ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CURSO DE PEDAGOGIA: REFLEXÕES ACERCA DA PRÁTICA DOCENTE CORREIA, Larissa Costa1 - UEL FRANZOLIN, Fernanda2 - UEL Grupo de Trabalho – Práticas e Estágios nas Licenciaturas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Além de consolidar a relação teórica e prática, o estágio supervisionado possibilita novos olhares acerca da futura profissão do estagiário ao compreender e sentir na prática de intervenção os desafios e possibilidades de sua atuação. Portanto, é de suma importância a realização do estágio supervisionado nos cursos de graduação, devendo ser realizado com respaldo teórico para que haja reflexão acerca deste momento, antes, durante e após sua realização. O presente estudo refere-se a uma parte da síntese reflexiva desenvolvida por meio da realização do Estágio Supervisionado nas Séries Iniciais do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. A realização do estágio ocorreu em todas as salas das Séries Iniciais do Ensino Fundamental em uma escola municipal localizada na cidade de Londrina – PR. O objetivo geral do estudo foi caracterizar a importância do estágio para a formação do futuro professor e refletir sobre a motivação no contexto escolar. As atividades realizadas no campo de estágio foram pautadas por um estudo coletivo – dupla de estagiárias e supervisora – e respaldo teórico, sendo este objeto de reflexão e análise aos desafios que incidem no estágio. Por meio das reflexões acerca do vivido no estágio, é possível considerar este momento como de suma importância aos que realizam, trazendo resultados de cunho reflexivo sobre a prática docente. Após uma rememoração das atividades de intervenção, a motivação de alunos em séries iniciais foi tema escolhido para ser discutido e subsidiar a reflexão acerca das vivências no estágio. Compreende-se que a motivação deve ser contextualizada por professores regentes para que não se perca o objetivo da prática docente, que é a aprendizagem dos alunos. Esta aprendizagem só é possível quando há interesse, sentido e motivação. Palavras-chave: Estágio supervisionado. Séries Iniciais. Ação docente. Introdução 1 Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Mestranda em Educação na UEL. Email: [email protected]. 2 Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Professora Adjunta no Departamento de Educação da UEL. E-mail: [email protected]. 22718 Nos cursos de licenciatura torna-se pertinente ser atribuída grande importância dos estágios supervisionados como momento de contato e reflexão acerca da futura prática profissional do aluno. Além de adentrar em um campo específico, é possível por meio de observações e intervenções vivenciar e sentir os desafios e possibilidades a serem enfrentadas pelo aluno em processo de formação. O presente estudo refere-se a uma síntese reflexiva desenvolvida por meio da realização do Estágio Supervisionado nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental, inserido no 4º ano do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina – UEL. O estágio foi realizado em uma escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental, localizada na cidade de Londrina, Paraná. A realização do estágio foi de 136 horas distribuídas entre as duplas de estagiárias com a finalidade de que todas pudessem intervir em todas as salas de nível fundamental da escola. Orientações iniciais a respeito do campo de estágio foram realizadas em conjunto com uma professora do Departamento de Educação da UEL, responsável pela supervisão deste estágio. Nos encontros de orientação, foi discutido inicialmente sobre a importância do estágio e os cuidados antes de ir a campo. Posteriormente, realizaram-se já no campo de estágio as observações participativas e, intervenções em todas as salas de 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental da escola. Primeiramente, em cada classe, as alunas tinham um período de observação, onde conheciam os alunos e conversavam com a professora regente sobre os possíveis temas de intervenção. No segundo momento, com a orientação da supervisora as discentes planejavam as atividades. Após colocá-las em prática, tinham um retorno avaliativo da supervisora que as observava durante a regência. Todas as atividades eram registradas e refletidas no diário de estágio. A supervisora também avaliava esse instrumento, dando um retorno formativo por meio de um parecer. As anotações no diário de estágio elucidaram os conteúdos propostos pelas professoras regentes em cada turma, as formas de ensino e as estratégias que eram utilizadas no cotidiano escolar, permitindo reflexão acerca do observado e auxiliando no processo de compreensão da futura profissão, permitindo a este estudo relacionar as vivências encontradas no campo do estágio com questões acerca da motivação no contexto escolar. As atividades propostas nas intervenções foram realizadas em duplas, tomando o cuidado em atender as necessidades manifestadas pelas professoras regentes de cada sala, buscando manter relação sempre com o que já estava sendo ensinado, priorizando propostas 22719 significativas às crianças, onde a aprendizagem fosse o foco de nossas práticas. Este estudo estrutura-se por partes, para melhor esclarecimento e compreensão das atividades desenvolvidas no período de estágio, bem como, para as reflexões e discussões teóricas acerca do processo. Esta síntese traz informações a respeito da importância do estágio na graduação, e também informações sobre o campo escolar onde foi realizado, contemplando suas principais informações – aspectos básicos. Em seguida, são explanadas as atividades desenvolvidas com as crianças no período da intervenção, elucidando de forma sucinta como foram efetivadas, bem como os resultados alcançados respaldados por embasamento teórico, apresentando discussões acerca de reflexões sobre a motivação dos alunos viabilizadas no estágio dialogadas com a literatura, e, por fim, as considerações finais acerca do percurso do estágio realizado, onde é possível refletir acerca do aprendido. O objetivo principal frente ao estágio supervisionado nas séries iniciais do Ensino Fundamental foi de compreender a rotina escolar neste nível (1º ao 5º ano), bem como as estratégias utilizadas por professores frente às dificuldades dos alunos, portanto, procurou-se buscar subsídios para a futura prática docente dos estagiários em ação. A importância do estágio na graduação Nos cursos de formação de professores, há os estágios nos campos específicos, momento importante, pois se torna possível observar dificuldades e também direções a seguir, além de promover o contato com a prática. Muitos alunos desses cursos de formação de professores, apesar de estarem em um período avançado da graduação (3º e/ou 4º ano), ainda não possuem a prática docente. A participação no estágio, portanto, permite reflexão e debates entre os participantes. Nesse sentido: [...] as estagiárias, profissionais em formação, ganham possibilidades de experimentar e construir seu papel de “professor-pesquisador”, exercitando sua capacidade de ler a realidade, visualizar ou detectar as necessidades e, no processo coletivo de reflexão, ir arriscando propostas e alternativas de encaminhamentos (OSTETTO, 2000, p. 22). Portanto, o processo de estágio exige um olhar contextualizado de quem o faz, buscando romper preconceitos e aplicar uma intervenção que contribua para a aprendizagem das crianças presentes nesse processo e ainda, para a aprendizagem no campo de ensino de quem o realiza. Ao assumir o lugar de regência de uma sala é possível ao estagiário perceber 22720 as dificuldades que ele observava quando o professor regente estava ministrando a aula, desta forma, o estagiário torna-se capaz de compreender o outro, tentando, portanto, realizar seu ensino com o auxílio de estratégias diferenciadas na tentativa de conseguir melhores resultados em sala. Ao reconhecer a importância do estágio, é possível compreender que ele é para o aluno fonte de muita aprendizagem, tornando-se um momento privilegiado em que: [...] o aluno se coloca como cientista e pesquisador da realidade; a ele cabe indagar e questionar a realidade discordando dela, caso esta se mostre em oposição às questões fundamentais para efetivação da educação, principalmente nos casos de licenciaturas (FERNANDES; SILVA, 2007, p.2). De maneira crítica e ética, é possível que o estagiário ao perceber as dificuldades em determinados momentos do ensino do professor regente, contribua de maneira colaborativa com este professor. Desta forma, ao realizar sua intervenção, o estagiário buscará propor atividades justamente naquilo que ele observou como necessário. Esse exercício deve ser feito com responsabilidade e em parceria com o professor regente, pois ao entrar em um espaço de outra pessoa, deve-se atentar ao que é possível e ao que não é possível fazer. É importante que o aluno contate ao professor regente sobre conteúdos e estratégias estudados na graduação, como forma de subsidiar ao regente novas práticas a serem adentradas em sala de aula, sempre focando a aprendizagem dos alunos. Uma outra questão acerca dos estágios na graduação é que nos cursos de licenciatura são frequentes as inquietações acerca da separação entre teoria e prática, sendo um discurso muito presente a ser contradito. Contestar essa separação é um grande desafio, pois muitos não compreendem que teoria e prática na verdade são indissociáveis e muito integrantes, pois uma prática sem fundamentos torna-se uma prática vazia, torna-se o fazer por fazer, sem objetivos a serem alcançados. Desta forma, o desafio dos cursos de licenciatura é unir a teoria e prática da forma mais perceptível e sentida pelos alunos. Conforme Fávero (1992, p.65) “não é só frequentando um curso de graduação que um indivíduo se torna profissional. É, sobretudo, comprometendo-se profundamente como construtor de uma práxis que o profissional se forma”. Portanto, deve-se buscar incansavelmente à indissociabilidade entre teoria e prática nos cursos de formação de professores, pois muitas vezes, teoria e prática tornam-se separadas erroneamente (PIMENTA, 2004). Compreende-se por meio das discussões no campo da educação a necessidade de romper a falácia sobre a distinção de teoria e prática por meio de 22721 uma prática transformadora, onde o estágio torna-se um momento investigativo, reflexivo e que articula a teoria ministrada na graduação. Nos estágios de Pedagogia deve ser possibilitada aos estagiários a complexidade das práticas institucionais e as ações pedagógicas para preparo desse futuro profissional. O estágio torna-se o momento de aproximar o graduando da realidade que logo será a dele, além disso, “[...] a importância do estágio não se resume à integração do aluno ao mercado de trabalho ou ao aprimoramento de suas habilidades no âmbito profissional. Trata-se também de um aspecto relevante na formação da pessoa.” (BOUSSO et al., 2000, p. 218). Portanto, permite a reflexão sem julgar em certo ou errado o observado, mas sim, permite a análise crítica dos achados para constituir a identidade do profissional que está por vir, buscando evitar os equívocos das práticas observadas, contribuindo para uma boa postura que estará se constituindo na prática futura. Ainda, juntamente com os discentes, os supervisores auxiliam na reflexão e análise das observações, tendo como base, teóricos pertinentes que contribuem para esse olhar crítico e aprofundado. A realização do estágio é um momento essencial na formação do futuro professor, pois, é possível ampliar a análise de um contexto, possibilitando também o desenvolvimento de uma postura adequada, compreensão e problematização de diversas situações, além de coletivamente desenvolver ações possíveis (intervenções) no campo de observação. No momento de estágio, a identidade do educador pode ser consolidada por esse profissional em formação, onde é possível construí-la por meio das experiências vividas. O estágio possibilita ao graduando verificar a realidade de seu futuro campo de trabalho. É possível identificar os desafios que serão enfrentados, sendo então um momento de reflexão e de propostas para superar esses desafios, visando sempre um ensino de qualidade para as crianças presentes nesse processo. Caracterização do campo de estágio (Dados do PPP) Conforme previamente mencionado, a realização do estágio foi em uma escola pública de Educação Infantil e Ensino Fundamental situada no município de Londrina, Paraná. Conforme o PPP da escola, atualmente a instituição funciona em três turnos: matutino, vespertino e noturno. As cargas horárias dos cursos ofertados são de 800 horas aulas /200 dias letivos. Afirma também que a escola realiza um trabalho interdisciplinar para que não haja fragmentação do conhecimento, isto é, a escola oferta os diferentes níveis e modalidades de 22722 ensino, Educação Infantil, Ensino Fundamental, e, Educação de Jovens e Adultos, apresentando os conteúdos e objetivos em ciclos, os quais serão separados e selecionados pelos professores no momento do planejamento de acordo com a atuação no ano/série. Esse trabalho é, por sua vez, acompanhado e orientado pela equipe pedagógica da escola. A unidade escolar desenvolve, também o trabalho em sala de recursos com alunos avaliados e encaminhados pela equipe de atendimento psicopedagógico da rede municipal. A escola conta com oito salas de aula, além de uma sala de recursos, uma sala de contraturno, uma biblioteca, quadra de esportes coberta, além das salas de direção, de supervisão e dos professores. O documento ainda afirma que a escola tem como objetivo formar cidadãos capazes de atuar na sociedade com dignidade e competência. Para isso busca abranger conteúdos consonantes com as questões sociais de cada momento, tais como política, economia, sexo, droga, saúde, meio ambiente, tecnologia, etc., buscando também o desenvolvimento de valores e atitudes. Considera que a aprendizagem é essencial para que os alunos possam exercer seus direitos e deveres. Deste modo, a instituição busca desenvolver atividades que trabalhem questões atuais e que façam parte do cotidiano dos alunos. Sendo assim, busca, a participação da comunidade, tomando conhecimento da realidade dos alunos para que contribua nas propostas da escola e em suas estratégicas. Considera que a educação básica deve ser o caminho para assegurar a todos a formação comum indispensável para o exercício da cidadania, fornecendo meios para atingir na construção de cada sujeito. Por meio das observações realizadas na escola, pode-se constatar que de fato o que é proposto no PPP ocorre na prática, pois há uma preocupação na interação escola e família, além dos conteúdos serem voltados ao cotidiano das crianças. Os professores sempre questionam as crianças antes de uma atividade, buscando compreender o que ela já sabe, ou seja, sua bagagem cultural. Atividades desenvolvidas As atividades propostas nos momentos de intervenção foram sempre voltadas às necessidades apontadas pelas professoras das salas, contando também com os apontamentos da supervisora, com a finalidade de tornar as propostas mais viáveis e relevantes. A primeira intervenção aconteceu no 2º ano B, com uma proposta da área do 22723 conhecimento de Português, tendo como objetivo desenvolver as habilidades de leitura e escrita das crianças. A atividade foi sobre a música “O Sapo não lava o Pé”, com sílabas faltando, onde as crianças deveriam preencher corretamente. Outra proposta realizada na mesma sala foi a realização de um bingo, onde trabalhou-se a leitura no quadro dos animais sorteados no bingo, para que as crianças reconhecessem as letras e por fim, as palavras que seriam os nomes dos animais, tomando-as como palavras estáveis. A intervenção realizada no 2º C foi a confecção de um convite para o outro 2º ano, onde a turma os convidou para um “Dia do Filme” que de fato aconteceu. Trabalhamos com as crianças os gêneros textuais: convite e bilhete, explicando as diferenças e seus objetivos. O objetivo desta intervenção foi de propiciar a ampliação das habilidades de interpretação textual e a comparação dos diferentes gêneros textuais. No 3º ano a proposta de intervenção abarcou a área de conhecimento de ciências, onde o objetivo da intervenção foi trabalhar sobre os vegetais, suas necessidades, partes das plantas e a alimentação delas. Como atividade, lemos coletivamente um texto onde falava sobre as partes das plantas, depois solicitamos que as crianças encaixassem as partes na planta representada por uma figura e para finalizar, realizamos o plantio de feijão. A intervenção realizada no quarto ano foi uma sugestão da professora regente para que eles estudassem para a prova que ela daria sobre o tema: água. As atividades foram todas em forma de experiências para que as crianças compreendessem os diferentes processos de separação das substâncias da água. Ainda, propomos a confecção de um livrinho, onde as crianças representaram pictoricamente as experiências, seus resultados e informações acerca delas. A última intervenção aconteceu no 1º ano, onde propusemos uma atividade que abrangeu os conteúdos de português e história. As crianças realizaram o preenchimento de uma “identidade”, onde puderam reconhecer as datas de nascimento, nomes dos pais e local de nascimento, bem como se reconhecer como sujeito histórico, por meio de um documento pessoal. Resultados alcançados A intervenção realizada no 2º ano B atendeu os objetivos pretendidos. Ainda, o envolvimento das crianças foi gratificante, bem como as hipóteses que iam surgindo ao formarem as sílabas nas palavras com lacunas e também no momento do bingo. A professora 22724 regente da sala gostou bastante da proposta do bingo, sugerindo que as crianças confeccionassem um após nossa intervenção. Na proposta de intervenção realizada no 2º ano C, consideramos como a mais gratificante, por conta da significância do conteúdo proposto na confecção do convite pelo fato de ser algo real, portanto, despertou a curiosidade e motivação das crianças ao realizar as atividades. Já o terceiro ano, foi uma turma que tivemos algumas dificuldades quanto ao comportamento, pelo fato de serem bem heterogêneos, por isso, propomos algo mais lúdico, como o plantio do feijão. As crianças ficaram mais motivadas, inclusive pelo fato de trabalharem em grupo, ação que elas não realizavam com frequência. A turma do quarto ano era bastante madura, o que facilitou o momento da intervenção. Por termos proposto atividades de experimentos, em alguns momentos foi difícil conter as conversas paralelas, mas tudo foi feito com a participação de todos e o resultado da intervenção, expresso nos livrinhos que as crianças confeccionaram foi muito gratificante. A última proposta de intervenção apresentou uma surpresa, quando um dos alunos não a quis realizar. Depois de certa insistência, ele decidiu participar, mas, tendo atitudes que não condiziam com o momento. Contudo, após ficarmos mais próximas a ele, ele finalizou a atividade. Os demais alunos demonstraram interesse na realização das atividades, o que facilitou no processo de intervenção. Os resultados alcançados no período de estágio podem ser sintetizados pela participação e interação efetiva das crianças não apenas em muitos momentos da observação da interação das professoras com as crianças, mas principalmente nos dias que foram realizadas as atividades propostas como intervenção, havendo uma participação coletiva, respeitosa e rica em termos de aprendizagem mútua. Mas, por meio de todas as observações realizadas e ainda, juntamente com as intervenções propostas, percebeu-se que ainda existe a necessidade de motivar as crianças para realizar as atividades que o professor propõe. Por isso, de todos os aspectos observados no estágio tornou-se relevante uma discussão acerca da motivação para o ensino. Por meio das observações foi possível compreender que um aspecto relevante na postura do professor é a necessidade do uso de diferentes instrumentos para despertar o interesse dos alunos. É possível perceber a necessidade do uso de estratégias para que a postura do professor tenha implicação positiva na motivação dos alunos, sendo que essa deve 22725 ser compreendida não somente ligada a fatores emocionais, familiares ou econômicos, mas, como destaca Guimarães (2001, p. 78), “o que ocorre normalmente é uma combinação de fatores, resultando num sistema de interações multideterminadas. De maior relevância é o que acontece dentro da escola e da própria classe”. Sendo assim, Ryan e Stiller (1991 apud GUIMARÃES, 2001) compreendem o espaço da sala de aula como ambiente de socialização e que, além disso, as ações do professor ali desempenhadas são vistas como elementos informativos e relevantes para o comportamento, o envolvimento, as estratégias de pensamento e o grau de esforço pelos alunos. Para tanto, é possível afirmar que a postura do professor é fator determinante na orientação motivacional dos alunos. Em relação à concepção de motivação, Guimarães (2001, p. 80) enfatiza: Diferente de uma habilidade ou conhecimento, a motivação não é resultado de treino ou de instrução, ela pode ser objeto de socialização através de estratégias de ensino. Embora não sejam desconsideradas as crenças, conhecimentos, expectativas e hábitos que os estudantes trazem para a escola a respeito da aprendizagem e da motivação, o ambiente instrucional imediato torna-se fonte de influência para o seu envolvimento com a aprendizagem. Nesse contexto, evidenciam-se a natureza das tarefas, as avaliações, o sistema de recompensas, a autonomia propiciada, entre outras variáveis, todas sob controle do professor e que são particularmente relevantes para a socialização dos alunos no sentido de assumirem algum tipo de orientação vocacional. Guimarães (2001) propõe estratégias para auxiliar na motivação do aluno em sala de aula por meio de uma prática docente compromissada com a aprendizagem. A primeira estratégia refere-se às tarefas, salientando o fato de que grande parte do tempo na escola é destinada a essas atividades de aprendizagem, e que nem sempre parecem atrativas aos olhos dos alunos, e isso ocorre por conta da ausência de alguns pontos fundamentais na determinação do aluno no cumprimento da atividade escolar. Conforme as observações foi possível perceber que muitas vezes a tarefa torna-se uma obrigação sem objetivos, seguida de uma breve correção. Durante as intervenções procuramos diversificar as atividades propostas e sempre buscar sentido à mesma. Preferimos, por exemplo, que as crianças produzissem textos a partir de situações significativas como um relato de um experimento que lhes chamasse muito a atenção na aula de ciências, ou elaborando um contive para os colegas da outra turma participar com eles de uma atividade prazerosa. Em vez de trabalhar estratégias de leitura com textos pouco significativos para as crianças trabalhamos com o texto de uma música que lhe 22726 chamam atenção. Para que essa relação se faça presente, os alunos devem ser capazes de perceber os aspectos significativos da atividade, e isso ocorre quando compreende que o conteúdo de uma atividade pode melhorar ou levá-lo a obter novos conhecimentos e habilidades. O conteúdo de modo geral, não apenas nas tarefas, precisa despertar o interesse pessoal do aluno, além do fato de que a proposta de atividades deve apresentar metas específicas e ser de curto prazo, visto que o aluno deve perceber que a possibilidade de conclusão. As atividades propostas, além de apresentarem claramente os objetivos reais para a sua execução e o significado para o aprimoramento de habilidades, também necessitam ser diversificadas, pois a novidade e a mudança, bem como outros aspectos, são pontos potencializadores para a motivação do aluno frente ao trabalho a ser desenvolvido. Outra estratégia a ser realizada pelo professor faz referência à persuasão verbal, destacando as capacidades dos alunos para que eles sintam-se motivados. Durante a observação do estágio, verificou-se que sempre havia uma criança mais interessada em responder e a professora acabava por não saber o que uma criança mais quieta sabia sobre determinada pergunta. Deste modo, é necessário que o professor deva valorizar o esforço do aluno no processo de construção do conhecimento, aliando esse aspecto às estratégias de aprendizagem. Neste sentido, de acordo com Bzuneck (200-, p. 7), “[...] os alunos podem também desenvolver a auto-eficácia quando, de alguma forma, lhes for comunicado que eles têm as capacidades de realizar a tarefa em questão”. Deste modo, os professores devem realizar suas aulas buscando a proposição da confiança manifestada pelo aluno, e isso ocorre por meio de situações de incentivos onde o aluno se sinta capaz de avançar. Outro aspecto relevante para propiciar a motivação, é sobre a importância da realização de trabalhos em agrupamentos, algo já observado em algumas salas no campo de estágio. É possível perceber que a formação de grupos ocorre naturalmente e, normalmente, essa organização está ligada ao ritmo próprio de trabalho e aos padrões de desempenho, capacidades e interesses. Em sua prática pedagógica, e buscando motivar o aluno, o professor deve reorganizar os grupos de forma que os mesmos não sejam homogêneos, propondo a formação de grupos com alunos que ainda não trabalharam juntos. Essa prática permite que haja a aproximação de diferentes ritmos de trabalho e abordagens de tarefas, possibilitando novas interações e expectativas, interferindo no desempenho dos alunos (GUIMARÃES, 22727 2001). Quanto à avaliação das aprendizagens, o professor precisa, a priori, concebê-la como parte do processo, além de uma oportunidade em que é possível obter informações sobre o desempenho do aluno, fazendo com que a meta aprender seja ampliada. O ato avaliativo deve ocorrer em todo o processo de forma formativa, onde o professor verifica se os objetivos foram propostos e retoma por meio da tomada de decisão os conteúdos que não foram ainda atingidos (Hoffmann, 2000). Nas observações realizadas, os momentos de avaliação – correção de tarefa, realização de atividades e outros – acontecia na maioria das vezes de forma muito rápida, onde o professor apenas corrigia certo ou errado no caderno do aluno. Já em um caso específico, a professora circulava os erros para que se tornassem observáveis aos alunos, para que posteriormente fosse superado. Deste modo, conforme Guimarães (2001), em relação ao tempo – também estratégia motivacional – este deve ser organizado de forma a respeitar e atender as necessidades relacionadas às atividades de aprendizagem, como também as de seus alunos, compreendendo os diferentes ritmos e contribuindo para a aprendizagem efetiva dos alunos. Percebemos que as professoras possuem dificuldades em oportunizar tempo para os alunos. Assim como nos momentos avaliativos, as atividades ocorriam de forma rápida, onde os que não terminavam deveriam guardar o caderno e já ir para o próximo conteúdo. As estratégias mencionadas acima, relacionadas com as observações realizadas, devem ser utilizadas em conjunto, de forma a atender às necessidades e dificuldades das crianças, buscando promover a motivação das mesmas no contexto escolar, considerando que em algumas observações foram presentes a falta de motivação de algumas crianças para realizar e até mesmo iniciar uma atividade. Considerações finais Para a discente que relata como primeira autora neste artigo o estágio contribuiu em sua formação como futura professora, atingindo os objetivos iniciais e superando as expectativas, pois, foi possível analisar a futura prática, que além de uma profissão, torna-se uma ação social ao contribuir com a construção da autonomia e desenvolvimento das crianças. Ademais, muitas situações no campo de estágio tornam-se importantes a observar como: estrutura física, estratégia de ensino, atividades diversificadas, momentos de leitura, 22728 formas de controle da sala, entre outros fatores que são importantes para subsidiar a prática docente. Outro fator de grande valor que o estágio favorece é observar como o professor regente é em sala, pois através dessa análise é possível verificar posturas a serem espelhadas e almejadas. Esse olhar sobre o professor regente no campo do estágio deve ser muito atento e longínquo de preconceitos, pois nesse momento deve-se refletir sobre a postura de um educador e não cair em contradição no futuro. Dessa forma, concordamos com Ostetto (2000) no que diz respeito à importância da atividade de estágio como um exercício de observação, pesquisa e experimentação sobre a realidade. A discussão proposta neste trabalho referente à motivação foi despertada por meio das observações e vivências realizadas na escola, pois particularmente, acredito que há pontos que devam ser destacados e discutidos com a finalidade de serem melhorados, para que a aprendizagem seja o foco de uma escola. Desta forma a discente, dialogando com seus autores de referência (GUIMARÃES, 2001; BZUNECK, 200-) pôde perceber quais práticas docentes podem contribuir com a motivação dos alunos, tais como a proposição de atividades diversificadas e significativas, o favorecimento da autonomia e valorização do aluno, bem como a realização de avaliações que valorizem o processo de aprendizagem das crianças e as façam ter ciência deste. Ainda, a observação participativa e intervenção no estágio realizada em parceria com outra pessoa – na dupla de estagiárias – contribuiu para a prática educativa, pois ser professor exige reflexão e ação conjunta com demais educadores, sendo assim, desde o momento do estágio essa situação já se constitui e torna-se mediada pelo supervisor de estágio que orienta os discentes e os diálogos sobre a realidade observada. Portanto, é de grande importância a realização do estágio na graduação para fornecer subsídios na formação do professor, pois esse momento vai além de conhecer o cotidiano da sala de aula, ação do professor e o espaço físico de uma instituição. Esse momento auxilia na consolidação da identidade do professor, motivando-o para o desenvolvimento de seu trabalho com posicionamento adequado e preocupado com a efetivação do ensino e aprendizagem. REFERÊNCIAS BOUSSO, Regina Szylit. et al. Estágio curricular em enfermagem: transição de 22729 identidades. 2000. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v34n2/v34n2a13.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2013. BZUNECK, José Aloyseo. As crenças de auto-eficácia e o seu papel na motivação do aluno. 200-. Disponível em:< http://www.uky.edu/~eushe2/Pajares/Bzuneck2.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2013 FÁVERO, Maria Lourdes de Albuquerque. Universidade e estágio curricular: subsídios para discussão. In: ALVES, Nilda (org.). Formação de professores: pensar e fazer. São Paulo: Cortez, 1992. FERNANDES, Marleide Lopes; SILVA, Maria Ap. Félix do Amaral. A importância do estágio para a formação do universitário. Disponível em: <http://www.lo.unisal.br/nova/estagio/revista_estagiando2007/pedagogia/3%20Ped%20B2.pd f>. Acesso em: 10 fev. 2013. GUIMARÃES, Sueli Édi Rufini. Motivação intrínseca, extrínseca e o uso de recompensas em sala de aula. In: Boruchovitch, E.; Bzuneck, J. A. (Orgs.). A motivação do aluno. Petrópolis: Vozes, 2001. HOFFMANN, Jussara Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-escola à universidade. 18. ed. Porto Alegre: Mediação, 2000. OSTETTO, Luciana E. Encontros e encantamentos na educação infantil. Campinas. São Paulo: Papirus, 2000. PIMENTA, Selma Garrido. Estágio e Docência. São Paulo: Cortez, 2004. p.33-79.