SEÇÃO ESPECIAL MORTALIDADE POR CÂNCER EM AGRICULTORES DO ESTADO DO PARANÁ Câncer mortality among agricultural workers from state of Paraná Juliana de Rezende Chrisman1, Paula de Novaes Sarcinelli2, Josino Costa Moreira3, Rosalina Jorge Koifman4, Sergio Koifman4, Armando Meyer5 RESUMO Neste estudo, investigamos a mortalidade por câncer entre agricultores do estado do Paraná, um importante estado agrícola brasileiro. Todos os óbitos por câncer ocorridos entre 1979 e 1998, entre agricultores, homens, com idades entre 20 e 69 anos, residentes em duas microrregiões do Paraná foram coletados a partir do Sistema de Informação de Mortalidade. Utilizou-se a Razão de Chance de Mortalidade como estimativa do risco, calculada para duas populações de referência distintas e estratificada por faixa etária e período de morte. Observou-se um excesso significativo no risco de morte para os cânceres de estômago, fígado, próstata e pâncreas entre os agricultores. Agricultores mais jovens apresentaram uma mortalidade significativamente maior por câncer de fígado na década de 80 e por câncer de estômago e fígado na década seguinte. Agricultores mais velhos, morreram mais por câncer de estômago na primeira década e por câncer de estômago e mieloma múltiplo nos anos 90. O risco de morte para os cânceres de esôfago, estômago, mieloma múltiplo, pâncreas, testículo e pulmão aumentou significativamente entre os agricultores no período de 1979 a 1998. Estes resultados sugerem que a atividade agrícola pode ter contribuído para o aumento no risco de alguns tipos específicos de câncer na população estudada. Observamos também um aumento no risco de morte por tipos específicos de câncer entre os trabalhadores agrícolas ao longo das duas décadas de estudo. PALAVRAS-CHAVE Agrotóxicos, agricultores, câncer, Paraná, Brasil 1 Doutoranda em Saúde Pública e Meio Ambiente pela Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 2 Pesquisadora do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana, Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 3 Pesquisador do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana, Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 4 Pesquisador do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde, Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 5 Professor Adjunto do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Av Brigadeiro Trompowsky s/n. Pça da Prefeitura Universitária. Ilha do Fundão. CEP 21949-900. Rio de Janeiro, RJ. E-mail: [email protected] C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 597 - 612, 2008 – 597 JULIANA DE REZENDE CHRISMAN, PAULA DE NOVAES SARCINELLI, JOSINO COSTA MOREIRA, ROSALINA JORGE KOIFMAN, SERGIO KOIFMAN, ARMANDO MEYER ABSTRACT In the present study, we investigated cancer mortality among agricultural workers from Paraná, an important agricultural state of Brazil. Data on all cancer deaths occurred between 1979 and 1998, among agricultural workers, who had 20 to 69 years old, with residence stablished in two specific regions in the State of Paraná, were retrieved from the Brazilian Mortality Information System. Mortality Odds Ratio was used as the measure of association, calculated using two distinct reference populations, and stratified by age and period of death. Agricultural workers were at higher risk to die by the cancers of stomach, liver, prostate and pancreas. Stratified analysis revealed that younger agricultural workers displayed higher mortality by liver cancer in the 80´s, and by stomach and liver cancers in the following decade. On the other hand, older agricultural workers were at higher risk to die of stomach cancer in the 80´s, and by multiple myeloma and stomach cancer in the 90´s. Time trend analysis also showed that mortality risk for cancers of esophagus, stomach, multiple myeloma, pancreas, testicles, and lung has increased among agricultural workers during 1979 to 1998. Our results suggest that agricultural activities may increase the risk of certain types of cancer. KEY WORDS Agricultural workers, pesticides, cancer, Paraná, Brazil 1. INTRODUÇÃO O modelo de agricultura que vigora atualmente no mundo requer o uso de grandes quantidades de substâncias químicas para a manutenção de seus níveis de produtividade. No que diz respeito especificamente aos agrotóxicos, ainda que o uso de tais compostos tenha contribuído para o contínuo aumento da produtividade agrícola desde meados do século XX, acumula-se na literatura científica um número cada vez maior de evidências sobre possíveis danos à saúde humana e ao ambiente (Pimentel, 1996). Por exemplo, a elevada exposição a agrotóxicos é uma das hipóteses propostas que explicariam o aumento na incidência de determinados tipos de câncer observado entre agricultores (Blair et al., 1992; Blair & Zahm, 1995). Entretanto, estas informações ainda são muito limitadas. Estima-se que o número de casos de câncer humano associado ao uso de agrotóxicos seja de 6.000 a 10.000/ano, apenas no EUA (Pimentel et al., 1992). A situação nos países em desenvolvimento ainda permanece desconhecida, embora se acredite que esses números sejam bem maiores. Existe um considerável acúmulo de evidências sobre a ação carcinogênica de diversos agrotóxicos, tanto a partir de estudos experimentais em animais de laboratório, quanto a partir de estudos epidemiológicos (Dich et al., 1997). A Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC) reconhece evidências suficientes sobre a carcinogenecidade de 18 agrotóxicos e evidências limitadas para outros 16 (Pimentel et al., 1992). 598 – C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 597 - 612, 2008 MORTALIDADE POR CÂNCER EM AGRICULTORES DO ESTADO DO PARANÁ Do ponto de vista epidemiológico, um dos grupos populacionais mais estudados no mundo, no que diz respeito à possível associação entre a exposição a agrotóxicos e o desenvolvimento de câncer, é o de trabalhadores da agricultura. Os agricultores apresentam uma mortalidade total menor do que aquela observada na população geral. Além disso, este grupo populacional morre menos por doenças cardiovasculares e por todos os tipos de cânceres combinados (Dich et al., 1997). Entretanto, apresentam uma maior mortalidade para algumas neoplasias específicas como leucemia, linfoma não-Hogdkin, mieloma múltiplo, câncer de lábio, próstata e estômago, entre outros (Acquavella et al., 1998; Blair & Zahm, 1995). Nos últimos 15 anos, foram publicadas diversas revisões e metas-análise sobre câncer em agricultores, reforçando a hipótese de que a atividade agrícola, que tem, do ponto de vista da toxicologia, a exposição a agroquímicos como uma de suas principais características, aumenta o risco de desenvolvimento de determinados cânceres em seres humanos. Dentre estes, os cânceres hematológicos (leucemias e linfomas) e os hormônios-dependentes (próstata, testículos, mama, ovário e tiróide) têm merecido maior destaque na literatura (Acquavella et al., 1998; Blair et al., 1992; Blair & Zahm, 1995; Dich et al., 1997; Keller-Byrne et al., 1995; KellerByrne et al., 1997; Khuder et al., 1998; Van Maele-Fabry & Willems, 2004). No Brasil, onde o uso de agrotóxicos vem crescendo há várias décadas, os estudos sobre o impacto da exposição a estes compostos sobre o perfil de morbimortalidade por câncer ainda são escassos (Koifman et al., 2002; Meyer et al., 2003). Sabe-se, por exemplo, que o consumo de agrotóxicos observado em 11 estados brasileiros, na década de 1980, apresentou elevada correlação com a taxa de mortalidade por câncer de mama feminino (r=0,80; r2=0,64; IC95%=0,06-0,90) e moderadas correlações com as taxas de mortalidade para cânceres de ovário (r=0,71; r 2=0,51; IC95%= -0,14-0,85), próstata (r=0,67; r 2=0,45; IC95%= -0,20-0,83) e testículos (r=0,53; r2=0,28; IC95%= -0,39-0,75), entre os anos de 1996 e 1998, nos mesmos estados (Koifman et al., 2002). Mais recentemente, em um estudo sobre a mortalidade por câncer na região serrana do estado de Rio de Janeiro, observamos um maior risco de morte por alguns tipos específicos de câncer entre os agricultores desta região, quando comparados com populações de referência (Meyer et al., 2003). Neste estudo, chama a atenção o significativo incremento no risco de morte por câncer de esôfago e estômago, entre os agricultores de ambas as faixas etárias (30 a 49 e 50 a 69 anos) e em ambas as décadas (1979 a 1988 e 1989 a 1998) estudadas. Além disso, os agricultores de 30 a 49 anos de idade apresentaram um risco mais elevado de morte para os cânceres de fígado, cavidade oral, próstata, testículos, além de leucemia e sarcoma de tecidos moles. Já os agricultores de 50 a 69 anos, C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 597 - 612, 2008 – 599 JULIANA DE REZENDE CHRISMAN, PAULA DE NOVAES SARCINELLI, JOSINO COSTA MOREIRA, ROSALINA JORGE KOIFMAN, SERGIO KOIFMAN, ARMANDO MEYER apresentaram uma maior mortalidade por câncer de laringe, cavidade oral e sarcoma de tecidos moles (Meyer et al., 2003). O Paraná é um dos principais estados em produção agrícola. Suas principais culturas são trigo, milho e soja (IBGE, 2002). O estado do Paraná consome cerca de 18% dos agrotóxicos comercializados no Brasil (SINDAG, 2002). Além disso, apresenta elevada taxa de consumo de agrotóxicos por pessoal ocupado na agricultura (43 kg/trabalhador/ano) (SINDAG, 2002; IBGE, 2002). Estes números sugerem que trabalhadores agrícolas do estado do Paraná manipulam quantidades significativas de agrotóxicos, bem acima dos níveis de exposição da população geral. Assim, com o objetivo de avançarmos na compreensão das relações entre a exposição a agrotóxicos e o desenvolvimento de câncer em populações brasileiras, neste estudo a mortalidade por tipos específicos de câncer entre agricultores de duas importantes regiões agrícolas do estado do Paraná foi comparada com aquela observada em populações de referência selecionadas. Além disso, foi avaliada também a tendência em duas décadas de mortalidade por câncer em agricultores. 2. MATERIAIS E MÉTODOS Informações sobre todos os óbitos por câncer ocorridos entre os anos de 1979 e 1998, entre agricultores (código de ocupação: 600-639), do sexo masculino, com idades entre 20 e 69 anos, residentes em um dos municípios que compõem as microrregiões de Umuarama e Toledo (Figura 1), no estado do Paraná (PR), foram obtidas a partir do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde (www.datasus.gov.br). Este sistema reúne todos os óbitos do país desde 1979 e tem como documento base para seu preenchimento a declaração de óbito. A causa básica do óbito é classificada no SIM, entre os anos de 1979 e 1995, de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID) versão 9 (CID9). Já para os anos de 1996 em diante, os óbitos são classificados com base na CID10. A mortalidade observada entre agricultores da área de estudo foi comparada com aquela esperada com base na mortalidade observada em duas populações de referência, a saber: referência local - população geral, residente nas mesmas microrregiões que a população de estudo e, como referência urbana, utilizamos a população geral da cidade de Curitiba. Neste estudo, a razão entre mortes observadas e mortes esperadas foi estimada através do emprego da razão de chance de mortalidade (Mortality Odds Ratio MOR), como sugerido por Miettinen e Wang (1981). O uso da MOR aqui tem por objetivo minimizar as possíveis distorções produzidas pelo emprego da Razão de Mortalidade Proporcional (PMR), em situações onde não é possível o cálculo da Razão de Mortalidade Padronizada (SMR). As relações matemáticas existentes entre MOR, SMR e PMR foram apresentadas anteriormente (Meyer et al., 2003) 600 – C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 597 - 612, 2008 MORTALIDADE POR CÂNCER EM AGRICULTORES DO ESTADO DO PARANÁ e descrevem as situações em que o uso da MOR ou da PMR podem subestimar ou superestimar a SMR. Figura 1 Microrregiões de Umuarama (cinza escuro) e Toledo (cinza claro) no estado do Paraná, Brasil. A análise de tendência da MOR ao longo do período de 1979 a 1998 foi realizada através do emprego do modelo de regressão linear simples cuja variável dependente foi a MOR e a variável independente, o ano de morte. A aplicabilidade deste modelo se justifica, pois a MOR apresentou um distribuição normal e a análise dos resíduos demonstrou ter distribuição normal e ser homoscedástica. O software TABWIN versão 3.4 foi utilizado para tabular os dados dos óbitos obtidos a partir do SIM. Já os cálculos matemáticos e estatísticos foram realizados nos softwares SPSS versão 12 e Microsoft Excel 2000 (Excel versão 9). As microrregiões de Umuarama e Toledo abrangem 29 municípios (Figura 1), distribuídos em 18.554 km2. A população residente é de 601.659 habitantes, sendo 20% destes analfabetos. Cerca de 80% dos domicílios estão ligados à rede de abastecimento de água, 73% possuem coleta domiciliar de lixo, mas apenas 15% têm ligação com a rede geral de esgoto. Em 2000, a mortalidade infantil nas microrregiões de Umuarama e Toledo (20,14/1.000 nascidos vivos) foi ligeiramente superior àquela observada no estado do PR (19,58/1.000 nascidos vivos) e bem mais elevada que a observada na capital, Curitiba (15,01/1.000 nascidos vivos). Segundo o censo agropecuário de 1996, cerca de 25% da população economicamente ativa da região está ocupada na agricultura. C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 597 - 612, 2008 – 601 JULIANA DE REZENDE CHRISMAN, PAULA DE NOVAES SARCINELLI, JOSINO COSTA MOREIRA, ROSALINA JORGE KOIFMAN, SERGIO KOIFMAN, ARMANDO MEYER 3. RESULTADOS Entre os anos de 1979 e 1998, ocorreram 17.371 mortes entre agricultores do sexo masculino, nos municípios que compõem as microrregiões de Umuarama e Toledo. As principais causas de morte observadas foram aparelho circulatório (7.002 mortes, 40,3%), causas externas incluindo envenenamento (1.967 mortes, 11,3%) e câncer (2.401 mortes, 13,8%). Entre as mortes por câncer, 1.433 (59,7%) ocorreram entre os agricultores com idades entre 20 a 69 anos. A Tabela 1 apresenta as MOR para a população de agricultores masculinos de Umuarama e Toledo, com idades entre 20 e 69 anos. Quando comparados com a população local, os agricultores apresentaram mortalidade significativamente mais elevada para todos os cânceres reunidos (MOR=1,22; IC95%: 1,15-1,30) e especificamente para os cânceres de estômago (MOR=1,42; IC95%: 1,27-1,59), fígado (MOR=1,26; IC95%: 1,02-1,56), laringe (MOR=1,30; IC95%: 1,02-1,65), próstata (MOR=1,66; IC95%: 1,28-2,16) e pâncreas (MOR=1,83; IC95%: 1,36-2,41). Já a comparação com a população de Curitiba revelou significativo aumento na mortalidade por câncer de estômago (MOR=1,62; IC95%: 1,44-1,81) e fígado (MOR=1,89; IC95%: 1,52-2,34). Tabela 1 Risco de morte por câncer entre agricultores do sexo masculino, das microrregiões de Umuarama e Toledo, com idades entre 20 a 69 anos, no período de 1979 a 1998. A análise estratificada por idade e período de estudo revelou que, na primeira década (1979-1988), os agricultores mais jovens (20 a 49 anos) apresentaram mortalidade por câncer de fígado significativamente mais elevada que a população de Curitiba (MOR=2,50; IC95%: 1,32-4,72) (Tabela 2). Além disso, ainda que 602 – C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 597 - 612, 2008 MORTALIDADE POR CÂNCER EM AGRICULTORES DO ESTADO DO PARANÁ não tenha sido estatisticamente significativo, os agricultores mais jovens morreram mais que a população de Curitiba pelos cânceres de laringe, pâncreas e sistema nervoso central (SNC). Neste mesmo período, a comparação com a população local, mostrou que os agricultores mais jovens morreram significativamente mais pelos cânceres de fígado e pâncreas. Tabela 2 Risco de morte por câncer entre agricultores do sexo masculino, das microrregiões de Umuarama e Toledo, com idades entre 20 a 49 anos, segundo o período de análise (1979 a 1988 e 1989 a 1998). A mortalidade foi também mais elevada para os cânceres de esôfago, laringe, SNC, além de leucemias e todos os cânceres reunidos. No entanto, em função do número reduzido de mortes, tais aumentos não apresentaram significância estatística. C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 597 - 612, 2008 – 603 JULIANA DE REZENDE CHRISMAN, PAULA DE NOVAES SARCINELLI, JOSINO COSTA MOREIRA, ROSALINA JORGE KOIFMAN, SERGIO KOIFMAN, ARMANDO MEYER Na década seguinte (1989-1998), os agricultores de 20 a 49 anos de idade apresentaram mortalidade significativamente mais elevada que a população de Curitiba para todos os cânceres reunidos e para os cânceres de estômago, pulmão e fígado. Além disso, ainda que o intervalo de confiança tenha incluído a unidade, as MOR foram mais elevadas entre agricultores, quando comparados com a população de Curitiba, para os cânceres de laringe, pâncreas, testículo, próstata e também para leucemias e mieloma múltiplo. Tabela 3 Risco de morte por câncer entre agricultores do sexo masculino, das microrregiões de Umuarama e Toledo, com idades entre 50 a 69 anos, segundo o período de análise (1979 a 1988 e 1989 a 1998). 604 – C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 597 - 612, 2008 MORTALIDADE POR CÂNCER EM AGRICULTORES DO ESTADO DO PARANÁ Quando comparados com a população local, no período de 1989 a 1998, os agricultores jovens apresentaram uma elevação estatisticamente significativa na mortalidade por todos os cânceres reunidos, além dos cânceres de estômago e fígado. Estes agricultores, ainda comparados à população local, também morreram mais por câncer de pulmão, esôfago e também por leucemias. Com relação ao câncer de testículo e mieloma múltiplo, é importante notar que, para este período, a comparação matemática não foi possível devido à não-ocorrência de morte na população de referência local (denominador zero), mas que a mortalidade foi obviamente mais elevada entre agricultores. A análise de tendência no risco de morte por cânceres específicos entre os agricultores do sexo masculino, com idades entre de 20 e 69 anos, residentes nas microrregiões de Umuarama e Toledo é apresentada na Tabela 4. Observamos que, ao compararmos com a população local, o risco de morte entre agricultores vem aumento a cada ano, de forma significativa, para os cânceres de esôfago (β=0,059; p=0,000), estômago (β=0,050; p=0,001), mieloma múltiplo (β=0,097; p=0,003), pâncreas (β=0,089; p=0,004), testículo (β=0,072; p=0,034) e pulmão (β=0,031; p=0,049). A análise do coeficiente da regressão (β) revelou que o aumento anual no risco de morte para alguns cânceres específicos foi ainda mais elevado entre os agricultores quando comparados com a população de Curitiba: esôfago (β=0,061; p<0,001), estômago (β=0,072; p=0,001), mieloma múltiplo (β=0,128; p=0,033), pâncreas (β=0,075; p=0,003), pulmão (β=0,060; p=0,003), laringe (β=0,086; p=0,011), todos os cânceres (β=0,024; p=0,002) e fígado (β=0,094; p=0,039). Tabela 4 Análise de regressão linear entre MOR por tipos específicos de câncer entre agricultores do sexo masculino, com idades entre 20 e 69 anos, residentes nas microrregiões de Umuarama e Toledo e ano do óbito (1979-1998). C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 597 - 612, 2008 – 605 JULIANA DE REZENDE CHRISMAN, PAULA DE NOVAES SARCINELLI, JOSINO COSTA MOREIRA, ROSALINA JORGE KOIFMAN, SERGIO KOIFMAN, ARMANDO MEYER 4. DISCUSSÃO Neste estudo, utilizamos os dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade para comparar os óbitos por tipos específicos de câncer em agricultores de duas microrregiões agrícolas do estado do Paraná, com aqueles observados em duas populações distintas. A escolha de uma população de comparação local e outra urbana (Curitiba) permite não só dar mais consistência aos achados deste artigo, mas também permite analisar os resultados sob óticas distintas. Se, por um lado, a comparação com a população local é importante, pois permite comparar duas populações de mesma localização geográfica e, portanto, deve compartilhar, em grande parte, as mesmas exposições ambientais e modos de vida, diferindo talvez apenas na intensidade da exposição aos fatores de risco pertencente à atividade agrícola, por outro, a comparação com a população de Curitiba permite uma reflexão sobre possíveis diferenças no padrão de morbi-mortalidade e, conseqüentemente, sobre fatores de risco entre uma população agrícola e rural com uma população urbana e mais industrializada. Ainda assim, é importante ressaltar que informações sobre potenciais fatores de confusão para câncer, como consumo de fumo, álcool e padrões de dieta não estão disponíveis no Sistema de Informação sobre Mortalidade e, desta forma, não se pode descartar o possível papel destes fatores nos resultados observados neste estudo. No que tange ao hábito de fumar, é descrito na literatura que agricultores fumam menos que a população geral (Figá-Talamanca et al., 1993) e, por isso, apresentariam menor mortalidade por doenças cardiovasculares e por todos os cânceres reunidos (Figá-Talamanca et al., 1993; Viel et al., 1998). De fato, em estudo anterior, Meyer et al. (2003) observaram de forma consistente uma menor mortalidade por doenças cardiovasculares, neoplasia maligna e câncer de pulmão entre agricultores da região Serrana do Rio de Janeiro, quando comparados com populações de referência. Uma vez que a fração etiológica do câncer de pulmão atribuível ao fumo é da ordem de 80% (Hecht, 1999), torna-se bastante improvável que o tabagismo seja mais elevado entre aqueles agricultores que nas populações de comparação. No presente estudo, a mortalidade por câncer de pulmão também foi menor entre os agricultores mais velhos, quando comparados a ambas as populações de comparação, principalmente na primeira década de análise. Isto pode sugerir que, de fato, estes agricultores fumem menos em relação às populações de referência utilizadas. No entanto, entre os agricultores mais jovens, a mortalidade por câncer de pulmão foi igual à das populações de comparação, na primeira década, e superior a estas, na segunda década. Neste sentido, cabem duas considerações. A primeira é que, em relação aos jovens, a população rural pode estar deixando de lado o velho hábito de fumar cigarros artesanais (cigarros de palha) 606 – C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 597 - 612, 2008 MORTALIDADE POR CÂNCER EM AGRICULTORES DO ESTADO DO PARANÁ e aderindo ao cigarro industrializado. A segunda é que, se o aumento na mortalidade por câncer de pulmão entre agricultores jovens se deve ao fato de uma maior freqüência de fumo entre estes indivíduos, não é possível descartar o papel do fumo no aumento do risco de morte para alguns cânceres específicos observado neste estudo entre estes trabalhadores. Quanto ao possível impacto dos outros fatores de confundimento citados acima sobre o perfil de mortalidade observado neste estudo, não é possível fazer nenhum tipo de inferência baseado em dados indiretos, já que não é descrito para nenhum dos cânceres analisados neste estudo uma fração etiológica atribuível ao álcool ou à dieta, da mesma magnitude que o fumo representa para o câncer de pulmão. De fato, para alguns dos cânceres analisados aqui, álcool e dieta são fatores de risco descritos na literatura, como, por exemplo, estômago e esôfago (Kelley & Duggan, 2003; Bray et al., 2000; Pacella-Norman et al., 2002; Morita et al., 2002; Schlecht et al., 2001). No caso específico do câncer de estômago, o papel do álcool seja motivo de intenso debate (Kelley & Duggan, 2003). Embora alguns estudos não tenham demonstrado o aumento na incidência e mortalidade para o câncer de estômago relacionadas à exposição a agrotóxicos (Blair et al., 2005; Lee et al., 2004) cabe ressaltar que a literatura científica consistentemente apresenta resultados que apontam para uma associação positiva entre trabalho agrícola, exposição a agrotóxicos e o desenvolvimento deste tipo de câncer (Mills & Yang, 2007; Acquavella et al., 1998; Blair et al., 1992). Além disso, um dos principais achados no estudo de mortalidade entre agricultores da região Serrana do Rio de Janeiro (Meyer et al., 2003) foi um constante padrão de elevada mortalidade por câncer de estômago entre estes trabalhadores, resultados semelhantes ao observado no presente trabalho. Neste mesmo estudo, agricultores da região serrana apresentaram significativo aumento no risco de morte por câncer de esôfago, quando comparados com populações de referência. No presente estudo, tal associação não pôde ser confirmada. Entretanto, cabe destacar que na análise de tendência, realizada por meio de análise de regressão linear, observamos que o risco de morte por câncer de esôfago entre os agricultores das microrregiões de Umuarama e Toledo vem aumentando de forma significativa quando comparados com ambas as populações de referência. Em nosso estudo, agricultores, especialmente entre 20 e 49 anos, apresentaram risco significativamente mais elevado de morte por câncer de fígado, principalmente quando comparados com a população de Curitiba. Estes resultados são corroborados por estudos anteriores na literatura internacional (Blair et al., 1992). Em relação aos resultados observados a partir da análise de tendência do risco de câncer entre os agricultores, é importante destacar que ainda que não tenhamos observado um excesso no risco de morte para alguns cânceres, a análise C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 597 - 612, 2008 – 607 JULIANA DE REZENDE CHRISMAN, PAULA DE NOVAES SARCINELLI, JOSINO COSTA MOREIRA, ROSALINA JORGE KOIFMAN, SERGIO KOIFMAN, ARMANDO MEYER de regressão mostrou uma tendência de aumento deste risco ao longo tempo. Foi o caso, por exemplo, do câncer de esôfago, discutido acima, mas também do risco de mieloma múltiplo, câncer de pâncreas, laringe e testículo. Se este resultado se confirmar, é possível que em algumas décadas a mortalidade por estes cânceres entre os agricultores passe a ser significativamente mais elevada que a da população geral. De fato, em sua meta-análise, Acquavella et al. (1998) observaram aumento no risco de morte entre agricultores para os cânceres de pâncreas e testículo. Neste estudo, a opção pela análise no risco de morte por câncer entre agricultores do sexo masculino deveu-se apenas ao fato de que, no Brasil, onde a agricultura familiar é bastante expressiva, as mulheres são comumente reportadas ao sistema de saúde, como, por exemplo, no momento do óbito, como donas de casa, ainda que elas auxiliem os homens em diversas atividades agrícolas que as expõem aos mesmos riscos, como, por exemplo, os agrotóxicos. Neste sentido, a inclusão de mulheres no estudo poderia levar a distorções nas estimativas de risco. Por fim, estudos de mortalidade podem não refletir a real associação entre a exposição a fatores de risco pertencentes à atividade agrícola e o desenvolvimento de tipos específicos de câncer. Para cânceres que apresentam baixa letalidade, por exemplo, ainda que exista uma associação com a atividade agrícola, existe a possibilidade que o indivíduo venha a morrer de outra causa, o que poderia distorcer as estimativas de risco de morte associadas a esta atividade. Para outros cânceres, no entanto, como pulmão, esôfago, estômago e sistema nervoso, para os quais a letalidade é bastante elevada, as taxas de mortalidade podem ser bons indicadores da incidência e, portanto, servirem de forma mais adequada para avaliar associações entre fatores de risco e o desenvolvimento destes tipos de câncer. 5. CONCLUSÃO Neste estudo, observamos um aumento no risco de morte por câncer de estômago e fígado entre agricultores de duas regiões agrícolas do estado do Paraná. A estratificação por faixa etária revelou ainda que agricultores mais jovens morrem mais por câncer de estômago, pulmão e fígado do que as populações de comparação, especialmente na segunda década de análise. Já os agricultores mais velhos apresentaram maior mortalidade por câncer de estômago. A análise de tendência no risco de morte mostrou que o risco de câncer de esôfago, estômago, pâncreas, testículo, pulmão, laringe e também mieloma múltiplo vem aumentando ao longo do tempo entre os agricultores, quando comparados com populações de referência. Estes resultados demonstram que programas de controle e prevenção do câncer no Brasil deveriam levar em consideração fatores de risco relacionados à atividade agrícola, como microorganismos, radiação solar e agroquímicos. 608 – C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 16 (4): 597 - 612, 2008 MORTALIDADE POR CÂNCER EM AGRICULTORES DO ESTADO DO PARANÁ Neste sentido, é importante salientar a necessidade de estudos epidemiológicos que utilizem desenhos mais robustos, como casos-controle e coortes, na avaliação do papel destes fatores de risco no padrão de morbi-mortalidade não só entre os agricultores e residentes rurais, mas também na população geral brasileira. REFERÊNCIAS BIOBLIOGRÁFICAS ACQUAVELLA, J.; OLSEN, G.; COLE, P.; IRELAND, B.; KANEENE, J.; SCHUMAN, S.; HOLDEN, L. Cancer among farmers: a meta-analysis. Annals of Epidemiology. v. 8, n. 1, p. 64 - 74, 1998. BLAIR, A.; SANDLER, D. P.; TARONE, R.; LUBIN J.; THOMAS, K.; HOPPIN, J. A.; SAMANIC, C.; COBLE, J.; KAMEL, F.; KNOTT, C.; DOSEMECI, M.; ZAHM, S. H.; LYNCH, C. F.; ROTHMAN, N.; ALAVANJA, M. C. Mortality among participants in the agricultural health study. Annals of Epidemiology. v. 15, n. 4, p. 279 - 285, 2005. 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