2- revisão de literatura

Propaganda
CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA
PRÓ REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
POLUIÇÃO POR PETRÓLEO NOS AMBIENTES MARINHO E
COSTEIRO
Anna Paula Vinagre Bruno
Rio de Janeiro
2006
2
Centro Universitário Augusto Motta
Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa
Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas
POLUIÇÃO POR PETRÓLEO NOS AMBIENTES MARINHO E
COSTEIRO
Monografia apresentada ao curso de Ciências
Biológicas da UNISUAM, como parte dos
requisitos para obtenção do Título de
Licenciado em Ciências Biológicas.
Por:
Anna Paula Vinagre Bruno
Professor Orientador:
Ana Margarida Marques Portugal
Rio de Janeiro
2006
3
Anna Paula Vinagre Bruno
POLUIÇÃO POR PETRÓLEO NOS AMBIENTES MARINHO E
COSTEIRO
Banca Examinadora composta para a defesa de
Monografia para obtenção do grau de Licenciado
em Ciências Biológicas
Aprovada em: ___________ de _________________de 2006
Presidente e orientador: Profª Ana Margarida Marques Portugal
1º membro: _________________________________________________________________
2º membro: _________________________________________________________________
Rio de Janeiro
2006
4
“A verdadeira sobrevivência da espécie humana
depende da manutenção de um oceano vivo e
limpo, em toda a sua extensão. O oceano é o cinto
de segurança do planeta.”
Jacques Cousteau
5
AGRADECIMENTOS
A Deus, por me dar força e sabedoria;
A meu querido pai que me proporcionou todo o recurso para que eu pudesse estudar e todo o
apoio moral para que eu conquistasse meus objetivos;
A meu esposo, Alexander, que foi incansável e paciente durante a elaboração e formatação deste
trabalho;
À minha mãe que, mesmo de longe, me fortalece e aconselha.;
Aos meus irmãos, que são grandes amigos;
Ao meu querido sobrinho Luiz Felipe, meu tesouro, que sempre me recebe com seu inocente e
belo sorriso mostrando que tudo na vida vale a pena;
Aos meus grandes amigos da UNISUAM, que me acompanham desde o primeiro dia de aula,
sempre apoiando e aconselhando: Ana Beatriz, Eduardo e Custódio – obrigada pelos belos
momentos que passamos durante o curso;
À Professora Ana Margarida Portugal, minha orientadora, que foi paciente, dedicada e que
colaborou muito para a elaboração deste trabalho.
6
BRUNO, Anna Paula Vinagre. Poluição por Petróleo nos Ambientes Marinho e Costeiro, 2006,
29 p. Monografia (Licenciatura em Ciências Biológicas) – Pró-Reitoria de Pós-Graduação e
Pesquisa. Centro Universitário Augusto Motta – UNISUAM
RESUMO
A poluição dos ambientes marinho e costeiro por petróleo, tem preocupado ambientalistas do
mundo inteiro sendo alvo de inúmeros debates. Este tipo de impacto provoca verdadeiras
catástrofes ambientais, com danos incalculáveis e muitas vezes irreversíveis ao meio ambiente.
As atividades humanas como a pesca e uso recreacional do ambiente também fica comprometida
gerando danos econômicos. Este trabalho apresenta os impactos ambientais causados por
derramamentos de petróleo no meio ambiente marinho e costeiro.
Palavras-chave: poluição, impacto, petróleo.
7
Sumário:
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 1
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Conceito de Poluição Marinha e Impacto Ambiental............................................2
2.2. Principais Poluentes no Ambiente Marinho...........................................................3
2.3. Composição e Características do Petróleo.............................................................6
2.4. Processos Físicos, Químicos e Biológicos de Degradação do Petróleo.................7
2.5. Efeitos do Petróleo à Biota Marinha......................................................................10
2.6. Vulnerabilidade dos Ambientes Marinhos e Costeiros ao Impacto por Óleo ...15
2.6.1. Estuários e Manguezal...........................................................................................17
2.6.2. Costão Rochoso e Praia Arenosa..........................................................................19
2.6.3. Recife de Coral.......................................................................................................22
2.7. Conseqüências Econômicas dos Derrames de Petróleo nos Ambientes
Marinhos...........................................................................................................................24
3. Conclusões....................................................................................................................26
4. Referências bibliográficas...........................................................................................27
1. Introdução
Os oceanos ocupam a maior parte da superfície do planeta sendo utilizados como fonte de
alimento e subsistência para o homem através da pesca desde os primórdios e, também, como
meio de transporte e fonte de matérias-primas. Devido a ocupação humana ser preferencialmente
feita nas regiões costeiras ou próximas destas, estas regiões estão submetidas a diferentes tipos de
poluição tais como lançamento de esgoto doméstico, hospitalar, industrial e acidentes envolvendo
derrame de petróleo.
O petróleo é um produto presente na natureza, de origem fóssil, de grande importância
econômica por ser uma fonte de energia e matéria prima para diferentes produtos. É um
composto natural complexo que ocorre devido à mistura de compostos inorgânicos e possui alta
toxicidade além de possuir menor densidade que a da água.
Em contato com a água do mar, o petróleo é degradado e este processo ocorre em várias
etapas. Este composto químico impacta de forma mais agressiva os ecossistemas costeiros que o
oceano aberto.
A maior parte dos acidentes ocorre durante o transporte do combustível por navios e
oleodutos. Além de prejuízos a fauna e flora marinha, o homem também é afetado,
principalmente as comunidades pesqueiras cujo sustento se dá pela utilização direta dos recursos
marinhos.
Este trabalho tem como objetivo apresentar os impactos gerados pelo derrame de petróleo
nos ambientes marinho e costeiro, indicando aquelas comunidades mais vulneráveis a este tipo de
impacto ambiental.
2
2. Revisão de Literatura
2.1. Poluição Marinha e Impacto Ambiental
Os oceanos ocupam praticamente 71% da superfície terrestre sendo utilizados como fonte
de alimento para o homem e, também, como meio de transporte e fonte de matérias-primas.
Atualmente, 60% da população mundial está localizada em cidades costeiras ou em regiões
próximas. Em conseqüência disso, o ambiente marinho, principalmente costeiro acaba sendo
atingido por detritos que causam poluição desses ambientes (SOS Terra, 2006).
A poluição marinha é definida como a introdução direta ou indireta pelo homem, de
substâncias ou energias no meio marinho, incluindo os estuários, sempre que a mesma provoque
ou possa vir a provocar efeitos nocivos, tais como danos aos recursos vivos, perigo à saúde do
homem, entraves às atividades marítimas, incluindo a pesca e as outras utilizações legítimas do
mar, alteração da qualidade da água do mar, no que se refere à sua utilização e deterioração dos
locais de lazer (ONU, 1982).
Impacto ambiental é definido oficialmente como qualquer alteração das propriedades
físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou
energia resultante das atividades humanas e de processos naturais que, diretamente, afetem: (I) a
saúde, a segurança e o bem estar da população; (II) as atividades sociais e econômicas; (III) a
biota; (IV) as condições estéticas e sanitárias do ambiente; (V) a qualidade dos recursos
ambientais (Resolução CONAMA 001 – 1986). Também pode ser definido como qualquer
alteração significativa do meio ambiente – em um ou mais de seus componentes – provocadas por
uma ação humana. (FEEMA, 1987).
Segundo a FEEMA/PETROBRAS (1990) o impacto ambiental pode ser:
Negativo ou adverso: quando a ação resulta em um dano à qualidade de um fator ou parâmetro
ambiental;
Impacto imediato: quando o efeito surge no instante que se dá a ação;
3
Impacto a médio ou longo prazo: quando o impacto se manifesta certo tempo após a ação;
Impacto temporário: ocorre quando seus efeitos têm duração de tempo determinada;
Impacto reversível: quando o fator ou parâmetro ambiental afetado, cessada a ação, retorna às
suas condições originais;
Impacto irreversível: quando, uma vez ocorrida a ação, o fator ou parâmetro ambiental afetado
não retorna às suas condições originais em um prazo previsível.
Pode-se distinguir o impacto ambiental crônico do impacto agudo. No primeiro
caso o poluente é lançado continuamente no ambiente; como por exemplo os lançamentos de
efluentes contendo hidrocarbonetos que chegam todos os dias na Baía de Guanabara oriundos dos
postos de gasolina da cidade. Já o impacto agudo é aquele que ocorre de maneira intensa e
episódica, como o caso do derrame de óleo ocorrido na Baia de Guanabara em Janeiro de 2000.
2.2. Principais Poluentes no Ambiente Marinho
Os oceanos e os mares são os derradeiros sorvedouros dos subprodutos gerados pelas
atividades humanas e acolhem, de forma direta ou indireta, uma grande variedade de poluentes,
rejeitos urbanos, agrícolas e industriais. Pelo fato da maioria dos grandes centros urbanos estarem
localizados em regiões costeiras, e geralmente próximos à baías e estuários, estas áreas são,
comparativamente aos oceanos, as mais vulneráveis ao impacto da poluição (PEREIRA E
SOARES, 2002).
Os poluentes que atingem o ambiente marinho podem ser classificados de diversas
formas, sendo que uma delas, comumente utilizada, baseia-se na persistência no ambiente.
Persistência é a propriedade de um composto químico conservar durante um certo tempo sua
estrutura química e sua ação bioquímica, em particular sua toxidez. Os hidrocarbonetos clorados
ou fosforados são geralmente persistentes, o que provoca sua acumulação na natureza e nos
organismos (LEMAIRE & LEMAIRE, 1975 apud FEEMA / PETROBRAS, 1990 ).
4
De acordo com esse critério, os poluentes podem ser classificados em quatro grandes
categorias: poluentes não conservativos ou biodegradáveis, facilmente dissipáveis, conservativos
e resíduos sólidos (PEREIRA E SOARES, 2002).
Segundo o Vocabulário Básico do Meio Ambiente (FEEMA / PETROBRÁS, 1990),
toxicidade é a capacidade de uma toxina ou substância venenosa produzir dano a algum
organismo animal. A toxicidade pode ser aguda ou crônica. A primeira ocorre quando qualquer
efeito venenoso produzido dentro de um certo período de tempo, usualmente de 24 a 96 horas,
que resulte em dano biológico severo e, ás vezes, em morte (THE WORLD BANK apud
PETROBRAS, 1990). Já a segunda é resultante da exposição a um produto tóxico durante um
longo prazo, em relação ao tempo de vida (DICCIONARIO DE LA NATURALEZA, apud
FEEMA/PETROBRAS, 1990).
A poluição por óleo pode ser catastrófica. Por exemplo, na área de um derrame pode
haver eliminação completa das comunidades marinhas presentes e após um período de tempo
relativamente longo, o local pode ser recolonizado por espécies características de estágios de
sucessão inicial (PEREIRA & SOARES, 2002).
Além de poluir as águas e o substrato marinho, o petróleo impossibilita a utilização dos
ecossistemas costeiros, como por exemplo as praias pelos banhistas, além da retirada e consumo
de pescado e mariscos. Estima-se que, a cada ano, cerca de 3 a 4 milhões de toneladas de petróleo
são jogadas no mar em todo mundo (ADITAL, 2005 apud ALVES, 2005).
Derrames de petróleo ocorrem através dos acidentes com navios petroleiros ou devido à
lavagem de seus motores e reservatórios diretamente na água. Segundo Pereira e Soares (2002)
embora os casos de poluição provocados por acidentes com grandes navios petroleiros tenham
sempre obtido destaque na mídia, esse tipo de contribuição representa apenas uma pequena
parcela da quantidade de óleo introduzida nos oceanos (Figura 1).
5
Figura 1. Fontes de petróleo para o ambiente marinho. (PEREIRA E SOARES, 2002).
De fato, as operações rotineiras de transporte e efluentes são as maiores fontes de petróleo
para o ambiente marinho. O Brasil aumentou muito a exploração de petróleo em águas além da
costa, levando à implementação de uma rede de terminais marítimos para transporte e
distribuição do produto ao longo de várias áreas da costa, aumentando a quantidade de derrames
e a possibilidade de impacto sobre as comunidades marinhas (PEREIRA E SOARES, 2002).
6
2.3. Composição e Características do Petróleo
A composição química do petróleo é complexa e extremamente influenciada por
condições físico-químicas, biológicas e geológicas do ambiente em que ele foi formado. Os
principais constituintes do petróleo são os hidrocarbonetos – principalmente alcanos, cicloalcanos
e aromáticos – que correspondem de 50% a 98% do petróleo. Por outro lado, os compostos de
enxofre e os ácidos graxos, correspondem, respectivamente, a aproximadamente 10% e 5% da
composição do petróleo. Além desses componentes o petróleo ainda possui uma quantidade
considerável de substâncias nitrogenadas e vários metais pesados (OVERSTREET e GALT, 1995
apud CARVALHO, 2003).
De acordo com sua constituição, o petróleo pode ter diferentes características físicas,
químicas e toxicológicas as quais se alteram ao longo do tempo no ambiente marinho. O conjunto
dessas alterações faz parte de um processo denominado intemperismo (CETESB, 2002) e será
estudado detalhadamente no próximo item. Os óleos podem ser divididos em três grupos, de
componentes leves, médios e pesados.
Segundo a Petrobrás (2004), os hidrocarbonetos podem ser:
•
Saturados: neste caso, as moléculas contêm quantidade suficiente de átomos
de hidrogênio suficiente para saturar os átomos de carbono. Os
hidrocarbonetos saturados se distinguem em parafínicos (cadeias retilíneas
com ligações simples) e naftênicos (cadeias fechadas com ligações simples).
•
Insaturados: neste caso, as moléculas não contêm quantidade de átomos de
hidrogênio suficientes para saturar os átomos de carbono. Os hidrocarbonetos
insaturados distinguem-se em: aromáticos (cadeia fechada, apresentando
ligações duplas e simples alternadas, ou seja, núcleo benzênico), diolefinas
(cadeias retilíneas com duas ligações duplas) e acetilênicos (cadeias retilíneas
com ligação tripla).
Classificados, usualmente, segundo a base, os petróleos podem ser parafínicos,
aromáticos, naftênicos ou mistos. Os petróleos brasileiros têm sido, predominantemente, de base
parafínica (PETROBRAS, 2004).
7
A toxicidade química do petróleo está nos hidrocarbonetos aromáticos, sobretudo os mais
leves, que apresentam de um a três núcleos aromáticos. Infelizmente, os hidrocarbonetos tóxicos
leves são também mais solúveis na água do mar. Já os alcanos são pouco tóxicos e
biodegradáveis. Os alcatrões, por sua vez, não são solúveis em água, mas freqüentemente contêm
compostos perigosos para a saúde (sobretudo cancerígenos). O petróleo bruto é uma mistura de
várias centenas de moléculas de hidrocarbonetos dessas três famílias, enquanto o petróleo
refinado é mais rico em moléculas de uma das famílias. De acordo com sua composição, a
viscosidade do petróleo varia sensivelmente (LAUBIER, 2003).
2.4. Processos Físicos, Químicos e Biológicos de Degradação do Petróleo
O petróleo derramado no mar sofre vários processos de natureza física, química e
biológica que atuam na sua alteração e/ ou degradação (LAUBIER, 2005). Geralmente, os
processos físico-químicos têm início e ação mais rápidos (NICODEM et al., 1997). Segundo
Ferrão1, os principais processos sofridos pelo óleo no mar são:
•
Espalhamento: é caracterizado pela formação de um filme superficial na interface
água-ar logo nos primeiros momentos de um derrame, sendo um dos processos
mais expressivos. É influenciado pelas condições climáticas e oceânicas, assim
como por outros processos como evaporação, dissolução, entre outros, e depende
do tipo de óleo derramado.
•
Oxidação: é a combinação química dos hidrocarbonetos com o oxigênio.
Contribui para o intemperismo do petróleo uma vez que forma compostos
solúveis. Sais minerais dissolvidos em água aceleram a taxa de oxidação. Metais
traço agem como catalisadoras da reação de oxidação, ao passo que compostos de
enxofre na mistura fazem decrescer essa taxa.
•
Foto- oxidação: ocorre a partir da incidência da luz ultravioleta e da presença de
oxigênio sobre o óleo, aumentando assim a presença de oxigênio nos componentes
do petróleo. Os compostos assim produzidos são consideravelmente mais tóxicos e
1
De acordo com Ferrão (2005) os processos mecânicos, químicos e biológicos de desintegração e decomposição do
óleo no mar são chamados conjuntamente de intemperismo.
8
mais solúveis em água, porém tem menor tempo de permanência. Tanto o óleo
presente na superfície da água quanto o presente na coluna d´água estão expostos à
ação da foto-oxidação.
•
Dispersão: mar agitado, com ondas e turbulência quebra a mancha produzindo
manchas de óleo de diversos tamanhos. As manchas menores ficam em suspensão
na coluna d´água, sofrendo processos como biodegradação e sedimentação. A taxa
de dispersão depende do tipo de óleo, o grau de intemperismo em que se encontra
e o estado do mar, sendo mais propenso a se estabelecer na presença de ondas
mais agitadas que se quebram.
•
Evaporação: depende fundamentalmente da temperatura e das condições de
batimento do mar. Também influem a volatilidade do óleo associado às condições
climáticas. Grandes ondas, mar agitado e ventos fortes facilitam a evaporação do
óleo, que pode perder até 25% do volume no primeiro dia do derrame (óleo leve).
•
Emulsificação: processo em que o óleo tende a absorver a água, formando
emulsões de água e óleo, favorecido pelas condições de mar moderadas a
encrespadas. Porém, emulsões podem se separar em água e óleo novamente
quando as condições de mar forem calmas ou quando estiverem encalhados na
costa, e se forem aquecidos pela luz solar. Alguns tipos de óleo podem formar
emulsões estáveis. O óleo emulsificado é de baixa degradabilidade e pode
aumentar o volume de poluente em até quatro vezes.
•
Dissolução: uma parte dos hidrocarbonetos pode passar em solução para a coluna
de água, dependendo de vários fatores como: composição do óleo, extensão da
mancha, temperatura da água, turbulência e grau de dispersão. Componentes
pesados do óleo cru não se solubilizam, ao passo que os mais leves, como benzeno
e tolueno (hidrocarbonetos aromáticos) têm maior solubilidade em água. Porém
estes componentes são os mais voláteis e são perdidos muitas vezes por
evaporação mais rapidamente que por dissolução.
•
Biodegradação: consiste na degradação do óleo por bactérias e fungos
naturalmente presentes no mar. A taxa de biodegradação é influenciada pela
temperatura, disponibilidade de oxigênio e nutrientes (principalmente nitrogênio e
fósforo). Pesquisas desenvolvidas mostraram que diversos grupos de bactérias e
9
fungos têm habilidade para degradar os componentes de petróleo. As bactérias,
responsáveis pela degradação do óleo estão presentes no mar e tendem a ser mais
abundante em áreas muito poluídas. Após um derramamento de óleo, as bactérias
encontram nos componentes do óleo uma fonte de carbono, iniciando o processo
chamado de biodegradação. Observa-se que este processo ocorre apenas quando
existe água e óleo, sendo praticamente impossível a degradação do óleo na linha
da costa devido à falta de água.
•
Sedimentação: parte do óleo se sedimenta após adesão com partículas em
suspensão ou matéria orgânica presentes na coluna d´água. A maioria dos óleos
crus não afunda sozinho na água do mar devido à sua densidade menor que a da
água. Por isso é necessária a união com outras partículas. Uma vez sedimentado,
os processos de degradação do óleo são drasticamente reduzidos
Os processos de espalhamento, evaporação, dispersão, emulsificação e dissolução são os
mais importantes nos períodos iniciais de um derrame, enquanto que a oxidação, sedimentação e
biodegradação ocorrem a longo prazo. Com o passar do tempo, o óleo no ambiente mudará suas
características iniciais, ficando menos tóxico, mais denso e viscoso e mais persistente (ARAÚJO,
2005). Segundo Pons e Oliveira,(2003), o vento e a ondulação tendem a quebrar a continuidade
da mancha de petróleo, o que contribui para alterar as suas propriedades, comportamento e
toxicidade. Na figura 2 podem ser observados os principais processos acima descritos
10
Figura 2: Processos naturais de degradação do óleo no mar. Fonte: CETESB,
2006.
11
2.5. Efeitos do Petróleo à Biota Marinha
A utilização do petróleo traz grandes riscos para o meio ambiente desde o processo de
extração, transporte e refino, até o consumo, com a produção de gases que poluem a atmosfera.
Alguns dos piores danos são registrados durante o transporte do combustível, quando ocorrem
vazamentos em grande escala de oleodutos e navios petroleiros (CETESB, 2005).
O despejo do petróleo em grandes quantidades afeta o ecossistema e o grau dessa
alteração depende da localização do derrame, do tipo e da quantidade de óleo derramado (MELO
e AZEVEDO, 1997). De acordo com Pons e Oliveira,(2003), os ecossistemas são sempre
afetados em maior ou menor grau tendo como conseqüências alteração do pH, diminuição de
oxigênio dissolvido e diminuição do alimento disponível e, estas atingem sempre maior
relevância em ecossistemas fragilizados ou quando as medidas de combate ao derrame se revelam
insuficientes.
O óleo espalha-se (maré-negra) geralmente de maneira horizontal na superfície da água,
formando manchas que podem chegar a quilômetros de extensão, dependendo do derramamento
(EPA, 1999 apud ARAÚJO, 2005). Por ser menos denso que a água, o petróleo flutua sobre ela;
essa camada impede a penetração de oxigênio do ar e da luz do sol. Sem oxigênio os peixes não
podem viver e, sem a luz, o fitoplâncton e o fitobentos (microalgas e macroalgas que vivem sobre
ou fixas ao substrato) não realizam fotossíntese (PEREIRA, 2006).
No mar o fitoplâncton é o produtor primário mais importante, constituindo a base da
cadeia alimentar marinha. Assim, um derrame de óleo no ambiente faz diminuir a taxa de
fotossíntese das algas e a disponibilidade de oxigênio na água afetando toda a cadeia alimentar.
Os animais nectônicos e bentônicos têm reduzida oferta de oxigênio e morrem de asfixia. Além
disso o petróleo também adere às brânquias dos peixes e crustáceos impedindo-os de respirar
(Figuras 3 e 4) (PEREIRA e SOARES, 2002 ; CETESB, 2000).
12
Figura 3: Petróleo nas guelras dos peixes levando-os à morte. Fonte: Revista Superinteressante
(2000).
Figura 4: Efeito do petróleo nos caranguejos. Fonte: Revista Superinteressante (2000)
13
Além da toxicidade, a temperatura do petróleo sob o sol pode atingir 60º C matando o
fitoplâncton e o zooplâncton marino que alimentam milhares de espécies direta ou indiretamente
(Pons e Oliveira, 2003).
Segundo Laubier (2005), a poluição causada por uma maré negra evolui em três fases.
Durante a fase de extensão, ela se espalha tanto superficialmente quanto em profundidade. É
nessa fase, que dura cerca do dobro do tempo do derramamento, que os organismos marinhos são
envenenados e mortos. Vem, em seguida, a fase de estabilização, na qual a toxicidade nos
diferentes elementos atingidos – água do mar, sedimentos, leitos, organismos vivos, etc. – se
estabiliza. Essa fase dura de alguns meses a mais de 1 ano, de acordo com a composição física e
química do bioma. Por fim, na fase de recolonização, as populações destruídas se reconstroem
progressivamente. Marcada por diversos episódios, essa última etapa se estende por cerca de 10
anos nas latitudes temperadas.
Por permanecer na superfície ou próximo desta, nas fases iniciais do derrame, o óleo
impregna as aves e as suas penas ganham permeabilidade, como resultado, os animais ficam mais
pesados e afogam-se. (Figura 5). O óleo também se adere à pele dos mamíferos marinhos
contaminando-os (Figura 6). Também ocorrem mortes por envenenamento devido à ingestão
direta de petróleo ou inalação dos compostos aromáticos na atmosfera (Figura 7) (PEREIRA,
2006).
Figura 5: Ave marinha coberta pelo petróleo.
Fonte: CETESB (2006).
14
Figura 6: Mamífero marinho envenenado por óleo.
Fonte:CETESB (2006)
Figuras 7: (A) Ave marinha morta coberta por petróleo; (B) Ave
marinha envenenada por petróleo; (C) Caranguejo coberto de petróleo;
(D) Foca coberta de petróleo. Fonte: NATURLINK (2006).
Os derrames petrolíferos também provocam efeitos climáticos prejudiciais. A capa oleosa
que se forma à superfície impede as trocas de água entre o oceano e a atmosfera, causando uma
diminuição na precipitação. Simultaneamente, a atmosfera fica carregada de partículas de
hidrocarbonetos, agravando, globalmente, o problema das chuvas ácidas (PEREIRA, 2006).
15
Ao se tornar mais denso ao longo do processo de intemperismo o óleo afunda, cobrindo as
comunidades biológicas que vivem sobre o assoalho marino, gerando um impacto físico,
soterramento, e também, químico - intoxicação dessas comunidades com hidrocarbonetos
(CETESB, 2002). Segundo Laubier (2003), quanto mais fina for a emulsão resultante, mais
facilmente ela penetra nos diferentes nichos do ecossistema submarino.
A estrutura do ecossistema de águas abertas é extremamente influenciada e controlada
pelo suprimento de nutrientes aos produtores primários (fitoplâncton), determinando o tamanho,
composição, abundância e diversidade destes produtores, os quais suportam todo o resto da
cadeia alimentar. Uma vez que o fitoplâncton ocorre caracteristicamente na camada mais
superficial do oceano, é justamente esta a fração mais susceptível ao petróleo, com alto risco de
exposição ao produto (API, 1985).
Muitos efeitos sub-letais podem ocorrer em diferentes escalas na comunidade pelágica,
causando algum grau de perturbação no equilíbrio das mesmas. Um dos principais efeitos subletais é a bioacumulação de hidrocarbonetos através da teia alimentar. Uma vez que vários
componentes do fitoplâncton ingerem pequenas partículas de óleo, transferindo os contaminantes
aos seus predadores e assim por diante até os níveis tróficos mais elevados da cadeia alimentar
(CETESB, 2002).
Em águas rasas e próximas à costa como baías, canais e enseadas abrigadas, os efeitos do
óleo nas comunidades pelágicas pode ser bem maior devido à circulação reduzida destes
ambientes e à maior permanência do petróleo em contato com os organismos. A contaminação
nestes casos afeta especialmente o fitoplâncton, zooplâncton e as populações de peixes(API,
1985).
Quanto ao aspecto da toxicidade, os impactos às comunidades biológicas variam de
acordo com o grau da toxicidade de cada tipo de óleo e ao período de exposição ao óleo
(CETESB, 2002).
16
2.6. Vulnerabilidade dos Ambientes Marinhos e Costeiros ao Impacto por Petróleo
Os efeitos do petróleo nos ecossistemas marinhos são dependentes de algumas variáveis já
descritas tais com o tipo de óleo, condições climáticas no momento do derrame e nas primeiras
horas após o mesmo, bem como das características físico-químicas e biológicas locais. De acordo
com Araújo (2005), os ecossistemas costeiros são altamente dinâmicos e de grande fragilidade. A
menor perturbação poderá desencadear um desequilíbrio irreversível para as comunidades neles
estabelecidas.
De forma geral, as regiões costeiras mais abrigadas tendem a reter mais o petróleo que as
áreas abertas que permitem uma dispersão mais rápida (PEREIRA e SOARES, 2002). Portanto os
ecossistemas costeiros, apresentam maior grau de vulnerabilidade aos impactos provocados por
um derrame de petróleo quando comparados com áreas abertas do oceano (CETESB, 2002).
Estes últimos não têm sido contemplados nos índices e classificações dos ecossistemas em termos
de vulnerabilidade ao petróleo, principalmente devido ao fato de haverem poucos estudos sobre o
comportamento destas comunidades em contato com o petróleo (API, 1985).
Segundo a CETESB (2006), vulnerabilidade é um conceito geral que envolve vários
fatores, entre eles: sensibilidade das populações atingidas, tempo de permanência do óleo no
ambiente, suscetibilidade do ambiente a derrames de óleo, capacidade e tempo de recuperação a
formas de limpeza possíveis.
Levando-se em conta estas diferenças, vários autores se preocuparam em definir uma
escala relativa de vulnerabilidade dos ecossistemas costeiros aos derrames de petróleo. Entre os
mais conhecidos índices de vulnerabilidade estão os de GUNDLACH e HAYES (1978), sendo
que este último é o mais utilizado atualmente para ecossistemas costeiros (Quadro I) (CETESB,
2002).
17
Quadro I: Índice de vulnerabilidade dos ecossistemas costeiros. Segundo Gundlach &
Hayes, (1978 apud CETESB, 2002).
VULNERABILIDADE DOS ECOSSISTEMAS COSTEIROS (GUNDLACH & HAYES,
1978)
Índice*
Ambiente
1
Águas abertas
2
Costões expostos
3
Praias de cascalho
4
Praias de areia grossa
5
Praias de areia fina
6
Praias lodosas
7
Planícies de maré
8
Águas estuarinas / abrigadas
9
Costões abrigados
10
Recifes de Coral
11
12
Marismas
Manguezais
* valores em ordem crescente de vulnerabilidade. Fonte: CETESB, 2002.
Dentre os ecossistemas marinhos mais sensíveis ao impacto provocado por petróleo estão
os manguezais, recifes de corais, planícies lamosas e outros sistemas de baixo hidrodinamismo
(CETESB, 2003).
A seguir descreveremos alguns dos ecossistemas marinhos e costeiros que se destacam em
termos de importância ecológica e que apresentam maior vulnerabilidade aos impactos
provocados por derrame de petróleo, segundo apresentado no Quadro I.
18
2.6.1. Estuário e Manguezal:
Os estuários podem ser definidos geograficamente como uma região costeira
parcialmente fechada, onde a água doce de um rio e a água do mar encontram-se e misturam-se.
Tais regiões estão normalmente sujeitas à forte influência da bacia de drenagem do rio e
possuem, em regiões equatoriais e tropicais um tipo característico de vegetação denominada
manguezal (SCHMIEGELOW, 2004). Estuários e manguezais são ecossistemas geralmente
muito produtivos por causa dos subsídios do fluxo da água e devido a abundância de nutrientes
(ODUM, 2002).
Segundo Schaeffer-Novelli (1995) o manguezal é um ecossistema costeiro de transição
entre o ambiente terrestre e marinho, constituído por espécies vegetais lenhosas típicas, adaptadas
à flutuação de salinidade e caracterizadas por colonizarem sedimentos predominantemente
lodosos, com baixos teores de oxigênio e rico em matéria orgânica.
Os estuários, muitas das vezes, são chamados de berçário da natureza por serem
importantes áreas de desova de diversos vertebrados e invertebrados marinhos. Além disso são
áreas de criação de larvas jovens, constituindo também local de alimentação para espécies
marinhas adultas e até para as de água-doce (SCHMIEGELOW, 2004.).
Os mangues ocorrem próximos à costa e podem ser impactados por óleo de refinarias ou
terminais ou por óleo de derramamentos que ocorrem distantes da costa (CEITA, 2005). O
petróleo causa uma série de alterações nos bosques de mangue. A recuperação deste ecossistema
é lenta, podendo levar décadas. (RODRIGUES, 1997).
A reação do manguezal a um derrame depende da quantidade do petróleo derramado, do
tipo do óleo, de sua toxicidade e do tempo de permanência do óleo neste ambiente. No petróleo
existem constituintes tão tóxicos que eliminam os micróbios do solo essenciais para o ciclo de
nutrientes dos manguezais (WAGENER et al 2002).
Segundo Wagener e colaboradores (2002), a degradação do petróleo no solo é muito
lenta, fato que se torna mais crítico no solo do manguezal. O óleo pode permanecer no solo do
19
manguezal por anos. Os crustáceos que se enterram nesse substrato também levam óleo para
debaixo do solo, além de se exporem aos poluentes, com riscos para a alimentação humana.
Os manguezais são ambientes dos mais sensíveis à poluição por óleo (CARLBERG,
1980), por isso são prioritários quanto à defesa no caso da ocorrência de um derramamento
(WAGENER et al., 2002). A presença de óleo nos manguezais afeta as árvores pois impede que
respiração seja realizadas através das lenticelas presentes nos pneumatóforos dos gêneros
Avicennia e Laguncularia e nos rizóforos da espécie Rizophora mangle. Estas raízes ficam
cobertas pela película de óleo prejudicando as árvores. Desta forma o óleo é capaz de matar
rapidamente plantas adultas de manguezal suprimindo assim todo o balanço do ecossistema já
que os vegetais vão perdendo as folhas não realizando, assim, a fotossíntese. Além disso, as
características e dinâmica das plantas jovens ou recém-germinadas são afetadas e são justamente
essas plantas jovens que determinam o potencial de regeneração do ecossistema frente a
perturbações e tensores como o próprio óleo (WAGENER et al., op cit.).
A presença de óleo vai afetar outras comunidades entremarés, eliminando completamente
algas, caranguejos, moluscos e outros invertebrados, muitas vezes de interesse econômico.
Também são afetadas populações de peixes e crustáceos que utilizam o manguezal
exclusivamente como criadouro de larvas. Os efeitos da destruição dos manguezais podem ser
detectados por toda a cadeia alimentar costeira (WASSERMAN e CRAPEZ, 2005). Os animais
que habitam este ecossistema podem morrer em poucos dias sem poder respirar outros vão se
intoxicar aos poucos ao ingerirem folhas e serem contaminados (PONS e OLIVEIRA, 2003). A
poluição por petróleo no manguezal afeta diretamente outros ambientes adjacentes que dependem
da fertilidade deste ecossistema (WAGENER et al, op cit. ).
Wasserman e Crapez (2005) mostraram a ordem de grandeza temporal de cada um dos
processos de degradação do ecossistema manguezal provocado pelo derramamento de óleo. Estas
informações são apresentadas no quadro II.
20
Quadro II: Ordem de grandeza temporal de cada um dos processos de degradação provocada por óleo
em ambiente de manguezal segundo Wasserman e Crapez (2005).
Tempo de Exposição
e Natureza do
Impacto
Agudo
Impacto Observado
0 a 15 dias
Morte de aves, tartarugas, peixes e invertebrados
15 a 30 dias
Desfoliação e morte de pequenas árvores de mangue e desaparecimento das
comunidades associadas às raízes como mexilhões, ostras e macroalgas.
Crônico
30 dias a 1 ano
Desfoliação e morte de árvores maiores (1 a 3 m), danos irreparáveis
aparecem nos tecidos das raízes.
1 a 5 anos
Morte das grandes árvores de mangue (mais de 3 m). Nas sobreviventes
ocorre perda das raízes sujas de óleo e crescimento de outras raízes (mas
freqüentemente deformadas). Tem início a re-colonização das áreas afetadas
pelo óleo.
1 a 10 anos
Redução da produção de serrapilheira, redução da capacidade de
reprodução e redução da sobrevida das plântulas.
10 a 50 anos (?)
Recuperação completa.
Segundo Ceita (2005), o melhor tratamento para o manguezal afetado por óleo é manter a
vegetação com os hidrocarbonetos e não lavá-la pois o tratamento aumentará o dano.
2.6.2. Costão Rochoso e Praia Arenosa
Os costões rochosos são considerados um dos ecossistemas mais importantes dos habitats
costeiros por abrigarem grande número de espécies de grande importância ecológica e
econômica, tais como mexilhões, ostras, crustáceos e peixes. São locais de alimentação,
crescimento e reprodução de um grande número de espécies por receberem grande quantidade de
nutrientes provenientes dos sistemas terrestres, apresentando grande biomassa assim como
elevada produção primária devido à presença de micro e macro algas bentônicas (PEREIRA e
SOARES, 2002).
21
Em costões rochosos atingidos por petróleo, processos como hidrodinamismo e marés são
fatores importantes a serem levados em consideração. O grau de contaminação do entre-marés
está ligado à maré atuante durante o evento - maior exposição em marés vivas ou de sizígia
(CETESB, 2002).
Costões expostos à ação das ondas são pouco sensíveis a derrames já que o óleo é retirado
rapidamente do ambiente pelo próprio hidrodinamismo local. Já os abrigados da ação das ondas
(Figura 8) constituem ambientes sensíveis já que o tempo de residência do óleo pode ser muito
alto. A permanência do óleo aderido aos organismos impede que os mesmos exerçam suas
funções biológicas normais. O óleo impregnado às conchas aumenta o peso do animal
desalojando-o do substrato. Mesmo a coloração preta do óleo, age de forma a aumentar a
temperatura corpórea do organismo (CETESB, 2002).
Figura 8: Costão rochoso coberto pelo petróleo. Fonte:Terra (2006).
De acordo com Maglioca (1987), praias arenosas e lodosas são tipos de costa baixa, no contato
terra-água, formada por acúmulo de areia, inclusive seixos. Delimitadas de um lado pela linha de
maré baixa, e do outro, por uma mudança do material (solo) ou por uma expressão fisiográfica,
22
tal como uma duna, falésia ou pela linha de vegetação permanente. As praias arenosas estão entre
os ecossistemas marinhos de menor produtividade (SCHIMIEGELOW, 2004).
Nas praias o ambiente é tridimensional, ou seja, os organismos ocupam a superfície (areia
ou lama), enterram-se no substrato e vivem nos espaços entre os grãos (fauna intersticial). Nas
praias, a maioria dos organismos são móveis (SCHIMIEGELOW, 2004).
Nas praias arenosas o gradiente de vulnerabilidade é inversamente proporcional ao grau
de hidrodinamismo, sendo que praias expostas à ação das ondas podem ser limpas naturalmente
em poucas semanas, enquanto que em praias abrigadas (geralmente lodosas, ou areno-lodosas) o
óleo pode permanecer por décadas afetando todo o sistema (API, 1985).
Uma vez que o petróleo atinge o sedimento das praias (Figura 9), especialmente na zona
de entremarés, todos os componentes da comunidade podem ser direta ou indiretamente afetados
(epifauna, meiofauna, endofauna). Os danos mais observados durante um derrame de óleo na
zona entremarés são conseqüência do recobrimento e da intoxicação (CETESB,2002).
Figura 9: Petróleo cobrindo a areia de uma praia (Ortega, 2003).
23
2.6.3. Recife de Coral
Os recifes de corais estão entre as comunidades bentônicas mais complexas. São
constituídos de pequenos pólipos pertencentes à classe dos cnidários, que constroem colônias de
formas delicadas ou extremamente robustas. Os recifes de coral São encontrados em diversas
regiões do planeta, crescem em abundância em áreas onde a água é quente, limpa e clara, e haja
grande iluminação solar. Estima-se que mais de 3000 espécies de animais possam habitar um
único recife (SCHIMIEGELOW, 2004).
Os recifes de coral são encontrados tipicamente em águas rasas. Há também aqueles que
se encontram parte do tempo expostos durante a maré baixa. Estes são muito susceptíveis a
derrames já que o óleo pode alcançar a zona costeira durante marés baixas e atingi-los
diretamente (CETESB, 2002).
O tipo de óleo é um fator muito importante a ser considerado. Óleos leves, por
apresentarem frações tóxicas solúveis, exibem elevado perigo aos recifes de águas rasas. Óleos
mais grossos dificilmente entram em contato com corais das regiões do sublitoral (RPI, 1990).
Recifes localizados próximos ao infralitoral, em regiões de elevado hidrodinamismo,
exibem menor susceptilidade do que recifes localizados em águas calmas. Nestes últimos, o
tempo de permanência do óleo pode atingir longos períodos. Em recifes de águas mais profundas,
entretanto, a grande agitação da água pode favorecer a deposição do óleo para o fundo, podendo
vir a atingi-los. Recifes de infralitorais de águas calmas raramente são atingidos quando se trata
de derrames de óleo do tipo pesado (RPI, 1990).
Águas com altas temperaturas, necessárias ao desenvolvimento de corais, asseguram um
rápido crescimento de microorganismos capazes de degradar hidrocarbonetos. Entretanto, a
natureza calcária formadora do esqueleto desses animais é um fator agravante pois nesse
substrato o petróleo adere e é absorvido. Dentro desse contexto, o óleo parece persistir nestes
ambientes por longos períodos, apesar das condições de temperatura serem favoráveis ao
processo de biodegradação (CETESB, 2002).
24
Os próprios efeitos do óleo podem ser maiores em ambientes tropicais (águas com
temperaturas mais elevadas), onde o produto é geralmente mais solúvel. O aumento na
concentração das frações hidrossolúveis leva muitos organismos a uma rápida incorporação do
contaminante (API, 1985). O fato de os recifes de coral necessitarem de muita luz para o seu
desenvolvimento os torna mais vulneráveis aos derrames de óleo, uma vez que o recobrimento
afeta diretamente a incidência luminosa sobre os corais (CETESB, 2002).
Recifes de coral são ambientes sensíveis, e os derrames podem causar impactos
desastrosos. Segundo Gundlach e Hayes (1978 apud CETESB, 2002), os recifes de coral são
classificados como medianamente, recifes localizados em maiores profundidades, e altamente
sensíveis , recifes de águas rasas (CETESB,2002).
Estudos a longo prazo em corais cronicamente impactados por óleo, têm demonstrado que
a recuperação desses ambientes é muito lenta. Cuidados, então, devem ser tomados de modo a
prevenir a contaminação dos recifes em situações potenciais de impactos por óleo (OCIMF,
1980).
2.7. Conseqüências Econômicas dos Derrames de Petróleo nos Ambientes Marinhos
O homem é prejudicado de várias maneiras, além, é claro, da perda financeira de um
combustível que está cada vez mais escasso e mais caro.Derrames de óleo podem ter um sério
impacto econômico nas atividades costeiras e exploração dos recursos do mar. Quanto às
atividades pesqueiras comerciais, sabe-se que um derrame de petróleo pode contaminar
equipamentos de pesca e instalações de maricultura. As populações de peixes adultos raramente
são afetadas devido a grande mobilidade dos mesmos. A contaminação destas áreas leva a
insatisfação do público pela interferência nas atividades recreacionais tais como pesca, mergulho,
natação e navegação (PONS e OLIVEIRA, 2003).
Algumas indústrias precisam de suprimento de água do mar para suas operações normais
e podem ser afetas por estes derrames. Estações geradoras de energia elétrica, em particular, são
25
muitas vezes localizadas perto da costa, principalmente para ter acesso a grandes quantidades de
água requeridas para o resfriamento de suas unidades (PONS e OLIVEIRA, 2003).
As rotinas das atividades dos portos tais como balsas e serviços de comportas também
podem ser interrompidas, principalmente se for derramado petróleo leve, gasolina ou outros
materiais inflamáveis devido o perigo de incêndio (PONS e OLIVEIRA, 2003).
Elevados custos de limpeza da maré negra e riscos intrínsecos à saúde pública, como as
mortes causadas por explosões e incêndios, intoxicação causada pela ingestão de alimentos
contaminados ou problemas dermatológicos e inflamação dos olhos, causadas pelo contato direto
com o óleo além de que, alguns compostos que formam o óleo cru podem causar câncer no
homem (CAMPOS, 2003).
Segundo Dutra e colaboradores (2003), os efeitos de um derramamento podem afetar a
sustentabilidade das comunidades costeiras que dependem dos recursos pesqueiros da região
afetada para sobreviverem. O impacto também afeta as atividades turísticas devido à alteração da
paisagem natural pelas indústrias petrolíferas ou mesmo um cenário crítico ocasionado por um
incidente de derramamento de óleo, descaracterizando o cenário natural que é o principal atrativo
dos turistas.
26
3. Conclusões
A partir do presente trabalho, podemos considerar que os derramamentos de petróleo nos
ecossistemas marinho e costeiro são os maiores responsáveis pelos impactos ambientais destes
ambientes gerando um transtorno de grandes proporções não só às comunidades marinas e às
cadeias tróficas mas também ao homem.
O petróleo possui em sua composição química grande quantidade de compostos
inorgânicos com elevada toxicidade para os organismos vivos.
Foi estudado também que os ecossistemas costeiros são extremamente vulneráveis ao
derramamento de óleo principalmente os manguezais que são ecologicamente considerados o
grande berçário da natureza.
A costa é mais vulnerável devido ao baixo hidrodinamismo, fazendo com que a mancha
permaneça por mais tempo. Já no mar os efeitos aparentam menores devido ao hidrodinamismo,
fazendo com que a mancha se espalhe.
Não importa a dimensão do acidente: mesmo sendo grande ou pequeno, o vazamento
provoca um estrago muitas das vezes irreversível e fatal para os animais e vegetais que vivem
tanto no mar quanto na costa. Muitos dos animais e vegetais morrem devido à intoxicação pelos
componentes químicos presentes no petróleo.
Este tipo de impacto continua ocorrendo mesmo com toda a discussão gerada em torno
desse problema ambiental.
Com este estudo foi possível concluir o quanto o petróleo é prejudicial ao meio ambiente
levando-nos a refletir se, de fato, este produto é tão relevante para todos nós mesmo com toda a
importância econômica dada a ele.
27
4. Referências Bibliográficas
ALVES, J. Petróleo na Água: Problemas e Soluções. Monografia. UNISUAM. Rio de Janeiro,
2005. 29p.
API, American Petroleum Institute. Oil Spill Cleanup: Opitions for minimizing adverse
ecological impacts. Health and enviromment Science Department, 1985
ARAUJO, R. S. Determinação do Índice de Sensibilidade do Litoral ao Derramamento de Óleo
(ISL) para as Regiões Norte e Centro – Norte do Estado de Santa Catarina (SC).
Universidade do Vale do Itajaí. Curso de Oceanografia. 190p. Itajaí.2005.
CARLBERG, S. R. Oil pollution of the marine environment with emphasis on estuarine
studies.1980.
CARVALHO, M. Mapeamento da sensibilidade ao impacto por óleo de um segmento da costa
entre os estados do Rio Grande do Norte e Ceará utilizando Imagens ETM+/LANDSAT 7 e
Geoprocessamento.253 p Dissertação defendida em 15 de abril de 2003. INPE. São José
dos Campos.
CEITA, G. O. Poluição Provocada por Petróleo. Trabalho apresentado em seminário UFRJ em
22/12/2000.
CONAMA. Resolução nº 001 de 23 de janeiro de 1986;
CETESB. Derrames de Óleo no mar e os Ecossistemas Costeiros. Companhia de Tecnologia de
Saneamento Ambiental. Curso de Derrames de Óleo no Mar e Ecossistemas Costeiros.269
p. São Paulo,2002
DUTRA, L.D.; MENEZES, P.R. Realce de Imagens Coloridas Digitais utilizando-se de
transformação no espaço de cores. São José dos Campos, INPE, 1988.
FEEMA/PETROBRAS. Vocabulário Básico de Meio Ambiente. Rio de Janeiro, 246p. 1990.
FERRÃO, C. M. Derramamentos de Óleo no Mar por Navios Petroleiros. 36p. Trabalho de
conclusão de curso apresentado a COPPE/UFRJ – Pós-Graduação Executiva em Meio
Ambiente, em abril de 2005.
LAUBIER. L. Diversidade da maré negra. Scientifc American Brasil. (39). 2003.
MAGLIOCCA, A. Glossário de oceanografia. Nova Estela. Universidade de. São Paulo. 335p.
1987.
MELO, I. S. de; AZEVEDO, J. L. Microbiologia Ambiental. Embrapa – CNPMA. 440p., 1997.
28
MOREIRA, Antonio C.M.L. Conceitos de Ambiente e de Impacto Ambiental aplicáveis ao meio
Urbano. Material didático de Pós-Graduação AUP 5861 – Políticas Públicas de Proteção do
Ambiente Urbano. São Paulo, 1999
NICODEM, D. E.; Fernandes, M. C. Z.; Guedes, C. L. B. & Correa, R. J. Photochemical
Processes and the Environmental Impact of Petroleum Spills. Biogeochemistry, v. 39, n.2,
p. 121., 1997.
OCIMF – Oil Companies Internacional marine Fórum. Their Fate and Impacto n the Marine
Environments. Witherby & co. 27p. England, 1980.
ODUM, Eugene P. Ecologia. Editora Guanabara Koogan. Rio de Janeiro, 2002.
ONU. Lei do Mar, art 1º. Convenção da ONU de 23 de janeiro de 1982. Jamaica.
ORTEGA, Fernando. Associacion Espanõla de Fotógrafos de Natureza. 2003.
PEREIRA, Ângela. Marés negras: o mar ameaçado. Artigo
www.naturlink.pt/canais/artigo. Acessado em 30 de setembro de 2006.
disponível
em
PEREIRA, Renato Crespo e SOARES, Abílio Gomes. Biologia marinha. Editora Interciência.
Rio de Janeiro, 2002.
PEREIRA, R. Impactos Ambientais em Desastres marítimos. Funenseg ed. Rio de Janeiro, 2003.
____________ A questão ambiental, desenvolvimento e sustentabilidade. Funenseg ed. Rio de
Janeiro, 2002.
PETROBRAS. Tipos de hidrocarbonetos. Seção Sala de Aula. 2004. Disponível em
www.petrobrás.com.br. Acessado em 10 de novembro de 2006.
PONS, Ana M.A., OLIVEIRA, Isamara. Derramamentos de Petróleo e Conseqüências para o
Meio Ambiente. Artigo publicado em 2003. Disponível em www.arvore.com.br/artigos.
Acessado em 19 de outubro de 2006.
RODRIGUES, F. O. Derramamento de óleo no ecossistema manguezal. Dissertação de mestrado,
Faculdade de Saúde Pública USP , São Paulo, 1987. 138p.
RPI – Research Planning Institute. Coastal processes field manual for oil spill assessment.
Gundlach, E.R & Hayes, E.R. (eds), 1978.
______________
The
sensivity
of
coastal
wildlife to spilled oil on Tampa Bay region. RPI (org). 1984.
environments
and
SCHMIEGELOW, João M.Miragaia. O Planeta Azul. Uma introdução às Ciências marinhas.
Editora Interciência. Rio de Janeiro, 2004.
29
SHAEFFER-NOVELLI, Y. Manguezal ecossistema entre a terra e o mar.Caribbean Ecological
Research. São Paulo. 63p. 1995.
WAGENER, Ângela de Luca, SCOFIELD, Arthur L. et al. Monitoramento dos Danos Causados
pelo Derramamento de Óleo em Manguezais: desenvolvimento de novas abordagens. PUC/
RJ. 2002.
WASSERMAN, Julio César F.A. e CRAPEZ, Miriam Araújo. Efeitos da poluição por óleo em
sedimentos da área de proteção ambiental de Guapimirm, Rio de Janeiro. 35 p.
Universidade Federal Fluminense. Rio de Janeiro, 2005.
htpp://www.adital.com.br/site/noticias/11769.asp?lang=PT&cód=11769. Acessado em 30 de
agosto de 2006.
htpp://www.sosterravida.hpg.ig.com.br/poluição.html. Acessado em 02 de setembro de 2006.
htpp://www.cetesb.sp.gov.br/emergência/acidentes/vazamento/impactos/efeitos.asp.
em 11 de setembro de 2006.
Acessado
htpp://www.feema.org.br/ Acessado em 11 de setembro de 2006.
htpp://poluição_ambiental.vilabol.com.br/seminários/poluição_petroleo.htm. Acessado em 15 de
setembro de 2006.
htpp://paginas_terra.com.br/lazer/staruck/água.htm. Acessado em 15 de novembro de 2006.
http://www.jornaldomeioambiente.com.br/JMA-dicionario_ambiente/index.asp . Acessado em 17
de novembro de 2006.
http://www.ecolnews.com.br/dicionarioambiental/ . Acessado em 17 de novembro de 2006.
http://www.ibama.gov.br/siucweb/guiadechefe/guia/u-3corpo.htm. Acessado em 02 de novembro
de 2006.
http://www.naturlink.pt/canais/Artigo.asp?iArtigo=4433&iLingua=1. Acessado em 30 de
setembro de 2006.
htpp://www.rainhadapaz.gov.br. Acessado em outubro de 2003.
Download