UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO RODRIGO FERNANDES MICHELIN A verticalização da Vila Romana 1964 - 2011 Orientadora: Profa. Dra. Nadia Somekh São Paulo, 2012 UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO RODRIGO FERNANDES MICHELIN A verticalização da Vila Romana 1964 - 2011 Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como parte dos requisitos para obtenção do titulo de Mestre Orientadora: Profa. Dra. Nadia Somekh São Paulo, 2012 M623v Michelin, Rodrigo Fernandes A verticalizaçăo da Vila Romana : 1964 à 2012. / Rodrigo Fernandes Michelin – 2012. 178 f. : il. ; 30 cm. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2012. Bibliografia: f. 172-175. 1. Verticalizaçăo. 2. Condomínios fechados. 3. Segregaçăo urbana 4. Vila Romana, Săo Paulo. I. Título. CDD 711.4 AGRADECIMENTOS Agradeço à professora doutora e orientadora Nadia Somekh que, com seu conhecimento e paixão pelas questões urbanas e arquitetura, nos estimula, um norte a ser seguido, um exemplo a ser admirado. Aos professores doutores Flávio Villaça e Antonio Cláudio Fonseca que na qualificação contribuíram com suas experiências para formatar este trabalho. Aos professores do programa de pós - graduação da FAU Mackenzie pelas aulas e orientações durante estes dois anos de convivência. Agradeço também todos os companheiros do bairro bem como aos profissionais envolvidos neste processo, funcionários da Prefeitura Municipal, equipe do SECOVI - SP, agentes imobiliários e aos colegas de mestrado. Um agradecimento especial ao meu pai , que a cada dia admiro mais como pai, homem e exemplo de retidão e caráter, agradeço à minha mãe com suas palavras de conforto e amor incondicional e aos meus filhos, Luiza, um presente de Deus e Pedro, um projeto de vida! Que eu possa ser para vocês o que meu pai é para mim. E por fim, todos os agradecimentos não serão suficientes para minha esposa Suzana, sorrimos juntos, sofremos juntos e assim construímos nosso lindo projeto. Também à Deus pela oportunidade de fazer este trabalho com saúde . RESUMO Esta dissertação trata da verticalização da Vila Romana , cidade de São Paulo. A pesquisa traz um levantamento dos edifícios residenciais e descreve analiticamente os diferentes tipos de condomínios que transformaram a vila de 1964 até 2011. A pesquisa aponta a crescente segregação urbana derivada dos grandes condomínios fechados que se estabeleceram na Vila Romana a partir das novas diretrizes de uso e ocupação do solo estabelecidas em 2004. O trabalho apresenta não só a evolução das habitações criadas, mas também o retrocesso para a cidade caracterizado pela redução dos espaços públicos. Palavras-chave: Verticalização, Condomínios Fechados, Segregação urbana, Vila Romana, São Paulo ABSTRACT This dissertation presents the vertical growth of Vila Romana neighborhood, city of Sao Paulo. The research provides a list of residential buildings and makes an analytical description of different types of condos that has been changing the whole area from 1964 until 2011. The research points the increasing urban segregation derived from large gated communities that have settled in Vila Romana caused from the new guidelines for land use and occupation established in 2004. The work not only presents the evolution of housing, but also the city regression by the decreasing of city's public spaces. Keywords: Verticalization, Gated Communities, Urban segregation, Vila Romana, Sao Paulo. Sumário Introdução................................................................................... 8 Capítulo 1 – A formação da Vila Romana................................. 25 1.1 – O Gram Burgo da Lapa, ingleses italianos.......................... 25 1.2 – Arruamento e estruturas...................................................... 29 1.3 – A Vila Romana hoje ............................................................ 38 Capítulo 2 – Os primeiros edifícios residenciais (1964 à 1971), o empilhamento de unidades......................................... 45 2.1 – Características e estruturas................................................. 45 2.2 – Legislação e o Estado – construindo um zoneamento........ 55 2.3 – Levantamento empírico do período..................................... 59 Capítulo 3 – Os primeiros condomínios residenciais (1972 à 1993), um projeto social............................................................. 69 3.1 – Características e estruturas................................................. 70 3.2 – Legislação e o Estado – o zoneamento segregador............ 78 3.3 – Levantamento empírico do período..................................... 84 Capítulo 4 – Os condomínios residenciais (1994 à 2004), a busca por segurança.................................................................. 4.1 – Características e estruturas................................................. 97 98 4.2 – Legislação e o Estado – Estatuto da Cidade e Plano Diretor........................................................................................... 4.3 – Levantamento empírico do período..................................... 103 107 Capítulo 5 – Os condomínios residenciais fechados (2005 à 2011), a busca por segurança e status..................................... 121 5.1 – Características e estruturas................................................. 122 5.2 – Legislação e o Estado – um novo zoneamento.................. 129 5.3 – Levantamento empírico do período..................................... 138 Considerações finais.................................................................. 164 Referências Bibliográficas......................................................... 172 Anexos........................................................................................ 177 Introdução Introdução Na cidade de São Paulo, os debates urbanos ganham importância nos anos 40 e o primeiro grande zoneamento data do início dos anos 70. Este desenvolvimento tardio representou, durante muitos anos, espaços urbanos ineficientes e ocupações desordenadas. A partir de 2000, o Brasil vem experimentando um desenvolvimento econômico e político, estabelecendo-se como uma importante liderança mundial e desta forma, recebendo investimentos em diversas áreas. Neste momento, muitos empreendimentos imobiliários surgem e as metrópoles brasileiras ganham um novo ritmo de desenvolvimento. As áreas industriais abandonadas e as antigas vilas estão sendo transformadas em novos bairros com edificações modernas. Não somos contra o desenvolvimento e a valorização, porém questionamos a forma como isso vem ocorrendo na cidade de São Paulo. Fica claro que os novos condomínios fechados da cidade de São Paulo privilegiam a reprodução do capital à uma agenda social ou de formação do espaço coletivo. Por que? Não pode o capital se reproduzir e criar o espaço coletivo ao mesmo tempo? Ao analisarmos as transformações ocorridas na Vila Romana e observarmos que estas transformações podem ser generalidades para várias áreas da cidade, acreditamos que ao entender a dinâmica da Vila Romana nos faz entender São Paulo. O que estamos vivendo não é um episódio isolado mas sim um processo, e devemos entender que a tarefa de moldar a cidade é nossa, dos técnicos e da própria população. Segundo PIANO (1997), a arquitetura é um serviço no sentido mais literal do termo. É uma arte que produz coisas que são usadas. Ainda segundo PIANO (1997) (opinião que nós concordamos), é também uma arte socialmente perigosa, porque é imposta. Nas palavras dele: “Um livro ruim pode não ser lido, uma música ruim pode não ser ouvida; mas é impossível não ver um 8 condomínio ruim que temos diante de casa.”1 PIANO (1997) argumenta que a arquitetura impõe uma imersão total no que é ruim, não dá escolha ao usuário, o que se torna uma responsabilidade grave no comprometimento com as gerações futuras. O pensamento de HARVEY (2000) alinha-se com os nossos quando ele coloca que devemos nos perguntar que tipo de cidade queremos no futuro, e que esta pergunta não pode estar separada de outra pergunta que é: qual o tipo de pessoas queremos ser? As transformações das cidades nos últimos 30 anos vêm sistematicamente obedecendo a agenda dos empreendedores imobiliários e das grandes instituições financeiras. HARVEY (2000) apontaria como o neo-liberalismo, CASTELLS (1996) como a sociedade da informação, KOOLHAAS (1994) como o pós-modernismo e outros simplesmente como o capitalismo. A segregação urbana é a face edificada das mudanças sociais. A visão de HARVEY (ibid.) nos sensibiliza, sua argumentação é de que as cidades estão sendo refeitas sob uma agenda neo-liberal, onde as grandes instituições financeiras estabelecem as regras. Continua dizendo que, as cidades estão se transformando e que nós estamos nos transformando na imagem neoliberal, questiona o quanto nos transformamos e o quanto refletimos esta imagem neo-liberal. Isso significa dar as costas a questão de redução das desigualdades sociais, ainda grandes no Brasil, e privilegiar a reprodução do capital. Para ilustrar o problema vejamos dois exemplos londrinos. A partir de 2000, a cidade de Londres formatou uma agenda de reconstrução de uma grande área degradada à oeste, a região das docas. Dentre os novos condomínios edificados está o Greenwich Millenium Village. 1 Piano, Renzo. Giornale di Bordo, Passigli Editori, Florença, 1997, págs 15-7. 9 Condomínio Greenwich Millenium Village Figura 01 - Condomínio Greenwich Millenium Village, Londres. A área resultante é comum a cidade. Fonte: Rodrigo F. Michelin Este condomínio londrino é formado por um conjunto de edifícios que mesclam moradias populares e unidades para as classes média e rica da sociedade. O resultado, como podemos ver na imagem anterior, é a formação da cidade. Os edifícios são abertos à rua e fomentam o encontro social. Ao contrário do modelo estabelecido na cidade de São Paulo, a cidade de Londres é favorecida como palco das atividades sociais, e as áreas comum e de lazer são da cidade e não do condomínio. Desta forma, podemos notar que a cidade ganha a qualidade de organização do espaço público, as praças, equipamentos, passeios recebem uma atenção especial. O condomínio forma a cidade. 10 Praça do condomínio Greenwich Millenium Village Figura 02 - Condomínio Greenwich Millenium Village, Londres. A área resultante é comum a cidade. Fonte: Rodrigo F. Michelin Acima podemos ver como a praça do condomínio Greenwich apresenta seu espaço urbano ordenado. O passeio, os equipamentos, a organização e o paisagismo são comuns à cidade, a qualidade de espaço é coletiva e não individual, cercada por muros, como no caso de São Paulo. No modelo utilizado na Vila Romana, a qualidade de espaço é individual. Maquete do condomínio Paradiso Figura 03 - Condomínio Paradiso, Vila Romana – S.P. A área resultante é excluída da cidade. Fonte: Rodrigo F. Michelin 11 Na figura anterior, a maquete do condomínio Paradiso Vila Romana, ao contrário do exemplo londrino já demonstrado, o espaço qualificado é interno ao condomínio e não forma a cidade, mas a segrega. O resultado é que os espaços públicos passam a ser subutilizados e por fim, abandonados. Praça Diogo do Amaral Figura 04 – Praça Diogo do Amaral. Vila Romana – S.P. Mato alto e abandono da praça. Fonte: Rodrigo F. Michelin Acima, imagem da Praça Diogo do Amaral na Vila Romana, fica evidente que a praça não é um ambiente ordenado. No modelo adotado na cidade de São Paulo, a qualidade de espaço não é pública, mas sim privada. O espaço público representa a desordem. Outro exemplo londrino é o condomínio Brunswick, que segue a mesma agenda do condomínio Greenwitch, mistura moradias populares com unidades para classe média e alta e tem um centro comercial ao nível do solo, aberto à cidade. Mais uma vez, podemos notar como o condomínio forma a cidade e seu espaço de vivência é comum não só aos moradores, mas também à cidade. 12 Condomínio Brunswick Figura 05 – Praça do condomínio Brunswick. Londres. Centro comercial e cinemas, aberto à cidade Fonte: Rodrigo F. Michelin Acima a imagem do condomínio Brunswick, a área comum é destinada a um centro comercial aberto ao público. Ao compararmos as imagens dos condomínios londrinos, podemos notar que ambos formam a cidade, integram suas unidades habitacionais com a cidade, formando praças de comércio e lazer. Notamos também que cada intervenção tem sua própria característica estética e soluções, são projetos diferentes e únicos para espaços diferentes. Cada projeto tem características próprias, e formam a cidade de Londres de maneiras diferentes mas sempre coletivas. Dotam os locais de características que formam a identidade da área em que estão inseridos, estão intimamente ligados à cidade e ao sítio. Ao observarmos os exemplos londrinos aqui citados, podemos notar que o capital pode se reproduzir de outras formas que não a adotada na cidade de São Paulo. O capital pode se reproduzir produzindo resultados coletivos e formatando a cidade de forma 13 inclusiva e não segregadora. Este é ao nosso ver o problema da reconstrução adotada na Vila Romana, em particular, e em São Paulo, no geral. A cidade de São Paulo vem reconstruindo seus bairros e valorizando suas áreas degradadas. Estamos produzindo espaços segregados por muros e estamos perdendo a oportunidade de construir uma cidade melhor. A reprodução de projetos que observamos no modelo de São Paulo é outro fator que contribui para a produção do espaço urbano de baixa qualidade, ao reproduzir soluções não se respeita características locais. O que vem ocorrendo é a reprodução fiel de um mesmo condomínio em 4 bairros da mesma cidade, e este é também reproduzido em outras capitais, o resultado é uma massificação visual na cidade onde Moema, Vila Romana, Vila Leopoldina, entre outras, são muito similares entre si. Ao reproduzirmos projetos não pensamos a cidade, o que se forma é somente uma realidade criada, fechada em muros. Em seu livro, Cities for a Small Planet, ROGERS (1997) mostra a mentalidade do Capital que encara os edifícios como mercadoria, a escolha de arquitetos é feita não pela qualidade de seu trabalho, e sim pelo baixo valor de seus salários – o profissional é colocado em situação de realizar o maior projeto (volume de trabalho) pela menor remuneração, no menor prazo e ainda: “Vestir fachadas com qualquer estilo que seja possível aparafusar... Estruturas estéreis, com suas modernas fachadas clássicas, neo-vernáculas, como se escolhidas a partir de um catálogo de fachadas, não têm qualquer ligação com a comunidade ou o lugar”2. O resultado são grandes muros que separam os ambientes particulares de boa qualidade do ambiente público de baixa qualidade, a rua e a cidade são resumidas a um espaço de circulação. 2 Telles, Luiz B.C. – as resenhas - Cidades para um pequeno planeta – Vol I Nº 2 Out 06 Pg 7 14 Rua Aurélia Figura 06 – Rua Aurélia, os muros como interface rígida. A rua como corredor de circulação. Fonte: Rodrigo F. Michelin - 2011 Na imagem anterior, podemos notar a nova interface edifício/cidade resultante dos grandes condomínios residenciais, muros que formatam a rua como um corredor de circulação e não como espaço de convivência. A riqueza da cidade está na sua diversidade, nas oportunidades e nos encontros de convívio social que ela oferece. Como pode a cidade se desenvolver em um espaço sem encontro? O espaço público tornase o espaço do automóvel, a rua deixa de ser palco das relações humanas para tornar-se somente uma via de circulação. O automóvel demanda espaço e historicamente vem sendo priorizado na cidade de São Paulo em detrimento do pedestre ou da convivência social. Ao nosso ver, um estudo acadêmico tem sempre na sua origem e razão motivos nas nossas essências. Decidimos estudar a Vila Romana pois presenciamos a constituição do que consideramos o problema desta pesquisa. O aparecimento de grandes condomínios fechados vem transformando a Vila Romana. O bairro, que antes apresentava uma comunidade forte e uma vivência do espaço público, encontra nestes novos empreendimentos uma realidade oposta. Os grandes muros segregam a sociedade e retiram a convivência possível do espaço público, reservando a este somente a função de circulação 15 de pedestres e principalmente de automóveis. Morando na Vila Romana há 35 anos, testemunhamos a transformação deste bairro localizado à oeste da cidade de São Paulo. Desta forma, a escolha em estudar as transformações ocorridas na Vila Romana, em especial na última década, vem carregada de motivos pessoais e de experiências vividas. De um lado, por conhecer a área escolhida, foi possível identificar as transformações recentes. Por outro, é um exercício contínuo o distanciamento das vivências para que o estudo não receba uma carga de subjetividade, mas sim possa ser fruto de um trabalho objetivo com a imparcialidade das observações científicas . A vida na Vila Romana sempre foi calma. Como uma cidade do interior paulista conservou por muitas décadas o aspecto de comunidade e tranqüilidade. Nossas recordações da comunidade da Vila Romana são muito fortes e marcantes. As festas juninas promovidas pela igreja na praça Cornélia, as feiras de bairro na rua Fábia (onde comíamos pastel com os amigos da vila), o mercadinho que vendia o sorvete italiano de máquina na esquina da rua Tito com a Duílio, os jogos de bola na escola Experimental contra o time da Rua Marcelina, o bicicleteiro da Rua Duílio, o cheiro de bolacha no caminho à escola que vinha da fábrica da Petibom na rua Fábia, são algumas das recordações de como a Vila se organizava e sua comunidade fazia a cidade. Como querer que a cidade pare de se desenvolver e mantenha seu aspecto? A sociedade é dinâmica, e o espaço urbano também deve ser. É certo que a Vila Romana não pode parar no tempo e manter-se igual à época de nossa infância somente para satisfazer uma emoção saudosista, porém é agressivo o resultado físico estabelecido pelos novos empreendimentos imobiliários que estamos construindo, especialmente a partir de 2004. Hoje, quando andamos pela Vila Romana, não reconhecemos mais aquele espaço em que fomos criados. A Vila como comunidade se enfraqueceu, os pequenos comércios fecharam e os amigos, em sua grande maioria, mudaram-se de suas casas. O aparecimento de 16 grandes condomínios verticais, especialmente os que se desenvolveram na última década, alteraram significativamente não só o espaço urbano da Vila Romana, como a comunidade desta. Será a cidade um reflexo da sociedade? São estes condomínios fortificados uma resposta física da sociedade ou são meros produtos de consumo criados? O objeto de estudo desta pesquisa é a verticalização da Vila Romana e como ela ocorreu. Desde os primeiros edifícios na década de 60 aos condomínios fechados atuais, a evolução de técnicas construtivas, as leis e os interesses privados formataram e formatam o espaço público. O problema não é a verticalização em si, mas a forma que ocorreu na cidade de São Paulo e especificamente na Vila Romana nas últimas décadas. Entendemos que a verticalização com altas densidades pode democratizar uma localização: permitir a muitos os benefícios e a infraestrutura de uma grande cidade. No caso da Vila Romana, a densidade não é muito maior que a anterior. Segundo dados do IBGE, a média atual da quantidade de moradores por domicílio ocupado nos novos condomínios é de 3,09, enquanto que na vila original (quarteirões com sobrados), a média é de 2,4 moradores por domicílio ocupado.3 Portanto, a verticalização de São Paulo não produz uma cidade mais densa, mais racional, ou mesmo a cidade compacta. ROGERS (1997) argumenta que as cidades não tem considerado a fragilidade do ecossistema e que, atualmente, as pessoas se lembram das cidades muito mais como cenário de automóveis e de edifícios do que por suas ruas e praças, muito mais pelo isolamento social, poluição, medo da violência, local de consumo e pela busca insaciável de lucro do que pela comunidade, participação, espírito cooperativo, beleza e prazer. 4 Ao estabelecer uma comparação entre Curitiba e São Paulo, ROGERS (1997) constata que em São Paulo a reprodução do capital está descolada de qualquer compromisso social. Em suas palavras: 3 4 Fonte: site IBGE - http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopseporsetores/?nivel=st Telles, Luiz B.C. – ae resenhas - Cidades para um pequeno planeta – Vol I Nº 2 Out 06 Pg 3 17 “São Paulo, a terceira maior cidade e a terceira mais poluída do mundo, é uma massa contínua de edifícios pontuada em todas as direções por arranha-céus. Suas ruas estão constantemente congestionadas e os níveis de poluição são dramáticos, além disso, a cidade parece não ter centro, nenhuma diversidade e nenhuma coerência urbana.”5 ROGERS (1997) argumenta que o crescimento territorial das cidades esteve sempre ligado a idéia de “modernização”, porém negligenciando a sustentabilidade e a fragilidade do ecossistema, tornando as cidades as grandes responsáveis pela poluição e desperdício energético, ameaçando assim a própria humanidade. Ele advoga a favor da cidade compacta demonstrando que quanto mais compacta a cidade for mais eficiente ela se torna. ROGERS (1997) critica ainda a invasão dos espaços públicos pelo automóvel e a ineficácia dos transportes públicos.6 Detectamos no estudo 4 períodos distintos: os primeiros edifícios residenciais (1964 à 1971), o empilhamento de unidades; os primeiros condomínios residenciais (1972 à 1993), um projeto social; os condomínios residenciais (1994 à 2004), a busca por segurança; e os condomínios residenciais fechados (2005 à 2011), a busca por segurança e status. Esta pesquisa busca entender como estas mudanças ocorreram na Vila Romana, os agentes destas transformações, o modelo de reconstrução urbana aplicado e o resultado físico no espaço urbano. Pesquisar como o perfil dos novos empreendimentos imobiliários alteram o padrão de vida e dos moradores da Vila Romana. Como uma vila de uma comunidade, que tinha na rua e no espaço da cidade seu palco de desenvolvimento e ao mesmo tempo fomentava a riqueza de variedades de relações que a cidade proporciona, torna-se um espaço fragmentado por grandes condomínios murados que deixam o espaço 5 6 Rogers, Richard – Cities for a Small Planet – Faber and Faber – London 1997 Rogers, Richard – Cities for a Small Planet – Faber and Faber – London 1997 18 público rígido e sem possibilidades de convívio social. A moradora Janice de Piero (52 anos, educadora) vive em um sobrado construído em 1920 que pertenceu aos seus bisavós (imigrantes italianos), destaca que a demolição destes imóveis (sobrados) está destruindo a identidade da Vila Romana. “Todo mundo se conhece. As pessoas se encontram na rua. Quando alguém viaja, pede para o vizinho olhar a casa. E isso está se perdendo.” Diz Janice. Ao nosso ver, a riqueza da cidade está na sua diversidade, nas oportunidades e nos encontros de convívio social que ela oferece. Como pode a cidade se desenvolver em um espaço sem encontro? O espaço público torna-se o espaço do automóvel, a rua deixa de ser palco das relações humanas para tornar-se somente uma via de circulação. O automóvel demanda espaço e historicamente vem sendo priorizado na cidade de São Paulo em detrimento do pedestre ou da convivência social. A moradora Tereza Mello (63 anos, dona de casa) salienta que as pessoas dizem que o bairro está ficando sofisticado, porém em sua avaliação as condições de vida estão piorando, principalmente em relação ao trânsito. “As pessoas estão mais agressivas e com menos paciência, o trânsito no bairro está um inferno, já não encontramos vagas para estacionar.” Diz Terezinha. A Vila Romana é um testemunho deste novo sistema de morar da metrópole contemporânea, nunca se criou tanto espaço vazio apenas destinado ao automóvel e nunca os espaços públicos estiveram tão abandonados. O zoneamento, as políticas urbanas, o fomento ao crédito e a maneira de viver na metrópole contemporânea estão refletidos na produção dos edifícios residenciais. Dentre as inúmeras comparações 19 que podemos fazer entre as periodizações, está a constatação de que, na última década, a individualidade se sobrepõe a coletividade. Os espaços privados são cada dia maiores e de melhor qualidade, enquanto o espaço público é abandonado. O mesmo ocorre com o transporte, o coletivo é destinado à população de baixa renda e o automóvel assume um papel cada dia mais importante na vida urbana das classes média e alta. A afirmação da sociedade do automóvel é medida pela análise da criação do número de vagas para autos na Vila Romana. Chama a atenção como o automóvel passou a ser fundamental na vida moderna, principalmente na última periodizacão. Numero de vagas para autos criadas na Vila Romana Gráfico 01 – Número total de vagas para autos criadas na Vila Romana por período. Fonte: Rodrigo F. Michelin No gráfico anterior (gráfico 01), observamos como o automóvel foi amplamente incorporado aos condomínios fechados, mais uma vez o último período (que corresponde aos condomínios fechados) tem uma significativa majoração em número de vagas criadas, os condomínios passam em alguns casos a oferecer até 5 vagas por unidade 20 habitacional. Este modelo de ocupação, estabelecido pelas grandes torres verticais fortificadas, não é uma característica somente da Vila Romana, observado em diversos bairros da cidade de São Paulo, ele se reproduz velozmente. Acreditamos que a pesquisa é relevante por buscar apontar como está ocorrendo o processo de criação dos condomínios fortificados e promover um debate ressaltando seus problemas sobre a formação da cidade. A pesquisa de dados é também um importante termômetro da ação do Estado no espaço urbano. Localizada na zona oeste da cidade de São Paulo, a Vila Romana experimenta a elitização de sua comunidade. O valor do metro quadrado construído, segundo dados do SECOVI-SP7, saltou de R$2.409,06/m2 em 2007 para R$4.246,00/m2 em 2010 e hoje (Nov. 2011) está em R$5.455,00/m2. Pelo levantamento feito para esta pesquisa, constatamos que a área média das unidades habitacionais oferecida no início da verticalização (anos 60) era de 84 m2 e hoje esta média é de 164 m2. Antes de iniciarmos as considerações e levantamentos de dados sobre a Vila Romana e suas transformações, faz-se necessário definir seus limites. Representada de diferentes formas em textos e mapas, definiremos como limites de estudo a área compreendida na seguinte descrição. Para o presente estudo, vamos considerar a Vila Romana o polígono formado dentro do limite das seguintes vias: Rua Catão, Rua Guaicurus, Rua Venâncio Aires, Rua Coriolano, Praça Tupã, Rua Mauricyna, Rua Cláudio, Rua Crasso e Rua Marcelina, conforme as figuras a seguir. 7 Fonte: www.secovi.com.br 21 Localização da Vila Romana no município de São Paulo Figura 07 – Em vermelho a localização da Vila Romana sobre foto aérea. Fonte: Google maps – sem escala Demarcação de limites da Vila Romana para o presente estudo N Figura 08 – Ilustração sobre Mapa de referência da região da Vila Romana, mostrando os limites da Vila Romana para efeito deste estudo . Fonte: www.maps.google.com.br - sem escala Na figura anterior, delimitado pelo polígono vermelho, está a Vila Romana, todos os levantamentos e considerações serão feitas dentro deste polígono. Vamos considerar à oeste a Rua Catão como limite de estudo, pois esta já faz margem com a Lapa, à leste vamos considerar como limite a Rua Venâncio Aires, pois esta também 22 margeia a Vila Pompéia, à norte o limite será dado pela Rua Guaicurus, que faz divisa com a linha férrea, e à sul o limite será a rua Marcelina, que margeia o Bairro Siciliano. Fica definido portanto que toda vez que nos referirmos à Vila Romana no presente estudo estaremos nos referindo à área destacada no mapa anterior. Assim como todos os dados levantados e aqui apresentados estão dentro deste polígono. Estruturamos o trabalho em cinco capítulos divididos da seguinte maneira. O primeiro capítulo apresenta a formação do bairro, o segundo capítulo descreve os primeiros edifícios residenciais da Vila Romana (de 1964 à 1971), no terceiro capítulo descrevemos o aparecimento dos primeiros condomínios residenciais (1972 à 1993), no quarto capítulo mostramos a evolução dos condomínios residenciais (1994 à 2004), o quinto capítulo descreve o aparecimento e evolução dos grandes condomínios fechados (2005 à 2011). Por fim apontamos que a Vila Romana vem sendo palco para o desenvolvimento de grandes empreendimentos imobiliários que fomentam a segregação urbana e reduzem o espaço público, estas mudanças se acentuam principalmente a partir de 2004 e como a atuação do poder público incentiva este modelo de empreendimento. Para a identificação dos períodos e a análise dos dados apresentamos o levantamento total dos edifícios compreendidos dentro da área de estudo já apresentada anteriormente. O levantamento destes edifícios foram sistematizados em fichas de pesquisa e serão apresentados em cada capítulo conforme a periodização. Vejamos então como este processo de redução dos espaços públicos ocorreu na Vila Romana. 23 Capítulo 1 A formação da Vila Romana Capítulo 1 – A formação da Vila Romana Reduto de imigrantes italianos e ingleses que trabalhavam nas indústrias e nas ferrovias respectivamente, os primeiros loteamentos da região onde hoje é a Vila Romana datam da década de 1880. Localizada na zona oeste da cidade de São Paulo a Vila Romana, junto com o núcleo da Lapa, representou um importante pólo de desenvolvimento. A Vila Romana manteve suas características de um bairro predominantemente residencial com características similares a de uma cidade do interior do estado. Comunidade forte, feiras de rua, pequenos comércios formavam a identidade desta área. Seu arruamento definitivo data dos anos 40, quando a malha do Gram Burgo da Lapa juntou-se com a malha proveniente do centro principal da cidade de São Paulo que chegava à Vila Pompéia. O início da verticalização do bairro data dos anos 60 e a partir dos anos 90 grandes torres residenciais começaram a alterar significativamente o espaço e a sociedade da Vila Romana. Hoje esta área é uma das mais valorizadas da cidade de São Paulo. 1.1 – O Gram Burgo da Lapa, ingleses e italianos Os primeiros loteamentos da região onde hoje é a Vila Romana datam da década de 1880. A região era fundamentalmente agrícola e ocupada por grandes fazendas e, na década de 1880, iniciou-se a divisão destas fazendas em pequenas chácaras. A Vila Romana nasceu junto com a Lapa. Localizada à oeste esta área tornou-se um importante pólo de desenvolvimento na cidade da São Paulo. Nascido às margens das estradas de Ferro Sorocabana e SP Railway o núcleo do bairro da Lapa era então chamado de Gram Burgo da Lapa. O Gram Burgo da Lapa8 era constituído de indústrias que margeavam a linha férrea, um centro comercial que se desenvolveu 8 Descrição do Gram Burgo da Lapa em: SANTOS, Wanderley dos. Lapa, bairro. São Paulo : Depto. Patrimônio Hist., Div. Arq. Hist., 1980 (pag. 55). 25 junto à igreja, edificada em homenagem à Nossa Senhora da Lapa, e a vila de moradias dos funcionários destas indústrias e funcionários da ferrovia. “As indústrias, prevalecendo-se do GRAM BURGO, Vila Sofia e parte da Vila Romana se aglomeraram em suas vizinhanças, como os primeiros passos da expansão urbana, fixando-se inicialmente no Corredor da Lapa, Rua Roma, Catão, Scipião, Aurélia, Spartaco, Sertório e Caio Gracco. A rua Spartaco, porém seguia em direção à Rua Augusta (Cerro Corá) como estrada.”9 As indústrias ocupavam os lotes mais próximos à linha férrea e as moradias os lotes mais afastados desta. As casas refletiam a divisão do trabalho nas indústrias e ferrovias, as mais imponentes eram dos mestres das oficinas e cargos de chefia, já as menores para os demais operários, geralmente sobrados germinados com seu alinhamento alternando o recuo e o alinhamento no limite do lote. O bairro foi colonizado principalmente por imigrantes italianos que constituíam a principal mão de obra das indústrias e das ferrovias. A cultura italiana formou a identidade desta comunidade, as características dos italianos, que são devotos do trabalho e prezam a estrutura familiar, deu aos moradores da Vila Romana e da Lapa um forte sentido de comunidade. Houve também uma importante influência inglesa na formação da Vila Romana, as edificações eram em estilo inglês. Os engenheiros e técnicos que vinham da Inglaterra para trabalhar e desenvolver a ferrovia influenciaram o estilo de construção. Tanto os galpões industriais como os sobrados germinados, que são característicos na Vila Romana, são resultado da influência inglesa. 9 SANTOS, Wanderley dos. Lapa, bairro. São Paulo : Depto. Patrimônio Hist., Div. Arq. Hist., 1980 26 Operários da fábrica de louças Santa Catarina Figura 09 – Operários da fábrica de louças Santa Catarina localizada à Rua Aurélia nº 8, mostrando a organização social da Vila Romana no início da década de 20. Em primeiro plano os trabalhadores italianos e ao fundo os galpões industriais em estilo inglês. Fonte: Jornal da Lapa Na imagem anterior podemos observar como era a organização social da Vila Romana no início de sua formação. Em primeiro plano os trabalhadores italianos que eram a base da comunidade e ao fundo os galpões industriais em estilo inglês que formavam a identidade física e visual da vila em formação. A influência da colonização italiana resultou na formação da Vila Romana. Para homenagear Roma, capital da Itália, o engenheiro civil Luiz Bianchi Betholdi loteou uma propriedade e deu a esta o nome de Vila Romana, criada para assentar os imigrantes italianos. “24 de outubro de 1887 - Com o intuito de facilitar a aquisição de lotes aos trabalhadores italianos imigrantes, o Dr. Luiz Bianchi Betholdi comprou de Antonio Xavier de 27 Borba as terras então denominadas de “Campos da Pedreira ou do Mandi.”10 No entanto este arruamento se constituía principalmente de lotes agrícolas. As ruas eram as seguintes: “Augusta (Cerro Corá), Caio Gracco, Camilo, Cacau, Cincinato (Tito), Clélia, Colle Latino (Pio XI), Coriolano, Duílio, Fábia, Faustolo, Marcelina, Mário Pompeiana (Ponta Porã), Roma, Scipião, Sertório (Vespasiano), Spartaco e Troyana (Toneleiros), incluindo a praça Romana (Alfredo Weiszflog).”11 Desta forma, a Vila Romana é contemporânea ao Gram Burgo da Lapa, tanto na formação do seu espaço como na formação de sua comunidade, a Vila Romana sempre existiu para o centro da Lapa. “Embora a elite e os trabalhadores vivessem relativamente próximos uns dos outros, havia uma tendência de a elite ocupar a parte alta da cidade - em direção ao espigão central onde se localizaria a Av. Paulista - e os trabalhadores viverem nas áreas mais baixas, ladeando as margens dos rios Tamanduateí e Tietê e próximos ao sistema ferroviário.”12 Desta forma, o Bairro agrícola de 1890 passou a ser um importante pólo urbano proletariado composto de indústrias, vila de moradores e um forte centro comercial. Tradicionalmente a Vila Romana sempre foi um bairro de classe média, composto de funcionários públicos e comerciantes. 9,10 11 SANTOS, Wanderley dos. Lapa, bairro. São Paulo : Depto. Patrimônio Hist., Div. Arq. Hist., 1980 CALDEIRA, Teresa Pires. Cidade de Muros . Edusp . São Paulo 2000 28 1.2 – Arruamento e estruturas Assim como a comunidade da Vila Romana está intimamente ligada com a Lapa, seu arruamento e sua estrutura também estão. Ao analisarmos os mapas seguintes poderemos notar com clareza como o arruamento e a organização da Vila Romana são provenientes e contemporâneos ao núcleo da Lapa. Como podemos observar na imagem a seguir, em 1905, estavam estabelecidas todas as principais ruas do Gram Burgo da Lapa, e em destaque, o arruamento da Vila Romana que compunha este núcleo de desenvolvimento à oeste da cidade de São Paulo. Destacado em laranja temos as principais ruas da Vila Romana definidas, estas já faziam parte do núcleo que se desenvolvia na Lapa. A organização da quadrícula e da malha viária da Vila Romana são resultado da organização da Lapa, a orientação de suas vias são ditadas pela expansão do núcleo da Lapa. Este desenho deu a Vila Romana uma característica importante, pois por muito tempo ela permaneceu desconectada da malha viária proveniente do centro principal da cidade de São Paulo, conservando assim sua característica de vila proletária. Vila Romana na formação do Gram Burgo da Lapa Figura 10 - Ilustração sobre recorte da Planta geral da cidade de São Paulo – 1905. Fonte: Passos, Maria Lúcia Perrone Desenhando São Paulo: mapas e literatura 1877-1954. São Paulo : Ed. Senac São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. 2009. Pg 48 29 Na imagem seguinte observamos que, em 1905, as duas linhas férreas já estão estabelecidas, as edificações em preto no canto superior esquerdo na imagem são as oficinas da estrada de ferro. Podemos notar também que a ligação do núcleo da Lapa com o restante da cidade era feita por uma única via de acesso (Rua Guaicurus), que ligava a Lapa à Água Branca. A primeira conexão viária do pólo que se desenvolvia da Lapa com a cidade, que vinha do centro principal, ocorreu em 1925 com a ligação da Rua Guaicurus. Nesta mesma oportunidade a Vila Romana ganhou a praça Cornélia. “Em 5 de outubro de 1925 – a Água Branca foi finalmente ligada à Lapa, quando a Prefeitura recebeu do Dr. Paulo de Souza Queirós as áreas livres entre a Rua Guaicurus, Coriolano, Clélia e Faustolo. Ao mesmo tempo que as ruas se prolongavam deu-se o nome de Cornélia à praça ali existente, em homenagem à filha de Scipião.”13 Núcleo do Gram Burgo da Lapa Vila Romana Figura 11 - Recorte da Planta geral da cidade de São Paulo – 1905. Fonte: Passos, Maria Lúcia Perrone Desenhando São Paulo: mapas e literatura 1877-1954. São Paulo : Ed. Senac São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. 2009. Pg 48 13 SANTOS, Wanderley dos. Lapa, bairro. São Paulo : Depto. Patrimônio Hist., Div. Arq. Hist., 1980 30 O desenvolvimento do centro principal da cidade de São Paulo chegava às margens da Vila Romana em 1922, o loteamento da Vila Pompéia se aproximava da estrutura existente no núcleo de desenvolvimento da Lapa. A Vila Romana, em 1922, já apresentava uma estrutura maior com ruas prolongadas e novas conexões com a malha urbana do centro principal da cidade de São Paulo. Como podemos notar na imagem seguinte, a quadrícula que vinha do centro principal da cidade de São Paulo chegava à Vila Pompéia. Esta era rotacionada cerca de 45º em relação a quadrícula desenvolvida pela Vila Romana que é proveniente da Lapa. Existe também um “hiato de cidade” que só foi conectada nos anos 40. Chama a atenção também a diferença de tamanho das quadras entre os loteamentos, as quadras da Vila Romana são visivelmente menores do que as quadras desenhadas nos bairros de Perdizes e Pompéia. Vila Romana no Gram Burgo da Lapa– 1922 Vila Romana Figura 12 - Recorte da Planta da cidade de São Paulo para o Indicador Prático – 1922, mostrando a quadrícula que vinha do centro principal da cidade de São Paulo rotacionada cerca de 45º em relação a quadrícula desenvolvida pela Vila Romana. Fonte: Passos, Maria Lúcia Perrone Desenhando São Paulo: mapas e literatura 1877-1954. São Paulo : Ed. Senac São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. 2009. Pg 78 31 Esta orientação de nascimento e sentido de crescimento causou uma característica peculiar na Vila Romana, ela por muito tempo foi ligada ao restante da cidade somente por vias principais, suas ruas não tinham continuidade com a região da Pompéia e seu arruamento definitivo foi resultado de um esforço para ligar da melhor forma possível um desenho urbano proveniente do pólo da Lapa com o desenho do Centro principal da cidade que já chegara à Vila Pompéia. No mapa a seguir, de 1930, podemos observar que mesmo com o adensamento e a urbanização da área, permanecia o hiato entre a Vila Pompéia e a Vila Romana. Esta lacuna no desenvolvimento das ruas entre as vilas deve-se à dificuldade apresentada pela topografia nesta área. O córrego da Água Preta está localizado exatamente no vale. Para a cidade formar-se entre os bairros o arruamento tinha de vencer dois obstáculos, o vale com o córrego e a junção de dois desenhos urbanos diferentes entre si. Planta da cidade de São Paulo mapa de serviços de utilidade pública – 1930 Figura 13 - Recorte da Planta da cidade de São Paulo mapa de serviços de utilidade pública – 1930. Fonte: Passos, Maria Lúcia Perrone Desenhando São Paulo: mapas e literatura 1877-1954. São Paulo : Ed. Senac São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. 2009. Pg 78 32 Podemos considerar desta forma que a Vila Romana foi o ponto de encontro da quadrícula da cidade principal de São Paulo com a quadrícula proveniente do Gram Burgo da Lapa. Representa o encontro da cidade neste ponto. Ainda na década de 30, outro fator importante no desenvolvimento da cidade de São Paulo foi o plano de avenidas de Prestes Maia. Com a verticalização crescente no centro de São Paulo, o fomento ao “espírito paulista” da revolução e o plano de avenidas, a cidade de São Paulo experimentou uma fase de grande desenvolvimento e adensamento nos anos seguintes. “Estamos, sob todos os pontos de vista, em um momento decisivo de nossa existência urbana. No centro os arranha-céus se multiplicam (...). A época é, assim, muito própria para o início dos melhoramentos.”14 O impacto do plano de avenidas de 1930 para a região da Vila Romana foi a afirmação da Avenida Pompéia e das Ruas Guaicurus e Clélia como importantes eixos de circulação e conexão (ver Figura 14). As marginais aos Rios Pinheiros e Tietê foram importantes não só para a região mas também para a cidade de uma maneira geral. Os anos 40 foram marcados por um rápido crescimento da cidade de São Paulo, resultado de ações como a revolução e a implantação do plano de avenidas de Prestes Maia que visava ampliar a capacidade de circulação na cidade. A verticalização já ocorria no centro da cidade e importantes marcos referenciais eram implantados como o estádio Paulo Machado de Carvalho, popularmente conhecido como estádio do Pacaembu. Na vila Romana sentia-se os efeitos do plano de avenidas de Prestes Maia e a malha viária da Vila Romana foi finalmente conectada à Vila Pompéia, vencendo assim o desnível do terreno e juntando finalmente as quadrículas de diferentes tamanhos e orientação. 14 MAIA, Prestes. São Paulo, 1930 : P.7s 33 Estudo de um plano de Avenidas para a cidade de São Paulo – 1930 Vila Romana Figura 14 - Recorte do Estudo de um plano de Avenidas para a cidade de São Paulo – 1930. Fonte: Passos, Maria Lúcia Perrone Desenhando São Paulo: mapas e literatura 1877-1954. São Paulo : Ed. Senac São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. 2009. Pg 78 A ferrovia experimentava nesta mesma época um importante crescimento alcançando o interior do estado, firmando-se como o principal meio de transporte. Nas décadas de 50 e 60, as estradas de ferro estavam em franca expansão, responsáveis pelo transporte de passageiros e insumos dentro do Estado de São Paulo e conectando a capital ao litoral e interior. Na Vila Romana o impacto deste crescimento foi a criação da estação na Lapa, que fomentou o crescimento do bairro. “A ESTAÇÃO: Inaugurada como km 7 em 1958 para atender a região do bairro da Lapa, a estação manteve esse nome por muitos anos. Pelos mapas anteriores a 1958, sabese que já existia uma parada.”15 No mapa de seguinte podemos ver a Vila Romana com seu arruamento definitivo, vencido o córrego da Água Preta e efetuada a junção das quadrículas. Podemos notar também o resultado do plano de 15 www.estacoesferroviarias.com.br/l/lapa-sor.htm 34 Avenidas que ratificaram a Avenida Pompéia e as Ruas Clélia e Guaicurus como importantes eixos de conexão com o restante da malha urbana. Arruamento final da Vila Romana Figura 15 – Mapa atual da Vila Romana já com a unificação das malhas viárias entre ela e a Vila Pompéia. Fonte: IBGE – Sinopse por setores. Nas décadas de 60 e 70 a Vila Romana passou a apresentar, em seu ambiente construído, sintomas do crescimento urbano da cidade de São Paulo. Os primeiros edifícios verticais e a aparição de grades nos sobrados ingleses característicos foram alguns destes sintomas. Sobrados originais da Vila Romana Figura 16 - Imagem dos sobrados originais da Vila Romana localizados nados Rua Cláudio – 2011. originais Na imagem anterior temos o exemplo sobrados Fonte: www.maps.google.com.br 35 que constituíam a Vila Romana. Nesta imagem específica podemos observar dois tempos diferentes, os sobrados ainda sem grades e o advento contemporâneo da cobertura de fibrocimento e a grade. Sobrados originais da Vila Romana Figura 17 - Imagem dos sobrados originais da Vila Romana localizados na Rua Vespaziano – 2011. Fonte: www.maps.google.com.br Na imagem anterior temos novamente a aparição do gradil de maneira forte e marcante na fachada dos sobrados, desta vez na Rua Vespaziano. Em 1972 foi inaugurado o conjunto de condomínios de apartamentos Electra I e II, iniciava-se então uma nova fase na Vila Romana. O aparecimento de novos conjuntos como os Electra em meio aos sobrados davam uma nova cara ao bairro. Condomínios Electra I e II, Vila Romana Figura 18 - Os Imagem dos condomínios II dapouca Vila Romana localizadosestrutural na Rua Duíliona – 2011. Fonte: anos 80 e 90 Electra foramI ede mudança região www.maps.google.com.br 36 da Vila Romana. Acompanhando o cenário político e econômico do Brasil, a vila teve um freio em seu desenvolvimento devido à grande inflação e ao pequeno desenvolvimento do pais. Apesar da forte inflação alguns edifícios apareceram na paisagem do bairro. A principal mudança, principalmente na década de 90, foi o aparecimento de muitos pequenos comércios e serviços na Vila Romana. O bairro, antes predominantemente residencial, passou a ter um uso misto do espaço público. As ruas principais, como a Rua Clélia e a Rua Tito, tornaram-se ruas comerciais e o comércio também se difundiu pelas ruas de menor circulação do bairro. Comércios e serviços (Rua Vespaziano 783) Figura 19 – Pequenos comércios e serviços (Rua Vespaziano 783). Fonte: Rodrigo F. Michelin Acima temos o exemplo de como estes comércios e serviços ocorrem nos sobrados da Vila Romana. Outro importante aspecto ocorrido na Vila Romana na década de 90 foi o aparecimento de áreas degradadas e abandonadas. A queda da ferrovia e o processo de desindustrialização geraram galpões 37 abandonados, principalmente nas proximidades da ferrovia. Estas áreas abandonadas somadas à ações de legislação urbana e política econômica alteraram a configuração da Vila Romana na década de 2000. 1.3 – A Vila Romana hoje Na década de 2000 a Vila Romana transformou-se de maneira muito rápida, o aparecimento de grandes condomínios fechados alteraram não só o perfil das ruas como também da comunidade. Ações do Estado, de forma geral, e do Município, de forma pontual, alteraram a configuração do bairro. Ações como a mudança de zoneamento, as operações urbanas, a volta do fomento ao crédito imobiliário, resultaram no aparecimento destes condomínios fechados. Os investidores observaram a oportunidade de construir grandes empreendimentos nesta área, aproveitando grandes lotes deixados pelas indústrias ou com a compra dos sobrados, aliado à ajuda do Estado em possibilitar investimentos e à facilidade de crédito ao consumidor final, investiram muito nos últimos cinco anos na Vila Romana. Novos condomínios da Vila Romana Figura 20 - Imagem dos novos condomínios da Vila Romana localizados na Rua Fábia – 2011. Fonte: www.maps.google.com.br Na imagem anterior temos o resultado dos novos condomínios 38 na Vila Romana, fechando assim o ciclo de transformações ocorridas no bairro desde o seu surgimento em 1880 até 2011. O resultado destes novos condomínios foi a fragmentação do bairro em unidades de quadra. Nas transformações ocorridas na Vila Romana, o poder público foi e é um importante agente. A implantação da operação urbana Água Branca, as novas diretrizes de uso e ocupação do solo de 2004, as diretrizes da Operação Urbana Diagonal Norte formam a base econômica e de desenvolvimento urbano que a iniciativa privada necessita para seus investimentos. A Vila Romana hoje se iguala a outros bairros da cidade de São Paulo. Com a demolição dos sobrados e o aparecimento de grandes condomínios, o bairro passou a ter características semelhantes a outras áreas onde estes condomínios se instalaram, a citar Moema. Condomínios por década na Vila Romana Gráfico 02 - Número de condomínios por década na Vila Romana. No gráfico anterior vemos claramente o aumento dos condomínios a partir dos anos 2000, além de observar que a década 2010/11 é composta de dois anos somente. Desta forma, nos últimos dois anos surgiram o mesmo número de condomínios da década passada. Alguns destes novos condomínios têm entre duas à quatro 39 torres de apartamentos. Na mesma proporção, o automóvel assumiu um papel fundamental na nova organização da Vila Romana. Com os novos condomínios fechados, o deslocamento é feito pelo automóvel e tende a promover os grandes mercados e shoppings que disponibilizam o estacionamento facilitado. Número de vagas para autos criadas na Vila Romana por décadas Gráfico 03 - Número total de vagas para autos criadas na Vila Romana por décadas. Fonte: Rodrigo F. Michelin Observamos a mesma lógica dos condomínios na última década e nos dois primeiros anos da década atual - o número de vagas é significativamente maior. Foram construídos mais condomínios com mais vagas de estacionamento por unidade. Em seu espaço físico o aparecimento de grandes muros deixam a rua com a função única de circulação. Os serviços e comércios que existiam ao longo da rua dão lugar a grandes muros de isolamento destes novos condomínios. 40 Nova interface na Vila Romana, Rua Caio Gracco Figura 21 - Rua Caio Gracco. Nova interface na Vila Romana. Escala dos grandes muros dos condomínios Fonte: Rodrigo F. Michelin Na imagem acima podemos observar a nova configuração das ruas da Vila Romana. Os muros dos condomínios são grandes em metragem linear e em altura. Os grandes projetos de transformações urbanas caracterizamse por necessitarem de um grande período de tempo para sua implantação (maior que 15 anos), envolvem muitos agentes e interesses, requerem grandes investimentos em infra-estrutura urbana, fomentam parceria entre o setor público e privado. As ações das operações urbanas da Água Branca e Diagonal Norte somadas às modificações da legislação estão surtindo efeito. A rápida mudança é resultado direto dos investimentos nestas áreas de transformação urbana. O interesse dos investidores imobiliários em formar condomínios residenciais se intensifica após as alterações da legislação em 2004 e a implementação da operação urbana Água Branca, a influência das novas diretrizes na Vila Romana estão sendo sentidas agora. A formação de grandes condomínios fechados, que em alguns casos ocupam toda a quadra, nasce em conformidade com a pavimentação 41 jurídica e econômica estabelecidas pelo poder público municipal. A visão de renovação e de estruturação da cidade por meio de projetos urbanos tem aceitação em todo o mundo e seus resultados podem ser medidos e vistos no espaço urbano. Docklands em Londres é um exemplo destes projetos, assim como as áreas marginais à ferrovia e os galpões industriais abandonados ao longo da Marginal Pinheiros, as docas londrinas representam uma área decadente da cidade e recebem projetos urbanos de reconstrução, assim como as operações urbanas na cidade de São Paulo. A influência das ações do Estado sobre a cidade e o espaço construído é sentida em primeiro lugar pelas macro políticas praticadas. A política econômica pavimenta o desenvolvimento do capital e este dita as regras para o mercado. O mercado formata o espaço. Na Vila Romana o mercado está formatando um novo espaço urbano e o negócio, ou instrumento são os grandes condomínios residenciais verticais. Fachada de casas com condomínios ao fundo, Rua Tito Figura 22 – Fachada de casas com condomínios ao fundo, Rua Tito. Fonte: Rodrigo F. Michelin. 42 Na imagem anterior temos em primeiro plano as casas e sobrados da Vila Romana e em segundo plano a nova realidade que vem substituindo estas casas e sobrados. Portanto vamos descrever e analisar o desenvolvimento dos edifícios residenciais na Vila Romana para que possamos definir quais e como ocorreram as transformações do espaço urbano e da comunidade. Vamos analisar como estas transformações ocorreram. Para isso dividiremos os edifícios residenciais em quatro grupos, os primeiros edifícios residenciais (1964- 1971), os primeiros condomínios (19721993), os condomínios (1994- 2004), os condomínios fechados ( 20052011). 43 Capítulo 2 Os primeiros edifícios residenciais 1964-1971 - o empilhamento de unidades Capítulo 2 – Os primeiros edifícios residenciais –1964 à 1971 – o empilhamento de unidades Os primeiros edifícios residenciais da Vila Romana datam do início da década de 60. São seis edifícios identificados neste período e representam 10% do total de edifícios residenciais cadastrados na área deste estudo. Não contemplam áreas comuns, eram unidades residenciais reproduzidas ou empilhadas. Ocupando pequenos lotes, estes edifícios tinham uma ou mais empenas cega em ao menos uma das faces, não apresentam o recuo do lote. Vamos descrevê-los, veremos como o poder público age no processo e apresentaremos as fichas dos edifícios. Estes edifícios são ainda resíduos da forma antiga de se construir e de pensar a habitação e a cidade, não estão enquadrados nas novas diretrizes de ocupação do solo que foi implementada em forma de lei em 1972. 2.1 – Características e estruturas Atualmente a Vila Romana conta com 51 condomínios residenciais. Destes, seis edifícios residenciais estão agrupados nesta primeira periodização. Estes seis edifícios que vamos descrever neste capítulo representam o início da verticalização na Vila Romana, foram edificados entre 1964 e 1971 e apresentam características comuns entre si. Vejamos então quais são as características destes edifícios e como eles formataram o espaço interno e se relacionaram com o espaço público. O primeiro edifício residencial da Vila Romana foi construído em 1964, o Edifício Moraes. Este edifício data de 1964, é composto de 30 apartamentos divididos em 5 andares. A primeira característica a se 45 observar é o lote e a implantação do edifício. Edifício Moraes, Rua Faustolo 955 Figura 23 – Edifício Moraes de 1964, Rua Faustolo 955 - início da verticalização na Vila Romana. Fonte: www.maps.google.com.br Os lotes de terreno deste primeiro grupo de edifícios eram lotes de terrenos existentes no loteamento da Vila Romana, não foram resultado de remembramento, geralmente ocupados por pequenos galpões de armazéns e oficinas. A metragem média dos lotes é de 650m2. No caso do Edifício Moraes o lote é de 600m2. Nesta primeira etapa da verticalização da Vila Romana os edifícios não apresentavam recuo, sua construção é no alinhamento do lote. Desta forma estes edifícios estão abertos à rua, sua porta de 46 acesso é aberta diretamente para o passeio público. Os edifícios também encostavam nos limites laterais e dos fundos do lote, criando recuos no interior do lote que eram destinados a abertura de janelas. Implantação do Edifício Moraes de 1964 Figura 24 – Croqui de Implantação do Edifício Moraes de 1964, Rua Faustolo 955 - início da verticalização na Vila Romana. Fonte: Rodrigo F. Michelin. Este tipo de ocupação do lote não permitia a criação de um espaço de área comum, o espaço interno da edificação e do lote é destinado à circulação e à moradia. Este perfil de construção mostra que na década de 60 não havia a preocupação da criação de uma área de lazer ou equipamentos comuns aos moradores. A ocupação e o resultado final das edificações eram destinadas unicamente à moradia. A formatação destes edifícios também não contempla a existência do zelador ou os bloqueios de segurança, o interfone conecta cada apartamento à porta de entrada e estes são responsáveis pela entrada e saída de pessoas no edifício. Estas características ilustram a maneira de pensar e viver a moradia na década de 60 na cidade de São Paulo de uma forma geral e da Vila Romana em particular. A criação de 47 barreiras para favorecer a segurança não estava em pauta no programa destes edifícios. Outra observação que podemos fazer é em relação ao papel do automóvel na concepção destes edifícios, no caso do Edifício Moraes a fachada é composta de uma porta de entrada de pedestres central e dois portões de garagem dispostos de forma simétrica, laterais à entrada central de pedestres. Estes portões de garagem eram espaços mistos que poderiam ser destinados a abrigar veículos ou abrigar estabelecimentos comerciais. O certo é que estes primeiros edifícios não contemplavam espaço para o automóvel em sua implantação, mesmo que estes espaços abrigassem veículos dos moradores do edifício, não havia vagas para todos. Nos anos 60 a indústria automobilística brasileira estava começando a produção em maior escala e o transporte público ainda era a principal forma de circulação na cidade de São Paulo. Desta forma, a criação de novas unidades residenciais não tinham o automóvel como um elemento principal de organização do espaço. A escala de altura do Edifício Moraes é de 5 andares, aproximadamente 15 metros, esta escala se repete nos demais edifícios desta periodização (1964-1971). Isso deve-se principalmente ao sistema construtivo e materiais utilizados na edificação destas unidades. O tijolo maquinado foi o principal elemento de construção destes edifícios, a alvenaria de espessura grossa revela paredes estruturais que sustentam a carga dos andares superiores. A utilização de pilares e vigas de concreto ocorre com menor freqüência nestas unidades. As lajes eram “batidas” ou forjadas in loco, as amarrações e sistemas estruturais acompanhavam as técnicas mais baixas da época, as grandes estruturas de concreto armado que já tomavam conta do centro de São Paulo só apareceram na Vila Romana na década de 70. O acabamento destes edifícios são geralmente feitos em reboque e pintura, em alguns casos o revestimento de ladrilhos hidráulicos ou pastilhas eram colocados na fachada alternando o reboque que permanecia nas laterais e fundos e o revestimento com pastilhas na fachada. Os caixilhos eram de madeira com venezianas 48 também em madeira; hoje já observamos a substituição de algumas destas venezianas de madeira por janelas de alumínio. A circulação vertical deste edifício é feita por escadas, seu projeto e construção não contemplam o elevador. O desenho da fachada já anunciava uma modernização do estilo, sem elementos de decoração ou adornos, a fachada destes edifícios contava apenas com detalhes de beiral de laje e em alguns casos uma pequena sacada. A função se sobrepõe à forma. Vejamos estes dois outros edifícios localizados à rua Duílio 538 e 552. Com data de 1970, eles seguem o mesmo conceito do Edifício Moraes. Estas duas unidades estão construídas no alinhamento do lote, possuem a entrada de pedestres abertas ao passeio público, no caso da imagem da Figura 25 observamos os portões, porém estes são posteriores a construção do edifício. Ao observarmos sua implantação vemos como eles utilizam a totalidade da área com a ocupação de sua estrutura. Edifícios, Rua Duílio nº538 e nº552 Figura 25 – Edifícios, Rua Duílio 538 e 552 - início da verticalização na Vila Romana. Fonte: www.maps.google.com.br 49 Os lotes mantém a média de tamanho entre 500m2 à 650m2 e o edifício ocupa este lote de maneira total, não sobrando terreno para a criação de áreas comuns ou de lazer. A implantação do edifício ocupa todo o lote e sua estrutura chega inteira ao chão. Implantação de dois Edifícios, Rua Duílio 538 e 552 Figura 26 – Croqui de implantação de dois Edifícios, Rua Duílio 538 e 552 - início da verticalização na Vila Romana. Fonte: Rodrigo F. Michelin. Sua organização elimina a presença das estruturas de segurança observadas nos condomínios atuais, o interfone é localizado na rua e dá acesso direto aos apartamentos. Sua circulação vertical é feita por meio de escadas, não contam com elevadores. A estrutura destes edifícios da rua Duílio é baseada fundamentalmente nas alvenarias estruturais, com a presença de reforço estrutural de pilares e vigas em concreto. Sua escala de altura é de 3 a 5 andares. Sua fachada é limpa sem a presença de adornos ou enfeites, a 50 função é sobreposta à forma, não existe preocupação estética na formação destes edifícios. Composta pelas janelas e portas de acesso, a fachada é resultado da estrutura. O detalhe estético destes dois edifícios fica por conta do desenho feito com as pastilhas hidráulicas utilizadas na fachada. Acabamentos dos Edifícios, Rua Duílio 538 e 552 Figura 27 – Detalhe dos acabamentos dos Edifícios, Rua Duílio 538 e 552 - início da verticalização na Vila Romana. Fonte: www.maps.google.com.br Acima, o trabalho de formação de um padrão com as pastilhas. Este acabamento de fachadas é característico dos edifícios da década de 60 e início dos anos 70, este padrão é facilmente identificável não só na Vila Romana mas na cidade de maneira geral. Outro edifício que compõe esta primeira fase da verticalização na Vila Romana é o Edifício Marcelina. Este representa a transição dos primeiros edifícios para os primeiros condomínios que surgiram a partir de 1972. O Edifício Marcelina data de 1970 e está localizado na rua de mesmo nome, número 394. Apresenta algumas das mesmas 51 características que os edifícios descritos anteriormente, como o alinhamento sem recuo, o lote relativamente pequeno se comparado aos condomínios atuais, a escala de altura ainda reduzida se comparada aos condomínios atuais, a falta de adornos e cuidados estéticos, as pastilhas hidráulicas de revestimento formando um desenho padrão e somente uma vaga de automóvel por apartamento. Edifício Marcelina, Rua Marcelina 394 Figura 28 – Edifício Marcelina, Rua Marcelina 394 - início da verticalização na Vila Romana. Fonte: www.maps.google.com.br Porém o Edifício Marcelina apresenta algumas características que já apontam para uma nova fase da verticalização na Vila Romana que aconteceu a partir de 1972. A organização do Edifício Marcelina no lote é similar à dos anteriormente citados, não possui recuo frontal, é edificado no limite do lote e aberto à rua. A diferença está no aparecimento do recuo lateral. O lote continua tendo medidas pequenas e a implantação toma todo o 52 terreno, não sobrando espaço de áreas em comum ou sistemas de lazer. Toda a área é aproveitada como circulação ou área útil de moradia. Implantação do Edifício Marcelina, Rua Marcelina 394 Figura 29 – Croqui de implantação do Edifício Marcelina, Rua Marcelina 394 - início da verticalização na Vila Romana. Fonte: Rodrigo F. Michelin. As características até aqui apresentadas em nada diferem este edifício dos demais, porém ele apresenta diferenças que serão sentidas nos anos seguintes. Sua estrutura é fundamentalmente baseada em pilares e vigas em concreto armado, sendo a alvenaria responsável pelo fechamento. São 28 unidades de 2 e 3 dormitórios com aproximadamente 82m2, distribuídos em 7 andares de apartamentos mais o térreo. São 28 vagas de autos que se dividem entre o térreo e um subsolo. Desta forma, este edifício possui no total 9 andares. Para sua circulação vertical está equipado com dois elevadores, sendo um de serviço e outro social. Neste edifício já notamos a presença de pilotis que deixam a planta térrea livre. A presença destes pilotis cria na entrada do edifício um recuo coberto de acesso à porta de entrada. Mesmo o prédio 53 estando sem recuo, sua entrada é recuada, criando um pequeno hall de entrada com o cuidado de ambientá-lo com paisagismo. O edifício Marcelina também conta com aposentos para um zelador, a característica é que este aposento está localizado na cobertura do edifício junto à caixa d’água. Sua fachada já transparece um cuidado estético maior que os edifícios anteriores da Vila Romana, as pastilhas cobrem totalmente a face voltada à rua e a face voltada ao recuo, ficando ainda o reboque na lateral que se ergue ao limite do lote e aos fundos. A marcação de faixas azuis com o desenho padronizado em pastilhas destacam pequenos detalhes de volume, o edifício passou a ter uma perspectiva, ganhou a terceira dimensão. As fachadas anteriores eram chapadas, trabalhavam somente um plano, já a do Edifício Marcelina cria volume ao recuar o edifício para buscar o sol. Ele possui apenas duas empenas cegas. Edifício Marcelina, Rua Marcelina 394 Figura 30 – Edifício Marcelina, Rua Marcelina 394 - início da verticalização na Vila Romana. Fonte: www.maps.google.com.br 54 Desta forma, o edifício Marcelina apresenta inúmeras inovações e alterações na maneira de criar o ambiente habitacional, porém ainda se apóia em estruturas fundiárias dos antigos edifícios. Este edifício é uma mistura agridoce entre a forma tradicional de construção e organização do espaço e a forma moderna de formatar o espaço. Ele poderia representar a quebra entre as duas primeiras periodizações adotadas neste trabalho, porém os Condomínios Electra I e II, edificados em 1972, romperam definitivamente o padrão dos edifícios da Vila Romana até então. Entre estes dois edifícios ainda foram edificados mais dois outros. Na Rua Clélia, o Edifício Romeu Ranzuni em 1971 e na Rua Fábia, o Edifício Márcia em 1972, que mantinham as mesmas características do Edifício Marcelina. 2.2 – Legislação e o Estado - construindo um zoneamento As características apresentadas pelos edifícios estão intimamente ligadas com os acontecimentos da sociedade. Estes não são somente resultado de características construtivas e de materiais, mas sim do pensamento da sociedade em determinada época. Os edifícios, desta primeira fase de verticalização da Vila Romana, refletem não somente as técnicas construtivas da época, mas também a maneira social de organização do espaço privado e sua relação com o espaço público. Para entendermos como a sociedade estava organizada vejamos como estava a organização política e social dos anos 60 e início dos anos 70. A legislação urbana, o zoneamento e as políticas habitacionais interferem diretamente na produção destas unidades habitacionais. O Brasil experimentava o período desenvolvimentista que se originava nos anos 40 com o fim da ditadura Vargas. Os anos seguintes seriam de efervescência social. O fim da segunda guerra mundial em 1945, a industrialização e a crescente migração da população brasileira 55 para as grandes metrópoles marcaram esta época. A cidade de São Paulo partia em 1940 com cerca de 1.300.000 habitantes para chegar em 1960 com cerca de 2.700.000 habitantes.15 As leis que formataram o uso do solo e o crescimento da cidade não acompanharam as mudanças sociais. O último grande plano para o crescimento da cidade tinha sido o Plano de Avenidas de Prestes Maia nos anos 30, e mesmo assim levara em conta o sistema viário como precursor do progresso. O zoneamento à época e as construções eram regidos pelas diretrizes do Código Arthur Saboya (lei municipal 3.427) que sistematizou as leis e estabeleceu limites. Segundo REIS FILHO (1978), as décadas de 30 e 40 foram de grande inovação no setor residencial. Os prédios de apartamentos eram novidade que ainda não contavam com a aceitação da maioria. Ainda segundo REIS FILHO (1978) os edifícios desta época reproduziam de maneira empilhada as plantas das residências. Os edifícios da Vila Romana enquadrados nesta periodização ainda respeitavam as diretrizes que vinham da maneira de pensar a cidade descritas por REIS FILHO. “A Década de 1930 à 1940 assistiria à multiplicação de uma grande inovação no setor residencial: os prédios de apartamentos. Essa verticalização seria aceita inicialmente com relutância, pois ameaçava costumes que remontavam aos tempos coloniais.”16 O zoneamento era um tema novo na cidade nos anos 40 e se seguiria um grande debate a respeito até a aprovação da Lei Geral de Zoneamento em 1972. Como descrito por SOMEKH (1987), a legislação de São Paulo limitou-se até 1957 apenas ao estabelecimento de alturas máximas que não representavam uma limitação efetiva.17 15 16 17 Histórico demográfico do município de São Paulo, Prefeitura de São Paulo in SOMEKH, Nadia. A (des) verticalização de São Paulo, dissertação de mestrado – FAU USP 1987 SOMEKH, Nadia. A (des) verticalização de São Paulo, dissertação de mestrado – FAU USP 1987 56 Os primeiros edifícios da Vila Romana ainda são exemplos deste padrão de implantação e de conceito do início da verticalização em São Paulo. Os pequenos lotes, a falta de recuo, o gabarito de altura e o empilhamento de unidades caracterizam estes edifícios. “Segundo REIS FILHO (1978), os edifícios residenciais que reproduziam as plantas dos edifícios antigos e das residências isoladas de maneira empilhada, não eram encarados como um problema novo. Os novos tipos de edificação conservariam os mesmos lotes e os mesmos esquemas de relacionamento com esses, como as antigas habitações, cujos terrenos tinham vindo ocupar... Nem poderia ser de outro modo, se os próprios códigos exigiam que edificações nesse gênero fossem levantadas sobre limites e alinhamentos.”18 O rigor das leis ainda demoraria a ser sentido na Vila Romana, isso porque o centro era reservado à elite e tinha uma maior organização, já o restante da cidade ficava à margem deste controle mais rígido. Como demonstrado por CALDEIRA (2000), as leis eram efetivas para o centro, porém não tinham abrangência no restante da cidade. “O principal efeito dessa legislação urbana inicial foi estabelecer a disjunção entre um território central para a elite (o perímetro urbano), regido por leis especiais que eram sempre cumpridas, e as regiões suburbanas e rurais habitadas pelos pobres e relativamente não legisladas, onde as leis eram cumpridas com menos rigor .”19 18 19 in SOMEKH, Nadia. A (des) verticalização de São Paulo, dissertação de mestrado – FAU USP 1987 CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros , Editora 34- EDUSP – 2000 57 A cidade de São Paulo sofria o impacto do crescimento desordenado e da falta de políticas urbanas modernas. No período desenvolvimentista foram criados conselhos, juntas, comissões e departamento de urbanismo. Fortemente influenciado pelo modelo americano, Anhaia Mello fomenta as discussões de criação de uma lei abrangente à cidade de São Paulo e, na sua gestão como prefeito da cidade, o termo “zoning” ainda em inglês, é usado pela primeira vez na legislação de uso e ocupação do solo.20 O Departamento de Urbanismo começa a elaborar, a partir de 1947, projetos de leis de zoneamento abrangentes ao conjunto da cidade e em 1955 o zoneamento é um instrumento técnico já dominado pelos engenheiros do departamento. Nesta fase de elaboração da legislação urbana da cidade de São Paulo, questões técnicas que antes não haviam sido abordadas como as “comunidades maiores” ou novas centralidades foram tema de debate e pesquisa. Antes de chegarmos a Lei de 1972, foram organizadas as leis precursoras desta e, entre 1954 e 1957, procede-se à demarcação maciça de zonas que agregam conjuntos de bairros, de forma que quando a lei de 1972 entra em vigor ela já se encontra aplicada em boa parte da cidade de São Paulo.21 A Vila Romana aparece nos mapas de zoneamento da década de 50 como uma área mista de baixa densidade da classe média e assim permanece até a nova lei de zoneamento urbano de 2004. Seu zoneamento até 2004 era composto de zonas Z2 e Z3. O que se altera são as condições de aproveitamento do lote e as diretrizes para a verticalização e seus recuos. Os primeiros edifícios da Vila Romana apareceram ainda sob esta fase de implementação de políticas urbanas e de aplicação de zoneamento e uso do solo, desta forma não respeitavam recuos e diretrizes que passaram a fazer parte do planejamento da cidade de forma mais firme a partir dos anos 60 e em forma de lei nos anos 70. 20,21 FELDMAN, Sarah. Planejamento e zoneamento São Paulo 1947-1972 : Edusp Fapesp, 2005 58 Quadro anexo à lei nº 7305/72 Figura 31 – Quadro de nº 2 anexo à lei nº 7305/72 . Fonte: In FELDMAN, Sarah Planejamento e Zoneamento São Paulo 1947-1972 – Edusp. No âmbito federal, os anos 60 iniciaram com a promessa de uma discussão e reformulação das políticas urbanas com o Seminário de Habitação e Reforma Urbana promovido pelo Ministério do Trabalho e assistência social.22 Este seminário colocava em pauta as novas necessidades da metrópole industrializada. A questão habitacional era agora uma questão fundamental nas grandes metrópoles. Com o golpe de 1964, todas as ações e diretrizes discutidas até então pararam. O governo federal tentaria regulamentar o espaço urbano por meio de ato institucional. 2.3 – Levantamento dos edifícios do período – 1964-1971 Os edifícios apresentados aqui são todos os edifícios do período compreendidos na área de estudo apresentada na introdução deste trabalho. Os dados cadastrais dos edifícios foram obtidos com o cruzamento de 3 fontes diferentes. O SECOVI – SP, levantamento de 22 QUINTO JR., Luis de Pinedo. Nova legislação urbana e os velhos fantasmas : Estudos avançados., 2003 59 dados no campo (feitos pelo autor desta pesquisa) e imobiliárias da Vila Romana e Lapa (Albuquerque Fernandes Negócios Imobiliários, M&M imóveis, Pio XI Accacia imóveis e Arthur Pacheco imobiliária LTDA). Os edifícios deste primeiro período (1964-1971), têm como principais características o alinhamento de sua construção ao limite do lote, desta forma apresentam empenas cegas, sejam elas nas laterais ou fundos. Os lotes são de tamanho pequeno, em média 650m2 de área. Não apresentam área de convivência comum, os projetos contemplam somente área de moradia e circulação, aqueles que reservam espaço no térreo destinam este à vagas de autos. Apresentam acabamentos semelhantes feitos com pastilhas que formam um padrão de desenho que se repete principalmente nas fachadas. A seguir apresentamos as fichas do levantamento, nelas temos um mapa de localização do edifício, seu nome e endereço. Apresentamos também informações como: ano de construção, número de torres, vagas por apartamento, número total de unidades, metragem média das unidades e preço. 60 Condomínio Moraes Rua Faustolo, 955 Ano de Construção - 1964 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 0 Nº de total de aptos - 30 em 5 andares Metragem da unidade - 70m2 Valor inicial - R$ 170.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 61 Condomínio Rua Duílio Rua Duílio, 538 e 552 Ano de Construção - 1970 Nº de Torres - 2 Andares - 4 e 5 cada torre Nº de total de aptos - 32 Metragem da unidade - 80m2 Valor - R$ 180.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 62 Condomínio Graúna Rua Tito, 100 Ano de Construção - 1970 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 1 Nº de total de aptos - 20 em 10 andares Metragem da unidade - 98 m2 Valor inicial - R$ 295.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 63 Condomínio Marcelina Rua Marcelina, 394 Ano de Construção - 1970 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 1 Nº de total de aptos - 28 em 7 andares Metragem da unidade - 82m2 Valor inicial - R$ 273.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 64 Condomínio Romeu Ranzuni Rua Clélia, 1250 Ano de Construção - 1971 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 1 Nº de total de aptos - 28 em 7 andares Metragem da unidade - 78m2 Valor inicial - R$ 268.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 65 Condomínio Márcia Rua Fábia, 500 Ano de Construção - 1972 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 1 Nº de total de aptos - 41 em 21 andares Metragem da unidade - 120m2 Valor inicial - R$ 533.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 66 Os primeiros edifícios residenciais foram resultado da forma como a cidade de São Paulo articulava suas políticas urbanas até a década de 70, representaram o início da verticalização no bairro e seguiam a lógica implantada desde a década de 40. Edifícios que eram construídos no alinhamento do lote e não apresentavam recuos articulavam as unidades como casas empilhadas. Estes primeiros edifícios não viam a verticalização como um problema novo. A explosão demográfica vivenciada pela cidade de São Paulo somada ao desenvolvimento econômico brasileiro e a industrialização geraram muitos problemas urbanos, dentre estes problemas a questão habitacional passava a ser de notória importância. Para buscar um controle sobre a cidade, os estudos e debates sobre a necessidade de uma legislação e de uma política urbana ganharam importância para o desenvolvimento da cidade a partir dos anos 40. Em São Paulo este debate sobre a cidade produziu a Lei Geral do Zoneamento de 1972, esta lei alterou significativamente a maneira como a verticalização seria produzida nos anos seguintes. Veremos estes novos edifícios residenciais no capítulo seguinte. 67 Capítulo 3 Os primeiros condomínios residenciais 1972-1993- um projeto social Capítulo 3 – Os primeiros condomínios residenciais – 1972 à 1993 – um projeto social A partir de 1972 o condomínio Electra estabeleceu novos padrões de verticalização na Vila Romana. Já sob o impacto das novas leis municipais de uso do solo e de políticas federais para promover a habitação, novos condomínios nasceram na vila. As alterações em relação aos primeiros edifícios são muitas, o conceito de espaço de convivência aparece pela primeira vez e quebra com o simples empilhamento de unidades que observamos até então. Podemos considerar que os limites físicos entre o público e o privado começam a tomar uma outra forma na Vila Romana a partir de 1972. Mesmo não apresentando barreiras claras como os grandes muros e grades atuais, os edifícios deste período já reservam um espaço privado de cidade aos moradores dos condomínios, iniciando assim uma tendência que será seguida nos anos futuros. Outros importantes indicadores da mudança na forma de viver e morar na metrópole são o aparecimento do zelador, a afirmação do automóvel, a presença de áreas particulares de lazer, a obrigatoriedade de recuos, o sistema construtivo e a influência modernista, aspectos que veremos nesta periodização. Os edifícios deste período são resultado da política de desenvolvimento da habitação promovido pelo BNH, que por meio de crédito fomentava a produção e o consumo das unidades habitacionais. Este fomento, somado à teoria e às técnicas modernas, resultaram em edifícios que livravam o térreo para uso comum e eram abertos a cidade. Lázara Akiau (comerciante, 68 anos), moradora do edifício Electra I, diz que foi dada a oportunidade para a classe média ter a casa própria: “Os edifícios eram lindos e com o financiamento do BNH nós pudemos comprar o apartamento.” Diz Lazinha. 69 As novas diretrizes de uso de solo obrigam os investidores a buscarem lotes maiores pois o coeficiente de aproveitamento foi reduzido a partir da Lei Geral do Uso do Solo de 1972, logo os terrenos maiores eram os que viabilizavam um maior potencial construtivo. 3.1 – Características e estruturas A aprovação da Lei de Parcelamento e Uso do Solo (Lei Municipal 7.805 de 1972) definia pela primeira vez um zoneamento que contemplava a cidade como um todo. De forma geral respeitava regulamentações existentes que já vinham sendo aplicadas no município. O zoneamento da Vila Romana era como o da maioria da cidade uma Zona Z2 (zona mista de baixa densidade). O Condomínio Electra I e II marca uma importante mudança no padrão da verticalização da Vila. Com 3.000m2 de área, o lote do Condomínio Electra é consideravelmente maior do que o padrão de edifícios que eram edificados até então, sua estrutura, escala, implantação estabeleceram um novo padrão. Mesmo não sendo resultado de nenhum remembramento ou parcelamento do solo, o lote maior possibilitou a implantação desta nova maneira de morar na cidade. O novo zoneamento incentivava a criação de áreas de uso comum livre de forma particular, ou seja, pertencentes ao condomínio. Depois de 1972, para a edificação de condomínios verticais fazia-se necessário terrenos maiores. Neste período, algumas indústrias já davam lugar a estes novos condomínios. Sua implantação é significativamente diferente dos edifícios anteriores, o Condomínio Electra é recuado de todas as divisas do lote, um grande edifício que incorpora dois condomínios. O Condomínio conta com um subsolo para abrigo de autos. A área térrea é reservada para uso de lazer e convívio, aparelhos de lazer como piscinas, quadra e salão de festas aparecem pela primeira vez na Vila Romana. 70 Condomínio Electra I e II Figura 32 – Condomínio Electra I e II de 1972, Rua Duílio 529 – segunda fase da verticalização na Vila Romana. Fonte: www.maps.google.com.br Ele representa um novo porte de edifícios. Sua implantação já obedecia a formula de Adiron, quanto menor a projeção do edifício no solo, maior poderia ser seu gabarito em altura.23 A linguagem e o pensamento moderno são identificáveis neste condomínio. A estrutura de concreto armado, a racionalização do sistema construtivo, a presença de pilares que liberam o térreo para o uso coletivo, a criação de espaços verdes e áreas de recreação e sua implantação, remetem à idéia modernista de uma cidade formada por torres isoladas liberando o máximo de terreno possível.24 23 JOSÉ, Mariana Kara. De quem é esta rua? O limite entre o público e o privado nas areas residenciais em São Paulo : Dissertação de mestrado – Universidade Mackenzie., 2004 24 SOMEKH & CAMPOS NETO, Candido Malta (org). A cidade que não pode parar: Planos urbanísticos de São Paulo no século XX . São Paulo: Mackpesquisa, 2002 71 Implantação do Condomínio Electra I e II Figura 33 – Croquis de Implantação do Condomínio Electra I e II de 1972, Rua Duílio 529. Fonte: Rodrigo F. Michelin. O projeto do condomínio Electra, mesmo criando este ambiente de convívio particular no térreo do lote, mantinha-se aberto à cidade. Seu projeto original não contemplava grades ou portarias. A divisão entre o lote e o passeio público dava-se pela diferença de nível da laje que nivela o piso térreo. Uma mureta de 50 centímetros na parte mais alta da rua e um muro de 2,50 metros na parte mais baixa da rua delimitavam o público do privado. O acesso aos pedestres se dá por duas escadas que levam diretamente ao hall do edifício. Como não existiam as grades e a portaria separada do corpo do edifício, qualquer pessoa que transitava pela rua tinha acesso ao edifício passando pela entrada, nesta área de recuo, que era uma transição entre o público e o privado. A figura do zelador faz parte deste novo conceito de morar na cidade, ele fica no saguão do edifício controlando a entrada e saída dos condôminos e visitas e é o responsável pela manutenção em geral. 72 Condomínio Electra I e II Figura 34 – Condomínio Electra I e II de 1972, Rua Duílio 529. Fonte: www.maps.google.com.br Na imagem acima notamos como o edifício possibilita a ampliação do campo de visão dos pedestres e dá mais “espaço” para a rua. Na ocasião de sua construção as grades e a guarita mostradas na foto acima não existiam. Desta forma, o condomínio Electra dava maior qualidade ao ambiente urbano por garantir uma via pública mais arejada e agregar o paisagismo de seu recuo frontal ao espaço público. A divisão entre espaço público e espaço privado existe, porém ainda era feita de forma sutil. Havia neste perfil de edifícios uma preocupação de compor um ambiente urbano. Como não apresenta nenhuma empena cega, este edifício é revestido de pastilhas nas quatro fachadas e já apresenta uma linguagem estética mais refinada e alinhada aos modelos da escola modernista. As pastilhas criam um padrão de desenho que se repete na fachada do edifício, diferenciando sua cor entre o verde e o marrom para cada condomínio. Sua estrutura é marcada na fachada com os pilares em linha 73 chegando ao solo em forma de pilotis que liberam o térreo. O sistema construtivo já conta com sistemas pré-fabricados que eram montados na obra como as lajes preel, estes sistemas possibilitaram a construção de edifícios com maior gabarito de altura, é o reflexo da industrialização na construção civil. O condomínio Electra é composto de 16 andares, com oito apartamentos cada andar (quatro por andar em cada condomínio), sendo dois de três dormitórios e dois de dois dormitórios por condomínio. Como estão anexos em um só edifício resultam em 128 unidades de 84m2, para as unidades de dois quartos, e 95m2, para as unidades de três quartos. Ele conta também com uma unidade destinada para o zelador, localizada na cobertura do edifício e anexa à estruturas como a caixa d’água e as máquinas de elevador. O Electra não valoriza a cobertura como apartamento, tem telhado de fibrocimento. A área de sub-solo conta com 130 vagas de garagem cobertas e um depósito de lixo. Sua circulação vertical é feita por meio de uma escadaria que percorre o subsolo até a habitação do zelador e dois elevadores, sendo um de serviço e outro social. Os condomínios que surgiram nos anos seguintes apresentaram o mesmo conceito, a verticalização em lotes maiores com a construção de uma ou mais torres que liberavam o térreo para uso comum. O automóvel era condicionado em subsolos e a oferta de vagas era relativa ao número de apartamentos em 1 para 1, ou seja, uma vaga de auto para cada apartamento. Nos anos 70 e início dos anos 80 era comum encontrar pessoas que ainda não tinham automóveis, portanto as vagas eram negociadas de forma informal pelos moradores e em muitos casos geravam um aluguel a pagar para aqueles que já possuíam dois automóveis. Neste mesmo conceito foram edificados, entre 1972 e 1991, os condomínios Venézia, Maria Cristina, Silvia, Voyage, San Remo, Emma Mattos, Toulon, Vila de Carla e Hortências. O condomínio Venézia apresentava as mesmas características do Electra, porém dividiu os condomínios em duas torres separadas. Chama a atenção o aparecimento de pequenas sacadas que buscavam 74 dar estilo veneziano ao edifício. Condomínio Venézia Figura 35 – Condomínio Venézia de 1972, Rua Duílio 199. Fonte: www.maps.google.com.br Com o lote de aproximadamente 2.500m2, segue as mesmas diretrizes estabelecidas pela legislação de 1972, obedecendo os recuos e liberando o espaço térreo para o convívio, as grades também são posteriores à sua construção. “Eram os maiores edifícios do bairro e a vista era linda, era um bairro calmo e com tudo perto. Farmácia, padaria, mercado.” Diz o Sr. Aldo Peduto (bancário aposentado, 75 anos) morador do edifício Venézia. Ao descrever o bairro o Sr. Aldo relembra: “Era uma vida de interior, gostava de ir à feira tomar caldo de cana e comer pastel. Encontrava todo mundo pela rua.” 75 Ao observarmos sua implantação, verificamos como se dá sua ocupação no lote. O lote já estava estabelecido e ainda não é resultado de parcelamento e remembramento. Implantação do Condomínio Venézia Figura 36 – Croquis de Implantação do Condomínio Venézia, Rua Duílio 199. Fonte: Rodrigo F. Michelin. Outro exemplo a ilustrar nesta periodização é o Condomínio Emma Mattos. Este condomínio mantém as características dos empreendimentos da década de 80 na vila Romana, recuo em relação aos limites, pilotis que liberam o térreo para uso comum, garagem no subsolo, sistema construtivo, conjunto de lazer composto de salão de festas e piscina. Notamos que a portaria já faz parte do projeto do edifício e a ocorrência de uma pequena sacada na fachada do imóvel. 76 Condomínio Emma Mattos Figura 37 – Condomínio Emma Mattos, Rua Coriolano 846. Fonte: www.maps.google.com.br Implantação do Condomínio Emma Mattos Figura 38 – Croquis de Implantação do Condomínio Emma Mattos, Rua Coriolano 846 . Fonte: Rodrigo F. Michelin. 77 Sua implantação segue o padrão apresentado pelos empreendimentos edificados na Vila Romana a partir de 1972. O lote originalmente ocupado por pequenas indústrias e oficinas dá lugar ao edifício com as devidas diretrizes permitidas por lei. No térreo são criados ambientes de convívio e lazer. A partir de 1992, com o lançamento do Condomínio que era composto pelos edifícios Da Vinci e Michelangelo, o perfil de empreendimento se altera mais uma vez na Vila Romana. Estes condomínios que virão representam uma terceira etapa da verticalização na Vila Romana. 3.2 – Legislação e o Estado – o zoneamento segregador A década de 70 foi de grande agitação e transformação nas políticas urbanas e habitacionais na cidade de São Paulo. Conjuntos de leis federais e municipais somados à linhas de crédito para financiamento de habitações transformaram a maneira de edificar na cidade de São Paulo. Os estudos, projetos de lei e diretrizes de políticas urbanas desenvolvidos desde os anos 40 resultaram na aprovação da Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo de novembro de 1972, esta lei dividiu a cidade em oito zonas e especificou os parâmetros de uso e ocupação do solo em cada uma delas. De uma forma geral, a Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo procurou manter as tendências de ocupação e regulação já praticadas nas áreas mais consolidadas da cidade. Desta forma, a Lei tornou legítimo o zoneamento que o Departamento de Urbanismo já vinha implantando gradativamente em anos anteriores. As áreas mais consolidadas e de melhor estrutura urbana receberam o zoneamento mais permissivo, desta forma as áreas centrais da cidade de São Paulo e o quadrante sudoeste, que já concentravam a fatia de melhor renda e valorização, receberam as melhores condições de investimentos, o restante, que correspondia a grande maioria da cidade, foi classificado 78 como Z2, zona mista de baixa densidade.25 O resultado desta lei foi salientar ainda mais as diferenças entre as áreas mais adensáveis e disputadas e a grande maioria da cidade. Segundo VILLAÇA (2001: 141) as políticas urbanas no Brasil sempre favoreceram a segregação social e esta é facilmente identificada nas metrópoles brasileiras. Portanto, segundo VILLAÇA, a legislação urbanística brasileira tem uma história voltada para a regulamentação da segregação sócio-espacial. Vemos também em CALDEIRA (2000) que a legislação acompanha o movimento de segregação social da cidade de São Paulo. Ainda segundo CALDEIRA este período (anos 70 e 80) corresponde a segunda forma urbana de segregação, denominada centro-periferia. “A primeira estendeu-se do final do século XIX até os anos 1940 e produziu uma cidade concentrada em que os diferentes grupos sociais se comprimiam numa área urbana pequena e estavam segregados por tipos de moradia. A segunda forma urbana, a centro-periferia, dominou o desenvolvimento da cidade dos anos 40 até os anos 80. Nela diferentes grupos sociais estão separados por grandes distancias: as classes media e alta concentram-se nos bairros centrais com boa infra-estrutura, e os pobres vivem nas precárias e distantes periferias.”26 A terceira forma demonstrada por CALDEIRA será o que a autora chama de enclaves fortificados e será avaliado nos próximos capítulos deste trabalho. A Vila Romana recebeu zoneamento Z2 que correspondia a zona mista de baixa densidade e era a zona mais comum na cidade de São Paulo. Nesta zona, nem mesmo o conjunto de casas germinadas sob categoria R2-01 eram possíveis de edificação. Este fato se deve ao 25 JOSÉ, Mariana Kara. De quem é esta rua? O limite entre o público e o privado nas áreas residenciais em São Paulo : Dissertação de mestrado – Universidade Mackenzie., 2004 26 CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros , Editora 34- EDUSP – 2000 79 desestímulo à construção de vilas. Para que o adensamento ocorresse na zona Z2, nas condições estabelecidas pela lei, só eram viabilizados empreendimentos em lotes grandes, pois exigências como menor taxa de ocupação e círculo com diâmetro-metragem mínima, dentre outras, obrigavam os novos edifícios a terem lotes grandes.27 A Lei nº7.805/72 também propunha um modelo de verticalização que fomentava a criação de espaços comunitários dentro da área do lote, ou seja, particulares ao edifício. Esta modalidade de construção era classificada como R3, criação de conjuntos residenciais que seguiam a fórmula de Adiron, quanto menor a projeção do edifício no solo maior poderá ser seu gabarito de altura. No caso da zona (Z2) para os conjuntos residenciais (R3), com a redução da taxa de ocupação, o coeficiente de aproveitamento poderia chegar a 2. Desta forma o coeficiente de aproveitamento passou de 6 para 4 e finalmente para 2 em 1972, esta redução do coeficiente teve impacto significativo na verticalização da cidade de São Paulo. Estas exigências da nova lei foram sentidas nos edifícios residenciais da Vila Romana entre 1972 à 1993, os lotes passaram a ser sensivelmente maiores que os ocupados pelos edifícios até 1972. A criação de áreas comuns no pavimento térreo refletiram não só o pensamento moderno mas também as imposições da legislação urbana vigente. Como descrito por SOMEKH (1987), houve também uma valorização fundiária em São Paulo. “A lei de zoneamento provocou um novo espraiamento da verticalização, um aumento da demanda de terrenos pelo setor imobiliário produtor de edifícios, acarretando uma sobrevalorização dos preços fundiários”28 27 JOSÉ, Mariana Kara. De quem é esta rua? O limite entre o público e o privado nas areas residenciais em São Paulo : Dissertação de mestrado – Universidade Mackenzie., 2004 28 SOMEKH, Nadia. A (des) verticalização de São Paulo, dissertação de mestrado – FAU USP 1987 80 A lei também aumentava as exigências para a criação de novos loteamentos, tornando mais complexas as normas técnicas de aprovação. Desta forma, o mercado foi estimulado a produzir conjuntos habitacionais para a classe média e classe alta. O quadro de estímulo à produção de conjuntos habitacionais, nos moldes já descritos para a classe média, se fecha com as linhas de crédito disponibilizadas pelo BNH (Banco Nacional de Desenvolvimento), que fomentava o crédito imobiliário tanto para o empreendedor como para o consumidor final. O BNH (Banco Nacional da Habitação) foi criado em 1964 com o objetivo de fomentar o desenvolvimento da habitação no Brasil. Para este fomento, gerenciava o FGTS (Fundo de garantia por tempo de serviço), com este fundo possibilitou o crédito imobiliário para investidores e consumidores até 1986, ano em que foi extinto, passando suas atividades para a Caixa Econômica Federal. Desta forma, a classe média na década de 70 constituía um mercado importante para investimentos imobiliários. De um lado, o crédito que era disponibilizado exatamente para esta classe, e de outro, a legislação que fomentava a edificação de conjuntos habitacionais dedicados a ela, formataram um perfil de edifícios na cidade de São Paulo. O Sr. Aldo Peduto (bancário aposentado, 75 anos) diz que era uma oportunidade para comprar um imóvel: “Era a única forma que tínhamos para poder ter um apartamento. Eu trabalhava no banco e fiz o financiamento com o BNH para pagar em 30 anos.” Diz Aldo. Os resultados desta nova legislação e política habitacional na Vila Romana foi o aparecimento de condomínios como o Electra e o Venézia, todos financiados pelo BNH. Desta forma, a população de baixa renda seguia para a periferia, a classe média mudava-se para estes novos conjuntos de apartamentos, em áreas mais estruturadas, e a classe alta concentrava-se nos bairros centrais. 81 A violência urbana também foi um fator que influenciou a forma de construção e organização do espaço dos condomínios a partir de 1970. Neste período (1972 à 1993), a violência urbana aumentou consideravelmente e era notório para a classe média que a violência não tardaria a chegar à porta de casa. A primeira capa da revista Veja sobre violência urbana data de 23/04/1969, portanto o início do debate da violência urbana como tema diário data do inicio dos anos 70. Capa Revista Veja Figura 39 – Capa Revista Veja de 23/04/1969 . Fonte: Arquivo Veja: Coleções/Violência urbana. Acima a capa da revista Veja que tratava pela primeira vez do tema violência urbana como matéria principal, o texto foi intitulado “Um novo crime nas ruas.” A matéria mostra como o crime deixou de ser um crime de estelionato para ser um crime das ruas, da mão armada. “A comparação entre as estatísticas de 1967 e 1968 da Divisão de Crimes Contra o Patrimônio, de São Paulo, traz revelações: o número de inquéritos para estelionato - contos do vigário e golpes sem emprego de força - caiu de mil para quinhentos; enquanto isso, o furto qualificado ou não arrombamento de residência é considerado furto qualificado subiu de mil para 1.700; e o roubo - assalto a mão armada 82 inclusive - pulou de 150 para quatrocentos. E é bom notar que as vítimas de assalto a mão armada são as que em maior número deixam de procurar a polícia, temendo represálias por parte dos assaltantes. O quadro de homicídios também é significativo. Enquanto os homicídios culposos (em que o agente não tinha a intenção de matar, e matou por imprudência, negligência ou imperícia) caíram de 560 para 510, os homicídios dolosos (inclusive latrocínios) subiram de 280 para 350. E só não subiram mais porque, na hora do "a bolsa ou a vida", o assaltado, cada vez mais, entrega a bolsa sem resistência.”29 Outro fator que contribuiu para que o ambiente público e a rua ou a cidade fossem vistos de forma insegura foi o clima vivido com a ditadura militar, principalmente sob o comando do general Médici (1969 à 1974). Direitos individuais foram cerceados ao cidadão e o espaço público foi território de muitos conflitos. Fazia-se necessário a obtenção de um “espaço seguro” ou de um “espaço íntimo” onde a pessoa pudesse descansar da violência urbana. Conflito em via pública Figura 40 – Conflito em via pública. Fonte: Arquivo Veja: Coleções/Violência urbana. 29 REVISTA VEJA, Matéria – Um novo crime nas ruas. – 23/04/1969 83 “O clima era realmente pesado, qualquer palavra errada já era motivo de atenção. O prédio era onde podíamos deixar as crianças brincarem sem a preocupação das ruas.” Diz Silvia Ignácio (professora aposentada, 65 anos). Estes motivos levaram os condomínios a serem a forma preferida de morar da classe média neste período. Desta forma, com as exigências da lei e as circunstâncias urbanas forjadas pela política e economia, os condomínios estabeleceram uma nova forma de morar e vivenciar a cidade. Vejamos os exemplares destes edifícios na Vila Romana. 3.3 – Levantamento dos edifícios do período – 1972-1993 Os edifícios deste período apresentam sensíveis mudanças em relação aos primeiros edifícios da Vila Romana descritos no capítulo dois deste trabalho. A presença de recuos, tanto frontal, lateral e nos fundos do lote, indicam uma nova maneira de edificar na cidade de São Paulo. A Lei de Uso e Ocupação do Solo de 1972 estabeleceu novas diretrizes para a verticalização. Na Vila Romana o primeiro exemplo desta nova forma de verticalização é o condomínio Electra I e II de 1972. A presença da escola modernista também caracterizou os edifícios deste período, pilotis, térreo livre, sistema construtivo e o concreto armado foram utilizados por estes edifícios. A área resultante do térreo livre foi destinada a convivência dos condôminos, o aparecimento destas áreas de convivência é fruto da legislação e da forma como o Estado gerenciou o ambiente público. Tanto a escalada da violência quanto a forte repressão da ditadura criavam na rua uma insegurança, fomentando assim o aparecimento destas áreas de lazer internas aos edifícios. Em princípio, os edifícios eram abertos à cidade, não apresentavam muros, grades ou portarias. Estas barreiras de 84 segurança apareceriam no final dos anos 80, quando os edifícios já contemplavam estas barreiras de segurança em seus projetos e os mais antigos reformaram suas fachadas para aplicar estes elementos. O Estado teve um papel importante neste período, tanto as novas leis como a política geral e o financiamento por meio do BNH formaram um vetor que empurrou e direcionou a verticalização na cidade de São Paulo. O período aqui descrito (1972 à 1993) teve um início forte e de bom avanço na verticalização, e um final de período mais fraco devido a desaceleração econômica do Brasil no final dos anos 80 e início dos anos 90. Os dados cadastrais dos edifícios foram obtidos com o cruzamento de 3 fontes diferentes. O SECOVI – SP, levantamento de dados no campo (feitos pelo autor desta pesquisa) e imobiliárias da Vila Romana e Lapa (Albuquerque Fernandes Negócios Imobiliários, M&M imóveis, Pio XI Accacia imóveis e Arthur Pacheco imobiliária LTDA). A seguir apresentamos as fichas do levantamento, nelas temos um mapa de localização do edifício, seu nome e endereço. Apresentamos também informações como: ano de construção, número de torres, vagas por apartamento, número total de unidades, metragem média das unidades e preço. 85 Condomínio Electra I e II Rua Duílio, 529 Ano de Construção - 1972 Nº de Torres - 2 Andares - 16 cada torre Nº de total de aptos - 128 Metragem da unidade - 95m2 Valor - R$ 292.000,00 (ref. nov 2011) Terreno - 3.000 m2 FACHADA INTERFACE 86 Condomínio Venézia Rua Duílio, 199 Ano de Construção - 1983 Nº de Torres - 2 Vagas garagem - 2 Nº de total de aptos - 80 em 20 andares Metragem da unidade - 115m2 Valor inicial - R$ 476.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 87 Condomínio Maria Cristina Rua Aurélia, 329 Ano de Construção - 1985 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 1 Nº de total de aptos - 24 em 12 andares Metragem da unidade - 93 e 165m2 Valor inicial - R$ 385.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 88 Condomínio Silvia Rua Fábia, 60 Ano de Construção - 1988 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 1 Nº de total de aptos - 32 em 16 andares Metragem da unidade - 78m2 Valor inicial - R$ 268.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 89 Condomínio San Remo Rua Tito, 570 Ano de Construção - 1989 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 1 Nº de total de aptos - 39 em 13 andares Metragem da unidade - 60m2 Valor inicial - R$ 206.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 90 Condomínio Voyage Rua Duílio, 282 Ano de Construção - 1989 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 2 Nº de total de aptos - 13 em 13 andares Metragem da unidade - 100m2 Valor inicial - R$ 306.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 91 Condomínio Emma S. Mattos Rua Coriolano, 846 Ano de Construção - 1990 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 2 Nº de total de aptos - 26 em 13 andares Metragem da unidade - 87m2 Valor inicial - R$ 322.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 92 Condomínio das Hortências Rua Camilo, 655 Ano de Construção - 1991 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 1 Nº de total de aptos - 40 em 10 andares Metragem da unidade - 62m2 Valor inicial - R$ 278.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 93 Condomínio Toulon Rua Coriolano, 982 Ano de Construção - 1991 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 1 Nº de total de aptos - 26 em 13 andares Metragem da unidade - 75m2 Valor inicial - R$ 397.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 94 A partir de 1972, os edifícios residenciais da Vila Romana passaram a ter um novo formato. Estes condomínios foram resultado das políticas urbanas e econômicas adotadas pelo poder público no período. Estabelecem uma nova relação da unidade habitacional com o lote e a cidade, a verticalização não é mais encarada como um simples empilhamento de unidades. A área térrea comum é o primeiro sinal de reserva de uma área de cidade para uso particular, até então os edifícios não contavam com esta área comum. Os recuos e os novos coeficientes de aproveitamento priorizam o investimento em lotes maiores. Os esforços governamentais para fomentar a habitação e os ideais modernistas deram um caráter social a produção de edifícios neste período. A violência urbana cresce significativamente neste período, o crime deixa de ser o de estelionato (sem emprego de força) para um crime de mão armada, de rua, do emprego da força. A política de repressão do regime militar também priva direitos do cidadão e fomenta a insegurança no ambiente público, tornando este palco de muitos conflitos. O Estado não mostra eficácia em garantir a segurança pública. Estes fatores contribuem para que o espaço público seja visto de forma selvagem. Portanto, apoiado na legislação, com a privação de direitos, e a insegurança nos ambientes públicos, os condomínios passam a ser a forma preferida de morar das classes médias e altas na cidade de São Paulo. Veremos no capítulo seguinte como estes condomínios fechados se desenvolveram na Vila Romana. 95 Capítulo 4 Os condomínios residenciais 1994-2004 - a busca de segurança Capítulo 4 – Os condomínios residenciais – 1994 à 2004 – a busca de segurança A partir de 1994 observamos uma nova alteração no padrão dos edifícios residenciais da Vila Romana. A princípio, as mudanças são físicas e de organização do espaço, porém veremos que as ações do poder público, o automóvel e a violência, fomentaram a criação de um produto imobiliário. Dos anos 90 em diante a segregação urbana tomou uma nova forma, a divisão centro-periferia, demonstrada por CALDEIRA (2000) e VILLAÇA (2001), começava a ganhar uma nova realidade, a segregação do espaço público. Os primeiros condomínios que tratam o espaço interior de convivência de forma urbanizada na Vila Romana foram os edifícios Michelangelo e Da Vinci. Houve também uma elitização dos edifícios de apartamentos, a metragem quadrada das unidades ficou maior e o valor dos imóveis também aumentou. A crise econômica fez dos anos 90 os anos de menor investimento em desenvolvimento urbano. “Mudamos mais perto do trabalho do meu pai, ficava fácil para pegar a marginal Tietê. Saímos de uma casa porque fomos assaltados e mudamos para um apartamento seguro e mais perto.” Diz Marcos Lerche (advogado, 35 anos), morador do edifício Da Vinci. Os edifícios deste período iniciaram o conceito de condomínio seguro, colocando empreendimentos apareceram nas a é idéia possível áreas de de uma que somente vida convivência segura. destes dentro destes Desta forma, condomínios equipamentos antes reservados à cidade, praças, pergolados, fontes, bancos e outros equipamentos foram locados no terreno dos edifícios de forma a criar uma realidade ordenada e segura. Edifícios maiores, mais equipados e mais segregados formam este período (1994 à 2004) de nosso trabalho. 97 4.1 – Características e estruturas O processo de verticalização da Vila Romana que se iniciara em 1964 e passara pela primeira grande mudança em 1972, tomou um novo rumo a partir de 1994, com a edificação do Condomínio composto pelos edifícios Da Vinci e Michelangelo. Estes edifícios apresentaram uma substancial majoração em muitos aspectos. O lote, seu gabarito de altura, a quantidade de vagas para autos, e a metragem de seus apartamentos, receberam um sensível aumento de área e metragem. Na época (1994), estes edifícios eram os maiores da vila com 25 andares cada torre, superando assim em 10 pavimentos a média dos edifícios construídos até 1994, que era de 16 andares.30 Com dois apartamentos de 120m2 por andar, totaliza 100 unidades. É também o primeiro condomínio a contemplar duas vagas de garagem por unidade mais um pequeno depósito individual. Estas vagas estão distribuídas em dois subsolos. A partir deste condomínio, todos os condomínios edificados até 2004 apresentam duas vagas de automóveis por unidade, ressalva feita ao Edifício Vila Romana que mesmo edificado em 1998 possui características de moradia popular com uma vaga de garagem e 62m2 de área útil. Seu lote também apresenta um tamanho maior do que os edifícios edificados até então. Respeitando as diretrizes da legislação, estes edifícios (Michelangelo e DaVinci) criam um espaço privado comum que apresenta uma diferença em relação aos anteriores. Nos primeiros condomínios edificados entre 1972 e 1994, observávamos a liberação do térreo por meio de pilotis que criavam ambientes de vivência coletiva, em geral compostos de uma piscina, um salão de festas e, em alguns casos, uma pequena quadra esportiva. No caso destes edifícios (Da Vinci e Michelangelo), o edifício chega inteiro ao piso térreo, ele não usa os pilares ou pilotis para livrar o piso térreo. Este fato se deve a uma mudança em particular, o apartamento 30 Dados retirados das fichas elaboradas para este trabalho. 98 destinado ao zelador do condomínio passou a ser no andar térreo, pois a cobertura ganhou valor comercial nestes edifícios. Condomínio Michelangelo e Da Vinci Figura 41 – Condomínio Michelangelo e Da Vinci . Rua Fábia. Fonte: www.maps.google.com.br Sua estrutura de lazer é diferente pois apresenta uma urbanidade, o térreo não é mais formado por ambientes, mas sim organizado como uma praça com caminhos e equipamentos antes encontrados somente na via pública. Bancos, fontes, pergolados e paisagismo ambientam a área remanescente do terreno para criar o espaço comum de lazer. É notório o cuidado maior com a elaboração do térreo nestes edifícios. Esta tendência também será observada nos condomínios que se seguem na Vila Romana, sendo levada ao extremo nos condomínios fechados a partir de 2004. 99 Também apresentam um sistema de lazer mais sofisticado que os anteriores, no caso destes edifícios estão contemplados equipamentos como: churrasqueira, piscina, piscina infantil, playground, sala de ginástica, salão de festas, quadra poliesportiva (tamanho oficial) e sauna. Seu desenho também representa uma mudança em relação aos projetos ortogonais retangulares que vinham sendo edificados até então. Sua estrutura continua sendo baseada no concreto armado, porém seu desenho apresenta uma maneira mais criativa de utilizar a estrutura. Ao observarmos a foto aérea a seguir, poderemos notar claramente a diferença entre os edifícios edificados na periodização passada (lado direito da foto), que possuem coberturas de fibrocimento e lotes menores, e as torres Da Vinci e Michelangelo (lado esquerdo da foto), que apresentam um lote maior com sua cobertura valorizada com piscinas particulares. É possível ver também a urbanização do pavimento térreo que articula os equipamentos de lazer. O desenho do edifício também é notoriamente diferente das soluções tradicionais retangulares ou em “H” que eram resultantes da estrutura linear. No caso destas duas novas torres, a estrutura acompanha o desenho. Outra diferença, apresentada nestas duas torres, é o aparecimento da varanda, ao contrário do que vinha sendo o modelo até então, estes edifícios apresentam uma varanda maior que possibilitava a colocação de uma pequena mesa e cadeiras de forma a tornar-se um espaço útil e não somente uma pequena sacada. Seu acabamento é feito em reboque e pintura, não utilizando revestimentos cerâmicos, como era de costume nos edifícios da periodização anterior. Com apartamentos de 4 dormitórios e as sofisticações já descritas, o condomínio formado por estas duas torres apontava uma valorização dos condomínios da Vila Romana. O perfil dos moradores, que até a década de 80 era composto de funcionários públicos e comerciantes, começava a mudar. Jogadores de futebol, donos de indústrias e executivos começavam a ocupar estes novos 100 empreendimentos. Condomínio Michelangelo e Da Vinci Figura 42 – Condomínio Michelangelo e Da Vinci. Rua Fábia. Fonte: www.maps.google.com.br Até o ano de 2004, os condomínios que foram lançados na Vila Romana buscavam atender à demanda das classes média e média alta, apartamentos entre 75m2 à 180m2 foram formatados em produtos imobiliários similares, cada um compatível com seu lote. Porém todos seguiram o mesmo conceito. Vender uma estrutura de lazer equipada, no mínimo duas vagas de autos, e segurança estabelecida por guaritas 101 e grades. Outro exemplo deste novo conceito é o condomínio Boulevard Vila Romana. Como as torres Da Vinci e Michelangelo, este condomínio trata a área de lazer sofisticada de forma urbanizada, com características de praça, tem a cobertura valorizada, seu sistema de segurança é baseado em guarita e grades, chega com toda sua projeção ao solo e apresenta características semelhantes aos demais edifícios desta periodização, porém já anuncia algumas mudanças que serão sentidas nos anos seguintes. Condomínio Boulevard Vila Romana Figura 43 – Condomínio Boulevard Vila Romana, Rua Camilo. Fonte: www.maps.google.com.br A presença de adornos, balaustres, detalhes de acabamentos e revestimentos cerâmicos dão a este condomínio a aparência neoclássica que se tornou uma febre nos condomínios lançados a partir de 2004. Outra característica deste edifício que também se tornará 102 marcante é a maior área destinada ao automóvel. No caso do condomínio Boulevard são 3 vagas por unidade. A partir de 2004, até a presente data, a verticalização da Vila Romana apresentará uma nova fase que veremos no capítulo seguinte, os condomínios fechados. 4.2 – Legislação e o Estado – Estatuto da Cidade e Plano Diretor Desde a aprovação da Lei Geral de Zoneamento de 1972 até a reformulação desta em 2004, muitas resoluções e interferências foram feitas na legislação para tentar sanar as diferenças sociais e urbanas existentes em diversas áreas da cidade de São Paulo. Segundo SOMEKH e CAMPOS (2002), até a reformulação do zoneamento em 2004, novos conceitos como operação urbana e outorga onerosa surgiram como alternativas para equalizar as desigualdades fomentadas pela Lei de 1972, porém o debate e a morosidade em efetivá-las como mecanismos legais resultaram em dificuldades de organizar a cidade de forma mais eficiente, mantendo a população de baixa renda sem o acesso formal à moradia e grande parte da cidade ocupada de forma irregular.31 No início deste período, portanto no início dos anos 90, o mercado imobiliário experimentou uma queda significativa. A extinção do BNH em 1986 e a inflação diminuíram o crédito imobiliário. Como demonstrado por CALDEIRA (2000), o resultado foi o que a autora chamou de elitização da produção de apartamentos. “Depois disso, porém, o mercado caiu ainda mais, especialmente depois da extinção do BNH no final de 1986 e do retorno da inflação, com o fracasso do Plano Cruzado. Em 1991 e 1992 o número de novas incorporações foi o mais baixo registrado desde meados dos anos 70 (cerca de 150). 31 SOMEKH & CAMPOS NETO, Candido Malta. A cidade que não pode parar: planos urbanísticos de São Paulo no século XX : São Paulo – Mackpesquisa, 2002 103 Com inflação alta e virtualmente sem opções de financiamento, ficou muito mais difícil para a classe média comprar apartamentos. Como resultado, há indicações daquilo que alguns analistas chamam de “elitização” na produção de apartamentos, isto é, a construção de unidades maiores e mais sofisticadas para as classes mais altas.”32 Podemos observar isto na Vila Romana a partir de 1994, as unidades ficaram maiores em lotes, área de lazer, vagas para autos e área útil dos apartamentos. Mesmo com a retomada da economia a partir do controle da inflação e a implantação do Plano Real, a retomada do crescimento vertical na Vila Romana só voltaria a crescer novamente a partir de 2000. No âmbito geral, em 2001 tivemos uma importante mudança nos rumos da política urbana brasileira, a Lei Federal 10.257 criou o Estatuto da Cidade. Este importante mecanismo legal teve desdobramentos que afetaram as cidades brasileiras. Esta lei revê e regulamenta questões como parcelamento do solo, direito a preempção, edificação, usucapião e o plano diretor que passou a ser o principal instrumento de organização das cidades. São Paulo, que já havia vivenciado a experiência da elaboração de um projeto de lei que buscava regimentar um Plano Diretor em 1991, e que por motivos políticos e de interesses privados nem sequer foi a votação, agora se via obrigado a rever suas diretrizes de política urbana. O Projeto de Lei de 1991 (visava a criação do plano diretor) levantava questões importantes para tentar reverter o quadro de ilegalidade e segregação urbana na cidade de São Paulo, bem como tentar conter sua expansão desenfreada. A outorga onerosa, o coeficiente de aproveitamento único, o IPTU progressivo para terrenos ociosos, eram algumas destas questões. Sua não aprovação na ocasião 32 CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros , Editora 34- EDUSP – 2000 104 demonstrou o desinteresse político pela questão urbana e a força dos empresários da construção civil que temiam perdas com estas ações. 33 O desdobramento do Estatuto da Cidade (Lei federal 10.257) foi a aprovação do Plano Diretor em 2002, depois de 32 anos da elaboração do primeiro zoneamento, o Plano Diretor Estratégico determinou a elaboração de Planos Regionais para cada uma das 31 Sub-Prefeituras de São Paulo e a revisão dos zoneamentos inerentes a cada uma destas áreas. Os mecanismos debatidos em 1991 finalmente estavam em prática. Transferência de potencial construtivo, aplicação da outorga onerosa, ampliação de coeficiente de aproveitamento em áreas de operações urbanas foram inovações importantes contidas no Plano Diretor que resultaram na revisão do zoneamento da cidade de São Paulo. Estas leis comentadas até o momento foram importantes para a cidade de uma maneira geral, para a Vila Romana, em particular, a criação da Operação Urbana Água Branca em 1995 (lei 11.774) representou um importante pólo de desenvolvimento na região. Mesmo não estando contida dentro da área de implementação da operação urbana Água Branca, a Vila Romana está no limite desta e depois do início das intervenções urbanas próximas a estação Barra Funda e Indústrias Matarazzo, a região da Pompéia, Vila Romana e Lapa se valorizaram. Frente ao investimento público na região da Água Branca e as novas diretrizes de uso e parcelamento do solo, os investimentos na Vila Romana se acentuaram. Outro acontecimento importante para a região neste período foi a inauguração da estação Vila Madalena do metrô, em 1998. Com esta estação, a região da Pompéia, Perdizes e Vila Romana contavam com duas importantes linhas de transporte público no raio de 2km. Com a modernização dos trens da CPTM, a estação da Lapa também contribuiu para a estruturação do transporte público da região. Desta forma, como mostrado por VILLAÇA (2003), o sistema de transporte 33 SOMEKH & CAMPOS NETO, Candido Malta. A cidade que não pode parar: planos urbanísticos de São Paulo no século XX : São Paulo – Mackpesquisa, 2002 105 público e infra-estrutura do transporte privado segue a mesma lógica de evolução urbana, ou seja , o setor sudoeste da cidade (historicamente o setor de concentração das classes média e alta) recebe a melhor infraestrutura. “Os transportes (públicos e privados) desempenham um papel fundamental na acessibilidade e na segregação. Note-se que a acessibilidade raramente se mede em termos de distância. Mais freqüentemente se mede em termos de tempo de deslocamento e principalmente em termos de custo de deslocamento. Este por sua vez, deve ser medido em termos de porcentagem sobre a renda. Assim, o custo de 1 real de uma passagem de ônibus é cinco vezes mais caro para um trabalhador que ganha R$300,00 mensais do que para um que ganha R$1.500,00 e dez vezes mais caro do que um que ganha R$ 3.000,00. O melhor sistema viário da cidade está no Quadrante Sudoeste e até mesmo o metrô vem atendendo cada vez mais esse Quadrante.”34 Outro fator que contribuiu para o aparecimento destes edifícios com áreas de convívio sofisticadas foi o aumento da violência urbana. A violência urbana nas décadas de 90 e 2000 intensificou o processo de segregação do espaço público, este foi definitivamente transformado num espaço selvagem e sem organização. A ineficácia do Estado em resolver questões urbanas como a violência, somado a oportunidade do mercado em vender segurança, reservaram à rua e em final à cidade a imagem de um lugar inseguro e desordenado. O Estado mostrou nos anos 90 que não estava preparado para garantir a segurança nas metrópoles. Em São Paulo, casos como o massacre do Carandiru e casos que mostravam a corrupção do sistema, a citar o episódio do policial conhecido como Rambo, que cobrava pedágios do cidadão comum e em um destes disparou sua arma 34 VILLAÇA, Flávio/ Texto publicado na Revista Brasileira de Ciências Criminais, ano 11, nº 44. – 2003 106 matando duas pessoas, deixavam claro que o Estado não era capaz de gerenciar as diferenças sociais existentes nas grande metrópoles. Em pesquisa realizada em 2000 pelo Ministério da Justiça, 50% dos moradores de São Paulo evitavam sair à rua à noite com medo da violência urbana.35 Este período mostra a classe média em pânico com a crescente violência urbana e a ineficácia do Estado em garantir o mínimo de segurança. O mercado imobiliário aproveitou-se desta deficiência do Estado em garantir a segurança e o desejo das classes média e alta para criar um “produto imobiliário” que se tornou a forma de morar preferida destas classes. Os condomínios fechados. A virada do século também foi marcada pelo debate crescente sobre a metrópole contemporânea e a crescente metropolização dos grandes centros, uma nova forma de organização estava em questão. O modelo centro principal e periferia dava lugar ao debate de novas centralidades e suas conexões. Os aspectos pós-modernos de HARVEY (2000) e a sociedade da informação de CASTELLS (1996) faziam-se sentir na produção do espaço urbano. Este período termina anunciando uma grande investida dos empreendedores imobiliários nos condomínios fechados que veremos no capítulo seguinte. 4.3 – Levantamento empírico do período A principal característica dos empreendimentos deste período (1994 à 2003) é que eles buscam urbanizar o lote de forma a criar um espaço privado de qualidade pública. A majoração das áreas de uso comum, vagas de autos, preço dos imóveis e área das unidades indicam a elitização dos empreendimentos lançados neste período em relação aos períodos anteriores. O convívio interno dos edifícios da década de 70 e 80 eram 35 REVISTA VEJA, Coleções/ Violência Urbana. – 23/04/2011 107 compostos de ambientes, agora passava a ser um ambiente urbanizado. Estes espaços que antes limitavam-se a salões de festa, piscinas e pequenas quadras apresentam uma sofisticação a partir de 1994. Implantados em lotes maiores, estes edifícios têm uma estrutura de lazer que oferecem churrasqueiras, piscinas, playgrounds, quadras, saunas, fontes, pergolados, salões e paisagismo impecável, tudo isso articulado com passeios e acessos urbanizados. A qualidade de espaço público que o Estado não é capaz de organizar passa a ser vendido pelo mercado imobiliário. As grades, muros e portarias são elementos já previstos em projeto, e iniciam uma nova maneira de segregação urbana na Vila Romana. O automóvel também ganha mais espaço na Vila Romana neste período, tendo como média duas vagas por unidade e em alguns casos três vagas, o automóvel se consolida como o principal articulador de locomoção desta nova forma de morar na cidade de São Paulo. Os dados cadastrais dos edifícios foram obtidos com o cruzamento de 3 fontes diferentes. O SECOVI – SP, levantamento de dados no campo (feitos pelo autor desta pesquisa) e imobiliárias da Vila Romana e Lapa (Albuquerque Fernandes Negócios Imobiliários, M&M imóveis, Pio XI Accacia imóveis e Arthur Pacheco imobiliária LTDA). A seguir apresentamos as fichas do levantamento, nelas temos um mapa de localização do edifício, seu nome e endereço. Apresentamos também informações como: ano de construção, número de torres, vagas por apartamento, número total de unidades, metragem média das unidades e preço. 108 Condomínio Michelângelo e Da Vinci Rua Fábia, 94 Ano de Construção - 1994 Nº de Torres - 2 Vagas garagem - 2 Nº de total de aptos - 50 em 25 andares Metragem da unidade - 120m2 Valor inicial - R$ 529.000,00 (ref. nov 2011) Terreno - 4.500 m2 FACHADA INTERFACE 109 Condomínio Beverly Hills Rua Duílio, 204 Ano de Construção - 1996 Nº de Torres - 2 Vagas garagem - 2 Nº de total de aptos - 30 em 15 andares Metragem da unidade - 171 e 197m2 Valor inicial - R$ 774.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 110 Condomínio Monteiro Machado Rua Fábia, 27 Ano de Construção - 1996 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 2 Nº de total de aptos - 45 em 15 andares Metragem da unidade - 75m2 Valor inicial - R$ 335.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 111 Condomínio Piaza Navona Rua Marcelina, 394 Ano de Construção - 1997 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 2 Nº de total de aptos - 20 em 10 andares Metragem da unidade - 86m2 Valor inicial - R$ 391.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 112 Condomínio Itacaré Rua Fábia, 50 Ano de Construção - 1998 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 2 Nº de total de aptos - 26 em 13 andares Metragem da unidade - 92m2 Valor inicial - R$ 515.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 113 Condomínio Vila Romana Rua Claudio, 213 Ano de Construção - 1998 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 1 Nº de total de aptos - 68 em 17 andares Metragem da unidade - 62m2 Valor inicial - R$ 302.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 114 Condomínio Vila Fiorina Rua Cláudio, 336 Ano de Construção - 1999 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 2 Nº de total de aptos - 68 em 17 andares Metragem da unidade - 62m2 Valor inicial - R$ 275.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 115 Condomínio Villa di Roma Rua Tito, 88 Ano de Construção - 2001 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 2 Nº de total de aptos - 64 em 16 andares Metragem da unidade - 91m2 Valor inicial - R$ 404.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 116 Condomínio Metrópolis Condominium Rua Tito, 450 Ano de Construção - 2004 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 3 Nº de total de aptos - 32 em 16 andares Metragem da unidade - 116 m2 Valor inicial - R$ 606.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 117 Condomínio Vila Romana Boulevard Rua Camilo, 182 Ano de Construção - 2004 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 3 Nº de total de aptos - 72 em 18 andares Metragem da unidade - 88m2 Valor inicial - R$ 494.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 118 A partir de 1994 os edifícios residenciais da Vila Romana sofreram uma nova mudança, os condomínios passaram a ser cada vez mais fechados e cercados por grades e portarias. Estes novos condomínios representaram uma elitização da Vila Romana, a majoração de vagas para veículos, área útil, área comum e lote de terreno, representaram uma mudança em relação aos condomínios edificados até então, esta majoração de área representou também uma majoração no valor destes imóveis. Com a violência urbana cada dia mais presente na cidade de São Paulo e a comprovada ineficiência do Estado em garantir a segurança pública, o mercado formatou um produto que teve como base a segurança e as sofisticadas áreas de lazer. O mercado imobiliário incorporou aos condomínios a qualidade de espaços públicos que o Estado não é capaz de organizar. As leis implantadas em 2001 pelo Governo Federal e os debates que se seguiram no âmbito estadual e municipal resultaram na alteração do zoneamento da cidade de São Paulo em 2004, a partir daí os condomínios fechados se multiplicaram rapidamente e tornam-se cada vez mais segregados como veremos no capitulo seguinte. 119 Capítulo 5 Os condomínios residenciais fechados 2005-2011 - a busca de segurança e status Capítulo 5 – Os condomínios fechados – 2005 à 2011- a busca de segurança e status O novo zoneamento estabelecido pela lei em 2004, somado às rápidas mudanças sociais desencadeadas após a entrada do novo milênio (2000), alteraram novamente o perfil dos condomínios da Vila Romana. A segregação social e a redução dos espaços públicos são características dos empreendimentos deste período. A metrópole contemporânea é o que muitos autores apontam como o espaço pósmoderno, fragmentado por natureza e sem um compromisso com a formação de um projeto social. Esta nova realidade, somada às interferências do poder público em criar as condições ideais para que o mercado estabeleça seus projetos, fomentaram uma rápida transformação na Vila Romana. O marketing e o status social são fatores importantes neste novo modelo de condomínio. André Spadaro (cardiologista, 45 anos) é morador do condomínio New York (rua Aurélia) e diz: “Comprei o apartamento aqui pois o bairro é bem localizado e está se transformando, além de morar bem tenho certeza que o imóvel vai valorizar. Aqui podemos morar com segurança e temos um ambiente legal para recebermos as visitas e amigos.” Como desvantagens André ressalta o valor dos imóveis. “É um apartamento caro, e o condomínio também não é dos mais baratos, a pessoa tem que ganhar bem para poder manter o padrão e pagar as contas.” Os novos edifícios ocupam grandes lotes e em algumas 121 ocasiões toda a quadra. São cercados por grandes muros e em alguns trechos a grade substitui momentaneamente os muros. Veremos alguns exemplos destes condomínios, o resultado destes no espaço público e faremos algumas considerações dos motivos desta nova forma de habitação e segregação urbana. Ernesto Mattos (publicitário, 42 anos) morador do edifício La Dolce Vita ao comentar sobre os novos apartamentos de condomínio ressalta: “Com estes valores não é qualquer um que pode comprar um imóvel destes, aqui temos tudo - segurança, conforto, serviços. Os moradores tem um certo nível, isso é bom pois vivemos dentro de um padrão.” Diz Ernesto. Quando questionado sobre as desvantagens de morar em um condomínio fechado na Vila Romana, Ernesto diz que a única desvantagem que vê é o trânsito. “Não vejo desvantagens em morar aqui, a única coisa que realmente me incomoda é o trânsito, mas isso não é só aqui é um problema geral da cidade.” 5.1 – Características e estruturas Após as mudanças das legislações federal e municipal, a verticalização na Vila Romana teve mais uma mudança em suas características. O aparecimento de grandes condomínios fechados em lotes que, em alguns casos, tomam a quadra inteira mudaram mais uma vez o perfil da Vila Romana. O que se vê a partir de 2005 é o aparecimento não só de novos condomínios, mas sim de um “produto” imobiliário. Os edifícios ficaram mais sofisticados a cada lançamento, o automóvel se afirma como o elemento organizador desta nova realidade, com alguns condomínios 122 oferecendo até 5 vagas por apartamento. O marketing assume um papel fundamental na venda destes novos “produtos”. Os bancos privados percebem o grande negócio que o crédito imobiliário pode representar não só no balanço anual como na fidelização do cliente. Este novo modelo de condomínio fechado não oferece somente o espaço físico, oferece também os serviços da cidade. Todos estes fatores fomentam o aparecimento de condomínios como os que passamos a descrever agora. Em 2005, o condomínio La Dolce Vita inaugura uma nova fase da verticalização na Vila Romana, o lote de terreno é composto pela quadra inteira formada pelas ruas Aurélia, Tito, Camilo e Espártaco. O condomínio é composto por 3 torres de 21 andares cada. Cada torre tem dois apartamentos por andar, com 4 dormitórios, sendo 2 suítes. Desta forma, totaliza 126 unidades que variam de 168m2 à 320m2, dependendo da formatação da planta. Este condomínio apresenta inúmeras mudanças em relação aos edificados anteriormente e é tão emblemático que poderíamos mostrar somente ele para caracterizar esta última periodização. Vamos começar pelas características físicas. Como já descrito acima, o lote de terreno é o maior destinado a um condomínio até então na Vila Romana. Ocupa uma quadra inteira, com aproximadamente 10.000m2 de terreno. Esta quadra é totalmente murada e isolada do entorno, as únicas ambientações que o condomínio oferece são para receber o veículo. Na figura a seguir, a implantação do condomínio, podemos notar que a urbanização interna da quadra é muito elaborada e sofisticada, conta com inúmeras opções de lazer e pela primeira vez na Vila Romana o condomínio passa a oferecer múltiplos serviços. 123 Implantação do condomínio La Dolce Vita Figura 44 – Imagem da Implantação do condomínio La Dolce Vita. Fonte: site do condomínio www.cldv.com.br Os edifícios são no estilo neoclássico seguindo a tendência do mercado imobiliário na cidade de uma maneira geral. O apartamento tipo é composto de 4 dormitórios sendo duas suítes, sala ampla com dois ambientes e a varanda passa a ser definitivamente um ambiente integrado à sala, grandes e com o conceito de “varanda gourmet” elas passam a ser peça fundamental no marketing e na venda dos apartamentos. Todos os novos condomínios a partir de 2005, independentes do tamanho, vão apresentar a varanda como uma “área extra” de lazer. O subsolo é parte enterrada e parte aflorada devido ao desnível do terreno, sua interface com a cidade é a menor possível. A quadra é completamente murada, com alguns hiatos onde um gradil substitui o muro. As duas únicas aberturas para a via pública são a entrada social, tímida pelo porte do empreendimento, e a entrada de veículos sofisticada em estilo americano. Na figura a seguir observamos as torres e os muros, podemos 124 também observar que o recuo do muro ambienta a entrada de veículos voltada para a Rua Tito. Condomínio La Dolce Vita Figura 45 – Condomínio La Dolce Vita – Vila Romana, Rua Tito. Fonte: www.maps.google.com.br Este empreendimento apresenta algumas características em seu funcionamento que refletem em sua arquitetura. O conceito de segurança total muda significativamente alguns parâmetros do espaço para os serviços do condomínio. A figura do zelador é substituída pelo segurança, os serviços são, na sua grande maioria, feitos por empresas. O condomínio se comporta como um shopping, a nosso ver é a versão habitacional de um shopping. Conta com manobristas, seguranças, faxineiras, jardineiros, responsáveis pela manutenção em geral, professores dentre outros profissionais. O novo “produto” é rentável não só na venda, como também na manutenção dos serviços, não existe fidelização mais certa do que o 125 condomínio. Depois de comprar um imóvel (R$1.200.000,00 no caso do Dolce Vita) o proprietário compulsoriamente adere ao pacote de serviços do condomínio. No caso do Dolce Vita o valor destes serviços pode passar de R$2.500,00/mês dependendo do “consumo” dos serviços oferecidos. São oferecidas aulas diversas, cursos, personal trainers, massagens, serviço de baby care, lavanderia entre outros. Programação esportiva Condomínio La Dolce Vita Figura 46 – Grade de programação esportiva Condomínio La Dolce Vita – Vila Romana, Rua Tito . Fonte: site do condomínio www.cldv.com.br Para ser isolado do sítio onde ele está colocado, o condomínio tem que oferecer o máximo de serviços possíveis para manter-se isolado. Acima notamos que o serviço é oferecido pela empresa AER (Assessoria Esportiva Recriar). O ambiente do condomínio passa a ser similar ao ambiente de um clube e seu espaço construído também. O condomínio tem um site na internet que funciona como uma comunidade virtual, com avisos, blogs, fóruns e área restrita onde o condômino pode acessar sua “conta”, lá pode efetuar compras, pagar dívidas e consultar saldo. O ambiente virtual também compõe o espaço 126 do condomínio. O resultado no ambiente físico e social na Vila Romana é que a comunidade passa a ser “comunidade do Dolce Vita” e não mais comunidade da Vila Romana. A ocorrência deste empreendimento não é exclusividade da Vila Romana. Ao nosso ver não nos cabe julgar aqui a validade da proposta de habitação, porém é dever descrever os fatos que estão ocorrendo na Vila Romana, em particular, e na cidade, de maneira geral. O mesmo empreendimento, nos mesmos moldes, com a mesma planta, e com o mesmo nome, está reproduzido na Mooca e na Aclimação. Condomínios La Dolce Vita Figura 47 –Condomínios La Dolce Vita – Unidade Mooca e Unidade Vila Romana. Fonte: www.maps.google.com.br O que está acontecendo é a racionalização do projeto, só o que o empreendedor necessita é a área. A manutenção do mesmo projeto arquitetônico antecipa prazos, economiza projetos complementares, possibilita um controle orçamentário mais apurado, o material publicitário é o mesmo e utiliza até as mesmas formas. Portanto, aos olhos do mercado, a massificação ou a reprodução do projeto é salutar, porém ao nosso ver, ao igualarmos as soluções estamos presumindo que as diferentes áreas da cidade são todas iguais, e não são. Ao nosso ver, o não pensar o projeto é o não pensar a cidade. Este mesmo procedimento não ocorre somente com o 127 condomínio La Dolce Vita, ocorre com outros, a citar os condomínios GoodLife (Aclimação e Vila Romana), L’ espace (Vila Romana e Vila Leopoldina). Outro condomínio de mesmo porte é o Paradiso Vila Romana. A qualidade “urbana” em seu interior é sofisticada, pensada e bem acabada. Condomínios Paradiso Vila Romana e Condomínio New York Figura 48 – Foto aérea dos Condomínios Paradiso Vila Romana e Condomínio New York - rua Aurélia Fonte: www.maps.google.com.br Na imagem anterior temos dois condomínios fechados, o maior ao lado esquerdo da imagem é o Paradiso Vila Romana (3 torres) e o à direita o Condomínio New York. O resultado físico destes condomínios na Rua Aurélia é mostrado na imagem a seguir. A rua passa a ser somente circulação. Não há mais espaço para a aplicação do trabalho ou da vivência no ambiente criado a partir do isolamento promovido pelos condomínios fechados. 128 Vista da Rua Aurélia Figura 49 –Vista da Rua Aurélia murada por dois condomínios fechados. Fonte: www.maps.google.com.br Nos últimos dois anos foram edificados e lançados o mesmo número de condomínios da década passada. O perfil urbano e social da Vila Romana vem se transformando rapidamente, resultado das regulamentações públicas e dos investimentos privados. Vejamos como a legislação fomenta o aparecimento dos condomínios fechados e cria mecanismos que favorecem os empreendedores imobiliários. 5.2 – Legislação e o Estado – um novo zoneamento Depois da aprovação do Estatuto da Cidade em 2001, e do Plano Diretor Estratégico do município em 2002, a necessidade de rever e estruturar um novo zoneamento condizente com as novas diretrizes estabelecidas era fundamental. Em 25 de agosto de 2004 a Lei nº 13.885 estabelecia novas diretrizes para o zoneamento da Cidade de São Paulo. As tipologias da zonas já haviam sido criadas pelo Plano Diretor Estratégico (PDE) em setembro de 2002, o novo zoneamento detalha cada uma delas. Diversas alterações foram feitas, dentre elas o coeficiente de 129 aproveitamento e uso do solo, criando coeficientes básicos (gratuitos), mínimos (para garantir que o imóvel não seja subutilizado) e máximos (mediante pagamento de outorga onerosa ou transferência de potencial construtivo) foi especialmente importante no perfil da verticalização na cidade de São Paulo. Cada zona possui um coeficiente próprio, sendo que dois tipos de coeficientes são de aproveitamento básico (1 e 2 vezes a área do lote), e quatro coeficientes máximos (1, 2, 2,5 e 4 vezes a área do lote). Fica a cargo do Plano Diretor Estratégico e dos Planos Regionais Estratégicos das Subprefeituras definir os limites de cada área.36 Desta forma, o poder público municipal tem como equilibrar a ocupação e a verticalização em diferentes áreas da cidade sem ter que se submeter a um único macro zoneamento, soluções distintas sob uma mesma lei. O município pode agora controlar a ocupação em áreas de proteção ambiental não permitindo a outorga onerosa, ao mesmo tempo que possibilita a ocupação máxima para desenvolver centros regionais. Efeitos planejados para a Vila Romana e Lapa estão surtindo efeito. A valorização da terra, a verticalização, o adensamento, e a reconstrução da orla ferroviária degradada, estão se tornando realidade. O Estado determina o que pode ser feito mas não regulamenta como será feito. Na Vila Romana o resultado destas mudanças foi o aparecimento dos condomínios fechados que descaracterizam o bairro e promovem a segregação urbana. Segundo CALDEIRA (2000), é o terceiro padrão de segregação espacial. “Sobrepostas ao padrão centro-periferia, as transformações recentes estão gerando espaços nos quais os diferentes grupos sociais estão muitas vezes próximos, mas estão separados por muros e tecnologias de segurança, e tendem a não circular e interagir em áreas comuns. O 36 Prefeitura de São Paulo, SEMPLA: O novo zoneamento ao alcance de todos. Série manuais 2004. 130 principal instrumento desse novo padrão de segregação espacial é o que chamo de “enclaves fortificados.” Trata-se de espaços privatizados, fechados e monitorados para residência, consumo lazer e trabalho. A sua principal justificação é o medo do crime violento. Esses novos espaços atraem aqueles que estão abandonando a esfera pública tradicional das ruas para os pobres, os marginalizados e os sem teto.”37 Na Vila Romana esta mudança de zoneamento foi diretamente responsável pelo rápido crescimento dos condomínios fechados a partir de 2004. O zoneamento da Vila Romana era uma zona Z2 (zona mista de baixa densidade), depois da nova Lei de zoneamento passou a ser uma ZM-3a e ZM-3b (zona mista de densidades demográfica e construtiva altas). Esta alteração está definida no Plano Regional para o Distrito da Lapa, a transformação das áreas industriais em zonas mistas. Esta alteração de zoneamento elevou o coeficiente de aproveitamento da Vila Romana para 2 vezes a área do terreno no caso de ZM-3a e 2,5 vezes para ZM-3b. Esta alteração isolada já teria um impacto imediato na Vila Romana, porém o mesmo Plano Regional Estratégico da Subprefeitura Lapa redefiniu os limites da Operação Urbana Diagonal Norte (estabelecida no PDE ) e neste novo perímetro a Vila Romana está incluída. Estando também dentro do perímetro da Área de Intervenção Urbana 08 (AIU08). Estar dentro de uma Área de Intervenção Urbana (AIU) obriga os proprietários de terrenos ou lotes subutilizados a utilizarem seus imóveis de maneira a atender as transformações urbanas desejadas para a área. 37 CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros , Editora 34- EDUSP – 2000 131 Uso e Ocupação do Solo – Vila Romana Figura 50 –Mapa de Uso e Ocupação do Solo – Plano Regional Estratégico Subprefeitura Lapa. Fonte: Subprefeitura Lapa. A AIU08 também eleva o coeficiente de aproveitamento a 4 vezes o tamanho do lote mediante ao pagamento da outorga onerosa. Desta forma, a Vila Romana que era uma Zona Mista de Baixa densidade (com coeficiente de 1,0) passou a uma Zona Mista de alta densidade (coeficiente 2,0 e 2,5 podendo chegar a 4,0). A diretriz do plano regional aponta para a Vila Romana e para a Lapa como uma centralidade e fomenta seu desenvolvimento por meio destes procedimentos legais. Os grandes condomínios fechados que apareceram na Vila Romana se instalam exatamente dentro dos limites da AIU08, reservando as áreas que estão fora do perímetro para empreendimentos menores. 132 Plano Regional Estratégico Subprefeitura Lapa Figura 51 –Mapa de Desenvolvimento Urbano – Plano Regional Estratégico Subprefeitura Lapa. Fonte: Subprefeitura Lapa. O aparecimento destes condomínios é a antítese do intento proposto. A nova legislação objetiva (ao menos no discurso) uma maior flexibilidade das leis para garantir que as soluções possam ser regionalizadas a fim de garantir o papel fundamental da cidade como espaço de aplicação das atividades sociais, nasce para tentar tornar a cidade mais democrática. Porém, o que se observa é uma padronização de soluções e a presença dos grandes muros que ampliam a segregação, tornando o espaço público menos democrático. A Legislação, mais uma vez, favorece o mercado imobiliário, criando condições legais e financeiras para que este desenvolva suas atividades, porém atribuir somente às leis e ao Estado a responsabilidade pelo aparecimento e proliferação dos condomínios fortificados é uma visão simplista do problema. A cidade contemporânea é fragmentada, não mais aceita a visão simplista dos problemas urbanos como um macro zoneamento por exemplo. Como colocado por KOOLHAAS (2006), a cidade contemporânea é uma cidade de fragmentos e complexidades. 133 “A cidade com que temos de nos arranjar hoje é mais ou menos formada de fragmentos de modernidade – como se as características abstrato-formais ou estilísticas às vezes sobrevivessem em estado puro, enquanto o programa urbano não saísse conforme o planejado.”38 A cidade contemporânea tem características da pós- modernidade. Uma nova maneira de agir no espaço para otimizar o tempo. JACOBS (1961) externa sua opinião crítica ao modernismo e aos resultados que ela observou até 1961: “Projetos para pessoas de baixa renda que se tornam piores centros de delinqüência, de vandalismo e de desamparo social geral do que as favelas que pretendiam substituir. Projetos de habitação para pessoas de renda média que são verdadeiras maravilhas de estupidez e de sujeição, privados de toda jovialidade ou vitalidade da vida na cidade. Projetos de habitações de luxo que mitigam sua inanidade, ou tentam, com vulgaridade insípida.”39 HARVEY (1989) ilustra a pós modernidade urbana e a fragmentação como soluções autônomas sem um compromisso de um projeto social. Desta forma, os “enclaves fortificados” são produtos da sociedade e da forma de apropriação do território urbano, o Estado e as leis somente avalizam esta tendência. “Enquanto os modernistas vêem o espaço como algo a ser moldado para propósitos sociais, portanto, sempre subserviente à construção de um projeto social, os pósmodernistas o vêem como coisa independente e autônoma a ser moldada segundo objetivos e princípios estéticos que não tem necessariamente nenhuma relação com algum objetivo 38 KOOLHAAS, Rem. Por uma cidade contemporânea , In NESBIT, Kate , Cosac Naify- EDUSP – 2006 39 JACOBS, Jane. In HARVEY, David. Condição Pós- Moderna , Edições Loyola- 1989 134 social abrangente, salvo talvez, a consecução da intemporalidade e da beleza “desinteressada” como fins em si mesmas.”40 Desta forma, buscar um alinhamento de nexos casuais como a violência, mercado imobiliário ou ainda o Estado e responsabilizá-los pelo aparecimento do condomínios fechados é uma visão demais simplista das questões urbanas e sociais que formataram a sociedade contemporânea. Os condomínios fechados são o resultado de uma história e não de um evento específico, são resultado da sociedade. “Nesse sentido, os condomínios fechados representam somente uma das incontáveis formas pelas quais o espaço absorve e reflete a pontecialidade de conflito que a cidade produz. Se os condomínios segregam, se conformam áreas relativamente homogêneas, sobretudo do ponto de vista econômico, e indicam seu fechamento e inacessibilidade para os demais indivíduos, eles o fazem de modo a confirmar uma lógica urbana que exprime, ela mesma, uma tensão construtiva, que a um só tempo separa e une, afasta e aproxima os indivíduos.”41 Nesta linha, CASTELLS (1998) sugere que, no mundo globalizado, o Estado perdeu seu lugar e onde o Estado é omisso o mercado é o gestor do espaço urbano. O resultado é uma cidade fragmentada com residências e serviços estanques, o mundo está cada vez mais urbano e as cidades cada vez mais fragmentadas. “The nation state has become too big for the management of everyday life and too small to control global flows of capital, trade, production, and information. The crisis 40 HARVEY, David. Condição Pós- Moderna , Edições Loyola- 1989 41 OLIVEIRA Jr., Hélio Rodrigues . Reflexões sobre o estudo da proliferação de condomínios fechados: críticas e sugestões , Caderno Metrópole nº20 Educ- 2008 135 of political legitimacy associated with the bypassing of nation states by the globalization of economy and technology, includes a growing distance between people and institutions at the very moment when the public sector must be active and supported to counterbalance the undesirable effects of unchallenged market forces and financial turbulence.”42 Em entrevista concedida ao programa Roda Viva, CASTELLS sublinha a nova forma de organização urbana, onde a cidade perde a capacidade de convivência e se fragmenta em tribos. “Então, para mim, o que parece ser o problema, o maior paradoxo urbano que estamos vivendo, é que chegamos ao mundo urbano. Chegamos a um mundo em que a maioria das pessoas, pela primeira vez na história, vive em cidades. No Brasil, são 80%. Ao mesmo tempo, pode ser um mundo urbano sem cidades. Isto é, um mundo urbano em que se perde a cidade como sistema de convivência, como cultura, como instituição de gestão local, fragmentada em mercados e tribos identidárias.”43 Todos estes autores relatam a transição em que estamos vivendo não somente no espaço urbano como em nossa maneira de viver. A mudança de uma sociedade industrial para uma sociedade da informação manifesta-se no espaço construído das cidades. A idéia de que a modernidade não é mais um estado mas sim um processo e que a mudança é um princípio essencial está presente na tese de HARVEY (1989), em Condição Pós-Moderna, quando ele coloca que as mudanças da pós-modernidade são mais transformações na aparência da lógica capitalista do que o surgimento de uma nova sociedade. 42 43 CASTELLS, Manuel . The education of city planners in the information age , Berkley Planning Journal 12 (1998) CASTELLS, Manuel . Entrevista transcrita do programa Roda Viva , Memória Roda Viva/ Fapesp - 1999 136 Neste mesmo sentido de pensamento, ASCHER (2010), ao descrever a terceira revolução urbana, sublinha as novas relações entre tempo-espaço decorrentes das tecnologias de informação e das novas conectividades. Neste processo de crescimento das cidades e de metropolização, o deslocamento e as tecnologias de informação imprimem no espaço urbano uma nova dinâmica. “A dilatação dos territórios urbanos freqüentados habitualmente pelos cidadãos enfraquece a importância da proximidade na vida cotidiana: o bairro deixa de ser o lugar de integração das relações de amizade, familiares, profissionais, cívicas; os vizinhos imediatos não são mais colegas, salvo nos guetos de ricos e pobres. O local muda de natureza e sentido: ele é cada vez mais escolhido e apenas contempla realidades sociais fragmentárias. De fato, mesmo os habitantes das cidades privadas norte-americanas (gatedcommunities ou condomínios fechados) vivem na escala metropolitana: eles se deslocam bastante, cotidianamente e cada vez para mais longe.”44 Por fim, o aparecimento dos grandes condomínios fechados e a redução do espaço público na Vila Romana não é uma exclusividade do bairro e tão pouco resultado de ações isoladas. Trata-se de um fenômeno inerente às metrópoles contemporâneas e às novas formas de organização social. VILLAÇA define em seu livro - Espaço Intraurbano no Brasil - que a segregação é por demais lenta para ser captada por um período de apenas dez anos, e que esta é uma tendência histórica que se desenvolve a longo prazo, definição esta que concordamos plenamente. 44 ASHER, François . Os novos principios do urbanismo , Romano Guerra / São Paulo - 2010 137 5.3 – Levantamento dos edifícios do período- 2004-2011 Os edifícios deste período caracterizam-se pelo conceito de segurança total, misturam soluções de espaço e serviços de forma a criar um espaço “auto-suficiente”, desta forma, segregam a cidade e reduzem o espaço público a meros corredores de circulação. Ocupando grandes lotes, estes condomínios criam uma mistura de habitação, clube e shopping. Não se relacionam com o sítio onde estão inseridos, têm sua própria identidade e impõem esta ao lugar onde se implantam, criando grandes muros que ampliam a segregação social e urbana. Os dados cadastrais dos edifícios foram obtidos com o cruzamento de 3 fontes diferentes. O SECOVI – SP, levantamento de dados no campo (feitos pelo autor desta pesquisa) e imobiliárias da Vila Romana e Lapa (Albuquerque Fernandes Negócios Imobiliários, M&M imóveis, Pio XI Accacia imóveis e Arthur Pacheco imobiliária LTDA). A seguir apresentamos as fichas do levantamento, nelas temos um mapa de localização do edifício, seu nome e endereço. Apresentamos também informações como: ano de construção, número de torres, vagas por apartamento, número total de unidades, metragem média das unidades e preço. 138 Condomínio La Dolce Vita Rua Tito, 556 Ano de Construção - 2005 Nº de Torres - 3 Vagas garagem - 3 Nº de total de aptos - 126 em 21 andares Metragem da unidade - 168 e 320m2 Valor inicial - R$ 980.000,00 (ref. nov 2011) Terreno - aprox 10.000 m2 FACHADA INTERFACE 139 Condomínio Pallazo Giardino Rua Coriolano, 1474 Ano de Construção - 2006 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 2 Nº de total de aptos - 84 em 21 andares Metragem da unidade - 110m2 Valor inicial - R$ 520.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 140 Condomínio Via Apia Rua Fábia, 264 Ano de Construção - 2006 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 2 Nº de total de aptos - 64 em 16 andares Metragem da unidade - 89m2 Valor inicial - R$ 487.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 141 Condomínio Art de Vivre Rua Fábia, 404 Ano de Construção - 2007 Nº de Torres - 2 Vagas garagem - 4 Nº de total de aptos - 41 em 21 andares Metragem da unidade - 146m2 Valor inicial - R$ 805.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 142 Condomínio Paradiso Rua Fábia, 800 Ano de Construção - 2007 Nº de Torres - 3 Vagas garagem - 3 Nº de total de aptos - 60 em 30 andares Metragem da unidade - 172 m2 Valor inicial - R$ 1.135.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 143 Condomínio Vivace Rua Fábia, 123 Ano de Construção - 2008 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 2 Nº de total de aptos - 44 em 22 andares Metragem da unidade - 103m2 Valor inicial - R$ 564.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 144 Condomínio Wide Life Rua Faustolo, 1101 Ano de Construção - 2008 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 2 Nº de total de aptos - 130 em 26 andares Metragem da unidade - 72m2 e 98m2 Valor inicial - R$ 720.000,00 (ref. nov 2011) Terreno - 2.276m2 FACHADA INTERFACE 145 Condomínio Acqua Vila Romana Rua Camilo, 173 Ano de Construção - 2009 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 2 Nº de total de aptos - 46 em 23 andares Metragem da unidade - 85m2 Valor inicial - R$ 479.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 146 Condomínio Allori Rua Fábia, 1450 Ano de Construção - 2009 Nº de Torres - 3 Vagas garagem - 3 Nº de total de aptos - 104 em 26 andares Metragem da unidade - 140m2 e 180m2 Valor inicial - R$ 960.000,00 (ref. nov 2011) Terreno - 8.155m2 FACHADA INTERFACE 147 Condomínio Tribeca Personal Club Rua Vespaziano, 754 Ano de Construção - 2009 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 3 Nº de total de aptos - 50 em 25 andares Metragem da unidade - 120 e 197m2 Valor inicial - R$ 659.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 148 Condomínio Idea Rua Catão , 804 Ano de Construção - 2010 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 3 ou 4 Nº de total de aptos - 52 Metragem da unidade - 177m2 e 284m2 Valor inicial - R$ 1.097.464,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 149 Condomínio Lemarc Rua Marco Aurelio, 180 Ano de Construção - 2010 lançamento - 36 meses entrega (2013) Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 3 Nº de total de aptos - 60 em 15 andares Metragem da unidade - 125m2 Valor inicial - R$ 750.000,00 (ref. nov 2011) Terreno - 3.000m2 FACHADA INTERFACE 150 Condomínio Marbela Rua Faustolo, 1018 Ano de Construção - 2010 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 2 Nº de total de aptos - 48 em 12 andares Metragem da unidade - 94m2 Valor inicial - R$ 478.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 151 Condomínio New York Club Rua Fábia, 610 Ano de Construção - 2010 Nº de Torres - 2 Vagas garagem - 4 Nº de total de aptos - 50 em 25 andares Metragem da unidade - 154 e 223m2 Valor inicial - R$ 1.103.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 152 Condomínio Ária Rua Coriolano, 1580 Ano de Construção - 2011 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 2 ou 3 Nº de total de aptos - 56 Metragem da unidade - 105m2 Valor inicial - R$ 760.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 153 Condomínio Atelier Rua Faustolo, 1450 Ano de Construção - 2011 Nº de Torres - 2 Vagas garagem - 2 a 3 Nº de total de aptos - 252 Metragem da unidade - 100m2, 133m2 e 162m2 Valor inicial - R$ 595.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 154 Condomínio Avance Vila Romana Rua Marco Aurelio, 145 Ano de Construção - 2011 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 2 Nº de total de aptos - 60 em 15 andares Metragem da unidade - 150m2 Valor inicial - R$ 950.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 155 Condomínio Élevé Rua Caio Gracco, 798 Ano de Construção - 2011 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 3 Nº de total de aptos - 44 em 22 pavimentos Metragem da unidade - 165m2 e 284m2 Valor inicial - R$ 930.000,00 (ref. nov 2011) Terreno - 2.404m2 FACHADA INTERFACE 156 Condomínio Giro Vila Romana Rua Caio Gracco, 203 Ano de Construção - 2011 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 1 Nº de total de aptos - 42 em 12 andares Metragem da unidade - 65m2 Valor inicial - R$ 255.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 157 Condomínio Goodlife Rua Aurélia, 300 Ano de Construção - 2011 Nº de Torres - 2 Vagas garagem - 3 Nº de total de aptos - 46 em 23 andares Metragem da unidade - 139 e 192m2 Valor inicial - R$ 990.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 158 Condomínio Lespace Vila Romana Rua Vespaziano, 754 Ano de Construção - 2011 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 4 e 5 Nº de total de aptos - 46 em 23 andares Metragem da unidade - 185 m2 Valor inicial - R$ 980.000,00 (ref. nov 2011) Terreno - 3.329m2 FACHADA INTERFACE 159 Condomínio Matisse Rua Duílio, 302 Ano de Construção - 2011 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 2 Nº de total de aptos - 60 em 15 andares Metragem da unidade - 100m2 Valor inicial - R$ 747.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 160 Condomínio Vista Vila Romana Rua Fábia, 27 Ano de Construção - 2011 Nº de Torres - 1 Vagas garagem - 3 e 4 Nº de total de aptos - 42 em 21 andares Metragem da unidade - 161m2 Valor inicial - R$ 937.000,00 (ref. nov 2011) FACHADA INTERFACE 161 Os condomínios fechados que surgiram na Vila Romana a partir de 2005 são totalmente isolados da cidade por muros. A segurança dos edifícios foi aprimorada com a aplicação de novas tecnologias e os espaços e serviços ficaram sofisticados. A nova lei de zoneamento transforma a Vila Romana de uma área mista de baixa densidade em uma área mista de alta densidade e eleva seu potencial construtivo, o mercado imobiliário rapidamente ocupa os lotes grandes e inicia a demolição dos sobrados. Os condomínios deste período caracterizam-se por oferecer não só o espaço de cidade mas também os serviços da mesma, criam uma realidade separada de seu entorno. O automóvel é fortemente incorporado nos novos condomínios, em alguns casos são oferecidas 5 vagas por unidade habitacional. O condomínio passou a ser um grande negócio, ele deixou de ser a amortização dos valores relativos a manutenção da área comum para virar uma prestação de serviços diversos. A elitização da Vila Romana altera a sociedade da vila, os pequenos comércios dão lugar a grandes mercados e as ruas assumem um papel exclusivamente de circulação, perdendo sua característica de espaço de vivência. Esta elitização gerou o status de morar num destes condomínios ou mesmo no bairro. Com o levantamento dos condomínios formatamos uma tabela de dados (em anexo) que nos possibilitou estabelecer comparações entre os períodos. Com estas comparações chegamos às nossas conclusões finais. 162 Considerações finais Considerações Finais A cidade de São Paulo está sendo reconstruída em grande parte em áreas de intervenções e operações urbanas, que representam 23% do território municipal. As antigas vilas proletárias e galpões industriais abandonados estão sendo substituídos por empreendimentos imobiliários que valorizam estas áreas. Este seria um importante momento para formarmos uma cidade melhor, porém o que observamos é que neste momento de reconstrução o que prevalece é a reprodução do capital em detrimento a um programa social ou formatação urbana social. Como resultado, aparecem os condomínios fechados e até fortificados que segregam o espaço público do privado e fomentam as desigualdades sociais. Na Vila Romana pudemos notar que a antiga vila proletária dos anos 50, formada pelos sobrados, transformou-se em uma área valorizada e de grande desenvolvimento imobiliário. Como já dito na introdução deste trabalho, o problema não é a verticalização em si, mas sim do modelo que vem sendo adotado, que fomenta a segregação urbana e a fragmentação da cidade. Entender o processo de verticalização da Vila Romana nos faz entender São Paulo. A segregação urbana promovida pelos grandes condomínios fechados não é um evento isolado, mais sim um processo. Como observamos na reprodução dos condomínios na cidade, a citar os exemplos mencionados como os edifícios La Dolce Vita. Notamos também que a forma de viver e se relacionar com a cidade mudou significativamente. Os primeiros edifícios na década de 60 (primeiro período deste trabalho), ilustravam somente o adensamento de unidades de moradia reservando todas as outras atividades à cidade. Já nos anos 70 (segundo período deste trabalho), observamos a ocorrência dos primeiros condomínios com áreas particulares de vivência. Mesmo apresentando estas áreas particulares, estes edifícios ainda eram abertos à cidade, eles seguiam a linha do modernismo e tinham um compromisso social. Na terceira periodização 164 deste trabalho (anos 90) observamos o aparecimento dos primeiros condomínios fechados. Estes já iniciavam o processo de urbanização interna do lote em detrimento à questão social e à cidade. Neste período a violência urbana e a falta de capacidade do Estado em garantir um ambiente seguro tornou o espaço público um ambiente hostil. A partir de 2004 (quarta periodização deste trabalho), os novos condomínios chegaram ao limite de ocupação de área, ocupando toda uma quadra. Estes já não mostram qualquer comprometimento com a questão social, são condomínios isolados em si, oferecem não só o espaço urbanizado mas também os serviços da cidade. O levantamento dos condomínios da Vila Romana nos possibilitou elaborarmos algumas comparações. Ao analisarmos a ocorrência dos condomínios na Vila Romana, notamos que o número aumentou significativamente a partir de 2005, portanto no último período deste trabalho. Este pico é resultado da nova lei de zoneamento de 2004 que transformou a Vila Romana de uma zona mista de baixa densidade para uma zona mista de alta densidade permitindo o coeficiente de aproveitamento até 4 . Condomínios por período Gráfico 04 - Gráfico representativo da quantidade de empreendimentos por período. Fonte: Rodrigo F. Michelin 165 Ao observar o gráfico acima podemos notar que o número de ocorrências do último período é quase igual à soma de ocorrências dos três períodos anteriores. Desta forma podemos observar como a alteração da legislação urbana em 2004 acelerou o aparecimento dos condomínios fechados na Vila Romana. Os condomínios que surgiram na Vila Romana a partir de 2005 estabeleceram o máximo de ocupação do lote, o mercado imobiliário se apropria do máximo de área possível para poder urbanizar o térreo de maneira a criar uma realidade individual separada da cidade. Ao analisarmos a forma de ocupação dos condomínios podemos observar como estes foram se apropriando dos lotes até ocupar a totalidade de uma quadra. Ocupação de lotes por períodos na Vila Romana Figura 52 - Croqui da ocupação de lotes pelos condomínios por períodos na Vila Romana. Fonte: Rodrigo F. Michelin Ao analisarmos os esquemas acima notamos que nos dois primeiros períodos deste trabalho (1964/71 e 1972/93), os condomínios verticais ocupavam lotes existentes que eram de tamanho similar aos ocupados pelas residências e pequenas indústrias existentes, já no terceiro e quarto períodos (1994/04 e 2005/11), os lotes ficaram maiores sendo resultado de unificação de lotes e ocupação dos galpões de grandes indústrias. Não foi somente o lote que ficou maior nos diferentes períodos, a área média habitacional oferecida para a vivência dobrou de tamanho. 166 Área média dos apartamentos oferecidos na Vila Romana Figura 53 – Ilustração - comparação da área média dos apartamentos oferecidos na Vila Romana. Fonte: Rodrigo F. Michelin Unidades maiores, com mais vagas de automóveis por unidade, lotes maiores e preço maior formam o quadro atual dos condomínios da Vila Romana, por seguinte a sociedade da Vila também se altera. A Vila Romana se elitizou. O valor do metro quadrado construído manteve a mesma lógica de crescimento e atualmente (Nov. 2011) está avaliado em R$ 5.455,00/m2 e o preço médio destas novas unidades nos condomínios fechados é de R$950.000,00 por unidade (Nov. 2011). Gráfico 05 - Gráfico representativo do valor do metro quadrado na Vila Romana – S.P. Mostra a elitização da Vila Romana. Fonte: http://www.ibiubi.com.br/imoveis/dados-mercado/são-paulo+sao-paulo+vila-romana/ 167 O número de vagas destinadas aos automóveis também cresceu de forma vertiginosa, afirmando a grande influência que ele tem na formatação do espaço urbano. No gráfico a seguir, fica latente a força do automóvel na organização do modelo condomínio fechado, o automóvel é o principal articulador deste modelo adotado pelo mercado imobiliário. Ele está fortemente incorporado nos novos empreendimentos. Quantidade de vagas para autos por período Gráfico 06 - Gráfico representativo da quantidade de vagas para autos por período. Fonte: Rodrigo F. Michelin Todos este indicadores mostram o crescimento da Vila Romana, principalmente na última periodização. A estabilidade da economia, as alterações da legislação e o modo de viver na cidade contemporânea fomentaram um crescimento vertiginoso, o mercado imobiliário está ganhando dinheiro como nunca antes registrado, os bancos públicos e privados estão financiando estas unidades e tirando proveito de seus clientes. A infraestrutura dos condomínios apresenta soluções modernas e sofisticadas porém, a infraestrutura urbana continua sendo a mesma edificada nos anos 40 com algumas poucas benfeitorias. O condomínio passou a ser um importante negócio a ser 168 administrado. Com ampla oferta de serviços que vão da segurança a professores de yoga, o valor pode passar de R$3.000,00 por unidade. A reprodução do capital não ocorre somente na edificação e na venda, mas também na manutenção dos serviços prestados. Ao estudarmos as ações do Estado nos períodos, notamos que o poder público, que deveria zelar pelo bem estar e pela inclusão social, age sempre a favor da reprodução do capital e contra a agenda social. Como demonstrado por VILLAÇA (1998) e SOMEKH (1997), a legislação urbana sempre serviu como regulamentadora das diferenças sociais e atendeu aos interesses dos investidores imobiliários. As discussões mantidas em universidades e corpos técnicos são positivas e apontam soluções, porém as questões técnicas raramente influenciam as decisões políticas. VILLAÇA (1998) ainda nos mostra que historicamente o zoneamento da cidade de São Paulo fomentou a segregação das classes sociais e se mostrou ineficiente para tratar a cidade como um mecanismo dinâmico e de inclusão social. Na falta de um controle mais ativo por parte do Estado o mercado é quem define as diretrizes e soluções. O problema é que as soluções ideais para o mercado sempre extraem da cidade o máximo possível de recursos, deixando esta abandonada. Quando o mercado regulamenta e formata o espaço urbano, o bônus (que fica com as instituições) se transforma em lucros financeiros e o ônus (que fica com a cidade) transforma-se em infra-estrutura degradada e abandonada. Ao nosso ver, quando o Estado cria mecanismos de venda de direitos (como exemplo a outorga onerosa) ele perde a capacidade de regulamentar os resultados físicos das ações do mercado, ele é mais um agente no processo do capital. No caso da Vila Romana, a outorga onerosa gerada pode até contribuir para a melhoria de áreas periféricas ou de importância dentro do Plano Diretor, porém para o bairro em si as conseqüências são segregadoras. Por fim, nossa análise da verticalização e segregação por esta fomentada na Vila Romana, entende que o processo de individualização 169 e fragmentação é uma característica da vida contemporânea, porém o mercado aproveita-se da ausência reguladora do Estado para formatar a cidade a seu gosto, apropriando-se de grandes áreas urbanas e vendendo estas como produto imobiliário. A lamentar que nem o mercado e nem o Estado sejam capazes de formatar a cidade com uma agenda social de inclusão, estes olham somente para o imóvel, a obtenção de lucros, e a reprodução do capital, sem um compromisso de formação de um programa social. A citar também a desvalorização do arquiteto como agente das transformações urbanas. Ao aceitar projetos como “receita de bolo” o papel do arquiteto no processo de reconstrução das cidades é resumido a uma assinatura, o não pensar o edifício é também o não pensar a rua e por seqüência o não pensar a cidade. Aceitar soluções prontas e já executadas em outras partes da cidade é aceitar que as regiões são iguais. O resultado é uma unificação estética que retiram qualquer possibilidade de formação de uma identidade local. As grandes áreas, antes industrializadas à margem da estrada de ferro, estão sendo re-urbanizadas ou urbanizadas e neste processo estamos perdendo uma grande oportunidade de debater a cidade e construir espaços de inclusão. Como observado nos casos londrinos apresentados na introdução deste trabalho, o capital também pode se reproduzir criando espaços públicos e democráticos, fica então a pergunta de HARVEY (2000), que tipo de pessoas queremos ser? 170 Referências Bibliográficas Referências Bibliográficas ARANTES, Otília Beatriz Fiori. A cidade como não lugar. Revista AU arquitetura e urbanismo, 58:1-6, 1995. ASCHER, François. Os novos princípios do urbanismo. São Paulo: Editora Romano Guerra, 2010. BÓGUS, Lúcia Maria Machado; PASTERNAK, Suzana. Como anda São Paulo. 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Ltd., 2009. 173 Legislação Consultada Legislação Municipal (em ordem cronológica) - Lei no 3.427, de 19 de novembro de 1929. “Código de Obras Arthur Saboya”. - Ato no 663, de 10 de agosto de 1934. “Aprova a consolidação do Código de Obras Arthur Saboya (Lei no3.427, de 19 de novembro de 1929) abrangendo todas as disposições constantes de Leis e atos, em vigor nesta data, referentes às contruções, arruamentos, etc.” - Lei no 7.805, de 1o de novembro de 1972. Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo - Lei no 8001, de 24 de dezembro de 1973. “Dispõe sobre o uso e a ocupação do solo urbano, altera e complementa a Lei no7.805, de 1o de novembro de 1972, e dá outras providências”. (Altera disposições dos conjuntos residenciais). - Lei no 11.774, de 18 de maio de 1995. “Estabelece diretrizes e mecanismos para a implantação da Operação Urbana Água Branca, define programa de melhorias, previsto para a área objeto da Operação, e dá outras providências”. - Lei no 13.430, de 13 de setembro de 2002. Plano Diretor Estratégico. - Lei no 13.792, de 13 de janeiro de 2004. “Dispõe sobre a criação de Condomínios Residenciais Fechados no Município de São Paulo e dá outras providências”. (Projeto de Lei no449/2002, do Vereador Milton Leite – PMDB). - Lei no 13.885, de 25 de agosto de 2004. Zoneamento da Cidade de São Paulo. “Estabelece normas complementares ao Plano Diretor Estratégico, institui os Planos Regionais Estratégicos das Subprefeituras, dispõe sobre o parcelamento, disciplina e ordena o Uso e Ocupação do Solo do Município de São Paulo”. 174 Legislação Federal (em ordem cronológica) - Decreto-lei no 271, de 28 de fevereiro de 1967. “Dispões sobre loteamento urbano, responsabilidade do loteador, concessão de uso e espaço aéreo e dá outras providências”. - Lei no 6.766, de 19 de dezembro de 1979. “Dispõe sobre o parcelamento do Solo Urbano e dá outras providências”. - Lei no 9.785, 29 de janeiro de 1999. “Altera o Decreto-Lei no 3.365, de 21 de junho de 1941 (desapropriação por utilidade pública) e as Leis nos 6.015, de 31 de dezembro de 1973 (registros públicos) e 6.766, de 19 de dezembro de 1979 (parcelamento do solo urbano)”. - Lei no 10.257, 10 de julho de 2001. Estatuto da Cidade. “Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências”. - Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Novo Código Civil Brasileiro. 175 Anexos TABELA DE DADOS DOS CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS DA VILA ROMANA Nome Ano Média unid m2 Pavimentos Total unid. área solo m2 Valor mínimo R$ Nome Ano média unidade m2 Pavimentos total unidades área solo m2 Valor mínimo R$ Élevé 2011 307,00 22 44 2404,00 930000,00 Ária 2011 105,00 16 64 560000,00 Atelier 2011 131,00 16 252 9.000,00 595000,00 GoodLife 2011 165,00 23 46 990.000,00 Giro V. Romana 2011 65,00 12 42 255.000,00 Lespace 2011 185,00 23 46 3.329,00 980.000,00 Vista V. Romana 2011 161,00 21 42 937.000,00 Avance 2011 150,00 15 60 950.000,00 Mattisse 2011 100,00 15 60 747.000,00 2010 125,00 15 60 3000,00 750000,00 Lemark Idea 2010 319,00 26 52 1097464,00 sollo 2010 206,00 20 40 963.000,00 New York 2010 188,00 25 100 1.103.000,00 Marbela 2010 94,00 12 48 478.000,00 Allori 2009 160,00 26 104 8155,00 960000,00 Tribeca 2009 158,00 25 50 659.000,00 Acqua 2009 85,00 23 46 479.000,00 Wide Life 2008 85,00 26 130 2276,00 720000,00 Vivace 2008 103,00 22 44 564.000,00 Art vivre 2007 146,00 21 84 805.000,00 paradiso 2007 172,00 30 180 1.135.000,00 Pallazo Giardino 2006 110,00 21 84 520.000,00 Via Apia 2006 89,00 16 64 487.000,00 Lufficio Catão 2006 13 La Dolce Vita 2005 244,00 21 132 980.000,00 Itacare 2005 92,00 13 26 515.000,00 Boulevard 2004 88,00 18 72 494.000,00 Metropolis C. 2004 116,00 16 32 606.000,00 Vila de Roma 2001 91,00 16 64 404.000,00 Vagas Auto Nº Torres Torres Vagas Auto 1 3 1 2 4 3 2 3 1 1 1 4 1 3 1 2 1 2 1 3 1 3 1 3 2 4 1 2 3 3 1 3 1 2 1 2 1 2 2 4 3 3 1 2 1 2 1 3 3 1 2 1 3 1 3 1 2 TABELA DE DADOS DOS CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS DA VILA ROMANA Nome Campo Del Fiore Villa fiorina Vila Romana Piazza Navona Monteiro Mach. Beverly Hills Mich/Da Vinci Marcia Hortencias Vila de Carla Toulon Emma Mattos San Remo Voyage Silvia Maria Cristina Venézia Electra Romeu Ranzuni Marcelina Grauna Duilio 538/552 Moraes Ano 2000 1999 1998 1997 1996 1996 1992 1992 1991 1991 1991 1990 1989 1989 1988 1985 1983 1972 1971 1970 1970 1970 1964 Média unid m2 80,00 62,00 62,00 86,00 75,00 180,00 120,00 120,00 62,00 140,00 75,00 87,00 60,00 100,00 78,00 129,00 115,00 95,00 78,00 82,00 98,00 80,00 70,00 Pavimentos 13 17 17 10 15 15 25 21 10 17 13 13 13 13 16 12 20 16 7 7 10 5 5 Total unid. 26 68 68 20 45 60 100 42 40 34 26 26 39 13 32 24 40 128 28 24 20 32 20 área solo m2 Valor mínimo R$ 3.500,00 451.000,00 275.000,00 302.000,00 391.000,00 335.000,00 774.000,00 529.000,00 533.000,00 278.000,00 635.000,00 397,00 322.000,00 206.000,00 306.000,00 268.000,00 385.000,00 476.000,00 292.000,00 268.000,00 273.000,00 295.000,00 180.000,00 170.000,00 Nº Vagas Auto Torres 1 2 1 2 1 1 1 2 1 2 2 2 2 2 1 2 1 1 1 3 1 1 1 2 1 1 1 2 1 1 1 1 1 2 2 1 1 1 1 1 1 1 2 1 1 0 TABELA DE DADOS DOS CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS DA VILA ROMANA Nome Nome Élevé Ária Atelier GoodLife Giro V. Romana Lespace Vista V. Romana Avance Mattisse Lemark Idea sollo New York Marbela Allori Tribeca Acqua Wide Life Vivace Art vivre paradiso Pallazo Giardino Via Apia Lufficio Catão La Dolce Vita Itacare Boulevard Metropolis C. Vila de Roma TABELA DE DADOS DOS CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS DA VILA ROMANA Nome Campo Del Fiore Villa fiorina Vila Romana Piazza Navona Monteiro Mach. Beverly Hills Mich/Da Vinci Marcia Hortencias Vila de Carla Toulon Emma Mattos San Remo Voyage Silvia Maria Cristina Venézia Electra Romeu Ranzuni Marcelina Grauna Duilio 538/552 Moraes 17/06/12 Currículo do Sistema de Currículos Lattes (Rodrigo Fernandes Michelin) Rodrigo Fernandes Michelin Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2000). Atualmente é aluno de pós-graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie e arquiteto - Michelin Arquitetura, atuando principalmente no seguinte tema: arquitetura e urbanismo. (Texto infor m ado pelo autor ) Últim a atualização em 17/06/2012 Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/7781757997114247 Dados Pes s oais Nome Nome em citações bibliográficas Sexo Filiação Nascimento Carteira de Identidade Rodrigo Fernandes Michelin MICHELIN, R. F. masculino Osmar Michelin e Nivia Fernandes Michelin 28/07/1976 - São Paulo/SP - Brasil 236196078 ssp - SP - 17/10/1988 CPF 28137240845 Endereço residencial Endereço profissional Endereço eletrônico Rua Bárbara Heliodora, 353 Vila Romana - Sao Paulo 05044-040, SP - Brasil Telefone: 11 36737675 URL da home page: w w w .michelin.arq.br Michelin Arquitetura Rua Bárbara Heliodora, 353 Vila Romana - Sao Paulo 05044-040, SP - Brasil Telefone: 11 36737675 URL da home page: w w w .michelinarquitetura.com.br e-mail para contato : [email protected] For m ação Acadêm ica/Titulação 2010 Mestrado em Arquitetura e Urbanismo. Universidade Presbiteriana Mackenzie, MACKENZIE, Sao Paulo, Brasil Título: Vila Romana - A transformação de um bairro Orientador: Nadia Somekh 1995 - 2000 Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Universidade Presbiteriana Mackenzie, MACKENZIE, Sao Paulo, Brasil Título: Sintaxe da linguagem visual Orientador: Prof. Dr. Tito Lívio For m ação com plem entar 2008 - 2008 Sistemas de energização rural alternativos. Faculdade de Ciências Agronômicas/UNESP, FCA/UNESP, Brasil 2005 - 2005 Curso de curta duração em Modelagem 3D avançada em Vector Works. Cad Technology, CAD, Brasil 2005 - 2005 Curso de curta duração em Vector Works Básico 2D/3D. Cad Technology, CAD, Brasil 2003 - 2003 Curso de curta duração em Final Cut Pro4. DRC Treinamentos e Consultoria, DRC, Brasil 2002 - 2002 Curso de curta duração em O Plano Diretor do Município com Ênfase no Estatut. Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal - Bauru, CEPAM, Brasil https://wwws.cnpq.br/curriculoweb/pkg_impcv.trata 1/7 17/06/12 Currículo do Sistema de Currículos Lattes (Rodrigo Fernandes Michelin) 2000 - 2000 Curso de curta duração em 3D Studio Max. Impacta Tecnologia, IMPACTA, Brasil 1998 - 1998 Curso de curta duração em Auto Cad 3D R14. Centro Acadêmico Horácio Lane, CAHL, Brasil Atuação pr ofis s ional 1. Universidade Presbiteriana Mackenzie - MACKENZIE Vínculo institucional 2010 - Atual Vínculo: Aluno de pós-graduação , Enquadramento funcional: Aluno de pós-graduação , Carga horária: 40, Regime: Integral Atividades 2010 - Atual Projetos de pesquisa, Reitoria, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Participação em projetos: Verticalização das Cidades Brasileiras 02/2010 - Atual Pesquisa e Desenvolvimento, Reitoria, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Linhas de Pesquisa: Verticalização e desenho da cidade de São Paulo , O desenho da cidade e a verticalização 2. Michelin Arquitetura - MA Vínculo institucional 2004 - Atual Vínculo: Arquiteto autônomo , Enquadramento funcional: Arquiteto, Regime: Parcial Outras informações: Escritório particular Atividades 04/2008 - 04/2008 Serviço Técnico Especializado, Rosa Turismo Especificação: Projeto de reforma e ampliação da empresa Rosa Turismo totalizando 120 metros quadrados 02/2008 - 06/2008 Serviço Técnico Especializado, Carlos Roberto Pereira Padovani Especificação: Progeto e gerenciamento de residência unifamiliar de 175 metros quadrados 02/2008 - 03/2008 Serviço Técnico Especializado, Prefeitura Municipal de Pardinho Especificação: Projeto de urbanização do leito urbano do Rio Pardo, Novo Acesso ao clube municipal e praça do laticínio 11/2007 - 05/2008 Serviço Técnico Especializado, Carlos Eduardo Del Papa Zacharias Especificação: Projeto e acompanhamento de reforma de estabelecimento comercial de 240 metros quadrados 05/2007 - 02/2008 Serviço Técnico Especializado, Prefeitura Municipal de Botucatu Especificação: Projeto de revitalização do centro histórico de Botucatu, Rua Amando de Barros proposta de reforma da via 04/2007 - 09/2007 Serviço Técnico Especializado, Prefeitura Municipal de Botucatu Especificação: Projeto de revitalização da Praça Cav. Virgilio Lunardi - Botucatu - SP 02/2007 - 10/2007 Serviço Técnico Especializado, Carlos Eduardo Del Papa Zacharias Especificação: Projeto de residência unifamilia de 400 metros quadrados 10/2006 - 03/2007 Serviço Técnico Especializado, Prefeitura Municipal de Botucatu Especificação: https://wwws.cnpq.br/curriculoweb/pkg_impcv.trata 2/7 17/06/12 Currículo do Sistema de Currículos Lattes (Rodrigo Fernandes Michelin) Projeto de Revitalização do Mercado Municipal de Botucatu 05/2006 - 06/2008 Serviço Técnico Especializado, Antonio Carlos Poli Especificação: Projeto e acompanhamento de residência unifamiliar totalizando 560 metros quadrados 02/2006 - 04/2007 Serviço Técnico Especializado, Sheila Zambello de Pinho Especificação: Projeto e acompanhamento de reforma e ampliação de residência unifamiliar no total de 150 metros quadrados 02/2006 - 09/2006 Serviço Técnico Especializado, Prefeitura Municipal de Botucatu Especificação: Projeto de reforma e ampliação da rodoviária municipal de Botucatu totalizando 3000 metros quadradados de área 06/2005 - 10/2006 Serviço Técnico Especializado, Olivio Rubio Junior Especificação: Projeto de residência unifamiliar de 230 metros quadrados 02/2004 - 04/2004 Serviço Técnico Especializado, Cuesta Jardins Especificação: Projeto e acompanhamento do novo escritório da empresa Cuesta Jardins totalizando 85 metros quadrados 01/2003 - 08/2003 Serviço Técnico Especializado, Restaurante Mandacaru Especificação: Projeto e acompanhamento da reforma do restaurante Mandacaru totalizando 600 metros quadrados 01/2001 - 12/2001 Serviço Técnico Especializado, Michelin Arquitetura Especificação: Projeto e construção do escritório Michelin arquitetura com área total de 270 metros quadrados 01/1999 - 01/2002 Outro Especificação: Photo Shop , Auto Cad 3. Instituto de Biociências, Unesp - Botucatu - IBB - UNESP Vínculo institucional 2003 - 2003 Vínculo: Arquiteto , Enquadramento funcional: Arquiteto , Carga horária: 40, Regime: Integral Outras informações: Integrando a equipe do Projeto Temático "Estudos morfológicos, anatômicos, histoquímicos e ultraestruturais em plantas do cerrado (senso lato) do estado de São Paulo" (FAPESP/Programa BIOTA, Proc. 2000/12469-3 Responsável pela programação visual de material de divulgação, incluindo CD Rom, vídeos, guias de campo, cartões postais e outros. Atividades 02/2003 - 12/2003 Serviço Técnico Especializado, Departamento de Botânica Especificação: Programação visual de material de divulgação do Projeto Temático "Estudos morfológicos, anatômicos, histoquímicos e ultraestruturais em plantas do cerrado (lato senso) do estado de São Paulo" (FAPESP/Programa BIOTA, Proc. 2000/12469-3) 4. Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais - FEPAF Vínculo institucional 2002 - 2002 Vínculo: Instrutor de Auto Cad 2000 , Enquadramento funcional: Instrutor de Auto Cad 2000 , Carga horária: 4, Regime: Parcial Atividades 03/2003 - 03/2003 Graduação, Photoshop Disciplinas Ministradas: Photoshop https://wwws.cnpq.br/curriculoweb/pkg_impcv.trata 3/7 17/06/12 Currículo do Sistema de Currículos Lattes (Rodrigo Fernandes Michelin) 10/2000 - 10/2000 Graduação, Auto Cad 2000 Disciplinas Ministradas: Auto Cad 2000 5. Prefeitura Municipal de Botucatu - P/BOTUCATU Vínculo institucional 2001 - 2005 Vínculo: Cargo de comissão , Enquadramento funcional: Chefe da Divisão Técnica de Planejamento , Carga horária: 40, Regime: Integral Atividades 11/2001 - 03/2005 Direção e Administração, Divisão Técnica de Planejamento Cargos Ocupados: Chefe da Divisão 11/2001 - 03/2005 Serviço Técnico Especializado, Divisão Técnica de Planejamento Especificação: Projeto da Escola João Maria de Araújo 11/2001 - 03/2005 Serviço Técnico Especializado, Divisão Técnica de Planejamento Especificação: Projeto do Camelódromo Municipal 11/2001 - 03/2005 Serviço Técnico Especializado, Divisão Técnica de Planejamento Especificação: Projeto do Posto de saúde do Jd Aeroporto 11/2001 - 03/2005 Serviço Técnico Especializado, Divisão Técnica de Planejamento Especificação: Projeto de reurbanização da Praça Pedro Torres 11/2001 - 03/2005 Serviço Técnico Especializado, Divisão Técnica de Planejamento Especificação: Projeto do Posto de saúde do Jd Monte Mor 11/2001 - 03/2005 Serviço Técnico Especializado, Divisão Técnica de Planejamento Especificação: Projeto de Ampliação da creche Vila Paulista 6. Cinex Ind. Com. Imp. e Exp. Ltda - CINEX Vínculo institucional 2000 - 2001 Vínculo: Arquiteto , Enquadramento funcional: Arquiteto , Carga horária: 40, Regime: Integral 7. Cesar Guazzelli Arquitetura - CGA Vínculo institucional 2000 - 2000 Vínculo: Estagiário , Enquadramento funcional: Estagiário , Carga horária: 40, Regime: Integral Atividades 06/2000 - 12/2000 Estágio, Cesar Guazzelli Arquitetura Estágio: Acompanhamento de projetos, desenhos para aprovação de Prefeitura e acompanhamento de obras 8. Jakko Poyry Engenharia Latda - JP Vínculo institucional 1998 - 1998 Vínculo: Estagiário , Enquadramento funcional: Estagiário , Carga horária: 20, Regime: Parcial https://wwws.cnpq.br/curriculoweb/pkg_impcv.trata 4/7 17/06/12 Currículo do Sistema de Currículos Lattes (Rodrigo Fernandes Michelin) Linhas de pes quis a O desenho da cidade e a verticalização 1. Objetivos: Verticalização e desenho da cidade de São Paulo 2. Objetivos: Pr ojetos 2010 - Atual Verticalização das Cidades Brasileiras Descrição: Panorama geral do crescimento vertical das cidades Brasileiras, a partir da critica da legislação urbanística e edilícia, dos planos diretores e dos modos de financiamento, descobrindo as formas que resultam nos diferentes desenhos da cidade e a qualidade espacial resultante. Mapeamento sistemático dos exemplares e das tipologias produzidas, identificando os principais vetores e setores de adensamento e verticalização no processo de urbanização contemporanea. Os produtos desta pesquisa estão sendo discutidos no âmbito das Dissertações de Mestardo em orientação e a atualização das pesquisas desenvolvidas no Mestrado e Doutorado da lider e a rede de pesquisas sobre verticalização nas cidades brasileiras Situação: Em Andamento Natureza: Pesquisa Alunos envolvidos: Mestrado acadêmico (2); Integrantes: Rodrigo Fernandes Michelin; Nadia Somekh (Responsável) Financiador(es): Idiom as Inglês Compreende Bem , Fala Bem, Escreve Bem, Lê Bem Pr odução em C, T& A Produção bibliográfica Artigos completos publicados em periódicos 1. MICHELIN, R. F. Lloyd’s e Gherkin: entre os séculos 20 e 21. Arquiteturismo (São Paulo). , v.04, p.041.03 - , 2010. Referências adicionais : Português. Meio de divulgação: Meio digital Artigos em jornal de notícias 1. MICHELIN, R. F. Comerciantes aprovam projeto de revitalização da Rua Amando. Diário da Serra. Botucatu/SP, p.a7 - a7, 2008. Referências adicionais : Brasil/Português. 2. MICHELIN, R. F. Ielo anuncia licitação na Amando em 40 dias. A Gazeta de Botucatu. Botucatu/SP, p.3 - 3, 2008. Referências adicionais : Brasil/Português. 3. MICHELIN, R. F. Modernização da "Amando" deve melhorar acesso dos bombeiros. Diário da Serra. Botucatu/SP, p.a6 - a6, 2008. Referências adicionais : Brasil/Português. 4. MICHELIN, R. F. Projeto da "Nova Amando" é apresentado aos vereadores. Diário da Serra. Botucatu/SP, p.a4 - a4, 2008. Referências adicionais : Brasil/Português. 5. MICHELIN, R. F. Projeto da "Nova Amando" pronto para virar realidade. Diário da Serra. Botucatu/SP, p.a3 - a3, 2008. Referências adicionais : Brasil/Português. 6. MICHELIN, R. F. Rodrigo Michelin vive projeto importante com projeto da Amando. Diário da Serra. Botucatu/SP, p.a3 - a3, 2008. Referências adicionais : Brasil/Português. Meio de divulgação: Impresso 7. MICHELIN, R. F. Botucatu projetada para mais 152 anos. Diário da Serra. Botucatu/SP, p.a3 - a3, 2007. Referências adicionais : Brasil/Português. 8. MICHELIN, R. F. Modernização da rodoviária deverá custar R$500 mil. Diário da Serra. Botucatu/SP, p.a2 - a2, 2007. https://wwws.cnpq.br/curriculoweb/pkg_impcv.trata 5/7 17/06/12 Currículo do Sistema de Currículos Lattes (Rodrigo Fernandes Michelin) 9. Referências adicionais : Brasil/Português. MICHELIN, R. F. Projeto de Revitalização da Amando vai priorizar acesso aos deficientes. Diário da Serra. Botucatu/SP, p.a3 - a3, 2007. Referências adicionais : Brasil/Português. 10. MICHELIN, R. F. Revitalização da Amando está perto de ter seu projeto pronto. Diário da Serra. Botucatu/SP, p.a3 - a3, 2007. Referências adicionais : Brasil/Português. 11. MICHELIN, R. F. Aproveite os dias longos de verão - pisos, churrasqueiras, acessórios. Diário da Serra - Folha Extra/Arquitetura. Botucatu/SP, p.b1 - b1, 2006. Referências adicionais : Brasil/Português. Meio de divulgação: Impresso 12. MICHELIN, R. F. Arquitetos botucatuenses projetam como seria a "Botucatu do Futuro". Diário da Serra. Botucatu/SP, p.22 - 22, 2003. Referências adicionais : Brasil/Português. Meio de divulgação: Impresso 13. MICHELIN, R. F. Novo prédio do "João Maria" avança. Diário da Serra. Botucatu/SP, p.3 - 3, 2003. Referências adicionais : Brasil/Português. 14. MICHELIN, R. F. Obras do João Maria seguem em ritmo acelerado. Folha Serrana. Botucatu/SP, p.3 - 3, 2003. Referências adicionais : Brasil/Português. Meio de divulgação: Impresso Produção Técnica Trabalhos técnicos 1. MICHELIN, R. F. BOTUCENTRO - Novo Centr o Cívico e de Eventos do m unicípio de Botucatu, 2008 Referências adicionais : Brasil/Português. 2. MICHELIN, R. F. Nova Am ando - Revitalização da Rua Am ando de Bar r os , Centr o His tór ico de Botucatu, 2008 Referências adicionais : Brasil/Português. Meio de divulgação: Impresso 3. MICHELIN, R. F. Pr ojeto de r efor m a da Pr aça Cavaleir o Vir gílio Lunar di, 2007 Referências adicionais : Brasil/Português. Meio de divulgação: Impresso 4. MICHELIN, R. F., Michelin, G.A. Pr ojeto de r efor m a e r evitalizaçã0 do Mer cado Municipal de Botucatu, 2007 Referências adicionais : Brasil/Português. 5. MICHELIN, R. F. Pr ojeto do Pos to de Saúde do Jar dim Aer opor to, 2003 Referências adicionais : Brasil/Português. Meio de divulgação: Impresso 6. MICHELIN, R. F. Pr ojeto da Es cola Municipal João Mar ia de Ar aújo, 2002 Referências adicionais : Brasil/Português. Meio de divulgação: Impresso 7. MICHELIN, R. F. Pr ojeto de am pliação da cr eche Vila Paulis ta, 2002 Referências adicionais : Brasil/Português. Meio de divulgação: Impresso 8. MICHELIN, R. F. Pr ojeto do Centr o Popular de Com ér cio - Cam elódr om o Municipal de Botucatu, 2002 Referências adicionais : Brasil/Português. Meio de divulgação: Impresso 9. MICHELIN, R. F. Pr ojeto do Pos to de Saúde do Jar dim Monte Mor , 2002 Referências adicionais : Brasil/Português. Meio de divulgação: Impresso 10. MICHELIN, R. F. Pr ojeto de r eur banização da Pr aça Pedr o Tor r es , 2001 Referências adicionais : Brasil/Português. Meio de divulgação: Impresso https://wwws.cnpq.br/curriculoweb/pkg_impcv.trata 6/7 17/06/12 Currículo do Sistema de Currículos Lattes (Rodrigo Fernandes Michelin) Demais produções técnicas 1. MICHELIN, R. F. Bar r eir as as quitetônicas e aces s ibilidade em edificações , 2008. (Outro, Curso de curta duração ministrado) Palavras-chave: arquitetura Referências adicionais : Brasil/Português. 4 horas. Meio de divulgação: Outro 2. MICHELIN, R. F. Photos hop, 2003. (Outro, Curso de curta duração ministrado) Referências adicionais : Brasil/Português. 21 horas. Meio de divulgação: Outro 3. MICHELIN, R. F. Auto Cad 2000, 2002. (Outro, Curso de curta duração ministrado) Referências adicionais : Brasil/Português. 40 horas. Meio de divulgação: Outro Eventos Participação em eventos 1. Coloquio Br as il Por tugal Es tr ategias de Pr ojeto e Inter vencao nas Metr opoles Contem por aneas Exper iencia e Per s pectivas , 2011. (Simpósio) . 2. 7o For um de Pes quis a FAU-Univer s idade Pr es biter iana Mack enzie. Indicador es de Sus tentabilidae Ur bana, 2011. (Simpósio) . 3. 6 For um FAU-Mack enzie, 2010. (Simpósio) . Totais de pr odução Produção bibliográfica Artigos completos publicados em periódico Jornais de Notícias 1 14 Produção Técnica Trabalhos técnicos (assessoria) 1 Trabalhos técnicos (elaboração de projeto) 9 Curso de curta duração ministrado (outro) 3 Eventos Participações em eventos (simpósio) 3 Página gerada pelo Sistema Currículo Lattes em 17/06/2012 às 16:04:58. https://wwws.cnpq.br/curriculoweb/pkg_impcv.trata 7/7