O SENTIDO DA SOCIOLOGIA PARA A - UNESP

Propaganda
O SENTIDO DA SOCIOLOGIA PARA A FORMAÇÃO DOS ESTUDANTES DO
ENSINO MÉDIO. Nayara Alves Batista, Sueli Guadelupe de Lima Mendonça.
Universidade Estadual Paulista – UNESP FFC Marília. Pibid/Capes.
[email protected] [email protected]
Eixo Temático: Teoria Histórico-Cultural e Educação
RESUMO
O objetivo desta pesquisa em andamento consiste na problematização da produção de
sentido para estudantes do ensino médio e suas implicações na relação ensinoaprendizagem, na sociedade capitalista atual. A escola é tida historicamente como o
local onde se ensina e se aprende - esta é a sua função social -, mas esta instituição vem
passando por crises de significados e sentidos. O processo de ensinar tem se tornado
estranho aos professores, assim como o processo de aprender, aos alunos. Ou seja, a
ausência de sentido dos alunos na relação ensino-aprendizagem acarreta, entre outras
consequências, a não concretização da ação pedagógica. Esta crise atual advém do
processo histórico do sistema educacional brasileiro, que com seu diagnóstico estático e
direcionado ao sistema econômico capitalista, não procura identificar e agir de forma
eficaz nas soluções para o problema da ausência da produção de sentido nos estudantes
– crise de sentidos no espaço escolar -, acarretando na falta de conexão funcional da
instituição escolar com o meio social na qual está inserida – crise de significados -, já
que a mesma é instituição social, com um papel social definido. Mas, será que a escola
está esgotada, e a ela não cabe mais a função de produção e socialização de
conhecimentos? Existem alternativas para o problema da ausência da produção de
sentido nos estudantes do Ensino Médio da escola pública atual? A Sociologia pode
contribuir para a formação de estudantes do Ensino Médio?
Palavras-chave: Sentido da Sociologia. Formação. Ensino Médio.
A ESCOLA E O SENTIDO
Na sociedade capitalista, a escola tornou-se a instituição responsável pelo
oferecimento de educação formal, com a tarefa de reproduzir a divisão social do
trabalho e os valores ideológicos dominantes, já que a instituição escolar nasce com a
1
Revolução Industrial, junto com as fábricas. As reformas burguesas do século XVIII
exigiram uma instrução universal e a reorganização do saber que acompanhasse o
surgimento da ciência e da indústria moderna, carregando os ideais de liberdade,
igualdade e fraternidade da Revolução Francesa e colocando a educação como direito
do cidadão e dever do Estado, ideal não alcançado pela maioria da população na
sociedade capitalista. Sendo assim, foi atribuído à escola, o papel de produzir um
modelo de homem que rompesse com a ordem feudal anteriormente estabelecida e fosse
disciplinado ao novo modo de vida, onde a transmissão de determinados conhecimentos
é fundamental para o modo de produção capitalista. A escola, neste contexto, teve a
definição de seu papel social como transmissora de conhecimentos com base nos
moldes estruturais e ideológicos fabris, pois era necessária uma nova forma de
sociabilidade, novos valores, modos de ser e de viver. Pode-se dizer que a escola
burguesa representa um avanço em relação à sociedade feudal, já que propõe a
transmissão de conhecimentos para todos os cidadãos - o acesso das massas aos
conhecimentos historicamente construídos pela humanidade -, mas as contradições do
sistema capitalista já determinam as restrições impostas a essa massa, que se constitui
em condições de exploração (MENDONÇA, 2011).
O projeto burguês de educação é caracterizado pelo elemento de racionalização da
vida econômica, da produção, do tempo e do corpo dos trabalhadores, pois para estes é
dada uma escola destinada a oferecer as funções mais básicas do conhecimento - ler,
escrever e contar -, contrária a escola mais clássica e científica, destinada às elites. Este
projeto educacional, voltado para o sistema econômico capitalista, acaba por não
conceber a educação como uma forma de atividade e desenvolvimento humanos,
desconsiderando o sentido necessário a ser estabelecido na ação pedagógica e o
processo de e apropriação dos conhecimentos pelos estudantes. Ou seja, a escola tem se
mostrado distante dos jovens que a frequentam, pois não tem conseguido suprir as suas
necessidades mais elementares – apropriação dos conteúdos curriculares-, já que os
conhecimentos ofertados se dão de forma rasa, fragmentada e desconexa da realidade
social destes sujeitos, restringindo-se assim à sua função de socializadora – importante
para o desenvolvimento da sociabilidade juvenil-, em detrimento da produção e
sociabilização dos conhecimentos científicos, que assim, como o espaço escolar,
acabam por ser negados pelo jovem que a frequenta, não sendo reconhecidos pelo
mesmo como elementos fundamentais e constitutivos de sua formação. Isto se reflete
2
diretamente na produção de sentido para os mesmos e na relação ensino-aprendizagem,
já que professores e estudantes não se reconhecem como sujeitos no espaço escolar, que
acaba por se tornar estranho e desumanizador.
A pergunta inicial a se fazer é: no que consiste o sentido e como ele se relaciona ao
processo de aprendizagem? Uma das definições possíveis para o sentido se dá como “o
vínculo entre o indivíduo e o mundo objetivo, materializado nos significados e o mesmo
se efetiva por meio de mediações que consigam estabelecer relações entre a prática
social maior e as práticas dos indivíduos, a partir de suas necessidades específicas”
(MENDONÇA, 2011), sendo estas relações orientadas por um motivo, que as gera e
mantem os sujeitos em atividade, pois:
A produção de sentido na aprendizagem não pode ser um retrato de
apenas um momento da sala de aula, mas configura-se como sentidos
subjetivos que representam uma síntese complexa de diferentes
espaços de vida do estudante, no que está implicada a vida dentro e
fora da escola. O equívoco da escola, na forma tradicional de sua
organização, é não considerar isso e insistir em manter-se longe da
vida que acontece fora de seus muros, ao que os alunos espiam de
forma muitas vezes passiva, ou mostram-se inconformados e
indisciplinados. O comportamento do aluno deve ser analisado neste
mesmo apoio teórico, ou seja, na ideia de que a ação do sujeito não é
uma característica ou um traço de sua personalidade, mas representa
uma configuração que é gerada a partir da produção de sentidos no seu
espaço de vida, da sua subjetividade. (TACCA, 2006, p.69)
Pensar a escola sociologicamente requer considerar os aspectos sociais,
culturais, estruturais e políticos permeados nesta instituição de ensino, que socialmente
possui o seu significado – local de ensino e aprendizagem -, mas que pode produzir
sentidos diferentes frente aos sujeitos que ali estão inseridos e que passam ali ainda, a
maior parte de suas vidas.
O sentido – aplicado nesta pesquisa ao espaço escolar e em particular aos sujeitos da
aprendizagem -, é trabalhado na perspectiva histórico-cultural, tendo como elemento
fundamental para o processo de aprendizagem a atividade mediadora (VIGOTSKI,
2001) dos sujeitos responsáveis pela educação escolar, sendo esta:
A condição da produção da própria existência do homem, uma vez
que viabiliza a satisfação de suas necessidades como gênero humano,
e, por conseguinte, propicia a produção de cultura. Neste sentido, é no
âmbito histórico-cultural, que está a origem do desenvolvimento
humano. (SERRÃO, 2006, p.103)
3
A atividade mediadora pode se materializar em algumas ações nas relações
sociais, elemento que traz implicações fundamentais para a produção de sentido nos
estudante, pois estabelecendo-se uma relação afetivo-cognitiva entre professores e
estudantes, pode-se gerar nos sujeitos do processo de ensino e aprendizagem motivos e
necessidades para que estejam em atividade no espaço escolar e principalmente na sala
de aula.
As relações sociais projetam a força de motivos e necessidades dos
sujeitos, o que nos remete ao entendimento da unidade cognição-afeto,
sem o que a aprendizagem não se estabelece. Experiências e vivências
pessoais tornam-se integradoras dos processos de aprendizagem e
desenvolvimento, no que nos aproximamos da compreensão da
produção, sentido subjetivo contínuo do ser humano. (TACCA, 2006,
p.60)
Outro elemento importante para a atividade mediadora é a tomada do espaço
escolar como sociocultural – considerando fundamentais as experiências e vivências
dos sujeitos, que são ativos no processo educativo, sendo estas integradoras do processo
de aprendizagem e da produção de sentido subjetivo do ser humano.
Uma outra forma de compreender esses jovens que chegam à escola é
apreendê-los como sujeitos socioculturais. Essa outra perspectiva
implica em superar a visão homogeneizante e estereotipada da noção
de aluno, dando-lhe um outro significado. Trata-se de compreendê-lo
na sua diferença, enquanto indivíduo que possui uma historicidade,
com visões de mundo, escalas de valores, sentimentos, emoções,
desejos, projetos, com lógicas de comportamentos e hábitos que lhe
são próprios. O que cada um deles é, ao chegar à escola, é fruto de um
conjunto de experiências sociais vivenciadas nos mais deferentes
espaços sociais. (DAYRELL, 1996, p.140).
A produção de sentido constitui-se como fator essencial no processo de
aprendizagem e nas relações que o sujeito estabelece na escola e na sua vida.
A produção de sentido na aprendizagem não pode ser um retrato de
apenas um momento da sala de aula, mas configura-se como sentidos
subjetivos que representam uma síntese complexa de diferentes
espaços de vida do estudante, no que está implicada a vida dentro e
fora da escola. O equívoco da escola, na forma tradicional de sua
organização, é não considerar isso e insistir em manter-se longe da
vida que acontece fora de seus muros, ao que os alunos espiam de
forma muitas vezes passiva, ou mostram-se inconformados e
indisciplinados. O comportamento do aluno deve ser analisado neste
mesmo apoio teórico, ou seja, na ideia de que a ação do sujeito não é
uma característica ou um traço de sua personalidade, mas representa
uma configuração que é gerada a partir da produção de sentidos no seu
espaço de vida, da sua subjetividade. (TACCA, 2006, p.69)
4
Tratando ainda do sentido da Sociologia na aprendizagem, é importante destacar
que as ações na escola não se dão apenas por meio da atividade em sala de aula, mas
também pela consideração de aspectos como a localização da instituição, suas condições
estruturais e as relações sociais que ali permeiam. Pois adentrar o portão da escola em
que se atua requer uma orientação própria acerca de princípios e valores e um
conhecimento claro a respeito dos objetivos a serem desenvolvidos na instituição
escolar na qual se atua, para que seja possível estabelecer relações sociais e mediações
necessárias com os sujeitos ali presentes dentro e fora das salas de aula, e se consiga
alcançar os objetivos ali propostos e a concretização da ação pedagógica.
Entender o funcionamento social e estrutural da escola é uma ferramenta
importante na forma de ação neste espaço, pois o estabelecimento de relações, com os
diversos setores sociais ali presentes, pode ser favorável ─ um sorriso, um
cumprimento, uma conversa, uma opinião (participação) do outro acerca de sua visão
sobre alguma atividade proposta na escola ─ para que se estabeleçam relações e
parcerias no espaço escolar. Vale ressaltar também que nem sempre se acerta de início
nos tipos de mediações estabelecidas e atividades propostas para a instituição escolar,
mais especificamente na turma com a qual se trabalha, mas é necessário que se persista
─ buscando outros caminhos, novas formas de mediação, parcerias ─ nos objetivos
propostos para o trabalho a ser desenvolvido, tendo claras as orientações que o guiarão
até a concretização deste fim.
Em relação à turma com a qual se trabalha, é preciso entender que toda atividade
proposta por parte do docente demanda meios para a sua realização e possui um fim
específico, por isso a importância da clareza quanto a própria atuação na escola e
principalmente na sala de aula, pois ser professor é lidar cotidianamente com sujeitos no
processo pedagógico e que trazem para a sala de aula o resultado de seus processos
culturais, históricos e sociais cotidianamente. A escola é a instituição na qual o sujeito
passa a maior parte de sua vida, sendo ela responsável também pela formação de
subjetividades, ou seja, o sentido que a escola assume para o sujeito trará consequências
– sejam elas formadoras ou deformadoras de seu aprendizado e de sua consciência para a sua vida inteira.
Ao pesquisar o fator sentido e sua relação com o processo de aprendizagem nos
estudantes, é possível estabelecer uma conexão da Sociologia enquanto disciplina com a
prática docente na sociedade atual, já que ser professor de Sociologia é um desafio, pois
5
esta disciplina é vista de formas contraditórias, ora entendida como “revolucionária”,
uma ameaça à conservação dos regimes políticos estabelecidos, ora como
“conservadora”, uma forma dos diversos Estados manterem a ordem social constituída.
Outro elemento importante nesse contexto é não prioridade da educação no Brasil, com
políticas educacionais voltadas para o capital, o que acaba por não priorizar o
desenvolvimento humano dos sujeitos da aprendizagem.
O Estado de São Paulo apresenta aspectos contraditórios na área educacional,
com uma proposta curricular na direção de uma reformulação de currículos anteriores,
fazendo críticas, reflexões e propostas importantes para a Sociologia enquanto
disciplina e para a prática docente, mas que se concretiza por meio dos Cadernos do
Professor e do Aluno, do programa “SP faz a escola”, pois este material desconsidera a
autonomia docente, reforça a homogeneização das escolas e sujeitos ali presentes,
negligenciando realidades socioculturais e históricas distintas em cada local, além do
esvaziamento do conteúdo científico, apresentando-o de forma rasa, fragmentada,
descontextualizada e distante da realidade social dos estudantes, o que acaba por gerar
problemas referentes ao sentido que o conteúdo assume, ou melhor, que não assume
para os mesmos.
Além de um desafio, ser professor da educação básica em São Paulo é também
uma questão de posicionamento político. O ato de ação ou omissão frente ao seu papel
em sala de aula e referente às questões educacionais representa uma direção, já que se
lida com seres humanos, agindo ou sendo omisso, se estará formando ou deformando
pessoas-, frente ao sistema posto, com todas as suas contradições e ausência de
condições materiais para que se realize o trabalho docente. Segundo Fernandes (1970),
Este debate sobre neutralidade ética implica a ideia de uma
responsabilidade intelectual. Isto é, ela é o caminho pelo qual o
especialista, saindo de uma universidade, norteia-se em termos de uma
relação de responsabilidade com a sociedade, isto é, com a ordem. Ele
não é colocado numa relação de tensão, mas de acomodação. A essa
concepção correspondeu a ideia de que era necessário separar o
cidadão do cientista e do professor. (...) O cidadão está de um lado, o
educador está em outro. Entretanto o principal elemento na condição
humana do professor é o cidadão. (...) O professor não pode estar
alheio a esta dimensão. Se ele quer mudança. Tem que realiza-la nos
dois níveis – dentro da escola e fora dela. Tem que fundir o seu papel
de professor ao seu papel de cidadão – e se for levado, por situação de
interesses e por valores, a ser um conservador, um reformista ou um
6
revolucionário, ele sempre estará fundindo os dois papéis.
(FERNANDES, 1970, p. p. 163-164)
Frente a todas estas dificuldades impostas, o desafio ainda maior se dá na busca
por novas metodologias de ensino e formas de mediação necessárias e capazes de
produzir sentido nos estudantes acerca dos conteúdos trabalhados, pois nem sempre os
temas serão de interesse da turma com a qual se trabalhará, mas uma forma de mediação
necessária se dá no ato de criar necessidades nos estudantes, buscando-se nos temas
elementos que se aproximem dos aspectos subjetivos dos mesmos, para que eles estejam
em atividade e envolvidos com o processo de aprendizagem.
Refletidas diretamente no sentido assumido pelos docentes em relação à escola e
a sua atuação, tem-se consequências como as jornadas extenuantes de trabalho e as
péssimas condições materiais/estruturais para a realização da mesma, que acabam
gerando também o estranhamento do docente em relação à sua prática, já que ele não se
reconhece mais em seu trabalho, e muitas vezes acaba por fazê-lo de forma mecânica.
Isto reflete materialmente o que consiste na crise de sentidos e significados que a escola
atual vem passando. Sendo assim, a ausência de sentido dos alunos em relação ao
espaço escolar e aos conteúdos e as péssimas condições de trabalho do professor frente
ao sistema capitalista e o seu modelo de educação refletem na relação ensinoaprendizagem, acarretando, entre outras consequências, a não concretização da ação
pedagógica.
Diante destes problemas acerca da prática docente e tratando ainda da produção
de sentido nos estudantes do EM, são necessárias mediações capazes de romper com
esta distância e gerar o envolvimento dos estudantes com as aulas e conteúdos
científicos, para que seja possível a concretização efetiva de uma ação pedagógica
humanizadora, pautada numa concepção de educação para o desenvolvimento do sujeito
enquanto ser humano, capaz de desenvolver as suas potencialidades, e não uma
educação destinada a oferecer tarefas básicas como: ler, escrever e contar, apenas.
A escola, ao trabalhar tendo em vista a transmissão cultural, o faz, e só
o faz, no âmago das diferentes possibilidades dos processos de
significação do sujeito, tanto daquele que aprende como daquele que
ensina. Falar em processos de significação implica considerar
motivações, referências, significados e sentidos produzidos no
contexto das relações e, ainda, considerar um sujeito concreto, situado
em um momento ontogenético, cultural e histórico e em um tempo
determinado. (TACCA, 2006, p.60-61)
7
Ao se trabalhar os conteúdos de forma distante da realidade social e não
relacionadas com a subjetividade dos estudantes, não se estabelece o vínculo do sujeito
entre si e o mundo objetivo a ser estudado, com consequências como: o desinteresse
pelas aulas, o não cumprimento das atividades propostas, as conversas, mexer em
celulares ou outros aparelhos eletrônicos durante as aulas, etc. A evasão e os conflitos
entre estudantes e professores aparecem como resultados concretos desta ausência de
sentido e surgem questões e indagações dos estudantes como: “estudar isso para quê?”,
“não usarei isto para nada em minha vida”, refletindo na situação complicada em sala de
aula. A ausência de sentido em sala de aula e na própria instituição escolar faz com que
a finalidade dos estudantes ao frequentarem este espaço se perca, não sendo mais a
busca pelo conhecimento, e sim a socialização, insuficiente para a formação
humanizadora.
O equívoco da escola, na forma tradicional de sua organização (...) é
insistir em manter-se longe da vida que acontece fora de seus muros,
ao que os alunos espiam de forma muitas vezes passiva, ou mostramse inconformados e indisciplinados. O comportamento do aluno deve
ser analisado neste mesmo apoio teórico, ou seja, na ideia de que a
ação do sujeito não é uma característica ou um traço de sua
personalidade, mas representa uma configuração que é gerada a partir
da produção de sentidos no seu espaço de vida, da sua subjetividade.
(TACCA, 2006, p.69)
O sentido da Sociologia na educação básica não deve ser apenas a crítica, mas
sim o saber posicionar-se frente a realidade ao qual se está inserido, principalmente por
meio da compreensão das representações sociais como produtos sociais, sendo desejada
uma intervenção consciente dos cidadãos na sociedade, para que sejam garantidas as
mudanças necessárias à superação das contradições postas pela sociedade capitalista,
pois segundo Fernandes (1970),
De todas, a preocupação comum – e esse é o escopo do ensino da
sociologia na escola secundária – é estabelecer um conjunto de noções
básicas e operativas, capazes de dar ao aluno uma visão não estática e
nem dramática da vida social, mas que lhe ensine técnicas e lhe
suscite atitudes mentais capazes de leva-lo a uma posição objetiva
diante dos fenômenos sociais , estimulando-lhe o espírito crítico e a
vigilância intelectual que são social e psicologicamente úteis,
desejáveis e recomendáveis numa era que não é mais de mudança
apenas, mas de crise, crise profunda e estrutural” (PINTO apud
FERNANDES, 1970, p.92 )
A produção de sentido nos estudantes do Ensino Médio pode trazer resultados
frutíferos para a formação dos mesmos, mas isto dependerá das mediações estabelecidas
pelo docente. Se o mesmo tiver um conhecimento sobre a turma com a qual irá trabalhar
8
e desenvolver com a sala atividades que partam da realidade dos mesmos, para que elas
façam sentido, será possível que a ação pedagógica se concretize de fato e os estudantes
sejam capazes de se apropriarem dos conteúdos científicos, além de conseguirem
construir novos conhecimentos.
Nessa perspectiva, o nosso problema é o estudo do sentido da Sociologia para os
estudantes do Ensino Médio, pois a educação escolar é uma forma de atividade humana
que ocupa a maior parte da vida dos sujeitos em formação presentes no espaço escolar e
responsabiliza-se pelo processo de apropriação do conhecimento destes sujeitos, que
será refletida na formação da consciência dos mesmos – sua forma de ver o mundo e
lidar com questões práticas na sociedade a qual pertencem. Também, vale destacar, que
a Sociologia faz parte da educação escolar e tem como objetivo no Ensino Médio a
desnaturalização dos fenômenos sociais. Desse modo, o sentido da Sociologia é uma
forma de mediação na formação dos sujeitos da aprendizagem em estudo, que busca
considerar a integração do individual com o social e sua relevância com o sentido
subjetivo produzido pelos sujeitos em estudo frente ao objeto de conhecimento, já que o
homem se constitui enquanto ser humano por meio de sua “atividade humana” –
definida (SERRÃO apud VÁSQUEZ, 1977 p.101) como ato ou conjunto de atos
dotados de intencionalidade e orientados conscientemente – criação do ideal, de sua
finalidade e sua concretização na forma de um produto real -, por meio dos quais um
sujeito ativo (agente) modifica físico, psíquico ou socialmente o meio e a si mesmo no
qual está inserido, ou seja, a insatisfação do homem, em sua condição de gênero
humano, com o presente gera no mesmo a necessidade de transformá-lo.
CONCLUSÃO
Em suma, a escola não é uma instituição falida. Apesar das contradições e
dificuldades acerca da atuação docente, principalmente na área de Sociologia, estas não
devem ser um obstáculo para a realização do trabalho do professor nas escolas, nem
serem uma forma de desestimular os docentes que acreditam numa educação pública de
qualidade, que vise um ensino voltado para o desenvolvimento dos sujeitos como seres
humanos, pois é possível gerar sentido nos estudantes para que estejam em atividade
frente aos conteúdos e ao espaço escolar, mas é necessário que se estabeleçam
mediações, tanto na forma de relação com os mesmos, quanto na elaboração de
9
metodologias de ensino capazes de estabelecerem a relação entre o conteúdo científico a
ser ensinado e a realidade social dos estudantes com os quais se trabalhará.
O ser professor e lutar por uma educação básica de qualidade requer que
tenhamos conhecimento acerca dos documentos com os quais estaremos lidando, para
conseguirmos lidar com a burocracia, seguindo o currículo, mas buscando formas
alternativas ao que consideramos como instrumentos “deformadores” de consciência e
encontrando espaços possíveis para uma atuação que caminhe para um ensino
humanizador, voltado para a essência do desenvolvimento das potencialidades humanas.
Referências Bibliográficas
DAYRELL, J. T. – Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 1996.
FERNANDES, F. O Dilema Educacional Brasileiro. In: PEREIRA. L. FORACCHI.
M.M. Educação e Sociedade (leituras de sociologia da educação). São Paulo: Vozes:
Série: Biblioteca universitária. Série 2, Ciências sociais ; v. 16, 1970.
MENDONÇA, S. G. L. – A Crise de Sentidos e Significados na escola: A Contribuição do
Olhar
Sociológico.
Cad.
Cedes,
Campinas,
vol.31,n.85,
p.341-357,set-dez.2011
Dísponível em HTTP://www.cedes.unicamp.br
SERRÃO, M. I. B. Aprender a ensinar: a aprendizagem do ensino no curso de
pedagogia sob o enfoque histórico-cultural/ Maria Isabel Batista Serrão. - São Paulo:
Cortez, 2006.
TACCA, M. C. V. R. As Relações Sociais na Escola e Desenvolvimento da Subjetividade. In.
MALUF. M. I. (coord.). Aprendizagem: tramas do conhecimento, do saber e da subjetividade.
Petrópolis/RJ: Vozes; São Paulo: ABPp Associação Brasileira de Psicopedagogia,2006.
VIGOTSKII, L. S., LURIA, A. R., LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e
aprendizagem. Tradução Maria da Penha Villalobos. São Paulo: Ícone,2001, 7ª edição.
_________ Imaginação e criação na infância. São Paulo: Ática, 2010.
10
Download