UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA PRH-30 ANP/MCT Tratamento eletroquímico de água produzida sintética para remoção de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes _______________________________________ Dissertação de Mestrado Natal/RN, julho de 2010 Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes TRATAMENTO ELETROQUÍMICO DE ÁGUA PRODUZIDA SINTÉTICA PARA REMOÇÃO DE HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Química, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Química. Orientadores: Prof. Dr. Carlos Alberto Martínez-Huitle. Prof. Dr. Djalma Ribeiro da Silva. Natal - RN 2010 Divisão de Serviços Técnicos Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial de Química Pontes, Juliana Patrícia Souza Duarte. Tratamento eletroquímico de água produzida sintética para remoção de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos / Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes. Natal, RN, 2009. 70 f. Orientador: Carlos Alberto Martínez-Huitle Co-Orientador : Djalma Ribeiro da Silva . Dissertação (Mestrado em Química) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Exatas e da Terra. Programa de Pós-Graduação em Química. 1. Eletroquímica – Dissertação. 2. Tratamento Eletroquímica – Dissertação. 3. Água produzida – Dissertação. 4. Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) – Dissertação. I. Martínez-Huitle, Carlos Alberto II. Silva, Djalma Ribeiro da. III. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título. RN/UFRN/BSE- Química CDU 544.6 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho ao meu amado e grande mestre Jesus Cristo! AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar quero agradecer ao meu amado Senhor e Salvador, Jesus Cristo, pois com seu imenso amor se entregou e deu a vida por mim (por nós). O Senhor Jesus sempre será o responsável de todas as minhas vitórias! A Ele seja a honra e a glória! Ele é meu caminho, minha vida, a verdade, minha razão de viver, meu tudo! “Eu te amo com todo o meu ser, ó SENHOR, minha força.” (Salmos 18.1) Ao meu amor, meu lindo, minha bênção do Senhor, meu marido: Sidney! Aos meus amados e maravilhosos pais: Da Paz e Carlos Alberto. Eles são os melhores! Aos meus amados e queridos irmãos: Janaína, Jussara, Roberta e Antônio Carlos. Aos meus dois sobrinhos lindos ao qual amo sem noção: Gabriel e Arthur. A toda minha maravilhosa e melhor família: cunhados, sogra, tios, tias, primos, primas, avós e avô. Em especial ao meu querido vovô Manoel (in memoriam) e ao meu sogro José da Costa (in memoriam), que estarão presentes eternamente em meu coração! Aos meus queridos e amados irmãos-amigos do Ministério Palavra Viva, onde Deus me abençoou com muita felicidade fazendo parte desta linda família e igreja de Jesus Cristo! As minhas amigas lindas, maravilhosas e iluminadas: Adriana e Kátia. Elas sempre com um cuidado e carinho especial, me orientando em tudo que precisava para conclusão desde trabalho. Cada pedaço dessa dissertação tem um ajuda especial de cada uma! As minhas amigas lindas, maravilhosas e amadas: Lequinha, Wiliana, Daniela, Rayanna, Patrícia, Ellen, Erileide, Laura, Amanda, Kathianne, Viviane, Alyni. A TODOS os queridos amigos e amigas, não citarei nomes para não esquecer ninguém, a lista é grande! Um agradecimento em especial a minha querida amiga Mara Dalila (in memoriam), que estará eternamente em meu coração! A querida Dayanne e Aécia pela ajuda na análise da cromatografia gasosa. A todos os amigos do NEPGN: Aécia, Allisson, Amanda, André, Arthur, Beliza, Daniel, Danilo, Emily, Fernando, Izabel, Janaine, Jardel, Kaio, Kytéria, Nireide, Phillipp, Rafael, Rachel, Rina, Santana, Shirley, Tarcila, Thyego, Verushka e Vicente. Ao Professor Carlos pela orientação e dedicação. Ao prezado Professor Djalma pela orientação e ajuda. As Professoras Andréa e Maria de Fátima pela ajuda e por ser as examinadoras. Ao Programa de Pós Graduação em Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela oportunidade. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), pelo apoio financeiro, através da bolsa de estudo ao longo de dois anos. Indústria De Nora (Departamento de Eletrodos - Milão, Itália) por ter ofertado os eletrodos que foram usados para o desenvolvimento dos experimentos eletroquímicos. “Como é bom ouvir, crer e praticar a palavra de Deus, agindo assim tudo que faço sou bem sucedida. Aleluia!” “Com efeito, grandes coisas fez o SENHOR por nós; por isso, estamos alegres.” (Salmos 126.3) RESUMO O presente trabalho é dirigido ao tratamento de água produzida de petróleo usando uma tecnologia eletroquímica. A água produzida é um dos principais resíduos gerados durante o processo de exploração e produção na indústria petrolífera, onde corresponde a 98 % de todos os efluentes gerados. Várias metodologias estão sendo estudadas visando o tratamento desse efluente, dentre elas estão os processos biológicos, os processos de oxidação avançados (POAs), tratamentos eletroquímicos como eletrooxidação, eletrocoagulação, eletroflotação e eletroredução. Esse trabalho mostra a aplicação da tecnologia de eletrooxidação no tratamento da água produzida, pois se trata de uma técnica com alta compatibilidade ambiental, onde através da ação do próprio elétron, as substâncias tóxicas e nocivas ao meio ambiente podem ser removidas ou transformadas através de reações de óxido-redução em substâncias menos tóxicas. Para isso, foi utilizado efluente sintético contendo uma mistura de H2SO4 0,5M e de 16 hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), que são: naftaleno, acenaftileno, acenafteno, fluoreno, fenantreno, antraceno, fluoranteno, pireno, benzo(a)antraceno, criseno, benzo(b)fluoranteno, benzo(k)fluoranteno, benzo(a)pireno, indeno(1,2,3-cd)pireno, dibenzo(a,h)antraceno, benzo(g,h,i)perileno. Utilizou-se o processo de oxidação eletroquímica com um reator eletroquímico em batelada contendo um par de eletrodos paralelos, acoplados a uma fonte de corrente contínua e usando um agitador magnético para favorecer o transporte de massa na solução sintética. Como material anódico utilizou-se um eletrodo de ânodo dimensionalmente estável (DSA), constituído de Ti/Pt, enquanto o material catódico foi o Ti. Para detecção e quantificação dos HPAs utilizou à técnica de cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massa (CG - EM), onde o efluente foi analisado antes e após o tratamento eletroquímico. Os resultados se mostraram eficazes, obtendo-se remoções significativas dos HPAs superiores a 80%. Como indicador da viabilidade econômica do tratamento eletroquímico foram analisados os consumos energéticos do processo para cada hora do tratamento eletroquímico com base no valor kWh cobrado pela ANEEL. Os custos dos tratamentos desta pesquisa foram bastantes atrativos. Palavras-chave: Tratamento eletroquímico. Água produzida. Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs). ABSTRACT The aim of this work is the treatment of produced water from oil by using electrochemical technology. Produced water is a major waste generated during the process of exploration and production in the oil industry. Several approaches are being studied aiming at the treatment of this effluent; among them can be cited the biological process and chemical treatments such as advanced oxidation process and electrochemical treatments (electrooxidation, electroflotation, electrocoagulation, electrocoagulation). This work studies the application of electrochemical technology in the treatment of the synthetic produced water effluent through the action of the electron, in order to remove or transform the toxic and harmful substances from the environment by redox reactions in less toxic substances. For this reason, we used a synthetic wastewater, containing a mixture H2SO4 0,5M and 16 HPAs, which are: naphthalene, acenaphthylene, acenaphthene, fluorene, phenanthrene, anthracene, fluoranthene, pyrene, benzo (a) anthracene, chrysene, benzo(b)fluoranthene, benzo(k) fluoranthene, benzo(a)pyrene, indeno(1,2,3-cd)pyrene, dibenzo(a, h)anthracene, benzo(g, h, i)perylene. Bulk electrochemical oxidation experiments were performed using a batch electrochemical reactor containing a pair of parallel electrodes, coupled with a power supply using a magnetic stirrer for favoring the transfer mass control. As anodic material was used, a Dimensionally Stable Anode (DSA) of Ti/Pt, while as cathode was used a Ti electrode. Several samples were collected at specific times and after that, the analysis of these samples were carried out by using Gas Chromatography Coupled to Mass Spectrometry (GC - MS) in order to determine the percentage of removal. The results showed that it was possible to achieve the removal of HPAs about 80% (in some cases, more than 80%). In addition, as an indicator of the economic feasibility of electrochemical treatment the energy consumption was analyzed for each hour of electrolysis, and based on the value kWh charged by ANEEL, the costs were estimated. Thus, the treatment costs of this research were quite attractive. Keywords: Electrochemical treatment. Produced water. Polycyclic aromatic hydrocarbons (PAHs). LISTA DE FIGURAS Figura 3.1 Estrutura molecular dos 16 HPAs considerados como prioritários pela 25 USEPA. Figura 4.1 Reator eletroquímico de bancada. 42 Figura 4.2 Cromatógrafo Gasoso, Focus GC, acoplado ao Espectrômetro de 43 Massa, Modelo Polaris Q da Thermo Electron Corporation. Figura 5.1 Cromatograma da amostra inicial da água produzida sintética, antes 49 do tratamento eletroquímico. Figura 5.2 Cromatograma da amostra após 1 hora de tratamento eletroquímico. 49 Figura 5.3 Cromatograma da amostra após 2 horas de tratamento eletroquímico. 50 Figura 5.4 Cromatograma da amostra após 3 horas de tratamento eletroquímico. 50 Figura 5.5 Cromatograma da amostra após 4 horas de tratamento eletroquímico. 51 Figura 5.6 Gráfico do Percentual de Remoção para HPAs contendo dois anéis 52 aromáticos. Figura 5.7 Gráfico do Percentual de Remoção para HPAs contendo três anéis 53 aromáticos. Figura 5.8 Gráfico do Percentual de Remoção para HPAs contendo quatro anéis 55 aromáticos. Figura 5.9 Gráfico do Percentual de Remoção para HPAs contendo cinco anéis 57 aromáticos. Figura 5.10 Gráfico do Percentual de Remoção para o HPAs contendo seis anéis 58 aromáticos. Figura 5.11 Gráfico do Percentual de Remoção para representantes de HPAs 59 contendo dois, três, quatro, cinco e seis anéis aromáticos. LISTA DE TABELAS Tabela 3.1 Frações típicas do petróleo. 18 Tabela 3.2 Análise elementar do óleo cru típico (% em peso). 18 Tabela 3.3 Composição química de um petróleo típico. 21 Tabela 3.4 Classificação dos compostos orgânicos presentes na água produzida. 23 Tabela 3.5 Nome, fórmula molecular, massa molecular, abreviatura e fórmula 26 estrutural dos 16 HPAs Prioritários. Tabela 3.6 Propriedades físico-químicas dos 16 HPAs incluídos na lista de 27 poluentes prioritários da USEPA. Tabela 3.7 Tecnologias aplicadas à remoção de compostos dissolvidos. 33 Tabela 4.1 Características usadas no cromatógrafos. 44 Tabela 5.1 Resultado do percentual de remoção de HPAs. 47 Tabela 5.2 HPAs contendo dois anéis aromáticos. 52 Tabela 5.3 HPAs contendo três anéis aromáticos. 54 Tabela 5.4 HPAs contendo quatro anéis aromáticos. 55 Tabela 5.5 HPAs contendo cinco anéis aromáticos. 57 Tabela 5.6 HPA contendo seis anéis aromáticos. 58 Tabela 5.7 HPAs contendo anéis (2, 3, 4, 5 e 6) aromáticos. 59 Tabela 5.8 Resultado do consumo energético para os ensaios com 1, 2, 3 e 4 61 horas. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS POAs Processos Oxidativos avançados mL Mililitros HPAs Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos H2SO4 Ácido Sulfúrico µg/L Microgramas por Litro DSA Ânodo Dimensionalmente Estável Ti Titânio Ti/Pt Titânio e platina CG - EM Cromatógrafo Gasoso acoplado ao Espectrômetro de Massa kWh Quilowatt-hora ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica BTEX Benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente TOG Teor de Óleos e Graxas THP Total de Hidrocarbonetos do Petróleo MCNR Mistura complexa não resolvida KOW Coeficiente de partição octanol/água mg/L Miligrama por Litro COT Carbono Orgânico Total pH Potencial Hidrogeniônico % Porcento Na2SO4 Sulfato de Sódio mm milímetro COSERN Companhia Energética do Rio Grande do Norte USEPA United State Enviromental Protection Agency IARC International Agency for Research on Cancer SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 14 2 OBJETIVOS 16 2.1 GERAIS 16 2.2 ESPECÍFICOS 16 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 17 3.1 PETRÓLEO 17 3.1.1 Origem do Petróleo 17 3.1.2 Constituintes do Petróleo 17 3.1.2.1 Hidrocarbonetos 19 3.1.2.2 Não Hidrocarbonetos 19 3.2 ÁGUA PRODUZIDA 21 3.2.1 Origem da Água Produzida 21 3.2.2 Constituintes da Água Produzida 22 3.2.2.1 Compostos Orgânicos 22 3.2.2.1.1 Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs) 24 3.2.2.2 Compostos Inorgânicos 29 3.2.3 Impactos Ambientais e Descarte da Água Produzida 29 3.2.3.1 Impactos Ambientais 29 3.2.3.2 Descarte da Água Produzida 31 3.2.4 Custo do Tratamento da Água Produzida 32 3.3 TRATAMENTO DA ÁGUA PRODUZIDA 33 3.3.1 Estudos de Remoções de HPAs Usando o Tratamento Eletroquímico 38 3.4 ÂNODOS DIMENSIONALMENTE ESTÁVEIS (DSA) 38 3.5 PARÂMETROS DE CONTROLE DO PROCESSO 39 4 MATERIAIS E MÉTODOS 41 4.1 PREPARO DA ÁGUA PRODUZIDA SINTÉTICA 41 4.2 REATOR ELETROQUÍMICO E TRATAMENTO ELETROQUÍMICO 41 4.2.1 Reator Eletroquímico 41 4.2.2 Tratamento Eletroquímico 42 4.3 EXTRAÇÃO (LÍQUIDO-LÍQUIDO) 42 4.4 4.5 EQUIPAMENTO ANALÍTICO 43 3 CONSUMO DE ENERGIA POR m DE ÁGUA PRODUZIDA SINTÉTICA 44 TRATADA 4.6 EFICIÊNCIA DE REMOÇÃO DOS CONTAMINANTES 45 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES 46 5.1 RESULTADOS DE REMOÇÃO DE HPAs 46 5.1.1 Resultados de Remoção de HPAs Expressos em Registros Gráficos 49 5.1.1.1 Registro Gráfico pelo Método Cromatográfico (CG-EM) 49 5.1.1.2 Registro Gráfico pela Representação de Grupos por Anéis 51 5.2 RESULTADOS DA ANÁLISE DE CONSUMO ENERGÉTICO 60 6 CONCLUSÕES 62 7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 63 REFERÊNCIAS 64 14 Capítulo 1- Introdução 1 INTRODUÇÃO O petróleo contém centenas de compostos químicos, porém dentre eles estão: hidrogênio, carbono, enxofre, nitrogênio, oxigênio e metais. Contudo a alta porcentagem de carbono e hidrogênio existente no petróleo mostra que os seus principais constituintes são os hidrocarbonetos. Os outros constituintes aparecem sob forma de compostos orgânicos que contêm outros elementos, sendo os mais comuns o nitrogênio, o enxofre e o oxigênio. Metais também podem ocorrer como sais de ácidos orgânicos (THOMAS, 2001). Assim, basicamente, o petróleo é uma mistura de compostos químicos orgânicos (hidrocarbonetos) e hetero-compostos (não-hidrocarbonetos) (TERRA, 2008). Junto com toda a produção de petróleo, existe uma produção de água, cuja quantidade dependerá das características dos mecanismos naturais ou artificiais de produção, e das características de composição das rochas reservatórios. Essa água produzida da rocha reservatório é identificada pela sua salinidade e composição destes sais, normalmente sais de magnésio e estrôncio. Sendo esta água um dos resíduos gerados em maiores proporções na indústria do petróleo (GARCIA, 2006). Esse resíduo surge quando mecanismos artificiais, tais como, injeção de água e/ou injeção de vapor, são utilizados na produção de petróleo. Esses mecanismos são comumente empregados quando o reservatório está em depleção, ou seja, quando o reservatório está perdendo sua energia interna e conseqüentemente capacidade de produção de petróleo. A água injetada no poço depletado entra em contato com o petróleo e retorna a superfície contaminada por constituintes orgânicos e inorgânicos da formação geológica. As principais substâncias tóxicas presentes em água de produção são: os hidrocarbonetos voláteis (BTEX), HPAs, fenóis, ácidos carboxílicos, metais, tais como: cádmio, cobre, níquel, chumbo e zinco, bem como sulfetos, N-amoniacal e óleos e graxas. Todos estes compostos são altamente nocivos ao meio ambiente e necessitam de tratamento antes do descarte. No Brasil, os limites estabelecidos destes contaminantes são regulados pela Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) 357/05, com alguns parâmetros atualizados pela Resolução CONAMA 393/07. Os hidrocarbonetos de petróleo tem sido motivo de grande preocupação ambiental, pois estes hidrocarbonetos principalmente os aromáticos e poliaromáticos apresentam risco a saúde humana por conta do seu caráter carcinogênico e mutagênico. Os HPAs constituem uma família de compostos caracterizada por possuírem 2 ou mais anéis aromáticos Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 15 Capítulo 1- Introdução condensados. De maneira geral, tanto os HPAs quanto seus derivados estão associados ao aumento da incidência de diversos tipos de cânceres no homem (PEREIRA NETTO et al., 2000). Devido à complexidade e a quantidade do resíduo gerado, o seu tratamento tem sido um desafio, pois o impacto ambiental da água produzida está relacionado à sua composição química (GARCIA, 2006). Na literatura existem vários trabalhos relacionados ao tratamento de água produzida, usando processos biológicos, processos oxidativos avançados, tratamentos eletroquímicos (eletrooxidação, eletrocoagulação, eletroflotação) (FREIRE et al., 2000). Mas não foi encontrado na literatura, nenhum trabalho experimental ou cientifico referente ao tratamento eletroquímico de água produzida sintética para remoção de HPAs utilizando a eletrooxidação como metododologia. Em virtude dessa problemática, o processo eletroquímico tem sido bastante promissor no tratamento de efluentes domésticos e industriais (RAMALHO, 2008). Por se tratar de uma tecnologia limpa, a eletroquímica utiliza elétrons, ao invés de produtos químicos, que através de reações de oxi-redução promove a oxidação de determinadas moléculas orgânicas tóxicas tornando-as substâncias menos tóxicas. Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo principal, empregar a técnica de eletrooxidação em reator eletroquímico usando um ânodo dimensionalmente estável (DSA) na degradação dos contaminantes orgânicos presentes no efluente sintético de água de produção, sendo este efluente composto por 16 tipos de HPAs. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN Capítulo 2 - Objetivos 16 2 OBJETIVOS 2.1 GERAIS Avaliar o processo eletroquímico no tratamento da água de produção sintética, visando o estudo do processo de eletrooxidação de compostos orgânicos tóxicos como alternativa no tratamento da água produzida gerada pela indústria do petróleo. 2.2 ESPECÍFICOS Caracterizar a água produzida sintética, visando a identificação e quantificação dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) previstos nas Resoluções do CONAMA 357/04 e 393/07, utilizando a técnica de cromatografia gasosa acoplado à espectrometria de massa (CG-EM); Avaliar o tratamento eletroquímico da água produzida utilizando ânodo de Ti/Pt; Avaliar os percentuais de remoções dos contaminantes da água produzida sintética pós-tratamento; Verificar o consumo energético e o custo operacional ocorrido pelo tratamento eletroquímico. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 17 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 PETRÓLEO 3.1.1 Origem do Petróleo Ao longo de milhares de anos, restos de animais e vegetais mortos depositaram-se no fundo de lagos e mares e, lentamente, foram cobertos por sedimentos (pó de calcário, areia etc.). Mais tarde, esses sedimentos se transformaram em rochas sedimentares (calcário e arenito), que são depressões na superfície da terra. As altas pressões e temperatura exercidas sobre essa matéria orgânica causaram reações químicas complexas, formando o petróleo. O acúmulo de petróleo depende de alguns fatores, como a necessidade de existência de rochas geradoras (bacias sedimentares) que contenham a matéria-prima (pasta orgânica), a qual se transforma em petróleo, e a presença de camadas de rochas-reservatório, que possuem espaços vazios (poros), capazes de armazenar o petróleo. Essas rochas devem estar envolvidas em armadilhas, formando compartimentos isolados no subsolo, onde o petróleo se acumula e de onde não tem condições de escapar, constituindo assim as jazidas de petróleo A idade de uma jazida pode variar de 10 a 400 milhões de anos. Dessa forma, o petróleo está localizado apenas nas bacias sedimentares (SANTA MARIA, 2002; CEPETRO, 2008). 3.1.2 Constituintes do Petróleo O petróleo contém centenas de compostos químicos, e separá-los em componentes puros ou misturas de composição conhecida é praticamente impossível. O petróleo é normalmente separado em frações de acordo com a faixa de ebulição dos compostos destilação fracionada (THOMAS, 2001). A Tabela 3.1 mostra as frações típicas que são obtidas do petróleo. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 18 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica Tabela 3.1 - Frações típicas do petróleo Fração Temperatura de ebulição (°C) Gás residual Gás liquefeito de petróleo - GLP Até 40 Composição aproximada C1-C2 C3-C4 Gasolina 40-175 C5-C10 Gasóleo leve Gasóleo pesado 235-305 305-400 C13-C17 C18-C25 Lubrificantes Resíduo 400-510 Acima de 510 C26-C38 C38* Usos Gás combustível Gás combustível engarrafado, uso doméstico e industrial. Combustível de automóveis, solvente. Diesel, fornos. Combustível, matériaprima para lubrificantes. Óleos lubrificantes Asfalto, piche, impermeabilizantes. Fonte: Thomas (2001, p. 5). Os óleos obtidos dos diversos reservatórios de petróleo possuem características diferentes. Alguns são pretos, densos, viscosos, liberando pouco ou nenhum gás, enquanto que outros são castanhos ou bastante claros, com baixa viscosidade e densidade, liberando quantidade apreciável de gás. Outros reservatórios podem, ainda, produzir somente gás. Entretanto, todos eles produzem análises elementares semelhantes às apresentadas na Tabela 3.2 (THOMAS, 2001). Tabela 3.2 - Análise elementar do óleo cru típico (% em peso) Hidrogênio Carbono Enxofre Nitrogênio Oxigênio Metais até 11 – 14 % 83 – 87 % 0,06 – 8 % 0,11 – 1,7 % 0,1 – 2 % 0,3 % Fonte: Thomas (2001, p. 5). A alta porcentagem de carbono e hidrogênio existente no petróleo mostra que os seus principais constituintes são os hidrocarbonetos. Os outros constituintes aparecem sob forma de compostos orgânicos que contêm outros elementos, sendo os mais comuns o nitrogênio, o enxofre e o oxigênio. Metais também podem ocorrer como sais de ácidos orgânicos (THOMAS, 2001). Assim, basicamente, o petróleo é uma mistura de compostos químicos orgânicos (hidrocarbonetos) e hetero-compostos (não-hidrocarbonetos) (TERRA, 2008). Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 19 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica 3.1.2.1 Hidrocarbonetos São compostos orgânicos formados por carbono e hidrogênio. De acordo com a sua estrutura podem ser classificados como (TERRA, 2008): Saturados denominados de alcanos ou parafinas (carbonos unidos somente por ligações simples e ao maior número possível de átomos de hidrogênio, constituindo cadeias lineares, ramificadas ou cíclicas, interligadas ou não): Hidrocarbonetos parafínicos normais; parafínicos ramificados; parafínicos cíclicos (naftênicos). Insaturados ou olefinas (apresentam pelo menos um dupla ou tripla ligação carbonocarbono). Aromáticos ou arenos (apresentam pelo menos um anel de benzeno na sua estrutura). 3.1.2.2 Não Hidrocarbonetos O petróleo contém apreciável quantidade de constituintes que possuem elementos como enxofre, nitrogênio, oxigênio e metais. Estes constituintes, considerados como impurezas, podem aparecer em toda a faixa de ebulição do petróleo, mas tendem a se concentrar nas frações mais pesadas (TERRA, 2008). Abaixo segue a descrição destas impurezas: Compostos Sulfurados (enxofre): O enxofre é o terceiro elemento mais abundante encontrado no petróleo, e sua concentração média é de 0,65 % em peso, com uma faixa apresentando valores entre 0,02 % e 4,00 %. ° enxofre ocorre no petróleo nas formas de sulfetos, polissulfetos, benzotiofenos e derivados, moléculas policíclicas com nitrogênio e oxigênio, gás sulfídrico, dissulfeto de carbono, sulfeto de carbonila e enxofre elementar (muito raro). Tais compostos estão presentes em todos os tipos de petróleo, e, em geral, quanto maior a densidade do petróleo, maior será seu teor de enxofre. Os compostos sulfurados, além de indesejáveis, pois concorrem para aumentar a polaridade dos óleos (aumentando a estabilidade das emulsões), são os Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 20 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica responsáveis pela corrosividade dos produtos do petróleo, contaminam os catalisadores utilizados nos processos de transformação e determinam a cor e o cheiro dos produtos finais. São tóxicos e produzem SO2 e SO3 por combustão, gases altamente poluentes da atmosfera, os quais formam H2SO3 e H2SO4 (ácido sulfúrico) em meio aquoso. Compostos Nitrogenados: Os petróleos contêm em média 0,17 % em peso de nitrogênio, com maior concentração nas frações pesadas. Os compostos nitrogenados apresentam-se quase que em sua totalidade na forma orgânica e são termicamente estáveis. Aparecem nas formas de piridinas, quinolinas, pirróis, indóis, porfirinas, e compostos policíclicos com enxofre, oxigênio e metais. Os compostos nitrogenados aumentam a capacidade do óleo de reter a água em emulsão. Durante o refino tomam instáveis os produtos finais, propiciando a formação de gomas e alterando a coloração, além de serem também responsáveis pela contaminação dos catalisadores. Compostos Oxigenados: Tal como os nitrogenados, aparecem no petróleo de uma forma mais ou menos complexa, tais como ácidos carboxílicos, fenóis, cresóis, ésteres, amidas, cetonas e benzofuranos. De um modo geral, eles tendem a se concentrar nas frações mais pesadas e são responsáveis pela acidez e coloração (ácidos naftênicos), odor (fenóis), formação de gomas e corrosividade das frações do petróleo. Resinas e Asfaltenos: Resinas e asfaltenos são moléculas grandes, com alta relação carbono/hidrogênio e presença de enxofre, oxigênio e nitrogênio (de 6,9 a 7,3 %). A estrutura básica é constituída de 3 a 10 ou mais anéis, geralmente aromáticos, em cada molécula. As estruturas básicas das resinas e asfaltenos são semelhantes, mas existem diferenças importantes. Asfaltenos não estão dissolvidos no petróleo e sim dispersos na forma coloidal. As resinas, ao contrário, são facilmente solúveis. Asfaltenos puros são sólidos escuros e não-voláteis; e as resinas puras, além de serem líquidos pesados ou sólidos pastosos, são tão voláteis como um hidrocarboneto do mesmo tamanho. As resinas de alto peso molecular são avermelhadas, enquanto que as mais leves são menos coloridas. Compostos Metálicos: Apresentam-se de duas formas: como sais orgânicos dissolvidos na água emulsionada ao petróleo, facilmente removidos através do processo de dessalgação, e na forma de compostos organometálicos complexos, que tendem a se concentrar nas frações mais pesadas. Os metais que podem ocorrer no petróleo são: ferro, zinco, cobre, chumbo, molibdênio, cobalto, arsênico, manganês, Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 21 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica cromo, sódio, níquel e vanádio, sendo os dois últimos de maior incidência. O teor varia de 1 a 1.200 ppm. Os compostos metálicos são também responsáveis pela contaminação dos catalisadores. A presença de sódio em combustíveis para fornos reduz o ponto de fusão dos tijolos refratários; e o vanádio nos gases de combustão pode atacar os tubos de exaustão. A Tabela 3.3 apresenta a composição química de um petróleo típico. Tabela 3.3 - Composição química de um petróleo típico. Parafinas Normais 14 % Parafinas Ramificadas 16 % Parafinas Cíclicas 30 % Aromáticos 30 % Resinas e Asfaltenos 10 % Fonte: Fonte: Thomas (2001, p. 11). 3.2 ÁGUA PRODUZIDA 3.2.1 Origem da Água Produzida A origem da água produzida está associada diretamente à origem do petróleo. Os hidrocarbonetos são formados por uma mistura complexa de compostos de carbono e hidrogênio. Podem se encontrar em estado sólido, líquido ou gasoso, dependendo de sua composição, pressão e temperatura. Esta matéria orgânica foi originada no fundo de antigos oceanos, onde plantas e micro animais morreram e ficaram depositados em forma de sedimentos. Por ação de bactérias, temperatura e pressão são geradas nas rochas que dão origem ao petróleo (rochas geradoras). Após a ocorrência deste cenário, a compressão destas rochas matrizes gerou pressão e temperatura suficientes para a migração do gás e do petróleo para rochas porosas e permeáveis adjacentes, foi a migração primária. Essas rochas adjacentes também eram de origem sedimentar e depositaram-se em um meio marinho, tendo seus poros Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 22 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica cheios de água com graus variados de salinidade. Em seguida deu-se a segunda migração de petróleo e gás, que é a segregação através da água, até encontrarem uma rocha selante ou trapa, onde o movimento é interrompido em função das rochas capeadoras. Cabe ressaltar que o petróleo segregado permanece em contato com a linha d’água do aqüífero, de onde recebe pressão e o gás pode estar dissolvido no petróleo ou se apresentar como uma camada independente entre o óleo e a rocha selante. Essa água do aqüífero é a que será “produzida” por ocasião da produção de óleo (CAVACO; BARROS, 2005). 3.2.2 Constituintes da Água Produzida A água de produção é a água que contém quantidades variadas de sais e gases dissolvidos (CO, CO2, H2S), sólidos em suspensão, compostos metálicos, compostos com algum nível de radiação, e altas concentrações de cloretos. Estes compostos a torna imprópria para consumo humano e animal, podendo ser encontrados ainda, altos níveis de gotículas de óleo suspensas ou emulsificadas na água. As águas de produção podem conter óleo disperso, compostos orgânicos e inorgânicos e ainda, traços de aditivos químicos tais como surfactantes, floculantes, inibidores de corrosão que são utilizados nos processos de produção (CENPES 2005 apud RAMALHO, 2008). Atualmente a PETROBRAS produz aproximadamente 86.000 m3 por dia apenas de água de produção (extração e refino). Após tratamento está água é injetada nos poços ou descartada via emissário diretamente no mar ou efluentes (SILVA, et al., 2005). 3.2.2.1 Compostos Orgânicos A composição da água produzida apresenta as principais classes de compostos orgânicos os hidrocarbonetos voláteis (BTEX: benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos), hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), fenóis, e ácidos carboxílicos (CENPES, 2005 apud RAMALHO, 2008). Os constituintes orgânicos da água produzida podem ser distribuídos em 3 categorias: hidrocarbonetos dissolvidos em água, hidrocarbonetos dispersos (que podem estar somados Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 23 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica aos produtos hidrofóbicos ou surfactantes utilizados no tratamento do efluente ou na separação água-óleo), e compostos orgânicos dissolvidos (não hidrocarbonetos, como é o caso dos fenóis e ácidos carboxílicos) (CENPES, 2005 apud RAMALHO, 2008). A classificação dos compostos orgânicos está representada na Tabela 3.4 a seguir: Tabela 3.4 - Classificação dos compostos orgânicos presentes na água produzida. Categorias a) Hidrocarbonetos dispersos b) Hidrocarbonetos dissolvidos c) Orgânicos dissolvidos Análises TOG, HPAS e alifáticos BTEX Fenóis Fonte: CENPES, 2005 divulgado pelo GT/CONAMA apud RAMALHO, 2008. a) Hidrocarbonetos dispersos Na categoria dos compostos dispersos estão incluídos: óleos e graxas, total de hidrocarbonetos do petróleo - THP, Hidrocarbonetos alifáticos (n-alcanos e MCNR - mistura complexa não resolvida) e os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos - HPAs (CENPES, 2005 apud RAMALHO, 2008). b) Hidrocarbonetos dissolvidos Na categoria dos hidrocarbonetos dissolvidos estão incluídos os hidrocarbonetos monoaromáticos voláteis: benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos - BTEX (CENPES, 2005 apud RAMALHO, 2008). c) Compostos orgânicos dissolvidos Na categoria dos compostos orgânicos dissolvidos (não hidrocarbonetos) foram avaliados neste relatório os fenóis, que tem relevância sob o aspecto ambiental, devido à preocupação quanto aos possíveis efeitos tóxicos destes compostos (CENPES, 2005 apud RAMALHO, 2008). Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 24 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica 3.2.2.1.1 Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs) Dentre os hidrocarbonetos existem os que apresentam dois ou mais anéis benzênicos são denominados de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) (FURLAN JÚNIOR, 2006). Os HPAs são poluentes orgânicos persistentes formados por dois ou mais anéis polinucleados fusionados entre si, organizados sob as formas linear, angular ou agrupada (PEREIRA NETTO et al., 2000). HPAs tem a sua origem na combustão incompleta da matéria orgânica, influenciada principalmente por fatores como temperatura e pressão. Desse modo, incêndios florestais e de campos, assim como a queima de combustível fóssil, seriam as principais fontes de HPAs no meio ambiente. Porém, as maiores emissões de HPAs provêm de processos industriais ligados à produção de aço e de alumínio, da exaustão de incineradores de rejeito e por resíduos sólidos industriais. Atividades petroquímicas como o processo e o refino na produção de óleo diesel e petróleo também elevam os níveis de HPAs no ambiente (SISINNO et al., 2003). Os HPAs são um grupo de mais de 100 substâncias orgânicas que recebem uma atenção considerável devido às propriedades carcinogênicas e mutagênicas de alguns deles (LIMA et al., 2009). São constituídos apenas por átomos de carbono e hidrogênio e formados por dois ou mais anéis aromáticos de cinco ou seis átomos de carbono condensados, que podem ser divididos em dois subgrupos de acordo com sua massa molar ou número de anéis (MOURA, 2009). Dos mais de 100 diferentes HPAs conhecidos, apenas 16 deles foram considerados prioritários pela USEPA (United State Enviromental Protection Agency) para monitoramento e destes 7 são classificados pela IARC (International Agency for Research on Cancer) como cancerígenos para animais e potencialmente cancerígenos para seres humanos. A Figura 3.1 apresenta a estrutura dos 16 HPAs sugeridos pela USEPA para monitoramento. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 25 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica Figura 3.1 - Estrutura molecular dos 16 HPAs considerados como prioritários pela USEPA (MOURA, 2009). Os HPAs podem ser divididos em dois grandes grupos: os de baixa e alta massa molar. Os compostos de baixa massa molar contêm dois ou três anéis aromáticos fundidos (naftaleno, acenafteno, acenaftileno, fluoreno, fenantreno, antraceno) e os HPAs de maior massa molar contêm de quatro a seis anéis fundidos (fluoranteno, benzo[a]antraceno, benzo[b]fluoranteno, benzo[k]fluoranteno, criseno, pireno, benzo[g,h,i]perileno, benzo[a]pireno, dibenzo[a,h]antraceno, indeno[1,2,3-c,d]pireno). Nesta faixa de massa molar, há um grande número de HPAs que diferem no número e na posição dos anéis aromáticos. A Tabela 3.5 apresenta os HPAs com suas respectivas fórmulas moleculares e estruturais (MOURA, 2009). Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 26 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica Tabela 3.5 - Nome, fórmula molecular, massa molecular, abreviatura e fórmula estrutural dos 16 HPAS Prioritários. HPAs Fórmula Molecular Massa Molar Abreviatura Naftaleno C10H8 128 Nap Acenaftileno C12H8 152 Acy Acenafteno C12H10 154 Ace Fluoreno C13H10 166 Flu Fenantreno C14H10 178 Phe Antraceno C14H10 178 Ant Fluoranteno C16H10 202 Flt 202 Pyr Pireno C16H10 Benzo(a)antraceno C18H12 228 BaA Criseno C18H12 228 Chr Benzo(b)fluoranteno C20H12 252 BbF Benzo(k)fluoranteno C20H12 252 BkF Benzo(a)pireno C20H12 252 BaP Indeno(1,2,3c,d)pireno C22H12 276 I(c,d)P Dibenzo(a,h)antraceno C22H14 278 DB(a,h)A Benzo(g,h,i)perileno C22H12 276 B(g,h,i)P Estrutura Fonte: MOURA, 2009. As propriedades físico-químicas dos HPAs variam de acordo com sua massa molar e são também determinadas por seus sistemas de elétrons conjugados, que variam com o número e arranjo de anéis e, portanto, com suas massas molares (MOURA, 2009). Algumas dessas propriedades estão apresentadas na Tabela 3.6. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 27 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica Tabela 3.6 - Propriedades físico-químicas dos 16 HPAS incluídos na lista de poluentes prioritários da USEPA. HPAs Naftaleno Acenaftileno Acenafteno Fluoreno Fenantreno Antraceno Fluoranteno Pireno Benzo(a)antraceno Criseno Benzo(b)fluoranteno Benzo(k)fluoranteno Benzo(a)pireno Indeno(1,2,3c,d)pireno Dibenzo(a,h)antrace no Benzo(g,h,i)perileno Pressão de vapor (mmHg) (20ºC) 0,0492 10-3 a 10-2 10-3 a 10-2 10-3 a 10-2 6,80 x 10-4 2,00 x 10-4 Solubilidade em água (mg/L) Coeficiente de partição octanol/água (log KOW) 2,3 x 103 1,2 x 104 2,1 x 104 1,5 x 104 2,9 x 104 2,8 x 104 Ponto de Fusão (°C) 81 92 95 115 100,5 216,4 Ponto de Ebulição (°C) 217,9 265 278 295 340 342 3,4 x 105 2 x 105 4 x 105 4 x 105 4 x 106 7 x 106 106 5x107 108,8 150,4 157 253,8 167 215,7 178,1 163,6 375 393 435 441 481 480 496 536 10-6 a 10-4 6,9 x 10-9 5,0 x 10-9 10-11 a 10-6 10-11 a 10-6 9,60 x 10-7 5,00 x 10-9 ~10-10 32 3,93 3,4 (25ºC) 1,9 1,0-1,3 (25ºC) 0,05-0,07 (25ºC) 0,26 (25ºC) 0,14 (25ºC) 0,01 (25ºC) 0,002 (25ºC) 0,0028 (25ºC) - ~10-10 0,0005 (25ºC) 106 266,6 524 ~10-10 0,0026 (25ºC) 107 278,3 545 Fonte: MOURA, 2009. Os HPAs são sólidos à temperatura ambiente, a maioria de coloração amarela, possuem elevados pontos de ebulição e fusão, são poucos solúveis em água (os de maiores massas molares), apresentam altos coeficientes de partição octanol/água (Kow > 104), exceto para o naftaleno, o que demonstra grande afinidade por fases orgânicas lipofílicas, que aumenta com o número de anéis aromáticos da molécula. As pressões de vapor destas substâncias diminuem com o aumento da massa molar e, conseqüentemente, sua volatilidade diminui. Assim, HPAs com menores massas molares são mais voláteis e apresentam maiores pressões de vapor que os de maiores massas molares. A pressão de vapor é a principal propriedade físico-química responsável pela distribuição dos HPAs no ambiente devido a sua ampla faixa de variação (da ordem de 107), pois indica que alguns HPAs são sólidos de baixa volatilidade (benzo[g,h,i]perileno, dibenzo[a,h]antraceno) enquanto outros têm maior volatilidade (antraceno, naftaleno). Em virtude das propriedades físico-químicas dos HPAs sua distribuição no meio ambiente é facilitada pelo transporte destes poluentes ao longo de milhares de quilômetros, sendo encontrados em regiões remotas do planeta (BAIRD, 2002). Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 28 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica A quantidade de HPAs no meio ambiente tem crescido dramaticamente, tendo como maior fonte de emissão a queima de combustíveis fósseis, principalmente em veículos automotivos (MAZZERA et al., 1999; MASTRAL; CALLEN, 2000; PISUPATI et al., 2000). Vazamentos de petróleo tão comum atualmente, apesar de provocarem grandes impactos ambientais localizados, não são os maiores responsáveis pela presença destes hidrocarbonetos na contaminação de ambientes. O petróleo constitui uma das fontes mais importantes de hidrocarbonetos. A introdução de HPAs no meio ambiente pode ocorrer por fontes naturais e antrópicas. A contribuição das fontes naturais é muito limitada restringindo-se, praticamente, à queima espontânea de florestas e emissões vulcânicas. As fontes antropogênicas representam o principal processo de produção de HPAs. A queima de combustíveis como petróleo e seus derivados, carvão, madeira, gás de carvão etc, produz HPAs e muitos outros poluentes atmosféricos. A quantidade e os tipos de HPAs formados dependem das condições específicas do processo e do tipo de combustível, sendo que processos mais eficientes emitem menores quantidades de HPAs. A fumaça de cigarro, queimadas e calefação (especialmente em países de clima temperado) são importantes fontes de HPAs e derivados (LOPES et al., 1996). Os HPAs são oriundos também de fontes tecnológicas que podem ser móveis ou estacionárias: Fontes móveis: destaca-se o motor de combustão interna como o principal emissor destas substâncias para o ambiente. Este tipo de motor é o mais comum em diversos veículos de transporte de cargas e passageiros. As fontes veiculares de emissão têm uma grande importância devido à complexidade e quantidade, cada vez maior, de material que é lançado na atmosfera. O material particulado emitido por veículos a diesel, por exemplo, é constituído principalmente de carbono elementar que atua como superfície de condensação de HPAs e de outros compostos aromáticos. Fontes estacionárias: são subdivididas entre as utilizadas na geração de energia elétrica e calor e aquelas ligadas à atividade industrial (produção de alumínio) e de incineração (principalmente de rejeitos químicos) e podem emitir uma grande variedade de produtos de combustão incompleta (PEREIRA NETTO et al, 2000). O petróleo constitui uma das fontes mais importantes de hidrocarbonetos. O petróleo é um líquido oleoso, pouco denso (d = 0,65 a 0,9 g/cm3) e não miscível em água. Dependendo Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 29 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica da região onde foi formado pode apresentar cor negra ou avermelhada, sendo constituído por milhares de compostos orgânicos, com grande predominância de hidrocarbonetos diversos (ZAKARIA et al., 2002; STOUT et al., 2004 apud MOURA, 2009). Segundo Connel et al. (1998, p. 376) os principais contaminantes orgânicos nocivos a saúde que derivam principalmente do petróleo são as bifenilas policloradas (BPC); os hexaclorociclohexanos (HCH); os hexaclorobenzenos (HCB) e os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs). Os HPAs são contaminantes orgânicos semivoláteis e são encontrados no petróleo com diferentes massas moleculares (BENLAHCEN et al., 1997; BISPO et al., 1999; OLLIVON et al., 1998). 3.2.2.2 Compostos Inorgânicos Os compostos inorgânicos mais abundantes são os íons cloreto, sódio, cálcio e magnésio, amônia e sulfeto. Essas espécies podem ser derivadas em parte de atividade microbiana nas linhas de produção. O mecanismo predominante de origem do sulfeto nas águas de formação parece ser a atividade de bactérias redutoras de sulfato (BRS). Embora a presença de amônia possa ser também de origem bacteriana, a origem desta espécie nas águas produzidas pode também ser dependente das condições geológicas da formação produtora (RAMALHO, 2008). 3.2.3 Impactos ambientais e Descarte da Água Produzida 3.2.3.1 Impactos ambientais É inevitável o impacto causado pelas atividades da indústria de petróleo ao ambiente. Contudo isto não se traduz numa atividade irresponsável. Muito pelo contrário, cada vez mais a indústria vem desenvolvendo técnicas e investindo pesadas quantias em pesquisa de novas tecnologias para preservar o meio ambiente, onde toda a atividade é precedida de um Estudo de Impacto Ambiental, que origina um elenco de medidas de proteção e mitigação, levando Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 30 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica em conta os fatores bióticos, físicos, socioeconômicos e culturais. Sendo uma das principais preocupações ambientais na atividade petrolífera é a água de produção, que representa basicamente 98 % dos resíduos da produção de óleo e gás. Com o envelhecimento dos campos produtores, os poços começam a produzir cada vez mais, maiores quantidades de água, tornando o gerenciamento desta água um assunto de importância capital (CAVACO; BARROS, 2005). O impacto ambiental provocado pelo descarte da água produzida é geralmente avaliado pela toxicidade dos constituintes e pela quantidade de compostos orgânicos e inorgânicos presentes. Os contaminantes presentes nas águas produzidas podem causar diferentes efeitos sobre o meio ambiente. Após o descarte, alguns destes contaminantes permanecem dissolvidos, ao passo que outros tendem a sair de solução. Acredita-se que os efeitos mais nocivos ao meio ambiente são aqueles relacionados aos compostos que permanecem solúveis após o descarte da água produzida. Geralmente, a salinidade e o teor de óleo presente nas águas produzidas são os fatores determinantes para a escolha do(s) processo(s) de tratamento e do local de descarte do efluente tratado. Na indústria de petróleo, o termo óleo é normalmente empregado para descrever o material orgânico que, em águas produzidas, pode incluir hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos, fenóis e ácidos carboxílicos. O material orgânico está presente nas águas produzidas tanto na forma dispersa como na forma dissolvida (PETROBRAS, 2000). Escolheu-se trabalhar com hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) porque estes constituem uma classe de contaminantes encontrados no petróleo que são classificados pela Agência Americana de Proteção ao Meio Ambiente (U.S. Environmental Protection Agency – EPA) como poluentes prioritários e são conhecidos como uma ameaça à saúde pública e à integridade dos ecossistemas marinhos. Com relação ao impacto ambiental nosso trabalho visa tratar, através da técnica eletroquímica, os contaminantes (HPAs) presentes na água produzida de petróleo. Esse tratamento visa transformar moléculas ambientalmente indesejáveis em outras moléculas menos tóxicas, para que estas possam ser assimiladas de modo mais harmonioso nos ciclos da natureza. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 31 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica 3.2.3.2 Descarte da Água Produzida O tratamento de todos os efluentes, inclusive da água de produção, deve ocorrer de acordo com a legislação ambiental. A água produzida é tratada e posteriormente descartada no mar, nos campos de produção marítima ou reinjetada nos poços de produção terrestres (CAVACO; BARROS, 2005). A constante busca por novas tecnologias é fundamental para a preservação ambiental. Em alguns casos as indústrias patrocinam novos sistemas e técnicas inovadoras ou compram direito de uso de novos sistemas através de licenças ou parcerias. O descarte da água produzida só pode ser feito dentro de determinadas especificações, regulamentadas por órgão de controle do meio ambiente que limita a quantidade de poluentes (teor de óleo, graxa, H2S, etc.) nos efluentes aquosos (THOMAS et al., 2001 apud RAMALHO, 2008). Segundo Thomas et al. (2001, p.266) a água separada do petróleo é um efluente cujo descarte tem que ser feito com os devidos cuidados para não agredir o meio ambiente, em função: Seu volume: Em média, para cada m3/d de petróleo produzido são gerados três a quatro m3/d de água. Há campos em que este número se eleva a sete ou mais. Nas atividades de exploração, perfuração e produção, a água produzida responde por 98 % de todos os efluentes gerados; Sua composição: presença de sais, óleo e outros constituintes nocivos ao meio ambiente, ausência de oxigênio, temperatura elevada. No Brasil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente através da Resolução 393 do CONAMA (2007), estabeleceu novos limites para descarte. O descarte de água produzida deverá obedecer à concentração média aritmética simples mensal de óleos e graxas de até 29 mg/L, com valor máximo diário de 42 mg/L. A Resolução 393 estabelece que as empresas operadoras de plataformas devem realizar o monitoramento semestral da água produzida a ser descartada das plataformas, para fins de identificação da presença e concentração dos seguintes parâmetros (RAMALHO, 2008): Compostos inorgânicos: arsênio, bário, cádmio, cromo, cobre, ferro, mercúrio, manganês, níquel, chumbo, vanádio e zinco; Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 32 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica Radioisótopos: rádio-226 e rádio-228; Compostos orgânicos: hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), BTEX (benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos), fenóis e avaliação de hidrocarbonetos totais de petróleo - HTP através de perfil cromatográfico; Toxicidade crônica da água produzida: determinada através de método ecotoxicológico padronizado com organismos marinhos; Parâmetros complementares: carbono orgânico total (COT), pH, salinidade, temperatura e nitrogênio amoniacal total. De uma forma geral, as empresas têm procurado melhorar seus sistemas de tratamento de efluentes, buscando a aplicação de novas tecnologias, mais econômicas e eficientes, que possibilitem o enquadramento dos efluentes às exigências legais. Devido ao crescente aumento da poluição ambiental, fruto da atividade industrial, os órgãos de controle ambiental têm revisado as leis vigentes e cobrado limites mais rigorosos para o descarte de efluentes. A poluição por óleos representa um percentual elevado nos problemas gerados por contaminantes orgânicos, uma vez que os combustíveis fósseis, como o petróleo e seus subprodutos, são fontes de matéria prima e geração de energia da maioria dos processos industriais da atualidade (THOMAS, 2001). 3.2.4 Custo do Tratamento da Água Produzida Os custos que envolvem o tratamento e o descarte de efluentes na produção de petróleo variam muito, pois dependem da localização do campo, do tipo de emulsão, da forma de descarte, dos produtos utilizados e do processo selecionado. No Rio Grande do Norte o valor estimado é de aproximadamente 12 R$/m³ para o tratamento da água produzida com polieletrólitos e seu respectivo descarte (GALVÃO, 2008 apud RAMALHO, 2008). Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 33 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica 3.3 TRATAMENTO DA ÁGUA PRODUZIDA Na literatura existem vários trabalhos relacionados ao tratamento de água produzida, dentre eles estão os processos biológicos, processos oxidativos avançados (POAs) e os processos eletroquímicos (FREIRE et al., 2000). Existem tecnologias que podem ser aplicadas para a remoção de alguns compostos específicos dissolvidos nas águas produzidas. Na tabela 3.7, apresenta-se um resumo das tecnologias aplicadas na remoção de metais pesados, compostos orgânicos e produtos químicos dissolvidos em áreas offshore (PETROBRAS, 2000). Tabela 3.7 - Tecnologias aplicadas à remoção de compostos dissolvidos. Metais pesados Precipitação química Troca iônica Processos de remoção de contaminantes dissolvidos Material orgânico e produtos químicos Tratamento biológico Filtração por membrana Adsorção em zeólitos sintéticos Adsorção em carbono ativado Stripping Um processo bastante promissor na área de tratamento de água produzida, na atualidade, é o eletroquímico, onde através da ação do próprio elétron ou espécies oxidantes geradas em solução, as substâncias tóxicas e nocivas ao meio ambiente são removidas ou transformadas através de reações de óxido-redução em substâncias menos tóxicas. Os métodos de tratamento das águas produzidas dependem de muitos fatores, incluindo os volumes envolvidos, a constituição da água, a localização do campo e os limites da legislação ambiental vigente. Para serem viáveis, as tecnologias de tratamento devem apresentar baixo custo operacional e elevada eficiência. No caso de instalações offshore, estas tecnologias também devem ser compactas, devido às restrições de espaço e peso (PETROBRAS, 2000). A tecnologia eletroquímica se enquadra nestas condições, pois apresenta as seguintes vantagens: relativa disponibilidade de energia elétrica, as condições energéticas reacionais reduzidas (processos a frio), sistemas altamente reprodutíveis e facilmente controláveis permitindo a automação e facilidade de montagem de plantas relativamente compactas (RAMALHO, 2008). Vários métodos são aplicados no tratamento da água produzida, dentre eles destaca-se o processo eletrolítico onde ocorre quando um potencial é aplicado por uma fonte externa de Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 34 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica corrente provocando uma reação química não espontânea no meio aquoso (MAHAN; MYERS, 2003; RUIZ; GUERRERO, 2002). Muitos pesquisadores estão investigando estas transformações químicas não espontâneas, que ocorrem dentro dos reatores eletrolíticos, para promover o tratamento da água de produção através da redução de metais pesados e da oxidação dos compostos orgânicos. Este processo de tratamento eletroquímico de efluentes tem se apresentado como uma tecnologia alternativa que possibilita aumentar a capacidade a e eficiência do tratamento físico-químico tradicional (SILVA et al., 2005). Para o tratamento eletroquímico existem alguns tipos de processos eletrolíticos, dentre eles destacam: a) Eletroflotação De acordo com Chen (2003 apud GOMES 2009), a eletroflotação é um processo simples que flota poluentes para a superfície da água, através de minúsculas bolhas de gases hidrogênio e oxigênio, gerados por eletrólise da água, na base de um reator eletroquímico. As reações eletroquímicas que ocorrem no cátodo e ânodo são, respectivamente, reações de produção de hidrogênio e oxigênio. A tecnologia da eletroflotação é efetiva na remoção de partículas coloidais, óleos, graxas e poluentes orgânicos. As bolhas de gás formadas na superfície do eletrodo fazem contanto com as gotas de óleo, são adsorvidas e transportadas para superfície do eletrodo fazem contato com as gotas de óleo, são adsorvidas e transportadas para superfície, onde ocorre a remoção do óleo. Na eletroflotação, os gases produzidos H2, O2 são gerados a partir da eletrólise da água. As duas semi-reações envolvidas no processo de eletroflotação são: (-) Catodo: 2H 2 O 2e H2 2OH (1) (+) Anodo: 2H 2 O O2 4H 4e (2) O oxigênio gerado no anodo resulta ser muito reativo e eficaz, favorecendo pela sua qualidade de oxidante a quebra de eventuais moléculas orgânicas resistentes. O hidrogênio produzido no catodo é utilizado como redutor das moléculas orgânicas (SILVA et al., 2005). Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 35 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica b) Eletrocoagulação A eletrocoagulação se caracteriza pela eletrólise realizada com anodos de sacrifício, como ocorre, como por exemplo, o alumínio e o ferro. A passagem de corrente elétrica através deles provoca a sua dissolução conforme as Equações 1 e 2 (SILVA et al., 2005 apud RAMALHO, 2008): Al Al3+ + 3 e- (1) Fe Fe2+ + 2 e- (2) A eletrólise da água no anodo produz hidroxilas que reagem imediatamente com os cátions livres, conforme as Equações (3), (4) e (5), formando hidróxidos metálicos, reagindo também com os contaminantes presentes no meio aquoso. Estes hidróxidos metálicos coagulam, em seguida floculam e precipitam no estado sólido. Catodo: 2H2O + 2e- H2 + 2OH- (3) Al3+ + 3OH- Al(OH)3 (4) Fe2+ + 2OH- Fe(OH)2 (5) Em geral, os seguintes processos principais que ocorre durante um tratamento de eletrocoagulação, são (MARTINEZ-HUITLE; BRILLAS, 2009): Reações no eletrodo para produzir íons metálicos de Fe ou Al no ânodo e gás H2 no catodo; Formação de coagulantes em água produzida; Outras reações eletroquímicas e químicas envolvendo redução de poluentes orgânicos e íons metálicos no catodo e coagulação de partículas coloidais. A eletrocoagulação envolve a geração de íons metálicos no anodo enquanto que o gás hidrogênio é liberado no catodo. Neste processo, um potencial é aplicado aos anodos do metal, fabricados tipicamente de ferro ou de alumínio, que causam duas reações separadas (CHEN, 2004): Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 36 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica Fe/Al é dissolvido do anodo gerando íons correspondentes do metal, que é hidrolisado quase imediatamente ao hidróxido polimérico de ferro ou de alumínio. Estes hidróxidos poliméricos são agentes coagulantes excelentes. Os anodos consumíveis (sacrifício) do metal são usados para produzir continuamente hidróxidos poliméricos na vizinhança do anodo. A coagulação ocorre quando estes cátions do metal se combinam com as partículas negativas carregadas para o anodo pelo movimento eletroforético. Os contaminantes presentes na corrente de água residuária são tratados tanto por reações químicas e precipitação ou ligação física e química aos materiais coloidais que estão sendo gerados pela erosão do eletrodo. Eles são então removidos por eletroflotação, ou sedimentação e filtração. Assim, ao invés da adição de produtos químicos coagulantes como no processo convencional de coagulação, estes agentes coagulantes são gerados in situ; A água também é eletrolisada em uma reação paralela. c) Eletrooxidação Na eletrooxidação, o mecanismo é fortemente dependente do material do ânodo, vários materiais eletrocatalíticos têm sido testados na degradação de compostos orgânicos (SANTOS, 2006). Como exemplo, temos oxidação anódica do fenol testado em diferentes tipos de materiais, formando produtos distintos: em ânodos do tipo Pt têm-se a formação de ácido maleico, fumárico e oxálico; em ânodos do tipo Ti/IrO2 têm-se a formação de hidroquinona e benzoquinona; e em ânodos do tipo Ti/SnO2-Sb2O5 têm-se a formação de CO2 (MARTINEZ-HUITLE; BRILLAS, 2009; SANTOS, 2006; MARTINEZ-HUITLE; FERRO, 2006 apud RAMALHO, 2008). Mecanismo de Oxidação Anódica O mecanismo de eliminação de moléculas orgânicas é favorecido através de oxidação anódica que pode ocorre por troca direta de elétrons entre o composto orgânico e a superfície do eletrodo ou, de forma indireta, pela intermediação de espécies oxidantes formadas no ânodo (espécies ativas do oxigênio). A oxidação indireta é o principal processo de transferência de átomos de oxigênio para o material a ser oxidado. Esse processo Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 37 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica eletroquímico de oxidação anódica envolve a formação de radical hidroxila (OH*), espécie intermediária da reação de evolução de oxigênio, que adsorve fisicamente na superfície do eletrodo. Na superfície de ânodos revestidos com óxidos metálicos (MOx), do tipo dimensionalmente estáveis (DSA), estes sítios ativos oxidantes podem se transformar em óxidos superiores, quimicamente adsorvidos, do tipo MOx+1. Ambas as espécies são responsáveis pela oxidação de compostos orgânicos, como mostram as etapas 1, 2 e 3 a seguir (MARTINEZ-HUITLE; BRILLAS, 2009 e BERTAZZOLI; PELEGRINI, 2002). 1ª Etapa: MOX MOX (OH * ) H H 2O 2ª Etapa: MOX (OH * ) 3ª Etapa: MO X 1 R MOX MO X 1 H e e RO A oxidação indireta da matéria orgânica pode ocorrer também pelo processo de transferência do cloro ativo e oxigênio adsorvido física ou quimicamente na superfície do eletrodo (MARTINEZ-HUITLE; FERRO, 2006 apud COMNINNELLIS, 1994), segundo as etapas 1, 2, 3, 4, 5 e 6 a seguir: MOx (OH*) + H+ + e- 1ª Etapa: MOx + H2O 2ª Etapa: MOx (OH*) + Cl- MOx (HOCl) ads 3ª Etapa: MOx (HOCl) ads MOx+1 (Cl) + H+ + e- 4ª Etapa: MOx+1 (Cl) + R 5ª Etapa: MOx+1 + R MOx+1 + RCl MOx + RO 6ª Etapa: MOx (HOCl) ads + RO + RCl CO2 + H2O + Cl- Na última etapa, acontece a mineralização completa da matéria orgânica através da ação das espécies eletroativas oxidantes, tais como cloro e oxigênio. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 38 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica 3.3.1 Estudos de remoções de HPAs usando o tratamento eletroquímico Vários estudos têm sido realizados com o objetivo de tratar HPAs através da tecnologia eletroquímica. ANDREOTTOLA et al (2009) realizaram um estudo em amostras de sedimentos contendo em sua composição hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, onde examinou algumas técnicas, dentre elas estavam a eletrooxidação. Para este experimento utilizaram um par de eletrodos de aço inoxidável. Os testes resultaram numa redução de HPAs em até 44%. TRAN et al (2009) desenvolveram um estudo com efluente sintético contendo vários HPAs, usando a técnica de eletrooxidação com eletrodos de Ti/IrO2 e Ti/SnO2, onde conseguiram remoção do contaminante de até 84%. TRAN et al (2008) estudaram uma solução contendo HPAs, usando a técnica de eletrooxidação com cinco ânodos (Ti/RuO2) e cinco catodos (aço inoxidável). Houve remoção do contaminante de até 82%. Não foi encontrado na literatura, nenhum trabalho experimental ou cientifico referente ao tratamento eletroquímico de água produzida sintética para remoção de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) utilizando a eletrooxidação como metodologia. 3.4 ÂNODOS DIMENSIONALMENTE ESTÁVEIS (DSA) Ânodos Dimensionalmente Estáveis (DSA) são constituídos de uma fina camada de um material eletrocatalítico estável e condutível de corrente depositado sobre a base de um metal, normalmente Ti, que tem sido proposto para síntese seletiva e para a oxidação destrutiva de contaminantes em efluentes industriais. As propriedades eletroquímicas de óxidos termais tendem ser amplamente dependente de condições experimentais de preparação tais como: procedimento para deposição, temperatura de calcinação, etc. A técnica padrão de preparação consiste na decomposição termal em uma solução contendo o sal precursor Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 39 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica contido no substrato. A decomposição pode ser também realizada por meio de spray pirolisados, injetando reativos. Recentemente, mostrou-se que a indução eletromagnética aquecida permite rápida decomposição termal do precursor e mínima oxidação do substrato (MOUSTY et al., 1999 apud RAMALHO, 2008). Existem vários tipos de materiais que constituem os ânodos dimensionalmente estáveis: Ti/RuO2, Ti/TiO2, Pt, Ti/RuO2TiO2,Ti/IrO2-TiO2, Ti/IrO2-Sb2O5-SnO2, Pt-Nb, Ti, IrO2 (MARTINEZ-HUITLE; BRILLAS, 2008). 3.5 PARÂMETROS DE CONTROLE DO PROCESSO De acordo com GIORDANO e FILHO (2000) apud RAMALHO (2008), os sistemas de tratamento são controlados objetivando a eficiência de remoção dos contaminantes e os custos operacionais. Os custos operacionais estão relacionados com a manutenção e o consumo energético do reator, mostrado na Equação (6), em kWh/m3 de água tratada. CE = (E x I x t) / 1000 x Vt (6) Onde: CE = consumo energético (kWh/m3); E = potencial aplicado (volts); I = intensidade de corrente de eletrólise (Ampere); Vt = volume de efluente tratado (m3); t = tempo total de eletrólise (horas). Além disso, a eficiência de remoção dos contaminantes é estimada a partir da Equação (7). % de Remoção = [(Ci – Cf)/ Ci] x 100 (7) Onde: Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 40 Capítulo 3 - Revisão Bibliográfica Ci = concentração inicial do contaminante; Cf = concentração final do contaminante ao final do processo Estes parâmetros vão permitir avaliar a viabilidade do processo eletroquímico (econômico e eficiência) na eliminação dos compostos orgânicos. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 41 Capítulo 4 - Materiais e Métodos 4 MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 PREPARO DA ÁGUA PRODUZIDA SINTÉTICA Para submeter o tratamento eletroquímico foi sintetizada uma água de produção com a concentração dos contaminantes, HPAs, similares aos reportados no relatório do campo de Curimã/CE. A produção desta água foi realizada utilizado o padrão contendo 16 HPAs prioritários (marca ACCUSTANDARD), onde dissolveu em diclorometano. Foi retirada dessa diluição uma alíquota de 1,5 mL e transferido a um béquer contendo 500 mL de água ultrapura. Logo em seguida foram agitados no ultra-som (marca ULTRASONIC CLEANER 1400), no qual ajudou a solubilizar os HPAs em água, durante um tempo de 15 minutos. Depois que encerrou o tempo de agitação, adicionou 200 mL de solução H2SO4 0,5M, onde tinha a função de condutor elétrico. 4.2 REATOR ELETROQUÍMICO E TRATAMENTO ELETROQUÍMICO 4.2.1 Reator Eletroquímico O processo de oxidação eletroquímica foi realizado em escala de bancada com um reator eletroquímico em batelada contendo um par de eletrodos paralelos, usando um agitador magnético (Marca Tecnal, modelo TE 085) e alimentado com uma fonte de corrente contínua (Marca Power Supply, modelo MPL 3305). Foi usado um eletrodo de ânodo dimensionalmente estável (DSA), constituído de Ti/Pt, com área geométrica de 13,5 cm2. Enquanto o outro eletrodo o cátodo, composto de Ti, onde apresentou área de 15 cm2. O reator estava conectado a um potencial de 3,2 Volts e uma corrente contínua de 0,150 A. Ver Figura 4.1. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 42 Capítulo 4 - Materiais e Métodos Figura 4.1 - Reator eletroquímico de bancada: (1) Fonte de corrente contínua; (2) Eletrodo ânodo (pólo positivo) de Ti/Pt; (3) Eletrodo cátodo (pólo negativo) de Ti; (4) Agitador magnético; (5) Solução de água produzida sintética. 4.2.2 Tratamento Eletroquímico No béquer, do reator eletroquímico, adicionou 330 mL de água produzida sintética, submetendo o efluente a agitação por diferentes tempos de eletrólise (1, 2, 3 e 4 horas). Selecionou-se o tempo de tratamento de 4 horas e as amostras foram coletadas com intervalo de 1 hora. A cada hora foi retirado uma alíquota de 20 mL e colocado em frasco âmbar para análise das concentrações dos HPAs. 4.3 EXTRAÇÃO (LÍQUIDO-LÍQUIDO) Num funil de separação colocou cerca de 20 mL de amostra (efluente de água produzida sintética), aos quais foi adicionado 6,7 mL de diclorometano/Hexano (1:1). A mistura foi colocada no ultra-som por 10 minutos (MOURA, 2009). Encerrando o tempo, aliviou a pressão (abrindo a torneira do funil). Deixou separar as fases e após seguiu-se a filtração em papel de filtro comum com Na2SO4 anidro para retirada de traços de água. Coletou a fase orgânica e injetou no CG-EM para determinação de HPAs na amostra. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 43 Capítulo 4 - Materiais e Métodos 4.4 EQUIPAMENTO ANALÍTICO O Cromatógrafo utilizado para quantificar os 16 HPAs prioritários (Naftaleno, Acenaftileno, Acenafteno, Fluoreno, Fenantreno, Antraceno, Fluoranteno, Pireno, Benzo(a)antraceno, Criseno, Benzo(b)fluoranteno, Benzo(k)fluoranteno, Benzo(a)pireno, Indeno(1,2,3-c,d)pireno, Dibenzo(a,h)antraceno, Benzo(g,h,i)perileno, todos da marca Accustandart) foi o CG-EM (Figura 4.2), da marca Thermo Electron Corporation. Figura 4.2 - Cromatógrafo Gasoso, Focus GC, acoplado ao Espectrômetro de Massa, Modelo Polaris Q da Thermo Electron Corporation. A amostra foi analisada utilizado o injetor automático (Marca Thermo, modelo AS 3000), Cromatógrafo gasoso (Marca Thermo, modelo Focus GC) acoplado ao espectrômetro de massas (Marca Thermo, modelo Polaris-Q) utilizado na separação, determinação e quantificação das amostras contendo HPAs. Coluna BPX5-MS (5 % fenil, 95 % dimetilpolisiloxano da marca Thermo, 30 metros de comprimento x 0,25 mm diâmetro interno x 0,25 um espessura do filme). Na Tabela 4.1 define Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes as características usadas no cromatógrafo. Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 44 Capítulo 4 - Materiais e Métodos Tabela 4.1 - Características usadas no cromatógrafos. Temperatura do injetor Gradiente de temperatura Gás de arraste Fluxo do gás de arraste Injetor Coluna Temperatura da linha de transferência Voltagem do Detector Modalidade de Ionização Tipo de aquisição Tipo de analisador Estação 260°C 60°C (1 min) até 130 °C a 35 °C/min; 130 °C até 285 °C (17 min) a 20 °C/min Hélio UP 1,2 mL/min Modo Splitless, 2 µL injetado BPX5-MS 30 m de comprimento, diâmetro interno de 0,25 mm e espessura do filme de 0,25 µm. 275°C 70,0 eV Impacto de Elétrons (EI) Modo Full Scan Ion trap Xcalibur 4.2 4.5 CONSUMO DE ENERGIA POR m3 DE ÁGUA PRODUZIDA SINTÉTICA TRATADA O consumo energético em kWh/m3 para cada experimento realizado foi determinado através da Equação (4.1). Avaliação do custo do tratamento eletroquímico foi estimada pela tarifa estabelecida pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), sendo o kWh de 32 centavos para indústria (COSERN, 2010). Não foram considerados os impostos. CE = (E x I x t) /1000 x Vt (4.1) Onde: CE = consumo energético (kWh/m3) E = potencial aplicado (volts) I = intensidade de corrente de eletrólise (Ampere); Vt = volume do efluente tratado (m3); t = tempo total de eletrólise (horas). Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 45 Capítulo 4 - Materiais e Métodos 4.6 EFICIÊNCIA DE REMOÇÃO DOS CONTAMINANTES A eficiência de remoção dos contaminantes é calculada pela Equação (4.2). % de Remoção = [(Ci – Cf)/ Ci] x 100 (4.2) Onde: Ci = concentração inicial do contaminante; Cf = concentração final do contaminante ao final do processo. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 46 Capítulo 5 - Resultados e Discussões 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES Neste capítulo estão apresentados e discutidos os resultados de remoções dos 16 HPAs presentes na água produzida sintética, o cálculo da eficiência de remoção dos contaminantes e o cálculo do consumo energético do tratamento eletroquímico. 5.1 RESULTADOS DE REMOÇÃO DE HPAs Na Tabela 5.1 apresenta-se os 16 tipos de HPAs prioritários, presentes na água produzida sintética, a concentração inicial de cada HPAs, ou seja, antes do tratamento eletroquímico, e a concentração final de cada HPAs após tratamento, sendo essa concentração em forma de percentual de remoções dos contaminantes. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 47 Capítulo 5 - Resultados e Discussões Tabela 5.1 - Resultado do percentual de remoção de HPAs. Tipos de HPAs (Massa molar em g.mol-1 e Tempo de retenção no cromatograma em minutos) Naftaleno MM = 127,5 a 128,5 t = 5,03 Acenaftileno MM = 151,5 a 152,5 t = 6,73 Acenafteno MM = 153,5 a 154,5 t = 6,93 Fluoreno MM = 166 t = 5,03 Fenantreno MM = 177,5 a 178,5 t = 8,71 Antraceno MM = 177,5 a 178,5 t = 8,78 Fluoranteno MM = 201,5 a 202,5 t = 10,18 Pireno MM = 201,5 a 202,5 t = 10,48 Benzo(a)antraceno MM = 227,5 a 228,5 t = 12,21 Criseno MM = 227,5 a 228,5 t = 12,28 Benzo(b)fluoranteno MM = 251,5 a 252,5 t = 14,81 Benzo(k)fluoranteno MM = 251,5 a 252,5 t = 14,90 Benzo(a)pireno MM = 251,5 a 252,5 t = 15,94 Indeno(1,2,3-cd) pireno MM = 275,5 a 276,5 t = 21,17 Dibenzo(a,h)antraceno MM = 277,5 a 278,5 t = 21,34 Benzo(g,h,i)perileno MM = 275,5 a 276,5 t = 22,84 Conc. Inicial dos HPAs no Efluente (µg.L-1) Percentual de Remoções dos Contaminantes (%) Tempo de Tratamento Eletroquímico (horas) 1ª 2ª 3ª 4ª 124 79,84 82,26 83,07 84,68 112 73,22 74,11 75 75 77 58,45 58,45 58,45 59,74 100 71 71 70 72 163 78,53 77,92 74,85 79,76 144 73,62 72,92 68,06 72,23 185 71,36 70,82 66,49 72,98 173 70,53 70,53 67,06 71,68 174 73,57 73 67,82 70,69 164 70,74 69,52 64,03 66,47 145 68,28 68,28 62,76 66,21 130 63,08 63,08 59,64 60,77 127 63,78 63,12 60,63 62,21 106 60,38 62,27 58,50 62,27 97 54,64 56,1 53,61 55,68 106 59,44 61,33 57,55 60,38 Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 48 Capítulo 5 - Resultados e Discussões Nesta mesma tabela, percebeu-se que o resultado do percentual de remoções dos HPAs em função do tempo de tratamento foi bastante significativo, chegando alguns compostos atingirem cerca de até 85 % de remoção. Na primeira hora a eficiência da remoção foi maior do que as demais horas, uma vez que os resultados obtiveram-se quase que constantes. Para explicar estas remoções dois tipos de reações químicas podem ter ocorrido, como detalhado a seguir: Eletrooxidação direta: o mecanismo de eliminação dos HPAs favorecido através de oxidação anódica por troca direta de elétrons entre estes compostos e a superfície do eletrodo; Eletrooxidação indireta: pela intermediação de espécies oxidantes formadas no ânodo. No qual a eletrolise da molécula da água, produz radical hidroxila (OH ) que se adsorve física ou quimicamente na superfície do eletrodo (dependendo da natureza química do material eletrocatalítico) e transfere átomos de oxigênio para os HPAs a serem oxidados. Como mostram as etapas 1, 2 e 3 a seguir: 1ª Etapa: MOX H 2O 2ª Etapa: MOX (OH ) 3ª Etapa: MO X 1 HPA MOX (OH ) H MOX 1 MO X H e (1) (2) e ( HPA )O (3) O radical hidroxila (OH ) funciona como agente oxidante na oxidação (quebra) das moléculas de HPAs. Enquanto o gás hidrogênio produzido no cátodo funciona como redutor destes compostos; Finalmente, é importante mencionar que no nosso caso o material eletrocatalítico usado foi Ti/Pt, considerado um eletrodo “ativo”, que vai produzir radicais hidroxila (OH ) que vão ser quimicamente adsorvidos na superfície do eletrodo e eles vão transferir átomos de oxigênio para os HPAs, assim oxidando eles em substancias menos tóxicas. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 49 Capítulo 5 - Resultados e Discussões 5.1.1 Resultados de Remoção de HPAs Expressos em Registros Gráficos 5.1.1.1 Registro Gráfico pelo Método Cromatográfico (CG-EM): Na Figura 5.1 o cromatograma da amostra inicial, ou seja, antes do tratamento eletroquímico, onde relata os 16 HPAs. Figura 5.1 - Cromatograma da amostra inicial da água produzida sintética, antes do tratamento eletroquímico. Apresenta os 16 HPAs: (1) Naftaleno; (2) Acenaftileno; (3) Acenafteno; (4) Fluoreno; (5) Fenantreno; (6) Antraceno; (7) Fluoranteno; (8) Pireno; (9) Benzo(a)antraceno; (10) Criseno; (11) Benzo(k)fluoranteno; (12) Benzo(k)fluoranteno; (13) Benzo(a)pireno; (14) Indeno(1,2,3-cd)pireno, (15) Dibenzo(a,h)antraceno; (16) Benzo(g,h,i)perileno. Na Figura 5.2 apresenta o cromatograma da amostra após 1 hora de tratamento eletroquímico. Figura 5.2 - Cromatograma da amostra após 1 hora de tratamento eletroquímico. Apresenta os 16 HPAs: (1) Naftaleno; (2) Acenaftileno; (3) Acenafteno; (4) Fluoreno; (5) Fenantreno; (6) Antraceno; (7)Fluoranteno; (8) Pireno; (9) Benzo(a)antraceno; (10) Criseno; (11) Benzo(k)fluoranteno; (12) Benzo(k)fluoranteno; (13) Benzo(a)pireno; (14) Indeno(1,2,3-cd)pireno, (15) Dibenzo(a,h)antraceno; (16) Benzo(g,h,i)perileno. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 50 Capítulo 5 - Resultados e Discussões A Figura 5.3 mostra o cromatograma da amostra após 2 horas de tratamento eletroquímico. Figura 5.3 - Cromatograma da amostra após 2 horas de tratamento eletroquímico. Apresenta os 16 HPAs: (1) Naftaleno; (2) Acenaftileno; (3) Acenafteno; (4) Fluoreno; (5) Fenantreno; (6) Antraceno; (7) Fluoranteno; (8) Pireno; (9) Benzo(a)antraceno; (10) Criseno; (11) Benzo(k)fluoranteno; (12) Benzo(k)fluoranteno; (13) Benzo(a)pireno; (14) Indeno(1,2,3-cd)pireno, (15) Dibenzo(a,h)antraceno; (16) Benzo(g,h,i)perileno. Na Figura 5.4 mostra o cromatograma da amostra após 3 horas de tratamento eletroquímico. Figura 5.4 - Cromatograma da amostra após 3 horas de tratamento eletroquímico. Apresenta os 16 HPAs: (1) Naftaleno; (2) Acenaftileno; (3) Acenafteno; (4) Fluoreno; (5) Fenantreno; (6) Antraceno; (7) Fluoranteno; (8) Pireno; (9) Benzo(a)antraceno; (10) Criseno; (11) Benzo(k)fluoranteno; (12) Benzo(k)fluoranteno; (13) Benzo(a)pireno; (14) Indeno(1,2,3-cd)pireno, (15) Dibenzo(a,h)antraceno; (16) Benzo(g,h,i)perileno. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 51 Capítulo 5 - Resultados e Discussões A Figura 5.5 comprova o cromatograma da amostra após 4 horas de tratamento eletroquímico. Figura 5.5 - Cromatograma da amostra após 4 horas de tratamento eletroquímico. Apresenta os 16 HPAs: (1) Naftaleno; (2) Acenaftileno; (3) Acenafteno; (4) Fluoreno; (5) Fenantreno; (6) Antraceno; (7) Fluoranteno; (8) Pireno; (9) Benzo(a)antraceno; (10) Criseno; (11) Benzo(k)fluoranteno; (12) Benzo(k)fluoranteno; (13) Benzo(a)pireno; (14) Indeno(1,2,3-cd)pireno, (15) Dibenzo(a,h)antraceno; (16) Benzo(g,h,i)perileno. Comparando o cromatograma inicial (antes do tratamento) com os cromatogramas após cada hora (1, 2, 3 e 4 horas) de tratamento, percebe-se que ocorreu diminuição na concentração dos compostos orgânicos em solução; sendo a concentração diretamente proporcional a área do pico, ou seja, quanto menor a altura do pico, menor será a concentração da amostra. Porém nestes perfis cromatográficos é possível observar a formação de novos picos que correspondem a compostos intermediários, cuja formação é bastante comum em processos eletroquímicos devido a quebra dos anéis aromáticos dos HPAs. Esses compostos intermediários não foram possíveis identificar porque a água produzida sintética estudada foi preparada com 16 HPAs diferentes, e cada um deles produzia diferentes intermediários durante a oxidação eletroquímica. Porém, o estudo do mecanismo de degradação de cada um dos compostos orgânicos, separadamente, se faz necessário em experimentos futuros. 5.1.1.2 Registro Gráfico pela Representação de Grupos por Anéis: As figuras abaixo apresentam percentuais de remoção entre grupos de anéis dos compostos de HPAs presente na amostra sintética em função do tempo de eletrólise. a) HPAs contendo dois anéis aromáticos Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 52 Capítulo 5 - Resultados e Discussões Naftaleno Acenaftileno Acenafteno Fluoreno 100 % de Remoção 80 60 40 20 0 0 1ª 2ª Tempo/ Hora 3ª 4ª Figura 5.6 - Gráfico do Percentual de Remoção para HPAs contendo dois anéis aromáticos. Na Tabela 5.2 mostra os comportamentos de cada HPAs apresentados da Figura 5.6: Tabela 5.2 - HPAs contendo dois anéis aromáticos. HPAs Naftaleno Percentual de remoção em função do tempo de tratamento eletroquímico 1ª hora = 79,84 2ª hora = 82,26 3ª hora = 83,07 Massa Molar Estrutura 128 4ª hora = 84,68 1ª hora = 73,22 Acenaftileno 2ª hora = 74,11 3ª hora = 75,00 152 4ª hora = 75,00 1ª hora = 58,45 Acenafteno 2ª hora = 58,45 3ª hora = 58,45 154 4ª hora = 59,74 1ª hora = 71,00 Fluoreno 2ª hora = 71,00 3ª hora = 70,00 166 4ª hora = 72,00 Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 53 Capítulo 5 - Resultados e Discussões Dos 4 compostos (naftaleno, acenaftileno, acenafteno e fluoreno) apresentados na Figura 5.6, o melhor percentual de remoção foi obtido para o composto naftaleno, sendo este um valor de 85 % na quarta hora do tratamento. No entanto, o menor percentual de remoção foi obtido para o composto acenafteno, sendo este um valor de 58 % na terceira hora do tratamento. A partir da Figura 5.6 pode ser verificado que a remoção depende do material eletrocatalítico usado durante o processo eletroquímico, como já comprovado por outros estudos na literatura (MARTÍNEZ-HUITLE; BRILLAS, 2009), mas a eficiência de remoção vai depender fortemente da estrutura química do composto orgânico. Assim, o acenafteno (o qual apresenta uma estrutura química mais complexa) apresenta valores menores de percentual de remoção em comparação do naftaleno (estrutura química mais simples) que foi mais facilmente oxidado. Este mesmo comportamento foi observado com os HPAs que apresentavam três anéis aromáticos dentro a sua estrutura química, como pode ser observado na Figura 5.7. b) HPAs contendo três anéis aromáticos Fenantreno Antraceno Fluoranteno 100 % de Remoção 80 60 40 20 0 0 1ª 2ª 3ª 4ª Tempo/ Hora Figura 5.7 - Percentual de Remoção para HPAs contendo três anéis aromáticos. Na Tabela 5.3 mostra os comportamentos de cada HPAs apresentados da Figura 5.7: Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 54 Capítulo 5 - Resultados e Discussões HPAs Fenantreno Tabela 5.3 - HPAs contendo três anéis aromáticos. Percentual de remoção em função Massa do tempo de tratamento Molar eletroquímico 1ª hora = 78,53 2ª hora = 77,92 3ª hora = 74,85 Estrutura 178 4ª hora = 79,76 1ª hora = 73,62 Antraceno 2ª hora = 72,92 3ª hora = 68,06 178 4ª hora = 72,23 1ª hora = 71,36 Fluoranteno 2ª hora = 70,82 3ª hora = 66,49 202 4ª hora = 72,98 Dos compostos com três anéis (fenantreno, antraceno e fluoranteno) apresentados na Figura 5.7, o composto que obteve maior percentual de remoção foi o fenantreno chegando a aproximadamente 80 %, em quatro horas de eletrólise. Sendo o composto com menor percentual de remoção o fluoranteno com 66 % em três horas de eletrólise. Nas Figuras 5.6 e 5.7 percebeu-se que a eficiência de remoção dos HPAs através da oxidação eletroquímica foi bastante significativo durante a primeira hora de tratamento, chegando alguns compostos atingirem cerca de 85% de remoção. Assim, estes resultados confirmam os perfis cromatográficos de eliminação dos HPAs, reportados na secção 5.1.1. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 55 Capítulo 5 - Resultados e Discussões c) HPAs contendo quatro anéis aromáticos Pireno Benzo(b)fluoranteno Benzo(a)antraceno Benzo(k)fluoranteno Criseno 100 % de Remoção 80 60 40 20 0 0 1ª 2ª 3ª 4ª Tempo/ Hora Figura 5.8 - Percentual de Remoção para HPAs contendo quatro anéis aromáticos. Na Tabela 5.4 mostra os comportamentos de cada HPAs apresentados da Figura 5.8: Tabela 5.4 - HPAs contendo quatro anéis aromáticos. HPAs Pireno Percentual de remoção em função do tempo de tratamento eletroquímico 1ª hora = 70,53 2ª hora = 70,53 3ª hora = 67,06 Massa Molar Estrutura 202 4ª hora = 71,68 1ª hora = 73,57 Benzo(a)antraceno 2ª hora = 73,00 3ª hora = 67,82 228 4ª hora = 70,69 1ª hora = 70,74 Criseno 2ª hora = 69,52 3ª hora = 64,03 228 4ª hora = 66,47 1ª hora = 68,28 Benzo(b)fluoranteno 2ª hora = 68,28 3ª hora = 62,76 252 4ª hora = 66,21 1ª hora = 63,08 Benzo(k)fluoranteno 2ª hora = 63,08 3ª hora = 59,64 252 4ª hora = 60,77 Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 56 Capítulo 5 - Resultados e Discussões Dos compostos com quatro anéis (pireno, benzo(a)antraceno, criseno, benzo(b)fluoranteno) apresentados no Figura 5.8, os compostos que obtiveram maior percentual de remoção foram o benzo(a)antraceno (chegando a aproximadamente 74 %) e o pireno (chegando a aproximadamente 72 %), em quatro horas de eletrólise. Sendo o composto com menor percentual de remoção o benzo(k)fluoranteno com aproximadamente 60 % em três horas de eletrólise. Dentre os 4 compostos deste gráfico observa-se que quando a estrutura química dos HPAs está presente um ciclo não aromático, ocorre maior remoção, pois este ciclo dificulta a remoção do composto orgânico em solução, como observado para o benzo(b)fluoranteno e benzo(k)fluoranteno. Por outro lado, quando a estrutura química do HPAs só contém anéis aromáticos a adsorção destes compostos é maior na superfície do eletrodo de Pt, favorecendo a remoção destes compostos. Este comportamento também se verifica nos resultados de remoção dos HPAs que apresentam 3 e 4 anéis aromáticos nas suas estruturas. Além disso, é importante ressaltar que a adsorção dos compostos orgânicos na superfície do material eletrocatalítico usado vai depender fortemente da estrutura química do composto orgânico. Estudos já reportados na literatura demonstram que durante a oxidação eletroquímica do benzeno usando eletrodos ativos, como é o nosso caso, a adsorção do benzeno se verifica de uma forma planar (MARTINEZ-HUITLE; FERRO, 2006); ou seja, os 6 carbonos do anel aromático são adsorvidos na superfície do eletrodo favorecendo a quebra do anel e a oxidação do benzeno através dos radicais hidroxila formados na superfície do eletrodo (eletrólise da água). Porém percebeu-se que quando as estruturas químicas dos HPAs eram formadas por mais de 3 anéis aromáticos e uma conformação planar, caso do pireno, antraceno, benzo(a)pireno (entre outros); estes compostos apresentam uma maior dificuldade de se adsorver na superfície do eletrodo, desfavorecendo sua rápida remoção (Figuras 5.7, 5.8 e 5.9). No entanto, HPAs com estruturas planares mais formando estruturas químicas mais compridas, não apresentariam uma adsorção planar, mas sim uma adsorção lateral o que facilitaria a sua degradação ou ataque por parte dos radicais hidroxilas presentes na superfície do eletrodo. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 57 Capítulo 5 - Resultados e Discussões d) HPAs contendo cinco anéis aromáticos Benzo(a)pireno Indeno(1,2,3-cd)pireno Dibenzo(a,h)antraceno 100 % de Remoção 80 60 40 20 0 0 1ª 2ª 3ª 4ª Tempo/ hora Figura 5.9 - Percentual de Remoção para HPAs contendo cinco anéis aromáticos. A Tabela 5.5 mostra os comportamentos de cada HPAs apresentados da Figura 5.9: Tabela 5.5 - HPAs contendo cinco anéis aromáticos. HPAs Benzo(a)pireno Percentual de remoção em função do tempo de tratamento eletroquímico 1ª hora = 63,78 2ª hora = 63,12 3ª hora = 60,63 Massa Molar Estrutura 252 4ª hora = 62,21 1ª hora = 60,38 Indeno(1,2,3- 2ª hora = 62,27 c,d)pireno 3ª hora = 58,50 276 4ª hora = 62,27 1ª hora = 54,64 Dibenzo(a,h)antraceno 2ª hora = 56,10 3ª hora = 53,61 278 4ª hora = 55,68 Dos compostos apresentados na Figura 5.9 o benzo(a)pireno teve a maior remoção de aproximadamente 64 % na primeira hora de eletrólise. Já o composto que apresentou menor remoção foi dibenzo(a,h)antraceno com cerca de 54 % em três horas de tratamento. Estes resultados confirmam as afirmações sobre o mecanismo de adsorção que depende da estrutura química dos HPAs. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 58 Capítulo 5 - Resultados e Discussões e) HPAs contendo seis anéis aromáticos Benzo(g,h,i)perileno % de Remoção 100 80 60 40 20 0 0 1ª 2ª 3ª 4ª Tempo/ hora Figura 5.10 - Percentual de Remoção para o HPA contendo seis anéis aromáticos. Na Tabela 5.6 mostra os comportamentos de cada HPAs apresentados da Figura 5.10: Tabela 5.6 - HPA contendo seis anéis aromáticos. HPA Benzo(g,h,i)perileno Percentual de remoção em função do tempo de tratamento eletroquímico 1ª hora = 59,44 2ª hora = 61,33 3ª hora = 57,55 Massa Molar Estrutura 276 4ª hora = 60,38 O composto benzo(g,h,i)perileno obteve sua máxima de remoção no tratamento eletroquímico no valor de 61 %, em apenas duas horas de eletrólise. Chegando seu menor valor de remoção em três horas de tratamento com aproximadamente 58 %. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 59 Capítulo 5 - Resultados e Discussões f) HPAs contendo representação de grupos de anéis (2, 3, 4, 5 e 6) aromáticos Naftaleno Fenantreno Benzo(a)antraceno Benzo(a)pireno Benzo(g,h,i)perileno 3ª 4ª 100 % de Remoção 80 60 40 20 0 0 1ª 2ª Tempo/ Hora Figura 5.11 - Percentual de Remoção para representantes de HPAs contendo dois, três, quatro, cinco e seis anéis aromáticos. Na Tabela 5.7 mostra os comportamentos de cada HPAs apresentados da Figura 5.11: Tabela 5.7 - HPAs contendo anéis (2, 3, 4, 5 e 6) aromáticos. Percentual de remoção em Massa HPAs Estrutura função do tempo de Molar tratamento eletroquímico 1ª hora = 79,84 Naftaleno 2ª hora = 82,26 3ª hora = 83,07 128 4ª hora = 84,68 1ª hora = 78,53 Fenantreno 2ª hora = 77,92 3ª hora = 74,85 178 4ª hora = 79,76 1ª hora = 73,57 Benzo(a)antraceno 2ª hora = 73,00 3ª hora = 67,82 228 4ª hora = 70,69 1ª hora = 63,78 Benzo(a)pireno 2ª hora = 63,12 3ª hora = 60,63 252 4ª hora = 62,21 1ª hora = 59,44 Benzo(g,h,i)perileno 2ª hora = 61,33 3ª hora = 57,55 276 4ª hora = 60,38 Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 60 Capítulo 5 - Resultados e Discussões Na Figura 5.11, apresenta a classe de HPAs que contém dois, três, quatro, cinco e seis anéis aromáticos. Porém percebeu-se que quanto menor a massa molar do composto melhor será o tratamento, ou seja, a eficiência da remoção dos HPAs. O naftaleno apresenta massa molar cerca de 128, onde conseguiu ser degradado aproximadamente 85 %, em quatro horas de eletrólise. Já o benzo(g,h,i)perileno tem massa molar de 276, contudo é o que apresenta a maior massa molar, e conseqüentemente exibiu a menor remoção, com 58 % em três horas de eletrólise. Além disso, este comportamento se explica através do mecanismo de adsorção desenvolvido pelos compostos orgânicos na superfície do material eletrocatalítico. Como pode ser observado na Figura 5.11, os compostos com uma estrutura química simples foram removidos mais rapidamente em comparação com aqueles compostos que apresentam uma estrutura química mais complexa, isto é devido aos compostos como o naftaleno e fenantreno conseguem se adsorver mais facilmente na superfície da Pt; mais do que compostos orgânicos como benzo(a)pireno e benzo(g,h,i)perileno. Porém pode-se concluir que a eficiência da oxidação eletroquímica depende fortemente da estrutura química do composto orgânico além da natureza do material eletrocatalítico usado. Neste caso, o eletrodo de Ti/Pt é considerado como um eletrodo ativo (MARTINEZ-HUITLE; FERRO, 2006), ou seja, favorece a adsorção de compostos orgânicos na superfície ativa do material, e através dessa adsorção o composto orgânico vai ser transformado em outros compostos menos tóxicos ou através da participação dos radicais hidroxila produzidos na superfície do mesmo eletrodo. Por outro lado, deve ser considerado que durante a oxidação eletroquímica dos HPAs, independentemente da estrutura química, vão ser produzidos intermediários de oxidação, os quais vão apresentar estruturas químicas mais simples. Estes intermediários de reação vão ser oxidados preferentemente ao invés dos HPAs ainda presentes em solução; porém estes intermediários vão aumentar o tempo de eliminação dos HPAs e diminuir a eficiência de remoção dos mesmos. 5.2 RESULTADOS DA ANÁLISE DE CONSUMO ENERGÉTICO A Tabela 5.8 abaixo apresenta os valores do consumo energético e kWh no tratamento eletroquímico. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 61 Capítulo 5 - Resultados e Discussões Tabela 5.8 - Resultado do consumo energético para os ensaios com 1, 2, 3 e 4 horas. Tempo (horas) Consumo Energético CE = (E x I x t)/1000 x Vt Valor do kWh em R$/m3 para indústria 1 CE = (3,2 x 0,150 x 1)/ 1000 x 0,00035 = 1,37 0,44 2 CE = (3,2 x 0,150 x 2)/ 1000 x 0,00035 = 2,74 0,88 3 CE = (3,2 x 0,150 x 3)/ 1000 x 0,00035 = 4,11 1,31 4 CE = (3,2 x 0,150 x 4)/ 1000 x 0,00035 = 5,48 1,75 Nota: 1 kWh custa R$ 0,32 (COSERN, 2010) O custo operacional deste tratamento foi lucrativo quando comparado ao que se gasta atualmente no estado do Rio Grande do Norte para o tratamento e descarte da água produzida, sendo aproximadamente gasto o valor de 12 R$/m³ (RAMALHO, 2008). Contudo, este processo deve ser comparado com os custos atuais do tratamento usado na indústria do petróleo e comparado com outros métodos de tratamento de água produzida reportados na literatura. A partir dessas comparações vamos poder estimar um custo total do nosso método de tratamento de água produzida e poder escalar as dimensões do reator eletroquímico para começar com testes de amostras reais e maiores volumes de líquido. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 62 Capítulo 6 - Conclusões 6 CONCLUSÕES O tratamento eletroquímico para remoção de HPAs em água produzida sintética mostrou-se uma técnica eficaz, uma vez que alguns compostos conseguiram remoção de aproximadamente 85 %, em até quatro horas de eletrólise. Dentre os HPAs que obtiveram melhor resposta ao tratamento eletroquímico, acima de 70 % de remoção, foi: naftaleno, acenaftileno, fluoreno, fenantreno, antraceno, fluoranteno, pireno, benzo(a)antraceno e criseno. O restante benzo(k)fluoranteno, dos compostos, benzo(a)pireno, que são: acenafteno, indeno(1,2,3-cd)pireno, benzo(b)fluoranteno, dibenzo(a,h)antraceno, benzo(g,h,i)perileno, apresentaram nas quatro horas de eletrólise, percentual de remoção abaixo de 70 %. No tocante os compostos com uma estrutura química simples foram removidos mais rapidamente em comparação com aqueles compostos que apresentam uma estrutura química mais complexa, com isso quanto maior a massa molar dos HPAs mais difícil de ocorrer à oxidação eletroquímica. Quanto ao consumo energético do tratamento eletroquímico mostrou que a primeira, segunda, terceira e quarta horas, respectivamente, apresenta: 1,37; 2,74; 4,11 e 5,48 kWh/m3, assim sendo os custos do processo foram 0,44; 0,88; 1,31 e 1,75 R$/m3, tornando-o praticável para a indústria, pois o tratamento atual tem o custo de aproximadamente 12 R$/m3. Todos os 16 HPAs prioritários obtiveram remoção a partir de 53 %, porém percebeu-se que a primeira hora é a mais significativa para o tratamento de HPAs em água produzida, pois o resultado das últimas horas permaneceram aproximadamente constantes. A importância de realizar o tratamento em um tempo de uma hora, deve-se também ao custo operacional do processo, pois com uma hora é gasto 0,44 R$/m3, e aumentando o tempo do processo chega a quadriplicar esse valor. A eficiência do tratamento da água produzida foi associada a dois fatores: a) oxidação direta do resíduo orgânico sobre o eletrodo; b) oxidação indireta através de espécies intermediárias reativas. Assim os resultados confirmam a aplicabilidade da tecnologia eletroquímica no tratamento da água produzida de petróleo para remoção de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), pois dos 16 HPAs estudados 9 deles foram possíveis obter um percentual de remoção superiores a 70 %. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 63 Capítulo 7 - Sugestões para Trabalhos Futuros 7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 1) Investigar se o processo de eletroflotação influência na remoção dos HPAs e quanto a eletroflotação está influenciando no processo eletroquímico de oxidação; 2) Estudar a oxidação eletroquímica dos HPAs isolados e propor o mecanismo de oxidação; 3) Estudar a formação de intermediários, utilizando outros tipos de técnicas de analise. Juliana Patrícia Souza Duarte Pontes Dissertação de Mestrado/PPGQ/UFRN 64 Referências REFERÊNCIAS ANDREOTTOLA, G.; BONOMO, L.; GIOANNIS, G.; FERRARESE, E.; MUNTONI, A.; POLETTINI, A.; POMI, R.; SAPONARO, S. Lab-scale Feasibility Tests for Sediment Treatment using Different Physico-Chemical Techniques. J Soils Sediments, v.10, n.1, p.142-150, 2010. Disponível em: http://www.springerlink.com/content/m5713242131774l7/fulltext.pdf. Acesso em: 23 abr 2010. BAIRD, C. Química Ambiental. 2.ed. 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