ADM.MADE - Estácio

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ISSN 1518-9929
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
ADM.MADE
Revista do Programa de Pós-Graduação em Administração e
Desenvolvimento Empresarial e do Curso de Graduação em
Administração da Universidade Estácio de Sá
Ano 8, v. 12, n. 1, janeiro a abril
Número Temático: Marketing
Rio de Janeiro
2008
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
1
SOCIEDADE DE ENSINO SUPERIOR ESTÁCIO DE SÁ
Reitor
LUCIANO VICENTE DE MEDEIROS
Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa
ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTTI
Coordenador Geral do Programa de Pós-Graduação em
Administração e Desenvolvimento Empresarial
LAMOUNIER ERTHAL VILLELA
Coordenador Geral do Curso de Administração
CARLOS ROBERTO FERNANDES DE ARAÚJO
Revista ADM.MADE. -- Ano 1, n.1 (jul. 2000). – Rio de
Janeiro : Universidade Estácio de Sá, Mestrado em
Administração e Desenvolvimento Empresarial, 2000Semestral, jul. 2000-jul./dez. 2006; Quadrimestral, jan./abr.
2007-.
Descrição baseada em: n.1, 2000.
ISSN 1518-9929
1. Administração – Periódicos. 2. Desenvolvimento
Empresarial – Periódicos. I. Mestrado em Administração e
Desenvolvimento Empresarial. II. Universidade Estácio de Sá.
CDD 658
Bibliotecária responsável: Vera Lucia Paracampos Pataco CRB - 7 - nº 517
2
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
ADM.MADE
Revista do Programa de Pós-Graduação em Administração e
Desenvolvimento Empresarial e do Curso de Graduação em
Administração da Universidade Estácio de Sá
ISSN 1518-9929
Ano 8, v. 12, n. 1, janeiro a abril
Rio de Janeiro
2008
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
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Endereço para Correspondência
Revista ADM.MADE
Universidade Estácio de Sá
Av. Presidente Vargas, 642, 22º andar.
Centro
Rio de Janeiro, RJ. CEP: 20.071-001
Telefones: (55)+(21)-2206-9743
fax:(55)+(21)2206-9751
e-Mail: [email protected]
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4
Endereço para Permuta
Biblioteca Campus Centro I
Universidade Estácio de Sá
Av. Presidente Vargas, 642, 13º andar.
Centro
Rio de Janeiro, RJ. CEP: 20.071-001
Telefones: (55)+(21)-2206-9748
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REVISTA ADM.MADE
Diretor
LAMOUNIER ERTHAL VILLELA
Editora
ISABEL DE SÁ AFFONSO DA COSTA
Assistente de Editoria
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Secretária
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Comitê Editorial
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Mestrado Profissional em Administração
Faculdades Pedro Leopoldo
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Instituto de Medicina Social
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
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Universidade Federal do Rio Grande do Sul
CLÓVIS L. MACHADO-DA-SILVA
Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração
Universidade Federal do Paraná
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Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas
Fundação Getulio Vargas
FELIX MORA-CAMINO
Laboratoire d´Analyse et d´Architeture des Systèmes
Centre National de la Recherche Scientifique (França)
FERNANDO GUILHERME TENÓRIO
Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas
Fundação Getulio Vargas
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ISABEL DE SÁ AFFONSO DA COSTA
Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial
Universidade Estácio de Sá
LAMOUNIER ERTHAL VILLELA
Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial
Universidade Estácio de Sá
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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
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Mestrado em Administração
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Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas
Fundação Getulio Vargas
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Programa de Pós-Graduação em Administração
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
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Programa de Pós-Graduação em Administração
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
OMAR AKTOUF
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Université de Montréal (Canadá)
ROBERTO MORENO
Instituto de Administração e Gerência
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
TANIA MARIA D. FISCHER
Núcleo de Pós-Graduação da Escola de Administração
Universidade Federal da Bahia
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Corpo Editorial Científico
DEBORAH MORAES ZOUAIN
Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas
Fundação Getulio Vargas
Administração pública; administração de ciência e tecnologia; teoria das
organizações; desenvolvimento de recursos humanos.
JOAQUIM RUBENS FONTES FILHO
Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas
Fundação Getulio Vargas
Estratégia; governança corporativa e das organizações; metodologia científica.
JORGE AUGUSTO DE SÁ BRITO E FREITAS
Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial
Universidade Estácio de Sá
Gestão de pessoas; gestão do conhecimento.
JOSÉ A. SOARES DA FONSECA
Faculdade de Economia
Universidade de Coimbra (Portugal)
Economia financeira; integração dos mercados financeiros.
JOSÉ GERALDO PEREIRA BARBOSA
Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial
Universidade Estácio de Sá
Estratégia; inovação.
JOSÉ ROBERTO GOMES DA SILVA
Instituto de Administração e Gerência
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Comunicação e mudança organizacional; comportamento humano nas
organizações; gestão do conhecimento.
MARIA AUXILIADORA DINIZ DE SÁ
Departamento de Administração
Universidade Federal da Paraíba
Gestão de pessoas; relações de trabalho.
MARIA ESTER DE FREITAS
Escola de Administração de Empresas de São Paulo
Fundação Getulio Vargas
Estudos organizacionais; estudos organizacionais críticos; cultura organizacional.
PIERRE SALAMA
Centre d´Economie de l´Université Paris Nord
Université Paris XIII (França)
Globalização, regionalização e desenvolvimento.
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Revisão Português
JORGE AUGUSTO DE SÁ BRITO E FREITAS
Revisão Inglês
JOSÉ GERALDO PEREIRA BARBOSA
Capa
JOÃO UCHÔA
Título da Obra
291-95
ACRÍLICA SOBRE TELA
1,40 x 1,40
Editoração Gráfica e Impressão
PUBLIT SOLUÇÕES EDITORIAIS
Tiragem
500 exemplares
Data da Impressão
julho/2008
Distribuição à Comunidade Científica
500 exemplares
Indexação
Qualis/CAPES
Os conteúdos e demais informações contidas nos textos publicados nesta
Revista são de inteira responsabilidade dos autores. Os artigos não refletem,
necessariamente, o ponto de vista da Universidade Estácio de Sá.
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Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
MISSÃO DA REVISTA ADM.MADE
A Revista ADM.MADE, editada pelo Programa de Mestrado em
Administração e Desenvolvimento Empresarial (MADE) e pelo Curso de Graduação de Administração da Universidade Estácio de Sá,
tem como missão contribuir para a ampliação do conhecimento sobre
questões relacionadas à gestão contemporânea de organizações.
A Revista ADM.MADE aceita para publicação trabalhos produzidos por autores nacionais e estrangeiros, assim como de membros
do seu corpo docente e discente, que tratem de temas relacionados à
administração, resultantes de estudos teóricos, pesquisas, reflexões
sobre práticas empresariais, debates etc. Por ser uma revista de cunho acadêmico, espera-se que os artigos representem contribuição
científica ao campo da Administração. Essa exigência refere-se a:
Relevância do tema
Referencial teórico que reflita o estado da arte do conhecimento
da área
Tratamento metodológico adequado
Conclusões claras e capazes de apontar implicações para a teoria
e a prática da gestão
Tais produções acadêmicas devem estar, ainda, em consonância com as duas linhas de pesquisa do Programa de Mestrado e
com o Projeto Pedagógico do Curso de Administração:
Linha de Pesquisa 1: Organizações
Analisa as dinâmicas (objetivos, meios e políticas) e as ações
decorrentes das necessidades empresariais de adequação aos padrões de concorrência vigentes nos diversos setores econômicos,
considerando o mercado, a sociedade, as redes e as pessoas.
Linha de Pesquisa 2: Tecnologias Gerenciais
Estuda tecnologias, procedimentos e ferramentas de apoio a
sistemas produtivos; de controle gerencial; de informação e de tomada de decisão.
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Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
EDITORIAL
Após um ano de intensas mudanças e novos direcionamentos em
2007, o ano de 2008 se apresenta com novos desafios no processo de
consolidação da Revista ADM.MADE como difusora de conhecimento
relevante junto à comunidade acadêmica de Administração no Brasil.
Como passo fundamental na construção desse caminho, a
ADM.MADE institui o Corpo Editorial Científico - um colegiado
multi-institucional, integrado por especialistas distribuídos tanto
por áreas e subáreas científicas como geograficamente, cujos componentes têm como atribuição principal o zelo pela uniformidade,
a continuidade, a qualidade e o rigor científico do conteúdo publicado. Damos boas-vindas aos professores e professoras membros
desse colegiado, certos do privilégio que é contar com sua colaboração: Deborah Morais Zouain (EBAPE/FGV), Joaquim Rubens
Fontes Filho (EBAPE/FGV), José Geraldo Pereira Barbosa (MADE/
UNESA), José A. Soares da Fonseca (Faculdade de Economia/Universidade de Coimbra), José Roberto Gomes da Silva (IAG/PUC-RJ),
Maria Auxiliadora Diniz de Sá (DA/UFPB), Maria Ester de Freitas
(EAESP/FGV) e Pierre Salama (CEPN/Université Paris XIII).
Em linha com a política editorial de privilegiar a organização
de volumes temáticos, iniciamos o ano de 2008 com a publicação
de um número dedicado ao Marketing. Organizado pelo professor
José Luiz Trinta, coordenador do curso de Graduação em Marketing
da Universidade Estácio de Sá, o volume traz aos leitores cinco artigos de acadêmicos oriundos das mais destacadas instituições de
ensino e pesquisa do país. Buscou-se apresentar aos leitores textos
que informem sobre as experiências aprendidas no campo, bem
como permitam a reflexão sobre os direcionamentos futuros da área.
A todos, boa leitura!
Os Editores
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
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Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
Sumário
Compreendendo o Consumidor Através do Interacionismo
Interpretativo ....................................................................................... 17
João Felipe Rammelt Sauerbronn e Eduardo André Teixeira Ayrosa
Validade e Confiabilidade na Pesquisa Etnográfica Aplicada
em Empresas ........................................................................................ 41
Ana Akemi Ikeda, Julio Puschel e Renato Cortopassi Pelissaro
Uma Avaliação da Cadeia Meios-Fim no Abastecimento de
Combustível Automotivo .................................................................. 61
José Roberto Ribas, José Luiz Trinta e Zilda Maria Contesini Santos
Atitudes, Opiniões e Hábitos de Homens que Vão às
Compras em Supermercados ............................................................ 89
Fátima Cristina Trindade Bacellar, Tânia Maria de Oliveira Almeida
Gouveia e Liliana Carneiro de Miranda
Marketing Direto na Internet: Análise de um Caso Brasileiro .... 123
Marina Dias de Faria, José Luís Felício dos Santos de Carvalho e
Daniela Abrantes Ferreira Serpa
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
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Contents
Understanding consumers through Interpretative
Interactionism ....................................................................................... 17
João Felipe Rammelt Sauerbronn e Eduardo André Teixeira Ayrosa
Validity and reliability of business ethnographic research .......... 41
Ana Akemi Ikeda, Julio Puschel e Renato Cortopassi Pelissaro
An evaluation of the means-end chain in automotive fueling ..... 61
José Roberto Ribas, José Luiz Trinta e Zilda Maria Contesini Santos
Attitudes, opinions and habits of men who go shopping in
supermarkets ........................................................................................ 89
Fátima Cristina Trindade Bacellar, Tânia Maria de Oliveira Almeida
Gouveia e Liliana Carneiro de Miranda
Direct marketing on the Internet: a Brazilian case-study ............ 123
Marina Dias de Faria, José Luís Felício dos Santos de Carvalho e
Daniela Abrantes Ferreira Serpa
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Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
Apresentação
A gestão de negócios e seu campo de estudo vêm de forma
permanente passando por mudanças que aceleram sua evolução,
devidas principalmente ao surgimento de técnicas e processos
agregadores de valor. O Marketing, como parte integrante desse
conjunto, vem experimentando um intenso desenvolvimento. O
surgimento de propostas teóricas, bem como as diferentes utilizações daquelas já aceitas, tem ampliado o seu campo de atuação e as
discussões acerca do assunto.
Porém, da mesma forma que em outras áreas, observa-se uma
controvérsia entre o conservadorismo (usar o que já existe, cujos
resultados são previsíveis) e a inovação (tentar diferente, buscar
outras formas, ousar). Esta edição temática busca então abordar essa
questão através de seus textos e sua disposição. Enquanto seus dois
primeiros artigos tratam da aplicação de novas técnicas de pesquisa em marketing, os três posteriores se ocupam da aplicação de
modelos e técnicas de pesquisas já conhecidos para alcançar resultados práticos. As suas respectivas conclusões oferecem aos leitores uma oportunidade de reflexão, podendo auxiliar profissionais
da área em seus processos de tomada de decisão. O volume está
assim dividido:
No primeiro artigo, Eduardo André Teixeira Ayrosa e João
Felipe Rammelt Sauerbronn apresentam a perspectiva do
Interacionismo Interpretativo desenvolvida por Denzin (1989), e
discutem sua aplicação à pesquisa acadêmica em marketing, principalmente aquelas com ênfase no ponto de vista do consumidor e
a sua formação de significados e valores de consumo.
A seguir, Ana Akemi Ikeda, Julio Puschel e Renato Cortopassi
Pelissaro discutem a validade e a confiabilidade das pesquisas
etnográficas realizadas pelas empresas. A partir da análise de um
caso específico, contraposta à literatura existente, são apontados
problemas relacionados ao processo de condução da pesquisa e à
análise dos resultados. As considerações não se configuram como
desestímulo ao uso da pesquisa etnográfica, sendo apenas um
importante alerta para os que optarem pela versão reducionista
desse tipo de técnica.
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
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José Roberto Ribas, José Luiz Trinta e Zilda Maria Contesini
dos Santos, no terceiro artigo, buscam examinar o vínculo entre
construtos que influenciam a criação de valor no processo de decisão
por abastecimento automotivo em postos de combustível. Para tanto,
um modelo proposto por Zeithaml (1988) foi aplicado. A conclusão
obtida indica irrelevância de fatores como marca do posto e o “custo
não-monetário” no julgamento do consumidor sobre a qualidade
do combustível, representando muito pouco no processo de decisão
de compra. Os resultados obtidos validam parcialmente a aplicação do modelo.
No quarto artigo, Fátima Cristina Trindade Bacellar, Tânia
Maria de Oliveira Almeida Gouveia e Liliana Carneiro de Miranda,
a partir das mudanças observadas na estrutura familiar e nos papéis
de cada elemento da família, procuraram aprofundar o entendimento
acerca da relação do público masculino com a realização de compras em supermercados. A pesquisa realizada confirma o próprio
movimento da sociedade, indicando que o homem tende a assumir
cada vez mais essa função doméstica, representando assim um novo
perfil de consumidor masculino.
Fechando esta edição, Marina Dias de Faria, Jose Luis Felício
dos Santos de Carvalho e Daniela Abrantes apresentam o estudo
de caso da divisão de internet da sucursal brasileira da empresa
Reader´s Digest. Este estudo demonstrou que a correta adaptação
da organização às mudanças no ambiente de negócios, aqui especificamente o tecnológico, possibilitou revigorar suas estratégias de
marketing, configurando-se como uma vantagem competitiva.
José Luiz Trinta
Organizador
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Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
Compreendendo o Consumidor Através do
Interacionismo Interpretativo*
João Felipe Rammelt Sauerbronn1
Eduardo André Teixeira Ayrosa2
O Interacionismo Interpretativo é uma proposta metodológica voltada
para os problemas vividos pelos indivíduos no mundo das experiências
e seus contextos sociais. A partir da perspectiva da interação simbólica
de Blumer, aliada à fenomenologia hermenêutica de Heidegger, o
Interacionismo Interpretativo propõe a observação das interações entre
indivíduos em momentos críticos (epifanias) e a busca da compreensão
da construção dos significados individuais a partir da interpretação destas
interações. Tal perspectiva pode ser interessante para a pesquisa acadêmica em marketing, especialmente para os estudos que procuram levar
em consideração o ponto de vista do consumidor e a sua formação de
significados e valores de consumo. O presente artigo se dedica a apresentar
a perspectiva do Interacionismo Interpretativo, conforme desenvolvida
por Denzin (1989) e procura demonstrar como esta metodologia pode
ser utilizada na pesquisa acadêmica em marketing.
Palavras-Chave: Interacionismo Interpretativo; metodologia de pesquisa;
pesquisa acadêmica de marketing.
Keywords: Interpretive Interactionism; research methods; marketing
academic research.
__________________________________________
Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial/ Universidade Estácio
de Sá - Rio de Janeiro. Editora responsável: Isabel de Sá Affonso da Costa
* Artigo recebido em 12/02/2008. Aceito em 31/03/2008. Artigo submetido a revisão double-blind.
1
Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Administração da Escola
de Gestão e Negócios da Universidade do Grande Rio Professor José de Souza
Herdy (PPGA/UGN/UNIGRANRIO). Professor Auxiliar da Escola Brasileira de
Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (EBAPE/FGV).
Doutor em Administração pela EBAPE/FGV. Endereço: Rua da Lapa, 86 - 9º andar.
Rio de Janeiro/RJ. CEP: 20021-180. Email: [email protected].
2
Professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (EBAPE/FGV). Ph.D em Administração de Empresas pela
London Business School. Email: [email protected].
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.17-39 - jan/abr, 2008
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João Felipe Rammelt Sauerbrownn e Eduardo André Teixeira Ayrosa
Understanding consumers through Interpretative
Interactionism
Interpretive Interactionism is a methodological approach focused on
the problems lived by the individuals inside the experiential world
and its social contexts. Interpretive Interactionism is a particular
synthesis of Blumer´s symbolic interaction and Heidegger’s
hermeneutic phenomenology perspectives, which may enable
researchers to understand the way in which the interactions among
individuals during critical moments (epiphanies) can enhance the
comprehension of the individual meanings based on the interpretation
of those interactions. This approach can be very interesting to marketing
academic research, especially to those studies that considers consumer’s
point of view and the formation of the meanings and values of
consumption. This paper presents Denzin’s perspective on the
Interpretive Interactionism and shows how this methodology can be
used by marketing academic researchers.
1. Introdução
O desafio de se compreender o consumidor e as experiências
de consumo tem despertado em muitos pesquisadores da área de
marketing o desejo de partir para novas configurações de pesquisa.
Vários pesquisadores têm reiteradamente mencionado a predominância do positivismo hipotético-dedutivo na área de marketing
(HIRSCHMAN, 1986; VIEIRA, 2000, 2003), predominância esta
justificada pela tentativa de construção de uma ciência do marketing
(HUNT, 1991). O dilema do estudioso da área de marketing reside
na relativa limitação do seu repertório de soluções metodológicas,
fruto dos esforços de construção de uma carreira acadêmica num
ambiente predominantemente positivista. Aceitar que existe algo
que jamais será colocado em uma escala e faz sentido para a pesquisa em marketing não faz parte do credo de muitos acadêmicos
da área.
Para a resolução de alguns problemas de marketing, a visão
positivista e os métodos quantitativos parecem bastante adequados.
Problemas relacionados a variações em quantidades de vendas frente a deslocamentos de preços, por exemplo, podem ser entendidos
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Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.17-39 - jan/abr, 2008
Compreendendo o Consumidor Através do Interacionismo Interpretativo
muito precisamente a partir desta visada, como apontam Ayrosa e
Sauerbronn (2004). Entretanto, a visão dominante carece de uma
revisão, já que se mostra pouco funcional em muitos casos. Uma
vez que a produção acadêmica adota majoritariamente a perspectiva positivista, os modelos construídos dentro desta orientação
axiológica serão consolidados dentro dos preceitos alinhados ao
positivismo. As limitações intrínsecas destes modelos excluem fatores
que as representações da realidade propostas não foram programadas para captar. Como conseqüência, estes fatores deixam de
existir e a disciplina continuamente deixa de lado vários aspectos
que podem ser importantes para a compreensão adequada dos
problemas relacionados às trocas entre compradores e vendedores
e sobre o que há por trás destas trocas (ZINKHAM e HIRSCHEIM,
1992; CHUNG e ALAGATARATNAM, 2001).
As abordagens interpretativistas (e qualitativas) ganharam grande suporte a partir da orientação pós-moderna (BROWN, 1994),
uma vez que esta condição fez com que alguns temas passassem a
ser interessantes à pesquisa acadêmica em marketing. Desta forma,
muitos trabalhos com temas novos e estranhos ao paradigma dominante passaram a ser conduzidos sem o grande temor de não
serem aceitos na academia (HOLBROOK e HIRSCHMAN, 1982).
A partir da observação alternativa dos problemas de marketing pôde
surgir espaço para diversas formas de se entender e realizar pesquisa
em comportamento do consumidor. A utilização de pontos de vista
alternativos permitiu que diversas relações que não poderiam ser
percebidas (ou aceitas) no passado fossem pesquisadas e trouxessem
novas possibilidades para a compreensão do marketing. Conseqüentemente, novos problemas de pesquisa em marketing surgiram e
isto tornou possível a consolidação da visão interpretativista dos
problemas de consumo.
O objetivo deste artigo é apresentar uma metodologia que pode
ser interessante para a observação do consumidor e suas experiências de consumo e para o desenvolvimento de novas teorias sobre
consumo. Dentro deste contexto, exploramos o Interacionismo
Interpretativo como proposta metodológica interessante para a
observação de problemas de consumo. Como veremos adiante, as
características intrínsecas do método podem colocar esta proposta
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.17-39 - jan/abr, 2008
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João Felipe Rammelt Sauerbrownn e Eduardo André Teixeira Ayrosa
metodológica como uma forma de superar eventuais obstáculos
para a pesquisa em marketing, mais notadamente aquela preocupada com os problemas que podem surgir das ações de marketing.
2. Estabelecendo o Espaço Interpretativo na Pesquisa
Acadêmica de Marketing
Dentro do campo da pesquisa qualitativa, é reconhecido que
não há uma única maneira de se representar experiências de consumo (GOULDING, 2003) e os debates estabelecidos no campo do
marketing confirmam esta característica plural. A pesquisa acadêmica
em marketing lançou mão da utilização de métodos qualitativos há
tempos e perspectivas alternativas às pesquisas tradicionais têm
surgido com força cada vez maior nas academias internacional e
brasileira, mesmo que com alguma timidez se comparado com outros campos das ciências sociais, inclusive administrativas. Mesmo
que a aventura por caminhos alternativos dentro da pesquisa acadêmica em marketing já não seja mais tão perigosa e não demande
mais tanta “autoproteção” do pesquisador, dedicamos esta seção à
breve apresentação dos pressupostos da pesquisa de caráter
interpretativo. Estes pressupostos incluem crenças sobre a natureza
da realidade, dos seres sociais e sobre o que constitui conhecimento,
como vemos a seguir.
No tocante à natureza da realidade (ou verdade), em contraste
à visão positivista que propõe a realidade objetiva e tangível, a perspectiva interpretativa assume a realidade como essencialmente
mental e percebida. Desta forma, múltiplas pesquisas tendem a não
convergir para uma única realidade porque há múltiplas realidades e estas realidades são dinâmicas (HUDSON e OZANNE, 1988).
A realidade é construída por sistemas que são dependentes de outros sistemas para gerarem significados e sentidos (LINCOLN e
GUBA, 2000; mais especificamente na disciplina do marketing:
MOORMAN, 1987). A realidade é socialmente construída, múltipla
e contextual. Desta visão da natureza da realidade resulta a própria
visão de ser social que não apresenta um comportamento determinado (reativo) ou formado unicamente a partir do processamento
racional de informações que forma crenças, atitudes e intenções (causalidade). Os interpretativistas assumem que os indivíduos criam
20
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.17-39 - jan/abr, 2008
Compreendendo o Consumidor Através do Interacionismo Interpretativo
sentidos e interagem ativamente a partir de suas interações com o
mundo de forma a moldar seu ambiente (HUDSON e OZANNE, 1988).
O objetivo maior de uma pesquisa de caráter hipotético-dedutivo
é apresentar uma explicação que gere subsídios para a predição, a
partir de leis universais para o comportamento dos indivíduos e,
no caso do marketing, previsão de comportamentos de consumo.
Esta perspectiva epistemológica prioriza perguntas de pesquisa
baseadas em “porquê”. Para o interpretativista o objetivo principal
é compreender o comportamento, não prevê-lo. Faz mais sentido
para o interpretativista perguntar “como”, e não “porquê”. Esta
compreensão é radicalmente diferente da visão positivista: compreender é um processo e não um produto final, nunca tem fim
(ARNOULD e FISCHER, 1994). Não existe a interpretação, existe
uma interpretação: a interpretação é pré-requisito, mas não é suficiente. Esta perspectiva está relacionada por alguns pesquisadores
ao que Weber chama de verstehen (SCHWANDT, 2000), uma
compreensão completa do mundo do outro a partir dos termos do
pesquisador. Dentro da abordagem interpretativa, em adição ao
conhecimento dos significados culturais compartilhados, é necessário perceber os significados pessoais/individuais. Desta forma,
compreender o consumidor significa entender também a interação
entre os significados sociais e culturais compartilhados por ele e
seus significados pessoais (THOMPSON, 1997). Como os processos
social e cultural são dinâmicos, os significados de consumo são continuamente criados e recriados durante o ato da vida. Ao mesmo
tempo em que possibilita alguma compreensão do universo do outro, o
verstehen, contudo, guarda limitações na compreensão de manifestações
de culturas estranhas ao pesquisador, pois os termos da interpretação
serão sempre relativos ao universo cultural do pesquisador.
A perspectiva interpretativa adota uma abordagem mais histórica
e particularista à pesquisa e se preocupa em estudar um fenômeno
específico em um tempo e em um lugar específicos. Ao invés de
procurar leis determinísticas, a pesquisa interpretativa busca determinar motivos, significados, razões e outras experiências subjetivas
que são ligadas a tempo e contextos (McCRACKEN, 1981). Assim,
não há preocupação com generalizações ou leis abstratas e gerais
que possam ser aplicadas a um número infinitamente grande de
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.17-39 - jan/abr, 2008
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João Felipe Rammelt Sauerbrownn e Eduardo André Teixeira Ayrosa
fenômenos de consumo, consumidores, condições e tempos
(HUDSON e OZANNE, 1988). Para os interpretativistas o mundo é
tão complexo e dinâmico que é impossível distinguir causa e efeito.
A instância interpretativa pressupõe molde simultâneo e mútuo
entre as entidades (HOLBROOK e GRAYSON, 1986). Segundo esta
perspectiva, presumir que um fenômeno seria causado por outro
seria, portanto, cientificamente inocente.
As distinções ontológicas, axiológicas e epistemológicas da perspectiva interpretativa têm implicação na forma de encarar a pesquisa:
o pesquisador e os consumidores investigados interagem e surge uma
pesquisa cooperativa (GOULDING, 2000). Se a realidade social é baseada nas percepções individuais e grupais, então, para entendermos
suas percepções, os indivíduos/consumidores devem estar envolvidos na criação de um processo de pesquisa. O consumidor estudado
se torna um participante na pesquisa, guiando o processo assim como
proporcionando informações. Para os interpretativistas, o cientista é
membro da realidade social, não havendo nenhuma posição privilegiada (HUDSON e OZANNE, 1988). Desta forma, surgem desenhos
de pesquisa que requerem adaptação da parte do pesquisador durante
todo o processo de pesquisa. Uma característica marcante da abordagem interpretativa é o desenho de pesquisa em evolução contínua
(continually evolving research design). Os interpretativistas procuram
descrever várias realidades percebidas que não podem ser conhecidas
a priori porque eles são específicos de um tempo e de um contexto. A
pesquisa é um processo emergente e, assim como as realidades percebidas mudam, o desenho da pesquisa se adapta.
Diversas pesquisas que compartilham da perspectiva interpretativa
já foram desenvolvidas dentro do campo da pesquisa de consumo,
mesmo que ainda não de forma preponderante dentro da área tanto
em nossa academia como na academia internacional (HIRSCHMAN,
1986; VIEIRA 2000, 2003). A busca pela compreensão do consumidor
e das experiências vividas em situações de consumo acaba levando os
pesquisadores de consumo a novas fronteiras da pesquisa social e,
assim, as limitações metodológicas da disciplina do marketing são forçosamente superadas.
Como uma abordagem qualitativa distinta na pesquisa social,
o Interacionismo Interpretativo procura trazer de forma acessível
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Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.17-39 - jan/abr, 2008
Compreendendo o Consumidor Através do Interacionismo Interpretativo
ao leitor o mundo da experiência vivida pelo indivíduo. Conforme
propõe Denzin (1989), o foco deste método interpretativo se coloca
sobre as experiências de vida que radicalmente afetam ou dão forma
aos significados que os indivíduos dão a si mesmos e aos seus projetos de vida, intimamente ligados ao consumo (BAUDRILLARD, 1991).
3. A Proposta do Interacionismo Interpretativo
O Interacionismo Interpretativo é uma proposta metodológica
voltada para os problemas vividos pelos indivíduos no mundo das
experiências e seus contextos sociais. A sua denominação exibe seus
antecedentes: o argumento do Interacionismo Interpretativo parte
do interacionismo simbólico de Blumer e procura conciliar esta proposta à perspectiva interpretativa da fenomenologia associada à
hermenêutica de Heidegger, criando, assim, estudos que fazem sentido
para o mundo pós-moderno da experiência humana (DENZIN, 1989).
Seu desenvolvimento parte do pressuposto que as ações humanas se
dão em direção ao outro, com o outro e a partir do outro, em processos
mútuos que resultam nas experiências interacionais mediadas por
símbolos e pela linguagem. A partir das interações entre indivíduos
passam a surgir relações entre os objetos e seus significados e estes significados sobrepostos passam a compor um repertório de sentidos para
os objetos de acordo com os contextos das interações.
Existem muitas abordagens interpretativas relevantes para a
pesquisa social e, por conseqüência, para a pesquisa de marketing.
O Interacionismo Interpretativo pode ser mais uma opção para o
pesquisador da área na medida em que opera sobre determinadas
condições que podem ser interessantes para alguns problemas de
pesquisa da disciplina. As características deste método são muito
bem desenhadas por Denzin e cabe a esta seção apresentar as origens
e particularidades desta proposta metodológica.
3.1. A perspectiva metodológica do interacionismo
simbólico
Para que possamos entender a proposta de Denzin para o
Interacionismo Interpretativo e cumprir a proposta deste trabalho
é necessário que analisemos seus antecedentes. Como podemos
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perceber, até mesmo pela forma com a qual Denzin deu nome a sua
proposta, as interações entre indivíduos são a base de sua proposta
metodológica e o interacionismo simbólico serve como principal
elemento constitutivo do Interacionismo Interpretativo. Nesta seção desenvolveremos a perspectiva do interacionismo simbólico,
conforme proposto por Blumer (1998), e destacaremos as contribuições mais sólidas à proposta do Interacionismo Interpretativo.
Seguindo o trabalho de outros teóricos da Escola de Chicago,
Blumer foi o responsável pela posição metodológica adotada pelo
interacionismo simbólico e se tornou figura central para o desenvolvimento de ações empíricas baseadas nesta perspectiva. O
princípio básico do interacionismo simbólico propõe que qualquer
esquema social humano orientado empiricamente deva respeitar o
fato de que, em primeira e última instância, a sociedade humana é
constituída de pessoas engajadas em ações. O interacionismo
simbólico dá conta da natureza da sociedade humana e da vida
humana em grupo e dentro desta perspectiva, os grupos humanos
são formados por seres humanos engajados em ações. Estas ações
consistem em múltiplas atividades que os indivíduos realizam em
suas vidas enquanto se encontram uns com os outros e lidam com a
sucessão de situações com que são confrontados. Assim, os grupos
humanos ou sociedades existem em ação e devem ser observados
em termos de suas ações. A vida em grupo pressupõe necessariamente as interações entre membros do grupo ou, posto de outra
forma, uma sociedade consiste de indivíduos interagindo.
A conformação da proposta metodológica do interacionismo
simbólico surge do desconforto de Blumer frente ao modo com o
qual as ciências sociais e a psicologia social tratavam as interações
humanas. Para ele, as interações sociais desempenhadas pelos indivíduos detinham importância fundamental para a compreensão
dos fenômenos sociais e deveriam ser contempladas pelas ciências
sociais. Assim, Blumer considerou três premissas básicas para sua
proposta: 1) os seres humanos agem sobre os objetos com base nos
significados que aqueles objetos têm para eles; 2) os significados
dos objetos originam-se na interação social que o indivíduo tem
com outro; e 3) os indivíduos lidam com os significados e os modificam através de um processo interpretativo utilizado pela pessoa
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ao lidar com as coisas que encontra. Parece claro como este processo de ressignificação acontece no mundo do consumidor; afinal,
um produto como o automóvel pode assumir diversos significados
para os consumidores, desde o simples meio de transporte até a
explicitação de uma opção de vida. De certo, o universo de consumo
é um universo eminentemente simbólico que guarda importância
fundamental para os significados de vida dos indivíduos (BELK,
1985; BAUDRILLARD, 1991).
As ciências sociais e a psicologia social tendem a tratar o comportamento humano como o produto de vários fatores que têm papéis
sobre o indivíduo: a preocupação está centrada no comportamento e
nos fatores relacionados a estes comportamentos. As explicações
estão centradas em estímulos, atitudes, motivações (conscientes ou
inconscientes), percepção, cognição, no caso da psicologia; ou em
classes sociais, status, papéis, e prescrições culturais dadas por normas e
valores, para as ciências sociais. Em ambos os casos, os significados
das coisas para os seres humanos que estão agindo deixam de ser
levados em consideração em detrimento dos fatores utilizados para
compreensão dos comportamentos. O significado dos objetos
desaparece ao ser fundido aos fatores iniciais ou causais de um
comportamento, ou se torna um mero canal transmissor que pode
ser ignorado em favor destes fatores iniciais.
A perspectiva de Blumer surgiu como uma alternativa às perspectivas correntes àquele tempo tanto no campo das ciências sociais,
quanto no campo da psicologia social. Essas perspectivas teóricometodológicas consideravam o significado dos objetos como dado,
colocando-o de lado como pouco importante ou considerando-o como
uma ligação neutra entre os fatores responsáveis pelo comportamento
humano e este comportamento enquanto produto de tais fatores. De
forma alternativa, a perspectiva do interacionismo simbólico considera os significados que os objetos adquirem a partir dos indivíduos
como ponto central. Ignorar o significado dos objetos sobre os quais
as pessoas agem é visto como falsificar o comportamento estudado
(BLUMER, 1998, p. 3). Assim, o pesquisador não deve negligenciar o
papel do significado na construção do comportamento.
O interacionismo simbólico contraria ainda a perspectiva do
realismo filosófico que sustenta o significado como intrínseco aos
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objetos, como uma parte natural destes. Dentro da perspectiva realista,
o significado emana apenas do objeto e não há processo algum envolvido em sua formação, sendo assim, tudo que é necessário é
reconhecer o significado que há neste objeto.
De forma distinta ao realismo, a psicologia propõe que o
significado é adicionado fisicamente ao objeto pelo indivíduo e é
tratado como uma expressão dos elementos constituintes da psique, da mente ou da organização psicológica do indivíduo, tais
como: sensações, sentimentos, idéias, memórias, motivos e atitudes.
Desta forma, o significado é uma expressão dos elementos psicológicos que são colocados em ação quando da percepção do objeto: a
explicação do significado se dá a partir do isolamento de elementos
psicológicos que produzem os significados.
Os interacionistas não consideram o significado nem como intrínseco ao objeto nem como originado de uma fusão de elementos
psicológicos pessoais. Dentro da perspectiva interacionista, os significados emergem do processo de interação entre pessoas. Assim,
o significado de um objeto se constrói a partir das ações de outros
indivíduos sobre um indivíduo que considera o objeto: as ações
dos demais definem a coisa para o indivíduo (BLUMER, 1998). Isto
quer dizer que os significados dos objetos são produtos sociais
formados a partir das atividades executadas pelas pessoas em suas
interações com outros indivíduos.
Enquanto o significado das coisas é formado no contexto das
interações sociais e deriva da pessoa envolvida nesta interação, o
uso do significado pela pessoa envolve um processo interpretativo
dividido em duas etapas: a indicação do indivíduo a si mesmo das
coisas sobre as quais ele age; e a interpretação. A primeira etapa
envolve um processo social internalizado onde o ator interage consigo mesmo. Durante a interpretação o ator seleciona, verifica,
reagrupa e transforma os seus significados à luz da situação em
que está inserido e da direção de sua ação. Este é um processo
formativo no qual os significados são usados e revisados como
instrumentos de formação e direcionamento das ações.
O Interacionismo Interpretativo procura conciliar a proposta
do interacionismo simbólico com os trabalhos interpretativos e
fenomenológicos de Heidegger e a tradição associada à
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hermenêutica e, assim, propor estudos que façam sentido dentro
do período pós-moderno (DENZIN, 1989). Na seção seguinte realizamos a conciliação destes conceitos e encerramos a constituição
do conceito do interacionismo interpretativo a partir da análise da
fenomenologia de Heidegger.
3.2. Os constituintes fenomenológicos do Interacionismo
Interpretativo
A fenomenologia surgiu no final do século XIX, como uma tentativa de desvelamento do inexplicável, do subjetivo e do irracional,
tendo o filósofo Husserl como fundador. Para Husserl,
ontologicamente, o mundo é experiencial e o subjetivo é a fonte de
todas as objetividades (BURRELL e MORGAN, 1982). Assim, o
fenomenologista não deve se preocupar com as realidades factuais,
mas sim com a questão central do significado, da essência do fenômeno. Desta forma, julgamentos e pressupostos são colocados de
lado, permitindo que o pesquisador possa descrever e clarificar a
estrutura essencial do mundo “real” através da meditação sobre a
essência da experiência (CARVALHO e VERGARA, 2002;
GOULDING, 1999). A fenomenologia husserliana é baseada no
questionamento do senso comum e das atitudes pré-concebidas,
em busca das essências dos fenômenos.
Dois movimentos são a base da fenomenologia: redução e construção. A redução fenomenológica (epoché), como propõe ThiryCherques (2004), consiste em explicitar o objeto tal como manifesto
(noema) de uma determinada forma (noese). Assim, a realidade é
colocada entre parênteses, as crenças, preconceitos ou suposições
sobre o objeto são suspensos. A epoché provê os meios de se entrar
no reino da subjetividade fenomenológica (BURRELL e MORGAN,
1982). O pensamento visa o objeto e possibilita desvendar o sentido
que o leva ao significado do objeto para o indivíduo.
A construção é um retorno à fundação das realidades colocadas
inicialmente em suspenso, quando surge sentido para a consciência.
O Interacionismo Interpretativo adota a posição de Heidegger e
não parte de considerações sobre um eu abstraído do mundo externo e da comunidade humana, mas sim a partir da experiência cotidiana: a vida cotidiana é a vida do indivíduo. A fenomenologia
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suspende, assim, o exame dos determinantes subjacentes às crenças das pessoas, para procurar descrever as implicações, as intenções e os efeitos daquilo que os indivíduos dizem, fazem e acreditam que seja verdadeiro (GOULDING, 1999).
Como forma de instrumentalização do método fenomenológico,
Heidegger propôs a abordagem interpretativa, ou hermenêutica, e
o círculo hermenêutico para (re)criação do conhecimento: (1) compreensão; (2) interpretação/ação; e (3) nova compreensão. A
interação entre sujeitos, então, é compreendida a partir da linguagem e a redução do sentido cotidiano das palavras faz com que os
significados implícitos sejam revelados. Os elementos essenciais da
linguagem são a expressão e a significação, mas a expressão por si
só pode ser insuficiente como qualificação: o significado é associado
aos fonemas da palavra (ANDRADE e TANAKA, 2001). Portanto,
é através da linguagem que a vida cotidiana ganha significado para
o indivíduo: a linguagem marca as coordenadas da vida do indivíduo
na sociedade e enche esta vida de objetos dotados de significação
(BERGER e LUCKMAN, 2004). Conforme propõem Berger e
Luckman (2004), o indivíduo apreende a realidade da vida diária
como uma realidade ordenada, com fenômenos previamente dispostos em padrões independentes da apreensão que o indivíduo
tem deles e que se impõem a sua apreensão. A realidade da vida
cotidiana aparece já objetivada, independente da participação do
indivíduo. É neste ponto que a linguagem ganha importância, pois é
utilizada na vida cotidiana como fonte dos significados dos objetos e
determinante da ordem em que os objetos adquirem sentidos.
Na seção seguinte trataremos da operacionalização da proposta
do Interacionismo Interpretativo, intimamente ligada ao programa
fenomenológico e suas características.
4. Operacionalização do Método
Transformar a proposta metodológica em instrumento de
pesquisa envolve alguns desafios para o pesquisador. O primeiro
deles envolve a preparação do pesquisador e sua familiaridade com a
proposta metodológica. Todos os pesquisadores têm suas convicções
sobre o mundo e sobre as relações de pesquisa e não necessariamente devem abandoná-las. Na verdade a pesquisa interpretativa
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exige um pesquisador treinado e capaz de se relacionar com o mundo
à sua volta de forma particularmente crítica: os conceitos e questões
básicos que o investigador traz ao estudo são parte da pesquisa.
Estes conceitos e questões determinam a forma com a qual teremos
uma compreensão antecipada sobre o objeto-problema. Todo
questionamento é guiado antecipadamente pelo que é observado.
A pesquisa interpretativa começa e termina com a biografia e o self
do pesquisador (DENZIN, 1989) e depende de suas habilidades de
participação, entrevista e escuta. A preparação do pesquisador é
necessária para o processo interpretativo, mas não é suficiente para
a construção de uma pesquisa de caráter interpretativo uma vez que
cada perspectiva metodológica possui características próprias.
A operacionalização metodológica do Interacionismo
Interpretativo compreende seis etapas, que são interdependentes.
O primeiro passo é a formulação do problema de pesquisa e é
determinante para a adequação e o sucesso do processo de pesquisa.
Ao formular o problema de pesquisa o pesquisador tem de considerar as características do problema, da forma que lhe é revelado e
suas convicções científicas. O Interacionismo Interpretativo tem uma
proposta direta de atuação: examinar como (e não porque) experiências
problemáticas são organizadas, percebidas e construídas pelos
indivíduos em interação e como são construídos os significados
associados a estas experiências. O pesquisador procurará descobrir como a ação problemática (ou evento) em questão age sobre a
organização e a construção de significados para as pessoas estudadas
(DENZIN, 1989).
A utilização da proposta do Interacionismo Interpretativo pode
ser interessante para os estudos de consumo desde o começo, não
por ser “nova” (inédita) no campo, mas por ser uma nova forma de ver os problemas de consumo. Quando alteramos a nossa perspectiva de entendimento do mundo do consumo, e mais
especificamente do consumidor, surgem problemas diferentes que
exigem visadas diferentes. Assim, ao nos depararmos com novas
perspectivas de pesquisa, poderemos contar com um suporte
metodológico para estudar como os consumidores se apropriam
dos significados sociais das mercadorias e simultaneamente os constroem. Tal proposta pode levar a uma expansão da compreensão
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sobre o consumidor e resultar em novas teorias do consumidor,
mais adequadas inclusive à realidade (relacional) brasileira. Adotemos como exemplo: Como a mulher brasileira constrói a imagem
de produtos esportivos?
Depois de formulado o problema de pesquisa, o pesquisador
deve analisar criticamente a forma com a qual este problema tem
sido apresentado, estudado e analisado em outras pesquisas existentes e como as teorias relativas a este problema foram construídas.
Esta desconstrução servirá para que o pesquisador desvende os
vieses e os pré-conceitos envolvidos e consiga localizar o seu estudo
em contraste a este corpo de trabalho existente.
A pesquisa interpretativa utiliza o círculo hermenêutico ao colocar o pesquisador e o sujeito da pesquisa no centro do processo.
Um círculo interpretativo (ou duplo-hermenêutico) é implicado, já
que o sujeito que apresenta uma história pessoal está no centro da
vida que é contada e o pesquisador, que lê e interpreta esta história,
está no centro de sua interpretação. Duas estruturas interpretativas,
deste modo, interagem uma com a outra. Cada círculo sobrepõe o
nível que o pesquisador é capaz de vivenciar, a seu modo, a experiência do sujeito e suas histórias particulares. Estes círculos
nunca estarão completamente superpostos, uma vez que as experiências do sujeito nunca serão as mesmas que a do pesquisador: a
expectativa se dá em torno da compreensão. A desconstrução lida
com o que foi feito com o fenômeno no passado, mas é necessário
que o pesquisador trate do fenômeno na situação presente para que
seu estudo tenha sentido. Desta forma, o pesquisador precisa localizar e situar o que está sendo estudado dentro do mundo natural e
capturar o fenômeno em questão.
A captura envolve a coleta de casos múltiplos e histórias pessoais
que incorporem o fenômeno em questão e a localização das crises e
epifanias nas vidas das pessoas estudadas. Assim, devem ser obtidas
dos sujeitos em questão múltiplas histórias pessoais e auto-histórias
que envolvam o tópico investigado. Alguns momentos
experienciados pelos indivíduos são únicos, marcam suas histórias
de vida e atuam na configuração de seus arranjos de compreensão
do mundo, suas racionalidades e emoções. Estes momentos colocam o individuo frente a seu mundo, reconstruindo-o e dando-lhe
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novos formatos a partir das novas interações presenciadas e suas
relações com os resultados das interações anteriores. Tais momentos são as epifanias. A seguir, transcrevemos um relato longo que
demonstra este momento de tomada de consciência. Nele, a entrevistada fala sobre a sua relação com o remo, o barco, os prazeres da
prática, e as responsabilidades associadas a essa prática:
O barco na Lagoa foi legal também porque você treina primeiro
num tanque, você corre, você se prepara para aquele momento e
aí quando você entra num barco, é a primeira vez que você entra
num barco sozinha...apesar de ser um barco horroroso, você olha
e fala: ‘pô, responsabilidade!’ Esse barco está na minha mão, estou
começando mesmo, agora é pra valer, entendeu? Na verdade,
eu sempre tive vontade de fazer remo, eu gosto de estar ao ar
livre, do ambiente ao ar livre, eu não consigo entender como eu
fiz tanto tempo de musculação, eu estou até procurando um esporte pra fazer hoje em dia e uma das coisas que eu pensei é que
tem que ser ao ar livre. É algo que me faz bem. Eu olhava pro
remo e falava: – ‘cara, isso deve ser muito gostoso’. Você estar lá
no barquinho, no meio da Lagoa Rodrigo de Freitas de manhã
cedo, aquele sol fraquinho ainda, isso é uma baita forma de você
começar bem o seu dia. Era bom estar na Lagoa, mas levantar da
cama era triste. E depois do treino era ótimo, parecia que você
tinha malhado horrores, que você estava linda, maravilhosa, vinte
quilos mais magra, que você podia comer tudo o que você tinha
direito pra ir pra aula. E até os perigos do esporte é algo que
marca muito também. Eu lembro que um dia a gente pegou uma
tempestade no meio da Lagoa, a gente estava no meio da Lagoa,
quando o céu ficou cinza, o tempo virou, começou a chover
muito. Entrava água dentro do barco e estávamos as três no meio
da Lagoa. A gente olhava uma pra cara da outra apavoradas: ‘vamos levar o barco de volta!’. Porque a prioridade no remo é o
barco, se você cair, você pega o remo bota em cima do barco e
pode ir nadando, levando o barco de volta pra não perder o barco. Eu achei que ia virar, aquele negócio ia virar: - ‘cara eu vou
fazer de tudo pra não virar, entendeu? Se virar, eu não vou conseguir voltar pra dentro do barco!’. Então, a gente: - ‘vamos levar o barco, vamos levar!’ Olhando e dando instrução errada
uma para outra. Depois a gente parou pra conversar com o treinador sobre aquilo ali e ele já estava vindo de longe atrás da
gente já que a gente demorou pra chegar porque a gente estava
longe pra caramba. (Mulher, 28 anos).
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O termo epifania denomina as festas cristãs do Dia de Reis,
quando a santidade de Deus é celebrada e a vida é abençoada.
Denzin (1989) pega emprestado de James Joyce o significado que
este último construiu para as epifanias, ao descrever momentos de
interação que deixam marcas positivas ou negativas nas vidas das
pessoas. Freqüentemente estes momentos marcantes são
experienciados como problemas pessoais que se tornam assuntos
públicos posteriormente. Com a constituição de uma sociedade
baseada no consumo e não mais na produção, como propõem
Douglas e Isherwood (2004) e Baudrillard (1991), as experiências
individuais ou coletivas que ocorrem em situações de consumo
passaram a ter importância central na vida dos indivíduos. Ora,
parece claro que poderíamos buscar compreender o consumo, os
consumidores e as estruturas daí formadas a partir da interpretação
das epifanias de consumo. Assim, durante a captura o pesquisador
deve conduzir suas entrevistas de forma a extrair dos indivíduos
entrevistados estas epifanias.
O pesquisador tem de ser capaz de construir uma descrição
densa das experiências coletadas junto aos indivíduos. Conforme
proposto por Denzin (1989), a partir do conceito de Geertz (1989), a
descrição densa procura resgatar os significados e experiências que
ocorreram em situações no campo e capturar as interpretações que
as pessoas dão aos eventos que foram registrados. Seu objetivo é
reportar as interpretações da forma com que elas foram apresentadas durante a interação e, assim, estabelecer as bases para uma interpretação densa. Muito mais do que descrever uma situação
acessada, os elementos participantes e os interesses envolvidos nos
fenômenos, a descrição densa procura deixar explícitas todas as
estruturas superpostas, referências e implicações, através das quais o
pesquisador pode compreender o fenômeno de forma mais completa.
No caso do exemplo apresentado, observamos algumas questões marcantes para a entrevistada, no tocante à sua inserção em
um ambiente novo e, geralmente, restrito ao consumidor masculino. Os efeitos sobre o corpo, que serão observados por todos em
seguida, durante a aula. Observamos a maneira com a qual ela expõe
a sua satisfação com o resultado do exercício e com as experiências
vividas neste novo ambiente, o desafio imposto pela tempestade e
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a sua superação, o medo e suas responsabilidades para com suas
companheiras (superar a adversidade), seu treinador (mostrar sua
capacidade) e seu clube (devolver o barco inteiro). Esta descrição
permite uma série de interpretações sobre esta experiência de consumo
e sobre o universo esportivo e social da mulher.
A interpretação densa procura descobrir os meios que formam
e estruturam as experiências dos sujeitos e leva o leitor ao coração
da experiência que está sendo interpretada. Assim, o pesquisador
deve assumir que todo o significado é simbólico e operar tanto na
superfície quanto nas profundezas, em nível micro e macro: a tarefa é produzir descrições ricamente detalhadas que dêem conta das
experiências vivenciadas pelos indivíduos.
Uma vez construídas estas descrições detalhadas das experiências
vividas, o fenômeno é tratado como texto (ou como documento) e é
confrontado em seus próprios termos, distante dos termos em que
é interpretado na literatura existente. Neste momento, o fenômeno
é retirado do mundo no qual está inserido e dissecado, de forma
que seus elementos e estruturas essenciais sejam revelados, definidos e analisados. Como um fotógrafo que, não tendo certeza sobre
qual a melhor regulagem de sua câmera para a obtenção de uma
foto, estabiliza o aparelho e faz diversas fotos do mesmo objeto ou
cenário. Cada foto, contudo, é tirada com uma configuração diferente da máquina, o que resultará em diversas leituras diferentes
daquele objeto ou cenário. Ao comparar os resultados obtidos, o
fotógrafo encontra a foto que melhor reproduza o cenário real, e
pode até combinar várias fotos para obter os contrastes reais da
imagem. Esta figura serve para definir o bracketing, ou epoché, como
define Husserl, o momento em que o pesquisador coloca o fenômeno
sob séria inspeção.
O bracketing permite que o pesquisador liste os elementos constituintes de um fenômeno e proponha uma (re)construção do fenômeno. O pesquisador classifica, ordena e rearranja o fenômeno de
forma coerente. Durante a construção os elementos enquadrados
do fenômeno são listados e ordenados da maneira em que ocorrem
dentro do processo experiencial. O pesquisador indica como cada
elemento afeta e se relaciona a cada outro elemento no processo
estudado e propõe uma forma de construção do fenômeno em sua
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totalidade. O objetivo desta etapa é recriar a experiência vivida em
termos de seus elementos constituintes analíticos.
Ao interpretar as estruturas do fenômeno, o pesquisador lhe
dá significado dentro do mundo social. A contextualização traz o
fenômeno para os ambientes social e pessoal das pessoas estudadas.
A contextualização objetiva mostrar como o mundo da experiência
vivida altera e forma o fenômeno estudado, uma vez que as estruturas das experiências serão alteradas e formatadas na medida em
que forem vividas, descritas e atribuídas de significados por seus
participantes.
5. Considerações Finais
Utilizando a perspectiva da interação simbólica de Blumer, aliada
à fenomenologia hermenêutica de Heidegger, o Interacionismo
Interpretativo propõe a observação das interações entre indivíduos
e a busca da compreensão da construção dos significados individuais
a partir da interpretação destas interações. O foco no indivíduo em
ação, suas interações e experiências vividas possibilita ao pesquisador uma aproximação do ponto de vista do indivíduo pesquisado.
Por mais que seja difícil a apropriação completa do universo simbólico do indivíduo por parte do pesquisador, o Interacionismo
Interpretativo aponta um caminho de aproximação ao mundo do
indivíduo e de suas construções de significados.
Como propõem Zinkham e Hirscheim (1992), não é difícil perceber a inserção do consumo em um mundo social e as possibilidades
que podem surgir do uso de propostas metodológicas alternativas
como o Interacionismo Interpretativo. Uma vez que os atores do
mundo do consumo interagem a todo o momento, os significados
de produtos passam a ter conformações diferentes a cada instante,
de acordo com o que ocorre em volta dos indivíduos. Ao nos
aproximarmos dos consumidores podemos buscar condições para
entender como estas configurações de significados de consumo se
originam e se modificam e são reconfiguradas durante as experiências
de consumo vividas pelo indivíduo.
O Interacionismo Interpretativo oferece o exame de como experiências problemáticas são organizadas percebidas e construídas
pelos indivíduos em interação. Desde a formulação do problema de
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pesquisa, a proposta de Denzin (1989) já oferece uma oportunidade
para a pesquisa acadêmica em marketing. O método pode auxiliar
na compreensão da construção de significados de consumo associados a experiências de consumo vividas por consumidores e desta
compreensão poderemos entender melhor como os consumidores
constroem valores de consumo. Assim, baseado principalmente no
processo hermenêutico de Heidegger, Denzin (1989) propõe seis etapas para operacionalização do método.
A cada etapa é reforçado o caráter interpretativo dessa proposta e a
necessidade de o pesquisador se preparar para a condução correta de
cada passo. O pesquisador treinado precisa ser capaz de se relacionar
como mundo à sua volta de forma crítica e ter em mente que ele próprio
é parte da pesquisa. Ao investigar momentos críticos para o consumidor (epifanias), novas compreensões podem surgir para eventos
de consumo. Contudo, somente ao perceber sua compreensão antecipada sobre os objetos o pesquisador será capaz de ter consciência sobre
seus preconceitos e poderá desvendar o significado mais essencial deste
objeto. Esta desconstrução tornará possível que o pesquisador realize
observações úteis para as múltiplas visadas sobre o material coletado e
dará sentido à (re)construção do objeto dentro de um contexto.
A partir de uma conformação de mundo mais complexa e,
consequentemente, de relações de consumo muito mais complexas, o acadêmico de marketing se encontra em posição incômoda:
ao mesmo tempo em que encontra soluções para alguns problemas
de consumo descobre outros tantos em que não consegue penetrar.
O limitado repertório metodológico se reflete em sua produção e
no descompasso entre o desenvolvimento da disciplina e os problemas com os quais se depara (HUDSON e OZANNE, 1988;
BROWNLIE et al. 1999 , no Brasil CASOTTI, 1998). Ao incorporar
novas propostas metodológicas em seu repertório, a pesquisa
acadêmica em marketing pode alcançar novos horizontes, tornandose capaz de gerar um corpo teórico próprio. Isto posto em perspectiva do desenvolvimento de teorias de consumo nacionais próprias
ganha ainda mais relevância. Assim, este trabalho buscou apresentar
uma perspectiva metodológica, baseada no paradigma interpretativo,
que pode ser incorporada ao acervo da pesquisa acadêmica em
marketing e pode auxiliar o pesquisador a compreender melhor o
mundo do consumo e desenvolver novas teorias.
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Figura 01: Etapas do Processo Interpretativo
Formulação do Problema de Pesquisa
Desconstrução
Captura
Bracketing
(Re)Construção
Contextualização
Fonte: Adaptado de Denzin (1989).
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nova perspectiva teórica para as pesquisas qualitativas. Ensaios e
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Validade e Confiabilidade na Pesquisa Etnográfica
Aplicada em Empresas*
Ana Akemi Ikeda1
Julio Puschel2
Renato Cortopassi Pelissaro3
A crescente utilização da pesquisa etnográfica na pesquisa aplicada realizada
por empresas tem o potencial de proporcionar uma gama de informações
de grande riqueza aos profissionais de marketing, particularmente no
entendimento do comportamento do consumidor, seus valores, crenças e
atitudes em relação à aquisição de novos produtos. Por outro lado, as
limitações que podem surgir durante a realização destes estudos – no que
concerne principalmente aos custos e tempos envolvidos – podem acabar
por comprometer a validade e confiabilidade destes estudos. Analisando
um caso específico de aplicação de pesquisa etnográfica em uma empresa, e
contrapondo-o à literatura sobre validade e confiabilidade nas pesquisas
qualitativas, foram levantados diversos problemas de condução do processo de pesquisa e avaliação dos resultados, que podem potencialmente
vir a se repetir em situações em que a pesquisa é realizada dentro de severas
restrições metodológicas. O relato desses problemas não tem a intenção
__________________________________________
Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial/ Universidade Estácio
de Sá - Rio de Janeiro. Editora responsável: Isabel de Sá Affonso da Costa
* Artigo recebido em 03/03/2008. Aceito em 07/04/2008. Artigo submetido a revisão double-blind.
1
Professora de Marketing da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
da Universidade de São Paulo (FEA/USP). Doutora em Administração pela FEA/USP.
Livre-Docente pela Universidade de São Paulo. Vice-coordenadora do MBA de Marketing da Fundação Instituto de Administração (FIA). Endereço: Av. Professor Luciano
Gualberto, 908 – Sala E 104 – São Paulo/SP- CEP: 05508-900. E-mail: [email protected].
2
Bacharel em Publicidade e Propaganda pela Universidade Anhembi-Morumbi.
Mestrando em Administração de Empresas da Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP). E-mail:
[email protected].
3
Bacharel em Publicidade e Propaganda pela Escola de Comunicação e Artes da
Universidade de São Paulo (ECA/USP). Especialista em Administração de Empresas
pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Mestrando em Administração de
Empresas da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da
Universidade de São Paulo (FEA/USP). E-mail: [email protected].
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.41-60 - jan/abr, 2008
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Ana A. Ikeda, Julio Puschel e Renato C. Pelissaro
de desestimular o uso da pesquisa etnográfica em empresas, mas sim
alertar para os problemas que podem decorrer da opção pela execução de
uma versão reducionista deste tipo de técnica.
Palavras-chave: pesquisa qualitativa; etnografia; validade e confiabilidade.
Keywords: qualitative research; ethnography; validity and reliability.
Validity and reliability of business ethnographic research
Companies are increasingly using ethnographic research on its research
projects, which allows their marketing professionals to gather a rich and
vast amount of information on the company’s customers’ behaviors and
their deepest values, beliefs, and attitudes towards acquiring new products.
On the other hand, there are severe limitations that may arise during the
execution of these studies – most of the times as a result of budget and time
constraints – that may affect their validity and reliability, sometimes even
putting on stake the very own reason why the research was being conducted.
After a specific case study analysis and its comparison to the literature review
on validity and reliability concepts applied to qualitative research, it was
possible to point out some issues both on the research process execution
and the results analysis that could happen when ethnographic researches
are conducted under methodological restrictions. These conclusions do not
intend to prevent the usage of ethnography on applied research, but they
do intend to call attention to the potential problems that may take place
when choosing to apply a reducing version of this technique.
1. Introdução
Vencidas as barreiras de desconfiança quanto à sua validade e
representatividade, os métodos de pesquisa qualitativa que já têm
sua aplicação na pesquisa científica acadêmica disseminada, vêm
crescendo também na pesquisa aplicada realizada por empresas
dos mais diversos setores.
Dentro deste contexto, um método adaptado da antropologia - a pesquisa etnográfica - é um dos que têm mais atraído a
atenção de empresas que buscam entender o comportamento do
consumidor tendo por base as ações e atitudes, mais do que suas
declarações e opiniões.
42
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.41-60 - jan/abr, 2008
Validade e Confiabilidade na Pesquisa Etnográfica Aplicada em Empresas
Ainda que seja salutar a variação e adoção de técnicas emergentes de pesquisa no âmbito empresarial, esta aplicação
comumente passa por adaptações e restrições visando redução de
custos e prazos de execução que acabam por descaracterizar e
invalidar os elementos fundamentais que constituem os pilares
científicos de sua utilização.
Este trabalho tem por objetivo identificar os elementos fundamentais que garantem a validade e confiabilidade desta técnica de
pesquisa e compará-los à observação de um caso específico de estudo etnográfico que foi desenvolvido dentro de uma empresa, para
identificar os possíveis desvios.
Para tanto, foi realizado um levantamento bibliográfico acerca do
tema e foram contrapostas as características dissonantes observadas
no caso analisado.
2. Validade e Confiabilidade em Pesquisa Qualitativa
Muitos diálogos contemporâneos têm focado a dificuldade de
se estabelecer um critério para validade na pesquisa qualitativa.
Desenvolver padrões de validade na pesquisa qualitativa é um desafio devido à necessidade de incorporar rigor e subjetividade como
também criatividade no processo científico (WHITTEMORE;
CHASE; MANDLE, 2001).
Para Long e Johnson (2000, p. 31), em termos quantitativos,
validade tem o significado de “a determinação de se um instrumento de mensuração realmente mede o que é suposto medir” ou
“grau na qual um instrumento mede o que pretende medir”. A palavra
tem raízes no latim, da palavra validus, que significa robusto; e valere,
ou ser forte.
Adaptando para o campo qualitativo, Aldridge e Aldridge
(1996) propõem que a validade de um trabalho qualitativo repousa
em argumentos fortes e robustos. O poder de tal argumento é
estabelecer as premissas nas quais o argumento é baseado, ou seja,
mostrar que o trabalho é bem fundamentado, conduzir as premissas
que estão sendo utilizadas, desenvolver um conjunto de interpretações
e observações relevantes e fazer com que essas interpretações sejam
dignas de crédito. Validade é um termo geral usado em pesquisa
para estabelecer veracidade em um trabalho. Assim, em projetos
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Ana A. Ikeda, Julio Puschel e Renato C. Pelissaro
qualitativos a palavra validade representa credibilidade e autenticidade (KOCH, 1994). Na perspectiva de Hammersley (1992, p. 69)
“um relato é válido ou verdadeiro se ele representa precisamente
as características do fenômeno que tenciona descrever, explicar ou
teorizar”, segundo ele validade é a verdade, interpretada como a
extensão na qual um relato representa de forma precisa o fenômeno
social em estudo. Alguns autores insistem no uso de termos alternativos à validade em pesquisa qualitativa, como Guba e Lincoln
(1989), que sugerem o termo credibilidade. Eles argumentam que
validade refere-se à realidade ingênua do positivismo, que tenta
estabelecer isomorfismo entre os achados e a realidade objetiva.
Validade é mais amplo que confiabilidade e de acordo com
Andréani e Conchon (2005, p. 6) “um estudo qualitativo é confiável
se a metodologia permite observar a realidade”, e argumentam que
a confiabilidade é o primeiro passo em direção à validade. A questão é
saber se o roteiro de entrevista não contém vieses e erros e se as informações são estáveis (serão obtidas as mesmas informações se o estudo for
refeito). Então, é dependente dos entrevistados e dos métodos de coleta
de dados. Segundo os mesmos autores a confiabilidade de pesquisa
qualitativa no sentido de reprodução comparativa é sempre questionada, porém a flexibilidade é uma clara vantagem da pesquisa qualitativa
e muito mais importante que confiabilidade no sentido de reprodução.
Na perspectiva de Hammersley (1992, p. 67) confiabilidade “refere-se
ao grau de consistência com a qual exemplos são designados à mesma
categoria por observadores diferentes ou pelo mesmo observador em
diferentes ocasiões”.
Para Stenbacka (2001), a confiabilidade, como tradicionalmente usada, ou seja, a habilidade do método produzir os resultados
da pesquisa de forma repetida, não é relevante na pesquisa qualitativa. Na validade, o poder de generalização e o esmero têm significados distintos nesse contexto:
O entendimento do fenômeno é válido se os informantes escolhidos são parte da área do problema e se a interação entre pesquisador e
informantes proporciona aos últimos a oportunidade de falar livremente de acordo com suas próprias estruturas de conhecimento.
Uma completa descrição de todo processo possibilita a
“intersubjetiviadade condicional”, que indica boa qualidade no uso
de método qualitativo.
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Validade e Confiabilidade na Pesquisa Etnográfica Aplicada em Empresas
A generalização analítica é importante na pesquisa qualitativa,
o que é possibilitado pela escolha estratégica de informantes relevantes para o estudo e não por amostras estatísticas.
A descrição sistemática e cuidadosa do todo o processo de
interação com a realidade estudada é o que indica boa qualidade
no método qualitativo (STENBACKA, p. 555).
Validade em pesquisa qualitativa está relacionada com descrição
e explicação e se a explicação se ajusta à descrição. Pesquisadores
da área qualitativa também convergem em que não há apenas uma
forma de interpretar um evento e não há uma interpretação que
seja “a correta” (JANESICK, 1999).
Cho e Trent (2006) propõem dois enfoques para a validade em
pesquisa: a transacional e a transformativa. A validade transacional
na pesquisa qualitativa é o processo interativo entre pesquisador,
pesquisado e o dado coletado, que procura alcançar um nível de
confiabilidade maior e um consenso através da revisão de fatos,
sentimentos, experiências e valores ou crenças coletadas e interpretadas; já a validade transformativa na pesquisa qualitativa é o
processo progressivo e emancipatório liderado por uma mudança
social que é alcançada pelas motivações da pesquisa.
Desta forma, a validade e a confiabilidade podem ser
conseguidas pelo rigor do processo definido pelo pesquisador e pela
estratégia definida no planejamento de pesquisa. Mas, Whittemore;
Chase e Mandle (2001) argumentam que o rigor teórico na pesquisa qualitativa não deve eliminar a criatividade e a participação do
pesquisador no processo da pesquisa.
A próxima seção analisa o conceito de triangulação. Muitos
autores, entre eles, Jick (1979); Hall e Rist (1999), Kekäle (2001);
Whittemore, Chase e Mandle (2001); Andréani e Conchon (2005)
sustentam que a validação em pesquisa qualitativa é obtida por
triangulação.
3. Triangulação
O potencial para conhecer mais a respeito de um fenômeno por
meio de métodos de pesquisa em uma investigação empírica é
frequentemente discutido sob a rubrica de “triangulação”. Nessas
discussões, os termos “integração”, “combinação” e “mistura”
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.41-60 - jan/abr, 2008
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Ana A. Ikeda, Julio Puschel e Renato C. Pelissaro
tendem a ser usados de forma intercambiável, suprimindo o conceito
de triangulação. Isso, segundo Moran-Ellis (2006), é problemático,
pois obscurece uma diferença essencial entre o resultado dos métodos combinados (reivindicados à triangulação) e o processo no qual
diferentes métodos e bases de dados se relacionam.
Para Decrop (2004), triangulação implica que um ponto único é
considerado a partir de três processos diferentes e independentes e
é baseado na analogia do triângulo. Deriva da topografia e foi usado
inicialmente nas ciências de navegação e militares, sendo adaptado
de forma produtiva nas investigações das ciências sociais. O medidor usa dois locais como ponto de referência para identificar o seu
– a terceira posição (HALL e RIST, 1999). Campbell e Fiske (1959)
introduziram o conceito como sinônimo de validade convergente
na apresentação da matriz multimétodo/ multitraço. Webb et al.
(1966) e Jick (1979) refinaram o conceito, definindo-o como a combinação de métodos quantitativos e qualitativos, defendendo que
deveriam ser vistos como complementares e não como campos rivais.
Mais tarde, o conceito de triangulação recebeu maior atenção em
pesquisa qualitativa como forma de obter aceitação.
Triangulação significa olhar para o mesmo fenômeno, ou questão
de pesquisa, a partir de mais de uma fonte de dados. Informações
advindas de diferentes ângulos podem ser usadas para corroborar, elaborar ou iluminar o problema de pesquisa. Limita os vieses pessoais e
metodológicos e aumenta a generalização de um estudo (DECROP, 2004).
Denzin (1978) identifica quatro tipos de triangulação:
triangulação de dados, triangulação do investigador, triangulação
da teoria, e triangulação metodológica.
- Triangulação de dados significa coletar dados em diferentes
períodos e de fontes diferentes.
- Triangulação do investigador é o uso de pesquisadores diversos
para estudar a mesma questão de pesquisa ou mesma estrutura,
presumindo que pesquisadores diferentes irão trazer perspectivas,
reflexões e análises diferentes.
- Triangulação da teoria enfatiza que a pesquisa deve examinar o fenômeno a partir de diferentes pontos teóricos para ver qual seria o mais
robusto para ajudar a clarificar e explicar o que está sendo estudado.
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Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.41-60 - jan/abr, 2008
Validade e Confiabilidade na Pesquisa Etnográfica Aplicada em Empresas
- Triangulação metodológica refere-se ao uso de múltiplos métodos para obter os dados mais completos e detalhados possíveis
sobre o fenômeno.
Assim, pesquisadores podem melhorar a precisão de seus
julgamentos coletando diferentes tipos de dados norteados pelo
mesmo fenômeno (JICK, 1979), “aumentando a crença que os resultados são válidos e não um artefato metodológico”
(BOUCHARD, 1976, p. 268). Estudos que usam apenas um método
são mais vulneráveis a erros ligados a esse método específico do
que estudos que usam múltiplos métodos, onde diferentes tipos de
dados propiciam averiguar validade dos dados cruzados (PATTON,
1990). A triangulação possibilita uma visão mais geral e diferentes
ângulos e perspectivas do mesmo fenômeno melhorando a capacidade de análise e decisão do pesquisador.
Na próxima seção serão abordados conceitos sobre a pesquisa
etnográfica especificamente e sua aplicação nas pesquisas na área
de administração.
4. A Pesquisa Etnográfica
Dentre as abordagens metodológicas, a pesquisa qualitativa
etnometodológica tem suas raízes plantadas na fenomenologia, com
marcas do interacionismo simbólico e da sociologia weberiana
(LIMA et al., 1996). A definição de etnografia encontrada em dicionários, como normalmente acontece em relação a disciplinas, é bastante vaga: estudo dos povos e de sua cultura (WIELEVICKI, 2001).
A etnologia e a etnografia foram criadas e desenvolvidas no
campo da antropologia. O objeto de estudo da etnologia é a investigação de modo comparativo de diferentes grupos de pessoas, de
maneira a compreender as leis gerais de coexistência humana e
forma comum de vida, verificando também sua origem, crescimento
e desaparecimento (HABERLANDT, 1926)
Etno é um termo grego que significa povo. Os gregos o utilizavam para denominar outros povos que não eles mesmos, ou
seja, os bárbaros. Grafia significa a descrição, que pode ser total
ou parcial da religião, da cultura ou das relações sociais
(GOULDING, 2002).
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.41-60 - jan/abr, 2008
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Ana A. Ikeda, Julio Puschel e Renato C. Pelissaro
De acordo com a terminologia da escola francesa, a etnografia
designa a coleta de informações no campo, enquanto que a etnologia
diz respeito à análise e interpretação deste material referente ao
estudo da cultura. A antropologia, literalmente a “ciência do homem”, em seu conjunto tem por objetivo a construção de modelos
que permitem comparar as sociedades entre si (LAPLATINE, 1988).
Arnould e Wallendorf (1994) salientam que a etnografia não é um
simples método de coleta de dados, mas um método que procura entender como a cultura ou subcultura, ao mesmo tempo construída
e formulada pelo comportamento humano e suas experiências, pode
explicar padrões de comportamento. Tais padrões são, portanto,
explicados pela cultura e sociedade e não por padrões cognitivos.
Wielevicki (1991) argumenta que descrever ou explicar conceitos,
crenças e significados do ponto de vista de um grupo social, em
conexão com seus arredores, não é uma tarefa simples, se é que
se pode afirmar que seja possível. Não se pode esquecer que,
uma vez estabelecido o contato entre o pesquisador e sujeitos, se
estabelece também uma relação de poder que pode influenciar
os achados da pesquisa.
Mesmo que a pesquisa etnográfica lance mão de diferentes fontes
e de instrumentos para coletar seus dados e analisar as informações
obtidas, as diversas vozes que constituem o discurso do pesquisador
e dos sujeitos estarão sempre presentes, relacionando-se e criando
novas vozes (WIELEVICKI, 2001).
A etnografia é uma metodologia propícia para descobrir a maneira de viver e as experiências das pessoas - a sua visão do mundo, os
sentimentos, ritos, padrões, significados, atitudes, comportamento
e ações. Esta perspectiva permite apreender o fenômeno humano
na sua totalidade (LIMA et al., 1996).
Atkinson e Hammersley (1994) argumentam que no início, a
pesquisa etnográfica não visava à intervenção social ou comercial,
buscava apenas compreender a natureza humana, a afiliação social
e condução da vida diária. Porém, com o tempo, o método passou a
ser aplicado não apenas para grupos exóticos e primitivos, mas
também em contextos urbanos.
Independente do tipo de metodologia empregada na etnografia,
o pesquisador preocupa-se em estabelecer não somente a perspectiva
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Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.41-60 - jan/abr, 2008
Validade e Confiabilidade na Pesquisa Etnográfica Aplicada em Empresas
do nativo (emic), ou seja, aquele que é objeto de estudo, mas também
a perspectiva do pesquisador (etic) (MOREY e LUTHANS, 1984).
O julgamento de uma pesquisa com base em conceitos de verdade e relevância implica acepções epistemológicas. Convencer uma
audiência de que as evidências apresentadas são suficientes só é
possível quando pesquisador e audiência entram em um tipo de
acordo sobre a suficiência dos argumentos apresentados. Para isso, há
de haver uma coincidência, pelo menos parcial, entre o pesquisador e
sua audiência sobre a origem e legitimidade do conhecimento
envolvido na geração da pesquisa (WIELEVICKI, 2001).
A pesquisa etnográfica pós-moderna não tem a preocupação
de representar verdadeiramente a cultura de um grupo de pessoas;
ela reconhece o indivíduo fragmentado e a impossibilidade de
totalização do conhecimento (WIELEVICKI, 2001).
Ikeda, Pereira e Gil (2006) descrevem que a neutralidade do pesquisador pode ser uma limitação na aplicação da pesquisa etnográfica
na administração e no marketing uma vez que o pesquisador é um
observador participante inserido no contexto da pesquisa.
Na próxima seção, serão apresentadas as características principais de um estudo etnográfico realizado em uma empresa e que
servirá de base para a discussão do assunto.
5. Características Gerais do Exemplo Analisado
A pesquisa foi conduzida por uma grande empresa atuante
na área de tecnologia. A pesquisa será o exemplo de análise
deste estudo.
O objetivo primário da pesquisa era identificar quais valores e
sentimentos influenciavam o comportamento de uso de sites e programas de relacionamento na internet.
Na estruturação do projeto de pesquisa, a opção foi por desenvolver um estudo exploratório etnográfico com 11 famílias de diferentes
perfis sócio-econômicos, e em diferentes estágios de proficiência e
tempo de utilização da internet como ferramenta de comunicação e
informação. O objetivo da diversidade de perfil dos participantes
selecionados era, de certa forma, tentar reunir no grupo analisado
pessoas que representassem a variedade de perfis de uso encontrada
na população de internet do país como um todo.
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Ana A. Ikeda, Julio Puschel e Renato C. Pelissaro
Para a seleção das famílias participantes foi contratado um instituto de pesquisas, que utilizou, como fonte de recrutamento, seu
banco de dados de participantes, além de recomendações recebidas dos próprios profissionais do departamento de marketing da
empresa patrocinadora do estudo.
Embora as limitações de um método de seleção baseado em
recomendações sejam evidentes pela tendência de se verificar menor
variância no grupo, a necessidade de montagem e organização do
projeto em um espaço curto de tempo foi uma limitante decisiva
para que a empresa recorresse a um processo de seleção que
pudesse formar o grupo a ser estudado com mais agilidade.
Definidos os participantes, a fase seguinte foi de montagem dos
questionários-base usados no primeiro estágio de desenvolvimento
da pesquisa. Eles foram montados de forma a orientar a exploração
dos seguintes aspectos:
- Objetivos pessoais, atividades diárias, valores e práticas: como
os participantes orientam suas atividades diárias e fazem escolhas
e priorizações tendo em vista seus objetivos de curto e longo prazo,
bem como se há consonância entre estes objetivos e os valores familiares e dos grupos de convívio onde essas pessoas estão inseridas.
- Contexto pessoal: entendimento de como os objetivos, atividades e valores se manifestam ao longo das diferentes dimensões e
estágios da vida. O objetivo era que estas informações permitissem
que o estudo pudesse considerar o contexto de vida dos participantes e levar em consideração o impacto disto na formulação das
conclusões e no entendimento das diferenças de comportamento
nos diferentes grupos.
Com a definição dos aspectos a serem observados, foram
determinadas as seguintes táticas para a obtenção dos dados:
- Observação in loco: Como os objetivos, valores e atividades de
cada participante se refletem na utilização da internet no dia-a-dia.
Para a realização da observação, a antropóloga permanecia durante
12 horas ao longo do dia, durante três dias consecutivos, na casa de
cada família estudada.
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Validade e Confiabilidade na Pesquisa Etnográfica Aplicada em Empresas
Durante a observação in loco, foram conduzidas entrevistas em
profundidade com os participantes para colher informações específicas sobre o momento de vida de cada um dos membros da família
participante. Principais aspectos explorados:
- Projetos de vida: O que os participantes estabeleceram como
metas de vida, quais os meios e o papel da tecnologia na consecução
destas metas.
- Contexto histórico: Entendimento da percepção dos participantes em relação ao tipo de comportamento que eles tinham no passado,
que têm hoje, e quais os fatores que mais influenciaram esta mudança.
- Contexto de percepção compartilhada: Como os participantes
acham que são percebidos socialmente e checagem de realidade
com membros da família.
O perfil das 11 famílias participantes visitadas foi obtido a partir
de uma divisão, com base em critério demográfico e psicossocial,
em que houvesse pelo menos uma família em cada um dos diferentes
perfis indicados a seguir:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
Homem, solteiro, sem filhos, mas atualmente com relacionamento estável;
Mulher, solteira, sem filhos, mas atualmente com relacionamento estável;
Casal, sem filhos, ambos trabalhando;
Casal, com filhos pequenos (até 5 anos de idade);
Casal, com filhos adolescentes (até 18 anos);
Casal aposentado com até 60 anos;
Casal aposentado com até 70 anos.
Todas as observações e entrevistas foram conduzidas por uma
antropóloga americana especializada em comportamento do
consumidor na indústria de tecnologia, com o trabalho de campo
sendo conduzido nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro durante
os meses de novembro e dezembro de 2005.
Duas conclusões principais foram obtidas pelo estudo. A primeira
aponta a possibilidade de que seja traçada uma relação entre o uso de
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Ana A. Ikeda, Julio Puschel e Renato C. Pelissaro
sites de relacionamento e serviços de comunicação online como forma de
aumentar a sensação de proteção em relação aos perigos gerados pelo
ambiente externo à família (principalmente a violência urbana).
Neste caso – verificado principalmente nas famílias em que já
havia histórico anterior de violência, como assalto, assassinato, etc.
– o uso do computador como meio para intermediar relações e comunicações com amigos e familiares serve como uma barreira de
proteção, evitando que as pessoas precisem se expor ao ambiente
externo para se encontrar pessoalmente.
A conclusão obtida pela antropóloga fundamentou-se na
recorrente citação do problema da violência urbana por parte de
algumas das famílias pesquisadas, e a contraposição do uso da
Internet como forma segura de se manter contato com os amigos e
familiares, ainda que haja também a percepção de que sites de relacionamento e comunidades são ambientes incontroláveis em que,
eventualmente, pode haver contato com pessoas que ameacem a
estabilidade e a segurança familiares.
A segunda conclusão obtida foi que o uso intenso que ocorre
no Brasil de sites de relacionamento seria derivado da percepção
popular de que manter laços de relacionamento com o maior número possível de pessoas ajuda a fortalecer conexões interpessoais,
que podem ser valiosas na obtenção de algum benefício pessoal,
como conseguir uma recomendação para um emprego ou um convite
para participar de uma festa interessante, por exemplo.
Segundo a pesquisadora, esse tipo de comportamento é
comumente verificado em culturas em que o papel do grupo é preponderante na composição do valor social do indivíduo, atuando
como elemento ao mesmo tempo formado e formador da identidade
coletiva e exercendo um papel coercitivo para que as pessoas tenham
o desejo de “fazer parte” e pertencer ao grupo.
6. Principais Problemas de Validade e Confiabilidade
Identificados no Exemplo
Há várias diferenças que podem ser apontadas entre o caso
observado e o método científico adequado identificado no levantamento teórico para garantir a validade e confiabilidade do estudo.
Como forma de estruturar a análise, os problemas foram separados
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Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.41-60 - jan/abr, 2008
Validade e Confiabilidade na Pesquisa Etnográfica Aplicada em Empresas
em dois grupos: problemas de reducionismos na condução da pesquisa e problemas de avaliação dos resultados.
6.1 Problemas de reducionismos na condução da pesquisa
Como facilmente dedutível pelo rol de requisitos técnicos de
uma pesquisa etnográfica com validade e adequação metodológica,
os custos envolvidos e o prazo de execução de um projeto como
este muitas vezes acabam por limitar ou, até mesmo, por inviabilizar
seu desenvolvimento em plenitude, o que pode acarretar a criação
de formas reducionistas de execução que eventualmente podem
comprometer a qualidade e fidelidade das conclusões obtidas.
Elliot e Jankel-Elliot (2003) já apontavam a dificuldade de se conduzir uma pesquisa etnográfica com consumidores, particularmente
em função dos custos proibitivos de se manter um pesquisador em
campo por longos períodos de tempo. Os autores denominavam tais
estudos com restrições reducionistas de quase-etnografia.
Tendo isto em vista, o primeiro fator-chave que pode ser identificado como diferença em relação à teoria é o tempo de permanência em
campo. Tomando por base também a definição de Goulding (2005), de
que o objetivo do estudo etnográfico é o entendimento – em seu ambiente natural – da construção e manutenção de determinada cultura por
meio de um pequeno grupo social, fica claro que o tempo de permanência e observação realizado com cada família (três dias) é insuficiente
para permitir ao pesquisador um entendimento adequado de todos os
fatores culturais que podem influenciar não apenas as relações
interpessoais dos membros da família, mas também seus objetivos, aspirações e comportamento de consumo em geral.
O tempo escasso de observação acaba influindo também para
que o comportamento apresentado pelos participantes sofra efeitos mais fortes de influência causados pela presença de um elemento
exógeno ao seu dia-a-dia – no caso, o próprio pesquisador. Em prazos mais longos de observação, o impacto de uma presença externa
tende a ser diluído e minimizado com a internalização do pesquisador como membro do grupo; porém, em um período tão curto,
compromete o processo de entendimento e mapeamento do “nativo” em suas condições reais de existência (BARBOSA, 2003).
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Ana A. Ikeda, Julio Puschel e Renato C. Pelissaro
Outro fator importante de reflexão em relação ao processo de
seleção da amostra é o uso de um banco de dados com pessoas com
participação prévia em outros projetos de pesquisa e o uso de indicações de profissionais da empresa patrocinadora.
A experiência prévia em exposição a técnicas de pesquisa pode
influenciar as respostas e ações tomadas pelos componentes dos
grupos de estudo, tanto aumentando como diminuindo
desproporcionalmente a consonância com as respostas que seriam
supostamente esperadas pelos pesquisadores. O uso de participantes
indicados por pessoas da empresa patrocinadora – embora facilite
a montagem de grupos com o perfil demográfico desejado – também compromete a validade da amostra selecionada, tendendo
a compor um grupo com um perfil mais homogêneo do que o
normalmente esperado.
Como forma de complementação à observação na coleta de
dados foram conduzidas entrevistas semi-estruturadas com os
participantes durante o tempo de permanência e observação na
residência das pessoas. Este procedimento é recomendado por
Denzin (1978) como “triangulação metodológica”, isto é, devem-se
utilizar múltiplos métodos para obter informações mais completas
sobre o fenômeno. Poder-se-ia, também, neste caso, usar os recursos sugeridos pela triangulação, como “a triangulação de dados”,
ou seja, entrevistar outros membros da família e voltar a coletar
dados em outros ou diferentes períodos.
Fetterman (1989) aponta que a entrevista é uma importante fonte
de coleta de dados do pesquisador envolvido na pesquisa etnográfica,
pois possibilita a compreensão daquilo que foi observado e experimentado pelo pesquisador em um contexto mais amplo.
Dadas as restrições de tempo e profundidade para execução do
projeto, as entrevistas semi-estruturadas conduzidas assumiram papel ainda mais relevante de levantamento de dados no caso analisado,
cumprindo papel que seria normalmente desempenhado pela observação do grupo em projetos etnográficos com formatação mais clássica.
6.2 Problemas na avaliação dos resultados
As limitações e problemas na avaliação dos resultados estão
fortemente relacionados às dificuldades e problemas metodológicos
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Validade e Confiabilidade na Pesquisa Etnográfica Aplicada em Empresas
verificados na condução da coleta dos dados. Com informações
obtidas sem o rigor apropriado e sem a profundidade necessária, a
avaliação dos resultados pode até se balizar por pilares
conceitualmente corretos, mas deve ser questionada se sua essência
realmente se baseia em um levantamento de informações que dê
suporte às conclusões tomadas.
Como efeito, embora a ênfase na análise dos dados coletados
na pesquisa pela empresa em questão tenha sido corretamente dada
à exploração da natureza dos fenômenos sociais observados, é de
se questionar se o levantamento realizado de fato permite que tal
avaliação seja levada a cabo.
Outra técnica que poderia ter sido usada como forma de enriquecer
o processo de análise dos dados seria a identificação de categorias
e instâncias nos dados por meio da desagregação do texto em fragmentos, para depois reagrupá-los por temas (GOULDING, 2005).
Esses problemas poderiam ser mitigados com o uso da
triangulação, que, na pesquisa etnográfica, é inclusive facilitada pela
múltipla fonte de dados inerente ao processo.
Por fim, um outro ponto de questionamento é a tentativa de se
tirar conclusões com base nas observações realizadas. Pela sua própria natureza exploratória, a pesquisa etnográfica tende a levantar
mais pontos de questionamento para investigações futuras do que
responder problemas já conhecidos sobre o grupo.
Elliot e Jankel-Elliott (2003) reforçam esta defesa apontando que
quando alguma resposta é encontrada em um estudo etnográfico,
não pode ser considerada conclusiva, mas sim, exploratória.
Assumir que algumas das características observadas no grupo
estudado podem ser inferidas para uma população outra que não a
estudada é prática inadequada em qualquer pesquisa qualitativa,
como a própria etnografia.
7. Considerações e Limitações
É salutar que o uso de pesquisas etnográficas venha se estendendo também à pesquisa aplicada realizada por empresas. Seu foco na
descoberta das razões mais profundas de determinadas atitudes e
comportamentos permite que determinadas áreas do marketing –
em particular, o estudo do comportamento do consumidor – possam
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.41-60 - jan/abr, 2008
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Ana A. Ikeda, Julio Puschel e Renato C. Pelissaro
ter uma visão mais holística dos elementos culturais e sociais que
permeiam as atitudes e as motivações que direcionam o comportamento de determinados grupos de consumidores.
Na avaliação dos resultados, o perfil de cada família necessitaria
ser mais detalhado, uma vez que seus valores e sentimentos ligados
ao comportamento de uso de sites e programas de relacionamentos
na Internet (objetivo da pesquisa) são provavelmente bastante ligados à sua história e relacionamento social dentro e fora da família.
O fato de a pesquisa ter sido realizada apenas nas cidades de São
Paulo e Rio de Janeiro também restringe as descobertas; uma vez
que, em cidades menores, os resultados poderiam ser completamente diferentes, com adição de idéias novas e surpreendentes.
Por outro lado, os custos e a complexidade de desenvolvimento de um projeto deste cunho podem levar empresas a aplicar esta
técnica com sérias restrições metodológicas, comprometendo o
entendimento e as oportunidades de questionamento que são gerados pela observação do grupo, e, portanto, a própria validade e
confiabilidade do estudo. O uso planejado e consciente da
triangulação poderia atenuar os problemas de confiabilidade e
confiabilidade, o que não foi feito na referida pesquisa.
As conclusões e os achados verificados na análise deste caso –
assim como em qualquer outro estudo de caso – não podem ser
inferidos para outras empresas ou para as práticas que são adotadas
pelo mercado como um todo, mas são um indicativo dos riscos de
entendimento que podem ser gerados caso práticas reducionistas
de pesquisa etnográfica (ou a chamada pesquisa quase-etnográfica)
sejam consideradas sem que a empresa esteja consciente das limitações de validade e confiabilidade que estas restrições impõem às
informações obtidas.
Ainda que a empresa consiga reduzir ao máximo os riscos envolvidos em um projeto como este, há várias nuances de influência
na análise dos resultados que não devem ser desprezadas. No caso
verificado, por exemplo, a própria origem norte-americana da pesquisadora e a existência de um possível inconsciente coletivo na
população brasileira de que estrangeiros estão mais suscetíveis/
sujeitos a sofrer violência pelo seu desconhecimento da realidade
do país, pode ter induzido que parte dos participantes tenham citado
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Validade e Confiabilidade na Pesquisa Etnográfica Aplicada em Empresas
mais a questão da violência do que poderia ter ocorrido do que se a
pesquisa tivesse sido conduzida por um antropólogo brasileiro. Se,
por um lado, isso representa uma vantagem, por trazer uma pessoa
sem condicionantes prévias de interpretação da realidade do país,
por outro há o risco de que influências deste tipo tenham impacto
na relação do pesquisador com seu objeto de estudo.
Para o futuro, fica o desafio de entendimento de como são
realizadas pesquisas etnográficas em empresas de outras indústrias e em outras áreas da administração, para que possam ser
levantadas características de aplicação que eventualmente possam
servir de aprendizado para o desenvolvimento de um modelo
adequado e viável de aplicação da técnica de pesquisa etnográfica
no âmbito empresarial.
Vale ressaltar que as entrevistas no método etnográfico são
suplementares às observações, pois possibilitam a coleta de informações adicionais àquelas coletadas utilizando observação
participante. Por meio das entrevistas é possível coletar outras
informações relevantes para a obtenção da perspectiva do
pesquisado. Dessa forma, como pesquisa exploratória, é útil para
levantar questões e hipóteses a serem investigadas posteriormente.
A despeito de suas limitações a pesquisa etnográfica pode e
deve ser utilizado para se conhecer mais o comportamento humano.
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Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.41-60 - jan/abr, 2008
Uma Avaliação da Cadeia Meios-Fim no Abastecimento
de Combustível Automotivo*
José Roberto Ribas1
José Luiz Trinta2
Zilda Maria Contesini Santos 3
O artigo tem por objetivo examinar o vínculo entre construtos que influenciam a criação de valor no processo de decisão por abastecimento
automotivo em postos de combustível. Optou-se por utilizar o conceito
da cadeia meios-fim na tentativa de explicar o relacionamento entre os
antecedentes do valor percebido, conforme proposto por Zeithaml (1988).
A amostra selecionada é representada por uma parcela não representativa
coletada em cinco postos de abastecimento de combustíveis escolhidos
por procedimento aleatório e sistemático, localizados na cidade de Volta
Redonda-RJ. Conclui-se que a marca do posto e o “custo não-monetário”
não se caracterizaram como relevantes no julgamento do consumidor sobre a qualidade do combustível e, assim, com baixa percepção positiva
sobre valor, representando muito pouco no processo de decisão de compra.
Tais resultados indicaram a validação parcial do modelo.
Palavras-chave: cadeias meios-fim; valor percebido; combustíveis.
Keywords: means-end chain; perceived value; fuels.
__________________________________________
Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial/ Universidade Estácio
de Sá - Rio de Janeiro. Editora responsável: Isabel de Sá Affonso da Costa
* Artigo recebido em 05/03/2008. Aceito em 15/04/2008. Artigo submetido a revisão double-blind.
1
Professor do Programa de Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial da Universidade Estácio de Sá (MADE/UNESA). Doutor em Administração pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo – Fundação Getulio
Vargas (EAESP/FGV). Endereço: Av. Pres. Vargas, 642/22o andar - Rio de Janeiro
- RJ - CEP: 20071-001. E-mail: [email protected].
2
Coordenador geral do curso de Graduação em Marketing da Universidade Estácio
de Sá (UNESA). Professor adjunto do curso de Graduação em Administração das
Faculdades IBMEC-Rio de Janeiro. Doutor em Administração pela Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/
USP). Email: [email protected].
3
Mestre em Administração pelo Programa de Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial da Universidade Estácio de Sá (MADE/UNESA). Email:
[email protected].
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.61-87 - jan/abr, 2008
61
José Roberto Ribas, José Luiz Trinta e Zilda Maria C. Santos
An evaluation of the means-end chain in automotive fueling
This paper aims at assessing the connection among constructs influencing
the value creation in a decision process of automotive fueling in gas
stations. It was decided to adopt the means-end chain concept on
attempting to explain the relationship among antecedents of the perceived
value, as proposed by Zeithaml (1988). The selected sample is represented
by a non-representative share drawn up through a systematic random
selection criteria, collected from five gas stations chosen randomly, all
located in Volta Redonda-RJ city. It was concluded that the gas station
brand and the ‘non monetary costs’ were characterized themselves as less
relevant in the consumer judgment of the fuel quality and, therefore, less
influent on the positive perception of value, what means very little on the
purchasing decision process. Such outcomes depict the partial validation
of the theoretical model.
1. Introdução
Em 1990 foi criado o Programa Federal de Desregulamentação,
uma iniciativa que visava imprimir ao país uma ação mais liberal,
inserindo-o na ordem mundial vigente, marcada por uma nova relação entre o Estado e as empresas. Um dos seus atos foi substituir
o antigo Conselho Nacional de Petróleo - CNP, órgão ao qual o
funcionamento de empresas da área estava subordinado, pelo Departamento Nacional de Combustíveis – DNC (ANP, 2007). Como
reflexo foram: (a) liberados os preços de alguns produtos, a exemplo
dos lubrificantes automotivos; (b) flexibilizadas normas para aberturas de postos, as quais passaram para a competência municipal; e
(c) permitida a pratica de descontos aos revendedores, nas vendas
ao consumidor, baseadas no preço máximo determinado pelo governo. Outro fator importante foi a orientação tomada, em relação
à atividade de distribuição de combustíveis, no sentido de facilitar
o surgimento de empresas, totalmente novas ou formadas a partir
de acordos operacionais. Em janeiro de 1997 houve uma mudança
importante no mercado de combustíveis, por meio de portaria do
DNC, que liberou o vínculo existente entre as distribuidoras e os
postos, estes estabelecidos através de contratos de venda mercantil
e denominados por “contratos de bandeira” (ANP, 2007). Foi
62
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.61-87 - jan/abr, 2008
Uma Avaliação da Cadeia Meios-Fim no Abastecimento de Combustível Automotivo
permitida aos postos a liberdade de comprar das distribuidoras que
desejassem, deixando de ser obrigatório adquirir o produto daquelas que lhes deram a marca. Assim, o setor antes regulamentado e
concentrado entre poucas distribuidoras passou a se configurar em
um ambiente sujeito a maior concorrência. De um lado as distribuidoras denominadas popularmente por “postos de bandeira”,
reconhecidos por exibirem a marca comercial da distribuidora de
combustível e pelo compromisso em comercializar combustíveis
exclusivamente fornecidos pelo distribuidor, detentor da marca comercial exibida. Do outro os postos que optaram por não exibir
marca comercial do distribuidor, referidos por “postos de bandeira
branca”, caracterizados por não estarem vinculados a nenhuma
distribuidora e por poderem adquirir combustíveis de qualquer
empresa autorizada a operar.
Decorrente destas mudanças ambientais, a presente pesquisa
justifica-se pelo fato dos postos de abastecimento de combustíveis
encontrarem-se, atualmente, inseridos em um mercado competitivo,
cuja oferta depende não somente dos atributos do produto, mas
também, da redução dos sacrifícios impostos ao consumidor. Assim,
analisar as percepções acerca da reputação da marca e dos preços
monetário e não-monetário, assume importância quando se pretende
estudar o comportamento dos consumidores envolvidos na compra de um produto com baixa diferenciação intrínseca. O objetivo
da pesquisa, aqui apresentada, foi de avaliar o modo como os
construtos qualidade e valor percebido influenciam o consumidor
ao avaliar as alternativas entre postos de gasolina.
2. Referencial Teórico
Zeithaml (1988, p. 4) propôs um modelo para a conceituação
do valor percebido em um contexto de serviços onde, por meio de
um estudo exploratório com grupos de foco, associou os construtos
qualidade e valor em uma estrutura cujos elementos de menor nível, ou exógenos, eram o preço monetário, os atributos extrínsecos
e os atributos intrínsecos do produto. Os atributos intrínsecos
compreendem os componentes físicos e as características funcionais,
tais como design, cor, resistência, sabor e matérias-prima. Os atributos extrínsecos estão associados ao produto sem, entretanto,
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.61-87 - jan/abr, 2008
63
José Roberto Ribas, José Luiz Trinta e Zilda Maria C. Santos
fazer parte da sua composição física, a exemplo do preço, propaganda, marca e disposição no ponto de venda. A proposta faz uma
distinção entre preço objetivo e preço percebido. O primeiro é expresso no padrão monetário, enquanto o segundo refere-se a um
nível mais abstrato, utilizado por alguns consumidores, que por
não lembrar o preço exato, mantêm um registro mental aproximado do nível de preço do produto, como sendo barato ou caro. Neste
contexto, a qualidade percebida é definida como a avaliação do
consumidor sobre o nível de vantagem, excelência ou superioridade
do produto. Além do preço percebido, a aquisição e o uso do produto geram outros custos de natureza não monetária, como tempo
e esforço. Os dois tipos de preços, o monetário e o não monetário,
combinam-se afetando a percepção do indivíduo sobre o nível de
sacrifício correspondente à compra e ao consumo da oferta. O modelo mostra que o processo de decisão de compra é influenciado
pelas avaliações dos consumidores quanto aos atributos intrínsecos
e extrínsecos de um produto, levando-os a formar percepções de
qualidade, preço e valor das diferentes alternativas consideradas
para compra. Neste processo, pode-se dizer que os atributos do
produto levam o indivíduo a identificar a presença de benefícios
ou a ausência de sacrifícios, formando uma percepção geral em relação ao produto. Compreende-se o papel dos atributos do produto
quando eles são integrados em um modelo de cadeias meios-fim,
que uma vez associados aos benefícios, que funcionam como os
meios utilizados na avaliação do consumidor, buscam atingir os
valores terminais, ou o fim (GUTMAN, 1981, 1982; SCHOLDERER,
BRUNSO e GRUNERT, 2002). O consumidor interpreta suas percepções, elabora julgamentos sobre os atributos - benefícios, custos
e valor da oferta - até chegar à decisão de compra. Os benefícios e
custos resultam do julgamento do comprador sobre as conseqüências
dos atributos intrínsecos e extrínsecos quando o produto é consumido e eles são representados pelo comprador com um grau mais
elevado de abstração do que os atributos. Há um custo monetário
percebido equivalente ao julgamento do consumidor sobre o preço.
Os atributos relevantes são aqueles que, no entendimento do comprador, apontam, sinalizam ou geram benefícios importantes, ou que
diminuem seus sacrifícios. Estes resultados sugerem evidências
conflitantes com relação ao peso relativo dos atributos nas decisões
64
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.61-87 - jan/abr, 2008
Uma Avaliação da Cadeia Meios-Fim no Abastecimento de Combustível Automotivo
do comprador, pois durante a avaliação, o consumidor privilegia
uma ou outra classe de atributos, dependendo da categoria do
produto que deseja adquirir.
Para Zeithaml (1988), duas proposições ajudam a estruturar esta
análise:
1) Quando os atributos intrínsecos prevalecem nas avaliações
dos compradores, os quais ocorrem: a) durante o consumo do produto ou serviço; b) nos estágios que antecedem a compra, quando
os atributos intrínsecos caracterizam-se mais como elementos de
procura (características que podem ser avaliadas antes da compra)
do que como atributos experienciais (características que somente
podem ser avaliadas durante o consumo); c) quando os atributos
extrínsecos possuem elevado valor preditivo para o consumidor
acerca do valor do produto.
2) Quando os consumidores recorrem mais aos atributos
extrínsecos, que podem ser observados: a) nas situações de primeira compra, quando os indicadores intrínsecos do produto não
estão disponíveis; b) quando o consumidor conclui que o esforço
e o tempo exigidos para avaliar os atributos intrínsecos não são
compensadores; c) quando o consumidor mostra-se incapaz de
avaliar os atributos intrínsecos.
3. Metodologia
Este estudo foi estruturado em três etapas, sendo: (i) adoção de
um modelo descritivo e estabelecimento das hipóteses de pesquisa; (ii) coleta de dados da amostragem para o pré-teste e análise
fatorial exploratória; (iii) coleta de dados para a pesquisa final, análises
fatoriais exploratória e confirmatória.
A primeira etapa resulta na realização de um levantamento para
identificação dos atributos relevantes para o consumidor na escolha de um posto de gasolina. O modelo adotado neste estudo foi o
proposto por Zeithaml (1988), o qual demonstra que o processo de
decisão de compra é influenciado pelas avaliações dos consumidores quanto aos atributos intrínsecos e extrínsecos de um produto,
levando-os a formar percepções de valor sobre qualidade e preço,
das diferentes alternativas consideradas para compra. A segunda
etapa compreende a pesquisa piloto (pré-teste) necessária para valiRevista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.61-87 - jan/abr, 2008
65
José Roberto Ribas, José Luiz Trinta e Zilda Maria C. Santos
dar o modelo teórico na prática, observando se os pesquisados possuíam perfeito entendimento sobre o instrumento de mensuração, e
se este apresentava consistência interna para todos os construtos. A
terceira etapa correspondeu à correção de algum elemento inconsistente detectado no instrumento de medição, ampliação do tamanho
da amostra, revalidação dos construtos por meio da análise fatorial
exploratória e confirmação da especificação do modelo com uma
análise fatorial confirmatória. Os dados do estudo em questão foram
coletados com o auxílio de um questionário estruturado, auto-administrado, preenchido pelo entrevistado sem a interferência do
entrevistador. Organizado por seções, o questionário foi composto
por: (i) uma introdução explicando os objetivos da pesquisa; (ii) questões sócio-demográficas e; (iii) vinte e uma questões vinculadas ao
objeto da pesquisa. Para a mensuração das respostas de opinião dos
consumidores, utilizou-se a escala Likert de sete pontos, variando de
“1” para “discordo totalmente” até “7” para “concordo totalmente”.
Dentre os vinte postos de gasolina da cidade de Volta Redonda, foram selecionados aleatoriamente cinco postos com bandeira
e dois postos sem bandeira, observando o critério de
proporcionalidade. Para o pré-teste, foram extraídas amostras aleatórias sistemáticas por quotas, segundo a ordem de chegada dos
veículos que solicitavam abastecimento de gasolina. O período da
primeira coleta ocorreu durante o horário comercial nos dias úteis
da primeira semana do mês de abril de 2007, tendo sido obtidas 10
observações por posto com bandeira e 25 observações por posto
sem bandeira, totalizando 100 questionários válidos. Quando o sujeito
se negava a participar da pesquisa, era abordado o sujeito seguinte
que estacionava seu veículo para o mesmo fim. Não foram rejeitados aqueles que, ao abastecer no posto, declararam não residir na
cidade de Volta Redonda. O preenchimento do questionário foi
realizado durante o tempo de espera enquanto ocorria o abastecimento do veículo. Para a análise final, constatada a validação da
consistência interna dos construtos a partir da análise fatorial
exploratória, optou-se pela simples ampliação do tamanho da amostra
quando, segundo o mesmo critério, foram entrevistados mais 100
sujeitos, completando assim 200 observações válidas.
O questionário foi elaborado a partir do modelo teórico, onde
foram utilizados os seguintes construtos:
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Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.61-87 - jan/abr, 2008
Uma Avaliação da Cadeia Meios-Fim no Abastecimento de Combustível Automotivo
i.
ii.
iii.
iv.
v.
vi.
vii.
Reputação (03 questões);
Atributos Intrínsecos (03 questões);
Qualidade percebida (03 questões);
Preço monetário percebido (03 questões);
Preço não-monetário percebido (03 questões);
Alto nível de abstração (03 questões) e
Valor percebido (03 questões).
4. Hipóteses
Os consumidores são frequentemente questionados sobre o
que pensam ou sentem com relação a um produto, objeto ou atividade, sendo suas respostas uma expressão de sua atitude. Geralmente gostam ou desgostam de alguma coisa (objeto, produto ou
atividade), sem discutir as razões que os levam a esse sentimento.
Percebe-se que, formalmente ou não, a preocupação com o consumo
e a constatação de existir um consumidor em cada um de nós tem
gerado polêmica com relação a como lidar com tais comportamentos
(KARSAKLIAN, 2004).
Segundo Monroe (1973), o preço percebido expressa o preço
do produto em um padrão monetário subjetivo atribuído pelo
consumidor. Nickels e Wood (1999, p. 173) adotam o conceito de
“valor do cliente como sendo a percepção do cliente sobre as
preferências e as avaliações dos atributos do produto, do
desempenho desses atributos e das conseqüências originadas pelo
uso”. Os clientes enxergam o produto como um conjunto de
atributos e seus desempenhos quando compram e usam o produto,
desenvolvem preferências e desejos por alguns destes atributos, que
lhes proporcionam as conseqüências desejadas nas situações de uso,
ou conceito de valor em uso, atendendo seus objetivos e gerando
satisfação com o valor recebido. Chang e Wildt (1994) encaram o
preço monetário percebido pelo consumidor como um sacrifício do
qual resulta um impacto negativo sobre o valor percebido. Mais
recentemente, Bolton, Lemon e Verhoef (2008) identificaram, em
um contexto transacional entre organizações, que a importância do
preço não se limitava a um simples atributo na decisão pela
renovação de contratos, mas atuava como variável mediadora para
o efeito da qualidade do serviço.
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.61-87 - jan/abr, 2008
67
José Roberto Ribas, José Luiz Trinta e Zilda Maria C. Santos
H1 – Preço monetário percebido é construto antecedente ao valor percebido.
Parasuraman et al. (1985), ao definirem qualidade, reportam-se
a este construto como evasivo e vago, não se mostrando de fácil
articulação por parte dos consumidores. Garvin (1992, p. 59-73) identifica as dimensões da qualidade como o desempenho, as características secundárias do produto, confiabilidade, conformidade,
durabilidade e atendimento pós-compra. Zeithaml e Bitner (2003,
p. 86), identificam “qualidade como uma característica de superioridade ou excelência, ou seja, a qualidade percebida corresponde
ao julgamento do consumidor sobre a superioridade genérica de
um produto”. Ressalte-se que o conceito de qualidade percebida
extrapola a avaliação dos atributos específicos do produto, propiciando que a avaliação de qualidade ocorra dentro de referências do
próprio consumidor e, desta forma, está diretamente relacionado
com a sua atribuição de valor ao produto.
H2 – Qualidade percebida do produto é construto antecedente ao valor
percebido.
O construto preço não monetário percebido refere-se a um
nível mais abstrato utilizado por alguns consumidores, que podem
não ter memorizado ou não lembram o preço exato, mas que
mantêm um registro mental aproximado do nível de preço do
produto (como sendo barato ou caro, por exemplo). Ravald e
Gronroos (1996) estenderam o conceito para valor percebido, até
então entendido como a relação entre benefícios e sacrifícios
monetários e não-monetários conforme estabelecido por Monroe
(1991), adicionando os benefícios e sacrifícios decorrentes do
relacionamento. Os dois tipos de preços, o monetário e o não
monetário, combinam-se afetando a percepção do indivíduo sobre o
nível de sacrifício correspondente à compra e o consumo da oferta.
São ainda considerados outros custos não monetários, a exemplo
do tempo despendido no processo de compra, pesquisas ou esforço
necessário para compra (GRONROOS, 2003). Assim, pretende-se
compreender a influência do preço não monetário sobre o valor
percebido, a partir da seguinte hipótese:
68
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.61-87 - jan/abr, 2008
Uma Avaliação da Cadeia Meios-Fim no Abastecimento de Combustível Automotivo
H3 – Preço não monetário percebido é construto antecedente ao valor
percebido.
Ayrosa (1998, p. 1) esclarece que os “[...] atributos intrínsecos
estão tão diretamente relacionados às características do produto que,
uma mudança neles significa uma mudança substancial, mesmo
física, no produto”. Por outro lado, segundo o autor, tal relação de
dependência não ocorre entre as características físicas do produto
final e os atributos extrínsecos. Para Zeithaml (1988) os atributos
intrínsecos prevalecem nas avaliações do consumidor por oferecerem
maior possibilidade de objetividade na avaliação do produto, nas
situações em que a referida possibilidade realmente se concretiza.
Sugere que, durante o consumo do produto os consumidores são
mais propensos a levar em conta os intrínsecos. Especifica-se a
seguinte hipótese para confirmação do modelo estrutural:
H4 - Qualidade percebida é construto conseqüente de atributos intrínsecos.
Grönroos (2003), Hamel e Prahalad (1995), Sveiby (1998) e
Garvin (1992) estabeleceram a reputação como um dos fatores que
contribuem para a imagem da organização, para a confiança e para
percepção da qualidade. Quando um consumidor não tem informações adequadas sobre os atributos intrínsecos de um produto,
acaba por adotar pistas extrínsecas para estimar a qualidade do
produto. Para Formbrun e Shanley, (1990, p. 233) “a reputação indica como os produtos, estratégicas e clientes potenciais de uma
determinada empresa estão se comparados com os mesmos de
empresas concorrentes”.
O consumidor sente-se confrontado a uma situação de escolha
diante de uma mesma categoria de produto ou uma grande variedade de modelos e de marcas, para a qual deverá utilizar certos
critérios de comparação. A marca que oferece a oportunidade dos
consumidores testarem seu produto demonstra assumir suas
responsabilidades e não temer o teste crítico a ser realizado pelos
mesmos. Tal marca passará uma imagem de credibilidade.
A reputação afeta as atitudes decorrentes do conhecimento e
das emoções de um indivíduo sobre uma gama de produtos, que
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.61-87 - jan/abr, 2008
69
José Roberto Ribas, José Luiz Trinta e Zilda Maria C. Santos
pode ser um fator relevante para atingir vantagem competitiva por
meio de diferenciação. Além disso, a reputação, que é normalmente
o produto de anos de demonstração de competência superior, é um
recurso frágil, leva tempo para ser criado, não pode ser comprado e
pode ser facilmente denegrido (HALL, 1992).
H5 – A qualidade percebida é um construto conseqüente de reputação.
No conceito de Zeithaml (1988), os consumidores tendem a absorver mais as informações com alto nível de abstração ao invés de atributos intrínsecos. Eles organizam informações em vários níveis de
abstração, estendendo-se desde simples atributo (características físicas) até complexos valores pessoais. E, de posse dessas informações
com alto nível de abstração constroem seu valor percebido. Sheth, Mittal
e Newman (2001, p. 493) consideram que o consumidor, ao escolher
uma alternativa entre as múltiplas marcas existentes em uma mesma
categoria de serviço, tende a procurar formas que possam ajudar a
simplificar e facilitar este processo de tomada de decisão levando em
conta o risco percebido. Engel, Blackwell e Miniard (2001), por sua vez,
consideram que o risco vai além da incerteza sobre as conseqüências,
sendo uma expectativa pessoal de que uma perda possa ocorrer.
H6 – O valor percebido é conseqüente do alto nível de abstração.
Monroe (1973, p. 72) destacou o relacionamento entre preço e
qualidade, em pesquisas que demonstraram que geralmente o comprador não tem uma informação completa a respeito da qualidade
dos produtos alternativamente ofertados. O preço influencia o valor
percebido pelo cliente tanto de forma negativa, quando visto como
um sacrifício a ser comparado com os benefícios que o produto oferece, ou quando associado ao nível de qualidade do produto, em
situações de pouca informação sobre o mesmo, como influencia de
forma positiva, quando o preço sinaliza status. O preço percebido é
formado baseado no preço objetivo (do produto) e o preço de referência para o consumidor (categoria a qual pertence o produto).
Para Zeithaml e Bitner (2003, p. 393), “o preço percebido pode
influenciar a qualidade percebida, que assim, influencia o valor
70
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.61-87 - jan/abr, 2008
Uma Avaliação da Cadeia Meios-Fim no Abastecimento de Combustível Automotivo
percebido”, no aspecto dos dois primeiros construtos, confirma as
constatações obtidas por Huntington (1990).
H7 – A qualidade percebida é afetada positivamente pelo preço
monetário percebido.
5. Modelo estrutural
Para Hair et al. (2005, p. 469) “modelo estrutural é um conjunto de
uma ou mais relações de dependência conectando os construtos
hipotetizados do modelo. O modelo estrutural é mais útil para representar as inter-relações de variáveis entre relações de dependência”.
Definido o referencial teórico, traçados os objetivos e as hipóteses,
foram estabelecidas quais variáveis independentes prevêem cada variável dependente, caracterizando, assim, o cunho conclusivo ou
confirmatório da pesquisa feita através do método quantitativo.
O modelo estrutural apresentado na Figura 1 reproduz a estrutura
proposta por Zeithaml (1988), o qual demonstra o relacionamento
entre os construtos que influenciam o consumidor na avaliação de
alternativas entre postos de gasolina.
Figura 1: Modelo Estrutural
Fonte: Zeithaml (1988).
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.61-87 - jan/abr, 2008
71
José Roberto Ribas, José Luiz Trinta e Zilda Maria C. Santos
5.1. Tratamento dos dados
Este estudo se insere na classificação de pesquisa descritiva,
que segundo Churchill (1987), objetiva conhecer e interpretar a
realidade, sem nela interferir para modificá-la.
Vergara (2005, p. 47) argumenta que a pesquisa descritiva expõe
as características de determinada população ou fenômeno, estabelece correlações entre variáveis e define sua natureza. “Não têm o
compromisso de explicar os fenômenos que descreve, embora sirva
de base para tal explicação”.
Locke et al. (1998, p. 128), consideram que a pesquisa descritiva
apenas captura e mostra um cenário de uma situação, expressa em
números e que a natureza da relação entre variáveis é feita na
pesquisa correlacional. Para tratamento dos dados coletados na
pesquisa foi utilizada a modelagem de equações estruturais (SEM).
5.2. Resultados do pré-teste
a) Consistência das Questões
Segundo Gil (1999), o pré-teste está centrado na avaliação do
instrumento, no caso o questionário, visando garantir que meça
exatamente aquilo que pretendem medir. O pré-teste objetiva
encontrar problemas de interpretação por parte dos entrevistados, bem como eliminar possíveis problemas. (MALHOTRA,
2006). Lakatos e Marconi (1991) consideram que o pré-teste serve,
também, para verificar se o questionário apresenta três importantes elementos:
Fidedignidade: qualquer pessoa que o aplique obterá sempre os mesmos resultados;
Validade: os dados recolhidos são necessários à pesquisa; e
Operatividade: vocabulário acessível e de significado claro.
Durante a aplicação dos questionários do pré-teste, nenhum
comentário foi apresentado pelos entrevistados que sugerisse a alteração das questões estabelecidas. As questões foram respondidas
em média de 10 a 15 minutos.
72
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.61-87 - jan/abr, 2008
Uma Avaliação da Cadeia Meios-Fim no Abastecimento de Combustível Automotivo
b) Exame dos Dados
O teste das estatísticas Z para amostra única de KolmogorovSmirnov registrou uma leve ocorrência de não-normalidade com
assimetria negativa em algumas das variáveis participantes na
especificação do modelo, decorrente de uma concentração de respostas em torno das medidas 1, 2 e 3 na escala métrica de Likert.
Entretanto, os coeficientes de assimetria e curtose indicaram normalidade ao nível de significância de 0,05, sendo assim considerados
paramétricos, situação esta que propiciou a utilização das variáveis originais sem tratamento, na execução e testes do modelo. A
inspeção visual sobre os gráficos do tipo scatterplot simples
construídos para combinações de variáveis duas a duas, não indicou
evidências da presença de comportamento não linear entre as medidas. Da mesma forma, o exame da existência de homocedasticidade
para as variâncias latentes foi realizado graficamente. Hair (2005,
p. 78-79) sugere que as distribuições resultantes dos rebatimentos
ortogonais do diagrama de dispersão entre pares de variáveis sejam normais. Não houve indícios da ocorrência de grau de assimetria
significativo em qualquer dos eixos, donde concluímos que as
variâncias dos construtos foram constantes. Os pares de variáveis
latentes foram ainda testados quanto à ausência de correlação utilizando dados transformados de Fisher, hipóteses estas rejeitadas ao
nível de significância de 0,05.
c) Análise da Especificação do Modelo
O primeiro passo na análise dos dados coletados no pré-teste
foi a avaliação da viabilidade da construção de um modelo, a partir
da análise de resultados obtidos a partir de uma análise inicial
exploratória com apoio do programa SPSS – Statistical Package for
the Social Sciences, versão 12.0. O índice de adequação da amostra
através do KMO resultou em 0,757, superior ao piso desejável de
0,5 estabelecido por Malhotra (2006, p. 550). O teste de esfericidade
de Bartlett, por sua vez, rejeitou a hipótese de inexistência de
covariância entre as variáveis ao nível de significância de 1%. A
menos de uma variável, todas as demais comunalidades resultaram em valores superiores a 0,7, atestando assim a contribuição da
variância das variáveis para a constituição dos fatores, determinando
assim a fatorabilidade do conjunto.
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.61-87 - jan/abr, 2008
73
José Roberto Ribas, José Luiz Trinta e Zilda Maria C. Santos
5.3. Análise da amostra final
Com base nos resultados apresentados no pré-teste, que definiu a
viabilidade do instrumento de mensuração, partiu-se para a segunda
etapa, que consistiu na avaliação estatística a partir de uma análise
fatorial exploratória. Foram aplicados outros 100 questionários, com
objetivo de atingir o tamanho amostral objetivo de 200 respondentes.
a) Análise Demográfica
Quanto ao “gênero”, a amostra foi composta por 80,5% de entrevistados do sexo masculino e 19,5%, feminino. A maior parte dos
respondentes encontra-se na faixa etária entre 18 a 49 anos, sendo 31,5 %
entre 18 a 29 anos, 28,5% de 30 a 39 anos, seguido pela faixa etária de 40
a 49 anos com 28,0%. A idade média é de 37 anos, sendo que 50% dos
respondentes possuem idade inferior a 36 anos. Com relação à formação dos respondentes, a amostra é composta, por 40,0% com o nível
superior completo, 37,5% com ensino médio completo a superior incompleto e 22,5% com até o ensino médio incompleto. A maior parte
dos entrevistados, no caso 24%, possui renda mensal compreendida entre
quatro e sete salários mínimos, seguida por 20% com renda de meio a
dois salários mínimos e 20% recebendo entre dois e quatro salários
mínimos. A renda média dos entrevistados é igual a cinco salários
mínimos e meio. Do total de respondentes 55,5% são funcionários de
empresa privada, 30% desempregados, estudante e do lar, 8% são funcionários de empresas públicas, 5% profissionais liberais, autônomos
ou empresários e 1,5% aposentados. Dos respondentes, 69% utilizam o
veículo para passeio, lazer ou deslocamento próprio e 31% para fins
comerciais por força da atividade. Entre os pesquisados, 88% sabem
distinguir o significado de um posto de gasolina com bandeira, restando
12% dos entrevistados que alegam desconhecer esse tipo de modalidade.
b) Análise Fatorial Exploratória
O cálculo do índice de adequação da amostra final, o KMO igual
a 0,806 revelou uma fatorabilidade muito satisfatória, mostrando
também boa adequação dos dados para a análise fatorial. O KMO
trata-se de um índice usado para avaliar a adequação da Análise
Fatorial como técnica. Esse índice compara as magnitudes dos
coeficientes de correlação observadas com as magnitudes dos coe74
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.61-87 - jan/abr, 2008
Uma Avaliação da Cadeia Meios-Fim no Abastecimento de Combustível Automotivo
ficientes de correlação parcial. Pequenos valores da estatística KMO
indicam que as correlações entre pares de variáveis não podem ser
explicadas por outras variáveis, e que a Análise Fatorial pode ser
inapropriada. É desejável que o KMO seja superior a 0,5.
(MALHOTRA, 2006, p. 550). Já o teste de esfericidade de Bartlett
resultou em valores para o qui-quadrado suficientemente elevados, o que rejeitou a possibilidade de que a matriz de correlações
fosse igual à matriz identidade ao nível de significância de 1%,
viabilizando assim a ocorrência de covariância entre as variáveis.
A matriz de cargas fatoriais da Tabela 1 permitiu comparar a
contribuição das variáveis por meio da sua correlação com cada
fator, para uma amostra maior de 100 entrevistados.
Tabela 1 - Componentes da Matriz de Cargas Fatoriais
Fatores
Variáveis
1
2
3
4
Reputação – 09
,213 ,041 ,029 ,098
Reputação – 10
,166 ,186 ,024 ,108
Reputação – 11
,014 ,110 ,064 ,051
,856 ,022 ,240 ,181
Atributos Intrínsecos – 12
,856 ,500 ,227 ,148
Atributos Intrínsecos – 13
,857 ,118 ,230 ,135
Atributos Intrínsecos – 14
Qualidade Percebida – 15
,192 -,034 ,863 ,093
Qualidade Percebida – 16
,220 ,051 ,841 ,146
Qualidade Percebida – 17
,224 ,029 ,785 ,154
Preço Monetário – 18
,060 ,057 ,183 ,106
Preço Monetário – 19
-,057 -,051 ,147 ,017
Preço Monetário – 20
,268 ,257 ,011 ,195
Preço Não Monetário – 21
,087 ,039 ,016 -,003
Preço Não Monetário – 22
-,018 ,138 -,135 ,017
Preço Não Monetário – 23
-,057 ,088 ,081 -,044
Alto Nível de Abstração – 24 ,099 ,909 -,039 ,086
Alto Nível de Abstração – 25 ,120 ,911 -,049 ,137
Alto Nível de Abstração – 26 ,061 ,817 ,076 ,174
Valor Percebido – 27
,126 ,094 ,139 ,795
Valor Percebido – 28
,142 ,107 ,171 ,847
Valor Percebido – 29
,148 ,206 ,068 ,867
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.61-87 - jan/abr, 2008
5
,836
,826
,835
,186
,119
,132
,034
,119
-,023
,043
-,078
,130
-,061
-,068
-,046
,122
,106
,124
,115
,015
,141
6
7
-,159 ,097
,049 ,068
-,086 -,081
,020 ,115
,027 ,076
-,028 ,050
,022 ,106
,002 ,115
-,071 ,183
-,036 ,856
,196 ,812
-,065 ,752
,857 ,051
,779 ,006
,860 ,046
,100 ,048
,115 ,084
,087 ,074
,085 ,114
-,082 ,092
-,042 ,097
75
José Roberto Ribas, José Luiz Trinta e Zilda Maria C. Santos
O coeficiente Alfa de Cronbach, segundo Hair et al. (2005, p.
466) “[...] é uma medida comumente usada de confiabilidade para
um conjunto de dois ou mais indicadores de construto. Os valores
variam entre 0 e 1, com as medidas mais altas indicando maior
confiabilidade entre os construtos [...]”, portanto, são utilizados para
indicar se cada item (questão) mede aspectos do construto, os quais,
por sua vez, estão sendo medidos pela escala.
Tabela 2 - Fatores obtidos - Coeficiente Alfa de Cronbach
Construtos
Alto Nível de Abstração
Reputação
Qualidade Percebida
Valor Percebido
Preço Não Monetário Percebido
Atributos Intrínsecos
Preço Monetário Percebido
Coeficientes Alfa
0,821
0,911
0,857
0,779
0,796
0,895
0,853
Os itens devem ser consistentes naquilo que indicam sobre a
característica do construto (MALHOTRA, 2006, p. 277), para estes
foram verificados os valores do Alfa de Cronbach superiores a 0,6,
conforme se constata na Tabela 2, tendo sido confirmada assim a
existência de consistência interna.
5.4. Análise fatorial confirmatória
Para o modelo de equações estruturais, foi adotada uma estatística recomendada na literatura representando o índice de
qui-quadrado normado (HAIR et al. 2005, p. 524-525) resultante
da divisão entre o qui-quadrado estimado e os graus de liberdade.
O valor resultante de 1,714 é superior a 1, o que elimina a possibilidade de que o modelo apresente problemas de superajustamento e
inferior a 2, reduzindo a possibilidade de que o modelo não seja
representativo dos dados observados.
O modelo estrutural foi estimado pelo critério da máxima verossimilhança. Os índices de ajustamento utilizados na avaliação, conforme
estabelecido por Yuan (2005, p. 121), podem ser observados na Tabela 3.
76
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Uma Avaliação da Cadeia Meios-Fim no Abastecimento de Combustível Automotivo
Tabela 3 - Índices de Qualidade do Ajustamento
CFI
0,94
GFI
0,866
NFI
0,869
NNFI
0,930
RMSEA
0,060
Para verificação das medidas de ajuste absoluto e incremental,
foi adotado o estudo comparativo de Chin e Todd (1995, p. 241). O
índice de ajuste absoluto do modelo medido pela raiz do erro médio
quadrático de aproximação (RMSEA) igual a 0,060 é considerado
aceitável. Os índices de ajustamento comparativo (CFI) e de ajustamento não normado (NNFI) foram considerados satisfatórios, entretanto, os índices de bondade do ajustamento (GFI) e de ajustamento
normado (NFI) resultaram ligeiramente inferiores a 0,90, situação
esta que não leva necessariamente à inviabilidade da qualidade do
ajustamento, conforme comprovam Hair et al. (2005, p. 506).
A análise dos parâmetros do modelo da Tabela 4 foi realizada a
partir dos testes de significância. Para uma estatística ‘te/2’ onde e/2 é
o nível de significância bilateral igual a 0.025, o valor tabelado obtido
para ‘t’ é igual a 1.980, sendo este o limite inferior, acima do qual se
rejeita a hipótese de que o parâmetro da população possa ser nulo.
No caso, as relações antecedentes entre: (i) qualidade percebida (QUALID) – reputação (REPUT) com ‘t’ calculado igual a -0,406;
(ii) preço monetário percebido (PRECO) – valor percebido (VALOR)
com ‘t’ calculado igual a 1,634 e; (iii) preço monetário não-percebido
(NAOMO) – valor percebido (VALOR) com ‘t’ calculado igual a -1,623,
foram todos rejeitados quanto a sua contribuição para o modelo.
Tabela 4 – Parâmetros e Testes ‘t’ do Modelo de Equações
Estruturais
Variável Latente de Causa
Reputação
Atributos Intrínsecos
Preço Monet. Percebido
Qualidade Percebida
Preço Monet. Percebido
Alto Nível de Abstração
Preço Monet. Não Percebido
Variável Latente de Efeito Parâmetro Teste “t”
Qualidade Percebida
-0,027
-0,406
Qualidade Percebida
0,419
6,950
Qualidade Percebida
0,216
3,449
Valor Percebido
0,412
4,008
Valor Percebido
0,138
1,634
Valor Percebido
0,335
4,861
Valor Percebido
-0,191
1,623
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José Roberto Ribas, José Luiz Trinta e Zilda Maria C. Santos
Tal constatação fez com que fossem abandonadas as hipóteses
H1, H3 e H5 no que diz respeito à influência destas variáveis latentes no modelo. Da mesma forma, comprova aquilo que os testes de
consistência interna, validades convergente e discriminante vinham
apontando, o fato destes construtos não terem sido constituídos com
razoável robustez.
Por outro lado, os atributos intrínsecos (INTRIN) e preço monetário percebido (PRECO) apresentaram sólidas estatísticas ‘t’ dos
seus parâmetros com qualidade percebida (QUALID) de 6,950 e 3,
449, respectivamente, confirmando as hipóteses H4, H7.
Quanto ao valor percebido, seus construtos antecedentes, alto
nível de abstração (ABSTR) e qualidade percebida (QUALID) confirmaram-se como duas variáveis antecedentes do valor percebido
(VALOR), aprovando as hipóteses H6 e H2, uma vez que o teste “t”
igual a 4,861 e 4,008 respectivamente, foi superior ao piso tabelado.
Observando que, a relação entre atributos intrínsecos (INTRIN)
e qualidade percebida (QUALID) foi aquela que apresentou o “t”
mais significativo, com valor igual a 6,950.
5.5. Implicações mercadológicas
Esta pesquisa foi realizada com objetivo de analisar como os
construtos da qualidade e valor percebido são capazes de influenciar
o consumidor na avaliação das alternativas entre postos de gasolina com e sem bandeira. Tal iniciativa busca entender aspectos do
comportamento do consumidor a partir da desregulamentação do
setor de distribuição de derivados do petróleo, com a promulgação
da Lei 9478/97, que deu origem aos postos de combustíveis
denominados sem bandeira.
A partir da pesquisa bibliográfica referenciada, foi adaptado o
modelo de cadeias meios-fim com relação a preço, qualidade e valor proposto por Zeithaml, (1988, p. 4) e apresentado na figura 1.
Neste modelo, a autora enfatiza variáveis atitudinais que influenciam
na percepção sobre qualidade, a qual atua como mediadora entre
atributos do produto e o valor percebido pelo consumidor. Para
coleta de dados e realização da pesquisa foi desenvolvido um instrumento composto de vinte e uma questões, respondidas através
de uma escala tipo Likert, na qual os respondentes avaliaram os
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Uma Avaliação da Cadeia Meios-Fim no Abastecimento de Combustível Automotivo
construtos reputação, atributos intrínsecos, preço monetário percebido,
preço não-monetário percebido e alto nível de abstração, antecedentes
à qualidade e valor percebido.
No construto reputação (REPUT), que neste estudo reflete a
marca do combustível e a superioridade do combustível em relação
à sua funcionalidade, a pesquisa demonstrou que os consumidores
estão conscientes que abastecer em postos com bandeira não é garantia para aquisição de gasolina de qualidade. A gasolina, por ser
um produto comprado com freqüência, leva os consumidores a se
familiarizarem com diversas marcas e se fixarem em uma delas,
onde normalmente compram primeiro e avaliam posteriormente.
Um dos fatores que caracterizam a preferência da marca pelo consumidor é sua atitude, favorável ou desfavorável com relação a ela.
A reputação da marca teve, ao longo dos anos, considerável poder
de influenciar a decisão de compra (CHAUDHURI e HOLBROOK,
2001). Assim, a compra de combustível é considerada um processo
cercado de fatores de influência, muitas vezes desconsideradas e
outras vezes até desconhecidas, mas diretamente ligada ao comportamento que o consumidor apresenta, sempre buscando satisfazer
suas necessidades.
O consumidor se utiliza da própria experiência adquirida ao
longo do tempo ou nas experiências de outros. Atualmente, o
surgimento dos postos sem bandeira obrigou os consumidores a
uma mudança de conceito, gerando incerteza e desconfiança quanto
à reputação da marca. A reputação associada à determinada marca
refere-se a confiança do consumidor na integridade do fornecedor
e do produto por ele oferecido. A marca consiste em um mecanismo eficiente para transmitir ao consumidor informações a cerca da
qualidade dos produtos. A reputação em todo o processo é fundamental, uma vez que atua como um mecanismo de sustentação da
credibilidade e dos padrões que o consumidor estabelece no seu
processo de decisão de compra (AAKER e JOACHIMSTHALER,
2002; KELLER, 2001).
Os atributos intrínsecos (INTRIN) prevalecem nas avaliações
dos compradores: a) durante o consumo do produto ou serviço; b) nos
estágios que antecedem a compra, quando os atributos intrínsecos caracterizam-se mais como elementos de procura (características que
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79
José Roberto Ribas, José Luiz Trinta e Zilda Maria C. Santos
podem ser avaliadas antes da compra) do que como atributos
experimentais (características que somente podem ser avaliadas
durante o consumo). Quanto maior o conhecimento do consumidor
sobre o produto, contando inclusive com experiências de utilização
ou de consumo, mais simples e mais rapidamente será desenvolvido o processo decisório de compra. Um combustível deve atender
aos padrões de especificações para estar em conformidade com os
critérios estabelecidos pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) e,
assim, ser considerado de boa qualidade na visão dos consumidores.
Na pesquisa, ficou comprovado que os consumidores acreditam
que é possível prever o desempenho satisfatório do combustível
vendido em postos com bandeira. Os consumidores estabelecem
seus critérios de avaliação de alternativas de compra, conforme a
importância que conferem a uma série de atributos relacionados ao
combustível e estes são influenciados pelo grau de conhecimento,
pelo nível de envolvimento e a pela natureza da motivação da compra.
Com a existência dos postos sem bandeira, e diante da possibilidade de algumas novas distribuidoras competirem de forma desleal,
a qualidade do combustível passou a fazer parte da estratégia dos postos com bandeira. Os indicadores métricos adotados para mensurar se
a variável latente, atributos intrínsecos (INTRIN) seria antecedente à
qualidade percebida revelou-se suficiente. Esse construto confirmou
os estudos teóricos apresentados e validaram o modelo.
Para os pesquisados, o preço monetário (PRECO) pago pelo
combustível tem uma correspondência significativa com a qualidade
do produto, portanto, há um custo monetário percebido, equivalente ao julgamento do consumidor sobre a qualidade. A pesquisa
demonstrou que os consumidores aceitam efetuar a compra de combustível mesmo percebendo que o preço monetário (PRECO) é
maior, em face de uma expectativa de qualidade superior do produto, visando benefícios futuros. Se a avaliação e a valoração que o
consumidor faz sobre o preço do produto e ou serviço oferecido
indicar sacrifícios maiores do que os benefícios obtidos, os preços
podem repelir o cliente. O comprador pode se desencorajar a comprar gasolina se o preço estiver abaixo do limite inferior do que ele
estaria disposto a pagar, simplesmente porque, neste caso, a percepção poderia indicar que preço muito baixo seria indicativo de
80
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Uma Avaliação da Cadeia Meios-Fim no Abastecimento de Combustível Automotivo
qualidade também baixa. Mas, se o preço monetário indicar benefícios ou valores maiores do que o sacrifício de compra, o preço
será atrativo para o consumidor. Os compradores idealizam uma
faixa limite entre os preços mais baixo e mais alto que estariam propensos a pagar; sendo esta uma avaliação da relação entre custo e
benefício. O preço monetário (PRECO) é apenas um atributo entre
tantos outros que podem ser tão ou mais importantes em certos
contextos. Os resultados da pesquisa confirmaram que existe correlação positiva entre os construtos preço monetário e qualidade
nos postos com bandeira. A pesquisa revelou que, embora os consumidores aceitem pagar um preço monetário (PRECO) maior, na
expectativa de uma qualidade superior, eles estão cientes de que o
abastecimento em postos com bandeira não fornecem garantia de
estarem adquirindo um produto com qualidade. Os pesquisados
consideram que abastecer em postos com bandeira não representa
garantia de melhores benefícios e de qualidade superior que
corresponda ao preço pago pelo combustível, portanto, neste estudo não há correlação entre os construtos preço monetário e valor
percebido. O preço influencia o valor percebido pelo cliente neste
caso, de forma negativa, pois esta sendo visto como um sacrifício
quando comparado com os benefícios que o produto oferece.
Utilizando os conceitos de Zeithaml (1988), do qual foi extraído
o modelo para essa pesquisa, pode-se constatar que o valor se especifica como fatores subjetivos e objetivos percebidos no produto, e
que compõem uma experiência de compra. Valor percebido para o
consumidor pode ser extraído da idéia de qualidade e pode estar
relacionado com preço baixo, com a qualidade obtida pelo preço
pago e com os benefícios/sacrifícios que o consumidor obtém para
aquilo que ele idealizou.
Apesar das revendedoras atuarem de forma competitiva,
buscando compreender e facilitar as opções de escolha dos
consumidores com relação a um produto de preço diferenciado de
outro similar, os mesmos demonstraram dificuldades em perceber
os benefícios com relação às diferenças de preço do combustível
entre os postos com e sem bandeira.
Para o consumidor, os custos envolvidos durante a aquisição
de um produto ou serviço não se limitam aos monetários, uma vez
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José Roberto Ribas, José Luiz Trinta e Zilda Maria C. Santos
que este considera os custos não monetários, a exemplo do tempo de
espera para abastecer, interação com o serviço, esforço para identificar
e selecionar o serviço, disponibilidade e distância. A pesquisa mostrou que aguardar mais tempo para abastecer, a possibilidade de
filas aguardando (tempo de espera) e percorrer um trajeto mais longo (locomoção) não diminuem o valor percebido pelo consumidor.
Os indicadores métricos revelaram ser inválida a correlação entre
preço não monetário e valor percebido. Fato este que pode ter sido
influenciado pela existência, na região pesquisada, de grande número
de postos com bandeira localizados estrategicamente, facilitando o
abastecimento com o mínimo de esforço e tempo.
Devido ao constante fluxo de novas informações às quais os
consumidores são expostos, pode ser necessária a mudança de atitude relacionada às vertentes cognitiva, afetiva e comportamental.
À medida que se inserem dentro de um determinado contexto social,
os consumidores interagem com grupos de referência (membros
da família, líderes de opinião) coletando informações, aprendendo
e conseqüentemente formulando crenças, motivação e finalmente
a atitude. Esses modelos cognitivos do indivíduo não são permanentes, principalmente pela característica dinâmica do processo de
interpretação. São modificados pela aquisição de nova informação,
e novas interpretações integradas a diferentes condições podem
modificar a representação mental criada originalmente. Quando
abastece em postos com bandeira, o consumidor desenvolve e reforça as suas crenças, baseado em experiências anteriores, próprias
ou dos grupos de referência. O consumidor enxerga o combustível
como um produto que possui um conjunto de atributos e desempenhos, baseado no seu processo cognitivo e avalia se o mesmo atende seus objetivos, gerando o valor percebido. No caso da
presente pesquisa, lastreado na caracterização da população
pesquisada, é possível concluir que o construto alto nível de
abstração (ABSTR) torna-se válido com relação ao valor percebido.
O construto qualidade (QUALID) tem sido amplamente reconhecido como um dos fatores chave na formação das intenções futuras
de compra, sendo assim, ela corresponde ao julgamento do consumidor sobre a superioridade genérica de um produto. Os consumidores adquirem produtos ou serviços onde conseguem maximizar
82
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Uma Avaliação da Cadeia Meios-Fim no Abastecimento de Combustível Automotivo
o valor percebido (VALOR). À medida que o produto é percebido
numa escala superior de valor em relação aos substitutos, aumenta
a probabilidade de adoção do mesmo, como solução ao problema
de compra. A interação do consumidor com o produto faz surgir a
preferência como um conjunto de atividades desenvolvidas para
medir o valor percebido, antes, durante e após a tomada de decisão
de compra. Os resultados demonstraram que a intenção de compra
é positivamente influenciada pelo valor percebido, que age como
intermediário entre as influências do preço percebido e da qualidade
percebida. Qualidade, então, é um construto que antecede o valor
percebido no julgamento dos consumidores.
6. Conclusão
De uma maneira geral, o modelo utilizado para a análise confirma
parcialmente os resultados obtidos a partir das equações formuladas para o referido tratamento dos dados coletados na população
escolhida para desenvolvimento do trabalho, pois na percepção dos
respondentes, os pontos com bandeira não demonstraram sustentar
a expectativa de qualidade superior do combustível. Atualmente é
reconhecido que uma marca diferenciada pode garantir uma vantagem
competitiva duradoura em determinados mercados. A marca é considerada um patrimônio da empresa e transmite ao consumidor
informações sobre a(s) oferta(s) da mesma.
Entretanto, as mudanças ocorridas no mercado de combustíveis
levaram alguns players a uma situação que pode ser classificada de
paradoxal. Concomitante à constatação de que os consumidores
acreditam que o combustível oriundo de postos com bandeira apresenta uma maior possibilidade de ter a qualidade atestada, o
surgimento de postos sem bandeira e a desvinculação geral da
obrigatoriedade de compra da distribuidora que fornece a marca
levaram a uma desconfiança quanto á reputação das diferentes
marcas. Nessa linha, a pesquisa constatou indícios de baixa confiança nos postos em geral, uma vez que abastecer em postos com
bandeira não representa garantia sobre a aquisição de gasolina de
boa qualidade. Uma frustração é mensurar o baixo benefício percebido com respeito às diferenças de preço do combustível entre os
postos com ou sem bandeira. Caso tal resultado fosse significativo
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José Roberto Ribas, José Luiz Trinta e Zilda Maria C. Santos
e pudesse ser confirmado para a população, a posse de uma marca,
apontada acima como um ativo de valor para uma empresa, poderia
se configurar em um investimento inócuo.
Uma confirmação importante se remete à relação entre preço
e qualidade, no qual a confiança do consumidor está mais
fundamentada limites. Caso o combustível possua preço relativo
baixo, da mesma forma estará atestada sua baixa qualidade,
sendo válido o raciocínio análogo. Outra descoberta é que os
demais custos envolvidos na compra de combustíveis não foram
apontados como diminuidores de valor. Outro fator que a pesquisa
pode inferir, em face ao processo de desregulamentação dos
combustíveis se tratar de um acontecimento relativamente recente,
é a ausência de motivação do consumidor para adoção de um
comportamento mais crítico quanto aos critérios de escolha entre
postos com e sem bandeira, principalmente devido à baixa oferta
dos citados postos alternativos, na região objeto da pesquisa. Por
fim, o modelo utilizado para esta pesquisa foi adaptado a partir
do proposto por Zeithaml (1988), não sendo possível estabelecerse uma correlação de abrangência total, principalmente pelo fato
do mesmo ter sido desenvolvido em um cenário mercadológico
distinto da realidade nacional.
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Atitudes, Opiniões e Hábitos de Homens que Vão às
Compras em Supermercados*
Fátima Cristina Trindade Bacellar1
Tânia Maria de Oliveira Almeida Gouveia2
Liliana Carneiro de Miranda 3
O objetivo do presente estudo é identificar como os homens se relacionam atualmente com compras de supermercado, tradicionalmente parte
do universo de responsabilidades femininas. A estrutura familiar e os
respectivos papéis de cada elemento da família vêm mudando aceleradamente nas últimas décadas, homens e mulheres compartilhando tarefas
domésticas e decisões de compra de produtos antes restritos ou predominantes a um ou outro gênero. Foi realizada uma pesquisa de campo
exploratória com duas fases: qualitativa, com entrevistas individuais em
profundidade; e quantitativa, com questionários auto-administrados.
Conclui-se que o homem tende a assumir cada vez mais essa função
doméstica, o que se coaduna com o próprio movimento da sociedade,
representando um novo perfil de consumidor masculino que merece ser
investigado em pesquisas adicionais.
Palavras-chave: homens; comportamento de compra masculino; supermercados.
Keywords: men; male shopping behavior; supermarkets.
__________________________________________
Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial/ Universidade Estácio
de Sá - Rio de Janeiro. Editora responsável: Isabel de Sá Affonso da Costa
* Artigo recebido em 21/11/2007. Aceito em 26/02/2008. Artigo submetido a revisão double-blind.
1
Professora Adjunta do Mestrado em Administração das Faculdades Ibmec Rio de Janeiro (IBMEC-RJ). Doutora em Administração pela Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/
USP). Mestre em Administração pelo Instituto COPPEAD de Administração da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPEAD/UFRJ). Endereço: Av. Pres.
Wilson, 118/11o andar – Centro - Rio de Janeiro – RJ – CEP 20030-020. E-mail:
[email protected].
2
Mestre em Administração pelo IBMEC-RJ. E-mail: [email protected].
3
Mestre em Administração pelo IBMEC-RJ. E-mail: [email protected].
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.89-121 - jan/abr, 2008
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Fátima Cristina T. Bacellar, Tânia Maria de O. A. Gouveia e Liliana C. de Miranda
Attitudes, opinions and habits of men who go shopping in
supermarkets
The objective of this study is to identify how contemporary men relate to
grocery shopping, traditionally linked to the female responsibilities
universe. Family structure and roles of each component of a family have
been rapidly changing in the last decades. Today, men and women share
household tasks and shopping decisions of products before restricted or
dominated by one or another genre. An exploratory field research was
conducted including two phases: a qualitative approach, using in-depth
individual interviews; and a quantitative approach, using self-administered
questionnaires. The study concludes that men tend to assume this household
task, reflecting society move towards tasks sharing between genres and
revealing a new profile of male consumer that deserves to be investigated
in additional research.
1. Introdução
Consumidores tomam decisões sobre produtos a todo o momento. O processo de tomada de decisão varia de uma compra por
hábito desenvolvido ao longo do tempo até situações novas que
podem envolver algum risco. Nesse processo, os consumidores
podem coletar e analisar dados cuidadosamente antes de fazer sua
escolha (SOLOMON, 2002).
Um grupo de referência primário que se distingue dos demais
é a família, pelo fato de seus membros terem que satisfazer suas
necessidades dentro de uma limitação orçamentária comum
(DUBOIS, 1996). A família, uma importante organização de compra de produtos de consumo na sociedade, é constantemente alvo
de apelos promocionais. Há décadas observa-se que algumas decisões de consumo envolvem marido, mulher e filhos (DAVIS,
1976). Atualmente, é ainda mais notória a mudança de comportamento de homens e de mulheres no que diz respeito a seus
papéis de compra.
O presente estudo procura investigar o papel masculino especificamente em relação às compras de supermercado, explorando
seus hábitos, opiniões e preferência em relação a este ponto de venda
de produtos para consumo da família.
90
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.89-121 - jan/abr, 2008
Atitudes, Opiniões e Hábitos de Homens que Vão às Compras em Supermercados
Foi realizado levantamento bibliográfico sobre o comportamento
do consumidor, detalhando-se mais aspectos sobre o comportamento
de compra familiar e, em especial, o papel do homem nas compras
da família. Um ponto que se mostrou importante se refere às diferenças entre os comportamentos de compra masculino e feminino.
Neste levantamento, foram incluídas todas as fontes secundárias
que se pôde obter, incluindo livros, periódicos e documentos eletrônicos nacionais e estrangeiros. Em seguida, foi realizada uma
pesquisa de campo exploratória e realizada em duas fases. A primeira, com abordagem qualitativa, visa levantar reflexões e idéias
iniciais sobre o tema, familiarizando os pesquisadores com o que
pensam os homens em relação às compras de supermercado. Em
seguida, uma segunda fase, de caráter quantitativo, busca
aprofundar e dimensionar informações sobre o comportamento de
compra do homem nesse ponto de venda.
2. Referencial Teórico
Este item apresenta de forma organizada o levantamento teórico obtido sobre seis temas que estão relacionados a este estudo. Em
primeiro lugar, é abordado o comportamento de compra, abrangendo tópicos genéricos, tais como os principais fatores que afetam
o comportamento do consumidor. Em seguida, entramos especificamente na Teoria da Motivação de Maslow, abordando a motivação, um dos principais fatores de influência no comportamento de
compra, e mostramos como esse aspecto se aplica e é utilizado em
marketing. No terceiro tópico, abrangemos as compras familiares e
abordamos o papel que o homem exerce nesse tipo de compra. Por
fim, apresentamos as principais diferenças no comportamento de
compra de homens e mulheres, o ponto mais específico do tema do
presente artigo.
2.1. Comportamento de compra
São vários os fatores que interferem no comportamento de
compra e que afetam a escolha do consumidor por determinado
produto ou marca. Fatores culturais, sociais, familiares, econômicos e psicológicos agem em conjunto de forma a tornar complexa a
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.89-121 - jan/abr, 2008
91
Fátima Cristina T. Bacellar, Tânia Maria de O. A. Gouveia e Liliana C. de Miranda
identificação do fator preponderante em uma decisão de compra
(ENGELS et al., 2000; NEWMAN et al., 2001). O conhecimento destes fatores torna-se primordial na busca da tão almejada vantagem
competitiva pelas organizações, podendo contribuir decisivamente para a definição de estratégias e compostos de marketing
(SOLOMON, 2000).
Churchill e Peter (2000) descrevem o processo de compra de
produtos ou serviços, definindo-o em cinco etapas: reconhecimento
da necessidade, busca de informações, avaliação das alternativas,
decisão de compra e avaliação pós-compra. Segundo eles, o reconhecimento de uma necessidade pode advir de estímulos internos (fome,
sede, cansaço ou interesses pessoais) ou externos (propagandas,
incentivos de outras pessoas etc.).
A teoria da motivação de Maslow é citada pela maioria dos
autores na área de marketing (CHURCHILL e PETER, 2000;
KOTLER, 1998; SANDHUSEN, 1998; SEMENIK e BAMOSSY, 1995).
Para esses autores, o conhecimento desta teoria é necessário ao
profissional de marketing, visando à compreensão dos fatores psicológicos determinantes do comportamento humano e, portanto,
do comportamento de compra. Kotler (1998, p. 173) afirma que “a
teoria de Maslow ajuda o profissional de marketing a entender
como vários produtos se ajustam aos planos, metas e vidas dos
consumidores potenciais”.
2.2. Teoria da Motivação de Maslow
Maslow procurou compreender e explicar o que energiza, dirige
e sustenta o comportamento humano. Para ele, o comportamento é
motivado por necessidades a que ele deu o nome de necessidades
fundamentais – baseadas em dois agrupamentos: deficiência e crescimento. As necessidades de deficiência são as fisiológicas, as de
segurança, de afeto e as de estima, enquanto as necessidades de
crescimento são aquelas relacionadas ao autodesenvolvimento e
auto-realização dos seres humanos (JENKINS, 1980).
Maslow (1975) ressalta que existem certas condições para que
as necessidades fundamentais possam ser satisfeitas: a liberdade
de falar e agir como se deseja, desde que não se fira o direito alheio;
liberdade de auto-expressão; de investigar e de procurar informações;
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Atitudes, Opiniões e Hábitos de Homens que Vão às Compras em Supermercados
de se defender e de buscar justiça; de eqüidade e ordem dentro do
grupo; são exemplos de condições prévias para que sejam satisfeitas as necessidades fundamentais. Para o autor, sem essas
precondições seria impossível a satisfação das necessidades.
No entanto, ele conclui que sua teoria motivacional não é a única
a explicar o comportamento humano, pois nem todo comportamento
é determinado pelas necessidades. Afirma ainda que as necessidades
fundamentais são, em grande parte, inconscientes. Fatores sócioculturais influenciam na forma ou objetos com que os indivíduos
buscam satisfazer suas necessidades, mas não modificam substancialmente a hierarquia motivacional proposta.
2.2.1. Teoria da Motivação e sua utilização no marketing
A teoria da motivação é bastante conhecida e utilizada pelos
profissionais de marketing para o conhecimento do comportamento do consumidor. Churchill e Peter (2000) exemplificam que os
fabricantes de roupas devem estar atentos não só para atender a
necessidade de vestir-se dos consumidores, mas também às suas
necessidades sociais. Poderíamos acrescentar também o atendimento da necessidade de estima. Assim, quando os profissionais de
marketing associam a imagem de um atleta às roupas e calçados
masculinos de determinada marca estão não só atendendo a necessidade mais básica de vestir-se, mas também uma necessidade
social (pertencer e ser aceito pelo grupo). E, na medida em que é
aceito pelo grupo, o consumidor sente elevada sua auto-estima.
Podemos afirmar, então, que mesmo necessidades mais básicas são influenciadas por fatores psíquicos e não podem ser
dissociados na compreensão do comportamento do consumidor.
São esses fatores que explicam, principalmente, a procura por
determinadas marcas (ENGELS et al. 2000).
As necessidades de auto-estima e de auto-realização são consideradas mais elevadas, relacionadas a fatores psicológicos e
não biológicos ou instintivos. Churchill e Peter (2000) acreditam
que os consumidores procuram atender essas necessidades com
a compra de marcas que oferecem prestígio, com a busca de cursos universitários, com a participação em organizações beneficentes, dentre outros.
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Fátima Cristina T. Bacellar, Tânia Maria de O. A. Gouveia e Liliana C. de Miranda
Afirmamos acima que a teoria de Maslow nos permite compreender também os fatores psicológicos que interferem não só na
detecção do consumidor de que existe uma necessidade, mas em
todo o processo da compra. Para a compreensão desse pressuposto, é preciso ir além do que os autores de marketing relatam sobre
essa teoria. Percebemos que essa teoria tende a ser analisada de
forma simplista por essa categoria de profissionais, presos a uma
visão restrita da hierarquia das necessidades.
Um produto ou serviço deve buscar não só a satisfação do
cliente, suas necessidades e desejos, mas precisa superá-los, para
que tenha mais valor.
Maslow tinha uma visão humanista, acreditando no potencial
de auto-realização de todo ser humano. Sabia que algumas condições
são fundamentais para alcançar esta realização e o desenvolvimento
sadio do ser humano: consideração, empatia e congruência (autenticidade). Queremos ser considerados, aceitos e respeitados, necessitamos ser escutados (empaticamente, com o outro se colocando
em nosso lugar), buscamos a autenticidade, desejamos ser tratados
com transparência e veracidade. Este é outro aspecto desconsiderado
na compreensão da teoria de Maslow. A compreensão destes pressupostos é essencial nas estratégias de marketing a serem adotadas
pelas empresas.
2.3. Comportamento de compra familiar
O comportamento de compra da família é um processo coletivo, pois há dois ou mais indivíduos envolvidos na tomada de decisão. Nesse processo, os participantes valem-se da troca de opiniões
e participação conjunta. Décadas atrás, a tomada de decisão na família considerava somente ou principalmente a opinião do marido
(BURNS e GRANBOIS, 1980; DAVIS, 1976). Hoje, contudo, tanto
maridos e esposas representam papel fundamental na decisão, influenciando ativamente na escolha .
Os níveis de importância e de uso do produto também estão
diretamente relacionados à percepção da influência. A influência
dos membros da família é distinguida por usuário do produto – a
criança, seus pais ou toda família (FOXMAN e TANSUHAJ, 1998). No
comportamento de compra familiar, diferentes tipos de abordagens
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Atitudes, Opiniões e Hábitos de Homens que Vão às Compras em Supermercados
são utilizados para influenciar a opinião daqueles que têm o poder
de decisão. No processo de decisão de compra, quer seja num supermercado ou em outro ponto de venda, são consideradas várias
alternativas e cada cônjuge tenta influenciar o outro pela sua decisão
favorita (SPIRO, 1983). Quando os objetivos entram em conflito, os
cônjuges utilizam uma variedade de técnicas de influência, a depender
de suas características pessoais e daquelas do indivíduo que se quer
influenciar (DAVIS, 1974; SPIRO, 1983).
Schiffman e Kanuk (2000), Spiro (1983) e Qualls (1988) identificam
seis tipos de estratégias de influência para resolver conflitos entre
maridos e esposas em relação ao consumo. A estratégia especialista
ocorre quando um cônjuge tenta usar seu conhecimento a respeito
das alternativas de decisão para influenciar o outro. Ele procura
convencer o parceiro, demonstrando conhecimento específico de
produto. Legitimidade é a tentativa de um cônjuge influenciar o
outro com base na sua posição dentro de casa. “O marido pode
argumentar que, já que ele é o homem da casa, ele toma a decisão”
(SPIRO, 1983). Barganha refere-se à tentativa de um cônjuge garantir uma influência que será trocada no futuro. Recompensa é
definida como a tentativa de um cônjuge influenciar o comportamento do outro por meio de um benefício. Spiro (1983) esclarece
que, nesse tipo de influência, o cônjuge pode ser bastante carinhoso,
podendo comprar um presente para o outro, objetivando antecipar
o exercício da influência. Na estratégia emocional, o cônjuge procura,
através de apelos sentimentais, influenciar o comportamento do
outro e administrar suas impressões. É uma tentativa de persuasão.
2.3.1. Papel masculino no comportamento de compra da
família
Os papéis do homem e da mulher são cada vez mais vagos e os
produtos de uns são procurados pelos outros. Hoje, homens compram cremes e ceras depilatórias e mulheres decidem a compra de
automóveis. Mas como, em cerca de três décadas, passamos da tradicional dona-de-casa à mulher preocupada com a carreira e, do
executivo que jogava futebol nos finais de semana ao metrossexual?
De fato, a sociedade mudou. E, sendo a propaganda um reflexo da
sociedade e dos indivíduos que a constituem, é natural que se veja
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hoje em um anúncio da TV um homem a levantar-se no meio da
noite para preparar uma alimentação para o filho ou trocar suas
fraldas (BACELLAR e IKEDA, 2004).
A família atual pode já não corresponder ao conceito típico de
pai, mãe e filhos. Mudanças fizeram com que a antiga dona-de-casa
possa agora ser um homem. “A mudança de hábitos de consumo
trazida pelas modernas superfícies de distribuição também contribuiu para que a divisão de decisão sobre as compras da casa fosse
mais dividida” (DUBOIS, 1998), apesar de o peso das compras domésticas ainda pender para as mulheres: “os produtos de limpeza, por
exemplo, ainda são uma área completamente obscura para os homens”.
Dubois (1998) admite, no entanto, que ainda existem produtos
só para homens e só para mulheres, mas afirma que “as marcas não
gostam de ser percebidas como pertencendo apenas a um destes
universos, daí que haja mais categorias de produtos normalmente
dirigidas a mulheres com segmentos específicos para homens e viceversa.” A diferença entre homem e mulher como alvos publicitários
está principalmente na forma como respondem aos estímulos a que
são sujeitos. Daí a imagem sexista da mulher objeto a que o homem
heterossexual, mesmo sem se considerar machista, responde positivamente. Engels et al. (2000) explicam que o homem é mais
sensível às abordagens racionais, técnicas e, sobretudo, sensoriais: a
comunicação para os homens deve ter sempre um ingrediente
aspiracional, enquanto, para as mulheres, a carga utilitária e funcional
é mais importante.
Entender quem toma as decisões de compra é uma questão
importante para os profissionais de marketing, para que saibam a
quem se dirigir e se precisam atingir ambos os cônjuges, ou a que
gênero mais específico: masculino ou feminino? Os pesquisadores
têm dado atenção especial a qual cônjuge desempenha o papel do
que tem sido chamado de autoridade financeira familiar. Segundo
Solomon (2000), ele é o indivíduo que acompanha as contas da família e decide como qualquer recurso adicional será gasto. Entre os
recém – casados, esse papel tende a ser desempenhado em conjunto.
Com o tempo, um dos cônjuges assume essas responsabilidades.
Em famílias tradicionais, as mulheres estão voltadas à administração
financeira familiar. Ou seja, o homem ganha, a mulher gasta. O
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Atitudes, Opiniões e Hábitos de Homens que Vão às Compras em Supermercados
padrão é diferente nas famílias mais modernas. Nesse caso, os casais acreditam que deve haver participação mais compartilhada nas
atividades de manutenção familiar.
Solomon (2000) cita que o ideal sinóptico determina que o
marido e mulher tenham uma perspectiva comum e tomem decisões
conjuntamente. De acordo com esse ideal, eles avaliam cautelosamente alternativas e designam papéis bem definidos um ao outro,
trazendo, calmamente, benefícios a ambos. O casal age analiticamente e usa o máximo possível de informações para maximizar a
utilidade conjunta. Na realidade, a decisão conjugal é quase sempre
caracterizada pelo uso de influência ou de métodos que tendem a
reduzir o conflito.
Segundo Solomon (2000), em um quinto dos lares americanos,
os homens fazem a maior parte das compras e vão aos supermercados
com freqüência para efetuar as compras do lar. No Brasil, dados do
IBGE (2000) apontam que 35% dos homens ajudam as mulheres
nos afazeres domésticos e 25% criam seus filhos sozinhos, ou seja,
realizam o papel de pai e mãe. E, quanto à decisão de compra, como
se comporta o consumidor masculino? A pesquisa do IBGE definiu
pelo menos cinco tipos de comportamentos no momento de decidir o que colocar no carrinho de compras. Dois destes perfis têm
expressividade em termos de participação no total de pesquisados
e no consumo, mas apresentam traços pouco definidos comparativamente aos demais: os equilibrados, ou que têm “visão de mercado”, que representam 24,8% da população e 24% do consumo; e os
indiferentes (19,8% das pesquisadas e 20% do consumo). As três
faces que mais agregam valor aos serviços e produtos do auto-serviço são os preocupados com a saúde e o meio ambiente (21% do
total e 23% do consumo); os orientados à marca (13,7% da população pesquisada e 14% do consumo); e os pesquisadores de preços e
promoções (20,7% do total e 19% do consumo). A pesquisa refinou
o conhecimento sobre o comportamento de cada uma dessas faces
e revela que “o homem está numa posição mais dinâmica e no comando das suas decisões, o que exige do varejista muita atenção na
hora de atendê-lo”. Este é um desafio a mais, entre tantos enfrentados por aqueles que fazem do atendimento um diferencial para
conquistar o consumidor.
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2.4. Diferenças entre comportamentos de compra
masculino e feminino
Há décadas se estuda as diferenças entre homens e mulheres
em seus comportamentos de compra (o primeiro estudo que se
conseguiu rastrear é o de ALEXANDER, 1947 – e, embora já esteja
bastante desatualizado, sinaliza o interesse de longa data pelo tema).
Os materiais disponíveis versam sobre diferenças de imagens de
homens e mulheres na propaganda (DOMINICK e RAUCH, 1972;
M C ARTHUR e RESKO, 1975; MARACECK et al., 1978;
O’DONNELL e O’DONNELL, 1978; SCHNEIDER e SCHNEIDER,
1979; LIEBLER e SMITH, 1997; FURNHAM e MAK, 1999), resposta
dos diferentes gêneros aos anúncios testados (HUPFER, 2002;
MALDONADO et al., 2003), comparação ao longo do processo de
compra (BACELLAR, 2003), preferência de sites (SIMON, 2001) e
consumo de água (PAVIA e MASON, 2001)
Um assunto popularmente recorrente sobre diferenças entre
comportamentos de homens e mulheres diz respeito a diferenças
biológicas. Homens e mulheres se comportariam diferentemente
devido a diferenças em cromossomos, hormônios e lateralização
do cérebro. Putrevu (2001) fez um levantamento das bibliografias
existentes e concluiu que, embora muitos estudos tenham encontrado algumas evidências quanto a esses tópicos, seus resultados
foram bastante limitados para explicar as diferenças de comportamento. Segundo o autor, “o pequeno porte das diferenças sexuais
baseadas em origens biológicas puramente sugere que a biologia
revela apenas uma parte da história.” (PUTREVU, 2001, p. 2).
Ainda segundo Putrevu (2001), explicações sociais desempenham um papel bem mais relevante. Por exemplo, a tendência à
agressividade e à assertividade dos homens seria o resultado do
fato de historicamente essas características sempre terem sido estimuladas e valorizadas mais para os homens do que para as mulheres. Os
papéis tradicionalmente conferidos aos homens sempre estiveram
voltados para seu desempenho na rua e para a conquista, enquanto
que as mulheres eram estimuladas a serem boas mães e viverem
em suas casas, responsáveis por todos os cuidados inerentes.
Essas observações, somadas às mudanças que temos vivenciado
atualmente, oferecem interessantes reflexões a respeito dos
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comportamentos de homens e de mulheres enquanto consumidores.
Se aos homens cabia trabalhar e ganhar o sustento do lar enquanto
as mulheres cuidavam da casa, faziam as compras de supermercado
e cuidavam dos filhos, e se agora esses papéis estão sendo questionados e sublevados, é preciso estar atento e monitorar o quanto
essas mudanças estão acarretando ameaças e/ou oportunidades
para as empresas.
Recentemente, Gentry et al. (2003) fizeram um levantamento
bastante aprofundado da literatura existente sobre decisões de compra da família e reforçaram em suas conclusões a necessidade de se
levar em conta as mudanças sociais em novas pesquisas futuras.
Aqui cabe a ressalva de que ainda que alguns pontos tenham
sido constantemente confirmados em diversos estudos, é preciso
ter cautela ao se fazer generalizações a respeito dos comportamentos
dos homens como um todo. O bom senso sugere que atualmente
não existe um modelo único de masculinidade, mas vários “estilos
de masculinidade”, nem sempre coerentes entre si, e que se associam
de várias formas ao mercado de consumo.
Um último aspecto que cabe ressaltar é que, embora seja bastante comum encontrar materiais referentes ao comportamento de
compra feminino, o mesmo não ocorre em relação ao sexo oposto.
Relativamente pouco material atual trata da questão do comportamento do homem, sobretudo, se levarmos em consideração
produtos especificamente voltados para o lar. E, para contribuir no
preenchimento dessa lacuna que, no presente estudo, optamos por
uma pesquisa de campo de caráter exploratório, conforme apresentaremos em seguida.
3. Método da Pesquisa de Campo
Visto que a escolha do método adequado à pesquisa em Ciências Sociais depende da natureza do problema estudado (COOPER
e SCHINDLER, 2002) e que o pesquisador não tem uma única
abordagem ideal a utilizar (SELLTIZ et al., 1975), neste estudo, empregou-se tanto uma abordagem quantitativa como qualitativa, em
duas fases distintas.
A primeira fase, qualitativa, teve como objetivo principal levantar em profundidade reflexões e informações sobre o tema em
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Fátima Cristina T. Bacellar, Tânia Maria de O. A. Gouveia e Liliana C. de Miranda
estudo e fornecer subsídios para a fase seguinte. Foram realizadas
entrevistas individuais em profundidade, a partir de um roteiro
semi-estruturado permitindo ao pesquisador observar características,
desenvoltura e percepção do entrevistado sobre o assunto abordado
(CRESWELL, 1994). Foram realizadas seis entrevistas, nos meses
de novembro e dezembro de 2005 com homens, residentes na cidade
do Rio de Janeiro, de 35 a 60 anos, com filhos e sem filhos, dos
estratos socioeconômicos A e B (segundo o critério Brasil).
Na segunda fase, quantitativa, usou-se um questionário
estruturado, auto-administrado, não identificado, com perguntas
abertas e fechadas, incluindo uma escala tipo Likert (MALHOTRA,
1999) para medir atitudes e comportamentos do respondente no
que se refere às compras em supermercado. Foi utilizada uma amostra
não-probabilística, por conveniência, com 80 questionários aplicados
com homens de classes sociais A e B.
O objetivo desta etapa da pesquisa foi identificar e dimensionar
hábitos de compra em supermercado: freqüência, se sozinho ou
acompanhado, com ou sem lista, entre outras características. Além
disso, buscou-se explorar as atitudes e opiniões dos homens em
relação às compras de supermercado.
4. Resultados e Discussão
A descrição e a análise dos resultados dessa pesquisa são
apresentadas a seguir, tendo sido organizadas de acordo com
cada método utilizado.
4.1. Resultados da fase qualitativa
Na fase qualitativa, foi bem evidenciado o compartilhamento
das tarefas entre homens e mulheres, como sugere o seguinte trecho de uma das entrevistas:
Eu e minha mulher. Os dois trabalham, os dois pagam as contas. Não
tem essa de um ou outro. Hoje em dia não tem papel de mulher e
papel de homem. Todo mundo tem que fazer tudo. É multi-função.
Também se identificou que as compras de supermercado têm
apelo tanto racional como emocional. Por um lado, trata-se uma
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Atitudes, Opiniões e Hábitos de Homens que Vão às Compras em Supermercados
atividade relacionada a necessidades básicas, como abastecer a casa
e repor mantimentos da despensa. Contudo, também sugere cuidado com a família, conforto, segurança, estabilidade e proteção –
gerando, uma sensação positiva de “missão cumprida” no provimento
do lar. Parece existir um sentimento dúbio a respeito do tema. É, ao
mesmo tempo uma tarefa inoportuna, mas com algo de agradável,
uma forma de escapar das tensões do dia-a-dia, por exemplo. Essa
dubiedade fica clara na fala abaixo:
Faço porque minha mulher não tem muita paciência, se pudesse
ela não iria. Eu já fui, várias vezes, sozinho fazer as compras.
Não é um programão, mas depois que eu tô no supermercado,
eu até gosto. Eu acho chato sair de casa para ir lá e do trabalho
de levar as bolsas do carrinho para o carro, do carro para o elevador, do elevador para casa, arrumar nos armários. Isso é um
saco! (...) Eu também gosto de fazer, distrai a cabeça, saio, espaireço.
(Por que distrai?) Por que distrai? Distrai porque pelo menos
você não está pensando no seu trabalho, nos seus problemas,
nessas chateações. Você está ali distraindo, escolhendo as coisas
para a sua casa, vendo os preços, as coisas novas. Você se concentra naquilo. É uma maneira de deixar a mente descansar, e
de gastar dinheiro... Porque, no final, a conta fica cara. Aí você
volta para os problemas.
Embora as compras em supermercado façam parte do cotidiano
de consumo de todos os entrevistados, eles demonstram diferentes
tipos e graus de envolvimento com o tema. Podemos identificar,
nessa fase da pesquisa, três segmentos de consumidores masculinos no supermercado. Um tipo “tradicional” que tende a ser ou a
assumir a postura de provedor da casa. É ele quem paga as contas
da família. A mulher nesse caso, mesmo que trabalhe fora, tem papel
secundário no pagamento das despesas:
Minha função principal na casa está relacionada à grana. É a função
de trabalhar para colocar o dinheiro em casa.
O homem “tradicional” tem uma postura mais distanciada em
relação às compras domésticas, que considera uma tarefa mais feminina. Quando vai ao supermercado, sua função é basicamente
dirigir o carro da família, ajudar a carregar as sacolas e colocá-las
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no carro. Quando vai às compras, sozinho, está à procura de produtos específicos ou relacionados a momentos de diversão, como
cerveja e petiscos.
O segundo perfil identificado é mais “adaptado” às novas regras sociais e desempenha um papel mais “moderno” na estrutura
familiar. Ele ajuda a cuidar da casa e dos filhos, divide com a mulher
as funções de prover e de administrar o lar. A mulher deste homem
tem, necessariamente, uma atividade profissional. E ele é, muito
possivelmente, um “resultado” do fato de a mulher ter deixado de
ser apenas dona-de-casa e mãe para ganhar espaço e se consolidar
no mercado de trabalho. Alguns homens deste segmento assumem
textualmente que gostam de ir ao supermercado. Eles encontram
prazer na tarefa de escolher produtos e sentem um apelo emocional
de consumo semelhante ao das compras em shopping. Para eles, ir
ao supermercado pode ter até um apelo de “terapia”, de distração,
que o ajuda a se distanciar dos problemas do dia-a-dia. Isto confirma
as informações do referencial teórico, que indicam um movimento
de modernização da sociedade, em que não há papéis masculinos e
femininos claramente delineados.
De modo geral, o “adaptado” gosta de ir ao supermercado porque isso representa cuidado e atenção à família – sensação esta que,
no que tange às compras de supermercado, tradicionalmente fazia
parte do universo feminino.
É fundamental eu me envolver, porque a minha mulher esquece
de tudo. Se deixar na mão dela, a coisa não anda. Se eu não me
envolver, não sai não. E ela é muito pão-duro. Se deixar ela no
supermercado fazendo as compras do mês, ela traz só cinco bolsinhas. Fica faltando tudo. Ela traz tudo pingadinho. Sei lá, tem
medo de gastar. Eu gosto de abrir o armário e ter cinco pacotes
de papel higiênico fechados. Sei que é uma lógica contrária a de
não empatar dinheiro. Mas eu gosto, pôxa. Gosto de saber que
as coisas estão ali disponíveis. Eu não gosto de ter que sair de
casa só porque acabou o sabonete. Gosto de ter sempre o outro
pacote no armário.
O terceiro perfil percebido nessa etapa de pesquisa é mais “pragmático” e seu comportamento é intermediário entre o “tradicional”
e o “adaptado”. Ele tem uma atitude mais racional em relação às
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compras de supermercado e prefere delegar integralmente essa função, mas, quando é preciso, vai às compras. E, uma vez dentro do
supermercado, não quer perder tempo. Seus critérios de escolha de
produtos são bastante objetivos:
Só faço as compras específicas, ou as compras técnicas. Eu moro
numa casa e aí, por exemplo, tem aquelas situações do tipo,
quebrou uma telha, quebrou um cano. Isso eu que tenho que
comprar. As compras de abastecimento é ela quem faz, é tudo
ela. Eu não tenho paciência para ficar escolhendo a carne, escolhendo o sabão em pó, escolhendo o sabonete, isso e aquilo. Eu
sou daquele tipo que, no supermercado, só olha as especificações
técnicas. Por exemplo, para comprar uma pasta de dente, vou lá
na embalagem ler as especificações. Se eu vejo que tem tudo a
mesma coisa, vou levar qualquer uma, a do melhor preço. Minha
mulher não é assim mesmo. Quer ver a marca, comparar, ver
quanto está custando.
Um quarto perfil parece mais “conformado”, ou seja, sabe que
não pode escapar das tarefas domésticas e as realiza, mas não
necessariamente gosta delas:
Eu prefiro futebol, mas ir ao supermercado não é uma coisa que
eu não suporte fazer.
Notam-se também alguns traços característicos comuns. Por
exemplo, todos os entrevistados valorizam os supermercados que
oferecem conforto e praticidade. Mencionam espontaneamente a
preferência por aqueles que não têm filas ou que têm menos filas;
os que têm corredores amplos, onde não haja congestionamento de
carrinhos; os que tenham estacionamento; os que sejam próximos
de casa. Além disso, idealizam um supermercado onde haja funcionários para arrumar as sacolas e levá-las até o carro. Podemos perceber também uma tendência de se comportarem de forma diferente
se forem ao supermercado sozinhos ou acompanhados por uma
mulher. O consumidor masculino parece ter uma lógica de compras
e de circulação pelos corredores diferente da das mulheres:
Eu vou com a minha mulher também, às vezes. Mas eu prefiro ir
sozinho. Eu sou mais rápido, resolvo rápido. Pego o que tem
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que pegar, ponho no carrinho, pago e vou embora. Defino mais
rápido quais são meus objetivos, o que comprar e acabou. Quando eu vou sozinho, eu já vou direto no que tem que comprar.
Vou com a lista, mas nem sempre compro só o que está na lista.
Se eu lembro de alguma coisa que está precisando, eu levo
também. Vou sempre dando uma olhada nas coisas. E eu gasto
muito menos, porque eu compro só o que precisa, não que eu
não compre alguns supérfluos, mas eu gasto muito menos, sem
dúvida. Agora, ir ao supermercado com a minha mulher é um
estresse. É sempre um estresse ir acompanhado. A minha querida
parceira não tem um objetivo definido, não tem uma missão definida, não tem nada... Vai comprando o que der na cabeça. Aumenta
muito o tempo que a gente fica lá dentro, e aumenta muito a conta.
O carrinho fica cheio. Ela compra muito supérfluo. Compra vinho,
compra refrigerante, compra enlatados, atum, essas coisas, compra
pães de todos os tipos, biscoitinhos, coisas pra cabelo, esses lançamentos... Eu prefiro ir sozinho, sem sombra de dúvidas.
Verificou-se também o hábito de utilizar lista de compras, que
afirmam trazer maior segurança na compra. Este recurso evita a
sensação de estarem se esquecendo de levar algum produto e, ao
final do processo, gera a idéia de trabalho bem feito.
No que se refere aos critérios de escolha de produtos, observamos que o preço é um atributo bastante relevante, mas nem sempre
decide a compra. Outros fatores são levados em conta, como a experiência anterior com a marca ou a recomendação da mulher. Os
entrevistados mencionam particularmente alguma dificuldade de
escolha de produtos de limpeza (possivelmente pelo distanciamento
da própria atividade de limpar a casa). Este é também um resultado
que vai claramente ao encontro de dados bibliográficos levantados
na fase inicial deste estudo. O receio de errar na escolha faz com que
decidam pela não experimentação de novos produtos de limpeza, fazendo com que optem sempre pelas mesmas marcas neste segmento:
A parte de higiene e limpeza, esses produtos tipo desodorante
para vaso sanitário, sabão em pó, papel higiênico, coisas de banheiro, de área de serviço. Não gosto e não sei escolher direito.
Tem produto que tem preço bom, mas que tem uma qualidade
que eu ainda não conheço. São muitas opções e eu não sei qual
delas é a melhor. Não tenho muita condição de julgar o custo e o
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benefício, a não ser que seja uma marca que a gente já tenha
experimentado. Eu tento normalmente memorizar as marcas que
a gente já experimentou, tento gravar as embalagens. Mas nem
sempre eu acerto. Quando tenho alguma dúvida, uso o celular
para falar com a minha mulher ou com a empregada. Pergunto
que marcas elas querem, pergunto se dá pra levar uma marca
que está em promoção, qual a quantidade, se eu tiver dúvida.
4.2. Resultados da fase quantitativa
Em primeiro lugar, cabe ressaltar que, devido ao fato de a amostra
ter sido não-probabilística e reforçado por seu pequeno tamanho,
os dados apresentados a seguir não podem ser considerados como
conclusivos, servindo apenas como indicativos. Da mesma forma,
não cabem aqui análises estatísticas mais aprofundadas e, portanto,
nos limitamos ao uso da estatística descritiva.
A fase quantitativa realizada na seqüência teve entrevistados
com o seguinte perfil: 72% da amostra têm entre 20 a 40 anos; 78%
do total são casados ou moram com uma companheira; 52% têm
grau de escolaridade com nível superior completo e pós-graduação completa ou incompleta.
Para efeito de análise, foram usadas duas características
demográficas selecionadas: idade e classificação econômica (segundo o Critério de Classificação Econômica Brasil). Além disso, os
respondentes foram agrupados segundo sua resposta para uma
pergunta que lhes convidava a escolher, dentre quatro alternativas, aquela que melhor descrevia seu sentimento em relação a fazer compras em supermercados. Somente era possível assinalar uma
resposta. As opções de resposta eram:
1.
2.
3.
4.
Só vou ao supermercado em último caso; por minha vontade, não iria.
Não gosto de ir ao supermercado, mas não posso escapar
dessa necessidade.
Ir ao supermercado não é minha atividade preferida, mas
não é das piores atividades domésticas.
Gosto muito de ir ao supermercado, vou com prazer e
satisfação.
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Fátima Cristina T. Bacellar, Tânia Maria de O. A. Gouveia e Liliana C. de Miranda
Cada grupo recebeu uma “denominação” a fim de facilitar a
apresentação dos dados, da seguinte forma: quem escolheu a primeira
alternativa foi chamado de “tradicional”, a segunda de “pragmático”, a terceira de “conformado” e a última de “adaptado”.
Ressalte-se que essas denominações, retiradas das observações
da primeira fase, são meramente ilustrativas, não constituindo,
segundo o entender dos autores, nenhum tipo formal de
segmentação de mercado. O Quadro 1 resume os principais achados dessa fase, considerando as três formas de agrupamento (idade, classe social e grupo a que pertence).
De uma forma geral, foi interessante observar nesta etapa
que o consumidor masculino parece estar se aproximando do
supermercado, pelo menos no que se refere ao público pesquisado.
51% dos respondentes afirmaram que “gostam muito de ir ao
supermercado” ou que “ir ao supermercado, embora não seja a
atividade preferida, não é das piores atividades domésticas”, os
dois últimos grupos.
No grupo dos “conformados” 65% têm alto grau de instrução
(pós-graduação completa ou incompleta), comparativamente com
apenas 29% dos consumidores “tradicionais” com esta mesma escolaridade, 48% dos “pragmáticos” e 50% dos “adaptados”.
Os “tradicionais” são os que vão com menor freqüência do supermercado: 57% deste segmento vão menos de uma vez por mês;
comparativamente a 6% dos “conformados” e 0% dos “adaptados”
com mesma freqüência. Somando-se os dois últimos grupos, 22%
afirmam fazer compras mais de quatro vezes por mês.
Ao ser analisado o grau de concordância com afirmativas relacionadas às compras no supermercado, é possível constatar que a lista é
um item bastante valorizado por todos os perfis de consumidores;
no entanto, nem sempre a levam para o supermercado, especialmente os “pragmáticos”, que apenas 4% afirmaram sempre usá-la.
A localização é um atributo importante em todas as faixas etárias
(81% do total da amostra), mas principalmente entre os mais velhos
(89%). No que se refere ao perfil, os “pragmáticos” se destacam
com 96% de respondentes que afirmaram ser a localização um atributo
muito importante na escolha de um supermercado.
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14
25
31
10
23
20
37
44
36
29%
48%
65%
50%
39%
65%
51%
68%
31%
Fonte: Elaborado pelos autores.
Tradicionais
Pragmáticos
Conformados
Adaptados
20-30
31-40
41+
A
BC
Total=80
50%
52%
65%
40%
39%
55%
65%
na
na
57%
4%
6%
0%
17%
20%
8%
9%
19%
57%
44%
58%
60%
na
na
na
45%
64%
36%
4%
32%
60%
39%
30%
30%
32%
33%
79%
96%
84%
50%
70%
85%
89%
84%
81%
57%
64%
55%
40%
35%
60%
68%
55%
58%
43%
64%
74%
60%
57%
60%
70%
70%
56%
Freqüência ao
Nível
Classe social
Localização
Idade
Lista
supermercado
Promoções Marcas
n
educacional
(critério Brasil
(é muito
(até 40 (sempre
(menos de 1
(é fiel)
(é fiel)
classe A)
(Pós-graduação)
anos) leva lista) importante)
vez ao mês)
Quadro 1 – Resumo dos resultados obtidos na fase quantitativa
Atitudes, Opiniões e Hábitos de Homens que Vão às Compras em Supermercados
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Fátima Cristina T. Bacellar, Tânia Maria de O. A. Gouveia e Liliana C. de Miranda
As promoções exercem menor apelo entre os jovens (35% para
até 30 anos contra 68% para acima de 40). Por outro lado, o apelo de
marcas e produtos conhecidos não parece ser um atributo importante para os “tradicionais”, talvez até porque eles não se atentem
para isso por não terem tanta “experiência” como os demais. Assim,
apenas 43% se dizem fiéis a supermercados que ostentam marcas e
produtos conhecidos enquanto nos demais grupos as proporções
foram de 64%, 74% e 60%, respectivamente para “pragmáticos”,
“conformados” e “adaptados”. Marcas também parecem se tornar
mais importantes conforme aumenta a idade (57% dos mais jovens
se dizem fiéis a supermercados com marcas conhecidas, contra 70%
dos acima de 40 anos) e quanto mais alta a classe social (70% dos
respondentes de classe A afirmaram ser fiéis a supermercados
que possuem marcas conhecidas, contra 56% dos respondentes
de classes B e C).
Alguns outros aspectos também foram estudados embora não
constem no Quadro 1, vale a pena mencioná-los. Em primeiro lugar, ao investigarmos seus carrinhos de compras, constatamos que
os itens mais comprados são alimentos em geral (48% do total da
amostra) e material de limpeza (46%). Os produtos que têm mais
facilidade de escolher são as bebidas não alcoólicas, com 25% das
respostas. O material de limpeza se confirma como mercadoria de
escolha mais difícil pelo público masculino – sendo apontado por
45% da amostra e especificamente por 23% dos “tradicionais”, 52%
dos “pragmáticos” e 46% de “conformados” e “adaptados” juntos.
No que se refere ao conforto e à praticidade, o serviço de
empacotador é bastante valorizado em todos os segmentos, com
destaque para a faixa etária de 46 anos ou mais, em que 100% dos
respondentes afirmam gostar deste recurso. A quantidade de caixas,
que pode representar menos filas, é atributo muito relevante em
todos os segmentos. Mais uma vez, em um atributo associado a
conforto, destacam-se os consumidores de “41 anos ou mais” e os
“pragmáticos” – havendo, em cada um destes perfis, 100% de concordância sobre a importância da variedade de caixas. Estacionamento
é atributo valorizado por 84% da amostra e 88% afirmam gostar de
“supermercados grandes, com espaço para circular nos corredores”.
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Atitudes, Opiniões e Hábitos de Homens que Vão às Compras em Supermercados
5. Considerações Finais
Em tempos de intensa competitividade, o conhecimento dos fatores que influenciam o comportamento do consumidor nas decisões de
compra é fundamental para a sobrevivência das organizações.
O estudo conclui que o homem tem se aproximado do supermercado e que há uma tendência de que assuma cada vez mais
essa função doméstica, o que se coaduna ao próprio movimento da
sociedade. Alguns já assumem que gostam dessa tarefa e outros
dizem que, embora não seja sua atividade preferida, “não é das
piores atividades domésticas.” sugerindo um novo perfil de consumidor masculino que merece ser investigado em pesquisas futuras.
Esse resultado reforça a idéia de que a divisão de papéis já não
existe mais na administração da casa. As funções da mulher e do
homem se confundem cada vez mais e é natural que ele passe a
executar efetivamente algumas tarefas domésticas, entre elas, as
compras do supermercado. Mantém-se, contudo, um modelo mais
estereotipado do “pai de família” que atua fundamentalmente como
o provedor da casa, sem se envolver com as questões mais cotidianas
da família. Este é o homem “tradicional”, cuja presença na sociedade
também é confirmada neste estudo.
O supermercado que oferece mais conforto leva vantagem na
conquista do consumidor masculino, que valoriza fortemente
serviços como estacionamento e empacotador, além dos atributos
de espaço nos corredores e localização. Promoções são um apelo
importante, mas como menor destaque comparativamente aos
atributos relacionados a conforto.
Identificamos também uma oportunidade de mercado para o
fabricante de produtos de limpeza que souber se comunicar com o
consumidor masculino. É preciso se aproximar deste segmento de
compradores, que encontra dificuldade na escolha desta categoria
de produtos.
A presente pesquisa, assim como qualquer outra, apresenta suas
limitações. A mais importante delas se refere ao fato de que a amostra foi limitada ao público de classe A e B do Rio de Janeiro e feita
de forma não-probabilística por conveniência. Evidentemente, isso
impossibilita conclusões definitivas de seus resultados. Além disso,
a amostra foi demasiadamente pequena para que análises estatísticas
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Fátima Cristina T. Bacellar, Tânia Maria de O. A. Gouveia e Liliana C. de Miranda
robustas pudessem ser empregadas. Assim sendo, seus resultados
devem ser considerados apenas indicativos e sua confirmação depende de uma pesquisa mais extensa e abrangente e com uma amostra
probabilística. Neste contexto, as sugestões para futuras pesquisas
se voltam para uma maior abrangência do público pesquisado, da
amostra e das questões investigadas, buscando detalhamento do
comportamento de compra, dos critérios de escolha do supermercado e dos produtos.
Como os dados aqui apresentados são exploratórios, seria
interessante a realização de uma pesquisa mais vasta que procurasse identificar a existência dos diferentes “tipos de homens” com
a intenção de fazer uma efetiva segmentação desse mercado. Também
seria interessante a realização de uma pesquisa através de observação, tanto no ambiente doméstico como no ponto de venda, com
características etnográficas. O perfil, hábitos, atitudes e preferências
de um eventual “novo homem” deveriam ser mais explorados, já
que aparentemente o homem vem ampliando seu papel no ambiente
familiar contemporâneo, agregando novas responsabilidades relacionadas à administração e ao cuidado da casa e da família.
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114
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APÊNDICES
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Apêndice 1 – Roteiro das entrevistas em profundidade
Apresentação e Aquecimento
Abordagem inicial: Nós vamos conversar sobre algumas questões relacionadas a consumo.
- Gostaria que você começasse nossa entrevista falando um pouco sobre você:
- Qual sua atividade profissional?
- Você é solteiro, casado ou mora com uma companheira?
- Tem filhos?
- Me diga três coisas que você gosta muito de fazer nos momentos de lazer.
Autopercepção
- Pensando na sua casa e na sua família (com as pessoas com que você
mora), quais são suas principais tarefas? Quais são suas responsabilidades
na casa/ família?
- Se você tivesse que definir seu papel na casa/ na família com uma só
palavra, qual seria? Por quê?
- Quem é(são) o(s) responsável(is) pelas despesas da casa?
Papel nas compras da família
- Você costuma fazer alguma compra para sua casa ou para sua família?
Por que sim/ Por que não?
Se fizer:
- Que tipo de compra? Com que freqüência?
- Esse tipo de compra é uma tarefa só sua ou de outra pessoa da casa
também?
- Até que ponto é importante para você se envolver nas compras da casa?
Como você se sente ao se envolver nas compras da casa?
- Existe prazer nisso ou você se envolve apenas por uma questão prática?
- Você costuma ir ao supermercado?
- Com que freqüência?
- Fazer que tipo de compra: “compras de mês” ou compras “emergenciais”?/
para repor algum produto que esteja faltando na casa?
- Você costuma ir ao supermercado sozinho ou acompanhado? Por quem?
Em que situações você vai ao supermercado sozinho ou com alguém?
Isso faz alguma diferença para você?
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Atitudes, Opiniões e Hábitos de Homens que Vão às Compras em Supermercados
- Como você escolhe os produtos?
- Costuma levar lista de compras? É você mesmo quem prepara a lista?
- Compara marcas ou já procura uma preferida?
- Até que ponto o preço é relevante?
- Até que ponto uma promoção pode decidir a compra?
- Que produtos não podem faltar no seu carrinho de compras? Por quê?
- Quando você chega ao supermercado, costuma fazer algum trajeto
específico na loja?
- Procura estabelecer algum “roteiro” para as compras? Qual?
- Em qual setor do supermercado você se sente mais à vontade? Por
quê?
- Tem algum produto que você acha mais difícil de comprar? Por quê?
- Qual o momento mais agradável das compras? Por quê?
- E qual o momento que você menos gosta? Por quê?
- Gostaria que você completasse a frase: Quando faço compras no supermercado, me sinto ..
- Por que você se sente assim quando faz compras no supermercado?
O supermercado ideal
- Como você escolhe o supermercado onde vai fazer compras? O que é
importante para você?
- Quais seriam as características de um “supermercado ideal”, na sua
opinião?
Comentários espontâneos
Agradecimento e encerramento
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Apêndice 2 – Questionário da etapa quantitativa
Caro respondente,
O presente questionário faz parte de um estudo acadêmico sobre
comportamento de compra. Suas respostas vão nos ajudar a avançar
o conhecimento que temos hoje em relação a esse tema. É muito
importante que você responda às questões com total sinceridade,
para isso garantimos o sigilo das respostas. Agradecemos sua
colaboração.
Primeira parte: Dados de qualificação do respondente
1) Idade:
20-25 anos
36 – 40 anos
26- 30 anos
41 – 45 anos
31- 35 anos
45 – 50 anos
51 ou mais
2) Estado Civil:
Solteiro
Casado ou morando junto
Separado/Divorciado
Viúvo
3) Nível educacional:
2º Grau completo
1o Grau completo
Superior incompleto
Superior Completo
Pós-graduação incompleto 3º Grau completo
4) Posse de alguns elementos (assinale quantos você possui em casa):
Televisão em cores
Videocassete e DVD (conte o total somando
ambos)
Rádio (conte com rádio relógio)
Banheiro (conte lavabo e de empregada)
Automóvel
Empregada doméstica mensalista (não conte
faxineira)
118
1
2
3
4
5ou+
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Atitudes, Opiniões e Hábitos de Homens que Vão às Compras em Supermercados
Aspirador de pó
Máquina de lavar roupa
Geladeira
Freezer (específico ou parte de geladeira
duplex)
Segunda parte: Hábito de compra
4) Você costuma ir ao Supermercado? Sim
Não - ENCERRE
5) Com que freqüência você costuma ir ao supermercado?
Menos de uma vez por mês
1 ou 2 vezes no mês
3 ou 4 vezes no mês
Mais de 4 vezes ao mês
6) Que produtos costuma comprar?
______________________________________________________________________
7) Qual o produto que você tem mais facilidade em escolher/comprar
no supermercado?
______________________________________________________________________
8) Que produtos você não gosta de comprar?
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Fátima Cristina T. Bacellar, Tânia Maria de O. A. Gouveia e Liliana C. de Miranda
Terceira parte: Opinião sobre posicionamento e satisfação
9) Qual das alternativas abaixo melhor descreve seu sentimento em
relação a fazer compras em supermercados? Assinale apenas uma
alternativa.
Só vou ao supermercado em último caso; por minha vontade, não iria.
Não gosto de ir ao supermercado, mas não posso escapar dessa
necessidade.
Ir ao supermercado não é minha atividade preferida, mas não é das
piores atividades domésticas.
Gosto muito de ir ao supermercado, vou com prazer e satisfação.
As afirmativas a seguir referem-se à forma como você se sente em relação a compras no supermercado. Você pode concordar, discordar ou
mesmo não concordar nem discordar. Se você concorda por completo
com a frase, assinale a opção “Concordo totalmente”. Se você tende a
concordar com alguma ressalva, assinale “Concordo em parte”. Se você
tende mais a discordar, mas não completamente, assinale a opção “Discordo em parte”. Se você discorda completamente da frase, marque
“Discordo totalmente”. Se você não tem uma opinião claramente formada a respeito, marque “Não concordo nem discordo”.
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Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.89-121 - jan/abr, 2008
Atitudes, Opiniões e Hábitos de Homens que Vão às Compras em Supermercados
Concorda Concorda Não concorda
totalmente em parte nem discorda
Discorda Discorda
em parte totalmente
10 Levo lista de compras
quando vou ao
supermercado.
11 Só faço compras em
supermercado com lista de
compras.
12 A localização é um fator
importante para mim
quando escolho um
supermercado para fazer as
compras.
13 O supermercado tem que
ser perto da minha casa.
14 Sou fiel a um supermercado
quando o mesmo possui
muitas promoções.
15 Sou fiel a um supermercado
quando o mesmo possui
variedades de produtos e de
marcas.
16 Gosto de supermercado que
tenha empacotador.
17 Gosto de supermercado que
tenha vários caixas.
18 Gosto de supermercado que
tenha estacionamento.
19 Gosto de supermercado
grande e com espaço para
circular nos corredores.
Muito obrigado por sua participação!
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Marketing Direto na Internet: Análise de um
Caso Brasileiro*
Marina Dias de Faria1
José Luís Felício dos Santos de Carvalho2
Daniela Abrantes Ferreira Serpa3
A pesquisa tem por objetivo apresentar a transformação de estratégias e
ações de comunicação mercadológica a partir do desenvolvimento do web
marketing, particularmente por meio da utilização de marketing direto na
internet. Para tanto, empreende-se uma revisão bibliográfica seguida de
uma pesquisa empírica com estudo de caso único. Apresenta-se a reconstrução da trajetória a partir da qual a divisão internet da Reader´s Digest
Brasil contribuiu para revigorar as estratégias de marketing da sucursal
brasileira da organização. Entende-se que o caso contribui para ilustrar
como a adaptação de uma organização aos desafios das novas tecnologias
de informação pode propiciar outras perspectivas para incrementar a
cadeia de valor.
Palavras-chave: marketing direto; web marketing; e-mail marketing.
Keywords: direct marketing; web marketing; e-mail marketing.
__________________________________________
Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial/ Universidade Estácio
de Sá - Rio de Janeiro. Editora responsável: Isabel de Sá Affonso da Costa
* Artigo recebido em 28/11/2008. Aceito em 12/02/2008. Artigo submetido a revisão double-blind.
1
Aluna do Curso de Graduação em Administração da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FACC/UFRJ).
Endereço: Av. Pasteur, 250 – Urca – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22295- 240. E-mail:
[email protected].
2
Professor Adjunto do Departamento de Administração da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio de Janeiro (DA/
FACC/UFRJ). Doutor em Administração pelo Instituto de Administração e Gerência
da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (IAG/PUC-Rio). E-mail:
[email protected].
3
Professora Adjunta do Departamento de Administração da Faculdade de
Administração e Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(DA/FACC/UFRJ). Doutora em Administração pelo Instituto COPPEAD de
Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPEAD/UFRJ).
E-mail: [email protected].
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Marina D. de Faria, José Luís F. dos S. de Carvalho e Daniela A. F. Serpa
Direct marketing on the Internet: a Brazilian case-study
The research intends to present how direct marketing on Internet has been
changing strategies and market communication actions. By employment
of the single case study methodology, an empirical research was conducted
on the Reader’s Digest Brazil Internet Division. Building on the past
trajectory of the Internet Division, the research shows how that Division
contributed to energize the marketing strategies of the whole Brazilian
subsidiary. The results shows that the adaptation of a organization to the
challenges of new information technology can arouse new perspectives
to reinforce the chain value.
1. Introdução
A presente pesquisa oferece uma ilustração teórico-empírica
acerca do desenvolvimento dos princípios de marketing direto
(ROBINSON, 1991; STONE, 2002) em uma empresa transnacional
que comercializa um produto tradicional, como forma de adaptação
a um contexto local específico (CATEORA e GRAHAM, 2001). O
estudo traz um exemplo de uma aplicação do conceito de Comunicação
Integrada de Marketing (OGDEN, 2002) à estratégia promocional
de uma organização com forte tradição em marketing direto.
O objetivo do trabalho é apresentar o desenvolvimento dos princípios e técnicas associados ao marketing direto a partir do rápido
avanço da tecnologia de informação (T.I.), mais especificamente,
desde o aparecimento das perspectivas de e-business e web marketing.
Através de um estudo de caso, elaborado com base na criação e
desenvolvimento da divisão de internet da empresa Reader’s Digest
Brasil, foi analisado um exemplo de aplicação bem sucedida de web
marketing, visando incentivar a discussão acerca das transformaçoes
na estratégia de marketing de uma empresa a partir da adoção da
tecnologia de internet para propiciar novas combinações de atividades físicas e virtuais, com ênfase na comunicação mercadológica
e no relacionamento com clientes.
O fulcro da pesquisa encontra respaldo nas diretrizes de gestão
da mudança (WOOD Jr., 2004), associando-se o estopim do processo
de transformação organizacional ao imperativo tecnológico. Partese da premissa de que a mudança provocada pela introdução de
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novos recursos de T.I. não ocorre somente na dimensão tecnológica,
porém espraia-se por todas as relações sócio-técnicas envolvidas
na cadeia de valor (PORTER, 1992).
2. Quadro Teórico Referencial
2.1. Marketing direto e mala direta
De acordo com Stone (1989), a Direct Marketing Association
(DMA) define marketing direto como um sistema interativo de
marketing que usa um ou mais canais de mídia para obter uma
resposta mensurável e/ou uma transação em qualquer local. Em
virtude de tal definição apresentar ambigüidades, pode-se elaborar uma releitura crítica a partir da conceituação proposta pela DMA
(SEMENIK e BAMOSSY, 1995, p. 401):
Essa definição distingue o marketing direto de outras ferramentas de comunicação básicas. Primeiro, a combinação de uso da
mídia e resposta direta é diferente da propaganda no sentido de
que a propaganda tradicional não é projetada para estimular a
ação imediata. Segundo, a venda pessoal não usa a mídia, embora possa tentar estimular uma ação imediata. Finalmente, o aspecto de que o marketing direto procura ‘obter uma transação
em qualquer localidade’ é único no âmbito dos efeitos de comunicação. Isso significa que as transações podem ser fechadas a
partir da própria casa do comprador, pelo correio, ou literalmente
de qualquer lugar de onde o consumidor possa comunicar-se
com a empresa vendedora.
O marketing direto compreende, assim, o conjunto de atividades
por meio das quais um vendedor, sem lançar mão de outros recursos
ou veículos de mídia, efetua a transferência de bens materiais ou de
serviços a um comprador (XARDEL, 1983); para tanto, ele se vale dos
meios de comunicação da correspondência escrita ou impressa, do
catálogo, do telefone e do computador a partir de uma base de dados.
As formas de propaganda do marketing direto pela via da mala direta
incluem cartões-postais, panfletos, folhetos e folders, brochuras, catálogos e propostas de vendas (BOONE e KURTZ, 1998).
Os primeiros registros de vendas por correspondência datam
de 1872, quando a empresa norte-americana Montgomery Ward
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remeteu, por meio dos serviços postais, seu primeiro catálogo de
roupas e artigos próprios de fazendas para algumas famílias rurais
do meio-oeste dos Estados Unidos (BOONE e KURTZ, 1998)
No que diz respeito a marketing direto no cenário brasileiro,
deve-se destacar Roberts e Berger (1999), que classificam o Brasil
como “um gigante adormecido” em termos de utilização dessa prática. Para tentar entender o porquê dessa classificação, podem-se
destacar dois trabalhos seminais da literatura acadêmica brasileira
que têm o marketing direto como principal objeto de estudo: as
dissertações de Mestrado de Bouquet (1987) e Chi (1992), ambos
com importantes resultados obtidos por meio de pesquisa empírica.
Como principais empecilhos ao desenvolvimento do
marketing direto por intermédio de mala direta no Brasil, Bouquet
(1987) registrou cinco fatores: (1) desconhecimento das técnicas
pelos profissionais de marketing; (2) utilização de mala direta sem
consciência; (3) desconhecimento de como adequar a mala direta
ao produto; (4) não utilização dos instrumentos de mensuração; e
(5) não utilização de bases de dados fornecidas por terceiros. Embora se queira crer que os fatores (1) e (5) pareçam adequadamente
resolvidos atualmente, talvez os demais fatores ainda não tenham
sido satisfatoriamente sanados.
As conclusões do outro pesquisador foram de que as dificuldades de implementação de campanhas de mala direta advinham, à
época, da “utilização do marketing direto como mero instrumento
de vendas, sem uma perspectiva integrada” (CHI, 1992, p. 89), situação
agravada pelo fato de que não havia, nas empresas brasileiras, nem
a noção de que o marketing direto é um processo de contínuo conhecimento e relacionamento entre empresa e cliente, nem tampouco
a inclusão do marketing direto como parte do planejamento estratégico
das organizações. Essas conclusões talvez não mais se apresentem
desta forma atualmente, quinze anos depois do término do estudo.
Saber utilizar o marketing direto é fundamental para a estratégia de comunicação da organização, de modo a maximizar suas
potencialidades. Conforme Roberts e Berger (1999), existem cinco
principais vantagens na utilização do marketing direto: (1) precisão
para atingir o público-alvo; (2) personalização; (3) indução à ação
imediata; (4) mensurabilidade; e (5) agilidade e sigilo com relação à
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concorrência. O elemento-chave para o sucesso de uma campanha
de marketing direto é uma lista de clientes que seja coerente com o
público-alvo pretendido (CHI, 1992; HUGHES, 1998; ROBINSON,
1991; STONE, 1989).
Já Boone e Kurtz (1998) e Stone (2002) citam como principais
vantagens da mala direta a seletividade, a cobertura intensiva, a
velocidade, a flexibilidade formal, a abrangência de informações
e a personalização a cada remessa; e consideram que suas principais desvantagens são o alto custo por leitor, a sua dependência
da qualidade das listas de destinatários e a resistência por parte
de alguns consumidores.
2.2. Web marketing e comunicação mercadológica
No ambiente offline, com a imensa variedade de formas para que
uma organização se comunique com seus públicos-alvo, a maioria
das empresas se vale de um amplo composto promocional, combinando, por exemplo, anúncios em revista, televisão, jornais e outdoor. De
acordo com Soares e Hoppen (1998), a maioria das empresas brasileiras
não explora as possibilidades oferecidas pela internet e, freqüentemente,
os elementos de comunicação mercadológica são utilizados em forma
análoga à que são explorados nas mídias tradicionais.
O conhecimento sobre qual composto promocional pode ser
utilizado em sites e sobre o gerenciamento da tecnologia de suporte
ao composto é fundamental para uma empresa com atuação em
web marketing ser bem sucedida (SAUNDERS e BROWN, 2001).
A via imediata para o ingresso em atividades de web marketing
é a criação de um portal de comércio eletrônico, por meio do qual
se busca estabelecer uma parceria de negócios, com base na internet,
entre a organização, seus clientes, seus fornecedores e revendedores
(COLLINS, 2001). A partir desse início, a empresa deve procurar
utilizar todos os recursos que a internet tiver a oferecer, nunca esquecendo que o sucesso em e-business não depende exclusivamente de tecnologia, mas, primordialmente, de uma adequada gestão
da transformação organizacional, e de como as pessoas usam a
tecnologia para desenvolver novas cadeias de valor, para melhorar
os relacionamentos existentes e para criar novas possibilidades de
relacionamentos (DEISE et al., 2000).
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Em virtude das características predominantemente interativas
relacionadas à internet, o estabelecimento, a manutenção e a consolidação dos processos de comunicação ou de transações entre a organização e o cliente tornam-se determinantes para levar à venda
(CHAKRABORTY et al., 2003; SHARP, 2001). Alguns autores afirmam
que, em virtude da nova configuração assumida pelo cenário de
negócios, criar e manter um site deveria ser parte obrigatória da
estratégia de marketing (PERRY e BODKIN, 2000). Ademais, vale
lembrar que o advento do web marketing trouxe inicialmente certa
inquietação a pesquisadores e praticantes, que prenunciaram equivocadamente a obsolescência da administração estratégica de
marketing em função do surgimento da internet (ver: PORTER,
2001), temendo que a T. I. centrada na internet destruisse vantagens
competitivas mantidas por empresas estabelecidas.
Em pouco tempo, contudo, chegou-se ao consenso de recomendar a adequação das aplicações da internet à estratégia de marketing,
de forma a ampliar as vantagens competitivas e a torná-las mais
sustentáveis. A diretriz para as empresas que se encontram face à
decisão de se dedicar às atividades de web marketing é valer-se da
tecnologia de internet para melhorar as atividades tradicionais,
buscando a implementação de novas combinações de atividades
físicas e virtuais, bem como novas e melhores alternativas de relacionamento com os clientes (YAMASHITA e GOUVÊA, 2004).
Nos últimos anos, muito se avançou em termos de concepção
de sites e de possibilidades tecnológicas para melhorar os processos de comunicação com os clientes virtuais (SANTOS Jr., FREITAS
e LUCIANO, 2005). As ações destinadas a contemplar o mercado
consumidor com tratamento individualizado e fidelização de clientes
parecem ser mais efetivas por meio de web marketing, uma vez que
a T. I. permite que sejam analisadas as características dos clientes
por meio dos bancos de dados digitais, além de se acompanhar a
evolução do relacionamento entre cada cliente e a organização (ROCHA e OLIVEIRA, 2002). No mundo digital, a organização que
detém o conhecimento acerca do consumidor tem grandes chances
de tornar-se dona da relação com o cliente e dominar a cadeia de
valor (DEISE et al., 2000); o jogo de negócios parece ficar cada vez
mais equilibrado, posto que o maior volume de recursos de uma
empresa não garante supremacia na cadeia.
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Marketing Direto na Internet: Análise de um Caso Brasileiro
2.3. Marketing direto na internet
Com a internet, pode-se ter tudo aquilo que se costuma oferecer
com o marketing direto tradicional, além de outras possibilidades
ainda mais eficientes para o composto de comunicação
mercadológica (ZEFF e ARONSON, 2000). Como uma dessas novas possibilidades do marketing direto pela internet pode-se citar
que, além de se poder monitorar a eficácia do anúncio, como já
ocorre no marketing direto tradicional, pode-se apurar que recursos ou apelos dos anúncios fizeram efeito, inclusive para cada tipo
de cliente, para cada oferta e para cada produto. É possível também
diferenciar com exatidão quantos consumidores se interessaram
pelo anúncio e quantos dos interessados efetuaram a compra.
A despeito deste quadro favorável, o número de pessoas que
dão cliques em anúncios na internet vem diminuindo: a proporção
de cliques anualmente vem caindo pela metade (RIES e RIES, 2001).
Em compensação, o número de mensagens publicitárias por e-mail
lidas por usuários de internet vem crescendo na mesma proporção
(DEISE et al., 2000).
Diante desse cenário fica claro que a melhor maneira de utilizar
a internet como ferramenta de marketing deixa de ser por intermédio
das tradicionais publicidades em sites com os banners, por exemplo,
e passa a ser o e-mail marketing. De acordo com Fortes (2004), a
literatura é unânime em apresentar três vantagens do e-mail
marketing com relação às formas tradicionais de marketing direto: é
mais barato, mais rápido e centrado no cliente.
Entretanto, cabe alertar para o fato de que “se feito corretamente, o marketing via e-mail pode ser muito eficaz. Se malfeito, pode
ser mais prejudicial do que se nenhuma publicidade fosse feita”
(ZEFF e ARONSON, 2000, p. 79). Essa assertiva pode ser justificada
com base nas diferenças de resultado das duas modalidades principais de mensagem publicitária por e-mail. A primeira é o spam,
por meio do qual a empresa dirige seu anúncio para um consumidor
geralmente obtido por intermédio de um banco de dados de clientes,
que pode ter sido gerado pela própria empresa ou comprado de
terceiros. Nesse caso, o e-mail é enviado mesmo para pessoas que
não tenham solicitado qualquer comunicação. Quando um consumidor relaciona mensagens de spam com nomes de empresas, ele
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costuma apagar sem ler aquela comunicação e pode formar uma
imagem negativa sobre a empresa (McKEOWN, 2002). Em função
do aumento da utilização de spam por parte de empresas – o qual
representou, por exemplo, 55% do tráfego de correio eletrônico nos
Estados Unidos em 2003 (FORTES, 2004) –, ocorreu uma diminuição
da eficácia das campanhas de e-mail marketing.
A segunda modalidade é o e-mail direto, enviado somente para
os consumidores que tenham se cadastrado em um site no qual se
avisa que haverá o envio de mensagem publicitária (ZEFF e
ARONSON, 2000). A literatura e as estatísticas são unânimes em
reconhecer que o marketing via e-mail é uma das mais promissoras
ferramentas de comunicação em marketing, e as previsões reforçam esta
perspectiva (FORTES, 2004). Porém, a base para se conseguir bons resultados com campanhas de e-mail direto é contar com uma boa lista de
nomes para a qual serão enviadas as mensagens. Existem duas maneiras principais de se obter listas de e-mail: uma opção consiste em alugar
a lista de um corretor de listas; a outra é a própria empresa criar sua lista
por meio de um processo de registros (ZEFF e ARONSON, 2000). A
vantagem de se ter um banco de dados desenvolvido pela própria empresa é que os registros tornam-se sua propriedade.
Com o uso cada vez mais constante de e-mail marketing, vêm
surgindo evidências de que certas práticas podem melhorar o desempenho dessa ferramenta. De acordo com Fortes (2004), para aumentar
a eficácia de campanhas de e-mail marketing, a mensagem enviada deve
ser personalizada, pois os índices de resposta aumentam quando os
consumidores percebem que a mensagem lhes foi dirigida em tom
familiar; além disso, a personalização da mensagem envolve também
a adequação do conteúdo aos interesses do destinatário.
Outra prática que vem trazendo bons resultados é o uso de
mensagens publicitárias via e-mail que contenham jogos, músicas,
desenhos animados e concursos. Estas têm maior chance de se destacar em meio a outras mensagens sem tantos atrativos (FORTES,
2004; McKEOWN, 2002). A promessa de prêmio também se revelou como uma técnica eficaz para aumentar as respostas de
marketing direto no Brasil (CHI, 1992). Por outro lado, quando a
empresa confia exclusivamente nos concursos para atrair consumidores, os resultados podem não ser tão bons quanto se esperava,
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porque as pessoas podem se inscrever no banco de dados apenas
para concorrer aos prêmios, sem nenhuma intenção real de adquirir a oferta da empresa (ZEFF e ARONSON, 2000).
Diante do crescimento da importância da comunicação com os
clientes via internet, os pacotes de T.I. desenhados especificamente
para dar suporte à estratégia de comunicação mercadológica na web,
particularmente a partir de e-mail marketing, precisam reunir os seguintes elementos (DEISE et al., 2000): (1) a habilidade para receber
mensagens de e-mail vindas da rede e direcioná-las para a destinação
apropriada; (2) um mecanismo de fluxo de trabalho para mover as
mensagens através da série de etapas necessárias para gerar uma resposta; (3) um sistema baseado em conhecimento capaz de criar ou sugerir uma resposta apropriada para cada mensagem; (4) um sistema
de gerenciamento que permita às novas mensagens enviadas pelos
consumidores, e que sejam continuações de interações prévias, serem
associadas com o histórico daquela interação; e (5) um conjunto de
ferramentas para gerenciar o processo de resposta ao e-mail e para
configurar e administrar o sistema de e-mail.
3. Metodologia
Elaborada como de estudo de caso único (YIN, 2004), a presente
pesquisa foi amparada por três diferentes meios de coleta de dados:
entrevistas junto a executivos da Reader´s Digest Brasil, investigação
documental e revisão bibliográfica.
Em um primeiro momento, foram analisados diversos documentos internos da empresa, visando à obtenção de dados que permitissem apurar a real dimensão das mudanças ocorridas nos resultados da empresa a partir da introdução da divisão internet. A
investigação documental comporta o estudo de documentos conservados no interior de órgãos públicos e privados (VERGARA,
2007), e inclui o exame de relatórios, cartas, memorandos, tabelas
de vendas, enfim, toda a sorte de material que pudesse ajudar a
fornecer pistas de como foi o impacto da internet nas vendas dos
produtos da Reader’s Digest Brasil, incluindo o principal deles, a
Revista Seleções. Foram estudadas planilhas de vendas, gráficos
comparativos de resultados de campanhas tanto de internet quanto
de papel, e até apresentações em slides da empresa para seus públicos.
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Para complementar os dados capturados a partir dos documentos, compreender alguns detalhes presentes nestes documentos e,
principalmente, resgatar a história da implementação da divisão
internet na Reader´s Brasil, foram conduzidas entrevistas pessoais
(COOPER e SCHINDLER, 2003) junto a informantes-chave (HUNT,
1994; YIN, 2004), as quais tinham por objetivo a obtenção de narrativas
(ISABELLA, 1990). Foram entrevistados os executivos da empresa que
ocupavam os seguintes cargos: (1) gerente de internet & e-business,
informante que forneceu a narrativa mais importante, por ter sido responsável pela divisão internet da Reader´s desde o princípio; (2) gerente de marketing; e (3) coordenador de database marketing. As
interações com os informantes-chave podem ser classificadas como
entrevistas não-estruturadas e focalizadas (GIL, 1999).
Empreendeu-se, por fim, uma revisão bibliográfica para conferir
mais robustez à reconstrução da história da Reader´s desde sua
fundação, bem como para registrar reflexões de cunho crítico.
Curiosamente a Reader´s parece não ter despertado a atenção dos
acadêmicos em Administração, apesar de ser responsável pela revista há mais tempo em circulação no Brasil, de editar uma publicação
representativa da sócio-cultura local e mundial ao longo do Século
XX – Seleções é leitura de cabeceira de pessoas tão distintas quanto
o técnico de futebol Luiz Felipe Scolari (que usava a revista em suas
preleções para a seleção brasileira pentacampeã do mundo) e o prêmio Nobel da Paz Nelson Mandela (cf. CHARLAB, 2007) – e de ser
responsável por inovações em marketing, e de apresentar incrementos em volumes de vendas capazes de caracterizar um caso
emblemático em web marketing no Brasil. Os estudos sobre o grupo
parecem restringir-se à revista, particularmente ao papel ideológico
exercido pela publicação sob um prisma histórico-crítico (por exemplo:
JUNIOR, 2004; RAAD, 2005), e sempre à margem do conhecimento
em gestão e organizações.
4. O Caso Reader´s Digest Brasil
4.1. Histórico
A mundialmente conhecida Reader´s Digest Magazine (nos
países de língua latina, editada sob o nome de Selecciones ou Seleções)
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é o produto de referência da Reader’s Digest Association, uma editora global, líder em marketing direto desde sua fundação nos Estados Unidos, e atualmente com presença em mais de 60 países
(CHARLAB, 2007). Mantendo-se na terceira posição entre as revistas
mais lidas no Brasil – perdendo apenas para Veja e Claudia
(CAMARGO, 2000; MIRA, 2001) – a Seleções é hoje a revista mais
lida no mundo, com 50 edições em 21 línguas, totalizando uma circulação de 27 milhões de exemplares por todo o planeta.
A revista foi idealizada pelo casal DeWitt Wallace e Lila Acheson
Wallace, com o propósito de tornar-se um veículo de informação e
educação, e desde os primórdios foi vendida pelo correio, apoiada
por ações rudimentares de marketing direto, principalmente cartas
datilografadas pelo próprio Wallace e remetidas para pessoas conhecidas. Em 1918, enquanto se recuperava de ferimentos sofridos
na Primeira Guerra Mundial, o sargento Wallace teve a idéia de
lançar uma revista que colocasse à disposição de seus leitores “uma
seleção dos melhores e mais úteis artigos já publicados, utilizando
uma linguagem condensada, sem interferir no conteúdo e no sabor
do texto” (CHARLAB, 2007, p. 40). Como as grandes editoras da
época descartaram o projeto por considerá-lo muito singelo, DeWitt
e Lila Wallace resolveram investir sozinhos no empreendimento e
lançaram o primeiro número da revista Reader’s Digest em fevereiro de 1922. As respostas das primeiras cartas enviadas por Wallace
totalizaram 1.500 assinantes, com cada pedido de assinatura acompanhado de 3 dólares. No final do primeiro ano, a circulação havia
atingido 7.000 exemplares, e em 1936 a circulação já atingia 1,8 milhão
de exemplares nos Estados Unidos.
Desde suas primeiras edições, a fórmula da revista consiste em
apresentar temas de interesse geral, aliando atualidades e divulgações científicas, passando por história, ciências naturais, medicina
e comportamento, com textos redigidos de forma simples, separando os assuntos através de leituras de repouso, tais como anedotas e
contos (MIRA, 2001).
Trazendo sempre mensagens de otimismo e enaltecendo o
american way of life, a revista Seleções foi repetidamente apontada
como veículo criado para mostrar os Estados Unidos como país
harmonioso e ordenado, os norte-americanos como pessoas simpáticas
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e espontâneas que formavam uma equilibrada sociedade WASP –
White, Anglo-Saxon, Protestant, isto é, branca, anglo-saxã e protestante (JUNQUEIRA, 2001).
As versões internacionais de Seleções surgiram no contexto da
Segunda Grande Guerra, tendo sido lançadas no México e em vários
países da Europa e da África. Em fevereiro de 1942, a revista Seleções
chegou ao Brasil, primeiramente editada na Europa e, a partir de
1951, editada em nosso país (MIRA, 2001). A escolha pelo Brasil
deveu-se a um pedido de Nelson Rockefeller ao Departamento de
Estado norte-americano, e atendia a duas justificativas principais:
primeiro, os interesses comerciais de Rockefeller pela América Latina
e pelo Brasil; segundo, em função de se perceber que o apoio do
governo brasileiro era essencial para reverter o equilíbrio de forças
da Segunda Guerra na América Latina, fazendo a balança pender
para os Aliados (JUNQUEIRA, 2001; JUNIOR, 2004).
A receptividade da revista excedeu as expectativas e, em menos de seis meses, a circulação atingiu os 150 mil exemplares
(CHARLAB, 2007). Em meados dos anos 1950, a revista chegava
aos 500 mil exemplares por edição (quase todos vendidos sob o
sistema de assinaturas), o que significa dizer que, considerando que
cada exemplar era lido por mais de um leitor, uma parcela de aproximadamente 2% a 3% da população brasileira lia regularmente a
revista, que acompanhava de perto a tiragem da revista O Cruzeiro,
veículo nacional responsável pela crônica social, política e cultural
do Brasil e do mundo (CAMARGO, 2000). Ao final da década de
1960, 5% dos brasileiros liam a revista Seleções (MIRA, 2001).
Com uma tiragem tão significativa, a revista estava apta a seguir
sua vocação de servir como veículo para a propagação da ideologia
defendida pelos Estados Unidos, que buscavam aprofundar sua
hegemonia na América Latina, bem como para a estruturação de
valores e comportamentos (RAAD, 2005).
De acordo com Coelho (2001), a contribuição oferecida por Seleções para o “problema” norte-americano com a América Latina era
precisamente o desenvolvimento da classe média em consonância
com o american way, especialmente no que diz respeito aos valores
da educação (tendo Oswaldo Cruz como sua personificação local)
e à mítica do self made man (aqui personificado pelo sertanista
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Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1, p.123-147 - jan/abr, 2008
Marketing Direto na Internet: Análise de um Caso Brasileiro
Bernardo Sayão). Por meio destes expedientes, na revista Seleções
“a realidade brasileira se travestia com as cores americanas, seja
pela dieta dos enlatados, ou pela adoração aos heróis camuflados”
(PORTO, 2005, p. 21).
Durante os anos 1950 a 1970, enquanto a revista O Cruzeiro
categorizava os índios como um entrave ao progresso, mostrando
os Estados Unidos como referência a ser seguida para se alcançar o
desenvolvimento, Seleções representava o Brasil de modo estereotipado, com grande ressonância na própria sociedade brasileira
(JUNQUEIRA, 2001). A despeito deste quadro favorável para a companhia, a instabilidade econômica, aliada ao fato de o marketing
direto não estar muito desenvolvido no país naquele tempo – não
havia tecnologia disponível para gestão de bancos de dados, os serviços dos Correios não atendiam às necessidades de distribuição
dos produtos para os clientes – levaram a Reader´s a transferir suas
atividades para Portugal no início dos anos 1970 (CHARLAB, 2007),
abandonando uma produção de meio milhão de exemplares por
mês para restringir a venda da revista a 110 mil exemplares editados
na sucursal portuguesa, vendidos principalmente em bancas de jornal. Este momento coincidiu com a popularização da televisão no
país (JUNQUEIRA, 2001).
Em 1973, os Wallaces se retiraram da administração da Reader’s
Digest. Com a morte de DeWitt em 1981 e de Lila em 1984, e sem
herdeiros para assumir o controle do império que haviam criado, a
Reader’s Digest tornou-se uma empresa de capital aberto em 1990,
com ações na bolsa de valores de Nova Iorque.
A partir de 1995, com a estabilidade econômica, o crescimento
do mercado brasileiro, o advento de novas ferramentas relacionadas
à T.I. e o desenvolvimento dos serviços dos Correios, a empresa
optou por investir fortemente no Brasil (CHARLAB, 2007). No decorrer do ano seguinte, foram lançados livros, coleções de música e
de vídeos. Em 1997, a Reader´s reconstituiu o corpo editorial da
revista no país, reconfigurando sua perspectiva de negócios para
ter Seleções não como produto principal da companhia, porém como
via de acesso ao cadastro de clientes, aos quais são oferecidos os
demais produtos do grupo. Assim, com o intuito de ampliar sua
base de clientes, para viabilizar novas possibilidades comerciais
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junto ao público cativo, obteve-se um aumento da circulação de
157 mil exemplares em 1996, para 519 mil em 2001.
Entretanto, a vendagem da revista começou a diminuir a partir
do ano 2000 e, nos primeiros meses de 2007, circulavam 372 mil
exemplares por mês no Brasil. Essa redução na venda de Seleções
foi associada ao fato de, aos poucos, o negócio da Reader´s consolidar-se como venda de itens de entretenimento por marketing direto, utilizando a tradição da revista Seleções como alicerce para a
imagem institucional e como canal de atração para formação de
cadastro de clientes para novas ofertas. Neste contexto, a internet
surgiu como elemento fundamental para dar sustentação a esse novo
modelo de negócios.
4.2. A Reader´s e o marketing direto na internet
Até o mês de junho de 2000, o único meio eletrônico pelo qual
os leitores tinham acesso à Reader´s Digest Brasil era uma webpage
bastante simples, na qual nem mesmo o conteúdo editorial tinha
atualização. Naquele site eram disponibilizados pouquíssimos produtos e os pedidos eventuais tinham que ser feitos obrigatoriamente
por correio eletrônico ou telefone.
Naquele momento, um jovem executivo que havia feito carreira na Reader´s desde seus primeiros anos de atuação profissional
teve a idéia de desenvolver uma forma de captação de nomes na
internet para a utilização nas campanhas tradicionais de marketing
direto. Tais campanhas eram feitas, até então, com nomes obtidos
por meio de aluguel de cadastros de outras empresas, como jornais, revistas e operadoras de cartões de crédito. Os objetivos desta
ação eram a criação de um novo canal de vendas e a obtenção de
cadastros próprios. Este era um importante avanço com relação ao
modelo anterior de comunicação promocional, pois, em função do
aluguel de nomes, a Reader´s obtinha o direito de fazer um único
envio para cada nome indicado. Assim, lançou-se, no dia 19 de junho de 2000, o site 1000 Prêmios, uma espécie de loteria virtual com
distribuição de um grande prêmio de 500 mil reais, um carro zero
quilômetro por mês e mil reais por dia. Já no primeiro mês de atividade, obteve-se como resultado um total de 26.000 novos nomes
cadastrados, quase o triplo do que se esperava conseguir.
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Marketing Direto na Internet: Análise de um Caso Brasileiro
A despeito de certa incredulidade por parte de executivos mais
seniores, o gerente responsável pela idéia encontrava espaço para
criar novas ações de marketing cada vez mais bem-sucedidas. Em
novembro daquele mesmo ano, apresentou-se a primeira campanha
por e-mail que oferecia a revista Seleções para nomes cadastrados
no site. Foram enviadas 10 mil mensagens por correio eletrônico,
obtendo-se quase 8% de vendas concretizadas. As compras realizadas pelos participantes desta campanha promocional foram 20%
maiores do que aquelas que dependiam de aluguéis de nomes, o
que demonstrou que, além da vantagem inicialmente prevista –
poder utilizar os nomes tantas vezes quantas fossem necessárias –,
os resultados de vendas eram bons, provavelmente refletindo o fato
de que os clientes captados através do site serem a priori pessoas
com identificação com o produto de alguma forma.
O sucesso da campanha fez surgir a idéia de sistematizar a prática de se utilizar campanhas de marketing direto via internet. A
decisão provinha da constatação de que, se as pessoas eram captadas através de um meio eletrônico – o site com possibilidades de
ganhar prêmios, nada mais natural que elas recebessem as ofertas e
pudessem comprar também pela internet e não mais por carta, nas
campanhas de papel. Os resultados desta segunda fase também
foram muito expressivos: foram gerados 540 mil nomes com cadastro completo, mais 330 mil nomes somente com registro de e-mail,
além da captação de 470 mil endereços eletrônicos e nomes de pessoas indicadas por amigos.
Assim, nesse momento, a revista Seleções circulava com meio
milhão de exemplares em papel depois de quase 60 anos de mercado
e, em aproximadamente um ano, as duas campanhas pela internet
tinham sido capazes de captar mais de um milhão de nomes de
consumidores a quem também se poderia oferecer os demais produtos da empresa. Curiosamente, muitas pessoas na Reader´s haviam
sido contra os esforços promocionais pela internet em função de se
crer que o perfil dos leitores da revista Seleções era incompatível
com uma forte presença da empresa no mundo virtual.
Para conduzir uma análise mais detida acerca do perfil dos clientes
da Reader´s, os executivos da empresa costumavam utilizar as informações dos perfis dos leitores de Seleções, já que, em função da
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estratégia de marketing adotada ao longo de tantos anos, o cliente
sempre tinha o primeiro contato com a empresa através da oferta
da revista Seleções.
Um mapeamento feito em setembro de 2006 apontou que a
maioria dos clientes de Seleções era composta por mulheres: 63%
dos leitores correspondiam a donas de casa, mulheres casadas e
mães que consumiam produtos para a casa, para os filhos e para si
próprias. Aproximadamente 72% dos clientes tinham crianças em
casa, e esse dado fez com que a empresa atentasse para um segmento que ainda não era explorado até o momento da realização
do mapeamento, e passasse a investir na comercialização de livros
e CDs infantis.
No que diz respeito à estratificação social, os clientes típicos
eram pessoas pertencentes às classes A e B – respectivamente 25%
e 44%. Com relação ao grau de escolaridade, os clientes também
pertenciam a um grupo social privilegiado: 53% possuíam nível
superior e 13% pós-graduação. Essas informações levaram a
Reader’s a classificar os leitores de Seleções como “formadores
de opinião”.
Talvez a principal variável capaz de caracterizar o leitor médio
de Seleções seja a idade, uma vez que a revista costumava ser percebida como leitura de pessoas conservadoras e/ou mais velhas.
Os leitores com mais de 30 anos representavam 67% do total (contra 57% na população brasileira), sendo a faixa etária de 30 a 49
anos aquela que apresentava maior concentração de clientes (35%).
No início de 2007, as campanhas pela internet seguiam a mesma estrutura de ação em duas etapas. A primeira compreendia a
prospecção de novos clientes, sempre feita com a oferta de assinatura da revista Seleções, a qual podia ser através de campanhas de
banner ou de aluguel de nomes, tanto para campanhas em papel
quanto para internet – e nesse último caso eram chamadas de campanhas de Outside List. A outra etapa era a conversão, na qual, após
responder a primeira oferta, o cliente passava a receber uma seqüência de promoções de marketing direto (New to File – NTF). Por
meio desses NTF eram oferecidos livros, coleções de música em
CDs, além de produtos próprios e de terceiros oferecidos por catálogo. A revista Seleções passou a funcionar como chamariz para
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que os clientes efetuassem novas compras de produtos e também
como uma espécie de garantia de qualidade de uma marca cuja
imagem foi tão fortemente construída.
Visando aumentar a relação de nomes que constavam do banco de dados da empresa, o plano de mídia adotado baseou-se na
veiculação de banners em grandes portais, sites de busca e de entretenimento. Os usuários captados por meio dos banners eram
direcionados diretamente para a peça promocional da revista, que
consistia em uma primeira página intermediária (o teaser do concurso, geralmente convocando o consumidor para um sorteio) e
uma segunda que captava nome e e-mail, conseguindo assim visitors
para serem usados em campanhas futuras. Antes, quando os usuários fechavam a peça eram redirecionados para o site 1000 Prêmios;
depois passavam a ser levados para o site de Seleções, diretamente
para a página que anunciava o produto. Desde o momento em que
foi implantada, essa nova estratégia trouxe um número três vezes
maior de cadastros em comparação com a estratégia antiga do 1000
Prêmios, obtendo-se muito mais vendas como resultado final.
Os banners interativos (aqueles que “falam” diretamente com o
potencial cliente – “Tem mensagem para você”) e misteriosos (que
não revelam que produto seria oferecido) eram os que tinham os
melhores click rates médios (medida do interesse do usuário da
internet) em comparação com os interativos e não misteriosos; e
com os não interativos. As taxas eram de 51% para os banners
interativos e misteriosos, 16% para os interativos e não misteriosos
e 1% para os não interativos.
As campanhas de banners tiveram papel fundamental na obtenção de resultados na empresa, uma vez que foi através delas
que se obteve em média 4.200 vendas por mês da revista Seleções
no decorrer do ano de 2006, além da captação média mensal de
63.500 nomes. Visando a melhora destes resultados, a empresa continuou a buscar novos portais para veicular seus banners, visando
assim atingir novas pessoas. No início de 2007, as campanhas eram
feitas em sete portais.
A Reader´s Brasil passou a servir de exemplo para a Reader´s
International no que diz respeito ao uso eficiente da T.I. no
marketing direto, por ter ocorrido aqui o desenvolvimento da
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inteligência de mercado de criar índices extremamente relevantes
para acompanhar mês a mês o resultado em cada canal de cada
portal. De posse desses índices, passou a ser possível buscar sempre fazer a melhor combinação de portais, canais, banners e número
de impressões. Os resultados desta estratégia foram, até o início de
2007, mais de 3 milhões de nomes gerados, 70 mil cadastros por
mês, sendo 55 mil cadastros realmente novos para internet e 41.250
novos para a empresa, ou seja, que nunca haviam recebido nenhuma
oferta da Reader’s nem por campanha de internet nem de papel.
Esses novos nomes foram fundamentais, já que se sabe que clientes
não impactados com ofertas anteriormente (Never Previously
Prometed – NPP) tendem a comprar mais do que aqueles que já o
foram (Previously Prometed – PP).
Em sinergia com as campanhas de banners, passaram a ser desenvolvidas campanhas de Outside List, ou seja, envios de e-mail
marketing para nomes conseguidos com outras empresas, sejam elas
especializadas em aluguel de banco de dados, portais de internet e
outras de diversos ramos que alugam os nomes da sua base de clientes. Por contrato, nesse aluguel de nomes, a Reader´s só tinha o
direito de fazer um envio para cada nome. Esse tipo de campanha
tinha os mesmos objetivos que as campanhas de banners: captar
nomes para formação de cadastro e vender revistas.
Uma vez cadastrados, seja através de uma campanha de
banner ou de um esforço de Outside List, o cliente entrava no
fluxo de New to File (NTF), passando então a receber a oferta de
um produto diferente por mês, durante os nove meses seguintes, geralmente alternando uma oferta de livro com uma oferta
de CD musical, no caso de internet, e durante quatro meses nas
campanhas de papel. Para cada uma dessas ofertas eram enviadas três mensagens de e-mail, uma a cada semana, e na quarta
semana o cliente não recebia mensagem alguma. A maior parte
dos pedidos (60%) ocorria já na primeira semana em que o cliente
recebia a mensagem promocional. Na segunda semana ocorriam
24% dos pedidos e os 16% restantes aconteciam na terceira semana de campanha.
A Reader´s Brasil desenvolveu algumas regras particulares
para suas campanhas. As mensagens de e-mail do fluxo de NTF
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eram sempre personalizadas, para que o cliente se sentisse único,
de acordo com a estratégia de comunicação da empresa. Os temas
dessas mensagens tinham que ser sempre misteriosos, baseados
em assuntos do momento e não deveriam comportar títulos que
fizessem referências a vendas. “Você decide”, “Boas notícias” e
“Mensagem urgente” são exemplos de assuntos usados nos títulos das mensagens promocionais. Logo que o cliente abrisse
o e-mail, o conteúdo deveria ser apresentado de modo bem claro,
com imagens fortes e impactantes, e usando joguinhos
interativos, de modo a compelir a sua participação. Todas essas descobertas de como se obter os melhores resultados foram
fruto de pesquisas realizadas ao longo dos anos anteriores,
durante os quais foram registradas as modalidades
promocionais mais eficazes, por tentativa-e-erro.
O cliente que passava pelo fluxo de NTF da internet não recebia campanha de papel enquanto não terminasse esse fluxo. Uma
outra medida adotada para que não houvesse canibalização, ou seja,
para que o cliente não recebesse muitas ofertas em um curto espaço
de tempo, foi a chamada política de descanso, que consistia em
deixar o cliente por um determinado período de tempo sem ser
impactado com ofertas. Para descobrir o ponto ótimo que representasse o tempo ideal de “descanso” foram feitos vários testes,
chegando-se à conclusão de que o descanso ideal para o cliente
correspondia a um período de 24 meses.
Visando melhorar ainda mais esse sistema de fluxo de NTF, a
empresa iniciou um estudo sobre o comportamento de cada grupo
de clientes vindos de cada canal especifico das campanhas de banner
ao longo do fluxo. Além de melhorar a programação de banner, este
estudo possibilitou que os consumidores classificados como integrantes desses grupos recebessem ofertas mais identificadas com o
seu perfil.
Em 2006, a divisão de internet da Reader’s Digest Brasil recebeu
um prêmio – concedido pela Reader’s International – em função de
suas iniciativas pioneiras em desenvolvimento de e-mail marketing
e peças promocionais, e pelos ótimos resultados nas campanhas de
banner. No que tange aos resultados da Reader´s International, o
Brasil é o segundo país em termos de receita, só perdendo para os
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Estados Unidos, quando são analisados os dados de internet, conforme mostra a Tabela 1. São também muito expressivos os dados
de internet que dizem respeito à venda da revista, os quais são apresentados na Tabela 2. Vale lembrar que, durante muito tempo, a
revista Seleções servia somente como meio de prospecção de novos
clientes, sendo negativo o retorno direto de suas vendas, quadro
que foi revertido graças à utilização das campanhas de internet.
Tabela 1 - Resultados do ano fiscal 2006 (julho de 2005 a julho de
2006)
Banners
Outside
List
Inside List
Site
(rd.com)
Total
Austrália/ Nova
Zelândia
19%
0%
12%
0%
11%
Brasil
Canadá
Alemanha
México
Inglaterra
Reader's Digest
Internacional
29%
0%
0%
51%
1%
100%
43%
8%
3%
15%
31%
100%
37%
9%
5%
27%
10%
100%
34%
61%
5%
0%
1%
100%
35%
12%
3%
31%
9%
100%
Fonte: Reader´s Digest Internacional
Tabela 2 - Resultados do ano fiscal 2006 (julho de 2005 a julho de
2006)
No. de pedidos
pagos
Lucro/Prejuizo
33%
22%
20%
10%
8%
6%
1%
38%
42%
12%
36%
-12%
-20%
4%
Índia
México
Brasil
Canadá
Inglaterra
Austrália/ Nova Zelândia
Alemanha
Fonte: Reader´s Digest Internacional
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Marketing Direto na Internet: Análise de um Caso Brasileiro
Um outro exemplo de sucesso das ações de internet na Reader´s
Brasil foi a implementação do débito em conta como forma de
pagamento. Isso minimizou um dos maiores problemas enfrentados,
o fato de as pessoas, em sua grande maioria, optarem por pedido
em boleto bancário, método esse muito propenso ao não pagamento.
Antes da opção de débito em conta, em média 86% dos pedidos
eram gerados em boleto bancário. O desempenho médio de pagamento
relacionado a boletos era de 28%, o que fazia com que o desempenho da campanha girasse em torno de 35%. Com a nova forma de
pagamento, os pedidos em boleto caíram para 64%, tendo-se 11%
para cartão de crédito e 25% para débito em conta. Em virtude de o
desempenho de pagamento do débito em conta ser de 81%, o
desempenho geral da companhia subiu para 43%.
5. Considerações Finais
O objetivo da presente pesquisa foi apresentar o desenvolvimento dos princípios e técnicas associados ao marketing direto a
partir do avanço da T.I., desde o aparecimento das perspectivas de
e-business e web marketing. Utilizou-se o estudo de caso da divisão
internet da Reader´s Digest Brasil para mostrar como a adaptação
de uma organização às mudanças no âmbito tecnológico podem
constituir uma vantagem competitiva e potencializar as oportunidades estratégicas a serem aptoveitadas pela empresa.
A experiência da Reader´s pode levar ao entendimento de que
as práticas de marketing direto na internet já não são tão incipientes
no Brasil. Ao contrário, os princípios e técnicas desenvolvidos para
o cenário brasileiro foram aproveitados pela Reader´s International
para benchmarking em outras unidades.
O estudo mostrou que, na Reader´s, as ferramentas de marketing
direto não parecem ser utilizadas apenas como instrumento de apoio
às vendas, sem integração com o composto de comunicação da empresa. Em verdade, a excelência em marketing direto – pela internet
ou em papel – é uma das competências centrais da organização desde
sua fundação. Para favorecer a eficácia de suas ações, a Reader´s valese amplamente de jogos, prêmios e, especialmente, da diretriz de
personalizar, sempre que possível, as correspondências realizadas por
ocasião das campanhas de e-mail marketing.
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Ainda com relação a essa modalidade de marketing direto, e
ao contrário do que preconiza a literatura, na Reader´s não se pensa que a melhor maneira de utilizar o web marketing deva sempre
ser por intermédio de e-mail marketing em detrimento dos banners,
pois nesta organização os banners são utilizados em integração com
o e-mail marketing, já que eles constituem a forma mais eficiente de
captar nomes para formação do banco de dados.
Por fim, há que se alertar para o fato de que o aluguel de um
banco de dados de clientes a partir de terceiros pode gerar problemas,
como, por exemplo, prejuízos na imagem corporativa em função
de os consumidores atingidos pelas campanhas não terem autorizado a empresa a remeter-lhes anúncios, o que faz com que uma
ação criada para gerar vendas acabe ocasionando antipatia e
desfavorecendo os esforços de vendas. Ademais, o aluguel de uma
lista por uma empresa para outra tem implicações éticas que
merecem ser igualmente discutidas – per se ou em associação aos
problemas gerados para o marketing da organização – em outros
esforços de pesquisa acadêmica.
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RELATÓRIO ANUAL DE GESTÃO - REVISTA
ADM.MADE – 2007
Revista ADM.MADE, ano 7, volume 11 – números 1, 2 e 3
Total de artigos publicados: 15
Artigos de autores de instituições nacionais: 14
Artigos de autores de instituições internacionais: 1
Números temáticos: 2 (n. 1 e n.2)
Número de artigos: submetidos, rejeitados, retirados, aceitos e em
avaliação
No ano de 2007, foram submetidos à Revista vinte e seis artigos, sendo:
- quinze aceitos e publicados (sendo sete artigos convidados à
submissão);
- nove rejeitados;
- dois permanecem em processo de avaliação.
Intervalo médio entre o recebimento, aprovação e publicação de um
original
O intervalo médio entre o recebimento do material para análise e o
resultado é de aproximadamente sessenta dias. Os artigos aprovados
foram publicados no mesmo ano, segundo a temática da revista.
Relação de artigos publicados, por número:
Revista ADM.MADE, ano 7, volume 11, número 1, janeiro a abril
Volume temático – Estratégia
Organizador: Jorge Augusto de Sá Brito e Freitas (MADE/UNESA)
Artigos:
MARTENS, C.D.P.; FREITAS, H.M.R. Empreendedorismo no nível
organizacional: um modelo conceitual para estudo da orientação empreendedora,
suas dimensões e elementos. p.15-44.
PASQUALOTTO, C.; SAMPAIO, C.H.; PERIN, M.G. Barreiras à exportação
no setor moveleiro. p.45-73.
ALMEIDA, V.M.C. Fatores antecedentes do modo de entrada em mercados extraregionais: proposição de um modelo de expansão extra-regional do varejo. p.75-101.
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
149
RIBAS, J.R; COSENZA, H.J.S.R.; ESTRADA, I.G. Absorção de conhecimento
em parcerias: caso Varig e Star Alliance. p.103-123.
ALYRIO, R.D.; PERES, A.A.; MENDONÇA, J.R.C.; DIAS, J.C.S.P. O
perfil psicológico e o comportamento decisório dos gestores da empresa pública.
p.125-151.
Revista ADM.MADE, ano 7, volume 11, número 2, maio a agosto
Volume temático – Gestão de Pessoas
Organizadora: Isabel de Sá Affonso da Costa (MADE/UNESA)
Artigos:
NEPOMUCENO, L.H; BATISTA-DOS-SANTOS, A.C. O que dizem os
trabalhadores sobre aprendizagem organizacional: um estudo teórico-empírico
em uma média empresa. p.17-46.
RIGO, A.S.; SOUZA FILHO, N.A.; SOUZA, D.C. Gestão do conhecimento:
aspectos críticos para a gestão estratégica de pessoas. p.47-70.
SILVA, LM.T.; MEDEIROS, C.A.F.; CÂMARA, A.R.G.S; ENDERS, W.T.
Modelo de Valores Competitivos e suas relações com o desempenho profissional
numa organização hoteleira. p.71-98.
MARQUES, G.M.; MEDEIROS, C.A.F.; FRANÇA, A.G.C.; RIBEIRO,
M.F.G. Estilos de liderança e comprometimento organizacional: uma aplicação
do Multifactor Leadership Questionnaire (MLQ) no Brasil. p.99-125.
VALADÃO JÚNIOR, V.M.; MEDEIROS, C.R.O.; GUEDES, R.R. A
influência das dimensões culturais nacionais brasileiras na orientação dos
líderes de uma instituição financeira. p.127-152.
Revista ADM.MADE, ano 7, volume 11, número 3, setembro a dezembro
Artigos:
VAN DER LAAN, E.A.; BRITO, M.P.; VERMAESEN, S. Logistics information
and knowledge management issues in humanitarian aid organizations. p.17-39.
THIRY-CHERQUES, H.R.; RODRIGUES, E.M.T. Fronteiras do trabalho
digital: exclusão, identidades e tecnologia da informação. p.41-68.
TAKAHASHI, A.R.W.; FISCHER, A.L. Aprendizagem organizacional como
mudança cultural e institucionalização do conhecimento. p.69-100.
150
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
BAÊTA, A.M.C.; MELO, V.S. Venture capital: estratégia de financiamento
para empresas emergentes inovadoras. p.101-115.
BARBOSA, J.G.P.; SILVA, M.G.P. Obstáculos ao desenvolvimento de
inteligência competitiva para o comércio exterior: o caso de um arranjo produtivo
local. p. 117-141.
Relação de Pareceristas ad hoc
ALFREDO MACIEL
Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial
Universidade Estácio de Sá
ANNA MARIA DE SOUZA MONTEIRO CAMPOS
Instituto de Medicina Social
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
ELAINE MARIA TAVARES RODRIGUES
Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas
Fundação Getulio Vargas
GRACE VIEIRA BECKER
Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
HARVEY JOSÉ DOS SANTOS RIBEIRO COSENZA
Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial
Universidade Estácio de Sá
ISABEL DE SÁ AFFONSO DA COSTA
Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial
Universidade Estácio de Sá
JOAQUIM RUBENS FONTES FILHO
Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas
Fundação Getulio Vargas
JORGE AUGUSTO DE SÁ BRITO E FREITAS
Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial
Universidade Estácio de Sá
JOSÉ GERALDO PEREIRA BARBOSA
Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial
Universidade Estácio de Sá
LAMOUNIER ERTHAL VILLELA
Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial
Universidade Estácio de Sá
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
151
ROBERTO DA COSTA PIMENTA
Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas
Fundação Getulio Vargas
Distribuição
· Assinatura
O serviço de assinatura da revista ADM.MADE não esteve disponível
no ano de 2007.
· Permutas
UNIP – Biblioteca Central UNIP
Clementino - São Paulo
Universidade Vale do Itajaí
Itajaí – SC
UNIFMU – Centro Universitário
São Paulo
UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí
Itajaí – Santa Catarina
UNIFIEO – Centro Universitário FIEO
Osasco - São Paulo
Univ. Cândido Mendes
Campos dos Goytacazes - Rio de Janeiro
CRIE – Centro de Referência em Inteligência Empresarial
Rio de Janeiro
FAFIL/FASC – Faculdade de Administração de Santa Cruz do Rio
Pardo
Santa Cruz do Rio Pardo – São Paulo
152
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
ESIC
Curitiba - Paraná
FGV - SP
São Paulo
Faculdades Porto Alegrenses
Porto Alegre – RS
Centro Universitário Franciscano do Paraná
Curitiba – Paraná
Faculdade Ubaense Ozanam Coelho
Ubá - Minas Gerais
Associação Limeirense de Educação - ALIE
Limeira – São Paulo
Associação Limeirense de Educação - ALIE
Limeira – São Paulo
Centro Universitário Moura Lacerda
Ribeirão Preto – SP
Universidade Católica de Goiás
Goiânia – GO
Fundação Edson Queiroz
Fortaleza – Ceará
Faculdade de Economia, Adm., Atuária, Contabilidade e Secretariado
Fortaleza – Ceará
Faculdades Integradas Curitiba
Curitiba – Paraná
UNIFAMMA – Faculdade Metropolitana de Maringá
Maringá – Paraná
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
153
· Bibliotecas do Brasil
Bibliotecas da Universidade Estácio de Sá localizadas no Estado do
Rio de Janeiro
Cidade do Rio de Janeiro (Campus/Unidade):
Arcos da Lapa – Centro
Rua Riachuelo, nº 27
Centro II
R. Marquês de Pombal, 150
Menezes Côrtes – Centro
Rua São José, 35/15º andar
Praça XI - Centro
Av. Presidente Vargas, 2.560
Presidente Vargas – Centro
Av. Presidente Vargas, 642
Rebouças – Rio Comprido
Rua do Bispo, 83
Dorival Caymmi - Copacabana
Rua Raul Pompéia, 231
Bangu
Rua Rio da Prata, 391
Akxe – Barra da Tijuca
Avenida Prefeito Dulcídio Cardoso, 2.900
Barra World – Recreio
Av. Alfredo Baltazar da Silveira, 580 – cobertura
154
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
Terra Encantada – Barra da Tijuca
Avenida Ayrton Senna, 2.800 – parte
Tom Jobim - Barra
Av. das Américas, 4.200 - Bloco 11
Jacarepaguá
Estrada do Capenha, 1.535 a 1.571 - Freguesia
Guadalupe
Estrada do Camboatá, 2.300
Ilha do Governador
Estrada do Galeão, 1.900 - Jardim Carioca
Madureira
Estrada do Portela, nº 222 - 5º, 6º e 7º pisos
Méier
Rua Lins de Vasconcelos, 58
Millôr Fernandes - Méier
Rua Dias da Cruz, 255/3º piso
Norte Shopping - Pilares
Av. Dom Hélder Câmara, 5080
Nova América – Del Castilho
Av. Pastor Martin Luther King Jr., 126
Penha
Avenida Lusitânia, 169/179 - Penha Circular
R9 – Taquara
Rua André Rocha, 838
Vargem Pequena
Estrada Boca do Mato, 850
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
155
Vila Valqueire
Estrada Intendente Magalhães, 635 – parte
West Shopping – Campo Grande
Estr. do Mendanha, nº 555
Demais municípios do Estado do Rio de Janeiro (Campus/Unidade):
Santa Cruz
Rua Felipe Cardoso, nº 1.660 – Centro
Cabo Frio
Rodovia General Alfredo Bruno Gomes Martins, s/nº - lote 19 - Bairro
Braga
Campos dos Goytacazes
Av. 28 de Março, 423 – Centro
Duque de Caxias
Rua Major Correa de Melo, 86 - Jardim 25 de Agosto
Macaé
Rua Luis Carlos de Almeida, 113 - Granja Cavaleiros
Niterói
Rua Eduardo Luiz Gomes, 134 - Centro
Nova Friburgo
Jardim Sans Souci, s/nº - Braunes
Nova Iguaçu
Rua Oscar Soares, 1.466 - Califórnia
Petrópolis
Rua Bingen, 50 – Bingen
Petrópolis II
Av. Barão do Rio Branco, 2.894 - Centro
156
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
Queimados
Rua Professor Sampaio, 19 (parte) – Camarim
Resende
Rua Zenaide Vilela, s/nº - Jardim Brasília
São Gonçalo
Av. São Gonçalo, 100 - Rodovia Niterói–Manilha
São João de Meriti
Av. Automóvel Clube, 2.384 - Vilar dos Teles
Bibliotecas da Universidade Estácio de Sá localizadas fora do Estado
do Rio de Janeiro
Faculdade de Alagoas - FAL
Rua Pio XII, 355 – Jatiúca - Maceió/AL
Rua Sá de Albuquerque, N° 574 – Jaraguá – Maceió/AL
Faculdade do Amapá - FAMAP
Rodovia Juscelino Kubistschek, SN – Jardim Equatorial – Macapá /Amapá
Centro Universitário da Bahia
Rua Dr. José Peroba, 149, Centro Empresarial Eldorado, 3º andar, Sala
302, STIEP – Salvador/Bahia - CEP: 41770-790
Rua Xingú, 179 – Bairro Stiep - Jardim Atalaia
Rua Coronel Durval de Mato s/nº – Costa Azul
Fortaleza - Faculdade Integrada do Ceará - FIC
Rua Vicente Linhares, 308 - Aldeota – Fortaleza – CE Rua Eliseu Uchôa Becco, nº 600 - Água Fria - Fortaleza - CE
Juazeiro do Norte - Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte - FMJ
Av. Tenente Raimundo Rocha, s/nº - Bairro Planalto – Juazeiro do Norte/CE
Faculdade de Goiás - FAGO
Rua 67-A, Quadra 140, Zona Industrial, Setor Norte Ferroviário –
Goiânia/GO
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
157
Faculdade do Pará - FAP
Rua Municipalidade, 839 – Bairro Reduto – Belém–PA
Faculdade Integrada do Recife - FIR
Av. Eng. Abdias de Carvalho, 1678 – Madalena – Recife/PE
Faculdade Câmara Cascudo - FCC
Av. Alexandrino de Alencar, 708 – Alecrim – Natal–RN
Faculdade de Sergipe - FASE
Rua Urquisa Leal, 538 – Salgado Filho – Aracaju / SE
FAESO - Faculdade Estácio de Sá de Ourinhos
Av. Engenheiro Luiz Saldanha Rodrigues, Quadra C1A, Novo
Ourinhos, Ourinhos – SP
FESBH - Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte
Av. Francisco Sales, 23, Floresta, Belo Horizonte - MG
FESJF - Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora
Av: Presidente João Goulart, 600, Cruzeiro do Sul, Juiz de Fora - MG
FESCG - Faculdade Estácio de Sá de Campo Grande
Rua Venâncio Borges do Nascimento, n° 377, Jardim TV Morena,
Campo Grande - MS
FESSC - Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina
Rua Leoberto Leal, 431, São José – SC
FESV - Faculdade Estácio de Sá de Vitória
Rua Herwan Modenese Wanderley, Quadra 06, Lote 01, Jardim
Camburi, Vitória - ES
FESVV - Faculdade Estácio de Sá de Vila Velha
Rua Cabo Alyson Simões, 1.170, Centro, Vila Velha - ES
158
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
· Associados da ANPAD
Mestrado Profissional em Administração
Escola Superior de Administração e Gerência/ESAG
Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC
Florianópolis - SC
Mestrado em Administração/CMA
Universidade de Federal de Santa Maria/UFSM
Santa Maria – RS
Universidade Federal do Espírito Santo/UFES
Vitória – ES
Mestrado em Administração de Empresas/CMA
Universidade de Fortaleza/UNIFOR
Fortaleza – CE
Faculdade Novos Horizontes
Belo Horizonte - MG
Universidade Estadual do Ceará /UECE
Fortaleza - CE
Mestrado em Ciências Contábeis
Programa de Pós-Graduação Multiinstitucional
UnB/UFPB/UFPE e UFRN
Brasília - DF
Mestrado em Desenvolvimento
Universidade Regional do Noroeste do Estado do RS/UNIJUI
Ijuí – RS
Mestrado Profissional em Administração
FEAD-Minas Centro de Gestão Empreendedora
Belo Horizonte - MG
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
159
Mestrado Profissional em Administração
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais/PUC Minas
Belo Horizonte - MG
Mestrado Profissional em Administração
Universidade Potiguar/UnP
Natal- RN
Mestrado Profissional em Gestão Ambiental
Centro Universitário Positivo/ UnicenP
Curitiba - PR
Mestrado Profissional em Gestão Empresarial
Faculdade Boa Viagem/FBV
Recife - PE
Mestrado Profissional em Gestão Pública para o Desenvolvimento do
Nordeste
UFPE/ADENE/PNUD
Recife – PE
Mestrado Profissionalizante em Gestão e Estratégia em Negócios
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ
Seropédica – RJ
Pós-Graduação em Administração/CPGA
Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC
Florianópolis - SC
Pós-Graduação em Controladoria e Contabilidade
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade/FEA
Universidade de São Paulo/USP
São Paulo - SP
Departamento de Política Científica e Tecnológica/DPCT
Universidade Estadual de Campinas/UNICAMP
Campinas - SP
160
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
Instituto COPPEAD de Administração
Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ
Rio de Janeiro - RJ
Mestrado Acadêmico em Administração
Centro Universitário Salesiano de São Paulo/UNISAL
Americana - SP
Mestrado Acadêmico em Administração
Universidade FUMEC
Belo Horizonte - MG
Mestrado e Doutorado em Administração de Empresas
Escola de Administração de Empresas de São Paulo/EAESP
Fundação Getúlio Vargas/FGV
São Paulo - SP
Mestrado de Ciências Contábeis
Faculdade de Administração e Finanças/FAF
Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ
Rio de Janeiro - RJ
Mestrado e Doutorado em Administração de Empresas
Instituto de Administração e Gerência/IAG
Pontíficia Universidade Católica do Rio de Janeiro/PUC-Rio
Rio de Janeiro - RJ
Mestrado em Administração
Escola de Gestão e Negócios/EGN
Universidade do Grande Rio/ UNIGRANRIO
Rio de Janeiro - RJ
Mestrado em Administração
Universidade de Caxias do Sul/UCS
Caxias do Sul - RS
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
161
Mestrado em Administração Estratégica
Programa de Pós-Graduação em Administração/PPGA
Universidade Salvador/ UNIFACS
Salvador - BA
Mestrado em Administração Pública
Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas /EBAPE
Fundação Getúlio Vargas/FGV
Rio de Janeiro - RJ
Mestrado em Administração Pública
Fundação João Pinheiro/FJP
Belo Horizonte - MG
Mestrado e Doutorado em Administração Pública e Governo
Escola de Administração de Empresas de São Paulo/EAESP
Fundação Getúlio Vargas/FGV
São Paulo - SP
Mestrado em Ciência Contábeis
Faculdade de Administração e Ciências Contábeis/FACC
Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ
Rio de Janeiro - RJ
Mestrado em Controladoria e Contabilidade
Faculdade Economia, Administração e
Contabilidade de Ribeirão Preto – FEA-RP/USP
Ribeirão Preto – SP
Mestrado em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente
Centro Universitário SENAC
São Paulo - SP
Mestrado em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável/GDLS
Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco/FCAP
Universidade de Pernambuco/UPE
Recife - PE
162
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
Mestrado Profissional em Administração/MPA
Centro Universitário Nove de Julho/UNINOVE
São Paulo- SP
Mestrado Profissional em Administração
Faculdades IBMEC Rio de Janeiro
Rio de Janeiro - RJ
Mestrado Profissional em Administração/MPA
Fundação Cultural Dr. Pedro Leopoldo/FCDrPL
Faculdades Integradas de Pedro Leopoldo/FPL
Pedro Leopoldo - MG
Mestrado Profissional em Administração/ MPA
Universidade Federal do Ceará /UFC
Fortaleza - CE
Mestrado Profissional em Administração
Universidade Metodista de Piracicaba/UNIMEP
Piracicaba - SP
Mestrado Profissional em Controladoria/MPC
Universidade Federal do Ceará /UFC
Fortaleza - CE
Núcleo de Pós-Graduação em Administração/NPGA
Universidade Federal da Bahia/UFBA
Salvador - BA
Programa de Estudos Pós-Graduados em Administração
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/PUC-SP
São Paulo - SP
Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Financeiras e
Contábeis/CCA
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/PUC-SP
São Paulo - SP
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
163
Programa de Mestrado em Administração
Universidade do Vale do Rio dos Sinos/UNISINOS
São Leopoldo - RS
Programa de Mestrado em Administração
Centro Universitário Positivo/ UnicenP
Curitiba - PR
Programa de Mestrado em Administração
Universidade Municipal de São Caetano do Sul
São Caetano do Sul - SP
Programa de Mestrado em Administração
Universidade Paulista/UNIP
São Paulo - SP
Programa de Mestrado em Administração e Negócios/MAN
Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia/FACE
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/PUCRS
Porto Alegre - RS
Programa de Mestrado em Ciências Contábeis
Centro de Ciências Econômicas/Centro 5
Universidade do Vale do Rio dos Sinos/UNISINOS
São Leopoldo – RS
Mestrado em Ciências Contábeis
Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado - FECAP
São Paulo - SP
Programa de Mestrado Profissional em Ciências Contábeis
Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia
e Finanças/FUCAPE
Vitória - ES
Programa de Pós-Graduação/PPA
Consórcio UEL/UEM
Universidade Estadual de Maringá/UEM
Maringá- PR
164
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
Programa de Pós-Graduação em Administração/ PPGAd
Centro de Ciências Sociais Aplicadas
FURB/Universidade Regional de Blumenau
Blumenau - SC
Programa de Pós-Graduação em Administração/PROPAD
Centro de Ciências Sociais Aplicadas/CCSA
Universidade Federal de Pernambuco/UFPE
Recife - PE
Programa de Pós-Graduação em Administração Escola de Administração/
PPGA/EA
Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS
Porto Alegre - RS
Programa de Pós-Graduação em Administração/PPGA
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade/FEA
Universidade de São Paulo/USP
São Paulo - SP
Programa de Pós-Graduação em Administração/PPAD
Pontifícia Universidade Católica do Paraná/PUCPR
Curitiba - PR
Programa de Pós-Graduação em Administração/PPGA
Universidade de Brasília/UnB
Brasília – DF
Programa de Pós-Graduação em Administração/PPGA
Universidade Federal de Lavras/UFLA
Lavras - MG
Programa de Pós-Graduação em Administração/PPGA
Universidade Federal da Paraíba/UFPB
João Pessoa - PB
Programa de Pós-Graduação em Administração/PPGA
Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN
Natal - RN
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
165
Programa de Pós-Graduação em Administração
Universidade Federal de Uberlândia/UFU
Uberlândia - MG
Programa de Pós-Graduação em Administração
Universidade Federal de Viçosa/UFV
Viçosa - MG
Programa de Pós-Graduação de Administração de Empresas
Universidade Presbiteriana Mackenzie
São Paulo - SP
Programa de Pós-Graduação em Administração de Organizações
Faculdade Economia, Administração e
Contabilidade de Ribeirão Preto – FEA-RP/USP
Ribeirão Preto - SP
Programa de Pós-Graduação em Administração e Desenvolvimento
Rural/PADR
Universidade Federal Rural de Pernambuco/UFRPE
Recife - PE
Programa de Pós-Graduação em Agronegócios/PPG
Centro de Estudos e Pesquisa em Agronegócios/CEPAN
Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS
Porto Alegre - RS
Programa de Pós-Graduação em Contabilidade/PPGC
Centro Sócio-Econômico/PPGC
Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC
Florianópolis - SC
Programa de Pós-Graduação em Gestão de Negócios
Universidade Católica de Santos/UNISANTOS
Santos - SP
166
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
Programa de Pós Graduação em Administração e Turismo
Universidade do Vale do Itajaí/UNIVALI
Biguaçu – SC
Programa de Pós-Graduação/Mestrado em Administração/MA
Universidade Metodista de São Paulo/UMESP
São Bernardo do Campo - SP
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
167
CORPO DOCENTE DO MESTRADO
LAMOUNIER ERTHAL VILLELA
Doutor em Economia - Université de la Sorbonne Nouvelle - Paris III, França
Coordenador Geral do Mestrado
JOSÉ GERALDO PEREIRA BARBOSA
Doutor em Administração - COPPEAD/UFRJ
Coordenador-Adjunto
JORGE AUGUSTO DE SÁ BRITO E FREITAS
Doutor em Administração de Empresas - IAG/PUC-Rio
Coordenador de Pesquisa
ANTONIO AUGUSTO GONÇALVES
Doutor em Engenharia de Produção - COPPE/UFRJ
ANTONIO CARLOS MAGALHÃES DA SILVA
Doutor em Engenharia de Produção - COPPE/UFRJ
HARVEY JOSÉ SANTOS RIBEIRO COSENZA
Doutor em Engenharia de Produção - COPPE/UFRJ
IRENE RAGUENET TROCCOLI
Doutor em Administração de Empresas - IAG/PUC-Rio
ISABEL DE SÁ AFFONSO DA COSTA
Doutora em Administração - EBAPE/FGV
JESÚS DOMECH MORÉ
Doutor em Engenharia - COPPE/UFRJ
JOSÉ ROBERTO RIBAS
Doutor em Administração de Empresas - EAESP/FGV
LUIZ MARTINS DE MELO
Doutor em Economia da Indústria e da Tecnologia - IE/UFRJ
MARCO AURÉLIO CARINO BOUZADA
Doutor em Administração - COPPEAD/UFRJ
PAULO ROBERTO
DA
COSTA VIEIRA
Doutor em Administração - COPPEAD/UFRJ
VERA MARIA MEDINA SIMONETTI
Ph.D. em Educação - The Claremont Graduate School, EUA
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
169
CORPO DOCENTE QUE ATUA NA DIREÇÃO DO CURSO DE
GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
CARLOS ROBERTO FERNANDES DE ARAÚJO
Coordenador Geral do Curso de Graduação em Administração
JOÃO ADALBERTO CAMARGO DURÇO
LUIZ ALBERTO GRAVINA BELMIRO
PAULO ROBERTO ARGOLO BEZERRA
Coordenadores Adjuntos
ANTÔNIO VIANNA MATIAS
Núcleo Básico de Administração
CRISTINA CONCEIÇÃO NOGUEIRA FIGUEIREDO
Núcleo de Comportamento Humano e Organizacional
ANA SHIRLEY DE FRANÇA MORAES
Núcleo de Teoria e Prática
ATTILA DE MATTOS FERREIRA JUNIOR
Núcleo de Contabilidade e Finanças
ANTONIO ELDER DE OLIVEIRA TAVARES
Núcleo de Economia
EDUARDO ANTÔNIO FERNANDES DE ARAÚJO
Núcleo de Mercado
JOÃO ALVES DOS SANTOS FILHO
Núcleo de Quantitativo
FERNANDO KOKI YASSUHIRA
Núcleo de Produção
JOSÉ EDUARDO DE ARAÚJO DUARTE
Núcleo de Direito
ANTONIO RODRIGUES DE ANDRADE
Núcleo de Sistemas de Informação
CLEONICE DE OLIVEIRA DIAS
Núcleo de Estágio
170
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
NORMAS DE SUBMISSÃO DE ARTIGOS
Os critérios a serem observados no encaminhamento de textos para submissão à Revista ADM.MADE são os seguintes:
1. Formato: Papel A4 (29,7-21,0 cm); margens: superior, inferior, esquerda
e direita = 2,5 cm; editor de texto Word; caracteres times new roman, tamanho
12, espaçamento 2. O texto não deverá exceder 25 (vinte e cinco) páginas,
aí incluídos quadros, tabelas, figuras, notas e referências bibliográficas.
No início do trabalho, deverá ser colocado somente o título, sem identificação
do(s) autor(es). Em página separada deverá ser apresentado o título do
trabalho, acompanhado dos dados completos sobre o(s) autor(es)
(titulação, IES de origem, titulação acadêmica, endereço e e-mail).
Os artigos poderão ser redigidos em português, espanhol ou inglês.
Devem conter resumos em português e inglês, com no máximo dez
linhas, e indicação de no mínimo três e no máximo cinco palavraschaves, em português e inglês.
2. Citações e referências bibliográficas:
As notas de rodapé deverão ser numeradas de forma seqüencial no
corpo do texto. As referências do(s) autor(es) deverão ser apresentadas no corpo do texto, pelo sobrenome, seguida do ano de publicação.
No caso de citação textual é preciso indicar também o número da página.
Não devem ser usados ibid, op cit, etc. A bibliografia completa do(s)
autor(es) citados deve ser apresentada em ordem alfabética no final do
texto, seguindo as normas da ABNT(NBR-6023).
Exemplos:
a) Livro com mais de um autor
ABDEL-AAL, R.E.; AL-GARNI, Z. Forecasting Monthly Electric Energy
Consumption in eastern Saudi Arabia using Univariate Time-Series
Analysis, Energy, v. 22, n.11, p.1059-1069,1997.
ABRAHAM, B.; LEDOLTER, J. Statistical Methods for Forecasting. New York:
John Wiley & Sons, 1983.
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
171
b) Manual
NOVA CULTURAL. Grandes temas de medicina: manual ilustrado de anatomia, doenças e tratamentos. São Paulo: Abril, 1986. V.1.
c) Dicionário
SIDOU, J. M. Dicionário jurídico 4. Ed. Ver., ampl. e atual. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 1998
O artigo deve ser enviado em disquete de 3 ½ para submissão, acompanhado de três vias impressas ou pelo site.
MECANISMO DE AVALIAÇÃO
Será adotado o sistema blind review com dois consultores para análise dos
trabalhos remetidos para publicação. O prazo para resposta ao(s) autor(es)
é de no máximo sessenta dias, contados a partir da data de recebimento
na ADM.MADE. Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva
do(s) autor(es). Permite-se a citação de parte dos trabalhos, desde que
identificada a fonte.
Os trabalhos deverão ser enviados para:
Editora Assistente: Profª.Denize Rachel Veiga
Revista ADM.MADE
Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial e Curso
de Graduação em Administração da Universidade Estácio de Sá.
Avenida Presidente Vargas, n.º 642 / 22º andar
Centro – Rio de Janeiro – Cep: 20071-001
Telefones: (21) 2206-9743 Fax: (21) 2206-9751 ou por
E-mail: [email protected]
172
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
Critérios utilizados pelos Pareceristas da Revista ADM. MADE:
Itens considerados pelos pareceristas na avaliação de textos para publicação na Revista ADM.MADE:
1.
o
o
o
o
Conteúdo do trabalho
Identificação dos objetivos do trabalho;
Metodologia de pesquisa;
Consistência na fundamentação teórica;
Bibliografia ou referências clássicas e atualizadas.
2.
o
o
o
Relevância científica e social
Relevância do tema/ problema;
Inovação;
Contribuição para novas pesquisas.
3.
o
o
o
Qualidade do texto
Normatizações da ABNT;
Normas internas;
Normas gramaticais.
4.
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Apresentação escrita
Clareza;
Precisão;
Objetividade;
Unidade;
Coerência;
Consistência;
Coesão;
Linguagem cuidada e adequada.
Revista ADM.MADE, ano 8, v. 12, n. 1 - jan/abr, 2008
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A Revista ADM.MADE do Mestrado em Administração e Desenvolvimento
Empresarial e do Curso de Graduação em Administração da Universidade Estácio
de Sá é uma publicação semestral, voltada à divulgação da produção científica,
fomentando e facilitando seu intercâmbio no âmbito nacional e internacional.
Tem como finalidade básica contribuir para a ampliação e entendimento do
conhecimento na área de Administração, mediante a divulgação de trabalhos de
pesquisa e de análises teóricas que possam subsidiar as atividades acadêmicas e as
ações administrativas de organizações públicas e privadas, em um contexto de crescente incerteza e complexidade
Assinatura
Assinatura anual: R$ 45,00
A aquisição da assinatura pode ser realizada com cheque nominal - à
Sociedade de Ensino Superior Estácio de Sá – no valor de R$45,00 junto à Ficha de
adesão preenchida:
Remetendo, via CORREIOS, para o Mestrado em Administração e
Desenvolvimento Empresarial
Ou pessoalmente na Secretaria dos Mestrados
Endereço: Avenida Presidente Vargas, 642 / 22° andar – Centro –
Cep 20071-001 – Rio de Janeiro – RJ
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FICHA DE ADESÃO
NOVA ASSINATURA .
RENOVAÇÃO
.
PESSOA JURÍDICA:.................................................................................................
Empresa / Instituição:......................C.N.P.J.:...........................................................
Setor: ............................................................................................................................
Endereço:......................................................................................................................
CEP.: ........................ Cidade:.................................... UF:..... PAÍS:.........................
Telefone:........................ Fax.:............................ E-mail:............................................
PESSOA FÍSICA.:......................................................................................................
Profissão:.....................................................................C.P.F.:................ .....................
Empresa / Instituição: ...............................................................................................
Endereço:......................................................................................................................
CEP.: ........................ Cidade:.................................... UF:..... PAÍS:.........................
Telefone:.......................... Fax.:.......................... E-mail:............................................
Rio de Janeiro, ......../........./......... Assinatura:............................................
Números Anteriores: R$ 15,00
– Ano 2003 nº___
– Ano 2004 nº___
– Ano 2005 nº___
– Ano 2006 nº___
– Ano 2007 nº___
Esta ficha pode ser encontrada e impressa no site da Revista ADM.MADE
http://www.estacio.br/revistamade
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