O Potencial da nutrição e atividade fisica como intervenção na primeira infância Bruno Araújo A nutrição inadequada ou deficiente, particularmente durante a infância, tem influência negativa sobre o funcionamento normal do cérebro e dos processos cognitivos (memória, atenção, percepção, linguagem, raciocínio, imaginação e pensamento). Bilhões de células nervosas e novas conexões são adicionadas conforme o cérebro se desenvolve e serão esses, os componentes responsáveis por enviar e receber os sinais que ajudarão no desenvolvimento do QI, linguagem e atividade motora das crianças. Assim o comprometimento do estado nutricional pode influenciar no funcionamento normal dos processos cognitivos. Estes fatos reforçam a grande relação que há entre uma boa alimentação e desenvolvimento do sistema nervoso. O período vital de maior crescimento do cérebro humano se inicia na 13 semana de gestação e continua até o terceiro ou quarto ano de vida. Um estudo que avaliou a performance cognitiva dos filhos de mães que consumiram uma dieta rica em ômega 3 constatou que os filhos destas mães apresentaram um melhor desempenho em testes de compreensão de linguagem e atividade social, quando comparados aos filhos das mães que não consumiram o suplemento durante o período gestacional. Durante os primeiros meses após o nascimento, o cérebro do bebê continua em pleno desenvolvimento. As conexões nervosas continuam sendo formadas, o processo de mielinização (processo importante para a transmissão da informação nervosa) está em alta atividade, estruturas cerebrais, como o hipocampo (importante para memória) continuam formando suas conexões com outras regiões cerebrais. Ou seja, o cérebro está formando as bases de suas conexões para o processo de aprendizagem. Durante os primeiros seis meses de vida do recém nascido, o leite humano é o seu único alimento. O leite materno é de grande importância para o desenvolvimento normal da criança, efetividade no processo digestivo e imunológico, aumento do vínculo mãe­filho e no desenvolvimento emocional e cognitivo da criança. Com o passar do tempo, novos hábitos alimentares são inseridos, como a definição de horários para refeições, bem como uma nova variedade ao seu cardápio. A inserção de horários para refeição nem sempre são bem aceitos pelas crianças, o que consequentemente acarreta no "pulo" de refeições, dentre elas o café da manhã. O café da manhã é descrito como a refeição mais importante do dia para a manutenção de uma boa atividade cognitiva. Apesar disso, uma pesquisa americana relata que aproximadamente 60% das crianças nos EUA vão para escola todos os dias sem comer entre o período da última refeição noturna às 6:30pm e o almoço do dia posterior. Apesar do Brasil não possuir estudos epidemiológicos a este respeito, acredita­se que esta realidade seja presente em território nacional. Pesquisas recentes relatam a importância do café da manhã na atividade de aprendizagem, memória e atenção em crianças com idade escolar. Estudos atuais descrevem que o consumo da refeição matinal (o mesmo vale para o almoço) pode beneficiar positivamente o aprendizado das crianças em atividades acadêmicas. Por exemplo, crianças da 3 a 6 série que participavam do programa de café da manhã oferecido pela escola, obtiveram rendimento significativamente melhor na leitura, resolução de problemas lógicos, bem como um decréscimo nas ausências e atraso na entrega de tarefas escolares. O exercício físico também é importante para o desenvolvimento das crianças em idade escolar, pois o mesmo melhora a atenção e memória, além de estimular a cidadania. Muitos trabalhos científicos comprovam a potencialização do aprendizado em crianças com atividade física regular, além dos benefícios preventivos que culminarão na saúde global do indivíduo. ____________________ Referência: Agostoni C1, Giovannini M.Cognitive and visual development: influence of differences in breast and formula fed infants. Nutr Health;15(3­4):183­8, 2001. Cabral FR1, Priel MR, Silva Araujo BH, Brito Torres L, de Lima E, Gurgel do Vale T, Pereira F, Alves de Amorim H, Abrão Cavalheiro E, Amado Scerni D, Naffah­Mazzacoratti Mda G. Malnutrition in infancy as a susceptibility factor for temporal lobe epilepsy in adulthood induced by the pilocarpine experimental model. Dev Neurosci ;33(6):469­78, 2011. Daniels JL1, Longnecker MP, Rowland AS, Golding J; ALSPAC Study Team. Fish intake during pregnancy and early cognitive development of offspring. University of Bristol Institute of Child Health. Epidemiology ;15(4):394­402, 2004. Georgieff MK. Nutrition and the developing brain: nutrient priorities and measurement. Am J Clin Nutr ;85(2):614S­620S, 2007. Innis SM. Impact of maternal diet on human milk composition and neurological development of infants. Am J Clin Nutr; 99(3):734S­41S, 2014. Kramer MS1, Aboud F, Mironova E, Vanilovich I, Platt RW, Matush L, Igumnov S, Fombonne E, Bogdanovich N, Ducruet T, Collet JP, Chalmers B, Hodnett E, Davidovsky S, Skugarevsky O, Trofimovich O, Kozlova L, Shapiro S; Promotion of Breastfeeding Intervention Trial (PROBIT) Study Group. Breastfeeding and child cognitive development: new evidence from a large randomized trial. Arch Gen Psychiatry; 65(5):578­84, 2008. ____________________ Bruno Araújo é Nutricionista, com Mestrado e Doutorado em Neurociência. Trabalha como Pesquisador no Laboratório de neurologia experimental da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP); É colaborador no laboratório de genômica translacional da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto do Cérebro (InCe) do Hospital Israelita Albert Einstein. É Vice­presidente da Associação Brasileira de Epilepsia (ABE).