criou condições
favoráveis ao início da integração agricultura-pecuária, levando o produtor a reduzir
o plantel de fêmeas para gerar capital necessário à sua entrada na agricultura ou
para diminuir o rebanho e ampliar suas áreas de lavoura a fim de obter melhores
retornos financeiros. Produtores descapitalizados arrendaram as áreas que até
7
Desfrute: é a relação entre o número de animais vendidos anualmente (%) e o rebanho total da propriedade rural.
112
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
então eram destinadas à pecuária, para lavoura, pois a rentabilidade da atividade
pecuária, em especial a cria, com margens de lucro muito pequenas, tornou muito
difícil o negócio, forçando a saída de muitos criadores da atividade. Porém, outros
produtores viram na vaca de descarte uma oportunidade de negócio, por seu alto
potencial de acumular peso a baixo custo e em pouco tempo, proporcionando um
giro rápido de capital (BARCELLOS et al., 2003; BARCELLOS et al., 2004; NEHMI
FILHO, 2004). Assim, um contingente considerável desta categoria animal, que
antes tinha uma maior permanência no sistema, agora sofreu uma engorda rápida e
teve o destino do abate.
Com o aumento da produtividade, a tendência é que também se aumente o número
de vacas para a venda. No entanto, quando estes índices de abate de fêmeas são
comparados nos últimos três anos, se observa que a taxa de desfrute do rebanho se
manteve em torno dos 24-25%, podendo haver, no futuro, falta de matrizes. Este elevado
abate de fêmeas também pode estar ocorrendo, porque em épocas de custos crescentes
e de preços deprimidos, o produtor não possui o número de machos suficientes para
atender suas demandas financeiras, e, acaba comercializando matrizes para atender o
fluxo de caixa e os custos de produção. Apesar dos elevados números de abate em
relação aos números históricos, principalmente quando comparados com as décadas
de 1980 e 1990, estes números são compatíveis em rebanhos que possuem índices de
produtividade mais elevados (RADOSTITS et al., 1994; BARCELLOS et al., 2003;
BARCELLOS et al., 2004; TORRES; ROSA, 2003).
O excesso de oferta das fêmeas repercutiu negativamente nos preços como
observado na Figura 6.
1,50
U$/kg de carcaça
1,40
1,30
3,8%
1,20
11 %
1,10
1,00
Set
Out Nov Dez Jan
Fev Mar Abr Mai Jun
Jul Ago
MACHOS 1,21 1,21 1,19 1,26 1,26 1,20 1,18 1,14 1,13 1,17 1,21 1,20
FÊMEAS
1,13 1,14 1,13 1,21 1,19 1,10 1,08 1,04 1,02 1,05 1,10 1,09
Mês
FIGURA 6 – Preços pagos pelo kg de carcaça para vacas e bois e diferença (%) mínima e máxima no
período de 2003/04 no Frigorífico Mercosul. Fonte dos dados brutos: SUÑÉ, (2005).
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
113
A evolução comparativa das cotações do kg de carcaça do boi (US$ 1,20) e da
vaca gorda (US$ 1,11), segundo dados do Frigorífico Mercosul, demonstra que a partir
de maio a diferença entre as duas categorias chegou a 11 %, sendo considerada dentro
da média histórica (10%). O mês de maio é caracterizado historicamente por ser o mês
de maior abate de fêmeas, sendo a época de descarte das mesmas. A partir do diagnóstico
de gestação, as vacas são separadas em prenhes ou vazias, as vazias são destinadas
ao abate, tendo sua engorda inicial ainda em campo nativo durante o outono – inverno.
Este tipo de produto tem como destino o abastecimento do mercado interno, que
aumentou sua demanda devido aos melhores índices da economia brasileira,
promovendo um ligeiro aquecimento das vendas de carne no atacado. Além disso, os
pequenos frigoríficos preferem o abate de fêmeas por proporcionarem uma margem de
lucro maior (TORRES; ROSA, 2003).
No mês de dezembro se observa a menor variação ao longo do período estudado
3,8%, sendo também inferior quando comparada a outros anos onde a média foi de 8%.
Isto ocorre, porque nos meses de dezembro e janeiro há uma demanda maior de fêmeas
no Rio Grande do Sul, devido ao hábito de consumo da população regional. Além
disso, as fêmeas abatidas em dezembro, oriundas de pastagens cultivadas, são
teoricamente de melhor qualidade do que aquelas abatidas a partir de março,
provenientes de campo nativo sem o mesmo padrão de acabamento (MULLER; PRIMO,
1986; LUCHIARI FILHO, 2001). Deste modo, nos meses de dezembro e janeiro, a
qualidade das vacas aproxima-se da qualidade do boi, refletindo-se em menores
diferenças nos preços pagos pelos frigoríficos entre as duas categorias (BARCELLOS
et al., 2003; BARCELLOS et al., 2004).
Mês de abate e preço pago ao produtor
Os resultados obtidos comprovam o processo de reformulação que a pecuária
vem sofrendo nos últimos anos. A redução na sazonalidade de produção, pesos de
carcaça mais constantes ao longo do ano, aumento na venda a rendimento para os
frigoríficos, entre outros demonstram que os ganhos de produtividade são notórios e
têm sido fundamentais para atender ao crescimento da demanda no mercado externo e
interno (CORRÊA, 2000; ORTEGA 1998; NEHMI FILHO, 2004).
No entanto, analisando a Figura 7, se observa que ao mesmo tempo em que a
pecuária vem se modernizando, os preços pagos ao produtor estão decrescendo,
evidenciando o difícil momento que vive a pecuária gaúcha. Comparando as médias de
preço do kg do boi, fornecidos pelo IBGE para os períodos de 1995/96, 2000/01, 2003/
04 e pelo Frigorífico Mercosul (2003/04) nota-se valores de US$ 0, 84, US$ 0,62, US$
0,58 e US$ 0,60, respectivamente. Deve ser salientado que o preço histórico nas últimas
décadas tem sido US$ 0,72 por kg de peso vivo de boi.
114
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
1,20
US$
1,00
0,80
0,60
0,40
Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun
Jul Ago
MERCOSUL 03/04 0,61 0,61 0,61 0,64 0,64 0,60 0,57 0,56 0,56 0,58 0,61 0,62
IBGE 03/04
0,61 0,60 0,59 0,64 0,64 0,59 0,55 0,52 0,52 0,55 0,58 0,57
IBGE 95/96
0,82 0,95 0,96 1,06 0,67 0,75 0,84 0,75 0,73 0,82 0,90 0,83
IBGE 00/01
0,73 0,69 0,64 0,64 0,69 0,65 0,62 0,59 0,54 0,53 0,56 0,57
Mês
FIGURA 7 – Preço do kg vivo do boi segundo o IBGE e no Frigorífico Mercosul. Fonte dos dados brutos:
IBGE, (2004); SUÑÉ, (2005).
Dados do Brasil Central demonstram que o preço de venda da arroba entre 1997
e 2003 decresceu em 32,5% enquanto os custos de produção tiveram um significativo
aumento. Barcellos et al. (2004) analisando os custos de tecnologias no Rio Grande do
Sul, para intensificar a produção na bovinocultura de corte, observou um aumento
considerável nos custos de produção. Ao comparar os períodos de 1997-2000 e 20012004, para a adoção de desmame precoce, redução da idade ao acasalamento de 24 para
14 meses, redução do abate de 36 para 24 meses e de 24 meses para 18 meses, obteve
um aumento nos custos de 39%, 25%, 40% e 47%, respectivamente. Pesquisa mais
recente, feita pela CNA (2005), indica que em todas as regiões produtoras de carne no
Brasil, apresentaram grande acréscimo também nos custos de produção, a mão de obra
e suplementação mineral, que participam com 36% dos custos totais, aumentaram 8,3%
e 13,3%, respectivamente. De outra parte, cercas e máquinas agrícolas subiram mais de
20%. Portanto, todos os itens de produção estratégicos à pecuária de corte tiveram
uma majoração de preços acima do valor do quilograma do boi.
Em tese, os ganhos por produtividade deveriam ser suficientes para compensar
a perda da rentabilidade da atividade, provocada por custos crescentes e pela
incapacidade dos pecuaristas transferirem os aumentos de custos aos preços finais,
acarretando perdas nas relações de troca da carne bovina com os principais insumos
utilizados na pecuária.
Problemas relacionados com “status” sanitário do Estado, centralização do abate
em poucas plantas processadoras, concentração do varejo, concentração do setor de
insumos e a falta de coordenação da cadeia produtiva, podem ser as possíveis causas
dos baixos preços recebidos (BARCELLOS et al., 2004). Apesar do aumento das
exportações, o volume de carne exportada ainda é pequeno e o Rio Grande do Sul não
atingiu ainda os mercados que remuneram melhor. Para que o mercado interno pague
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
115
melhores preços, será necessária uma melhor qualidade da carne produzida, assim
como, estratégias de “marketing” e de produtos certificados que agreguem valor ao
produto conquistando os consumidores de maior poder aquisitivo e dispostos a pagar
pela diferença (LAZZARINI et al., 1996; FAVARET Fº; PAULA, 1997). É importante que
o setor se articule para reverter este quadro, de forma a reduzir custos e promover um
crescimento mais equilibrado entre os elos da cadeia produtiva. Iniciativas de algumas
redes de varejo e de frigoríficos demonstraram a percepção para esta realidade e
aproveitaram a oportunidade ampliando suas margens de lucro. Porém o setor só
poderá manter a força propulsora do crescimento por meio de uma distribuição mais
eqüitativa dos ganhos aos agentes da cadeia produtiva (NEVES et al., 2001;
BARCELLOS, 2002; FERREIRA; BARCELLOS, 2001).
A combinação dos custos de produção em alta e preços em baixa provoca perda
de margens ao segmento de produção, gerando desestímulos à manutenção dos
investimentos dos pecuaristas na atividade. Embora, o objetivo deste trabalho não
seja abordar as questões relativas à formação dos preços ao longo da cadeia, é possível
afirmar a partir dos dados da literatura, que está ocorrendo uma queda nas margens de
lucro no segmento dentro da porteira. Caso não haja uma recuperação na renda dos
produtores, poderá haver uma queda na produção de animais para os próximos anos,
comprometendo o desempenho das exportações e elevando os preços aos
consumidores finais no mercado interno. Desta forma, todo o avanço conquistado nos
últimos anos poderá ser perdido (MUSTEFAGA, 2004).
CONCLUSÕES
Com os resultados deste trabalho é possível verificar a evolução da pecuária
gaúcha nos últimos anos, pois a diminuição na sazonalidade de oferta, o aumento do
abate de novilhos jovens e a obtenção de pesos de carcaças mais altos, somente
podem ser obtidos com a adoção de tecnologias de insumos e de processos em todas
as etapas de produção cria, recria e terminação.
O sistema de comercialização vem mudando rapidamente, predominando a compra
de animais a rendimento pelo frigorífico, como forma de valorizar animais de melhor
qualidade. Neste cenário, os produtores foram aderindo ao sistema na substituição da
tradicional venda a peso vivo.
Com o avanço tecnológico, ocorreu um aumento na taxa de nascimentos, o que
tem permitido aos produtores comercializarem um maior efetivo de fêmeas. Contudo,
isto também pode estar associado à queda de preços recebidos pelos produtores o
que exige um maior desfrute do rebanho.
No período analisado é demonstrada claramente a queda do preço recebido pelo
produtor comparado com os anos 1990. Por outro lado, identifica-se uma flutuação
mínima ao longo do ano, o que possibilita um melhor planejamento dos investimentos
em melhorias tecnológicas.
116
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
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Recebido em: jan. 2008
120
Aceito em: abr. 2008
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
Avaliação de parâmetros do perfil
metabólico e do leite em diferentes
categorias de vacas leiteiras da raça Jersey
em rebanhos do Sul do Rio Grande do Sul
Talita B. Roos
Lúcio Vendramin
Elizabeth Schwengler
Maikel Alan Goulart
Pedro S. Quevedo
Viviane M. Silva
Paola M. Lima Verde
Francisco Augusto B. Del Pino
Cláudio D. Timm
Carlos Gil-Turnes
Marcio N. Corrêa
RESUMO
Desequilíbrios entre os nutrientes que ingressam no organismo animal, sua
biotransformação e a eliminação das substâncias resultantes podem ocasionar alterações no
metabolismo animal. A conseqüência direta dessa condição é a ocorrência das doenças metabólicas, também conhecidas como doenças da produção. Muitos desses desequilíbrios podem
provocar doenças subclínicas que são de difícil percepção, limitando a produção de um modo
persistente, provocando uma diminuição da produção, ocasionando perdas na rentabilidade do
produtor e ainda possíveis alterações na composição e qualidade do leite. Os transtornos
metabólicos podem ser detectados pelo estudo dos perfis bioquímicos no sangue. O objetivo
deste estudo foi avaliar parâmetros do perfil metabólico e do leite em diferentes categorias de
vacas leiteiras da raça Jersey em rebanhos do sul do Rio Grande do Sul. Foram utilizadas 59
Talita B. Roos é Méd. Vet. MSc. Doutoranda em Veterinária, UFPel – RS.
Lúcio Vendramin é Acadêmico em Medicina Veterinária, UFPel – RS.
Elizabeth Schwengler e Maikel Alan Goulart são Méds. Vets. Mestrandos em Veterinária, UFPel – RS.
Pedro S. Quevedo é Acadêmico em Medicina Veterinária, UFPel – RS.
Viviane M. Silva é Química, Mestranda em Química, UFPel – RS.
Paola M. Lima Verde é Médica Veterinária.
Francisco Augusto B. Del Pino é Farmacêutico e Bioquímico, Dr. Prof. Adjunto Dep. de Bioquímica do
Instituto de Química e Geociências da UFPel.
Cláudio D. Timm é Méd. Vet. Dr. Prof. Adjunto da Faculdade de Medicina Veterinária, UFPel – RS.
Carlos Gil-Turnes é Méd. Vet. Dr. Prof. Adjunto da Faculdade de Medicina Veterinária, UFPel – RS.
Marcio N. Corrêa é Méd. Vet. Dr. Prof. Adjunto da Faculdade de Medicina Veterinária, UFPel – RS.
Endereço para correspondência: Núcleo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Pecuária – NUPEEC
(www.ufpel.edu.br/nupeec), Departamento de Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, UFPel. Campus
Universitário s/nº – 96010-900 – Pelotas/RS Brasil. Talita B. Roos: [email protected]; [email protected]
p . 1 22008
1-130
Veterinária em Foco Veterinária
v. 5 v.5, n.2,
n.2jan./jun.
Canoas em Foco,
jan./jun. 2008121
vacas da raça Jersey de diferentes propriedades da região sul do Rio Grande do Sul, as fêmeas
foram divididas em três grupos: o primeiro de vacas (L1) 7 a 80 dias de lactação, o segundo (L2)
com vacas de 81 a 270 dias de lactação e o terceiro (vacas secas) com vacas de 45 a 10 dias préparto. Amostras de sangue e leite foram coletadas e encaminhadas aos laboratórios da Universidade Federal de Pelotas/Brasil, onde foram mensurados os seguintes parâmetros: no sangue,
glicose, uréia, albumina e aspartato transaminase (AST) e no leite, proteína verdadeira, lactose
e gordura. Os resultados demonstraram diferenças nos parâmetros metabólicos na glicose, uréia
e gama glutamil transferase (GGT), entre os grupos L1 e vacas secas, enquanto para os componentes do leite a diferença foi observada entre a gordura e a proteína verdadeira, sendo mais alta
no grupo L2. Nenhum dos animais apresentou alterações que confirmassem doença metabólica,
mesmo que subclínica, porém foram observadas as diferenças entre os diferentes períodos
produtivos, vindo a confirmar as diferentes necessidades nutricionais e metabólicas para cada
estágio produtivo dos animais.
Palavras-chave: Metabolismo. Bovinos. Leite.
Evaluation of metabolic profile and milk standards in different
categories of dairy herds in the Jersey breed in teh Southern of Rio
Grande do Sul
ABSTRACT
Instability between the nutrients in animal organism, their biotransformation and final
substances elimination can cause changes in the animal metabolism. The consequence of this
condition are metabolical diseases, known also as production diseases. Several of these imbalances
can cause subclinical diseases, that are difficult to perception, limiting the production of a
persistent manner, causing a decline in production, which causes losses in the profitability of
the producer and possible changes in the composition and quality of milk. The metabolic
disorders can be detected by the study of biochemical profiles in the blood. The objective of
this study was evaluating parameters of metabolic profile and milk in different categories of
dairy herds in the Jersey breed in the southern of Rio Grande do Sul. Fifty nine Jersey cows
were used from different properties of the southern region of Rio Grande do Sul, the females
were divided into three groups: the first of cows (L1) with 7 to 80 days of lactation, the second
(L2) with cows of 81 to 270 days of lactation and the third (dry cow) with cows from 45 to 10
days prepartum. Samples of blood and milk were collected and forwarded to the laboratory of
the Federal University of Pelotas / Brazil, where the following parameters were measured:
blood, glucose, urea, albumin and aspartate transaminase (AST) and in the milk true protein,
lactose and fat. The results showed differences in metabolic parameters in glucose, urea and
gama glutamil transferase (GGT), between groups L1 and dry cows, while the components of
milk for the difference was observed between fat and the true protein, being highest in the group
L2. None of the animals showed amendments that confirmed metabolic disease, even subclinical,
but the differences were observed between the different productive periods, coming to confirm
the various metabolic and nutritional needs for each productive stage of the animals.
Keywords: Metabolism. Bovine. Milk.
INTRODUÇÃO
A busca pelo aumento da produtividade na exploração leiteira determina que a
vaca passe por alterações fisiológicas que poderão provocar prejuízos em seu
122
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
desempenho produtivo. Para minimizar os efeitos destas alterações devem-se utilizar
manejos apropriados para a maior produtividade, especialmente no que se refere ao
equilíbrio nutricional adequado, atendendo às demandas metabólicas com alimentos
de qualidade, principalmente nos períodos de maiores requerimentos que
correspondem ao início da lactação. É nesse período que o animal chega ao máximo
de sua produção e seu consumo alimentar está diminuído, assim mobilizando suas
reservas corporais, para satisfazer os elevados requerimentos metabólicos (VERNON,
2005; INGVARTSEN, 2006).
Eventuais desequilíbrios entre os nutrientes que ingressam no organismo animal,
sua biotransformação e a eliminação das substâncias resultantes podem ocasionar
alterações no metabolismo animal. Quando esses desequilíbrios são de curta duração
e não são muito severos, o metabolismo pode compensar utilizando as reservas
corporais. Se for mais grave, o animal pode esgotar suas reservas corporais, não
havendo compensação metabólica. A conseqüência direta dessa condição é a
ocorrência das doenças metabólicas, também conhecidas como doenças da produção
(WITTWER, 2000).
Muitos desses desequilíbrios podem provocar doenças subclínicas que são de
difícil percepção, limitando a produção de um modo persistente, provocando uma
diminuição da produção, ocasionando perdas na rentabilidade ao produtor e ainda
possíveis alterações na composição e qualidade do leite (INGVARTSEN, 2006). Na
maior parte os transtornos metabólicos podem ser detectados pelo estudo dos perfis
bioquímicos no sangue; para isso deve-se levar em conta características gerais do
rebanho, localização geográfica e o estado fisiológico dos animais (PAYNE; PAYNE,
1987; GRANDE; SANTOS, 2006).
Além das questões ligadas a produção de leite, observa-se também durante o
período reprodutivo o aumento das demandas metabólicas, podendo levar à diminuição
da fertilidade desses animais e dificultando a obtenção de um parto ao ano. Entre as
principais causas de diminuição de fertilidade citam-se o deficiente fornecimento
nutricional e o desequilíbrio de minerais, principalmente cálcio e fósforo (GALIMBERTI
et al., 1997; DUFFIELD et al., 1999).
Por se tratarem de alterações sem sinais aparentes, normalmente animais
acometidos por transtornos metabólicos subclínicos não são detectados pelos
produtores e mesmo por técnicos, mas muito provavelmente provocarão prejuízos
econômicos (NOORDHUIZEN, 2006). Tais alterações só poderão ser detectadas caso
o técnico responsável pelo sistema opte por realizar um diagnóstico específico através
da realização de testes diagnósticos, nos quais podemos incluir o perfil metabólico
(OSTERGAARD; SORENSEN, 1998). Porém, geralmente é restrito o número de
informações de cada região e mesmo de cada propriedade.
O objetivo deste estudo foi avaliar parâmetros do perfil metabólico e do leite em
diferentes categorias de vacas leiteiras da raça Jersey em rebanhos do sul do Rio
Grande do Sul.
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
123
MATERIAL E METÓDOS
O experimento foi realizado em 6 propriedades leiteiras da região sul do Rio
Grande do Sul, Brasil, no período da primavera. Animais de todas as ordens de lactação
foram coletados, sendo 20% de cada categoria por propriedade, totalizando 59 vacas.
Os animais foram mantidos na rotina da propriedade de origem, entendendo assim a
possível existência de diferenças de manejo entre as localidades, principalmente
podendo diferir em algum grau o manejo nutricional. Ambas as coletas, sangue e leite
foram realizadas após a ordenha. Antes da coleta de leite foi realizado o teste do
Califórnia Mastitis Test (CMT) para exclusão de animais com possível infecção na
glândula mamária. Os animais estudados foram divididos em três grupos de acordo
com o período produtivo (Tabela 1).
TABELA 1 – Categorização dos animais utilizados no experimento, de acordo com o período produtivo.
Grupos
Lactação 1
Lactação 2
Vacas secas
Total
Período
7 a 80 dias de lactação
81 a 270 dias de lactação
45 a 10 dias pré-parto
N° de animais
20
27
12
59
As amostras de sangue foram colhidas através de punção da veia jugular, sendo
dividas em tubos de ensaio conforme a necessidade de cada análise realizada, como
mostra a Tabela 2.
Após coleta as amostras foram centrifugadas a 3500 rpm durante 10 minutos e
distribuídas em dois eppendorff, posteriormente refrigeradas (±4ºC) ou congeladas (18ºC) conforme a necessidade.
TABELA 2 – Coleta, processamento e armazenamento do sangue para cada análise realizada.
Perfil
Análise
Metodologia
Energético
Glucose
Método da glicose oxidada
Protéico
Albumina
Uréia
Técnica do verde de
bromocresol
Técnica da urease
AST
GGT
Técnica de Reitiman e Frankel
Técnica Szasz modificado
Enzimático
Material
Plasma com EDTA 10% e KF
12%
Soro
Plasma com EDTA 10% e KF
12%
Plasma com EDTA 10%
Plasma com EDTA 10%
Armazenamento
±4ºC
±4ºC
±4ºC
±4ºC
-18°C
O perfil energético foi determinado a partir das concentrações plasmáticas de
glucose (método da glicose oxidase), foram utilizadas amostras refrigeradas de plasma
contendo fluoreto (KF), sendo este um inibidor da glicólise. Para determinação do
124
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
perfil protéico foram aferidas as concentrações de albumina (técnica do verde de
bromocresol) e uréia (técnica da urease) em soro e plasma refrigerado contendo inibidor,
respectivamente. A enzima aspartato transaminase (AST) (técnica de Reitiman e Frankel)
foi determinada em plasma refrigerado, enquanto a gama glutamil transferase (GGT)
(técnica Szasz modificado) foi quantificada nas amostras de plasma congelado. Todos
os metabólitos e enzimas foram dosados usando kits reagentes específicos (LABTEST®)
com a utilização de espectrofotômetro de luz visível FEMTO 435® (Pharmacia Biotech
Ultrospec 2000®).
Foram colhidas amostras de leite a partir da ordenha total, armazenadas em frasco
estéril, mantidas em refrigeração e imediatamente enviadas ao laboratório, onde foram
mensuradas as concentrações dos constituintes do leite, proteína verdadeira, lactose
e gordura e sólidos totais, através de leitura por absorção infravermelha, utilizando-se
o equipamento Bentley 2000®.
Foram geradas análises estatísticas, utilizando o software Statistix 8.0 for
Windows. Para comparação das médias foi utilizado o Teste-t.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A tabela 3 descreve os resultados obtidos dos metabólitos e enzimas dos três
grupos de animais estudados no experimento.
TABELA 3 – Médias das concentrações de glicose, albumina e uréia sanguínea, AST e GGT, observadas no
experimento para cada grupo experimental.
Grupo
Glicose
(mmol/l)
Albumina
(g/l)
Uréia
(mmol/l)
AST
(UI/ml)
GGT (mg/dl)
Lactação 1
Lactação 2
Vacas Secas
2,67a
2,75ab
2,93b
27,1
27,9
27,1
3,96a
4,16ab
3,41b
44,20
44,38
43,06
29,24a
26,74ab
19,71b
Valores seguidos de letras distintas na mesma coluna, diferem por pelo menos P<0,05.
As concentrações de glicose nos animais desse experimento encontram-se todas
de acordo com os limites citados por Kaneko et al. (1997). Observou-se que as vacas
do grupo Lactação 1 apresentaram níveis de glicose sanguínea inferiores (p<0,05)
quando comparadas às vacas secas. A concentração de glicose sanguínea apresenta
pouca variação, devido aos mecanismos homeostáticos do organismo; em função
disto a dieta não apresenta grande influência sobre a glicose, exceto em condições de
desnutrição exacerbada. O fato dos animais do grupo Lactação 1 apresentarem níveis
inferiores de glicose sanguínea provavelmente é devido à importância da glicose no
metabolismo energético da vaca leiteira, em função da síntese da lactose pela glândula
mamária, sendo maior a demanda no período inicial do pós-parto até ultrapassar o pico
de lactação (PAYNE; PAYNE, 1987). Os resultados observados nos animais estudados
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
125
provavelmente devem-se, ao fato da dieta não suprir as necessidades fisiológicas e
metabólicas dos animais do grupo Lactação 1, com isso a glicose sanguínea é desviada
para a síntese de lactose na glândula mamária, conseqüentemente diminuindo os níveis
de glicose sanguínea. Enquanto que a diferença, mesmo que apenas numérica do
grupo Lactação 2, pode ser explicada pelo fato destes animais não estarem mais com a
necessidade da mudança de metabolismo para produção de leite, e sim já adaptados a
esta condição de lactação.
As concentrações de albumina nos animais do experimento encontram-se todas
abaixo dos limites citados por Kaneko et al. (1997), não sendo observadas diferenças
entre os grupos estudados. No pós-parto, considera-se a albumina como um indicador
da função hepática, pois fisiologicamente existe uma queda desta proteína no período
do parto e a recuperação destes níveis depende da atividade do fígado em sintetizála. Quanto maior a capacidade de recuperação dos níveis de albumina no sangue,
maiores são as chances do animal apresentar um bom desempenho reprodutivo e
produtivo. O limite crítico de albumina sanguínea é de 30 g/L; abaixo disso a vaca
estaria com seu metabolismo comprometido, podendo influenciar negativamente o
desempenho produtivo e reprodutivo (GONZÁLEZ, 1997). Os baixos valores de
albumina obtidos nesse estudo, provavelmente, são conseqüências da deficiência
protéica na dieta, já que a albumina é uma medida mais em longo prazo dos níveis de
proteína. Porém, não se descarta uma falha na função hepática, já que as duas
situações são comuns em gado de leite, principalmente no início da lactação, período
em que a dieta geralmente apresenta-se em quantidades inadequadas de proteína e a
glândula mamária prioriza os aminoácidos disponíveis para a síntese de caseína
(PAYNE; PAYNE, 1987).
Foram observadas concentrações de uréia similares às preconizadas por outros
autores (WITTWER et al., 1987; ROSSATO, 2000). Porém as vacas do grupo Lactação
1 apresentaram níveis superiores (p< 0,05) quando comparadas às vacas secas. Os
níveis de uréia sanguínea costumam oscilar rapidamente em função de alterações na
dieta, constituindo-se em um sensível indicador da ingesta protéica. Altas concentrações
de uréia podem refletir um consumo excessivo de fontes protéicas, por outro lado
baixos níveis de uréia podem ser resultados de uma deficiência energética na dieta
(BAKER et al., 1995). Assim, é possível que as vacas secas utilizadas neste estudo
estivessem sendo submetidas a um manejo alimentar deficiente ou inadequado, no
que se refere aos níveis protéicos.
Não foram observadas diferenças (p>0,5) na concentração sanguínea da enzima
aspartato-aminotranferase (AST) entre os grupos estudados. A AST pode indicar o
mau funcionamento do fígado aumentando seu nível na corrente circulatória em casos
de desordens hepáticas, como, por exemplo, em hipoglicemias (GONZÁLEZ; SILVA,
2006), ou ainda, em qualquer outro caso de anormalidades infecciosas ou tóxicas que
afetem as funções desse órgão (GREGORY et al., 1999) Com isso observamos que os
animais em estudo não apresentavam alterações hepáticas que viessem a ocasionar
alterações nesse metabólito.
126
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
A enzima gama-glutamil tranferase (GGT) apresentou diferença (p<0,05) entre os
grupos Lactação 1 e as vacas secas, observando-se uma concentração inferior nas
vacas secas em relação aos animais do grupo Lactação 1. Esta enzima também é utilizada
como indicador de lesão subclínica hepática (MELAKU et al., 2004; STELLA et al.,
2007). Estas enzimas aumentam sua atividade quando há necessidade de formação de
cetoácidos a fim de manter as concentrações plasmáticas de compostos energéticos,
por excesso de aminoácidos, ou quando houver lesão celular principalmente hepática
(STELLA et al., 2007). Os animais do grupo Lactação 1 provavelmente apresentaram
uma concentração mais elevada, quando comparados com as vacas secas, por estarem
recebendo uma maior quantidade de proteínas na dieta, porém, este aumento não
esteve relacionado à disfunção hepática, pois em nenhum dos casos a GGT apresentouse em concentrações acima do considerado normal.
Na tabela 4 serão descritos os resultados obtidos para os componentes do leite
dos dois grupos de animais estudados no experimento.
TABELA 4 – Médias da concentração de gordura, lactose e proteína verdadeira (PV) analisados no
experimento para os dois grupos lactantes estudados.
Grupo
Gordura (%)
Lactose (%)
PV
Lactação 1
Lactação 2
3,7a
4,4b
4,4
4,3
3,4a
3,2b
Valores seguidos de letras distintas na mesma coluna, diferem por pelo menos P<0,05.
Os teores de gordura das amostras de leite estão acima do limite mínimo permitido
pelo Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal –
RIISPOA, do Ministério da Agricultura (BRASIL, 1996), sendo inferior (p<0,05) nos
animais do grupo Lactação 1, quando comparado com o grupo L2. A gordura é o
componente do leite sujeito a maior variação, podendo ser influenciado por fatores
genéticos, raça, estação do ano. Porém, as principais causas geralmente são de origem
nutricional. Provavelmente os animais do grupo Lactação 1 tenham recebido uma maior
proporção de concentrado na dieta em relação aos demais animais, assim alterando a
fermentação ruminal, que passou a produzir mais ácido propiônico e uma menor produção
de acido acético que é o principal precursor da gordura do leite, conseqüentemente
diminuindo o teor de gordura do leite (MAEKAWA et al. 2002; COSTA et al. 2005).
O teor de lactose observado nos animais estudados estava de acordo com os
limites estipulados na legislação e conforme o esperado não apresentou diferenças
(p< 0,05) entre os grupos estudados. A concentração de lactose no leite não pode ser
alterada por fatores nutricionais, indicando que seus níveis estão ligados diretamente
com a função osmótica e a produção de leite da glândula mamária, ou seja, os teores da
lactose tendem a aumentar conforme vão se aproximando do pico de lactação e,
conseqüentemente, irão diminuir ao final da lactação, mas geralmente de forma não
significativa (PERES, 2001; WATTIAUX; ARMENTANO, 2007).
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
127
O teor de proteína verdadeira apresentou diferença entre os grupos estudados,
sendo inferior (p<0,05) no grupo de animais Lactação 1. O teor de proteína do leite é
menos variável, pois fatores que tendem a aumentar a proteína do leite também estimulam
a sua síntese. O valor de proteína pode ser influenciado por vários fatores, entre eles,
raça do animal, estágio da lactação, características genéticas e ainda as alterações de
origem nutricional (PONCE et al., 1990). Um aumento da proporção de concentrados na
dieta desses animais pode ter ocasionado uma alteração na fermentação ruminal,
levando a uma maior produção de ácido propiônico. Autores sugerem que bactérias
que sintetizam ácido propiônico possuam um perfil de aminoácidos mais adequados à
síntese de proteínas do leite (CARVALHO, 2000; KNORR, 2007).
CONCLUSÃO
Nenhum dos animais apresentou alterações que confirmassem doença metabólica,
mesmo que subclínica, porém foram observadas diferenças entre os períodos
produtivos, vindo a confirmar as diferentes necessidades nutricionais e metabólicas
para cada estágio produtivo dos animais. As diferenças observadas tanto nos
parâmetros metabólicos utilizados quanto na composição do leite, ocorreram
provavelmente devido a alterações nutricionais, realizadas conforme o período
produtivo que o animal se encontrava.
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Recebido em: jan. 2008
130
Aceito em: abr. 2008
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
Urolitíase em novilho nelore não-castrado
Paulo César Amaral Ribeiro da Silva
Cícero Araújo Pitombo
Luiz Fernando Oliveira Caetano
André Gomes Lima
Vagner Sarmento Arêas
Lhilton Vargas Júnior
RESUMO
Neste trabalho relata-se um caso de urolitíase obstrutiva ocorrida em um bovino da raça
nelore, de 1 ano e 3 meses de idade, do sexo masculino, não castrado, criado em sistema intensivo,
em uma fazenda no município de São Gonçalo – RJ, Brasil. O animal apresentou sintomas agudos,
foi submetido ao exame clínico e ultrassonográfico. Através da necropsia foram observadas alterações macroscópicas que mostravam a agressividade da patologia. O exame histopatológico foi
utilizado para observar e relatar alterações microscópicas dos órgãos afetados. O referido caso
trata-se de um animal não castrado, não havendo relatos como este na literatura, sendo necessários
maior atenção e estudos, visto que a doença leva a sérios prejuízos econômicos.
Palavras-chave: Bovino. Urolitíase. Obstrutiva.
Urolithiasis in steer nelore uncastrated
ABSTRACT
This article reports an obstructive urolithiasis in a bovine of 1 year and 3 months of age,
male, Nelore, uncastrated, which was maintained in confinement in a farm in the city of São
Gonçalo, RJ, Brazil. The animal presented acute symptoms and was submitted to clinical and
ultrassonographic examinations. Necropsy showed macrocospic alterations that suggest the
aggressiveness of the pathology. Histopathologic examination was done to report microscopic
alterations of the affected organs. This case is about an uncastrated animal, with no reports like
this described in the literature, requiring further attention and study, because the disease leads
to serious economic losses.
Keywords: Bovine. Urolithiasis. Obstructive.
Paulo César Amaral Ribeiro da Silva é Médico Veterinário, Dr., Professor Adjunto II do Departamento de
Medicina Veterinária da Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias – CCAUFES.
Cícero Araújo Pitombo é Médico Veterinário, Dr., Professor Adjunto II da Universidade Federal Fluminense – UFF.
Luiz Fernando Oliveira Caetano é Médico Veterinário Autônomo.
André Gomes Lima é Médico Veterinário, Residente em Clínica, Cirurgia e Reprodução em Animais de
Produção da Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias – CCAUFES.
Vagner Sarmento Arêas é Acadêmico de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Espírito Santo,
Centro de Ciências Agrárias – CCAUFES.
Lhilton Vargas Júnior é Acadêmico de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Espírito Santo,
Centro de Ciências Agrárias – CCAUFES.
Endereço para correspondência: Professor Paulo César Amaral Ribeiro da Silva – Universidade Federal do
Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias – CCAUFES, departamento de Medicina Veterinária. Alto Universitário s/ número, caixa postal no 16, Alegre, Espírito Santo.
p . 1 3 12008
-136
Veterinária em Foco Veterinária
v. 5 v.5, n.2,
n.2 jan./jun.
Canoas em Foco,
jan./jun. 2008131
INTRODUÇÃO
A urolitíase define-se como formação de cálculos em conseqüência da precipitação
de minerais ou substâncias orgânicas no trato urinário. Quando há obstrução da passagem
de urina, a alteração denomina-se urolitíase obstrutiva, ocorrendo acúmulo de urina na
bexiga e acarretando processo inflamatório, hidronefrose e uremia pós-renal. A nutrição
e o manejo são os principais fatores predisponentes para o aparecimento da urolitíase
(RIET-CORREA, 2001; RADOSTITS, 2002; REBHUN, 2000). A doença é comum entre os
ruminantes criados em sistema de manejo em que a ração é composta principalmente de
grãos (RADOSTITS, 2002), ou quando os animais consomem pastos que contêm grande
quantidade de sílica ou oxalatos. (REBHUN, 2000).
As dietas ricas em concentrado aumentam as mucoproteínas urinárias e levam a
uma solidificação dos solutos urinários. As dietas ricas em fósforo (P), ou desequilíbrio
de cálcio (Ca) e P na ração (REBHUN, 2000), especialmente o trigo que contém alto teor
de fósforo (GONZÁLES, et al. 2000), a deficiência de vitamina A, o excesso de estrógenos,
a hipervitaminose D, a redução do consumo hídrico (REBHUN, 2000) e o pH da urina
(RADOSTITS, 2002), são fatores predisponentes a urolitíase. Segundo o National
Reserch Council (1985), citado por Del Claro, et al. (2006), o uso de 0,5% de sulfato de
amônia ou cloreto de amônia na ração total diminui a urolitíase em ovinos.
A afecção ocorre com maior freqüência em bovinos machos castrados criados
em sistema intensivo (RIET-CORREA, 2001; RADOSTITS, 2002; REBHUN, 2000). A
urolitíase ocorre em todas as espécies de ruminantes, porém a maior importância
econômica é em novilhos e carneiros castrados para engorda (RADOSTITS, 2002),
pois o diâmetro da uretra fica significativamente menor comparativamente ao dos
touros (SMITH, 1993). Os cálculos desenvolvem-se em machos e fêmeas similarmente,
mas a urolitíase obstrutiva ocorre principalmente em machos devido às diferenças
anatômicas e hormonais (FRASE, 1991). A obstrução em bovinos machos ocorre mais
comumente na região sigmóide distal uretral. Também são possíveis cálculos renais,
ureterais e vesicais, mas a obstrução uretral constitui a situação clínica mais comum
(REBHUN, 2000).
Em ruminantes, os tipos predominantes de cálculos são os compostos de estruvita
(fosfato de magnésio e amônia), silicatos, carbonatos, oxalatos e a formação de tais cálculos
depende da super saturação da urina com cristalóides calculogênicos (SMITH, 1993).
Em agosto de 1999, foi diagnosticada a enfermidade na região sul em um rebanho
de bovinos de corte confinados. De um total de 1.100 novilhos castrados, cinco foram
afetados. Os novilhos recebiam alimentação rica em grãos e pobre em forragem. A
análise química revelou que os cálculos urinários eram formados por fosfato e amônio.
Um desequilíbrio na relação cálcio-fósforo (0,4: 0,6) foi constatado através da análise
da ração utilizada, acreditando-se que esse seria o motivo da formação dos cristais
(LORETTI, 2003).
No Rio Grande do Sul, um surto de urolitíase foi diagnosticado em bovinos
machos castrados, confinados e alimentados com ração concentrada e com pouca
132
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
disponibilidade de água. Os cálculos continham fosfato de amônia. Alguns surtos de
urolitíase em bovinos castrados em pastoreio ocorrem no Mato Grosso do Sul e Minas
Gerais. As causas destes surtos e a constituição dos urólitos não têm sido
diagnosticadas (RIET-CORREA, 2001).
Há sinais clínicos de dor abdominal aguda de aparecimento súbito, observa-se
anorexia, inquietação, dificuldade para andar e marcha rígida (RIET-CORREA, 2001,), o
prolapso retal podendo ser seqüela do esforço (FRASE, 1991). No exame retal, a uretra
e bexiga são palpadas distendidas, e a uretra mostra-se dolorida e pulsa quando
manipulada (RADOSTITS, 2002). Ruptura da bexiga é a seqüela mais séria da obstrução
uretral (SMITH, 1993). Quando há ruptura, o animal apresenta melhora aparente pelo
alívio da dor. Posteriormente observa-se depressão marcada e aumento de volume do
abdômen, que está preenchido com urina. A morte por uremia ocorre 2-3 dias após a
ruptura. O curso clínico pode ser de 5 –7 dias (RIET-CORREA, 2001).
Microscopicamente, há evidencias de alterações inflamatórias crônicas e de
hemorragia no trato urinário inferior. Usualmente a mucosa está ulcerada, mas pode
haver áreas de hiperplasia das células epiteliais transicionais, com numerosas células
caliciformes. Ocorrem degeneração e necrose da musculatura lisa, nos casos severos
(THOMSON, 1990). O tecido renal sofre atrofia progressiva com aumento de tecido
conjuntivo intersticial, desaparecimento de túbulos renais, obstrução de glomérulos e
outras alterações (SANTOS, 1986).
A mortalidade é alta nos casos de obstrução uretral, e o tratamento é
principalmente cirúrgico. Como resultado, a prevenção é importante para diminuir as
perdas por urolitíase (RADOSTITS, 2002).
O perfil metabólico revela hiperfosfatemia e hipermagnesemia, com ou sem
hipocalcemia. O tratamento consiste na adição de carbonato de Ca no alimento para
inibir a absorção de P no intestino (GONZÁLEZ, et al. 2000).
RELATO DE CASO
No município de São Gonçalo, Rio de Janeiro, um bovino da raça nelore, macho, não
castrado, com um ano e três meses de idade, apresentou-se em decúbito, apático e com
sinais de dor, tendo sido criado em sistema intensivo, alimentado com capim de espécies
variadas, feno, concentrado e água de boa qualidade à vontade. O animal havia demonstrado
os sinais repentinamente, não se observando eliminação de urina ou defecação.
Ao exame clínico, apresentava temperatura corporal 38.5°C, 64 batimentos cardíacos
por minuto, 52 movimentos respiratórios por minuto, intensa sialorréia, batia os membros
posteriores no chão e balançava a cauda simultaneamente, sinais característicos de dor.
Através da palpação retal notou-se um aumento da vesícula urinária. O exame
ultrassonográfico revelou pequenos pontos hiperecóicos, espessamento da parede e
muita celularidade, sugerindo a presença de cálculos. Foi realizada então uma punção da
bexiga através do reto com agulha 40x16 conectada a um equipo. A urina obtida
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
133
apresentava-se com coloração avermelhada. Devido à gravidade do quadro clinico decidiuse intervir cirurgicamente e durante o procedimento optou-se pela eutanásia do animal.
No exame “post mortem” os rins apresentavam-se aumentados, com a cápsula espessada
e áreas de coloração avermelhada. A bexiga apresentava-se muito distendida sendo que,
em sua parte externa apresentava uma coloração vermelho escuro com áreas enegrecidas
(Figura 1). Quando de sua abertura, a mucosa apresentava-se cinza escura, a urina era
avermelhada e continha cálculos arenosos. A uretra apresentava-se dilatada com presença
de cálculos do mesmo aspecto dos existentes na bexiga.
FIGURA 1 – Foto macrografia da vesícula urinária distendida com áreas avermelhadas e enegrecidas.
Através do exame histopatológico foi evidenciada nefrite intersticial (Figura 2).
Observou-se extensa área de hemorragia intersticial, necrose tubular, presença de
trombos e degeneração glomerular. A bexiga apresentou uma cistite ulcerativa associada
à hemorragia. Foi observada destruição da mucosa e hemorragia profusa da parede do
órgão (Figura 3), infiltrado inflamatório, congestão da submucosa e afastamento das
fibras musculares.
FIGURA 2 – Foto micrografia do rim bovino apresentando nefrite intersticial. HE-200x.
134
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
FIGURA 3 – Foto micrografia da vesícula urinária com cistite, destruição da mucosa e hemorragia profunda
da parede do órgão. HE – 40x.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Radostits et al. (2002) relatam que a urolitíase ocorre em todas as espécies de
ruminantes, porém a maior importância econômica é em novilhos castrados para engorda,
assim como Loretti (2003) e Riet-Correa et al. (2001) relataram surtos na região sul, em
animais castrados e confinados. No presente relato, o novilho não era castrado.
O novilho em questão era criado em sistema intensivo com alta oferta de
concentrado e, de acordo com Rebhun (2000), as dietas ricas em concentrado aumentam
as mucoproteínas urinárias e levam a uma solidificação dos solutos urinários.
Riet-Correa et al. (2001) relataram que, após a obstrução, há espasmo,
inflamação e diminuição ou supressão do fluxo de urina, o que causa dor e cólicas.
Ocorre retenção de urina na bexiga e hidronefrose, conforme também foi observado
no presente caso.
Radostits et al. (2002) afirmam que, no exame retal, a uretra e a bexiga são palpadas
distendidas, e a uretra mostra-se dolorida e pulsa quando manipulada. No caso ora
relatado observou-se apenas distensão da bexiga.
Thomson (1990) afirma que os animais que morrem de obstrução urinária
apresentam a bexiga enormemente distendida, com parede delgada e freqüentemente
difusamente hemorrágica, características evidenciadas na necropsia do novilho e
microscopicamente há evidências de alterações inflamatórias, hemorragia no trato
urinário inferior e usualmente mucosas ulceradas. O exame histopatológico do caso
relatado evidenciou essas alterações.
CONCLUSÕES
O presente trabalho permitiu comparar os achados clínicos do caso descrito com
os relatos de literatura.
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
135
O sistema intensivo de criação com a utilização de concentrado pode ser um fator
predisponente para ocorrência da urolitíase.
Igualmente como verificado na literatura, o exame físico através da palpação retal
associado ao histórico e os dados epidemiológicos foram suficientes para determinar
o diagnóstico.
Segundo dados existentes na literatura e o acompanhamento deste caso, o apoio
ultrassonográfico mostrou-se importante para elucidação do caso clínico.
De acordo com a literatura e o relato deste caso, o prognóstico desta doença é
grave devendo-se optar por medidas profiláticas.
O referido caso trata-se de um animal não castrado, não havendo relatos como
este descrito na literatura, sendo necessários maior atenção e estudos, visto que a
doença leva a sérios prejuízos econômicos.
REFERÊNCIAS
DEL CLARO, G. R; ZAETTI, M. A; et al. Balanço cátion-aniônico da dieta no metabolismo de cálcio em ovinos. Ciência Rural, Santa Maria, v.36, n.1, jan./fev., 2006.FRASE, C.
M. Manual Merck de Veterinária. 6.ed. São Paulo: Roca, 1991. GONZÁLEZ, F. H. D.;
BARCELLOS, J.; PATIÑO, H. O.; RIBEIRO, L. A. Perfil metabólico em ruminantes: seu
uso em nutrição e doenças nutricionais, Porto Alegre: Gráfica UFRGS, 2000.
LORETTI, A. P. et al. Estudo clínico e anatomopatológico de um surto de urolitíase
obstrutiva em bovinos confinados na Região Sul do Brasil. Pesq. Vet. Bras., Rio de
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Ovinos, Suínos, Caprinos e Eqüinos. 9.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
REBHUN, W. C. Doenças do Gado Leiteiro. São Paulo: Roca, 2000. RIET-CORREA, F.
Urolitíase. In: RIET-CORREA, F. et al. Doenças de Ruminantes e Eqüinos. 2.ed. São
Paulo: Varela, 2001.
SANTOS, J. A. Patologia especial dos animais domésticos. 2.ed. Rio de Janeiro:
Guanabara, 1986.
SMITH, B. P. Tratado de Medicina Veterinária Interna de Grandes Animais. São
Paulo: Malone, 1993.
THOMSON, R. G. Patologia veterinária especial. Rio de Janeiro: Malone, 1990.
Recebido em: dez. 2007
136
Aceito em: maio 2008
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
Urolitíase em eqüino
Renato S. Pulz
Camila Silva
Luis A. Scott
Cíntia Simões
Heloísa Santini
Flávia Facin
RESUMO
Os eqüinos podem ser acometidos por urolitíases, e o cálculo vesical é o mais comum. O
mecanismo de formação dos urólitos é desconhecido e vários fatores podem estar envolvidos na
formação da doença. O presente trabalho teve por finalidade descrever a ocorrência de um
cálculo cístico em um eqüino. O animal com sinais clínicos de obstrução das vias urinárias e
diagnóstico ultra-sonográfico de cálculo na bexiga foi submetido a cirurgia. A cistotomia revelou
um cálculo arenoso de aproximadamente 3 quilos composto basicamente por carbonato de
cálcio. No pós-operatório o paciente apresentou atonia vesical. Não foi possível concluir qual
foi a etiologia da doença, porém foram considerados como fatores predisponentes a elevada
dureza da água consumida e uma possível atonia vesical prévia.
Palavras-chave: Urólito. Cálculo vesical. Eqüino. Bexiga.
Urolithiasis in equine
ABSTRACT
The equines can have urolthiasis and the vesical calculi is most common. The mechanism
of formation of the urolith in unknow and some factors can be involved in the formation of
disease. The aim of this paper is to describe the occurrence of a cystic calculi in a horse. The
animal with clinical signs of blockage of the urinary tract and diagnostic ultrasound of a stone
in the bladder was submitted to surgery. The cystotomy basically disclosed three kilos
approximately and is composed of an arenaceous stone of calcium carbonate. In the postoperative
period the patient it presented vesical atony. It was not possible to conclude which was the
etiology of the illness, however it can be consider as predisponent factors the raised hardness
of the water and a previous vesical atony.
Keywords: Urolith. Vesical calculi. Equine. Bladder.
Renato S. Pulz é Médico Veterinário, Dr. Professor da Disciplina de Cirurgia da ULBRA.
Camila Silva é Médica Veterinária – 1ª Tem. do 30 Regimento de Cavalaria de Guarda.
Luis A. Scott é Médico Veterinário.
Cíntia Simões é Médica Veterinária Residente do HV – ULBRA.
Heloísa Santini é Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA.
Flávia Facin é Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA.
Endereço para correspondência: Faculdade de Medicina Veterinária – ULBRA. Av. Inconfidência, 101,
Prédio 25. Canoas/RS. CEP: 92420-280. E-mail: [email protected]
p . 1 3 72008
-142
Veterinária em Foco Veterinária
v. 5 v.5, n.2,
n.2 jan./jun.
Canoas em Foco,
jan./jun. 2008137
INTRODUÇÃO
A espécie eqüina é raramente afetada por doenças do trato urinário (KELLER,
1990). Segundo o autor uma das enfermidades que podem ocorrer é a formação de
cálculos. Os precipitados em forma de pedra em qualquer local das vias urinárias são
chamados de urolitíases. A pedra é chamada de urólito ou cálculo urinário e são
encontrados com maior freqüência na bexiga e nestes casos são denominados de
cálculos císticos (JONES, 2000). Knottembelt e Pascoe (1998) comentam que os cálculos
vesicais constituem a forma clínica mais comum de urolitíase no cavalo e Bayly (2000)
observou uma prevalência estimada em 0,11% e 7,8% dos cavalos examinados por
doenças do trato urinário.
Segundo Divers (1993), a ocorrência da doença é maior em machos do que nas
fêmeas e esta menor predisposição da fêmea deve-se a uma uretra mais curta, larga e
distensível, o que permite a passagem do cálculo.
Frasier (2001) afirmou que o mecanismo de formação dos urólitos nos eqüinos é
desconhecido, porém ressaltou que o pH e o alto teor mineral urinário possam favorecer
a formação de cristais. A urina normal de cavalos contém grande quantidade de
mucoproteínas, que podem servir como substância cimentante para aderir os cristais.
Além disto, é altamente alcalina, o que facilita a cristalização da maioria dos componentes
de um urólito, em especial o carbonato de cálcio. O mesmo autor salientou ainda que o
consumo de água e alimentos ricos em teor mineral pode aumentar a concentração
urinária de solutos e com isto promover a cristalização e precipitação.
Segundo Scott II (2000) os fatores que contribuem para a precipitação de cristais
urinários incluem a hipersaturação urinária e a retenção prolongada de urina, além de
tendências genéticas para excretar grandes quantidades de cálcio, ácido úrico ou
oxalatos. Conforme este autor, nos casos de paralisia de bexiga, a estase do fluxo
urinário possibilita o contato entre o material cristalóide e uroepitélio favorecendo a
nucleação. Bayly (2000) corrobora a afirmação de que a atonia da bexiga pode ser
responsável pelo acúmulo de sedimentos e obstrução. Knottenbelt e Pascoe (1998)
também citaram a ocorrência de paralisia de bexiga em eqüinos como fator predisponente
da enfermidade. A perda do controle da função vesical é um problema relativamente
raro em eqüinos, as disfunções da micção em eqüinos podem estar associadas a
mieloencefalopatias de causas traumáticas, neoplásicas ou infecciosas. Nestes casos,
podem estar presentes ainda sinais como: a perda do tônus do esfíncter anal, paralisia
da cauda, hipoalgesia sobre o períneo, atrofia dos músculos do quadril e do membro
posterior e fraqueza nos posteriores (BAYLY, 2000; DÜSTERDIEK, 2003).
Segundo Brown e Bertone (2005), o esvaziamento vesical incompleto causa
acúmulo de grandes quantidades de sedimento urinário sabuloso ou mucóide na bexiga,
que consiste basicamente em cristais de carbonato de cálcio (urolitíase sabulosa). O
peso e o volume desse material provoca uma distensão progressiva da bexiga, com a
perda da função do músculo detrusor e paralisia progressiva (bexiga miogênica), que
vai interferir na micção normal.
138
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
De acordo com Divers (1993) o exame clínico deve incluir a observação do cavalo
durante a micção, palpação retal da bexiga, evacuação manual da bexiga durante o
exame retal e avaliação do tônus do esfíncter anal. Uma história completa, inclusive o
exame neurológico, deveram ser obtidos em todos cavalos com incontinência urinária
inexplicada.
Os sintomas da presença do cálculo vesical variam muito e dependem do tamanho
e da composição da “pedra”. Comumente causam cistite, e o animal pode apresentar
evidente desconforto abdominal, encurvamento da coluna lombar (cifose), dificuldade
locomotora posterior e relutância para trotar e galopar. O cavalo apresenta tenesmo e
dor à micção, e a urina pode apresentar coloração vermelha (hematúria), devido à lesão
vascular na parede da bexiga, ou apenas manchada de sangue no final da micção.
Perda de peso crônica pode ocorrer, pois pode estar associada a quadros de desconforto
abdominal de graus leves e esporádicos (THOMASSIAN, 1996). Knottenbelt e Pascoe
(1998) observaram que no macho, o sinal mais evidente é a incontinência urinária, em
que ocorre gotejamento intermitente ou contínuo de pequenos volumes de urina normal,
resultando em assadura dos membros pélvicos. Frasier (2001) cita que os eqüinos
afetados freqüentemente se esticam para urinar e podem manter essa postura por
períodos variáveis antes e depois da micção.
Os sinais adicionais podem incluir queimadura com urina no períneo das fêmeas
ou na face medial dos membros traseiros dos machos. Os machos podem protrair o
pênis flacidamente por períodos prolongados, enquanto gotejam urina de modo
intermitente. Os eqüinos afetados podem exibir ocasionalmente episódios recorrentes
de cólica ou andadura de membro posterior alterada. Entre os sinais clínicos, é comum
uma má condição corporal (DIVERS, 1993; PIRIE, 2003). Segundo Divers (1993), o sinal
clínico mais comum exibido por cavalos com cálculo vesical é a hematúria após o
exercício. Polaciúria, estrangúria, ou disúria podem também ser observadas, assim
como também se pode encontrar um fino sedimento (areia) na bexiga de alguns cavalos
exibindo disúria.
RELATO DO CASO
O animal foi atendido por apresentar dificuldade para urinar há mais de uma
semana e por não adquirir a posição normal de micção, além de caminhar com dificuldade
e perder peso. Também foi relatado que a urina apresentava-se esbranquiçada, com
aspecto arenoso e que escorria aos poucos pelo prepúcio sujando os pêlos dos
membros. O eqüino se alimentava com ração comercial de baixa qualidade e elevado
teor de farelos. Ao exame físico geral foram observadas: má condição corporal, dismetria,
incontinência urinária e os pêlos dos membros esbranquiçados. A palpação retal revelou
a bexiga repleta e um tônus do esfíncter anal reduzido, a urina apresentou um sedimento
denso de aspecto esbranquiçado e arenoso (Figura 1). Na urinálise foram observados
cristais de carbonato de cálcio em excesso. O exame ultrassonográfico confirmou o
diagnóstico de cálculo vesical.
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
139
FIGURA 1 – Sedimento arenoso (esquerda) e urina densa (direita).
O eqüino foi submetido ao tratamento cirúrgico para remoção do cálculo. Sob
anestesia geral inalatória foi realizada uma cistotomia (Figura 2). Na cirurgia observouse a presença de um cálculo com aproximadamente 3 kg, amarelo-esverdeado, de aspecto
arenoso, friável ao toque e que se despedaçava com facilidade (Figura 3). No tratamento
pós-operatório foi realizada a administração de antiinflamatório e antibiótico. A análise
do cálculo revelou uma composição de carbonato de cálcio.
FIGURA 2 – Bexiga.
FIGURA 3 – Cálculo arenoso de 2,9 kg.
140
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
O eqüino permaneceu com incontinência urinária e com dificuldade do completo
esvaziamento da bexiga, quadro que permaneceu até o último exame realizado 6 meses
após a cirurgia.
DISCUSSÃO
As urolitíases são raras nos eqüinos (BAYLY, 2000). Os cálculos das vias urinárias
em eqüinos são mais comuns na bexiga e principalmente em machos (JONES, 2000), o
que foi verificado neste caso. O cavalo em questão se encontrava em uma criação com
mais 200 cavalos e não houve registro de caso semelhante nos últimos 10 anos,
corroborando com a incidência registrada na literatura.
O diagnóstico foi baseado nos sinais clínicos evidentes de obstrução urinária,
além de exames complementares. O paciente apresentava todos os sinais clínicos
citados por Knottembelt e Pascoe (1998) e Frasier (2001), exceto os acessos recorrentes
de cólica. A caquexia apresentada pelo paciente provavelmente decorreu da presença
da dor abdominal crônica causada pela distensão da bexiga (THOMASSIAN, 1996).
Os exames laboratoriais revelaram azotemia e a presença elevada de cristais na urinálise
e a confirmação através da ultra-sonografia via retal foi fundamental para decisão pelo
tratamento cirúrgico.
Conforme afirmou Frasier (2001), o mecanismo de formação dos urólitos nos
eqüinos é desconhecido e os casos naturais ocorrem mais provavelmente como
resultado da interação de vários fatores. Segundo o mesmo autor, a ingestão de dieta
rica em farelos e a água com elevada dureza podem ter contribuído para formação do
cálculo. Porém ao considerarmos a rara ocorrência da doença no plantel mantido sob o
mesmo manejo alimentar, competem como fatores predisponentes mais aceitos os
aspectos individuais: como a idade avançada e uma possível atonia vesical prévia
(BAYLY, 2000; BROWN e BERTONE, 2005). Não foi possível estabelecer uma possível
causa para a disfunção da bexiga, mas várias etiologias foram sugeridas (BAYLY,
2000). A fraqueza muscular dos membros posteriores e um reduzido tônus anal sugeriam
uma disfunção neurológica.
O acúmulo de uma grande massa de sedimento urinário de aspecto arenoso na
face ventral da bexiga de eqüinos foi denominado por Brown (2002) como urolitíases
sabulosa. O autor comentou ainda que nos eqüinos com paresia vesical, a sedimentação
dos cristais da urina normal pode levar a formação do urólito sabuloso. A análise do
cálculo revelou uma composição básica de carbonato de cálcio, correspondendo com
a afirmativa de Frasier (2001).
A cistotomia é o tratamento de eleição e foi considerado satisfatório, porém o
paciente continuou com a incontinência urinária. Este fenômeno poderia ser considerado
uma seqüela da cirurgia, mas acreditamos que a atonia vesical era prévia ao tratamento
cirúrgico, sendo provável que esta disfunção tenha sido um fator predisponente para
a formação do cálculo arenoso, conforme sugeriu Brown (2002).
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
141
CONCLUSÃO
O cálculo arenoso vesical em eqüinos pode ser causado por um sedimento a
base de carbonato de cálcio e ocupar praticamente toda a bexiga causando uma
obstrução das vias urinárias com sinais clínicos evidentes. Existem inúmeros fatores
concorrentes no desenvolvimento da doença e as causas podem não ser completamente
estabelecidas, porém o tratamento deverá ser cirúrgico e com um prognóstico favorável.
REFERÊNCIAS
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Grandes Animais. V.1. São Paulo: Manole, 1993, p.873-888.
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São Paulo: Manole, 1990, p.167-181.
KNOTTEMBELT, D. C.; PASCOE, R. R. Afecções e Distúrbios do Cavalo. São Paulo:
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PIRIE, R. S. Bladder, retal, anal, and tail paralysis; perineal hypalgesia; and other signs
of cauda eqüina syndrome. In: ROBINSON, N. E. Current Therapy in Equine Medicine
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SCHOTT II H. C. Doença Obstrutiva do Trato Urinário. In: REED, S. M.; BAYLY, W. M.
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THOMASSIAN, A. Enfermidades dos Eqüinos. 3.ed. São Paulo: Varela, 1996.
Recebido em: mar. 2008
142
Aceito em: maio 2008
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
Pneumonia por Rhodococcus equi
Tamarini Rodrigues Arlas
Marília Corrêa Borba
Cláudia Sant’Anna
Paulo Ricardo Loss Aguiar
Eduardo Malschizky
Rodrigo Costa Mattos
RESUMO
A pneumonia causada por Rhodococcus equi é uma enfermidade que acomete potros com
menos de 6 meses de vida. O agente é um microorganismo Gram-positivo, que é transmitido
através da poeira, sendo encontrado em grande quantidade em locais onde há um manejo constante de éguas e potros.
Além da pneumonia, esta infecção pode também resultar em diarréia, artrite séptica,
abscedação intra-abdominal e abscessos multifocais em toda parte do corpo. Devido à alta
mortalidade, aos altos custos e longos períodos de tratamento, é uma doença importante do
ponto de vista econômico, sendo a prevenção a melhor forma de controle.
Esta revisão tem como objetivo esclarecer e orientar quanto a aspectos importantes desta
enfermidade.
Palavras-chave: Rhodococcus equi. Potro. Pneumonia.
Rhodococcus equi pneumonia
ABSTRACT
Rhodococcus equi pneumonia is a disease that occurs in foals with less than 6 months
old. It is a Gram-positive microorganism, which is transmitted through the dust in places where
it has a constant handling of mares and foals.
This infection can also result in diarrhea, articular sepsis, intra-abdominal and multifocal
abscesses in all part of the body. Due to the high mortality, costs and length of treatment, it is
an important disease from the economic point of view and prevention is the best way of
controlling. Important aspects of the disease are discussed in this review.
Keywords: Rhodococcus equi. Foal. Pneumonia.
Tamarini Rodrigues Arlas é Méd. Vet. Mestranda PPG em Ciências Veterinárias UFRGS.
Marília Corrêa Borba é Méd. Vet. Autônoma.
Cláudia Sant’Anna é Méd. Vet. Autônoma.
Paulo Ricardo Loss Aguiar é Méd. Vet., Mestre, Professor Adjunto do Curso de Medicina Veterinária ULBRA/RS.
Eduardo Malschizky é Méd. Vet. Doutor, Professor Adjunto do Curso de Medicina Veterinária ULBRA/RS.
Rodrigo Costa Mattos é Méd. Vet., Doutor, Professor Adjunto, Departamento de Medicina Animal, UFRGS.
Endereço para correspondência: Av. Farroupilha, 8001, Canoas/RS, CEP:92425-900. E-mail:
[email protected]
p . 1 42008
3-153
Veterinária em Foco Veterinária
v. 5 v.5, n.2,
n.2jan./jun.
Canoas em Foco,
jan./jun. 2008143
INTRODUÇÃO
Uma das principais causas de doença e mortalidade em potros entre o segundo
e o sexto mês de vida é a pneumonia, sendo um dos principais agentes causadores o
Rhodococcus equi (THOMASSIAN, 2005). Os rodococos são bactérias Gram-positivas,
que apresentam desde a forma cocóide até bastonetes. É um microrganismo aeróbio,
cuja temperatura ótima para o crescimento é de 30°C, não se multiplicando a
temperaturas abaixo de 10°C. O R. equi é disseminado pelas fezes dos eqüinos saudáveis,
contaminando assim o ambiente. A multiplicação do microrganismo começa logo que
as fezes chegam ao ambiente, recebendo umidade, nutrientes e temperatura apropriados.
O isolamento do microrganismo pode ser feito a partir do solo, onde é capaz de
sobreviver por períodos prolongados, especialmente em ambientes repletos de matéria
orgânica. Como resultado, o solo, especialmente na superfície, atua como a principal
fonte de microrganismos para potros suscetíveis, especialmente em fazendas onde as
infecções são diagnosticadas rotineiramente. Ao contrário de outros microrganismos,
o solo ácido não parece inibir o R. equi, e o microrganismo é capaz de sobreviver em
solos secos e úmidos. Solos arenosos podem ser particularmente adequados para
sobrevivência das bactérias e transmissão da doença (BERTONE, 2000).
A faixa etária em que os potros são acometidos compreende de dois e cinco meses de
vida, o que possivelmente se deva à queda natural dos níveis plasmáticos de anticorpos,
que ocorre sempre entre a 4ª e 8ª semana de vida (WILSON, 1997, TIZARD, 1998).
A infecção tem sido relatada nos cinco continentes, independentemente da raça,
sexo ou sistema de criação (DEPRÁ et al., 2001). Apesar de o R. equi estar presente na
maioria das fazendas de criação de eqüinos, casos clínicos podem não ocorrer, ou
serem apenas esporádicos em alguns locais, enquanto outros são enzoóticos. A doença
apresenta efeitos devastadores, com níveis de morbidade podendo exceder 40% em
áreas endêmicas (SLOVIS, 2005). Esta variação na morbidade é dependente da presença,
ou não, da proteína de virulência VapA. De acordo com Carlton & Mcgavin (1998), a
evolução do curso clínico, uma broncopneumonia crônica, é de 30 a 40 dias, com
mortalidade média de 64%. As perdas de potros numa determinada fazenda podem
totalizar de 10-15%. O agente é capaz de sobreviver no interior das células fagocíticas
e esta capacidade do R. equi de se multiplicar nos macrófagos alveolares e destruí-los
é básica para a sua patogenicidade. Histologicamente, as lesões de pneumonia
caracterizam-se por numerosos leucócitos polimorfonucleares e macrófagos (BERTONE,
2000; WARNER, 1996).
Fatores ambientais que podem predispor os potros ao desenvolvimento de
pneumonia são altas temperaturas e alta umidade relativa do ar, especialmente se
associadas a períodos secos e com vento, condições que favorecem a inalação de
poeira pelos animais. Em condições de calor, seca e manejo inadequado das baias o
microorganismo pode se multiplicar até 10000 vezes em 2 semanas (DEPRÁ et al.,
2001). Por outro lado, a necessidade de dissipar calor em climas quentes sobrecarrega
o trato respiratório dos potros, que são menos eficientes em eliminar calor através da
sudorese, se comparados a eqüinos adultos (WILSON, 1997).
144
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
APRESENTAÇÃO CLÍNICA
Os potros podem parecer saudáveis até que a infecção comprometa a maior parte
dos pulmões, após o que desenvolvem desconforto respiratório e sinais clínicos de
pneumonia severa, morrendo dentro de alguns dias. No entanto, após um período de
incubação de 10 a 21 dias, ou mais, o quadro mais comum é uma broncopneumonia
supurativa crônica, com abscedação pulmonar, febre, aumento das freqüências
respiratória e cardíaca e uma descarga nasal purulenta ocasional. Sem uma terapia
adequada, os potros apresentam uma aparência emaciada e morrem depois de algumas
semanas ou meses. No caso de sobrevivência, ocorrem fibrose pulmonar extensa
permanente e diminuição da capacidade respiratória. Ocorrem pneumonia
granulomatosa crônica e abscessos pulmonares e dos linfonodos. Também podem
ocorrer enterocolite ulcerativa e linfadenite associada, artrite séptica, osteomielite,
uveíte ou panoftalmite. Até 30% dos potros com pneumonia pelo R. equi apresentam
uma sinovite não séptica causada pela deposição de complexo antígeno-anticorpo
(uma reação de hipersensibilidade tipo III) ativa e crônica, caracterizada por uma
distenção articular com uma claudicação mínima ou inexistente (LEWIS, 2000). Os
potros podem apresentar tosse branda e profunda, não tendo características de crise.
Com a cronificação da doença, podem ser observados falha no desenvolvimento,
depressão, letargia e alguns potros apresentam desconforto abdominal e extrema
intolerância a qualquer tipo de exercício (THOMASSIAN, 2005; WILKINS, 2005).
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico baseia-se nas características epidêmiológicas ou endêmicas da
doença no criatório, nos sinais clínicos e anatomopatológicos. A auscultação pulmonar
pode relevar estertores, chiados, estalos e áreas de silêncio ou apenas ruídos
respiratórios com redução do murmúrio vesicular. É comum a auscultação pulmonar
não apresentar resultados compatíveis com o grau de severidade das lesões que se
desenvolvem nos pulmões, particularmente na fase inicial de abscedação.
Exames laboratoriais revelam que os potros, demonstram leucocitose (acima de
13.000 células/mm3), com neutrofilia e monocitose, além de níveis elevados de
fibrinogênio plasmático (>400 mg/dl) (COHEN, 2002). Foram observados valores
significativamente menores de hematócrito em potros que adoeceram, quando
comparados aos valores observados em potros sadios (DEPRÁ et al., 2001). Estes
autores compararam dados hematológicos de potros sadios e que adoeceram, de um
mesmo criatório, submetidos a controle semanal rotineiro e observaram que na leitura
dos leucogramas dos doentes havia uma variação muito grande, especialmente devido
a ocorrência alternada de leucopenia e leucocitose com neutrofilia, confundindo a
leitura das médias No entanto, consideram que o leucograma tem um excelente valor
diagnóstico quando avaliado individualmente.
A citologia e a cultura bacteriológica do aspirado transtraqueal é considerado o
meio mais importante para o diagnóstico definitivo de infeccções por R. equi. O lavado
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
145
traqueobronqueal pode revelar a presença de formações pleomórficas intracelulares
Gram-positivas em cerca de 61% dos casos (THOMASSIAN, 2005). No entanto, nem
sempre é prático ou desejável executar uma lavagem transtraqueal em potros com
pneumonia devido ao estresse gerado pela contenção necessária para a coleta do
material (WILSON, 1997). Guiguére (2001) acrescenta que por vezes, esse procedimento
pode resultar em óbito do paciente.
O exame radiológico do tórax é um método capaz de detectar precocemente potros
apresentando pneumonia por R. equi, podendo ser realizada a campo em animais até
os 6 meses de vida. Os achados do exame radiográfico podem revelar desde discreto
aumento difuso da densidade pulmonar, até nodulações ou lesões cavitárias de
abscedação e linfadenopatia traqueobronquial, podendo-se evidenciar tanto lesões
centrais quanto periféricas (COHEN, 2002). Este mesmo autor, no entanto, cita como
desvantagens para a sua utilização na doença pulmonar, a exposição de todas as
pessoas à radiação, custos associados ao procedimento, o tempo necessário para a
avaliação dos resultados e o fato de que as lesões podem não ser características, como
ocorre em casos avançados de pneumonia por R. equi.
A ultrassonografia do tórax, por outro lado, permite a visualização de áreas de
consolidação, pleuropneumonia, abscessos, granulomas, tumores e hérnias
diafragmáticas (REEF, 1998) e seu uso rotineiro é recomendado como método auxiliar
no diagnóstico precoce de pneumonia por R. .equi, especialmente em locais com
situação de endemia para a doença (SLOVIS, 2005). Os abscessos são identificados
através de sua aparência cavitária, sendo graduadas, conforme a severidade e
profundidade da maior lesão encontrada, numa escala de 0 (sem alterações) a 10 (toda
a superfície pulmonar afetada). Na Tabela 1, estão apresentadas as diferentes graduações
com a medida observada na lesão.
TABELA 1 – Graduação das lesões observadas ao exame ultrassonográfico em potros apresentando
pneumonia por R. equi.
Grau
Medida (cm)
Grau
Medida (cm)
1
2
3
4
5
até 1,0
1,0-2,0
2,1-3,0
3,1-4,0
4,1-5,0
6
7
8
9
10
5,1-6,0
6,1-7,0
7,1-8,0
8,1-9,0
inteiramente afetado
Adaptado de Slovis (2005).
TRATAMENTO
O tratamento deve não só destruir os organismos causais com terapia
antimicrobiana específica, mas também melhorar a função respiratória, minimizar o
estresse e maximizar o conforto do paciente. Melhora da qualidade ambiental e a restrição
do exercício são medidas importantes em casos severos, com redução da demanda
146
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
respiratória. Em casos moderados e nos que estão melhorando com o tratamento, um
exercício limitado pode ser útil promovendo expectoração. Baias e piquetes frescos,
limpos, sem poeira, sem odor forte (normalmente causados por aumento de amônia,
que também causam desconforto e inflamação da mucosa respiratória superior e reduzem
a capacidade fagocítica dos macrófagos alveolares) e bem ventilados são indicados
para minimizar a atividade e a exposição dos animais ao agente. Pode ser usada a
irrigação de piquetes e estradas para controlar a poeira e áreas como os corredores
devem ser limpas e molhadas. O confinamento em baias com ar-condicionado pode ser
utilizado para potros apresentando angústia respiratória (WILSON, 1997).
A manutenção adequada da hidratação é importante para a recuperação do animal.
A nebulização pode ser útil em potros com secreções espessas ou uma tosse não
produtiva, mas é contra-indicado em potros com secreções úmidas e volumosas, e o
procedimento pode levar ao “stress” (WILSON, 1997).
Medidas auxiliares, como aplicação de broncodilatadores, mucolíticos e
antiinflamatórios não hormonais, aliviam consideravelmente o quadro de insuficiência
respiratória (THOMASSIAN, 2005).
ANTIBIOTICOTERAPIA
Os mecanismos de evasão do sistema imune do R.equi que permitem a sua
viabilidade intracelular, inclusive no interior de fagócitos, condicionam a efetividade
da terapia na rodococose à antimicrobianos lipofílicos, que possuem capacidade de
penetração em neutrófilos, macrófagos e no foco piogranulomatoso (RIBEIRO, 1999).
O tratamento de eleição consiste basicamente na utilização da associação de eritromicina
e rifampicina. A eritromicina na dose de 25 a 30 mg/kg de peso 4 vezes ao dia e a
rifampicina na dose de 5 a 10 mg/kg de peso 2 vezes ao dia, ambos por via oral,
possuem boa lipossolubilidade e difusão nos tecidos e; por sinergismo, apresentam
grande poder em combater o R. equi (THOMASSIAN, 2005).
Ribeiro (1999) estudou a suscetibilidade a antimicrobianos de amostras de R.
equi, isoladas de afecções pulmonares em potros, frente a 11 antimicrobianos (Tabela
2). Dentre os antimicrobianos comumente utilizados em medicina veterinária contra
infecções por R.equi em potros, a rifampicina e a eritromicina têm sido relatadas como
as drogas de maior efetividade in vitro. Apesar do emprego da rifampicina e eritromicina
na maioria dos casos de rodococose em potros, outros antimicrobianos têm sido
investigados como alternativos, devido a fatores limitantes na instituição e manutencão
da terapia da doença, baseada apenas na associação dessas duas drogas. Nesses
fatores incluem-se a resistência in vivo e in vitro (natural ou adquirida ao longo da
terapia) de amostras de R.equi, o alto custo dos antimicrobianos, ou a ocorrência de
reações orgânicas indesejáveis em animais tratados por longo período (MOORE, 1999).
A eritromicina eventualmente pode desencadear diarréia no potro, além de estar
associada com hipertermia potencialmente fatal em alguns casos em potros que se
encontram em ambientes quentes (THOMASSIAN, 2005).
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
147
A azitromicina vem sendo utilizada em substituição a eritromicina. Esse macrolídeo
atinge uma concentração intracelular nos macrófagos 33 vezes mais alta que a eritromicina.
Uma vez que o R. equi é um parasita intracelular, isso representa uma grande vantagem
na eficácia do tratamento antibiótico (WILSON, 2001). A azitromicina apresenta uma
meia-vida de eliminação longa, requerendo uma administração menos freqüente que a
eritromicina. Após administrações orais repetidas, a concentração deste antibiótico nas
células bronco-alveolares pode ser de 6 a 130 vezes maior do que a observada no sangue
e, devido a sua alta concentração intracelular nos macrófagos, dose recomendada é de
10mg/kg por via oral 1 vez ao dia durante 5 a 10 dias (JACKS et al., 2001).
TABELA 2 – Suscetibilidade a 11 antimicrobianos, de 31 amostras de R. equi isoladas de afecções
pulmonares em potros, na prova de difusão em discos.
Sensibilidade da amostra
Antimicrobianos
sensível
N
%
Intermediária
N
%
n
resistente
%
Ampicilina
4
13
4
13
23
74,0
Enrofloxacina
Eritromicina
Estreptomicina
Gentamicina
Metronidazole
Neomicina
Penincilina G
Rifampicina
Sulfa/Trimetoprim
Tetraciclina
11
31
17
28
0
29
1
30
0
2
35,5
100
54,8
90,4
-93,6
3,2
96,8
-6,4
14
0
7
2
0
0
0
0
5
18
45,2
-22,6
6,4
----16,2
58,1
6
0
7
1
31
2
30
1
26
11
19,3
-22,6
3,2
100
6,4
96,8
3,2
83,8
35,5
Adaptado de Ribeiro (1999).
PREVENÇÃO E CONTROLE
Na prevenção e controle de infecção por R. equi, a redução do desafio infeccioso
pode ser crítica. Isso inclui o isolamento dos potros doentes e eliminação de suas
fezes, diminuição da formação de poeira, rotação de pastagens e irrigação de áreas
poeirentas (BECÚ, 1999).
Por outro lado, como não há método totalmente eficaz, é fundamental que se
inclua nas medidas de controle métodos de diagnóstico precoce para a doença.
O controle térmico de todos os potros é um bom meio para detectar a doença em
estágios iniciais (BECÚ, 1999). Normalmente, a febre varia de 38,8°C a 40°C, mas em
alguns momentos pode exceder a 45°C. O aumento da temperatura retal é freqüente em
potros com infecção respiratória (WILSON, 1997). Em um estudo realizado por Martens
et al. (1989), a temperatura retal dos potros era aferida uma vez ao dia entre 8:00 horas
e 10:00 horas da manhã. Temperaturas acima de 39,4°C eram consideradas elevadas,
servindo como forma de triagem para exames mais aprofundados.
148
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
Deprá et al. (2001) estudaram dados de controle semanal de hematologia e
sorologia de 302 potros puro sangue de corrida de um criatório com situação endêmica
para R. equi. Os potros eram avaliados individualmente, através de observação de
comportamento, freqüência e padrões respiratórios, duas vezes ao dia, e se observou
que, apesar da diferença observada em valores de hematócrito, proteína total,
fibrinogênio plasmático e nível de anticorpos específicos para R. equi entre potros
sadios e aqueles que adoeceram, a maioria das alterações observadas nos exames
laboratoriais ficaram evidentes somente após já terem sido detectadas alterações
comportamentais, levando à conclusão de que o acompanhamento clínico freqüente,
constante e individualizado pode ser considerado o meio mais importante para o
diagnóstico da doença.
A monitoração regular, através da ultra-sonografia de tórax é recomendada por
Slovis (2005), devendo ser iniciada a partir da terceira semana de vida do potro e
repetida em todos os animais a cada 14 dias, até a idade de 6 meses. Uma vez observada
qualquer alteração durante este exame, deve ser instituída a terapia com antibióticos e
o paciente deve ser isolado e colocado em ambiente favorável à recuperação. Na
Tabela 3, está apresentada a duração do tratamento em função do grau de lesão
observado ao exame ultra-sonográfico no dia em que a terapia com antimicrobianos foi
iniciada.
TABELA 3 – Relação entre o grau de lesão pulmonar ao exame ultra-sonográfico no dia do início e a duração
do tratamento com antimicrobianos, em uma fazenda endêmica para Rhodococcus equi.
Grau
Potros (n)
Duração do tratamento (dias)
1
2
4
28
22
12
17,7
31,7
53,7
Adaptado de Slovis (2005).
Conforme se observa na Tabela 3, o diagnóstico precoce das lesões, apenas
possibilitado pelo uso da monitoração freqüente de todos os indivíduos, reduz
significativamente o tempo de tratamento dos animais afetados.
A vacinação e a administração endovenosa de plasma hiper-imune obtido de
mães vacinadas, são opções que podem ser efetivas na redução da incidência de
infecção e morte provocada por R. equi em potros (GUIGUÉRE; PRESCOTT, 1997).
Na Argentina e em outros países sul-americanos, a vacinação das éguas antes
do parto, e em alguns casos com a administração de plasma hiper-imune para os recémnascidos vem sendo usada no controle da enfermidade (BECÚ, 1999). As éguas devem
ser vacinadas aos 30 e 45 dias antes do parto, por via subcutânea. Esta vacina promoverá
imunidade passiva específica por via colostral, aos potros recém-nascidos. A vida
média destes anticorpos é de mais ou menos 30 dias. Com 60 a 75 dias de vida pode
ainda ser detectado um certo título. No entanto, entre 20% a 30% das éguas não
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
149
respondem satisfatoriamente à vacina. Considerados também os casos de falha de
transferência de imunidade passiva, devido à qualidade de colostro, o total de potros
teoricamente protegidos somente com a vacinação ficaria em torno de 50% (BECÚ,
1996). Em modelo experimental de infecção em estudo realizado por Guiguére & Prescott
(1997), a vacinação das éguas não garantiu proteção para prevenir contra a pneumonia
por R. equi, apesar de um aumento significativo de anticorpos no colostro com
transferência passiva parcial para os potros.
Por outro lado, em um trabalho realizado com 115 potros, Madigan et al (1991)
obteve uma redução significativa nos casos de pneumonia com a administração de
plasma hiper-imune, em comparação ao número de casos em potros cujas mães foram
apenas vacinadas. A incidência de pneumonia em potros de éguas vacinadas foi de
43% em comparação a somente 2,9% com a administração do plasma hiper-imune em
fazenda endêmica da América do Norte.
A transfusão de plasma hiper-imune é indicada em potros jovens com pneumonia
e fracasso parcial ou completo de transferência passiva de anticorpos colostrais
(WILSON, 1997). A aplicação do plasma hiper-imune, obtido de doadoras que receberam
vacina contra R. equi, é capaz de proporcionar considerável proteção, reduzindo o
número de casos em propriedades que apresentam a infecção em forma endêmica,
embora ainda constitua medida controvertida quanto a ser de fundamental importância
para o paciente (THOMASSIAN, 2005).
O plasma deve ser administrado via endovenosa, pela veia jugular em um período
de 10 a 20 minutos, com a 1a administração nos potros com idade de 4 dias de vida ,
sendo a 2a administração após 25 dias (BECÚ et al., 1997). Guiguére & Prescott (1997),
alertam que o tempo e a compra do equipamento para administrar o plasma hiper-imune
é alto, devendo-se medir o custo-benefício para prevenir a doença em fazendas com
alta incidência de pneumonia por R. equi.
Alterações no manejo, no entanto, parecem ser a melhor forma de reduzir a
incidência da doença em áreas endêmicas. Reduzir a intensidade do manejo, promover
a ocorrência de partos mais cedo durante a temporada reprodutiva manter a estabilidade
dos lotes de éguas com potro ao pé, formar lotes com poucos indivíduos e reduzir o
uso da cocheira foram considerados os fatores determinantes para a redução da
incidência de pneumonia por R. equi em uma fazenda com situação endêmica (DEPRÁ
et al., 2001).
Comparando diferentes formas de manejo para o controle das infecções por R.
equi em outro estabelecimento com situação endêmica para a doença no sul do Brasil,
Malschitzky et al (2005) observaram que não utilização da cocheira, desde o dia do
nascimento resultou em uma significativa redução da morbidade (Tabela 2) quando
comparado a manejos em que os animais eram mantidos estabulados por períodos
superiores a 5 horas diárias.
150
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
TABELA 2 – Incidência de infecção por R. equi, na região da grande Porto Alegre em um estabelecimento
com situação endêmica para R. equi
Manejo
n
Cocheira
Cocheira + Plasma Hiper-imune (2 e 35 dias)
Manutenção a campo + plasma hiper-imune 2 d
108
236
196
Doentes
n
%
32
41
7
29,6a
17,3b, c
3,6d
Letras diferentes (a, b) indicam diferença significativa (λ2=6,66; p=0,009)
Letras diferentes (c, d) indicam diferença significativa (λ2=20,6; p=0,00001)
Os dados enfatizam a necessidade de alterar o manejo geral do haras, em especial
com a redução, ou abolição do uso da cocheira para potros entre o nascimento e o
desmame quando se pretende reduzir a incidência das infecções por Rhodococcus equi.
CONCLUSÃO
Alterações de manejo como a redução, ou abolição do uso da cocheira para
éguas com produto ao pé, a adoção da alimentação a campo, redução do número de
indivíduos nos grupos de éguas, a manutenção da estabilidade dos componentes do
lote a redução da lotação e a promoção de partos mais cedo na temporada reprodutiva
parecem ser a melhor forma de prevenir ou reduzir a incidência de infecções por
Rhodococcus equi. Associado a práticas que favoreçam o diagnóstico precoce da
doença, como a observação individual diária do comportamento e a avaliação rotineira
através de ultra-sonografia do tórax pode garantir uma redução significativa da
morbidade e da mortalidade em áreas endêmicas.
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Recebido em: jan. 2008
Aceito em: maio 2008
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
153
Fármacos injetáveis para a anestesia total
intravenosa em cães – revisão de literatura
Anelise Bonilla Trindade
Luciana Dambrósio Guimarães
Emerson Antonio Contesini
Cristiano Gomes
Paula Cristina Basso
RESUMO
A anestesia total intravenosa (TIVA) é uma técnica que utiliza somente agentes intravenosos
para a indução e a manutenção anestésica. Para conseguir uma adequada TIVA, pode ser combinado um hipnótico, um analgésico e um bloqueador neuromuscular. Dentre os agentes injetáveis,
destacam-se atualmente na anestesia veterinária o propofol, derivados esteróides (alfaxalona/
alfadolona), derivados imidazólicos (metomidato/etomidato) e anestésicos dissociativos
(cetamina e tiletamina). É importante conhecer as formas de absorção, as rotas metabólicas e as
propriedades anestésicas dos agentes injetáveis, já que suas bases farmacocinéticas são essenciais para seu uso seguro. Sendo assim, a TIVA fornece a possibilidade de utilizar diversos
fármacos, no entanto são mais apropriados aqueles que apresentam uma meia vida curta, com
baixos volumes de distribuição, com um rápido início de ação, não produzindo metabólitos
tóxicos ou ativos.
Palavras-chave: Infusão contínua. Agente anestésico. Propofol. Etomidato. Cetamina.
Injectable drugs for intravenous total anesthesia in dogs: Review
ABSTRACT
The total intravenous anesthesia (TIVA) is a technique that only uses intravenous drugs
for the induction and the anesthetical maintenance. To obtain adequate TIVA it is necessary to
combine a hipnosis, an analgesic and a choke must be combined to neuromuscular blockers.
Inside of the injectable agents, the barbiturates are currently distinguished in the anesthesia
veterinary medicine (thiopental and penthobarbital), propofol, steroids derivatives (alfaxalona/
alfadolona), imidazólicos derivatives (metomidato/etomidato) and dissociativos anaesthetics
(ketamine and tiletamine). It is important to know the metabolic forms of absorption, routes
and the anesthetical properties of the injectable agents, since its farmacocinetics basis are
Anelise Bonilla Trindade e Cristiano Gomes são Médicos Veterinários, Mestrandos, Programa de PósGraduação em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Luciana Dambrósio Guimarães é Médica Veterinária, Doutora, Professora de Anestesiologia na Universidade
Federal do Mato Grosso (UFMT).
Emerson Antonio Contesini é Médico Veterinário, Doutor, Professor de Técnica Cirúrgica na Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Paula Cristina Basso é Médica Veterinária, Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária,
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Endereço para correspondência: [email protected]
p . 1 52008
4-172
Veterinária em Foco Veterinária
v. 5 v.5, n.2,
n.2jan./jun.
154
Canoasem Foco,
jan./jun. 2008
essential for its safe use. Therefore, the TIVA supplies the possibility to use different drugs,
however the most appropriates those that present a half short life, with low volumes of
distribution, with a fast beginning of action, not producing toxic or active metabolic.
Keywords: Continuous infusion. Anaesthetic agent. Propofol. Etomidate. Ketamine.
INTRODUÇÃO
A anestesia total intravenosa (TIVA) é uma técnica que utiliza somente fármacos
intravenosos (IV) para a indução e a manutenção anestésica, evitando qualquer tipo
de anestésico inalatório. A aplicação da TIVA tem sido especialmente possível nos
últimos anos, graças ao desenvolvimento de anestésicos utilizados por via IV, de ação
rápida e curta duração (CELORIO, 2007).
Dentro da classe dos agentes injetáveis, destacam-se atualmente na anestesia
veterinária os barbitúricos (tiopental e pentobarbital), propofol, derivados esteróides
(alfaxalona/alfadolona), derivados imidazólicos (metomidato/etomidato) e anestésicos
dissociativos (cetamina e tiletamina) (http: //minnie. uab. es/~veteri/21271/
ANESTESIA%20INYECTABLE.doc). Porém, os barbitúricos são utilizados somente
em procedimentos curtos e em geral não é recomendada a infusão contínua já que
pode ocorrer acúmulo, com metabolismo hepático lento, aumentando o período de
recuperação anestésica (OTERO, 2005). Devido a estas razões, os barbitúricos não
serão abordados neste trabalho.
O uso da TIVA não é algo recente, pois desde o descobrimento dos barbitúricos
tem sido uma técnica anestésica viável, seguida dos benzodiazepínicos e narcóticos e
mais recentemente, a cetamina. No entanto, existem dois anestésicos relativamente
novos em nosso meio que são chamados revolucionários no campo da anestesia
intravenosa, que são o propofol (hipnótico) e o alfentanil (narcótico) (SAAVEDRA et
al., 1996). A anestesia injetável a base de propofol, vem ganhando popularidade na
medicina veterinária, devido as características de indução e manutenção da mesma
(BETHS et al., 2001).
Atualmente vem aumentando o interesse em técnicas de anestesia intravenosa
na neuro-anestesia (RAISIS et al., 2007), isto porque agentes voláteis comumente
utilizados na manutenção anestésica, interferem no fluxo sangüíneo cerebral, podendo
levar a um aumento na pressão intracraniana (PIC) (STREBEL et al., 1995), diminuindo
a perfusão cerebral e predispondo a lesão neuronal (CHONG; GELB, 1994). O isoflurano
promove pequeno aumento na PIC quando comparado ao halotano (GROSSLIGHT et
al., 1985), porém, aumento significativo na PIC tem sido observado em pacientes que
apresentam tumores intracranianos, mesmo quando baixas doses são administradas
(WALTERS, 1990).
Portanto, a manutenção da anestesia geral por via intravenosa mostra-se como
uma alternativa à anestesia inalatória graças ao uso de fármacos com pouco poder
cumulativo e rápida recuperação (LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001), além da
facilidade na administração, ausência de irritação das vias respiratórias e não poluindo
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
155
o meio ambiente nem a área anestésico-cirúrgica. No entanto, a TIVA apresenta como
principais desvantagens o fato de que os fármacos uma vez administrados não podem
ser removidos da circulação e a maioria, não possui antagonista (http://minnie.uab.es/
~veteri/21271/ANESTESIA%20 INYECTABLE.doc).
Sendo assim, este trabalho visa fornecer aos estudantes e profissionais médicos
veterinários subsídios para a escolha da anestesia geral intravenosa mais adequada de
acordo com o procedimento e o estado clínico do paciente. É importante conhecer as
formas de absorção, as rotas metabólicas e as propriedades anestésicas dos agentes
injetáveis, já que suas bases farmacocinéticas são essenciais para seu uso seguro
(LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001).
ANESTESIA TOTAL INTRAVENOSA
A TIVA é uma técnica anestésica de grande importância atual, oferecendo grandes
benefícios tanto para o paciente como para o anestesista e demais participantes da
equipe cirúrgica. Atualmente busca-se uma anestesia que seja segura para o paciente,
que produza mínimas alterações hemodinâmicas, que promova muito boa analgesia,
que não produza efeitos colaterais, que seja eliminada rapidamente, com volumes de
distribuição baixos e taxa metabólica rápida sem produzir metabólitos ativos; que tenha
um despertar agradável e rápido; que não aumente secreções e que não produza
efeitos tóxicos crônicos na equipe cirúrgica. Este tipo de anestesia com todas essas
características ainda é utopia, no entanto, a TIVA, cumpre muito desses critérios
(SAAVEDRA et al., 1996; VARILLAS et al., 2007).
Doses ideais são utilizadas para obterem-se efeitos desejáveis. Deve-se levar em
consideração que a administração de uma droga em forma de bolus intermitentes,
produz oscilações na concentração plasmática do agente em questão, o que pode
levar as variações na profundidade anestésica e aparecimento de efeitos colaterais
indesejáveis. A utilização de um fármaco em infusão intravenosa contínua diminui a
incidência de flutuações em sua concentração plasmática e minimiza sua sobre ou
subdose (VARILLAS et al., 2007).
Portanto, para conseguir uma adequada TIVA devem-se combinar um hipnótico,
um analgésico e um bloqueador neuromuscular. Este tipo de anestesia é um
procedimento caro devido ao custo elevado dos fármacos utilizados, além da
necessidade de três bombas de infusão para realizar um controle exato dos agentes,
porém, na maioria das vezes, utiliza-se apenas uma bomba de infusão sendo a
administração de outros fármacos em bolus (LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001).
Além disso, devido ao fato dos bloqueadores neuromusculares atuarem
paralisando a musculatura envolvida no processo de ventilação, torna-se indispensável
o suporte ventilatório artificial. Por essas razões, o uso de bloqueadores
neuromusculares na TIVA é limitado, não sendo uma prática comum em Medicina
Veterinária (FILHO; NASCIMENTO, 2002).
156
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
Ainda, os barbitúricos são utilizados somente em procedimentos curtos e em
geral não é recomendada a infusão contínua já que pode ocorrer acúmulo, com
metabolismo hepático lento, aumentando o período de recuperação anestésica (OTERO,
2005). Devido a estas razões, tanto os bloqueadore sneuromusculares quanto os
barbitúricos não serão abordados neste trabalho.
Vários são os agentes utilizados na TIVA, dentre eles, destacam-se o propofol, a
cetamina e o etomidato, além de combinações destes com analgésicos opióides e
benzodiazepínicos (SAAVEDRA et al., 1996).
PROPOFOL
O propofol (2,6 – diisopropilfenol) é um agente hipnótico intravenoso, disponível
como emulsão de óleo em água, contendo óleo de soja, lecitina, ovo e glicerol e não
contém preservativos. Tem pH neutro, é isotônico e sua formulação apenas é efetiva
quando administrado através da via intravenosa (CORTOPASSI et al., 2000). É
caracterizado por apresentar metabolismo rápido e curta duração de ação, podendo ser
administrado por infusão contínua ou em doses repetidas sem efeito cumulativo (Tabela
2) (FANTONI et al., 1999).
Esse fármaco não apresenta tendência a causar movimento involuntário e supressão
córtico-supra-renal como observada com o etomidato. Mostra-se particularmente útil na
prática crescente da cirurgia ambulatorial (Tabela 1) (RANG et al., 2001).
Atualmente seu uso tem sido estendido a todas as especialidades cirúrgicas, já
que também tem demonstrado seu valor em procedimentos terapêuticos, estudos
especiais e cuidados intensivos, sendo utilizado para sedação, indução, hipnose e
manutenção da anestesia (Tabela 1). Apresenta efeitos anticonvulsivantes e redução
da taxa metabólica cerebral, com concomitante diminuição da PIC (MUÑOZ-CUEVAS
et al., 2005).
Quimicamente, o propofol é o único agente anestésico que pode ser usado tanto
na indução em forma de bolus como na manutenção anestésica (BRANSON; GROSS,
1994), na forma de bolus intermitente (BOTELHO et al., 1996) e infusão contínua (RANG
et al., 2001). Isso se deve às suas características farmacocinéticas que o isenta de
efeito cumulativo, diferentemente do tiopental sódico (DUKE, 1995). Estudos prévios
indicaram que a TIVA utilizando somente o propofol como agente anestésico não foi
satisfatória devido à ausência de propriedade analgésica, portanto deve ser associado
a um opióide (OHTA et al., 2004).
O propofol não bloqueia as respostas nervosas autonômicas e por isto tem sido
utilizado em altas doses para produzir anestesia geral (SHORT; BUFALARI, 1999).
Com esse fármaco, o mecanismo de controle parassimpático do coração pode ser
superior à resposta simpática mediada pelos barorreceptores, dando lugar a uma
diminuição da atividade sinusal que provoca decréscimo da pressão arterial e freqüência
cardíaca (OHTA et al., 2004).
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
157
Igualmente a maioria dos fármacos anestésicos, altera o padrão respiratório normal
do paciente modificando a resposta de seus mecanismos de controle respiratório,
quimiorreceptores centrais sensíveis aos níveis de CO2, quimiorreceptores periféricos
sensíveis aos níveis de O2 e receptores pulmonares. Portanto, na indução com propofol,
podem aparecer períodos de apnéia de 4 a 7 minutos tanto no homem quanto no cão
(LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001).
CETAMINA
É quimicamente designada como 2-(O-clorofenil)-2-(metil-amino)-ciclo-hexanona.
É hidrossolúvel e uma solução aquosa a 10% tendo pH de 3,5. Devido a esta acidez,
possui propriedades irritantes quando administrada pela via intramuscular. Sua
lipossolubilidade é de aproximadamente 10 vezes ao barbitúrico tiopental sendo
rapidamente absorvida após sua administração (FANTONI et al., 1999). Pode ser
administrada por todas as vias, alcançando rapidamente o efeito desejado (LAREDO;
CANTALAPIEDRA, 2001).
Assemelha-se estreitamente, tanto do ponto de vista químico quanto
farmacológico, a fenciclidina, uma “droga de rua” com efeito pronunciado sobre a
percepção sensorial. Quando administrada pela via intravenosa possui efeito mais
lento (1 a 2 minutos) do que o tiopental (RANG et al., 2001), com duração de 10 a 20
minutos, já que se redistribui de forma rápida aos tecidos nervosos (LAREDO;
CANTALAPIEDRA, 2001) e produz um efeito diferente, conhecido como “anestesia
dissociativa”, em que ocorrem acentuada perda sensorial e analgesia, bem como amnésia
e paralisia dos movimentos, sem verdadeira perda da consciência (RANG et al., 2001).
A cetamina é um agente dissociativo que atua deprimindo a córtex cerebral (sistema
tálamo-cortical) e estimula o sistema límbico e reticular antes de causar depressão
medular. Potencializa o sistema dependente do GABA e interfere com o transporte
neural de serotonina, dopamina e noradrenalina. Produz um estado de catalepsia ao
invés de hipnose, acompanhado de profunda analgesia somática e amnésia. Permanecem
todos os reflexos, corneal, palpebral, podal e de deglutição, além de apresentarem
fenômenos de rigidez muscular e tremores, facilitando o aparecimento de convulsões
generalizadas (FANTONI, 2002). Esse fármaco há muito é utilizado na anestesia de
pequenos e grandes animais, seja associado a outros fármacos, como agente de indução
à anestesia inalatória, para contenção química de indivíduos, seja para procedimentos
cirúrgicos de curta duração (Tabela 1) (SOUZA et al., 2002).
Sua metabolização é hepática produzindo metabólito ativo, a norcetamina. Sua
eliminação é prolongada, sendo a recuperação de acordo com a dose administrada,
principalmente quando se faz uso da via intramuscular (LAREDO; CANTALAPIEDRA,
2001).
A principal desvantagem da cetamina, apesar da segurança associada a uma
inatividade depressora global, é que as alucinações em humanos e, às vezes, o
158
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
delírio e o comportamento irracional são comuns durante a recuperação. Esses efeitos
limitam sua utilização em humanos (RANG et al., 2001). Ainda, a qualidade da anestesia
por ser do tipo dissociativa é difícil de avaliar já que não induz hipnose ou
inconsciência e os reflexos não são abolidos. Os olhos permanecem abertos, há
tensão muscular e pode haver movimentos espontâneos, além de respostas a cirurgia
com movimentos bruscos. Proporciona melhor anestesia somática sendo importante
em queimaduras, cirurgias traumatológicas ou cutâneas (Tabela 1) do que visceral
(LAREDO; CATALAPIEDRA, 2001).
As doses clínicas demonstram estimulação cardiovascular por apresentarem
propriedades simpaticomiméticas as quais produzem taquicardia aumentando do
consumo de O2 pelo miocárdio, aumentando a pressão arterial e pressão venosa central.
Por esta razão, a cetamina é considerada um agente anestésico bastante seguro. Sobre
o sistema respiratório, produz um padrão ventilatório apnêustico e irregular,
caracterizado por uma grande pausa após a inspiração, e em doses elevadas, a respiração
pode ser rápida e pouco efetiva sendo mal interpretada como anestesia superficial
(LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001).
Lançada há poucos anos, a cetamina S, isômero (+) da cetamina, tem sido
utilizada na anestesia humana pela capacidade de determinar menores estímulos
simpáticos e, conseqüentemente, evitar alterações cardiovasculares indesejáveis
(SOUZA et al., 2002).
Portanto, a cetamina é um agente anestésico dissociativo o qual produz
considerável analgesia e estabilidade hemodionâmica. Este fármaco é utilizado
na TIVA devido à rápida metabolização corporal (WATERMAN et al., 1987).
Apresenta características farmacocinéticas que a fazem excelente para
administração contínua, sendo utilizada na TIVA principalmente em pacientes em
choque hemorrágico (Tabela 1). Entre suas principais características encontrase seu poder analgésico o qual, segundo alguns relatos, é alcançado em baixas
doses (SAAVEDRA et al., 1996).
Em caninos e felinos, a cetamina na dose de 0,5 a 1mg/kg, IM é uma opção para
manejo de pacientes com dor somática, nos quais não se deseja provocar inconsciência.
Na dose de 1 a 2 mg/kg, IV (Tabela 2) ou 2 a 4mg/kg, IM, produz somente 30 minutos de
analgesia. Estes compostos mostram-se ineficientes na hora de tratar a dor de origem
visceral. É particularmente útil para diminuir a dor durante a limpeza de feridas ou no
manejo de pacientes com queimaduras, podendo também ser utilizada na dose de 5 a
10mg/kg para o manejo de pacientes agressivos e em doses maiores para procedimentos
menores (OTERO, 2005).
Em cães e gatos com instabilidade cardiovascular, a indução e manutenção com
cetamina pode ser considerada uma alternativa desde que combinada com
benzodiazepínicos para melhorar o grau de relaxamento muscular e evitar convulsões;
e fentanil para melhorar a analgesia (Tabela 1) (LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001;
SOUZA et al., 2002; BRONDANI et al., 2003).
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TILETAMINA
A tiletamina corresponde ao 2-etilamino 2-(2-tienil) ciclo-hexanona, sua potência
e duração de ação são intermediárias entre a fenciclidina, a mais potente, e a cetamina,
a menos potente dos agentes dissociativos (MASSONE, 2002).
É comercializada associada em partes iguais com zolazepam, formulado como um
pó branco na concentração de 10%. Uma das desvantagens deste produto é que, uma
vez reconstituído, vai perdendo sua ação com o passar dos dias e, para conservar a
potência por mais tempo, deve ser mantido refrigerado (OTERO, 2005).
A tiletamina apresenta período de latência de 2 a 3 minutos após a injeção
intramuscular, com duração de efeito aproximadamente de 60 minutos, sendo este
efeito dose-dependente. Embora não tenha sido caracterizada sua atividade próconvulsivante em doses terapêuticas, em doses elevadas ela induz tremores,
movimentos espásticos e convulsões (CORTOPASSI; FANTONI, 2002).
A associação tiletamina-zolazepam tem sido utilizada para medicação préanestésica, sedação, imobilização, indução e manutenção anestésica, principalmente
em procedimentos menos invasivos em cães, gatos, ruminantes, suínos e silvestres
(Tabela 1) (PABLO; BAILEY, 1999).
No sistema respiratório, a tiletamina promove diminuição na freqüência respiratória,
com um padrão apneustico inicial que rapidamente é corrigido pelo zolazepam. É
excretada pelos rins e por isso não é indicado seu uso em pacientes com insuficiência
renal (CORTOPASSI; FANTONI, 2002; OTERO, 2005). Além disso, tem a propriedade
de cruzar a barreira placentária deprimindo os fetos, não sendo recomendada também
para cesarianas (OTERO, 2005).
Existem algumas particularidades relacionadas à farmacocinética da tiletaminazolazepam em cães; por exemplo, possui meia-vida plasmática de uma hora do zolazepam
contra 1,2 horas da tiletamina, prevalecendo os efeitos da tiletamina. Em gatos, observase o oposto, sendo a meia-vida plasmática da tiletamina e do zolazepam 2,5 e 4,4 horas
respectivamente, ocorrendo maior tranquilização residual como resultado da maior
vida plasmática do zolazepam, tornando o período de recuperação mais prolongado
nesses animais (CORTOPASSI;& FANTONI, 2002).
O uso desta associação como agentes isolados na indução e manutenção da
anestesia não leva a uma adequada anestesia cirúrgica e analgesia visceral tanto em
cães quanto em gatos, levando a repetição da dose constantemente, prejudicando a
recuperação do paciente (LIN, 1996), portanto, faz-se necessário a combinação com
outros anestésicos como medetomidina ou fentanil (LIN, 1996; CORTOPASSI;
FANTONI, 2002; AYDILEK, 2007).
Savvas et al. (2005) avaliaram os efeitos da associação tiletamina-zolazepam em
diferentes doses e vias (5mg/kg,IV e 10mg/kg, IM) combinado com atropina (20μg/kg,
IV) em cães observando dor em todos os animais do grupo que recebeu a associação
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Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
tiletamina-zolazepam via IM e transitória acidose respiratória não clinicamente relevante
em animais de ambos os grupos.
Já Valadão e Pacchini (2001), verificando efeitos cardiorrespiratórios da associação
tiletamina-zolazepam em pacientes hipovolêmicos, verificou leve depressão respiratória
imediatamente após sua aplicação, porém as pressões arteriais, sistólica, diastólica e
média, além da freqüência e débito cardíaco, mantiveram-se estáveis, sendo, portanto,
eficientes para anestesia em cães hipovolêmicos (Tabela 1).
Portanto, a associação tiletamina-zolazepam está indicada para coleta de sangue,
de tecidos ou outro material, tratamento de feridas (OTERO, 2005), transporte de animais,
cirurgias de pequeno porte, cirurgias abdominais e ortopédicas (Tabela 1) (DINIZ, 1999).
ETOMIDATO
O etomidato é potente agente hipnótico, sem propriedades analgésicas.
Apresenta-se sob a forma de etil (1 feniletil) – H-imidazol-5-carboxilato (FANTONI et
al., 1999). É um anestésico intravenoso, não barbitúrico, de curta ação, utilizado tanto
em humanos quanto em animais, com elevada margem de segurança, mas carece de
propriedades analgésicas (LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001; RANG et al., 2001).
Não produz tolerância depois de repetidas administrações e não provoca liberação de
histamina (LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001), além de apresentar mínima depressão
respiratória, proteção cerebral e rápida recuperação (RANG et al., 2001).
O principal efeito do etomidato sobre o sistema nervoso central (SNC) é a hipnose
por depressão do córtex cerebral atuando como protetor cerebral ao reduzir o consumo
metabólico de oxigênio a nível cerebral e ao reduzir a PIC, mantendo a perfusão cerebral
melhor do que o tiopental e o propofol (LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001). Estas
características o fazem um excelente fármaco a ser usado em pacientes que apresentam
alterações hemodinâmicas (Tabela1) (JANSSEN et al., 1975; DE PAEPE et al., 1999).
O etomidato assemelha-se muito ao tiopental, embora haja maior probabilidade
de que cause movimentos involuntários durante a indução, bem como náusea e vômitos
pós-operatórios (RANG et al., 2001). Seus dois efeitos adversos mais comuns são dor
durante a aplicação intravenosa e tromboflebite (NEBAUER et al., 1992). A baixa
solubilidade em água do etomidato requer uma formulação de propileno glicol a 35% e
este veículo é o responsável pela dor, tromboflebite e hemólise (NEBAUER et al., 1992;
MOON, 1994).
Alcança rapidamente o cérebro devido sua alta fração plasmática livre (25%), sua
lipossolubilidade e ao fato de não estar ionizado em pH fisiológico. A distribuição inicial
no compartimento central, que inclui o cérebro, seguida por uma primeira redistribuição
rápida até o resto dos tecidos orgânicos, o que explica seu efeito breve e permite adaptar
sua posologia dependendo do sistema de administração (bolus ou infusão) (Tabela 2)
(LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001). Sua distribuição inicial e meia vida têm a duração
de três minutos e redistribuição ocorre em 29 minutos (FROST, 2004).
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
161
É metabolizado principalmente em nível hepático (FROST, 2004), por hidrólise
com formação de ácido carboxílico, que é inativo. Tanto o ácido carboxílico quanto a
pequena porção de etomidato não modificado são excretados principalmente pela
urina, existindo certa excreção também através da bile e fezes (LAREDO;
CANTALAPIEDRA, 2001). Passou a ser preferido ao tiopental em virtude de sua maior
vantagem entre a dose anestésica e a dose necessária para produzir depressão
respiratória e cardiovascular (RANG et al., 2001).
Portanto, o etomidato pode ser usado como agente anestésico na indução ou
manutenção da anestesia em pequenos animais, principalmente em pacientes
cardiopatas e hipovolêmicos (Tabela 1), sendo contra-indicado em casos de insuficiência
adrenal e renal, pois o acúmulo de pigmentos associado a hemólise compromete a
capacidade de filtração renal (LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001).
FENTANIL E ANÁLOGOS PARA ANALGESIA NATIVA
O fentanil é opióide sintético, primariamente agonista do receptor μ, com
propriedade analgésica de 80 a 100 vezes superior à da morfina; porém apresenta
duração ultracurta. A principal vantagem deste opióide é que, quando administrado
por via IV, apresenta efeito quase imediato (GÓRNIAK , 1999), com latência muito curta
em conseqüência da alta lipossolubilidade, características estas que o tornam analgésico
de eleição para o período trans-operatório em infusão contínua ou em repetidas doses
em bolus, complementando a anestesia volátil ou em conjunto com hipnóticos, como
o propofol, uma vez que são potentes analgésicos, mas não causam perda da consciência
(CORTOPASSI; FANTONI, 2002).
Doses elevadas de fentanil produzem intensa rigidez muscular, possivelmente
como resultado dos efeitos dos opióides sobre a transmissão dopaminérgica no corpo
estriado, fato que pode comprometer a ventilação no paciente em respiração espontânea
(GOODMAN et al., 1987). Analgesia, sedação e depressão respiratória ocorrem após
quatro minutos de administração IV com um pico de ação dentro de 10 a 15 minutos e
tempo efetivo dentro de 30 minutos (SOMA; SHIELDS, 1964). Outros efeitos do fentanil
são agressividade pós-operatória, apnéia, salivação, bradicardia e relaxamento do
esfíncter anal com ocasional defecação (SOMA; SHIELDS, 1964)
Análogos do fentanil têm sido desenvolvidos, observando-se variação importante
no tempo de ação: de ultracurto (alfentanil), curto (sufentanil) para intermediário/longo
(lofentanil) (CORTOPASSI; FANTONI, 2002). As vantagens do alfentanil sobre o fentanil
e sufentanil são rápido início de ação e menor efeito cumulativo (FANTONI, 2002).
Em um estudo o qual foi comparado o efeito do fentanil e seu análogo sufentanil
para infusão contínua trans-operatória, os autores utilizaram a dose respectivamente
4μg/kg/h e 0,5μg/kg/h, diluídos em solução salina, sendo esta infundida na dose de
0,2mL/kg/h. A qualidade da analgesia foi considerada melhor em cães que receberam
sufentanil quando comparados ao grupo que recebeu fentanil (BUFALARI et al., 2007).
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Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
Foi introduzido o uso transdérmico do fentanil em pequenos animais, sendo que
este sistema contém um reservatório com o fentanil em um adesivo, sendo este fármaco
absorvido através da pele em uma taxa constante aproximadamente de 100μg/h, que é
equivalente a administração IM de 60mg de morfina, com duração de 72 horas. Este
adesivo está disponível para liberação do fentanil nas taxas de 25, 50, 75 e 100 4μg/h
(GÓRNIAK, 1999).
O remifentanil, outro derivado do fentanil, possui rápido início de ação e curta
meia-vida, independente do tempo de infusão, características estas que o tornam
analgésico interessante para uso na anestesia geral balanceada, TIVA ou sedação,
permitindo o uso deste agente em ampla variedade de procedimentos anestésicos que
variam desde sedação, cirurgia cardíaca e neurocirurgia (AULER Jr, 2008).
Em humanos, o remifentanil tem sido utilizado em praticamente todas as
especialidades cirúrgicas e em grupos especiais de pacientes como neonatos, idosos,
obesos mórbidos e portadores de insuficiência renal ou hepática (AULER Jr, 2008).
Ainda em humanos, um estudo comparando os efeitos da anestesia inalatória com
isoflurano e fentanil e anestesia total intravenosa com propofol e remifentanil para
rinoscopia e cirurgia nasal, os autores verificaram que a hipotensão é equivalente em
ambos os grupos, porém, somente TIVA foi efetiva na redução da hemorragia deste
procedimento (TIRELLI et al., 2004).
O fato do remifentanil não apresentar efeito clinicamente relevante na pressão
intra-ocular ou intra-craniana, bem como no fluxo sangüíneo cerebral e na reatividade
cerebrovascular, torna-o uma opção interessante na cirurgia oftálmica e neurocirúrgica
(BALAKRISHNAN et al., 2000).
ASSOCIAÇÕES ANESTÉSICAS
O propofol utilizado como agente único na manutenção anestésica pode levar a
excessiva profundidade da anestesia e tempo de recuperação prolongado. Estes efeitos
podem ser evitados através da administração simultânea de analgésicos, dentre eles, o
fentanil (GEEL, 1991).
Os opióides são utilizados como co-adjuvantes ao reduzir as doses do agente
indutor, suprimir a resposta á laringoscopia, intubação orotraqueal e manutenção
anestésica. Assim, o fentanil reduz a dose de indução do propofol (HAN, 2000),
melhorando o componente hipnótico na TIVA (MUÑOZ-CUEVAS et al., 2005).
A TIVA com propofol e opióides apresenta efetividade na resposta adrenérgica
ao estresse cirúrgico com concomitante redução da concentração plasmática de
catecolaminas (SCHUWAL et al., 2000) o que está de acordo com Kurita et al. (2003),
que relataram que a TIVA com propofol e fentanil, é efetivo à resposta adrenérgica ao
estresse cirúrgico, reduzindo a concentração de catecolaminas plasmáticas.
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Pires et al. (2000), utilizando cloridrato de acepromazina e fentanil na medicação
pré-anestésica (MPA) em cães submetidos a TIVA com infusão contínua de propofol,
obtiveram redução de 47% na dose necessária do agente indutor à anestesia, porém, a
dose de manutenção do propofol foi mantida em 0,4mg/kg/min.
Já, Saavedra et al. (1996) observaram que a associação do propofol ao alfentanil
proporciona redução significativa nas doses de manutenção do mesmo, comparando
com o uso isolado do propofol ou associado à cetamina em cães.
A cetamina, por produzir hipertonia muscular, recuperação disfórica e convulsões,
tem sido utilizada em associação com sedativos ou tranqüilizantes que eliminam ou
minimizam esses efeitos excitatórios (HELLYER et al., 1991).
Existem relatos citando que a associação de propofol e cetamina promovem uma
boa manutenção anestésica, porém notável depressão cardiorrespitória em seres
humanos (HIU et al., 1995). Otha et al. (2004) basearam-se nesses fatores, realizando
um protocolo anestésico com cetamina e propofol, na ortopedia eqüina, obtendo
resultados satisfatórios, visto que a indução anestésica somente com propofol não é
recomendada nesta espécie, pois pode promover excitação.
Os benzodiazepínicos como o diazepam e o midazolam são utilizados
associados à cetamina (LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001; RANG et al., 2001;
SOUZA et al., 2002; BRONDANI et al., 2003.). Atuam potencializando os efeitos
inibitórios do GABA, tanto no cérebro quanto na medula, limitando a atividade
convulsiva e elevando o limiar para convulsão, bloqueando a excitação causada
pela cetamina, além de deprimirem centralmente os reflexos espinhais (ANDRADENETO, 1999).
O midazolam é hidrossolúvel e, consequentemente, compatível com a cetamina
em solução (JACOBSON; HARTSFIELD, 1993), sendo três vezes mais potente que o
diazepam (HELLYER et al., 1991). Benzodiazepínicos lipossolúveis como o diazepam
podem causar precipitação das soluções quando misturados com cetamina (BROWN
et al., 1993).
A combinação de cetamina com benzodiazepínicos produz relaxamento muscular,
sendo considerada uma associação com pequeno poder analgésico para casos
cirúrgicos; seu uso combinado com á-2 agonistas (como xilazina e medetomidina)
levam a um excelente relaxamento muscular e melhora o grau de analgesia visceral.
Outras combinações incluem o uso de opiáceos junto a á-2 agonistas para aprofundar
mais a analgesia (LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001).
Brondani et al. (2003) relataram que a anestesia injetável com a associação de
cetamina (10mg/kg indução e 5mg/kg manutenção) e midazolam (0,5mg/kg indução e
0,25mg/kg manutenção), em intervalos regulares de 10 minutos, via intravenosa, não
deprimiu a função cardiovascular, não causou hipotermia, promoveu indução tranqüila
e recuperação satisfatória, além de adequado grau de analgesia e relaxamento muscular
para realização cirurgias esofágicas em cães.
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Quando se usa o etomidato como agente anestésico na indução ou manutenção
da anestesia, recomenda-se associar à medicação pré-anestésica um tranqüilizante
para minimizar os efeitos secundários (movimentos espasmódicos, mioclonias, náusea
e vômito), observados durante a indução e/ou recuperação da anestesia. Os fármacos
recomendados para a medicação pré-anestésica (MPA) são os que apresentam mínimos
efeitos cardiorrespiratórios como a combinação de um benzodiazepínicos e um opióide
(LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001).
ALTERAÇÕES HEMODINÂMICAS
A administração intravenosa da maioria dos agentes anestésicos pode causar
hipotensão arterial através da variação de mecanismos, incluindo vasodilatação
(GROUNDS et al., 1985; ROUBY et al., 1991), ação inotrópica negativa (GELISSEN et
al., 1996) e depressão do sistema nervoso simpático (EBERT et al., 1992; FROST, 2004).
A indução anestésica com etomidato acarreta em mínimos efeitos depressivos do
sistema nervoso simpático, podendo estimulá-lo em baixas doses (AONO et al., 2001).
Além disso, em doses clínicas caracteriza-se por apresentar mínimos efeitos sobre a
freqüência cardíaca, contratilidade do miocárdio, pressão sangüínea e consumo de
oxigênio pelo miocárdio.
O etomidato produz poucas alterações respiratórias, sendo a hipoventilação
transitória o efeito respiratório mais comum. Foram descritos períodos de apnéia de
curta duração em 12% dos pacientes induzidos por este fármaco. Quando é administrado
em cães sadios, na dose de 1,5mg/kg o etomidato provoca um aumento no ritmo
respiratório e um decréscimo do volume tidal que mantém o volume minuto inalterado
(LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001).
Ferro et al. (2005) pesquisaram alterações nos principais parâmetros
fisiológicos determinados pela infusão contínua de propofol com diferentes doses
em cães, sendo elas 0,2mg/kg/min; 0,4mg/kg/min e 0,8mg/kg/min, revelando em
todas as doses uma redução na freqüência cardíaca, porém menos pronunciada
nos animais que receberam propofol por infusão contínua na dose de 0,2mg/kg/
min. A justificativa dada pelos autores associa este fato a uma menor redução na
pressão arterial media (PAM), não havendo a necessidade de aumento da
freqüência cardíaca para estabilizar o débito cardíaco e conseqüentemente para
manter a pressão arterial. Ainda sobre o sistema cardiovascular, o emprego do
propofol está associado à discreta diminuição na pressão arterial (SHORT;
BUFALARI, 1999). Essa ação depressora do fármaco está relacionada a efeitos
depressores direto sobre o miocárdio e a vasodilatação arterial e venosa, sendo a
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
165
redução da pressão arterial proporcional ao aumento da concentração plasmática
do agente anestésico (FANTONI, 2002). Nishimori et al. (2005) utilizaram propofol
na indução (10mg/kg ± 0,5mg/kg) e manutenção anestésica (0,5mg/kg/min) para
colheita de líquido cérebro espinhal e para mielografia em cães e observaram
aumento da freqüência cardíaca e nenhuma alteração nos parâmetros de débito
cardíaco e volume sistólico. O propofol não promoveu alterações hemodinâmicas
que comprometessem a técnica de mielografia, sendo indicado como procedimento
anestésico adequado para esse fim (Tabela1).
A cetamina é caracterizada por apresentar estimulação cardiovascular indireta.
Este fármaco aumenta o débito cardíaco, a pressão aórtica média, a pressão arterial
pulmonar, a pressão venosa central e a freqüência cardíaca, exercendo efeito variável
sobre a resistência vascular periférica (BOOTH, 1992). A freqüência cardíaca e a pressão
arterial aumentam como resultado da estimulação direta do sistema nervoso central,
que leva ao aumento do influxo simpático (LIN, 1996).
Haskins e Patz (1990) observaram aumento na freqüência cardíaca e na PAM
após a administração de cetamina (10mg/kg), via intravenosa, entretanto, Duque et
al. (2005), não observaram estes efeitos durante a infusão contínua deste mesmo
fármaco em cães apresentando choque hipovolêmico induzido. Normalmente a
cetamina aumenta a pressão arterial e freqüência cardíaca em cães e humanos
normovolêmicos e por isto este anestésico é recomendado para uso em pacientes
que apresentam alto risco anestésico, susceptíveis a depressão cardiovascular ou
hipotensão.
Já, Valadão e Pacchini (2001), verificando efeitos cardiorrespiratórios da associação
tiletamina-zolazepam em pacientes hipovolêmicos, verificou leve depressão respiratória
imediatamente após sua aplicação, porém as pressões arteriais, sistólica, diastólica e
média, além da freqüência e débito cardíaco, mantiveram-se estáveis, sendo, portanto,
eficiente para anestesia em cães hipovolêmicos (Tabela 1).
Apesar da associação tiletamina-zolazepam promover taquicardia sinusal
transitória, não produz alterações significativas no perfil hemodinâmico de pacientes
com baixo risco anestésico (ASA I e II). No sistema respiratório obsrrva-se diminuição
da freqüência respiratória, com um padrão apneustico inicial que rapidamente é corrigido
pela ação do zolazepam (OTERO, 2005).
Ao avaliarem comparativamente a manifestação de possíveis alterações
eletrocardiográficas em cães anestesiados com cetamina e sua versão S, Souza et al.
(2002) encontraram efeitos similares, não indicando superioridade na cetamina S na
eletrofisiologia cardíaca e na função cardiopulmonar.
TABELA 2 – Doses e intervalos posológicos dos diferentes fármacos utilizados na TIVA na espécie canina.
166
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
TABELA 1 – Principais indicações dos diferentes agentes anestésicos e suas associações medicamentosas
utilizadas na TIVA em cães.
Propofol
e Fentanil
- Cirurgias
ambulatoriais;
- Remoção de
tumores intracranianos.
Propofol
Cetamina e diazepam
ou midazolam
- Coleta de líquor da
cisterna;
- Mielografias;
- Cuidados intensivos;
- Método de
contenção.
- Pacientes cardiopatas;
- Pacientes
hipovolêmicos ou em
choque hemorrágicos;
- Neurocirurgia;
- Método de contenção.
Etomidato e
diazepam ou
midazolam
Tiletaminazolazepam
- Pacientes
cardiopatas;
- Hipovolêmicos
- Pacientes
hipovolêmicos;
- Coleta de sangue;
- Coleta de tecidos;
- Tratamento de
feridas;
- Transporte;
- Cirurgias de
pequeno
porte.
SAAVEDRA et al., 1996; DINIZ, 1999; LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001; RANG et al., 2001; VALADÃO;
PACCHINI, 2001; SOUZA et al., 2002; BRONDANI et al., 2003; MUÑOZ-CUEVAS et al., 2005.
Adaptado por TRINDADE et al. (2008).
TABELA 2 – Doses e intervalos posológicos dos diferentes fármacos utilizados na TIVA na espécie canina.
Na Indução
sem MPA
Na Indução
com MPA
Manutenção em
bomba de infusa
Manutenção
em bolus
Propofol
10mg/kg
2 a 4mg/ kg
0,2 a 0,8mg/kg/min
0,5mg/kg a cada 3
a 5 min.
Fentanil
-
-
0,3 a 1 µg/kg/min.
2 a 5 µg/kg a cada
20 a 30 min.
Ou
2 a 10 µg/kg/hora
Remifentanil
-
-
0,25 a 0,1 µg/kg/min.
-
Sufentanil
-
-
1µg/kg/ hora
0,72 a 2 µg/kg a
cada 10 a 15 min.
1 a 2mg/kg
0,05 a 0,9
mg/kg/min.
1 a 5mg/kg a cada
10 a 25min.
0,5 a 3mg/kg
50 a 150 µg/kg/min.
0,5 a 1,5mg/kg a
cada 10 a 20 min.
1 a 16 µg/kg/min.
(0,2mg/kg/h)
0,15 0,25mg/kg a
cada 2 min.
Cetamina
8 a 10mg/kg
Etomidato
-
Diazepam
0,15 0,25mg/kg
0,15 0,25mg/kg
Midazolam
0,2mg/kg
0,2 mg/kg
0,25mg/kg a cada
10 a 25 min.
Atracúrio
-
0,25 a 0,5mg/kg
4 a 9 µg/kg/min.
0,15 a 0,25mg/kg a
cada 20 a 30min.
Tiletamina-zolazepam
-
3 mg/kg diluído
em 2ml de
solução salina
-
1mg/kg a cada 20 a
30 min.
LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001; MACINTIRE, 2004.; FERRO, 2005; NISHIMORI, 2005; OTERO, 2005.
Adapatado por TRINDADE et al. (2008).
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
167
CONCLUSÃO
A anestesia total intravenosa fornece a possibilidade de utilizar diversos fármacos,
no entanto são mais apropriados aqueles que apresentam uma meia vida curta, com
baixos volumes de distribuição, com um rápido início de ação, não produzindo
metabólitos tóxicos ou ativos.
O sucesso do procedimento anestésico advém da escolha dos fármacos segundo
o estado clínico do paciente, enfermidades concomitantes e tipo de procedimento
cirúrgico. Para isto, o conhecimento das formas de absorção de cada anestésico, bem
como as rotas metabólicas e as propriedades anestésicas dos agentes injetáveis, tornam
o anestesista mais seguro diante da escolha do protocolo anestésico.
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Recebido em: dez. 2007
172
Aceito em: abr. 2008
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
Opióides de curta ação em infusão contínua
no transoperatório de cães e gatos: revisão
bibliográfica
Giordano Cabral Gianotti
Wanessa Krüger Beheregaray
Emerson Antonio Contesini
RESUMO
Existe consenso entre os médicos veterinários a respeito de os animais, assim como
os seres humanos, serem suscetíveis aos processos dolorosos e suas decorrências. Com
o advento de novos fármacos anestésicos e novas técnicas de administração de drogas,
tornou-se possível anestesiar um paciente de forma mais precisa e segura, com alta
eficácia e menos efeitos adversos. Nessas condições, realizar uma anestesia balanceada
vem se tornando uma prática comum que traz inúmeros benefícios para o paciente. O uso
de opióides de curta ação por infusão contínua no transoperatório de pacientes
anestesiados é um bom exemplo. Este trabalho, resultado de pesquisa bibliográfica, aborda novos conceitos sobre a administração de opióides no transoperatório de cães e gatos,
a partir dos quais se pode melhor prevenir processos dolorosos, além de se obter outras
vantagens para o procedimento cirúrgico, bem como visando à otimização das condições
de recuperação do paciente.
Palavras-chave: Analgesia. Opióides. Fentanil. Anestesia balanceada. Cães e gatos.
Short-action opioids by continuous infusion in the transoperative
of dogs and cats: Bibliography review
ABSTRACT
Nowadays there is already a consense among veterinary doctors that animals, just
as human beings, are highly susceptible to pain. With the incoming of new anesthetic
drugs and new drugs administration techniques, it’s possible to anesthetize a patient in
a more precise and safety way, with high efficacy and less side effects. Under these
conditions, to make a balanced anesthesia is becoming a common practice that brings
many benefits to the patient. The use of short action opioids by continuous infusion in
Giordano Cabral Gianotti é Médico Veterinário com Residência Médico-Veterinária em Anestesiologia no
Hospital de Clínicas Veterinárias (HCV) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2008. É
Mestrando do PPGCV da UFRGS – Av. Bento Gonçalves, 9090, Bairro Agronomia, Porto Alegre, RS, Brasil.
CEP 91540-000. E-mail: [email protected]
Wanessa Krüger Beheregaray é Médica Veterinária Especialista em Acupuntura pelo CBES em 2008. É
Residente em Cirurgia do HCV da UFRGS – Av. Bento Gonçalves, 9090, Bairro Agronomia, Porto Alegre, RS,
Brasil. CEP 91540-000. E-mail: [email protected]
Emerson Antonio Contesini é Médico Veterinário Doutor pela Universidade Federal de Santa Maria, RS em
2003. É Professor Adjunto em Cirurgia Veterinária na UFRGS – Av. Bento Gonçalves, 9090, Bairro Agronomia,
Porto Alegre, RS, Brasil. CEP 91540-000. E-mail: [email protected]
p . 1 7 2008
3-190
Veterinária em Foco Veterinária
v. 5 v.5, n.2,
n.2 jan./jun.
Canoas em Foco,
jan./jun. 2008173
the transoperative of anesthetized patients is an example of this. This paper, a
bibliography review, brings news concepts about the opioids administration in the
transoperative of dogs and cats, and from them we can better prevent painful process,
beyond getting others advantages for surgical procedures and aiming an optimization of
the patient recovering.
Keywords: Analgesia. Opióides. Fentanyl. Balanced anesthesia. Dogs and cats.
INTRODUÇÃO
Segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor, dor é definida como
“uma experiência sensorial e/ou emocional desagradável, associada ou não ao dano
potencial dos tecidos” (OTERO, 2005). Essa definição, embora estabelecida para
pacientes humanos, hoje em dia é uniformemente aplicada também a animais submetidos
a estímulos nociceptivos ou dolorosos (HELLEBREKERS, 2002).
Já se sabe que quanto mais cedo se iniciar o tratamento do “sinal” dor e mais
seletiva for a terapia ministrada, maior será a eficiência e menores serão os efeitos
adversos que se instalarão como conseqüência dela. É possível afirmar ainda que
pacientes não-tratados adequadamente com analgésico, apresentam recuperação
retardada (FANTONI; MASTROCINQUE, 2004; OTERO, 2005).
Analgesia significa a diminuição ou abolição do estímulo doloroso nos
pacientes. Diversas drogas podem se utilizadas no controle da dor, porém um
grupo que se destaca nesse controle são os opiódes, empregados cada vez mais
em medicina veterinária (HALL; CLARKE, 1991). A escolha do método de analgesia
mais indicado para um animal considera as características do paciente, do fármaco
e, não menos importante, do próprio processo doloroso (FANTONI;
MASTROCINQUE, 2002).
A anestesia balanceada nada mais é que a administração simultânea de drogas
para reduzir a toxicidade das mesmas, com a combinação de efeitos, gerando no
paciente estados de analgesia, inconsciência, relaxamento muscular e diminuição
da atividade reflexógena (LUNA; TEIXEIRA, 2004). A analgesia nos procedimentos
anestésicos é obtida muitas vezes com o emprego de opióides (MORAES;
OLESKOVICZ, 2005). Com eles, pode-se manter o paciente estável
hemodinamicamente e minimizar o uso de anestésicos inalatórios (THOMASY et
al., 2006). Para isso é interessante iniciar o tratamento analgésico antes do estímulo
doloroso (HELLEBREKERS, 2002).
O uso da infusão contínua é pouco usado na medicina veterinária por falta de
informação sobre a técnica, somado ao excesso de cálculos necessários e à complexidade
e pouco conhecimento dos mecanismos de ação dos fármacos (MACCINTIRE;
TEIEND, 2004). Sua grande vantagem é a manutenção da droga em níveis plasmáticos
desejáveis e constantes, dentro da “janela terapêutica” sem causar as variações que
174
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
levam às subdoses ou sobredoses, desencadeadoras dos efeitos tóxicos e indesejáveis
da droga (OTERO, 2005).
Esta revisão bibliográfica tem como objetivo descrever e aplicar o uso de opióides
de curta ação por infusão contínua em cães e gatos. Procura-se salientar e descrever
tópicos considerados importantes em tal procedimento, como o mecanismo do
processo doloroso e as técnicas de anestesia balanceada e analgesia. Por fim, são
relatadas as características dos opióides desde as suas vantagens até seus efeitos
colaterais.
FISIOPATOLOGIA DA DOR
Estudos demonstram que a dor pode acarretar danos para a saúde do animal.
Quando aguda, contribui para o aparecimento de complicações pós-cirúrgicas, como
distúrbios de comportamento e alterações cardiovasculares (SHAFFORD et al., 2001).
Animais com dor tendem a ficar estressados; sua recuperação se torna agitada, havendo
um aumento da morbidade e retardo na cicatrização (CRUZ; LUNA, 2000). A dor excede
a parte emocional. Implica efeitos como distúrbios hidroeletrolíticos, alterações nas
funções cardiovasculares e respiratórias, alteração de estado metabólico, retardo na
cicatrização e comportamento anormal (SHAFFORD et al., 2001).
O controle e a prevenção da dor é o fundamento da prática anestésica. É
essencial que o anestesista tenha um entendimento do processo fisiológico que
leva à percepção de como o paciente responde ao processo doloroso (THURMON
et al., 1996).
A nocicepção está relacionado com o reconhecimento de sinais, no sistema
nervoso (SN), que se originam em receptores sensoriais, nociceptores, e que fornecem
informações relacionadas ao dano tissular (HELLEBREKERS, 2002). São receptores
especializados de alto limiar, que se despolarizam, ativando-se na presença de um
estímulo nocivo e resultando na geração de impulsos através das fibras nervosas
aferentes A-delta (A-δ) e C. Essas fibras aferentes primárias nociceptivas suprem a
pele, os tecidos subcutâneos, o periósteo, as articulações, os músculos e as vísceras
(THURMON et al., 1996).
Os impulsos gerados pelos nociceptores são levados ao sistema nervoso
central pelas fibras A-δ e C, que formam o nervo aferente, cujo corpo celular se
encontra no gânglio da raiz dorsal da medula espinhal. Ele penetra na medula
espinhal através da raiz do nervo dorsal e termina nas células da substância cinzenta
do corno dorsal (THURMON et al., 1996). A sensibilização central é desencadeada
por impulsos provenientes das fibras C, que produzem potenciais lentos póssinápticos, liberando substâncias – como glutamato, neuroquinina A e substância
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
175
P – na fenda sináptica, as quais se ligam aos receptores NK, AMPA e NMDA em
nível de medula espinhal, causando despolarização e ativando a via (FANTONI;
MASTROCINQUE, 2005).
As fibras aferentes nociceptivas predominantemente terminam no corno dorsal
da medula, comumente dividida em seis lâminas diferentes. A partir daí, as informações
são transmitidas por cinco vias principais até centros supra-espinhais. Assim, ocorre
a chegada da informação no SNC, para percepção e processamento, nas regiões do
tálamo, mesencéfalo, sistema límbico e formação reticular (PISERA, 2005).
Ainda existem as vias descendentes que modulam o processamento medular da
informação nociceptiva, permitindo que o animal continue a perceber outros estímulos
de forma independente (PISERA, 2005). Controlar o estado de hipersensibilidade dos
neurônios do corno dorsal da medula pela administração de analgésicos antes que o
estímulo doloroso se inicie é uma das formas mais importantes de se controlar a dor
(FANTONI; MASTROCINQUE, 2004). A freqüência e a intensidade da ação potencializa
a propagação ao longo da fibra ascendente, incrementando bastante o sinal ao SNC
(JONES, 2001). A analgesia pode ser conseguida pela interrupção do processo
nociceptivo em um ou mais pontos no caminho entre o nociceptor periférico e o córtex
cerebral (THURMON et al., 1996).
A nocicepção envolve quatro processos fisiológicos sujeitos a um controle
farmacológico. A transdução é a tradução da energia física, o estímulo nocivo, em
atividade elétrica no interior do nociceptor periférico. A transmissão, por sua vez, é a
propagação do impulso nervoso através do sistema nervoso (THURMON et al., 1996).
Então, a dor é apresentada em áreas corticais, córtex sensitivo, frontal e subcorticais,
proporcionando a interpretação completa do fenômeno doloroso e a ampla gama de
respostas envolvidas neste processo, resultando na percepção. A seguir, ocorre a
modulação da dor, porque o sistema nociceptivo passa a ter sua atividade modulada
pelo sistema supressor da dor. Este sistema é composto por elementos neuronais da
medula espinal, tronco encefálico, tálamo, estruturas subcorticais, córtex cerebral e
sistema nervoso periférico (BRASIL, 2001).
ANESTESIA BALANCEADA E ANALGESIA PREEMPTIVA
Anestesia balanceada é a administração concomitante de múltiplas drogas
anestésicas sem fazer com que uma única droga atinja dosagem suficiente para produzir
toxicidade (THOMASY et al., 2006). Com o surgimento de drogas de melhor perfil
farmacocinético e dinâmico, a prática da anestesia moderna pôde restabelecer o
balanceamento com o uso de drogas venosas combinadas para produzir hipnose,
amnésia e analgesia evitando ao mesmo tempo uma depressão cardiorespiratória e um
despertar rápido da anestesia (GAN; GLASS, 2001).
176
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
Dentre as várias vantagens de se utilizar uma anestesia balanceada se destaca o
sinergismo entre fármacos como opióides, bloqueadores musculares, agentes hipnóticos
e tranqüilizantes. Ocorre uma potencialização dos efeitos farmacológicos, e uma melhor
atuação nos indivíduos sob anestesia, diminuindo o requerimento das drogas durante
a anestesia e reduzindo os efeitos indesejáveis nos pacientes (YOUNGS; SHAFER,
2001). Segundo Otero (2005), o uso de anestesias balanceadas, que priorizem a analgesia,
permite que se diminua a administração de anestésicos gerais, a principal fonte de
acidentes intra-operatórios.
De acordo com Ilkiw (1999), na prática veterinária, a anestesia geral, além das
razões humanitárias, é necessária para facilitar a intervenção cirúrgica e proteger o
cirurgião. Apresenta uma melhora da estabilidade do paciente durante o ato operatório,
assim como o acesso ao campo cirúrgico, redundando ao bem-estar do paciente
(PADDLEFORD, 1988). Tendo em vista isso, muitos anestesistas preferem o uso de
agentes venosos em razão dos seus efeitos específicos que não podem ser obtidos
com agentes voláteis, como, por exemplo, a analgesia e a supressão do estresse obtidas
com o uso de opióides (YOUNGS; SHAFER, 2001).
A incorporação de compostos com comprovados efeitos analgésicos ao protocolo
anestésico, desde a pré-medicação, é uma prática recomendada, pois beneficia o
tratamento da dor no pós-operatório (OTERO, 2005). O estímulo nocivo produzido
pela cirurgia induz uma variedade de respostas reflexas. A dor é a percepção consciente
desse estímulo nocivo. Se os pacientes receberem doses adequadas de opióides, para
a antinocicepção, e hipnóticos, para manter a inconsciência, é improvável que ocorra
oportunidade para a percepção do estímulo nocivo (CAMU et al., 2001). O primeiro
fator a ser decidido é o grau de depressão do SNC que se ocasionará, devendo-se
contemplar isoladamente cada caso. Quanto menor a depressão central maior deverá
ser a eficácia analgésica, levando-se em conta sempre a intensidade do estímulo realizado
(OTERO, 2005).
A possibilidade de se fornecer uma analgesia preventiva em pacientes cirúrgicos
é uma alternativa que deve ser explorada (OTERO, 2005). A analgesia preemptiva
constitui-se no tratamento precoce da dor, antes que ocorra a lesão tecidual, com
objetivo de diminuir o consumo de analgésico pelo paciente e reduzir a dor pósoperatória que produz efeitos sistêmicos indesejáveis e retarda a recuperação do
paciente (FANTONI; MASTROCINQUE, 2004). É importante destacar que a analgesia
preemptiva incorpora todas as fases do período perioperatório para fornecer conforto
ao paciente (SHAFFORD et al., 2001) e visa controlar a hipersensibilidade dos neurônios
do corno dorsal da medula espinhal, por estímulos nocivos prolongados (sensibilização
central), por meio da administração de analgésicos antes que o estímulo chegue e
sensibilize o SNC (FANTONI; MASTROCINQUE, 2004).
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
177
INFUSÃO CONTÍNUA
A técnica de infusão contínua vem se destacando na anestesiologia.
Consiste em infundir uma droga no paciente sem que ocorram muitas variações
dela nos níveis plasmáticos, podendo-se constatar um menor número de efeitos
adversos e melhor recuperação. Basicamente, se fundamenta na dinâmica e cinética
dos fármacos, administrando uma dose bolus da droga para se obter a
concentração plasmática inicial ideal, para depois se iniciar uma infusão contínua
da droga, com doses bem mais baixas, mantendo-a dentro do limiar terapêutico
(ILKIW, 1999). A técnica de infusão contínua é usada para simplificar e incrementar
a precisão de administrar drogas por via intravenosa durante a anestesia geral
(HOYMORK, 2003).
Apesar dos avanços tecnológicos na maneira de administração de fluidos, com
uso de bombas de infusão, a técnica é evitada por médicos veterinários, porque
necessita muitos cálculos, aparelhagem específica e fármacos relativamente novos
(MACCINTIRE; TEIEND, 2004).
Drogas de ação rápida e meia-vida curta são ideais para serem usadas nessa
técnica que permite um estado de concentração da droga estável no organismo do
animal. Para manter constante a concentração da droga no plasma é importante levar
em conta as variáveis farmacocinéticas como a distribuição e a eliminação da droga no
organismo. Máquinas mais precisas e modernas desenvolvidas para a administração
de fármacos permitem cada vez mais uma mínima flutuação nas concentrações
plasmáticas da droga, resultando em maior efetividade desses fármacos, com menos
efeitos adversos (SCHRAAG, 2001).
Quando uma droga é administrada, gera uma concentração em certo intervalo de
tempo, determinando um efeito final. No caso de administração em bolus, ela gera
inicialmente uma dose acima da adequada em rápido intervalo de tempo; segue-se um
período em que ela decai rapidamente, momento no qual ela se mantém em concentrações
plasmáticas adequadas para, logo em seguida, declinar até alcançar concentrações
plasmáticas subclínicas. Quando a droga é administrada em infusão contínua, obtémse uma concentração plasmática constante, pois à medida que a droga está se
distribuindo no organismo e sendo metabolizada, nova oferta está sendo realizada,
mantendo-se, desta forma, a concentração plasmática estável, dentro de parâmetros
clínicos (NORA, 2002).
Bombas de infusão são equipamentos eletromédicos capazes de controlar o
fluxo de fluídos através de dispositivos, garantindo a infusão do volume desejado
no intervalo de tempo programado. São capazes de gerar, monitorar e controlar o
fluxo de um fluido a pressões superiores à sanguínea, sob pressão positiva gerada
pela bomba, ou seja, não depende da pressão gravitacional. Assim, trata-se de é
um equipamento confiável para assegurar maior precisão nos volumes infundidos
(CANELAS et al., 2003).
178
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
Para se usar analgésicos no esquema de infusão contínua sempre é
interessante conhecer o perfil farmacocinético (o que o organismo faz com a
droga – eliminação, meia-vida, distribuição) e o perfil fármacodinâmico (o que a
droga faz no organismo - todo o seu efeito e níveis no organismo). Para se iniciar
um esquema de infusão deve-se esperar o efeito máximo obtido após a dose
bolus, mantendo, assim, constante a concentração do fármaco no sítio efetor
(YOUNGS; SHAFER, 2001).
As bases farmacocinéticas da infusão contínua é que se titule a concentração
plasmática do opióide acima da concentração efetiva analgésica mínima, mas abaixo da
concentração tóxica mínima, no chamado “corredor analgésico”. Embora esse seja um
conceito útil para explicar a infusão contínua, é importante lembrar que a curva doseresposta dos opióides não é linear e sim sigmoidal. Isso significa que uma vez o limiar
analgésico seja alcançado, pequenos aumentos na concentração plasmática resultarão
em analgesia eficaz. Aumentos adicionais levarão a efeitos adversos, em vez de melhorar
a analgesia. Pequenas diminuições podem levar rapidamente a doses subanalgésicas
(BRAUM; BRAUM, 2004).
Com as drogas de ação curta, ministradas em infusões venosas fixas, o controle
mais rígido dos efeitos clínicos pode ser mantido com maior grau de precisão, segurança
e previsibilidade, mas demora-se para atingir a concentração plasmática em nível ideal
cerca de 4 ou 5 meias-vidas do fármaco. Para compensar essa dificuldade se instituiu a
dose bolus, para se atingir a concentração plasmática ideal, para em seguida se instituir
o esquema de infusão fixo, para a manutenção dos níveis (CAMU et al., 2001). Fixar a
dose de opióide administrada em uma concentração analgésica no sítio efetor parece
lógico, mas a intensidade do estímulo nociceptivo-cirúrgico varia com o tempo. Por
isso torna-se interessante durante o procedimento cirúrgico ajustar as doses de
opióides infundidas conforme a necessidade do animal, até para que se evite sobredoses
(YOUNGS; SHAFER, 2001).
OPIÓIDES
Os opióides são fármacos com um alto potencial sedativo e analgésico atuando
no controle da dor aguda. Ligam-se reversivelmente a receptores específicos do SNC
e medula espinhal, tanto pré como pós-sinápticos, alterando a nocicepção e percepção
da dor (PADDLEFORD, 1988; FANTONI; MASTROCINQUE, 2002). Os opióides
mostram claras evidências de seu poder analgésico e promovem a prevenção da
sensibilização central e quando usados preventivamente diminuem as necessidades
de analgesia no pós-operatório (SANDKÜHLER; RUSCHEWEYH, 2005; ALLWEILER
et al., 2007).
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
179
São os fármacos mais empregados como parte de uma técnica de anestesia
balanceada. A sua utilização transoperatória previne as respostas autonômicas ao
estímulo doloroso, suprimindo a dor, resultando então em melhor estabilidade
hemodinâmica, reduzindo a necessidade de outros fármacos e aumentando o conforto
pós-operatório (GREMIÃO, 2003; LARSON et al., 2007).
São substâncias que produzem efeitos de hipnoanalgesia, ou seja, suprimem
a dor e causam sedação. Aliviam a dor somática e visceral bloqueando os impulsos
nociceptivos sem interferir com a função sensorial e motora ou deprimindo o SNC.
Podem ser utilizados para controle da dor em diferentes situações (GÓRNIAK,
2002). Mimetizam a ação de peptídeos endógenos responsáveis pela modulação
de nociceptores ou reconhecimento sensação dolorosa (FANTONI;
MASTROCINQUE, 2002).
No organismo há pelo menos quatro tipos de receptores opióides com seus
subgrupos que produzem respostas distintas. Estes receptores são mu (μ), kapa (κ),
delta (δ) e sigma (σ), sendo os dois primeiros com maiores repercussões clínicas nos
cães (THURMON et al., 1996). Existem dois locais anatomicamente distintos para a
analgesia mediada pelos receptores opióides: supra-espinhal e espinhal. Quando a
droga é administrada sistemicamente a analgesia é obtida pela ação do fármaco nos
dois locais (BRASIL, 2001).
Os opióides podem ser divididos em quatro grupos: agonistas totais,
agonistas parciais, agonistas-antagonistas e antagonistas. Os agonistas ainda
são os mais indicados para dores moderadas a severas (GÓRNIAK, 2002). Os seus
efeitos adversos incluem depressão respiratória, náuseas e sedação, assim
anestesiologistas tentam restringir seu uso no transoperatório (BUTKOVIC et al.,
2007; LARSON et al., 2007).
OPIÓIDES DE CURTA AÇÃO NA ANESTESIA
Na prática anestésica os opióides de curta ação incluem o fentanil e seus análogos.
Pertencem à família das fenilpiperidinas, dominam como opióides de escolha para a
anestesia venosa, assim como para a maioria dos outros tipos de técnicas anestésicas
balanceadas (BAILEY; EGAN, 2001).
Os efeitos adversos, como a sedação, a depressão respiratória e os vômitos no
pós-operatório permanecem sendo limitações significativas para o seu uso clínico
(BAILEY; EGAN, 2001; BUTKOVIC et al., 2007).
Em geral, os opióides são administrados antes da indução da anestesia
balanceada, conduta que pode ser particularmente desejável em pacientes que
necessitarão de laringoscopia e entubação traqueal, atenuando os efeitos adversos da
180
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
natureza estimuladora desses procedimentos (BAILEY; EGAN, 2001; ABOU-ARAB et
al., 2007).
Nas técnicas de anestesia balanceada em que agentes inalatórios potentes
também são empregados, concentrações relativamente baixas de componentes opióides
podem reduzir significativamente a concentração alveolar mínima (CAM) desses
agentes hipnóticos (BAILEY; EGAN, 2001; THOMASY et al., 2006).
A compreensão do funcionamento das drogas de curta ação, seus perfis
farmacocinéticos e farmacodinâmicos tem facilitado o manejo de procedimentos
anestésicos com estímulo doloroso. A infusão de opióides no transoperatório é
muito usado em técnicas de anestesia balanceada, tendo como vantagens a
redução do uso de anestésicos gerais, redução da dor no pós-operatório quando
associado à analgesia preemptiva e redução da resposta ao estresse (ALLWEILER
et al., 2007).
Fentanil
Os pulmões exercem significativo efeito de primeira passagem e uma captação de
75% de uma dose injetada de fentanil. Mais de 98% da dose injetada são eliminados do
plasma após uma hora. Os níveis cerebrais de fentanil correspondem aos níveis
plasmáticos após aproximadamente cinco minutos. Grandes variabilidades nas
concentrações plasmáticas ocorrem devido às ondas de fluxo sangüíneo muscular,
contribuindo para o aparecimento de picos secundários. Possui uma meia-vida de três
a cinco horas (STOELTING, 1999; BAILEY; EGAN, 2001). Seu metabolismo é
fundamentalmente hepático (OTERO, 2005).
A via para o fentanil deve ser a intravenosa. Seu curto período de latência e de
ação, somados à sua potência, tornam-no um agente de escolha para contribuir na
analgesia transoperatória, na anestesia balanceada (OTERO, 2005; BUTKOVIC et
al., 2007).
Em altas doses ou em sinergia com outros fármacos, transforma-se em um potente
depressor (STOELTING, 1999; OTERO, 2005). Fentanil é mais lipofílico que a morfina,
sendo então associado com menor sedação e depressão respiratória, apesar de possuir
potência analgésica, cerca de 75-125 vezes maior (ROUSSIER et al.,2006; BUTKOVIC
et al., 2007). Tem sua utilização no período transoperatório, pois reduz significativamente
a CAM dos anestésicos inalatórios (FANTONI; MASTROCINQUE, 2002; THOMASY
et al., 2006).
Possui latência de três minutos e ação de vinte a trinta minutos. Sua bradicardia
atinge cerca de 80% do valor basal. Não libera histamina, nem causa hipotensão
(FANTONI; MASTROCINQUE, 2002). Otero (2005) afirma que a pressão arterial média
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
181
(PAM) mantém-se, proporcionando uma ótima perfusão tecidual. Com pequeno efeito
hipnótico, aumenta a pressão intra-ocular, causa rigidez muscular, depressão respiratória,
bradicardia e convulsões mioclônicas (STOELTING, 1999; SCHÖNELL et al., 2005).
A utilização de fentanil em pequenos bolus de 1 a 5 microgramas por quilograma
(mcg/kg) a cada 15 ou 20 minutos (min), ou uma dose bolus dentro desses parâmetros,
seguida de uma dose de infusão de 0,4 a 0,7mcg/kg/min, tanto para cães como para
gatos é uma alternativa (FANTONI; MASTROCINQUE, 2002).
Já Otero (2005) recomenda uma dose de 2 a 10mcg/kg, com 20 a 30 minutos de
ação quando em dose única, e infusão de 2 a 10mcg/kg/h. Doses maiores que 15mcg/
kg produzem apnéia, e acima de 25mcg/kg depressão cardiovascular, apnéia e rigidez
torácica. Em gatos, a dose de ataque é de 1 a 5mcg/kg, com dose de manutenção de 14mcg/kg/h, as doses de ataque sempre são diluídas (OTERO, 2005). Também, para
gatos se recomenda usar uma dose bolus de 5mcg/kg e manter os níveis plasmáticos
com uma dose de 0,4mcg/kg/min (ILKIW, 1999). A associação de propofol com uma
dose de 0,1mcg/kg/min de fentanil foi capaz de suprimir o estímulo nociceptivo em
felinos de maneira eficaz (MENDES; SELMI, 2003).
Em cães, uma dose inicial de fentanil de 2 a 5 mcg, seguido de uma infusão de 5
a 10mcg/kg/h reduz a CAM dos anestésicos inalatórios em 20 a 30%, como foi descrito
por Otero (2005). Em outra situação, ocorreu uma redução da CAM de isoflurano em
42% com a administração de 30mcg/kg de fentanil por 20 minutos e uma taxa de infusão,
após esse período de 0,2mcg/kg/min, mostrando que esse protocolo é bem eficaz
(GREMIÃO, 2003).
Deve-se sempre realizar a monitoração intensa do paciente no pós-operatório
imediato quando administrado por longos períodos, pois pode apresentar um efeito
residual e com isso depressão respiratória (STOELTING, 1999; FANTONI;
MASTROCINQUE, 2002). Já a analgesia residual produzidas pelas doses
precedentes de fentanil pode ser adequada. Dependendo, no entanto, da
intensidade do estímulo cirúrgico e do grau de dor no pós-operatório imediato
(BAILEY; EGAN, 2001).
Outro ponto importante a se ressaltar é que em procedimentos prolongados, os
requerimentos dessas substâncias diminuem conforme o tempo, resultando em acúmulo
do fármaco caso não se ajuste a dose. Em procedimentos ao redor de 40 a 90 minutos,
geralmente não se observa acúmulo (OTERO, 2005).
Alfentanil
Tem importante retenção pulmonar, mas pequeno volume de distribuição e de
acúmulo tecidual. É lipossolúvel, mas não tanto quanto o fentanil. Com acúmulo baixo
182
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
no tecido cerebral, tem a ação rápida e curta. No pH fisiológico está quase 90% na
forma não-ionizada, explicando a penetração nos tecidos cerebrais. Cerca de 90% se
ligam às proteínas plasmáticas. Depende muito do metabolismo hepático (STOELTING,
1999; BAILEY; EGAN, 2001).
O alfentanil é um agonista μ puro que possui ¼ da potência do fentanil e um
período de ação 2/3 mais curto (dez a quinze minutos). Na anestesia balanceada permite
diminuir de forma considerável a dose dos anestésicos gerais. Normalmente, esse
fármaco encontra-se pouco ionizado no plasma e tem período de latência e de ação
curtos, tornando-o ideal para se utilizar em infusão contínua para se manter o efeito
terapêutico de forma prolongada (OTERO, 2005). Possui rápida penetração cerebral,
mas sem estocagem nos sítios ativos, resultando em imediato início de ação, porém
com pouca duração da atividade no SNC. A recuperação é acelerada (20 a 30 minutos)
após interrupção da administração (SCHÖNELL et al., 2005).
Principalmente metabolizado no fígado, sua meia-vida de metabolização varia de
0,4 a 2 horas dependendo da espécie. Diferentemente do fentanil, essa droga possui
escassa redistribuição podendo ser infundido com mais segurança durante longos
intervalos de tempo sem que se observe acumulação. É considerado um composto de
eleição para protocolo em pacientes descompensados ou com evidente
comprometimento do estado geral, no que diz respeito à estabilidade hemodinâmica.
Sempre se deve titular o alfentanil conforme o efeito desejado (OTERO, 2005).
É mais empregado em infusão contínua durante o transoperatória na anestesia
geral, ou como indutor em procedimentos de curta duração. Como analgésico, de
forma isolada, ainda é muito pouco usado na medicina veterinária. Tem a capacidade
de provocar bradicardia acentuada, mesmo quando aplicado lentamente, na ordem de
43%, um minuto após sua administração, bem como hipotensão (FANTONI;
MASTROCINQUE, 2002). O pico de ação do alfentanil ocorre dentro de 1 a 2 minutos
após a administração. Como o alfentanil penetra no cérebro rapidamente, o equilíbrio
da droga entre o plasma e o SNC ocorre rapidamente, tendo que se instalar infusões de
manutenção rapidamente, caso contrário os níveis plasmáticos serão subterapêuticos
(STOELTING, 1999; BAILEY; EGAN, 2001).
A dose de ataque recomendada para utilização em cães fica entre 15 a 30mcg/kg
(nessa dose a droga age por 15 minutos) e a manutenção da infusão em uma dose de 3
a 8mcg/kg/min (OTERO, 2005).
A indução anestésica com alfentanil e propofol pode produzir anestesia completa,
seguida por infusões dos mesmos. O término da infusão de alfentanil de10 a 30 minutos
do final da cirurgia permite que haja tempo suficiente para os níveis plasmáticos
decrescerem 50% (BAILEY; EGAN, 2001).
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
183
Sufentanil
Após uma injeção de sufentanil, apenas 20% ficam na forma não-ionizada. Os
pulmões exercem importância significativa no efeito de primeira passagem. É duas
vezes mais lipossolúvel que o fentanil e se liga em 93% a proteínas plasmáticas.
Tem alto quociente de extração hepática; portanto, mudanças no fluxo sanguíneo
hepático podem alterar significativamente sua eliminação. Existe extensa reabsorção
tubular, logo, pouca eliminação pela urina. Possui maior afinidade por receptores ì
se comparado ao fentanil, mas, em contrapartida, o seu alto grau de ligação às
proteínas plasmáticas e volume de distribuição mais baixo explicam o seu rápido
efeito e eliminação quando comparados. Após longas infusões de sufentanil, seus
efeitos podem se dissipar tão rapidamente quanto infusões de alfentanil
(STOELTING, 1999; BAILEY; EGAN, 2001).
O sufentanil é outro agonista μ puro, dez vezes mais potente que o fentanil, com
a metade do tempo de ação do fentanil. Como nos outros agentes, sua via é a
intravenosa, em bolus ou em infusão contínua. Apresenta também ações similares nos
aparelhos cardiovascular e respiratório (STOELTING, 1999; OTERO, 2005).
O sufentanil tem duração de ação inferior àquela apresentada pelo fentanil,
entretanto sua potência é cerca de 100 vezes maior que a da morfina. Assim, como
o fentanil e o alfentanil, o sufentanil promove bradicardia que, porém, não é
acompanhada de hipotensão. Apresenta acentuado efeito hipnótico com rápido
início de ação, tendo duração de ação menor que o fentanil e alfentanil.
Apresentando elevada depuração hepática, possui efeitos colaterais semelhantes
aos causados pelo fentanil no pós-operatório, como sonolência e prurido
(SCHÖNELL et al., 2005). A sua bradicardia basal gira em torno de 37%. O sufentanil
produz mínimas alterações hemodinâmicas, mas é um potente depressor respiratório
e reduz significativamente a CAM do isoflurano em cerca de 0,5 a 1,0% em cães
anestesiados (GAN; GLASS, 2001; POLIS, 2004).
A recomendação de sufentanil é 0,75 a 2 mcg/kg bolus ou dose de ataque (ação
em 10 a 15 minutos) com manutenção analgésica em infusão contínua de 1mcg/kg/h em
cães. Em gatos a dose bolus é 0,5 a 1mcg/kg/min, com ação de 10 a 15 minutos, e uma
dose de infusão de 0,25 a 0,75 mcg/kg/h (OTERO, 2005).
A associação propofol e sufentanil, na dose de 0,01mcg/kg/min, se mostrou
bastante eficaz para suprimir o estímulo nociceptivo na anestesia geral de gatos
(MENDES; SELMI, 2003). A utilização da droga na razão de 0,5 a 1,0 mcg/kg/h com a
infusão iniciada 15 minutos antes da indução e entubação. Com esse protocolo, obtémse uma diminuição da CAM de 3,5 para 2% com o Sevoflurano e de 1,7 para 1,1% com
o isoflurano. Deve-se recomendar nesses casos, com a baixa necessidade de anestésicos
184
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
gerais, a incorporação de relaxantes musculares para melhorar o acesso ao campo
operatório (OTERO, 2005).
A dose de ataque deve ser administrada 3 a 4 minutos antes do estímulo doloroso
ou entubação traqueal (SCHÖNELL et al., 2005). Na maioria dos procedimentos com 1
a 2 horas de duração, 10 a 30 minutos é usualmente necessário para as concentrações
plasmáticas do sufentanil cair a níveis que permitam a ventilação adequada e o despertar
da anestesia. Assim como no fentanil, existe algum poder de analgesia residual (BAILEY;
EGAN, 2001).
Remifentanil
Possui, dentre esses fármacos, perfil fármaco cinético único. É um fármaco
submetido à hidrólise extra-hepática por colinesterases no sangue e nos tecidos
(ALLWEILER et al., 2007). Possui um clearance extremamente alto, portanto
responsável pelo término do efeito da droga em curto espaço de tempo. Possui
redistribuição extravascular, semelhante à do alfentanil (STOELTING, 1999; BAILEY;
EGAN, 2001).
É um agente de ação ultracurta e tempo de meia-vida contexto-sensitiva de
aproximadamente 3 minutos. Após a administração em bolus, ocorre uma completa
recuperação do paciente em 5 a 10 minutos, pois não depende de metabolização renal
ou hepática. Não acumula no organismo, sem retardar assim o tempo de recuperação.
Sua ação é dose dependente. Causa depressão respiratória, sendo necessária a
ventilação mecânica. Diminui a freqüência cardíaca e a pressão arterial quando usado
com outros agentes anestésicos (ALLWEILER et al., 2007).
Mais recentemente, o remifentanil vem trazendo novas perspectivas para o
desenvolvimento de infusões contínuas e anestesia total endovenosa, pelo rápido
início de ação e término de ação (FANTONI; MASTROCINQUE, 2002). É o mais novo
dos agonistas μ seletivos. A escassa redistribuição do fármaco a tecidos periféricos,
bem como sua rápida depuração, permitem manter a infusão por longos períodos sem
acumulação (OTERO, 2005). É metabolizado nas hemácias, formando metabólitos com
atividade muito fraca com eliminação renal, sendo ideal para infusão contínua
(SCHÖNELL et al., 2005).
Os pulmões não têm importância na depuração ou seqüestro da droga. Bradicardia,
sedação, depressão respiratória e vômito são descritos (SCHÖNELL et al., 2005). Nos
seres humanos causa apnéia e rigidez muscular se administrado rapidamente por via
endovenosa (FANTONI; MASTROCINQUE, 2002).
Vale ressaltar que uma vez finalizada a infusão acaba o efeito da substância,
com a rápida recuperação do paciente e sem analgesia. Deve-se então, dependendo
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
185
do procedimento, garantir um tratamento analgésico de suporte antes do despertar
(OTERO, 2005).
A recomendação é que se utilize uma dose bolus de 0,5mcg/kg, logo após a
indução anestésica, seguida por uma infusão de 0,25mcg/kg/min para a manutenção
anestésica em cães (OTERO, 2005). Outra alternativa é infundir o fármaco na dose de
infusão é 0,05 a 2mcg/kg/min, com doses adicionais de 1mcg/kg, quando necessário
suplementação, sem diferenciar doses entre cães e gatos (FANTONI;
MASTROCINQUE, 2002).
A analgesia de resgate 20 minutos antes de finalizar o procedimento cirúrgico
utilizando opióides e/ou antiinflamatórios não esteróides é importante (OTERO, 2005).
EFEITOS COLATERAIS E SEUS TRATAMENTOS
A depressão respiratória excessiva, rigidez muscular, bradiarritmias e vômitos
são os efeitos colaterais mais comuns. Como a depressão respiratória é corriqueira,
o paciente já deve ter a via aérea estabelecida e a ventilação controlada (BAILEY;
EGAN, 2001). A oximetria de pulso é um ótimo método para medir a oxigenação
(GAN; GLASS, 2001).
No caso de rigidez muscular, podem-se administrar fármacos como
benzodiazepínicos e bloqueadores neuromusculares não-despolarizantes. No caso da
bradiarritmia e dos vômitos desencadeados pelos fármacos, torna-se interessante o
uso de drogas com atividade anticolinérgicas, preemptivamente, como a atropina (GAN;
GLASS, 2001). Otero (2005) recomenda doses preventivas para bradicardias de 0,01 a
0,044 miligramas (mg) por quilograma. Não há recomendação para sua utilização em
infusão contínua.
Por fim, pode-se utilizar o antagonista opióide ou um antagonista-agonista para
reversão dos efeitos, no caso naloxona e nalbufina, respectivamente (GAN; GLASS,
2001). Essas drogas se fixam competitivamente em alguns ou em todos receptores
opióides, tomando o lugar do agonista puro (LASCELLES, 2002).
Ocorre a reversão da depressão respiratória desencadeada por fármacos como o
fentanil, assim como emese e rigidez muscular. Deve-se tomar cuidado com a dor dos
pacientes nesse tipo de recuperação, pois ela pode desencadear efeitos sistêmicos
indesejáveis como aumento da PAM e da freqüência cardíaca e demanda de oxigênio,
pela rápida respiração (CAMU et al., 2001).
A nalbufina é considerada antagonista μ, agonista δ e antagonista parcial de
κ, tendo, portanto, atividade mista (LASCELLES, 2002). É recomendada sua
utilização em processos dolorosos de origem visceral, caso em que se pode
186
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
administrar por via subcutânea, para evitar competição com opióides endógenos.
É um fármaco que causa muita dor ao ser injetado (OTERO, 2005). A nalbufina
torna-se interessante porque o paciente não perde completamente a analgesia a
que está submetido (LASCELLES, 2002). As doses recomendadas para cães de 0,5
a 1mg/kg, com efeito de 4 a 6 horas, e para gatos de 0,5 a 3mg/kg, com efeitos de 2
a 4 horas (OTERO, 2005).
Naloxona é o antagonista puro, que atua em todos os receptores opióides. Pode
causar estimulação simpática e efeitos adversos, como taquicardia, hipertensão, edema
pulmonar e diferentes arritmias cardíacas, podendo desencadear também vômitos e
náuseas (OTERO, 2005).
A naloxona tem ação rápida, cerca de um a 2 minutos, e duração de efeito de
30 a 60 minutos (CAMU et al., 2001). Pode ser administrada pela via subcutânea,
intramuscular ou intravenosa, se lenta, nas doses de 0,04 a 1mg/kg, segundo os
sinais clínicos, para cães e gatos, até estar assegurada a não-renarcotização
(OTERO, 2005).
Não se pode precisar a duração dos opióides no organismo de cada indivíduo,
mas existe uma boa idéia de quanto tempo seu efeito irá durar. Após o término do
procedimento é fundamental a constante monitoração dos pacientes, principalmente
no que se diz respeito ao efeito residual desses fármacos, que podem produzir intensa
depressão respiratória. No caso do remifentanil, esse tipo de efeito é pouco comum,
mas deve-se levar em conta que seus efeitos analgésicos são rapidamente perdidos, e
que, logo após o término da anestesia, se deve imediatamente instituir uma terapia
analgésica para o pós-operatório evitando, desse modo, um despertar desagradável
no paciente (CAMU et al., 2001).
CONCLUSÃO
É cada vez maior a preocupação da sociedade com o que diz respeito ao bemestar animal. Conseqüentemente, o profissional da área médica veterinária passa a ter
um papel significativo nesse contexto. A anestesiologia é indiscutivelmente uma das
áreas que tem se desenvolvido e se destacado dentro da medicina veterinária. Isso
ocorre porque há uma demanda cada vez maior de profissionais capacitados para tratar
animais mediante procedimentos cirúrgicos, prática que no passado não eram sequer
cogitados. Isso acontece não somente devido ao desenvolvimento da medicina
veterinária, da tecnociência e dos procedimentos modernos dos criadores profissionais,
mas também porque hoje os animais de estimação fazem parte de quase todos os lares,
e seus proprietários são bons cuidadores. E este é um campo de atuação médica
veterinária que se expandiu.
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
187
Nessas condições, cabe ao médico veterinário anestesiologista fazer uso das
melhores técnicas e dos fármacos mais adequados a cada situação. Com o exposto
supra, procurou-se mostrar que administrar fármacos usando técnicas de infusão
contínua traz inúmeros benefícios ao paciente, bem como permite a manipulação dessas
drogas de maneira mais fácil e precisa. Registro especial deve ser feito à importância de
se oferecer analgesia para pacientes nos momentos certos e em dosagens adequadas,
pois isso trará qualidade ao trabalho anestésico, garantido o sucesso do procedimento
e trazendo bem-estar ao animal.
O uso de opióides de curta-ação tem inúmeras vantagens, quando associados
a uma técnica de infusão, por trazer uma melhor precisão com relação aos níveis
plasmáticos da droga, oferecer a possibilidade de suspender a medicação quando
for necessário e menos efeitos adversos que os opióides de uso corriqueiro na
clínica.
Assim, pretendeu-se demonstrar que essa técnica relativamente nova apresenta
inúmeras vantagens e pode surgir como uma boa alternativa para o crescimento da
medicina veterinária bem como para os profissionais da área.
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Recebido em: nov. 2007
190
Aceito em: abr. 2008
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
Ceratoconjuntivite seca em cães – revisão
de literatura
João Antonio Tadeu Pigatto
Fabiana Quartiero Pereira
Ana Carolina da Veiga Rodarte de Almeida
Raquel Redaelli
Luciane de Albuquerque
RESUMO
A ceratoconjuntivite seca (CCS) é uma enfermidade comum em pequenos animais, principalmente em cães. Resulta da deficiência na produção da porção aquosa da lágrima. Há muitas
etiologias, incluindo doença imunomediada, doenças sistêmicas, terapia sistêmica com sulfas,
uso prolongado de colírio de atropina, remoção da glândula da terceira pálpebra, entre outras.
Freqüentemente se observa ressecamento da córnea, hiperemia conjuntival, desconforto ocular,
secreção ocular mucóide ou mucopurulenta e ceratite com neovascularização. Pigmentação da
córnea e perda da visão também pode ocorrer. O diagnóstico da CCS baseia-se principalmente
nos sinais clínicos e na realização do teste da lágrima de Schirmer. O tratamento da CCS
normalmente é medicamentoso e baseado na administração de substitutos da lágrima, antibióticos, agentes mucolíticos e lacrimogênicos. Este trabalho é uma revisão de literatura sobre CCS,
incluindo etiologia, sinais clínicos, diagnóstico, tratamento e prognóstico desta afecção.
Palavras-chave: Ceratoconjuntivite seca. Cães. Gatos.
ABSTRACT
Keratoconjunctivitis sicca (KCS) is a disease frequently diagnosed in dogs and is caused
by inadequate production of the aqueous portion of the tears. KCS has a number of reported
causes. These include immune-mediated diseases, systemic illness, secondary to systemic
therapy with sulfas or topical atropine, removal of the third eyelid gland. Clinical signs of KCS
are variable, and can include dry cornea, conjunctival hyperemia, blepharospasm, mucoid to
mucopurulent ocular discharge and keratitis with neovascularization. Loss of sight due to
progressive corneal pigmentation is also possible. Diagnosis of KCS is based on the clinical
signs and results of the Schirmer tear test. KCS is most often treated medically. Usually tear
replacement, topical antibiotic, mucolytic preparations and tear stimulators are used. This
João Antonio Tadeu Pigatto é Médico Veterinário, Doutor, Professor Adjunto, Departamento de Medicina
Animal, Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.
Fabiana Quartiero Pereira é Médica Veterinária, Mestranda em Oftalmologia Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.
Ana Carolina da Veiga Rodarte de Almeida é Médica Veterinária, Mestranda em Oftalmologia Veterinária,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.
Raquel Redaelli é Acadêmica de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.
Luciane de Albuquerque é Acadêmica de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
– UFRGS.
Endereço para correspondência: Prof. João A. T. Pigatto – Av. Bento Gonçalves, 9090. Bairro Agronomia.
Porto Alegre, RS. 91540-000. E-mail: [email protected]
p . 1 9 2008
1-200
Veterinária em Foco Veterinária
v. 5 v.5, n.2,
n.2 jan./jun.
Canoas em Foco,
jan./jun. 2008191
paper is a study about KCS, based in literature review, including etiology, pathogenesis,
diagnostic techniques, options of treatment and prognosis of this affection.
Keywords: Keratoconjunctivitis sicca. Dogs. Cats.
INTRODUÇÃO
A ceratoconjuntivite seca (CCS) ou síndrome do olho seco é uma afecção oftálmica
caracterizada pelo ressecamento da superfície ocular, dor, enfermidade corneal e
conjuntival progressiva associada com perda da visão. Diversas espécies animais são
acometidas, principalmente os cães. A incidência de CCS em cães tem sido estimada em
5% (BARROS, 1997; GELATT, 2003).
O diagnóstico é baseado nos sinais clínicos e na avaliação da produção lacrimal
(STRUBBE; GELATT, 1999). O tratamento da CCS normalmente é medicamentoso e
baseado na administração de substitutos da lágrima, antibióticos, agentes mucolíticos
e lacrimogênicos. Em casos refratários ao tratamento medicamentoso a terapia cirúrgica
pode ser considerada (MOORE, 1999; GELATT, 2003).
As manifestações clínicas iniciais da CCS são freqüentemente semelhantes às de
uma conjuntivite, por isso muitas vezes ocorre demora na confirmação do diagnóstico
dificultando o tratamento. O objetivo deste trabalho é auxiliar a correta abordagem da
CCS permitindo identificação precoce, diagnóstico preciso e tratamento eficaz, pois
somente com o maior conhecimento da CCS obtém-se um prognóstico favorável com
preservação da visão e da qualidade de vida dos pacientes.
FISIOPATOGENIA
O filme lacrimal é um fluido trilaminar complexo composto por três camadas: a
lipídica, a aquosa e a mucóide. A camada externa lipídica, secretada pelas glândulas
tarsais, possui as funções de retardar a evaporação da lágrima e manter a estabilidade
lacrimal A camada intermediária aquosa é produzida pela glândula lacrimal principal e
pela glândula lacrimal da terceira pálpebra, constitui 90% do filme lacrimal e contém
inúmeros eletrólitos, glicose, uréia, polímeros de superfície ativos, glicoproteínas e
proteínas lacrimais (globulinas, albumina, lizosima). A camada interna mucóide originase das células caliciformes da conjuntiva e confere adesão da lágrima à córnea, atuando
na manutenção da integridade da superfície ocular (MOORE, 1999; GELATT, 2003;
DAVIDSON; KUONEM, 2004)
Inúmeras são as funções do filme lacrimal, incluindo, principalmente, a nutrição
e a proteção da córnea e da conjuntiva contra corpos estranhos e infecções. Além
disso, a lágrima fornece uma superfície corneana homogênea para uma ótima eficiência
óptica (MOORE, 1999; SLATTER, 2005). A produção normal de lágrimas é importante
para a manutenção da visão e da integridade da superfície ocular (Figura 1).
192
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
A
B
FIGURA 1 – Superfície ocular normal. (A) olho de cão e (B) olho de gato. Observa-se córnea transparente e
conjuntiva com ausência de sinais de inflamação (A) (B).
Fonte: PIGATTO, J. A. T. Serviço de Oftalmologia Veterinária UFRGS.
A CCS caracteriza-se pela diminuição da porção aquosa da lágrima resultando em
ressecamento e inflamação crônica da córnea e da conjuntiva, desconforto ocular e
visão reduzida, com potencial risco de cegueira. A deficiência da produção lacrimal
pode ser congênita ou adquirida, sendo a maioria dos casos considerados idiopáticos
ou associados à doença imunomediada (MOORE, 1999).
Qualquer raça de cães pode ser acometida, contudo a incidência é maior nas
raças Shih Tzu, Lhasa Apso, Pequinês, Buldogue Inglês, Yorkshire Terrier, Pug, Cocker
Spaniel Americano, West Highland White Terrrier e Schnauzer, o que sugere uma
predisposição genética (CHRISTMAS, 1992; MOORE, 1999; GELATT, 2003). Em gatos,
entre as raças mais freqüentemente acometidas por CCS encontram-se Burmês,
Abissínio, Himalaia e Persa (WITHELY, 1991).
A CCS pode ser induzida pela administração sistêmica prolongada de sulfas ou
tópica de colírio de sulfato de atropina (BARROS, 1997) Fármacos pré-anestésicos
como atropina, buprenorfina e medetomidina, entre outros, também induzem a
diminuição transitória da produção lacrimal em cães (MARGADANT et al., 2003). A
ceratoconjuntivite seca também pode estar relacionada a endocrinopatias como
hipotireodismo, hipoadrenocorticismo, hiperadrenocorticismo, diabetes mellitus e
hipoestrogenismo (GELATT, 2003; CULLEN et al., 2005; BARNETT, 2006; WILLIAMS;
PIECE, 2007). Doenças sistêmicas como a cinomose e o herpes vírus podem causar
CCS em cães e gatos respectivamente (BRITO et al., 2007).
A remoção cirúrgica da glândula da terceira pálpebra tem sido relatada como
causa importante de CCS em cães (ALMEIDA et al., 2004; SAITO et al., 2001). Trauma
orbital ou supraorbital também pode causar CCS por lesão direta das glândulas lacrimais
ou de sua inervação. Além dessas condições, tem sido observado que o envelhecimento
também contribui para a diminuição da produção de lágrima (HARTLEY et al., 2006).
Animais que apresentam idade próxima de cinco ou seis anos são mais acometidos por
CCS (BARROS, 1997).
A incidência de CCS é variável em cães e gatos nos diferentes países sendo de
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
193
3,3% nos Estados Unidos, 3,4% no Reino Unido e 5,5% no Brasil. (BARROS, 1997).
Apesar dos inúmeros artigos científicos sobre CCS poucos são os estudos
populacionais discutindo a incidência desta condição em animais.
SINAIS CLÍNICOS
Os sinais clínicos podem ser uni ou bilaterais e variam consideravelmente de
acordo com o tempo decorrido do início da CCS. Nos estágios mais precoces
freqüentemente observa-se desconforto ocular, secreção mucóide, hiperemia
conjuntival intensa, fotofobia e neovascularização da córnea (Figura 2). A córnea
poderá apresentar-se edemaciada, irregular e muitas vezes ulcerada. Ressecamento
ocular severo não tratado pode resultar em perfuração corneana e perda visual
(KASWAN et al, 1995; MOORE, 1999; HERRERA et al, 2007). Normalmente o muco
acumulado é parte integrante do filme lacrimal que não é drenado pelo sistema lacrimal.
A
B
FIGURA 2 – Olhos de cães acometidos por CCS. A – Observa-se secreção mucóide sobre a córnea.
B – Observa-se Intensa hiperemia conjuntival e neovascularização da córnea.
Fonte: PIGATTO, J. A.T. Serviço de Oftalmologia Veterinária UFRGS.
Nos estágios mais avançados ocorre maior ressecamento da superfície ocular,
neovascularização e pigmentação da córnea (Figura 3) e muitas vezes resultando em
perda da visão.
A
B
FIGURA 3 – Olhos de cães acometidos por CCS. A – Observa-se ressecamento da superfície ocular.
B – Observa-se neovascularização e pigmentação da córnea. Fonte: PIGATTO, J. A. T. Serviço de
Oftalmologia Veterinária UFRGS.
194
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da CCS é estabelecido com base na combinação das informações
da anamnese e do exame oftalmológico (GELATT, 2003; KOCH; SYKES, 2005). O
diagnóstico deve ser precoce e preciso para prevenir e tratar a tempo as complicações
da CCS. É fundamental obter a história clínica completa do paciente, especialmente em
relação à presença de doenças sistêmicas, ao uso de medicamentos que possam ter
desencadeado a CCS e a uma possível remoção cirúrgica da glândula da terceira pálpebra
(ALMEIDA et al., 2004).
Ambos os olhos deverão ser examinados, tendo em vista que grande parte dos
casos de CCS é bilateral. Durante o exame oftálmico deve ser realizada biomicroscopia
com lâmpada de fenda, a quantificação da produção lacrimal e o uso de corantes vitais.
A biomicroscopia com lâmpada de fenda proporciona magnificação e estereopsia,
permitindo avaliação detalhada da superfície ocular, particularmente das úlceras corneais.
A quantificação da porção aquosa da lágrima tem fundamental importância no que
tange à confirmação do diagnóstico de CCS. Pode ser realizada valendo-se dos testes
do fenol vermelho ou do teste da lágrima de Schirmer (TLS). O teste do fenol vermelho
apresenta inúmeras vantagens em relação ao teste da lágrima de Schirmer, mas é de
difícil aquisição, sendo, por isso, ainda pouco utilizado, tanto em pacientes humanos
quanto em animais (MOORE, 1999; STRUBBE; GELATT, 1999).
Rotineiramente utiliza-se o TLS para quantificar a produção lacrimal em cães e
gatos. É importante que este teste seja realizado antes dos demais, pois a instilação
prévia de colírios pode provocar alterações no resultado. O TLS pode ser realizado
sem anestesia tópica ou com anestesia tópica, denominando-se TLS1 ou TLS2,
respectivamente (GELATT, 2003). O TLS2, que mede a produção lacrimal basal após
anestesia da conjuntiva e da córnea, tem aplicação clínica limitada, sendo o TLS1 mais
utilizado na rotina. Este teste consiste na colocação de tiras padronizadas de papel
absorvente estéril no terço médio do saco conjuntival inferior (Figura 4A). Algumas
tiras de papel milimetrado são impregnadas com corante azul para facilitar a leitura do
resultado (Figura 4B).
A
B
FIGURA 4 – Tiras de papel milimetrado colocadas no saco conjuntival inferior de um cão (A) e de um gato
(B) para quantificar a produção de lágrima. PIGATTO, J. A. T. Serviço de Oftalmologia Veterinária UFRGS.
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
195
Após 1 minuto, a tira de papel filtro é retirada do saco conjuntival e a quantificação
da produção de lágrima é feita pela medida da extensão do papel filtro que ficou úmida.
O TLS1, que não inclui o uso de anestésico tópico, mede o lacrimejamento basal e
reflexo. O valor considerado normal para cães é 21 ± 4 mm/minuto e para gatos 16 ± 3.8
mm/minuto (STRUBBE; GELATT, 1999).
Os corantes vitais mais empregados são o rosa bengala e a fluoresceína. O
corante de rosa bengala detecta células desvitalizadas, defeitos epiteliais agudos
e filamentos de muco. O corante de fluoresceína detecta defeitos epiteliais
corneanos e determina o tempo de ruptura do filme lacrimal (BASTTISTELLA;
KARA-JOSÉ,1999).
O diagnóstico diferencial é de extrema importância para a diferenciação da CCS
das demais doenças que acometem a superfície ocular, principalmente da conjuntivite
(MOORE, 1999; DAVIDSON; KUONEN 2004; KOCH; SYKES, 2005).
TRATAMENTO
O tratamento medicamentoso é instituído inicialmente, e tem como metas repor a
lágrima, estimular a produção da lágrima e manter a integridade da superfície ocular
(WITHELY, 1991; MOORE, 1999; GELATT, 2003; KOCH; SYKES, 2005).
Para a reposição lacrimal foram desenvolvidos colírios com composição
semelhante aos componentes da lágrima. As lágrimas artificiais são indicadas para
umedecer a superfície ocular e aliviar o desconforto ocular. As lágrimas artificiais
devem ser instiladas 6 a 8 vezes ao dia e geralmente associadas com outros agentes
terapêuticos até que a produção lacrimal retorne aos níveis fisiológicos (MOORE,
1999).
As substâncias mucolíticas podem ser utilizadas para facilitar a remoção do
muco. Normalmente utiliza-se, para este fim, colírio de acetilcisteína a 5% aplicado 3 a
4 vezes ao dia durante 30 a 60 dias (KOCH; SYKES, 2005). Em casos de contaminação
bacteriana secundária à CCS, colírios contendo antibióticos devem ser administrados.
Inicialmente, o tratamento é prescrito três a quatro vezes ao dia, depois reduzido para
duas vezes, conforme a secreção mucopurulenta diminui e, eventualmente,
descontinuado quando os sinais de infecção desaparecerem. Além disso, os
proprietários devem ser instruídos para manter a superfície ocular limpa, minimizando
o acúmulo de muco e o risco de contaminação bacteriana.
Agentes colinérgicos têm sido utilizados para estimular a produção lacrimal por
causa da inervação parassimpática da glândula lacrimal. O agonista muscarínico
196
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
cloridrato de pilocarpina é um potente estimulante da secreção das glândulas exócrinas,
e sua atividade como sialogogo é conhecida há mais de um século. Os efeitos colaterais
sistêmicos incluem náuseas, diarréia, transpiração, sialorréia e até casos de espasmo
brônquico e bradicardia (KOCH; SYKES, 2005). Tendo em vista os efeitos colaterais
sistêmicos e a eficácia duvidosa do tratamento tópico, a pilocarpina está sendo cada
vez menos utilizada.
A partir das evidências da etiologia autoimune da CCS a ciclosporina A
(CsA) tópica tem sido utilizada para estimular a produção lacrimal (MORGAN;
ABRAMS, 1991; GILGER; ALLEN, 1998; TANG-LIU; ACHEPONG, 2005). A CsA
foi introduzida no início da década de 80 como imunossupressor para uso pósoperatório em pacientes humanos submetidos a transplantes de órgãos
(FUKUSHIMA et al., 2006).
Os linfócitos T infiltram a glândula lacrimal na CCS, destruindo os ácinos das
células produtoras da camada aquosa da lágrima. A CsA é um imunomodulador
específico que inibe os linfócitos T, particularmente as células T helper, revertendo
o ciclo inflamatório e diminuindo a secreção de mediadores inflamatórios. O tecido
glandular lacrimal que ainda se encontra viável, recupera-se e reinicia a produção
lacrimal (TANG-LIU; ACHEPONG, 2005; FUKUSHIMA et al., 2006). Para estimular a
produção lacrimal, a CsA é utilizada na forma de colírio ou pomada em intervalos
regulares de 8 ou 12 horas, dependendo da severidade do caso. A CsA não é eficaz
para todos os casos (GILGER; ALLEN, 1998; GELATT, 2003). Várias semanas de
tratamento contínuo são necessárias para que o aumento na produção lacrimal seja
observado. Normalmente a CsA é utilizada de modo contínuo (GELATT,2003; KOCH;
SYKES, 2005).
Nos casos não responsivos ao tratamento medicamentoso pode ser realizado
tratamento cirúrgico. Este procedimento consiste na transposição do ducto
parotídeo da cavidade oral ao saco conjuntival inferior permitindo a substituição
da lágrima por saliva. Complicações tanto trans quanto pós-operatórias podem
ocorrer. Torção, laceração, ou trauma no ducto parotídeo pode ocorrer durante o
procedimento cirúrgico. Devido à maior concentração de minerais na saliva em
comparação com a lágrima, depósitos de minerais podem ocorrer na córnea (MOORE,
1999; SLATTER, 2005).
PROGNÓSTICO
O reconhecimento precoce da CCS e o tratamento adequado são fundamentais
para o prognóstico favorável. Os valores do TLS1 fornecem informações a respeito da
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
197
possível resposta à terapia com CsA. Os cães com valores de TLS1 pré-tratamento
entre 0 e 1 mm/min têm aproximadamente 50% de chances de responderem à CsA
tópica com aumento da produção lacrimal. Cães com valores pré-tratamento de 2 mm/
min ou mais têm 80% de chance de melhorarem a produção lacrimal
(MOORE,1999;GELATT, 2003).
Em cães, somente poucos pacientes se recuperam completamente, sendo
necessários exames de seguimento. O prognóstico para CCS é freqüentemente mais
favorável em gatos do que em cães (STADES et al, 1999).
CONCLUSÕES
A CCS é uma importante afecção ocular que acomete cães e gatos levando ao
comprometimento da superfície ocular e à diminuição da visão. Tem sido demonstrado
que o diagnóstico precoce e a adesão do proprietário ao tratamento adequado
permitem um prognóstico favorável. Com este trabalho procurou-se auxiliar a correta
abordagem da CCS permitindo detecção precoce, diagnóstico preciso e tratamento
eficaz, pois somente assim poderemos preservar a visão e melhorar a qualidade de
vida dos pacientes.
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Recebido em: fev. 2008
200
Aceito em: abr. 2008
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
Tempo de sobrevida de cães com imagem
radiográfica compatível com neoplasia óssea
no esqueleto apendicular, sem o uso
de quimioterapia
Cristiano Gomes
Camila Spagnol
Lisiane Foerstnow
Vanessa Bergel Lipp
Kelly Cristine Ferreira
Luciana Oliveira de Oliveira
Raquel Machnacz Kroetz
Ruben Lundgren Cavalcanti
Emerson Antonio Contesini
Rosemari Teresinha Oliveira
RESUMO
O osteossarcoma é a neoplasia maligna óssea primária mais diagnosticada no cão,
correspondendo a mais de 85% dos tumores ósseos. O tratamento preconizado é a cirurgia
radical de amputação do membro acometido, associada à quimioterapia. No Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (HCV-UFRGS) foram analisados 23 cães que apresentavam imagem radiográfica compatível com neoplasia óssea no esqueleto apendicular. Avaliou-se a evolução destes animais, cujos proprietários optaram por não
realizar quimioterapia. Destes, 16 optaram por não realizar a amputação, utilizando somente
analgésicos, 5 optaram pela cirurgia e 2 por eutanásia no momento do diagnóstico. A sobrevida
média foi de 3,8 meses, sendo 3,4 meses para os cães tratados apenas com analgésicos e 4,9
meses para os cães tratados apenas com a amputação.
Palavras-chave: Neoplasia óssea. Cão. Quimioterapia. Imagem radiográfica.
Cristiano Gomes é Médico Veterinário, Mestre, Professor Substituto da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul – Serviço de Oncologia Veterinária. Av. Bento Gonçalves, 9090. Porto Alegre/RS. E-mail:
[email protected]
Ruben Lundgren e Camila Spagnol são Médicos Veterinários Autônomos.
Lisiane Foerstnow Cavalcanti e Vanessa Bergel Lipp são Graduandas da Faculdade de Veterinária da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Kelly Cristine Ferreira, Luciana Oliveira de Oliveira e Raquel Machnacz Kroetz são Médicas Veterinárias
– Serviço de Oncologia Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Emerson Antonio Contesini e Rosemari Teresinha Oliveira são Professores Adjuntos – Universidade
Federal do Rio Grande do Sul.
p . 2 0 2008
1-206
Veterinária em Foco Veterinária
v. 5 v.5, n.2,
n.2jan./jun.
Canoas em Foco,
jan./jun. 2008201
Survival times of dogs with compatible image of bone neoplasms
from appendicular skeleton by the radiographic examination
ABSTRACT
Osteosarcoma is the most common primary bone tumor in dogs accounting for up to
85% of malignancies originating in the skeleton. The main treatment is amputation associated
with chemotherapy. At Veterinary Hospital of Federal University of Rio Grande do Sul
were analyzed 23 dogs with compatible image of bone neoplasms by the radiographic
examination from appendicular skeleton. Through telephone contacts it was possible to
evaluate these animals evolution, whose owners chose not to use the chemotherapy. Sixteen
owners opted to treat just with analgesics, five opted for the surgery and two dogs were
euthanized at the moment of the diagnostic. The mean survival times was 3,8 months,
being 3,4 months of the dogs without surgery and 4,9 months of the dogs treated with
surgery alone.
Keywords: Bone neoplasm. Dog. Chemotherapy. Radiograph image.
INTRODUÇÃO
As neoplasias ósseas representam aproximadamente 5% de todos os tumores de
cães e gatos. Estes tumores são geralmente malignos, sendo o osteossarcoma o mais
freqüente, representando mais de 85% destas afecções (MORRIS; DOBSON, 2001;
DERNELL, 2003). Entretanto, podem-se encontrar outros tipos histológicos (MORRIS;
DOBSON, 2001). As neoplasias ósseas ocorrem principalmente em cães de porte grande
a gigante (STRAW, 1996; MORRIS e DOBSON, 2001). Esta enfermidade ocorre
principalmente em cães de meia idade a idosos e os machos parecem ser mais
predispostos que as fêmeas (MORRIS; DOBSON, 2001).
As características radiográficas deste tumor são lesões líticas e proliferativas
na região metafisária dos ossos longos, aumento de volume dos tecidos moles,
com calcificação se estendendo a estes tecidos, formando espículas periostais
(aspecto de explosão solar), a presença do “Triângulo de Codman” que se
caracteriza por uma reação óssea entre o periósteo e o córtex, além desta neoplasia
raramente atravessar a cápsula articular (CHUN; LORIMIER, 2003; DERNELL, 2003;
LIPTAK et al., 2004; OGILVIE, 2004). Estas características são indicativas de
neoplasia óssea, entretanto o diagnóstico definitivo e a diferenciação do seu tipo
histológico são obtidos através da histopatologia (WATERS, 1998; MORRIS;
DOBSON, 2001).
O tratamento de escolha é a amputação associada à quimioterapia com cisplatina,
carboplatina, doxorrubicina ou uma combinação destes (CHUN; LORIMIER, 2003). A
quimioterapia adjuvante constitui uma tentativa de prevenir ou atrasar o início da
doença metastática (MORRIS; DOBSON, 2001). O tratamento utilizando somente a
amputação tem função paliativa, atuando somente no alívio da dor, sem aumentar
202
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
significativamente o tempo de sobrevida do paciente (LIPTAK et al., 2004). Animais
submetidos à amputação e quimioterapia adjuvante com cisplatina, carboplatina ou
doxorrubicina apresentam sobrevida média de 278 a 325 dias (BERG et al., 1992; BERG
et al., 1995; BERGMAN et al., 1996). Enquanto que animais submetidos apenas à
amputação, apresentam período de sobrevida mais curto, com média de 3 a 4 meses
(MORRIS; DOBSON, 2001).
O objetivo deste trabalho foi avaliar a evolução clínica dos cães com imagem
radiográfica compatível com neoplasia óssea no esqueleto apendicular atendidos
no Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(HCV-UFRGS), cujos proprietários optaram por não realizar terapia adjuvante com
quimioterapia.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram avaliados 23 cães atendidos no HCV-UFRGS que, ao exame radiográfico,
apresentaram imagens compatíveis com neoplasias ósseas em ossos longos, no período
de março de 2003 a março de 2005.
Para serem caracterizadas como neoplasias ósseas, as imagens apresentavam
lise cortical, podendo ou não apresentar descontinuidade do córtex e neoformação
óssea. Microfraturas, interrupção do periósteo e a presença do “Triângulo de Codman”
também podiam ser observadas. Os dados foram analisados quanto à raça, idade, sexo
e localização do tumor destes animais, sendo excluídos do trabalho animais com dados
clínicos incompletos.
Os proprietários foram questionados através de contatos telefônicos e revisões
clínicas quanto ao tempo de evolução do tumor, opção de tratamento, evidência de
metástases e o tempo de sobrevida após o diagnóstico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A raça mais acometida foi a Rottweiller, com 15 casos (65%), seguida de cães sem
raça definida com 4 casos (17%), Pastor Alemão com 2 casos (9%) e Fila Brasileiro e
Dálmata com um caso cada (4%). Não houve predisposição quanto ao sexo: dos 23
cães, 12 eram fêmeas (52%) e 11 machos (48%). A idade média foi de 7 anos e meio. Em
13 animais (56%) a lesão estava localizada no membro anterior e em 10 (44%) no
membro posterior.
Os dados referentes à idade média dos cães acometidos e das raças mais
predispostas foram de acordo com o que a literatura descreve, que acomete
principalmente cães com idade média de 7 anos e de raças de porte grande a gigante
Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008
203
(MORRIS; DOBSON, 2001; KIRPENSTEIJN et al., 2002; CHUN; LORIMIER, 2003;
DERNELL, 2003; ENDICOTT, 2003; LIPTAK et al., 2004). A maior incidência na raça
Rotweiller pode estar relacionada com uma predisposição genética, além de, se tratando
de uma raça de grande porte, o rápido crescimento ósseo durante o início do
desenvolvimento e o estresse em razão do peso suportado, possivelmente resultando
em microfraturas na região diafisária, podem favorecer um maior número de animais
acometidos dessa raça (MORRIS; DOBSON, 2001).
A literatura cita que esta enfermidade acomete principalmente machos e que os
membros anteriores são duas vezes mais freqüentes, porém estes dados não foram
evidenciados no presente estudo (MORRIS; DOBSON, 2001; DERNELL, 2003;
ENDICOTT, 2003). Isto pode ter ocorrido devido ao tamanho da amostra de animais
contida neste estudo. Além disso, analisou-se a ocorrência de tumores com imagem
radiográfica de neoplasia óssea, sem a confirmação histopatológica de osteossarcoma
como descrevem os autores, onde este tipo tumoral representa cerca de 85% dos
tumores ósseos (MORRIS; DOBSON, 2001; DERNELL, 2003).
Em todos os casos, os proprietários relataram rápida evolução das lesões. O
tratamento apenas com analgésicos foi optado por 16 proprietários (70%), o tratamento
com amputação do membro foi adotado por 5 proprietários (22%) e em dois casos (8%)
a eutanásia foi realizada no momento do diagnóstico. A média de sobrevida destes
pacientes foi de 3,8 meses, variando entre 3 dias a 10 meses. Em 14 casos (61% do
total), os proprietários optaram pela eutanásia dos cães após o aparecimento de sinais
clínicos como apatia, anorexia, perda de peso e dispnéia, onde os exames
complementares revelaram imagens compatíveis com metástases. Sete cães vieram a
óbito. Dentre os 16 cães que receberam somente o tratamento para a dor, a sobrevida
média foi de 3,4 meses e dentre os 5 cães em que foi realizada a amputação a sobrevida
média foi de 4,9 meses (Tabela 1).
TABELA 1 – Sobrevida média dos cães com imagem compatível com neoplasia óssea através do exame
radiográfico em ossos longos atendidos no HCV-UFRGS durante o período de março de 2003 a março de
2005, sem o uso de quimioterapia.
Tipo de tratamento
Número de animais
Média de sobrevida (meses)
Analgésicos
16
3,4
Amputação
5
4,9
Eutanásia no momento do
diagnóstico
2
-
Total
23
3,8
O tempo de sobrevida dos pacientes foi bastante curto, o que já era esperado,
pois, na maioria dos casos, já existem micrometástases no momento da apresentação/
diagnóstico do tumor primário. Em função disso, muitos proprietários requisitam
eutanásia quando ocorre recidiva local do tumor ou as metástases pulmonares causam
sinais clínicos de depressão, anorexia e/ou desconforto respiratório (MORRIS;
DOBSON, 2001; JOHNSON; HULSE, 2003).
A evolução clínica foi muito rápida, apresentando uma sobrevida média
semelhante à descrita na literatura, não havendo diferença significativa entre cães
amputados e não amputados. Assim, a amputação auxiliou na eliminação do desconforto
e da dor local, sem aumento da sobrevida destes animais. Nenhum cão deste estudo
teve sobrevida maior que um ano após o diagnóstico (MORRIS; DOBSON, 2001;
KIRPENSTEIJN et al, 2002; CHUN; LORIMIER, 2003; DERNELL, 2003; ENDICOTT,
2003; LIPTAK et al, 2004).
CONCLUSÃO
Estes dados confirmam a necessidade de terapia adjuvante com
quimioterapia em cães com tumores ósseos, onde a amputação utilizada
isoladamente é um método paliativo de tratamento, auxiliando somente em uma
melhor qualidade de vida do paciente com o alívio da dor, sem aumentar
significativamente a sua sobrevida.
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Recebido em: out. 2007
Aceito em: mar. 2008
Normas editoriais
POLÍTICAS E REGRAS GERAIS
A revista VETERINÁRIA EM FOCO, publicação científica da Universidade
Luterana do Brasil (ULBRA), com periodicidade semestral, publica artigos científicos,
revisões bibliográficas, relatos de casos e notas técnicas referentes à área de Ciências
Veterinárias, que a ela deverão ser destinados com exclusividade. É editada sob
responsabilidade do Curso de Medicina Veterinária da Ulbra.
Os artigos científicos, revisões bibliográficas, relatos de casos e notas devem
ser enviados em tres cópias redigidas em computador, em word, fonte 12, Times New
Roman, espaço duplo entre linhas, folha tamanho A4 (21,0 x 30,0 cm), margem direita
2,5cm e esquerda 3cm. As páginas devem ser numeradas e rubricadas pelos autores.
Os trabalhos devem ser acompanhados de ofício assinado pelos autores.
Os artigos serão submetidos a exame por 3 pesquisadores com atividade na linha
de pesquisa do tema a ser publicado, tendo a Revista o cuidado de manter sob sigilo a
identidade dos autores e dos consultores. Disquetes serão solicitados após a submissão
dos trabalhos e aprovação pelos consultores.
1- O artigo científico deverá conter os seguintes tópicos: Título (em português
e inglês); RESUMO; Palavras-chave; ABSTRACT; Key words; INTRODUÇÃO (com
revisão da literatura); MATERIAL E MÉTODOS; RESULTADOS E DISCUSSÃO;
CONCLUSÃO; AGRADECIMENTOS; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
2- A revisão bibliográfica deverá conter: Título (em português e inglês); RESUMO;
Palavras-chave; ABSTRACT; Key words; INTRODUÇÃO; DESENVOLVIMENTO;
CONCLUSÃO; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
3- A nota deverá conter: Título (em português e inglês); RESUMO; Palavraschave; ABSTRACT; Key words; seguido do texto, sem sub-divisão, abrangendo
introdução, metodologia, resultados, discussão e conclusão, com REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS.
4- O relato de caso deverá conter: Título (em português e inglês); RESUMO;
Palavras-chave; ABSTRACT; Key words; INTRODUÇÃO (com revisão de literatura);
RELATO DO CASO; RESULTADOS E DISCUSSÃO; CONCLUSÃO; REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS.
ORGANIZAÇÃO DO TEXTO
Título
Deve ser claro e conciso, em caixa alta e negrito, sem ponto final, em português
e inglês.
Autores
Deve constar o nome por extenso de cada autor, abaixo do título, seguido de
informação sobre atividade profissional, maior titulação e lugar/ano de obtenção,
Instituição em que trabalha, endereço completo e E-mail.
Resumo e Abstract
O resumo deve ser suficientemente completo para fornecer um panorama
adequado do que trata o artigo, sem, porém, ultrapassar 350 palavras. Logo após,
indicar as palavras-chave / key words (mínimo de três) para indexação.
Citações e Referências Bibliográficas
Citações bibliográficas no texto deverão constar na INTRODUÇÃO, MATERIAL
E MÉTODOS E DISCUSSÃO no artigo científico, conforme exemplo: um único autor
(SILVA, 1993); dois autores (SOARES & SILVA, 1994); mais de dois autores (SOARES
et al., 1996). Quando são citados mais de um trabalho, separa-se por ponto e vírgula
dentro do parênteses (SOARES, 1993; SOARES & SILVA, 1994; SILVA et al., 1998).
Referências devem ser redigidas em página separada e ordenadas alfabeticamente
pelos sobrenomes dos autores, elaboradas conforme a ABNT (NBR-6023).
Tabelas e Figuras
As Tabelas e Figuras devem ser numeradas de forma independente, com números
arábicos. As Tabelas devem ter o título acima das mesmas, escrito em letra igual à do
texto, mas em tamanho menor.
As Figuras devem ter o título abaixo das mesmas.
Tabelas e Figuras podem ser inseridas no texto.
Endereço para correspondência
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