descanso e muitos líquidos

Propaganda
Uso de
antibióticos
A fórmula de reidratação
proposta pela Organização
Mundial da Saúde é eficaz e custa
menos de 30 cêntimos
POUCO ÚTIL
Os antibióticos têm
pouca ou nenhuma
utilidade, até
porque a maioria
das gastroenterites
é de origem viral.
0
3
,
0
€
1 litro de água
2
colheres de sopa
de açúcar
Gotas de limão
1 colher de café
de sal
gastroenterite
descanso e muitos líquidos
Muita paciência e líquidos são o melhor remédio para a gastroenterite. Na maioria dos casos,
passa por si em poucos dias. Lavar as mãos com frequência reduz o risco de contágio
A
s gastroenterites são inflamações
do estômago e dos intestinos,
quase sempre sem gravidade.
Podem ser causadas por bactérias, vírus
ou parasitas. Diarreia, vómitos, perda
de apetite, cólicas insuportáveis, dores
no corpo e, por vezes, febre são os
principais sintomas. Geralmente,
passam ao fim de um ou dois dias,
sem necessidade de medicamentos.
O tratamento visa sobretudo evitar
22 testesaúde 114
a desidratação, aliviar os sintomas
e reduzir a intensidade e duração
da diarreia. Os antibióticos raramente
são úteis. A maioria destes problemas
é causada por vírus, insensíveis àqueles
medicamentos. Os casos de origem
bacteriana também não necessitam
sempre de antibióticos.
Quando o problema afeta recém-nascidos, grávidas, idosos e doentes
mais vulneráveis, por exemplo, com sida,
cancro ou síndrome de Crohn, convém
ir ao médico. O mesmo se recomenda
se houver sangue nas fezes ou sinais
de desidratação, como pele e boca muito
secas, urina pouco abundante e muito
escura, tonturas, fraqueza e apatia.
Se os sintomas forem muito severos
ou persistirem durante vários dias
ou, ainda, se o doente não aguentar
líquidos ou estiver de regresso de um
país com problemas de higiene, também
convém consultar o médico.
Evitar o contágio
O contágio pode ocorrer por via oral
ou fecal e, entre indivíduos, através de
objetos contaminados. Por isso, uma
pessoa infetada não deve cuidar de outras
nem preparar refeições. No geral, o germe
patogénico encontra-se nas fezes e pode
contaminar alimentos ou água.
Uma boa higiene é, pois, essencial para
reduzir o risco de infeção. Lave as mãos
após cada ida à casa de banho, antes
de cozinhar e de ir para a mesa. A fruta
e os vegetais devem ser bem lavados.
É importante desinfetar superfícies
contaminadas e brinquedos (nas creches)
e lavar muito bem a roupa que possa
conter resíduos de vómitos ou fezes.
Tenha ainda o cuidado de cozinhar bem
os alimentos de risco (frango e carne
de porco, por exemplo) e não prepare
legumes crus nas tábuas e com
os utensílios que usou anteriormente
em carne e enchidos.
Em regra, estas infeções virais são muito
contagiosas, correndo todos os membros
de uma família ou vários alunos de
uma sala. Os que escapam poderão já
ter entrado em contacto com o germe
patogénico antes e estar, por isso,
imunizados.
Passa por si só
Os transtornos gastrointestinais são muito
incómodos, mas não é perigoso ficar
um ou dois dias com diarreia e vómitos.
O principal cuidado a ter é hidratar-se
bem, tomando regularmente pequenas
porções de líquidos, como água, sumos
de fruta, infusões e caldos.
Existem soluções à venda na farmácia,
Cristina Cabrita
Especialista da TESTE SAÚDE na área
do medicamento
"Medicamentos
contra a
diarreia devem
ser usados
pontualmente
e só em caso de
compromissos
inadiáveis"
Vacina contra
o rotavírus
A vacina contra o rotavírus está
disponível nas farmácias portuguesas
desde 2006, mas não faz parte do Plano
Nacional de Vacinação. A mortalidade
associada ao rotavírus é muito reduzida
no nosso país, pelo que a doença não
é considerada um problema de saúde
pública. Além disso, as condições de
vida e os cuidados de saúde prestados
à população levam a que, em geral, as
gastroenterites causadas por este vírus
não sejam graves.
Se quiser vacinar o seu filho,
terá de pagar do seu bolso e obter
uma prescrição do médico. A vacina
custa entre cerca de 50 e 70 euros.
Pode ser administrada em duas ou três
doses, consoante o fabricante, devendo
a primeira ser aplicada após as seis
semanas de vida.
especialmente concebidas para hidratar
e restabelecer o equilíbrio de sais
essenciais para o bom funcionamento do
organismo. Mas, além de um sabor pouco
agradável, nem sempre são necessárias.
Poderão ter utilidade em idosos, recém-nascidos, crianças até 5 anos e adultos
que tenham perdido muito peso
ou apresentem sinais de desidratação.
Estas soluções devem ser ingeridas em
pequenas porções, para reduzir o risco
de vómito. Tome, por exemplo,
uma colher de sopa várias vezes ao dia.
Em alternativa, poderá preparar uma
solução em casa, com água, sal, açúcar
e um pouco de limão, para melhorar
o paladar, seguindo as medidas indicadas
na ilustração da página anterior.
Quanto à dieta, não há grandes regras.
Deixe-se guiar pelo apetite. Opte por
alimentos ligeiros, com pouca gordura e
especiarias, e em pequenas quantidades.
Batata, arroz e massa cozidos
em água com sal ajudam a combater
a diarreia. Pode igualmente comer tostas
ou bolachas de água e sal, bananas e
legumes cozidos. O leite e seus derivados
são de evitar durante alguns dias, já que,
muitas vezes, as gastroenterites dificultam
a absorção da lactose (açúcar do leite).
Os bebés afetados podem continuar a
beber leite materno ou o biberão habitual.
Se durante um ou dois dias não tolerarem
nada, não se preocupe: não é grave, desde
que vão bebendo água.
Sem medicamentos
Se tiver febre, dores de cabeça ou no
corpo, o paracetamol é o mais indicado,
já que não ataca o estômago como
os anti-inflamatórios não esteroides.
Se as cólicas forem insuportáveis, fale
com o médico para saber se pode tomar
algo para atenuar as dores.
Contra a diarreia e as náuseas, pouco
há a fazer. Os antidiarreicos (por
exemplo, loperamida) podem ser
tomados pontualmente, para evitar
episódios de diarreia, em caso de
compromisso inadiável. Por sistema, estes
medicamentos não são recomendados,
por poderem retardar a cura: reduzem
o trânsito gastrointestinal, pelo que
>
114 testesaúde 23
Prevenir
MÃOS A
BRILHAR
Lavar as mãos
com frequência
e cozinhar bem
os alimentos são
as melhores armas.
>
os microrganismos responsáveis
pela doença levam mais tempo a ser
eliminados. São contraindicados
a menores de 12 anos.
Os antieméticos, para contrariar
náuseas e vómitos, como domperidona
e metoclopramida, são de uso restrito,
nomeadamente devido ao risco de efeitos
adversos graves. A metoclopramida
pode causar problemas neurológicos
Causas mais frequentes
Os principais microrganismos responsáveis por gastroenterites
transmitem-se por via fecal e oral e através de alimentos mal cozinhados
ESTAFILOCOCOS
1 a 2 dias
Duração
NOROVÍRUS
1 a 2 dias
Duração
24 a 48 horas
Tempo até surgirem sintomas
Transmissão por via fecal e oral.
Ingestão de alimentos (sobretudo,
marisco) ou água contaminados.
Contágio pessoa a pessoa e através
de copos, talheres e outros objetos
contaminados.
2 a 4 horas
Tempo até surgirem sintomas
Transmissão por ingestão de alimentos
contaminados com a toxina produzida
pela bactéria, em particular, produtos
manipulados crus ou sujeitos a aquecimento
ou refrigeração inadequados. As sandes,
os molhos de salada, a carne fatiada e a
charcutaria têm maior risco.
Sopas e descanso
SALMONELA
5 a 7 dias
Duração
12 a 36 horas
Tempo até surgirem sintomas
ROTAVÍRUS
4 a 6 dias
Duração
Transmissão por ingestão da
bactéria em alimentos geralmente
contaminados por fezes infetadas.
Os ovos e os laticínios não
pasteurizados são os mais sensíveis.
1 a 3 dias
Tempo até surgirem sintomas
Transmissão provavelmente
por via fecal e oral. Consumo de água
ou comida manuseada ou que esteve
em contacto com fezes, por exemplo,
devido a uma má higiene das mãos
ou de objetos.
E. COLI
até 5 dias
Duração
10 a 12 horas
Tempo até surgirem sintomas
Transmissão por ingestão da bactéria,
por exemplo, no leite não pasteurizado,
nas águas não tratadas e nos alimentos
preparados por pessoas com má higiene
das mãos após idas à casa de banho.
24 testesaúde 114
e cardiovasculares. A domperidona
também pode originar problemas
cardiovasculares. Esta substância não
deve ser tomada durante mais
de uma semana, ou cinco dias,
no caso das crianças.
Os medicamentos probióticos
(Antibiophilus, Lacteol e UL-250, por
exemplo) anunciam restabelecer a flora
intestinal e, assim, prevenir e tratar
diarreias. Porém, muitos estudos já
mostraram que a sua eficácia e utilidade
são reduzidas. No melhor dos casos,
alguns, em conjunto com uma solução
de reidratação, podem diminuir
em um dia a duração da diarreia.
Os antibióticos, por princípio, são
desnecessários, até porque a maioria
das gastroenterites tem origem viral
(rotavírus, norovírus, etc.) e estes
medicamentos apenas atacam bactérias.
Em infeções bacterianas (Salmonela,
E. coli, etc.), têm alguma utilidade se os
sintomas forem severos. Podem ajudar
a reduzir a duração de diarreias, cólicas
e vómitos em um ou dois dias, mas só
devem ser usados após a identificação
da bactéria responsável.
O doente deve ficar em casa até
que passem totalmente os sintomas.
O descanso e a hidratação são a melhor
forma de recuperar depressa.
Os vómitos passam quase sempre
ao fim de um ou dois dias, podendo
a diarreia prolongar-se um pouco mais.
Habitualmente, numa semana, estará
apto para retomar as suas rotinas.
Lavar bem as mãos com água e sabonete
líquido é a primeira medida a adotar por
todos os familiares, para evitar o contágio.
Não partilhe toalhas, talheres ou copos
com o doente. Lave as superfícies, como
a tampa da sanita (após cada episódio
de vómitos ou diarreia), as torneiras e as
maçanetas das portas, com água quente
e detergente. As roupas do doente e da
cama devem ser lavadas a temperaturas
elevadas. As crianças com diarreia
ou vómitos causados por gastroenterite
não devem ir ao infantário.
Download