CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO ÁREA DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS Curso de Mestrado em Nanociências GABRIELA D’AVILA FARIAS FORMULAÇÕES SEMISSÓLIDAS CONTENDO NANOCÁPSULAS DE ADAPALENO: DETERMINAÇÃO DA ESTABILIDADE, AVALIAÇÃO DA LIBERAÇÃO IN VITRO E ENSAIOS UTILIZANDO BIOMETRIA CUTÂNEA Santa Maria, RS 2011 GABRIELA D’AVILA FARIAS FORMULAÇÕES SEMISSÓLIDAS CONTENDO NANOCÁPSULAS DE ADAPALENO: DETERMINAÇÃO DA ESTABILIDADE, AVALIAÇÃO DA LIBERAÇÃO IN VITRO E ENSAIOS UTILIZANDO BIOMETRIA CUTÂNEA Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Nanociências do Centro Universitário Franciscano de Santa Maria como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Nanociências. Orientador(a): Prof(a) Dr(a) MARTA PALMA ALVES Santa Maria, RS 2011 Ficha Catalográfica F224f Farias, Gabriela D’Avila Formulações semissólidas contendo nanocápsulas de adapaleno: determinação da estabilidade, avaliação da liberação in vitro e ensaios utilizando biométrica cutânea / Gabriela D’Avila Farias ; orientação Marta Palma Alves. – Santa Maria: Centro Universitário Franciscano, 2011. 107 f. : il. Dissertação (Mestrado em Nanociências) – Centro Universitário Franciscano, 2011. 1. Adapaleno 2. Nanocápsulas 3. Formulações semissólidas 4. Estabilidade 5. Biometria cutânea I. Alves, Marta Palma II. Título CDU 615.262.1:62-181.4 Elaborada pela Bibliotecária Zeneida Mello Britto CRB10/1374 “Os sonhos não determinam o lugar em que você vai estar, mas produzem a força necessária para tirá-lo do lugar em que está” Augusto Cury, em Nunca desista de seus sonhos AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais, que sempre me incentivaram. A eles que acreditaram nos meus sonhos e apoiaram cada iniciativa, investiram nos meus estudos e contribuíram para minhas conquistas pessoais e profissionais. À minha irmã Luciana, pela compreensão, paciência e carinho, sempre me estimulando e encorajando a buscar os meus sonhos. À minha querida avó Talita, pelo apoio incondicional. Agradecimento especial à Professora Marta Palma Alves, pela dedicação, paciência, amizade e incentivo durante todo o período de orientação. Às Professoras Renata Raffin e Sandra Cadore, pelos seus ensinamentos e contribuições, indispensáveis para a realização deste trabalho. Às amigas e colegas Isabel e Marcinha, pela amizade e auxílio, crucial para o desenvolvimento dessa dissertação. Aos colegas de mestrado, pelo companheirismo e amizade ao longo do curso, Gabi Moraes, Jerusa, Adrianne, Danieli, Danielle, Nara, Rafaeli, Thaís, Ricardo, Júnior e Michelli. À Paola, Bibiana e Taiane por toda a ajuda prestada durante a realização desse estudo. Às funcionárias Ana, Denise, Franciele e Rosane pelas conversas de descontração e pelo constante bom humor. À Professora Ivana Zanella, coordenadora do Mestrado, e à Professora Solange Fagan pela ajuda durante o tempo em que foi coordenadora do mestrado, aos Professores do programa de Pós Graduação da UNIFRA - Mestrado de Nanociências. À CAPES pelo apoio financeiro prestado através da concessão de bolsa. À Rede de Nanotecnologia/Nanocosméticos – CNPq/MCT – UFRGS, pelo apoio e incentivo. E a todos os amigos que direta ou indiretamente contribuíram para a elaboração desse trabalho. RESUMO A acne vulgar é uma doença genética hormonal, de localização pilo-sebácea. O adapaleno, retinóide de terceira geração, é uma alternativa tópica para o tratamento da acne, podendo apresentar alguns efeitos indesejáveis, sendo a irritação e o ressecamento da pele os mais comuns. Em vista disso, e conhecendo as potencialidades dos nanocarreadores, o presente trabalho tem como objetivo determinar a estabilidade físico-química de formulações semissólidas contendo adapaleno nanoestruturado incorporado em Aristoflex AVL®, avaliar os perfis de liberação em formulações semissólidas contendo nanocápsulas (NC) de adapaleno incorporadas em Carbopol 940® e verificar a segurança do fármaco nanoencapsulado in vivo, através de análises biofísicas não invasivas. Para a determinação da estabilidade as amostras foram submetidas ao ciclo gelo-degelo, completando-se um ciclo de 21 dias. Os estudos de liberação in vitro foram realizados comparando-se as formulações contendo nanocápsulas de adapaleno (GCNCA) com o gel contendo o fármaco na forma livre (GCA). Para o ensaio utilizando biometria cutânea, foram selecionados vinte voluntários saudáveis. A cada semana foram realizados testes de bioengenharia cutânea, incluindo avaliação do conteúdo aquoso do estrato córneo (hidratação), pH, coloração, eritema e perda transepidérmica de água durante 63 dias. Nos estudos de estabilidade, observou-se que o diâmetro médio das partículas, índice de polidispersão e potencial zeta do creme gel contendo NC sem adapaleno (CGNC) e do creme gel contendo NC de adapaleno (CGNCA) não apresentaram alterações após serem submetidos ao ciclo gelodegelo. As formulações semissólidas independente da forma de dispersão do fármaco apresentaram fluxo não-newtoniano e comportamento pseudoplástico durante todo o período de análise. O teor inicial de adapaleno no CGNCA não sofreu alteração, quando comparado com o teor obtido no término do experimento. Entretanto, para o creme gel contendo adapaleno livre (CGA) houve uma redução na concentração de adapaleno, visto que o teor inicial decaiu para valores abaixo de 90% após 21 dias de análise. Com relação aos estudos de liberação, pode-se observar que o GCNCA apresentou concentração total e taxa de liberação menor do que o GCA, o que demonstra a capacidade das nanopartículas em controlar a liberação do fármaco. De acordo com os resultados observados para o ensaio de bioengenharia cutânea, com relação à determinação do conteúdo de melanina, verificouse uma redução deste parâmetro no decorrer do experimento para ambas as formulações. O GCNCA não causou eritema, configurando a segurança na utilização da formulação. Entretanto, o GCA aumentou, de maneira estatisticamente significativa, o índice de eritema da pele dos voluntários. Foi observado um aumento na perda transepidérmica de água para o GCA enquanto no GCNCA observa-se uma redução deste parâmetro. Nos resultados obtidos para hidratação cutânea, observou-se uma redução mais pronunciada dos valores do conteúdo aquoso do estrato córneo nas regiões tratadas com GCA. Desta forma, evidenciou-se que as nanocápsulas poliméricas são capazes de diminuir a perda transepidérmica de água, favorecendo o grau de hidratação cutânea e mantendo a integridade do estrato córneo. Palavras-chave: adapaleno, nanocápsulas, formulações semissólidas, estabilidade, biometria cutânea. ABSTRACT Acne vulgaris is a genetic hormone disease, located in the hair follicle. Adapalene a third-generation retinoid, and it is a topical alternative for acne treatment, but may have some adverse effects, irritation and dryness of the skin are the most common. Due to this, and knowing the nanocarriers potential, the object of this study was determine the physicochemical stability of semisolid formulations containing adapalene-loaded nanocapsules (NC) incorporated in Aristoflex AVL®, evaluate the release profiles in semisolid formulations containing nanocapsules containing adapalene incorporated in Carbopol 940® and verify the safety of the formulation in vivo by noninvasive biophysical analysis. For the determination of the stability, samples were subjected to freeze-thaw cycle, completing a cycle of 21 days. The in vitro release studies were performed comparing the drug-loaded NC (GCNCA) with the gel containing adapalene in its free form (GCA). For the skin bioengineer techniques, twenty healthy volunteers were selected. Each week were performed biometric skin tests including stratum corneum water content (hydration), pH, color, erythema and transepidermal water loss for 63 days. In stability studies, we observed that the average particle size, polydispersity and zeta potential of cream gel containing NC without adapalene (CGNC) and cream gel containing adapaleneloaded NC (CGNCA) showed no change after being subjected to the freeze-thaw cycle. Semisolid formulations showed non-Newtonian flow and pseudoplastic behavior during the study period. The initial adapalene content in CGNCA did not change compared with the result obtained at the end of the experiment. However, for the cream gel containing free adapalene (CGA), there was a reduction in the drug concentration, whereas the initial content decreased to below 90% after 21 days of analysis. According to release studies, we can observe that the GCNCA showed total concentration and release rate less than the GCA, which demonstrates the ability of nanoparticles to control the drug release. According to the results observed for the non-invasive method in relation to the determination of melanin content, there was a decrease in this parameter during the experiment for both formulations. The GCNCA did not cause erythema, configuring security in the use of the formulation. However, the GCA increased the index of erythema of the skin of volunteers. We observed an increase in transepidermal water loss to the GCA while in GCNCA there is a reduction of this parameter. The results obtained for skin hydration, there was a more pronounced reduction of the values of the stratum corneum water content in the treated areas with GCA. Thus, it was evident that the polymeric nanocapsules are able to decrease transepidermal water loss, favoring the skin hydration degree and keeping the stratum corneum integrity. Keywords: adapalene, nanocapsules, semisolid formulations, stability and non-invasive method. LISTA DE ABREVIATURAS ACN - Acetonitrila; ANOVA - Análise de Variância; CGA - Creme gel contendo adapaleno na forma livre; CGNCA - Creme gel com nanocápsulas contendo adapaleno; CGC - Creme gel controle; CLAE - Cromatografia Líquida de Alta Eficiência; DP - Desvio Padrão; DPR - Desvio Padrão Relativo; FDA - Food and Drug Administration; GCA - gel de Carbopol® contendo adapaleno na forma livre; GCNCA - gel de Carbopol® contendo adapaleno nanoencapsulado; Kp - Coeficiente de permeabilidade; MSC - Critério de Seleção do Modelo; NC - Nanocápsulas; NLS - Nanopartículas Lipídicas Sólidas; PCL - poli (ε-caprolactona); PLA - ácido poli (lático); PLAGA - ácido poli (lático-co-glicólico); PTEA – Perda Transepidérmica de Água r - Coeficiente de Correlação; THF – Tetrahidrofurano; UV- Radiação Ultravioleta; LISTA DE TABELAS Tabela 1. Composição das suspensões de nanocápsulas de poli(ε-caprolactona) contendo adapaleno ............................................................................................................................. 34 Tabela 2 - Composição do gel hidrofílico contendo nanocápsulas de adapaleno ................ 36 Tabela 3. Composição do creme gel controle (CGC), creme gel contendo adapaleno na forma livre (CGA) e creme gel com nanocápsulas contendo adapaleno (CGNCA) ........... 37 Tabela 4. Mecanismos de liberação de substâncias por difusão a partir de sistemas poliméricos de diferentes geometrias (SIEPMANN e PEPPAS, 2001) .............................. 47 Tabela 5. Diâmetro médio, índice de polidispersão e potencial zeta das nanocápsulas contendo adapaleno (CGNCA) e das nanocápsulas sem adapaleno (CGNC) incorporadas em Aristoflex AVL® ............................................................................................................ 54 Tabela 6. Valores referentes à viscosidade, índice de plasticidade (n) e coeficiente de consistência (K) apresentados pelas formulações semissólidas, contendo adapaleno na forma livre (CGA) e nanoencapsulada (CGNCA) durante 21 dias de experimento ........... 58 Tabela 7. Valores referentes à espalhabilidade (mm²) das formulações semissólidas contendo adapaleno na forma livre (CGA) e na forma nanoencapsulada (CGNCA) durante 21 dias de estudo ................................................................................................................. 61 Tabela 8. Determinação do conteúdo aquoso do estrato córneo realizado por biometria cutânea utilizando gel de Carbopol® contendo adapaleno na forma livre (GCA) e na forma nanoencapsulada (GCNCA) ................................................................................................ 67 Tabela 9. Determinação do pH realizado por biometria cutânea para avaliação do gel de Carbopol® contendo adapaleno na forma livre (GCA) e na forma nanoencapsulada (GCNCA) ............................................................................................................................ 69 Tabela 10. Determinação da perda transepidérmica de água realizada por biometria cutânea utilizando o gel de Carbopol® contendo adapaleno na forma livre (GCA) e na forma nanoencapsulada (GCNCA) ................................................................................................ 71 Tabela 11. Determinação do conteúdo de melanina realizado por biometria cutânea utilizando o gel de Carbopol® contendo adapaleno na forma livre (GCA) e na forma nanoencapsulada (GCNCA) ................................................................................................ 74 Tabela 12. Determinação da presença de eritema realizado por biometria cutânea utilizando o gel de Carbopol® contendo adapaleno na forma livre (GCA) e na forma nanoencapsulada (GCNCA) ............................................................................................................................ 76 Tabela 13. Valores referentes ao fluxo, coeficiente de regressão, coeficiente de permeabilidade (Kp) e concentração total liberada de adapaleno para a forma nanoencapsulada (GCNCA) e para a forma livre (GCA) (n=6) .......................................... 80 Tabela 14. Parâmetros do modelo monoexponencial para o gel hidrofílico contendo adapaleno na forma livre (GCA) ......................................................................................... 84 Tabela 15. Parâmetros do modelo monoexponencial e biexponencial para o gel contendo adapaleno nanoencapsulado (GCNCA) ............................................................................... 85 Tabela 16. Parâmetros obtidos pela aplicação da Lei da Potência à formulação contendo adapaleno nanoencapsulado ............................................................................................... 87 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Ilustração da interdisciplinaridade entre as áreas de conhecimento utilizadas para a realização deste trabalho.................................................................................................... 18 Figura 2. Representação esquemática da pele ...................................................................... 19 Figura 3. Processo patológico da acne ................................................................................ 21 Figura 4. Mecanismo de ação dos retinóides ....................................................................... 23 Figura 5. Estrutura molecular do adapaleno........................................................................ 24 Figura 6. Representação esquemática de nanoesferas e nanocápsulas ................................ 27 Figura 7. Formulações semissólidas contendo adapaleno nanoencapsulado em 0 dias (A) e após 21 dias de experimento (B) ......................................................................................... 51 Figura 8. Formulações semissólidas contendo adapaleno na forma livre em 0 dias (A) e após 21 dias de experimento (B) ......................................................................................... 52 Figura 9. Reograma para as formulações contendo adapaleno na forma livre ou nanoencapsulada referentes aos valores iniciais e após 21 dias de estudo.......................... 60 Figura 10 - Valores referentes a espalhabilidade apresentada pelas formulações contendo adapaleno na forma livre ou nanoencapsulado durante 21 dias de estudo .......................... 62 Figura 11. Curva padrão do adapaleno obtida por CLAE ................................................... 63 Figura 12. Representação gráfica dos valores médios obtidos no período de 63 dias, no ensaio de biometria cutânea para perda transepidérmica de água ........................................ 72 Figura 13. Representação gráfica dos valores médios obtidos no período de 63 dias, no ensaio de biometria cutânea para os valores de eritema ....................................................... 76 Figura 14. Curva de calibração do adapaleno obtida por CLAE ......................................... 78 Figura 15. Perfil de liberação do gel contendo adapaleno nanoencapsulado (GCNCA) e do gel contendo o fármaco livre (GCA) até atingir o platô (48 horas) ..................................... 80 Figura 16. Ajuste gráfico do modelo monoexponencial para o gel contendo adapaleno na forma livre ........................................................................................................................... 84 Figura 17. Ajuste gráfico do modelo monoexponencial (a) e biexponencial (b) para o gel contendo nanocápsulas de adapaleno .................................................................................. 86 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 15 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 19 2.1 Pele ................................................................................................................................. 19 2.2 Acne ............................................................................................................................... 20 2.3 Retinóides ...................................................................................................................... 22 2.4 Adapaleno...................................................................................................................... 24 2.5 Nanotecnologia.............................................................................................................. 25 2.6 Nanocarreadores........................................................................................................... 26 2.7 Bioengenharia cutânea ................................................................................................. 28 3 METODOLOGIA............................................................................................................ 32 3.1 Materiais........................................................................................................................ 32 3.1.1 Matérias-primas, solventes e outros materiais............................................................. 32 3.1.2 Equipamentos .............................................................................................................. 32 3.2 Método ........................................................................................................................... 33 3.2.1 Preparação das suspensões .......................................................................................... 33 3.2.2 Avaliação físico-química das suspensões de nanocápsulas contendo adapaleno........ 34 3.2.2.1 Doseamento do adapaleno nas suspensões coloidais (taxa de recuperação) ............ 34 3.2.2.2 Determinação do diâmetro médio das partículas e índice de polidispersão ............. 35 3.2.2.3 Potencial zeta............................................................................................................ 35 3.2.2.4 Determinação do pH................................................................................................. 35 3.2.3 Preparação das formulações semissólidas contendo nanocápsulas de adapaleno ....... 36 3.2.3.1 Gel Hidrofílico.......................................................................................................... 36 3.2.3.2 Creme gel com Aristoflex AVL® ............................................................................. 37 3.2.4 Determinação dos parâmetros de estabilidade para as formulações semissólidas de Aristoflex AVL® contendo adapaleno na forma nanoencapsulada e na forma livre ............ 38 3.2.4.1 Determinação das características organolépticas das formulações semissólidas contendo adapaleno na forma livre e nanoencapsulada ....................................................... 38 3.2.4.2 Determinação da distribuição do diâmetro médio e índice de polidispersão das nanocápsulas de adapaleno................................................................................................... 39 3.2.4.3 Determinação do potencial zeta das nanocápsulas ................................................... 39 3.2.4.4 Determinação do pH das formulações semissólidas ................................................ 39 3.2.4.5 Determinação das características reológicas para as formulações semissólidas contendo adapaleno na forma livre e nanoencapsulada ....................................................... 39 3.2.4.5.1 Determinação da viscosidade ................................................................................ 39 3.2.4.5.2 Determinação da espalhabilidade .......................................................................... 40 3.2.4.6 Determinação do teor de adapaleno das formulações semissólidas ......................... 40 3.2.4.7 Teste de centrifugação .............................................................................................. 41 3.2.5 Avaliação dos efeitos das formulações na pele humana por Bioengenharia Cutânea. 41 3.2.5.1 Critérios de inclusão e exclusão para seleção de voluntários................................... 41 3.2.5.2 Condições experimentais.......................................................................................... 41 3.2.5.3 Estudos de biometria cutânea ................................................................................... 42 3.2.5.4 Determinação do conteúdo aquoso do estrato córneo (grau de hidratação cutânea) 43 3.2.5.5 Determinação do pH cutâneo ................................................................................... 43 3.2.5.6 Determinação da perda transepidérmica de água (PTEA)........................................ 43 3.2.5.7 Determinação da intensidade de melanina e eritema................................................ 44 3.2.6 Estudos de liberação in vitro ...................................................................................... 45 3.2.6.1 Análise dos resultados de liberação.......................................................................... 45 3.2.7 Ajuste de curvas dos perfis cinéticos........................................................................... 46 3.3 Análise estatística.......................................................................................................... 48 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................... 49 4.1 Avaliação físico-química das suspensões de nanocápsulas contendo adapaleno .... 49 4.2 Determinação dos parâmetros de estabilidade para as formulações semissólidas contendo adapaleno na forma nanoencapsulada e na forma livre................................. 50 4.2.1 Determinação das características organolépticas das formulações semissólidas contendo adapaleno na forma livre e nanoencapsulada ....................................................... 51 4.2.2 Determinação da distribuição do diâmetro médio, índice de polidispersão e potencial zeta das nanocápsulas de adapaleno incorporadas nas formulações semissólidas ............... 53 4.2.3 Determinação do pH das formulações semissólidas contendo adapaleno na forma livre e na forma nanoencapsulada................................................................................................. 55 4.2.4 Determinação das características reológicas para as formulações semissólidas contendo adapaleno na forma livre e nanoencapsulada ....................................................... 57 4.2.5 Determinação do teor de adapaleno das formulações semissólidas ............................ 63 4.2.5.1 Construção da curva padrão para determinação do teor de adapaleno..................... 63 4.2.5.2 Doseamento do adapaleno na forma livre e nanoencapsulada e incorporado nas formulações semissólidas ..................................................................................................... 64 4.2.6 Teste de centrifugação ................................................................................................. 65 4.3 Avaliação dos efeitos das formulações na pele humana por Bioengenharia Cutânea................................................................................................................................ 65 4.3.1 Determinação do conteúdo aquoso do estrato córneo ................................................. 66 4.3.2 Determinação do pH.................................................................................................... 69 4.3.3 Determinação da perda transepidérmica de água ........................................................ 70 4.3.4 Determinação do conteúdo de melanina...................................................................... 73 4.3.5 Determinação da presença de eritema ......................................................................... 75 4.4 Estudos de liberação in vitro ....................................................................................... 77 4.4.1 Construção da curva analítica para realização dos estudos de liberação..................... 77 4.4.2 Análise dos resultados de liberação............................................................................. 78 4.5 Ajuste de curvas dos perfis cinéticos .......................................................................... 83 5 CONCLUSÕES................................................................................................................ 89 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 92 1 INTRODUÇÃO A pele é o maior órgão do nosso organismo e representa uma barreira importante à penetração de substâncias, mantendo os fluidos corporais e eliminando substâncias nocivas. Entretanto alguns compostos com características específicas podem ser absorvidos de forma significativa. Esta barreira protetora age também impedindo que produtos químicos e outras substâncias externas ao organismo interfiram em processos bioquímicos internos (POET e MCDOUGAL, 2002; HADGRAFT, 2004). A pele é composta por três camadas: epiderme, derme e hipoderme. O estrato córneo é a camada mais externa da epiderme, representa uma barreira significativa de proteção do ambiente externo e controla a perda de água, eletrólitos e outros constituintes endógenos (BARRY in AULTON, 2005; RAWLINGS et al, 2008). O transporte de substâncias através de membranas biológicas como a pele é um fenômeno complexo que compreende interações físicas, químicas e biológicas (YAMASHITA e HASHIDA, 2003). A acne é uma das condições inflamatórias crônicas mais comuns que acometem a pele (VLACHOU e LICHYSHYN, 2006). O quadro patológico da acne afeta as unidades pilossebáceas, e sua etiologia envolve 4 processos principais: hiperproliferação folicular, excesso de produção de sebo, inflamação e proliferação do Propionibacterium acnes (COLLIER, HARPER e CANTRELL, 2008). A infecção bacteriana contribui para a ruptura da unidade pilossebácea dilatada, com extravasamento do conteúdo para a derme, provocando as lesões inflamatórias da acne. As lesões clínicas variam de comedões não inflamados a pápulas, pústulas e cistos inflamatórios. O sebo é substrato para a Propionibacterium acnes, a qual produz lipase. Esta enzima forma ácidos graxos livres que são irritantes. A bactéria também libera fatores quimiotáticos que são mediadores da inflamação. As lesões da acne surgem principalmente na face, pescoço, ombros e dorso (SILVA, 2002; IRBY, YENTZER e FELSMAN, 2008). Os retinóides são uma alternativa tópica para tratamento da acne, porque eles agem na lesão primária, o microcomedão (CHIVOT, 2005). O adapaleno, derivado do ácido naftóico, é um retinóide de terceira geração, administrado por via tópica e que tornou-se amplamente utilizado devido à sua eficácia. Este fármaco porém, apresenta ação irritante, o que pode limitar o seu uso (SHALITA, 2001; CZERNIELEWSKI et al, 2001). 15 A nanotecnologia aplicada a produtos cosméticos e dermatológicos é uma área de pesquisa e desenvolvimento tecnológico que vem crescendo significativamente nos últimos anos (ALVAREZ-ROMÁN et al, 2004; BOWMAN e CALSTER, 2008). Refere-se a uma tecnologia que manipula a matéria na escala de átomos e moléculas, ou seja, em uma escala muito pequena, medida em nanômetros, onde um deles equivale a um bilionésimo do metro. Sabe-se que toda a farmacologia pode obter avanços advindos da nanociência e nanotecnologia. Assim sendo, muitos fármacos podem ser agregados à superfície ou encapsulados no interior de nanoestruturas projetadas para serem absorvidas por órgãos específicos do corpo, onde finalmente liberarão o ativo. Dessa forma, doses muito menores do fármaco podem se tornar efetivas, com a conseqüente redução dos efeitos colaterais (SAHOO, PARVEEN e PANDA, 2007; CEVC e VIERL, 2010). Sistemas de liberação, como nanocarreadores, têm sido utilizados na tentativa de modular a função barreira do estrato córneo e facilitar o transporte de fármacos na pele (BARRY, 2001; PRAUSNITZ et al, 2004) assim, nanopartículas poliméricas têm sido extensivamente estudadas como transportadoras de fármacos (GUTERRES et al, 1995; ALVAREZ-ROMÁN et al, 2004; OURIQUE et al, 2008; MORA-HUERTAS, FESSI e ELAISSARI, 2010). Fármacos nanoencapsulados aplicados topicamente podem permanecer na pele por um período de tempo prolongado (ALVAREZ-ROMÁN et al, 2004; CEVC e VIERL, 2010), aumentando a sua estabilidade química (ALLÉMANN, LEROUX e GURNY 1998; VILA et al, 2002) e reduzindo sua toxicidade a fim de proporcionar índices terapêuticos mais adequados (BARAN, ÖZER e HASIRCI, 2002; ALVAREZ-ROMÁN et al, 2004). O termo nanopartículas poliméricas é usado para descrever nanoesferas e nanocápsulas, as quais diferem pela presença do núcleo oleoso presente no sistema (SCHAFFAZICK et al, 2003). Os principais modelos de nanocápsulas são vesículas finas de polímero biodegradável e uma cavidade central com núcleo oleoso, podendo a substância ativa estar dissolvida neste núcleo oleoso e/ou adsorvida na parede polimérica (COUVREUR et al, 2002). Para o desenvolvimento de novas formulações dermocosméticas, alguns critérios importantes como efeitos sobre a hidratação da pele, pH, conteúdo de melanina, índice de eritema e perda transepidérmica de água devem ser considerados. Estes efeitos podem ser 16 influenciados pela utilização de veículos adequados ou por ingredientes ativos, que são incorporados na formulação. Antes do emprego de metodologias não invasivas, estes parâmetros baseavam-se, na maioria das vezes, apenas na observação clínica, o que, devido a sua subjetividade, pode ser considerado um método pouco preciso. Em vista disso, a bioengenharia cutânea é um dos mais importantes avanços na área da dermatologia, pois trata-se do estudo das características biológicas e funcionais da pele através da medição rigorosa de determinadas variáveis por métodos cientificamente comprovados e nãoinvasivos (WIECHERS e BARLOW, 1999; LEONARDI, GASPAR e MAIA CAMPOS, 2002; WISSING e MÜLLER, 2003; KIM et al, 2009; CHENG et al, 2010). Conhecendo-se as potencialidades dos nanocarreadores, a realização do presente trabalho justifica-se através do estudo de formulações tópicas semissólidas contendo nanocápsulas de adapaleno, propondo uma liberação controlada com redução dos efeitos colaterais do fármaco. Estes experimentos tornam-se de grande importância, visto que os retinóides quando usados topicamente têm efeito irritante, o que causa redução significativa no seu uso. Além disso, será utilizado o óleo de melaleuca como núcleo oleoso na preparação das suspensões coloidais, o qual apresenta várias propriedades medicinais incluindo atividade antibacteriana e anti-inflamatória, o que poderá contribuir de forma sinérgica no tratamento tópico da acne (REICHLING et al, 2006). Quando se trata de nanotecnologia diversas áreas estão associadas como a física, eletrônica, ciência da computação, química, biologia e farmácia, por meio de nanomateriais e interações físico-químicas dos mesmos, o que gera propriedades específicas em função da escala nanométrica. Essa união na pesquisa da nanoescala deve-se à necessidade de partilhar conhecimento sobre ferramentas e técnicas, assim como sobre interações atômicas e moleculares, nesta nova fronteira científica (DURAN, MATTOSO e MORAIS, 2006; OBERDÖRSTER, STONE e DONALDSON, 2007; SUH et al, 2009; PASCHOALINO et al, 2010). Portanto, este trabalho, abrange diferentes áreas do conhecimento, como pode ser observado na Figura 1, refletindo muito bem o caráter interdisciplinar do curso de Mestrado em Nanociências. 17 Figura 1. Ilustração da interdisciplinaridade entre as áreas de conhecimento utilizadas para a realização deste trabalho De acordo com o que foi observado anteriormente, este estudo teve como objetivo determinar a estabilidade físico-química de formulações semissólidas contendo adapaleno nanoencapsulado incorporado em um veículo inovador. Além disso, o presente experimento visa avaliar os perfis de liberação em gel de Carbopol 940® contendo nanocápsulas de adapaleno e verificar a segurança do fármaco nanoencapsulado in vivo, através de análises biofísicas não invasivas. Cale ressaltar que as suspensões de nanocápsulas contendo adapaleno foram previamente desenvolvidas e incorporadas em gel de Carbopol 940® por Barrios et al (2009) e Bruschi (2010). 18 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Pele A administração tópica de fármacos ou ativos cosméticos possui como vantagens a diminuição dos efeitos sistêmicos e a vetorização de substâncias à área lesada (GUTERRES et al, 2007). A pele humana desenvolve diversas funções, dentre elas, barrar a entrada de moléculas indesejadas do meio externo enquanto controla a perda de água, eletrólitos e outros constituintes endógenos. Por outro lado, a pele é uma via para administração de fármacos que utiliza a quimioterapia tópica ou sistêmica. Na indústria farmacêutica e cosmética, portanto, é importante prever a taxa em que as substâncias penetram na pele (YAMASHITA e HASHIDA, 2003). Entre os fatores que afetam a absorção cutânea estão às propriedades físico-químicas do fármaco, propriedades do veículo, concentração do ativo e o estado fisiológico da pele (ANSEL et al, 1999; SILVA, 2002). A pele é composta de três camadas, epiderme, derme e hipoderme ou tecido subcutâneo (Figura 2). O estrato córneo, a camada mais externa da epiderme, é a principal barreira contra a permeação de fármacos aplicados topicamente (YAMASHITA e HASHIDA, 2003). Figura 2. Representação esquemática da pele. Adaptada de Prauznitz et al., 2004 Na epiderme, as células sofrem diferenciação, tornando-se queratinizadas à medida que vão migrando para a superfície da pele. Quando se tornam totalmente queratinizadas, 19 as células passam a ser denominadas corneócitos e compõem o estrato córneo até que ocorra a descamação. Em uma pele saudável este processo leva cerca de 24 dias (MENON, 2002). O interior dos corneócitos consiste em filamentos de queratina, enquanto o espaço intercelular é preenchido com uma matriz lipídica, organizada em bicamadas multilamelares. Estes lipídios possuem uma estrutura altamente ordenada à temperatura fisiológica e, portanto, desempenham um papel importante na função de barreira da pele (YAMASHITA e HASHIDA, 2003). Existem duas rotas de difusão para uma molécula penetrar a pele: uma rota é através de folículos pilosos e glândulas representando 0,1% da superfície cutânea, e a outra é pela transposição do estrato córneo. Desta forma o caminho da epiderme torna-se a principal rota de penetração de compostos na pele (MOSER et al, 2001). Entretanto, quando trata-se de estruturas nanoparticuladas, vale ressaltar que as mesmas tendem a acumularem-se nas aberturas foliculares, visto que a localização folicular é favorecida pelo menor tamanho de partícula (ALVAREZ-ROMÁN et al, 2004). Sendo assim, o estrato córneo e a unidade folicular podem ser vistos como uma oportunidade para a administração de medicamentos (PRAUSNITZ et al, 2004; BARRY, 2001). A acne é uma das doenças de pele mais freqüentes em dermatologia. Alguns estudos estimam que 90% de todos os jovens são afetados pela acne, e praticamente 100% dos adolescentes afetados apresentam formação de comedões. Esta condição pode causar uma mudança na qualidade da vida do paciente inclusive em relação ao seu ambiente social (COLLIER, HARPER e CANTRELL, 2008; HASBÚN et al, 2008). 2.2 Acne A acne vulgar é considerada como a doença multifatorial mais prevalente em adolescentes e adultos jovens e tem excedido o seu significado histórico, de um simples aborrecimento da adolescência para passar a ser vista entre os dermatologistas como uma condição patológica que frequentemente leva a doenças psicológicas significantes (OLUTUNMBI et al, 2008). A acne é uma doença genética hormonal, de localização pilossebácea (RAMOS e 20 SILVA et al, 2003). Sua etiologia é múltipla, incluindo: (a) estimulação androgênica das glândulas sebáceas, com aumento da produção de sebo; (b) obstrução pela queratina do canal pilossebáceo; (c) acúmulo de resíduos sebáceo e ceratínico, provocado pela obstrução e conseqüente formação de cravos; e (d) proliferação de bactérias anaeróbias com conseqüente reação inflamatória no local (SILVA, 2002). Clinicamente a acne é graduada de acordo com os tipos de lesões presentes: comedões abertos e fechados, pápulas inflamatórias, pústulas, cistos, nódulos e cicatrizes (COLLIER, HARPER e CANTRELL, 2008). Figura 3. Processo patológico da acne. Adaptado de SOUZA e JUNIOR, 2006. O sebo é uma mistura de lipídios, principalmente, colesterol, esqualeno, cera, ésteres esteróides e triglicérides. Alterações na composição e/ou quantidade da secreção sebácea colaboram para o desenvolvimento da doença, por alterar a queratinização do ducto glandular e a proliferação bacteriana do Propionebacterium acnes (GUEDES et al, 2009). Quanto mais grave for a acne, menor a concentração de ácido linoléico no sebo. No período da puberdade a taxa de ácido linoléico no sebo, diminui na proporção inversa do número de lesões acnéicas. A redução dos níveis de ácido linoléico é o elemento primordial na comedogênese (COSTA, ALCHORNE e GOLDSCHMIDT, 2008). A comedogênese pode ser considerada como uma alteração no processo de descamação que ocorre nos queratinócitos do ducto folicular. Considerada como um fator 21 central no desenvolvimento da acne. A denominação comedogênese se deve a formação de microcomedões, que podem evoluir para comedões abertos (pontos pretos), quando o orifício folicular se dilata e, geralmente, não inflama; ou fechados (pontos brancos), quando o orifício não se dilata, e é o precursor das lesões inflamatórias (HARTMANN e PLEWIG, 1983; VAZ, 2003). Os retinóides provocam a lise do comedão e por este motivo são amplamente utilizados no tratamento da acne (CHIVOT, 2005). 2.3 Retinóides São derivados sintéticos da Vitamina A (retinol). Quando administrados topicamente, atuam principalmente como comedolíticos. Porém, tem sido demonstrada também sua resposta imunológica, anti-inflamatória e atividade anti-tumoral (CHIVOT, 2005). Os retinóides também podem ser o tratamento de escolha em outras doenças dermatológicas que não a acne, como psoríase, câncer de pele, rosácea, lupus eritematoso, entre outras. Na forma tópica estão incluídas a tretinoína (ácido all-trans-retinóico), isotretinoína (ácido 13-cis-retinóico), adapaleno (derivado do ácido naftóico) e tazaroteno (retinóide acetilênico). Estruturalmente, o adapaleno e tazaroteno são distantes da Vitamina A, mas eles têm capacidade de ligarem-se aos receptores do ácido retinóico, expandindo a definição do termo “RETINÓIDES” para incluir tais agentes (AKYOL e OZÇELIK, 2005). Os retinóides são classificados em gerações. Os retinóides de primeira geração, da qual fazem parte o ácido trans-retinóico, ácido 9-cis retinóico e ácido 13-cis retinóico, são isômeros. Eles ocorrem naturalmente no organismo e durante a metabolização sofrem interconversão. Os retinóides de segunda geração, monoaromáticos, são o etretinato e a acitretina e os de terceira geração, também conhecidos como arotenóides, incluem o bexacaroteno, o adapaleno e o tazaroteno (PIQUERO, 2004). Esta classe de fármacos age nos queratinócitos através da ligação e ativação de receptores específicos no núcleo e assim regulam a transcrição de genes (Figura 4). Existem dois tipos de receptores retinóicos: Receptores ácido retinóicos (RARs) e receptores X retinóicos (RXRs), os quais são considerados proteínas-chave na regulação da transcrição genética. Cada um tem três subtipos α, β e γ (figura 4). O RARγ é o que mais está presente 22 na pele humana e é o principal mediador dos efeitos retinóicos nos queratinócitos. Os retinóides também têm grande afinidade por outra família de proteínas, as proteínas de ligação do ácido retinóico tipos I e II, localizadas no citoplasma. A tretinoína e isotretinoína são retinóides não-seletivos, enquanto o adapaleno e tazaroteno são seletivos. Sabe-se que a irritação na pele é influenciada pela seletividade do receptor (SHROOT, 1998; CHIVOT, 2005). Figura 4. Mecanismo de ação dos retinóides (SHROOT, 1998) Após a ligação aos receptores, dímeros RXR-RAR são formados, os quais são capazes de regular a expressão dos genes envolvidos no crescimento e diferenciação celular. RARs são fatores ligantes, reguladores da transcrição, que fazem parte da grande família de receptores nucleares. Enquanto os RXRs são parceiros de dimerização de vários outros receptores nucleares. Os RARs são ativos in vivo somente quando associados com RXRs (AKYOL e OZÇELIK, 2005). Os retinóides não somente modulam a diferenciação e proliferação dos queratinócitos, mas também regulam a adesão celular, a qual mantém a coesão normal dos queratinócitos. Desta forma, eles agem diretamente na camada córnea, que é quebrada e desaparece (CHIVOT, 2005). 23 2.4 Adapaleno Com o nome químico ácido 6-[3-(1-adamantil)-4-metoxifenil]-2-naftóico e fórmula molecular C28H28O3, o adapaleno (Figura 5) é um derivado aromático do ácido naftóico (TRICHARD et al, 2008), e o grupamento fenoxi adamantil confere um alto ponto de fusão à molécula (SHROOT, 1998). O adapaleno é um pó branco solúvel em tetraidrofurano, ligeiramente solúvel em etanol e praticamente insolúvel em água (GALDERMA, 2003; LIMA, 2004; PISKIN e UZUNALI, 2007). Figura 5. Estrutura molecular do adapaleno (SHROOT, 1998) Contrário à tretinoína, o adapaleno é estável à oxidação e à luz, (CHIVOT, 2005; IRBY, YENTZER e FELSMAN, 2008). Em um estudo realizado in vitro comparando adapaleno e tretinoína, 95% de tretinoína foi degradada no prazo de 24 horas e na presença de luz solar, enquanto o adapaleno não teve nenhuma degradação nestas condições, mesmo em 72 horas (MARTIN et al, 1998; CZERNIELEWSKI et al, 2001). Além de fotoquimicamente estável, o adapaleno é menos irritante do que o ácido retinóico e mais eficaz para pacientes com acne vulgar leve a moderada, podendo atingir concentrações mais elevadas na unidade pilossebácea (RAMOS E SILVA et al, 2003; KATSUNG, 2003). O adapaleno na forma tópica de gel age no fundo do folículo piloso para controlar o acúmulo de sebo e células que levam à formação de acne. Este fármaco não só ajuda a prevenir a formação de novas lesões de acne, mas também contribui para as lesões que já estão presentes (PHARMACEUTICAL NEWS, 2007). Um mecanismo proposto para a maior tolerância do adapaleno é a sua capacidade de ligação seletiva. Visto que, o adapaleno, diferente da tretinoína, não se liga às proteínas de ligação do ácido retinóico localizadas no citoplasma, mas liga-se seletivamente aos 24 subtipos α e γ do receptor nuclear ácido retinóico (RAR). Essa ligação seletiva pode ocasionar uma maior regulação na diferenciação e proliferação dos queratinócitos do que a tretinoína (CZERNIELEWSKI et al, 2001), o que é responsável pelo efeito comedolítico do adapaleno (BOUCLIER et al, 1991). JACYK e MPOFU (2001) ao estudarem a eficácia e segurança de um gel com adapaleno a 0,1%, comparado com um gel de tretinoína a 0,25% aplicado em pacientes africanos, observaram que além de ter sido mais eficaz no tratamento da acne e apresentar maior tolerância que a tretinoína, o adapaleno também reduziu a hiperpigmentação em pele negra. O adapaleno usado pela via tópica está descrito como substância retinóica pela ANVISA, e de acordo com a Portaria nº344 de 12 de maio de 1998, está sujeito a venda sob prescrição médica sem retenção de receita. Esse fármaco penetra na unidade pilossebácea podendo apresentar alguns efeitos indesejáveis, onde a irritação e o ressecamento da pele são os mais comuns (KOROLKOVAS, 2002; LIMA, 2004; CHIVOT, 2005). Em vista disso, busca-se com o desenvolvimento de sistemas nanoestruturados além de minimizar esses efeitos adversos, aumentar a eficácia desse ativo direcionando-o ao seu local de ação, ou seja, o núcleo celular dos queratinócitos. Atualmente existe um grande interesse na liberação seletiva de fármacos aplicados topicamente. Como conseqüência disso, a busca por novas técnicas para entrega de fármacos tem evoluído muito ao longo dos anos, uma dessas técnicas emprega o conceito de nanotecnologia, onde sistemas nanocarreadores são estudados com o objetivo de melhorar a seletividade e a eficiência das formulações (MONACO, 2000). 2.5 Nanotecnologia A nanotecnologia refere-se à tecnologia na qual a matéria é manipulada em escala atômica e molecular, na faixa de 1 a 100 nanômetros, para criar novos materiais e processos com características funcionais diferentes dos materiais comuns. A nanotecnologia não trata apenas do estudo dessas entidades tão pequenas, mas da aplicação desse conhecimento (DURAN et al, 2006; SUH et al, 2009). O físico Richard Feynman é considerado o pai da nanotecnologia. Em 1959, em 25 uma conferência no encontro anual da Sociedade Americana de Física, Feynman falou pela primeira vez do controle e da manipulação da matéria na escala atômica. Feynman defendeu que não existia nenhum obstáculo teórico à construção de dispositivos diminutos constituídos por elementos muito pequenos, no limite átomo a átomo. Com isso, poderiam ser criados materiais com propriedades inteiramente novas. A nanotecnologia é verdadeiramente uma ciência multidisciplinar. Engenheiros, biólogos e médicos trabalham ao lado de físicos, químicos e farmacêuticos. Essa união na pesquisa da nanoescala deve-se à necessidade de partilhar conhecimento sobre ferramentas e técnicas, assim como sobre conhecimentos periciais em matéria de interações atômicas e moleculares, nesta nova fronteira científica. Portanto, a nanotecnologia está associada a diversas áreas, como medicina, eletrônica, ciência da computação, química, biologia e mecânica, por meio dos nanomateriais, ou seja, materiais com propriedades específicas devido à sua escala nanométrica (OBERDÖRSTER, STONE e DONALDSON, 2007; PASCHOALINO et al, 2010). Estes conceitos não são diferentes no que se refere à bionanotecnologia, onde diversos centros de pesquisas têm buscado desenvolver dispositivos com capacidade para direcionar substâncias na quantidade exata a pontos específicos do organismo. As vantagens do uso da nanobiotecnologia na produção de formulações dermatológicas podem incluir à proteção de ingredientes quanto à degradação química ou enzimática, o controle da liberação (principalmente no caso de substâncias irritantes em altas doses) e o aumento do tempo de retenção dos ativos cosméticos ou fármacos na camada córnea (FRONZA et al, 2007). 2.6 Nanocarreadores Partículas usadas como transportadores de fármacos para aplicações terapêuticas devem ser biocompatíveis, biodegradáveis e fisicamente estáveis (HODOSHIMA et al, 1997). O desenvolvimento tecnológico de novas formas farmacêuticas tem sido a estratégia mais promissora para aumentar e controlar a penetração de fármacos através da pele. Nanoemulsões, nanopartículas poliméricas (nanocápsulas e nanoesferas), lipossomas e os complexos lipídicos, têm sido investigados como opção frente ao uso dos sistemas mais 26 clássicos, tais como os promotores químicos de penetração (SCHAFFAZICK et al, 2003; VERMA, et al, 2003; ALVAREZ-ROMÁN et al, 2004). Atualmente existe um interesse amplo na liberação seletiva de fármacos, em vista disso, sistemas carreadores têm sido estudados com o objetivo de proporcionar uma liberação sustentada do fármaco em sítios de ação específicos, diminuição de efeitos colaterais e proteção de fármacos facilmente degradáveis, aumentando assim a biodisponibilidade e a eficácia do produto (SCHAFFAZICK et al, 2003; ALVES et al, 2007). As nanopartículas, constituídas por polímeros biodegradáveis, têm atraído grande atenção dos pesquisadores, devido às suas potencialidades terapêuticas e à alta estabilidade nos fluídos biológicos e durante o armazenamento, frente aos lipossomas. Elas podem ser definidas como sistemas coloidais submicrométricos, com tamanho de partícula entre 10 e 1000 nm, embora a faixa geralmente obtida seja de 100 a 500 nm. O termo nanopartícula polimérica inclui as nanocápsulas e as nanoesferas (Figura 6), as quais diferem entre si segundo a composição e organização estrutural. As nanocápsulas são constituídas por um núcleo oleoso rodeado por uma membrana polimérica, podendo o fármaco estar dissolvido neste núcleo e/ou adsorvido à parede polimérica. Por outro lado, as nanoesferas, que não apresentam óleo em sua composição, são formadas por uma matriz polimérica, onde o fármaco pode ficar retido ou adsorvido (COUVREUR et al, 2002; SCHAFFAZICK et al, 2003; ANTON, BENOIT e SAULNIER, 2008; MORA-HUERTAS, FESSI e ELAISSARI, 2010). Figura 6. Representação esquemática de nanoesferas e nanocápsulas (DOS SANTOS, et al., 2008). Em vista disto, as nanocápsulas podem ser definidas como um sistema reservatório e apresentam algumas vantagens como alta eficiência de encapsulação de substâncias ativas lipofílicas, devido à grande afinidade do fármaco com o núcleo oleoso, baixa concentração 27 de polímero quando comparado a outros sistemas nanoparticulados como as nanoesferas e proteção do ativo contra fatores de degradação, como pH e radiação, devido a presença da membrana polimérica (PINTO et al, 2006; ANTON, BENOIT e SAULNIER, 2008). O desenvolvimento de formulações dermocosméticas utilizando ativos associados à nanocarreadores têm sido objeto de estudo da comunidade científica. Entretanto, a comprovação da segurança destes ativos nanoestruturados, bem como os efeitos ocasionados pelas formulações na pele humana devem ser investigados. Equipamentos de aplicação em cosmetologia, medicina estética e dermatologia, têm sido empregados com esta finalidade dando, assim, origem a novas metodologias não invasivas para a avaliação das características fisiológicas da pele in vivo (LEONARDI, GASPAR e MAIA CAMPOS, 2002; WISSING e MÜLLER, 2003). Vale ressaltar que não existem estudos anteriores associando adapaleno à nanocarreadores. 2.7 Bioengenharia cutânea Com relação aos demais campos da medicina, a dermatologia ainda faz pouco uso de instrumentos que forneçam uma descrição objetiva e reprodutível das características biológicas, mecânicas e funcionais da pele. Estes instrumentos são destinados a mudar a nossa compreensão atual sobre muitos aspectos da fisiologia cutânea, fornecendo explicações para fatos que até então permanecem confusos e revelando erros quando somente a interpretação visual é utilizada (LOMUTO, PELLICANO e GIULIANI, 1995; LEONARDI, GASPAR e MAIA CAMPOS, 2002). A bioengenharia cutânea constituiu-se, nos últimos anos, num dos mais importantes avanços de natureza tecnológica na área de dermatologia. Trata-se do estudo das características biológicas e funcionais da pele através da medição rigorosa de determinadas variáveis por métodos cientificamente comprovados e não-invasivos, não provocando, portanto, qualquer agressão ou desconforto ao paciente ou aos voluntários que participam dos estudos (LEONARDI, GASPAR e MAIA CAMPOS, 2002; WISSING e MÜLLER, 2003; KIM et al, 2009; CHENG et al, 2010). A bioengenharia cutânea tem por objetivo compreender e analisar como os componentes e demais ativos usados nos produtos agem sobre a pele, almejando comprovar 28 a eficácia de um produto, assim como criar parâmetros para o desenvolvimento de novos produtos (GONÇALVES e CAMPOS, 2009). Os equipamentos de biometria cutânea permitem que diversos parâmetros sejam avaliados, como por exemplo, conteúdo aquoso do estrato córneo (hidratação), pH da pele, coloração da pele, perda transepidérmica de água, dentre outros, através dos aparelhos denominados Corneometer®, Skin pH-meter®, Mexameter® e Tewameter® (CourageKhazaka Electronic, Alemanha), respectivamente (BETZ et al, 2006). O Mexameter® (Courage-Khazaka Electronic, Alemanha) é um instrumento portátil projetado para medir o conteúdo de melanina e hemoglobina da pele, neste equipamento 16 emissores de luz de diodo dispostos circularmente, emitem luz em três comprimentos de onda definidos 568 nm (verde), 660 nm (vermelho) e 880 nm (infravermelho) (CLARYS et al, 2000). A célula fotoelétrica mede a luz refletida pela pele. Este medidor de reflexão simples é baseado no mesmo princípio óptico desenvolvido por Diffey e colaboradores (1984). O índice de melanina é calculado a partir da intensidade da luz absorvida e refletida em, respectivamente, 660 e 880 nm e o índice de eritema é calculado a partir da intensidade da absorção e reflexão da luz em, respectivamente, 568 e 660 nm. A área de medição da pele é de 5 mm de diâmetro (superfície 0,20 cm2). A sonda é aplicada sobre a superfície da pele (1,54 cm2), com pressão constante através de uma mola (CLARYS et al, 2000; PARK et al, 2006). A determinação do pH cutâneo, ou seja, a concentração hidrogeniônica da superfície cutânea é um importante indicador funcional da pele, visto que, a produção de ácido lático confere à superfície cutânea aquilo que se convencionou designar por “manto ácido cutâneo”. Desta forma a pele apresenta pH levemente ácido (4,6 – 5,8), contribuindo com a proteção bactericida e fungicida em sua superfície. Além disso, as secreções cutâneas tem capacidade tamponante, o que torna-se importante, uma vez que o pH da pele é freqüentemente alterado em conseqüência da utilização de produtos tópicos inadequados, expondo a pele a uma série de agentes agressores, em especial microorganismos (RODRIGUES, 1995; PINTO, GALEGO e SILVA, 1997). No Skin pH-meter® (Courage-Khazaka Electronic, Alemanha) a medida do pH cutâneo é realizada por potenciometria direta, isto é, através de um eletrodo especial. A 29 potenciometria direta tem sido o método mais empregado para medição desta variável, pois permite sensibilidade de determinação da ordem de 0,1 unidade de pH. Além disso, o Skin pH-meter® é considerado como o único método técnico e cientificamente comprovado, a medição é rápida e sem dificuldade, garantindo resultados precisos (RODRIGUES, 1996). A hidratação cutânea é mantida por um filme hidrolipídico encontrado na pele, que tem como funções formar uma barreira de proteção acídica evitando a penetração de substâncias danosas ao organismo, protegendo a pele do ressecamento e mantendo a sua flexibilidade (YILMAZ e BORCHERT, 2006). O conteúdo aquoso do estrato córneo pode ser avaliado através do Corneometer®, um equipamento que tem sido muito utilizado por apresentar alta sensibilidade (HILLEBRAND et al, 2001; WISSING e MÜLLER, 2003; HÜBNER et al, 2006). Este instrumento mede alterações na capacitância (capacidade elétrica, relação entre a carga elétrica e o potencial de um condutor) de um condensador de precisão colocado em contacto com a pele (LOMUTO, PELLICANO e GIULIANI, 1995). A capacitância é medida através de uma sonda composta de eletrodos que contem uma rede interdigital de ouro, não havendo contato galvânico entre a sonda e a superfície da pele. Existe um campo elétrico de frequência variando entre 40 a 75 kHz que é estabelecido na camada superior da pele. As mudanças na capacitância são convertidas em unidades de hidratação que variam de 0 a 130 unidades arbitrárias (UA), onde 0 unidade corresponde à pele muito seca e 130 unidades à pele muito hidratada (Manual Courage-Khazaka Electronic, Alemanha). A medida de perda de água transepidérmica (PTEA) é um método bem estabelecido na dermatologia para avaliar a integridade da função barreira do estrato córneo da pele humana in vivo. Uma das vantagens da utilização deste método é o fato de não ser necessária a adição de nenhuma solução para a realização do teste. Quando a pele está danificada, a sua função barreira é prejudicada, resultando em uma maior perda de água. Mesmo mudanças sutis na integridade da barreira podem ser detectadas por medidas de PTEA (NETZLAFF et al, 2006; CHENG et al, 2008). Uma das funções principais da pele é a de se portar como barreira e manter a homeostase interior e a resistência da permeabilidade de água do corpo. A capacidade da perda de água transepidérmica no estrato córneo da pele, tem sido amplamente utilizada como índice para avaliação da função barreira da pele (CHOU et al, 2005). 30 Um dos equipamentos mais utilizados para medir a PTEA é o Tewameter®, o qual é baseado no princípio da difusão, descrito por Adolf Fick em 1885, que vem sendo muito empregado na determinação da perda transepidérmica de água. Os valores são expressos em g/hm2 (ROSADO, PINTO e RODRIGUES, 2005; INDRA et al, 2005; NETZLAFF et al, 2006). 31 3 METODOLOGIA 3.1 Materiais 3.1.1 Matérias-primas, solventes e outros materiais - Acetona P.A - Nuclear; - Acetonitrila grau CLAE - J.T. Baker; - Ácido fosfórico P.A - Nuclear; - Adapaleno - Pharma Nostra; - Metanol grau CLAE - J.T. Baker; - Monoestarato de sorbitano (Span 60®) - Sigma Aldrich; - Óleo de Melaleuca (Tea Tree Oil) - Via Farma; - Poli (ε-caprolactona) MM = 65000 - Aldrich; - Polissorbato 80 (Tween 80®) - Via Farma; - Tetrahidrofurano grau CLAE - J.T. Baker; - Aristoflex AVL® (Ammonium Acryloyldimethyl-taurate/ VP Polymer; Trilaureth-4Phosphate; Polyglyceryl-2-sesquiisostearate; Sunflower Seed Oil; Tetradibutyl Pentaerithrityl Hydroxyhydrocinnamate) – Pharma Special; - Metilparabeno – Alpha Química; - Propilparabeno – Alpha Química; -Carbopol 940® (carbomer 2-Propenoic acid, polymer with 2,2- bis(hydroxymethyl)propane-1,3-diol 2-propenyl ether) – Henrifarma. 3.1.2 Equipamentos - Balança analítica AX 200 – Shimadzu®; - Coluna cromatográfica – Lichrospher® 100 RP – 18,250 mm, 4,0 mm, 5 µm - Merck®; - Cromatógrafo Líquido de Alta Eficiência Shimadzu – CLAE – equipado com bomba modelo LC-10AD, detector com comprimento de onda variável UV/Vis modelo SPD10Avp, controlador SLC-10Avp, integrador automático computadorizado com software Class VP® e injetor automático SIL-10-Avp, forno para coluna CTO-10Asvp Shimadzu; 32 - Evaporador rotatório 801 – Fisatom®; - Câmara climatizada TE 4001 - Tecnal®; - Potenciômetro - Digimed®; - Zetasizer® - Nano-ZS – Malvern®; - Vórtex P56 - Phoenix®; - Centrífuga TDL80-2B – Centribio®; - Bomba de vácuo – modelo 131, Prismatec®; - Lavadora Ultra-sônica - Unique®; - Placas de vidro (espalhabilidade); - Purificador de água Milli-Q A10®, Millipore; - Vidrarias calibradas; - Viscosímetro rotacional – RV DV-1+ Brookfield; - Tewameter® TM 300 (Courage-Khazaka Electronic, Alemanha); - Mexameter® MX 18 (Courage-Khazaka Electronic, Alemanha); - Sebumeter®/Corneometer®/Skin-pH-Meter® (Courage-Khazaka Electronic, Alemanha) 3.2 Método As suspensões de nanocápsulas contendo adapaleno foram previamente desenvolvidas e caracterizadas por Barrios et al (2009). 3.2.1 Preparação das suspensões (FESSI, PUISIEUX e DEVISSAGUET, 1989) As suspensões foram preparadas segundo método de deposição interfacial de polímero pré-formado utilizando a composição descrita na Tabela 1. Os componentes da fase orgânica foram pesados e colocados em um béquer e mantidos sob agitação magnética em banho-maria à temperatura de 40 ºC até completa dissolução de todos os componentes. A fase orgânica foi vertida sobre a fase aquosa, com auxílio de um funil, e mantida sob agitação mecânica moderada. 33 Tabela 1. Composição das suspensões de nanocápsulas de poli(ε-caprolactona) contendo adapaleno. Fase orgânica Fase aquosa Óleo de melaleuca...................3,10 mL Polissorbato 80........................766 mg Monoestearato de sorbitano......766 mg Água MilliQ®..............................533 mL Poli(ε-caprolactona)..................1000mg Acetona.....................................267 mL Adapaleno ...................................30mg *As suspensões foram ajustadas para 100 mL. A suspensão foi agitada durante 10 minutos e concentrada a um volume final de 100 mL em um evaporador rotatório para eliminação do solvente orgânico e ajuste da concentração final de adapaleno, sendo a mesma correspondente a 0,3 mg de adapaleno por ml de suspensão. Foram preparadas suspensões brancas, sem a adição de adapaleno, sendo estas preparadas através do mesmo método de preparação. 3.2.2 Avaliação físico-química das suspensões de nanocápsulas contendo adapaleno A caracterização das suspensões foi realizada com objetivo de afirmar os resultados obtidos anteriormente por Barrios et al, 2009. 3.2.2.1 Doseamento do adapaleno nas suspensões coloidais (taxa de recuperação) (GUTERRES et al, 1995) As suspensões coloidais foram dissolvidas com acetonitrila para realização do processo, ocasionando a dissolução parcial do polímero e a liberação e dissolução do ativo contido no interior das nanocápsulas. O doseamento do adapaleno foi realizado através de cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) segundo metodologia validada por Barrios e colaboradores (2011) em termos de especificidade, linearidade, precisão, limite de quantificação e exatidão. As análises foram realizadas em cromatógrafo Shimadzu, utilizando-se detector UV/VIS 284 nm, coluna Lichropher 100 RP-18 (5 µm, 250 x 4 mm), pré-coluna do mesmo 34 material (5 µm), fase móvel isocrática de metanol e água em uma proporção 95:5 (v/v), com pH aparente de 3,0, volume de injeção de 20 µL e fluxo de 1,0 mL/min (BARRIOS et al, 2011). Os resultados obtidos, através das áreas dos picos, foram aplicados na curva de calibração e calculados através da equação da reta. O teor de adapaleno em cada suspensão foi expresso em µg/mL e porcentagem (%). 3.2.2.2 Determinação do diâmetro médio das partículas e índice de polidispersão As determinações do diâmetro médio e do índice de polidispersão das nanopartículas em suspensão foram realizadas através de espalhamento de luz dinâmico. As suspensões foram diluídas 500 vezes (v:v) em água MilliQ®, no equipamento Zetasizer®, Nano-ZS da Malvern. Os resultados foram determinados através da média de três repetições. 3.2.2.3 Potencial zeta O potencial zeta das suspensões de nanocápsulas foi obtido através da técnica de mobilidade eletroforética no aparelho Zetasizer®, Nano-ZS da Malvern. As amostras foram previamente diluídas 500 vezes (v:v) em cloreto de sódio 10 mM e filtradas em membrana com 0,45µm. Os resultados foram expressos em milivolts (mV) a partir de uma média de três determinações. 3.2.2.4 Determinação do pH A determinação do pH foi realizada em potenciômetro (Digimed®) previamente calibrado com solução tampão pH 4,0 e 7,0 e as medidas foram realizadas diretamente nas suspensões. Os resultados foram expressos pela média de três determinações. 35 3.2.3 Preparação das formulações semissólidas contendo nanocápsulas de adapaleno 3.2.3.1 Gel Hidrofílico O gel hidrofílico contendo nanocápsulas de adapaleno foi previamente caracterizado por Bruschi (2010). Os componentes utilizados na preparação do gel hidrofílico contendo as nanocápsulas de adapaleno estão descritos na Tabela 2. Tabela 2. Composição do gel hidrofílico contendo nanocápsulas de adapaleno Componentes Concentração (%) Dispersão de Carbopol 940® a 6%* 8 ® Solução de Nipagin/Nipazol 1 Sorbitol 5 Trietanolamina 0,03 Suspensão de nanocápsulas contendo adapaleno (0,3mg/mL) 85 ® *6g de Carbopol 940 , 1g de conservante e 97mL de água. O gel hidrofílico (concentração final de Carbopol 940® = 0,48%) foi preparado substituindo-se a água pela suspensão de nanocápsulas contendo adapaleno. Primeiramente foi adicionada à dispersão de Carbopol 940®, a trietanolamina e o sorbitol. Posteriormente a suspensão de nanocápsulas de adapaleno foi adicionada, acrescentando-se o conservante e verificando-se o pH. A concentração final de adapaleno na formulação foi de 0,25 mg/g do gel hidrofílico. Com o objetivo de comparar os resultados das formulações nas quais foram incoporadas o fármaco nanoestruturado, foram preparados veículos com o adapaleno na forma livre. Nesta formulação, o adapaleno (0,0255 g) foi homogeneizado com o monoestearato de sorbitano (0,766 g) e o Tween 80 ® (0,766 g), sendo adicionados à dispersão de carbopol 940® a 6% (8 g) e à trietanolamina (0,03 g). Logo após adicionou-se a água MilliQ® (84,408 g), o sorbitol (5 g) e a solução conservante (1 g). A concentração final obtida foi de 0,25 mg/g de gel hidrofílico. Todas as formulações semissólidas foram preparadas em triplicata. 36 3.2.3.2 Creme gel com Aristoflex AVL® Foram preparadas formulações semissólidas constituídas por Aristoflex AVL® (ammonium Acryloyldimethyl-taurate/ VP Polymer; trilaureth-4-Phosphate; polyglyceryl2-sesquiisostearate; sunflower seed oil; tetradibutyl pentaerithrityl hydroxyhydrocinnamate), nas quais foram incorporadas as suspensões de nanocápsulas contendo adapaleno. Com o objetivo de comparar o comportamento das diferentes formulações, foram preparadas formulações incorporando-se o fármaco disperso na forma livre. Como controles, foram utilizados formulações de creme gel, sem adição do fármaco ou da suspensão. Os componentes das formulações constituídos por Aristoflex AVL® estão descritos na Tabela 3. Tabela 3. Composição creme gel contendo adapaleno na forma livre (CGA) e creme gel com nanocápsulas contendo adapaleno (CGNCA). Componentes CGA CGNCA Aristoflex AVL® 2g 2g Solução conservante Nipagin®/Nipasol® 1,0 mL 1,0 mL Adapaleno 0,025 g ------- Polissorbato 80 0,766 g ------- Monoestearato de sorbitano 0,766 g ------- ------- 85 mL 100 mL 100 mL Suspensão de nanocápsulas contendo adapaleno Água MilliQ® q.s.p. O creme gel foi preparado substituindo-se parte da água pela suspensão de nanocápsulas contendo adapaleno. Primeiramente foi adicionado ao Aristoflex AVL® a suspensão de nanocápsulas contendo adapaleno 0,3 mg/mL e a solução conservante de Nipagin/Nipazol®. Por último acrescentou-se a água MilliQ® e verificou-se o pH. A concentração final de adapaleno na formulação foi de 0,25 mg/g do creme gel. Da mesma forma, preparou-se formulações de creme gel contendo suspensões de nanocápsulas sem adapaleno (formulações brancas). 37 3.2.4 Determinação dos parâmetros de estabilidade para as formulações semissólidas de Aristoflex AVL® contendo adapaleno na forma nanoencapsulada e na forma livre Para a determinação da estabilidade as amostras (triplicatas) foram submetidas ao ciclo gelo-degelo, colocando-as em estufa a 40 °C por 7 dias e, seguindo-se pela manutenção em geladeira a 4 ºC pelo mesmo tempo. Após esse período, foram levadas novamente à estufa onde permaneceram por mais 7 dias, completando-se um ciclo de 21 dias (FRIEDRICH et al, 2007; GHOSH e ROUSSEAU, 2009). As amostras foram analisadas, inicialmente, no tempo zero e aos 21° dias quanto ao teor (por CLAE, no comprimento de onda de 254nm), às características organolépticas (aparência, cor e odor), ao pH, à viscosidade, à espalhabilidade, à distribuição de tamanho de partícula, ao potencial zeta, bem como à separação de fase por centrifugação. As análises foram realizadas para as formulações de Aristoflex AVL® contendo adapaleno na forma livre e na forma nanoencapsulada. 3.2.4.1 Determinação das características organolépticas das formulações semissólidas contendo adapaleno na forma livre e nanoencapsulada As características organolépticas avaliadas foram aparência, cor e odor. As formulações com adapaleno nanoencapsulado foram acompanhadas por um período de 21 dias, sendo comparadas com as amostras contendo o fármaco na forma livre. As amostras foram classificadas de acordo com os seguintes critérios (ALVES, 1996): 1. Condições normais e satisfatórias; 2. Ligeira mudança de algum aspecto relativo à aparência, cor e odor da amostra; 3. Incorporação de ar, algumas alterações da cor, odor, principalmente em termos de rancificação; 4. Início de precipitação da amostra, notável coloração, produto com odor alterado; 5. Produto com precipitado; produto fortemente corado; produto com odor desagradável. 38 3.2.4.2 Determinação da distribuição do diâmetro médio e índice de polidispersão das nanocápsulas de adapaleno As determinações do diâmetro médio e do índice de polidispersão das nanopartículas contidas nos veículos semissólidos foram realizadas de acordo com o item 3.2.2.2. 3.2.4.3 Determinação do potencial zeta das nanocápsulas As determinações do potencial zeta das nanopartículas contidas nos veículos semissólidos foram realizadas de acordo com o item 3.2.2.3. 3.2.4.4 Determinação do pH das formulações semissólidas Para a determinação do pH das formulações semissólidas, foi utilizado um potenciômetro calibrado com solução tampão pH 4,0 e 7,0. As leituras foram realizadas diretamente nas formulações semissólidas. 3.2.4.5 Determinação das características reológicas para as formulações semissólidas contendo adapaleno na forma livre e nanoencapsulada 3.2.4.5.1 Determinação da viscosidade A viscosidade das formulações semissólidas foi avaliada com auxílio de um viscosímetro rotacional Brookfield, modelo RV DV-1+ com 10 velocidades. As leituras foram realizadas na velocidade de 50 rpm usando o spindle 29. A construção dos reogramas foi feita através da representação gráfica da taxa de cisalhamento, em função da tensão de cisalhamento. O comportamento reológico foi acompanhado ainda em função da relação entre a viscosidade em função da taxa de cisalhamento. As análises foram realizadas em triplicada. 39 3.2.4.5.2 Determinação da espalhabilidade Para a determinação da espalhabilidade foi empregada a metodologia proposta por Münzel e colaboradores (1959), modificada por Knorst em 1991. Foi utilizada uma placamolde circular de vidro (diâmetro = 20 cm; espessura = 0,2 cm), com orifício central de 1,2 cm de diâmetro, a qual foi colocada sobre uma placa-suporte de vidro (20 cm X 20 cm). Sob essas placas foi posicionada uma folha de papel milimetrado. A amostra foi introduzida no orifício da placa e a superfície nivelada com espátula; após, a placa-molde foi cuidadosamente retirada. Sobre a amostra foi colocada uma placa de vidro de peso prédeterminado. Após 1 minuto, foi calculada a superfície abrangida através da medição do diâmetro em duas posições opostas, com posterior cálculo do diâmetro médio. Esse procedimento foi repetido acrescentando-se novas placas e padronizando-se o intervalo de 1 minuto entre as placas. Após cada determinação, a superfície abrangida e o peso da placa adicionada foram registrados. A espalhabilidade (Ei) determinada a 25 ºC e calculada através da equação abaixo (DE PAULA et al, 1998): Ei = (d2.π)/4 Onde: Ei = espalhabilidade da amostra para peso i (mm2); d = diâmetro médio (mm). Os valores da espalhabilidade em função dos pesos adicionados foram determinados através de 3 medições, calculando-se a média entre elas. 3.2.4.6 Determinação do teor de adapaleno das formulações semissólidas As formulações semissólidas foram tratadas com acetonitrila (ACN), tetrahidrofurano (THF) e metanol (2,5:5,0:2,5) com objetivo de extrair o ativo e liberar o mesmo contido no interior das nanocápsulas. O doseamento do adapaleno foi realizado através de cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), de acordo com o item 3.2.2.1. 40 3.2.4.7 Teste de centrifugação Em tubo de ensaio cônico graduado para centrífuga foi adicionado 1,0 g de cada amostra, pesado em balança analítica e submetido ao ciclo de 3500 rpm durante trinta minutos à temperatura ambiente. 3.2.5 Avaliação dos efeitos das formulações na pele humana por Bioengenharia Cutânea Para as análises de biometria cutânea foram utilizadas as formulações de Carbopol 940® contendo adapaleno na forma livre e na forma nanoencapsulada. 3.2.5.1 Critérios de inclusão e exclusão para seleção de voluntários Após a devida aprovação deste projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos do Centro Universitário Franciscano – CEP/Unifra nº 359.2008.2 e CONEP nº 1246, foram selecionados 20 voluntários saudáveis, do sexo feminino, com idade entre 20 e 40 anos. Os voluntários só fizeram parte do estudo após assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, declarando estar plenamente de acordo em participar voluntariamente desta pesquisa. Alguns critérios de exclusão foram adotados durante a seleção dos voluntários. Não participaram da pesquisa os voluntários que apresentassem histórico ou sinais de dermatopatologias, hipersensibilidade a algum componente da formulação, ou que apresentaram sinais de irritação ou dermatite de contato associado. Também não participaram da pesquisa voluntárias em período de gestação ou lactação. 3.2.5.2 Condições experimentais Inicialmente os voluntários foram orientados a não utilizar nenhum produto cosmético na região dos antebraços, e interromper o uso de qualquer produto uma semana antes do início e durante as análises do presente estudo. 41 Após cada voluntário concordar em participar da pesquisa, assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e ser compatível com os critérios estabelecidos para seleção dos mesmos, recipientes contendo o creme gel foram distribuídos para que o produto fosse aplicado pelo voluntário, em sua residência. Foi padronizada uma quantidade de 0,2 g de creme gel, para aplicação em cada antebraço. As aplicações foram realizadas uma vez ao dia, à noite, durante 63 dias. No antebraço direito foi aplicado o gel contendo adapaleno na forma nanoencapsulada; enquanto que no antebraço esquerdo foi aplicado o gel com adapaleno na forma livre. Além disso, a área de aplicação foi delimitada em cada voluntário. Os testes foram realizados segundo o método de caso-controle, onde cada indivíduo era controle de si mesmo. A fim de evitar engano durante a aplicação, os voluntários foram instruídos adequadamente em termos de quantidade e modo de uso de cada formulação, segundo especificado no protocolo. 3.2.5.3 Estudos de biometria cutânea Neste estudo avaliou-se o efeito de formulações contendo adapaleno na forma nanoencapsulada e na forma livre, incorporados em gel de Carbopol 940®, através de métodos biométricos não invasivos capazes de medir a hidratação, a perda transepidérmica de água, o pH, o teor de melanina e eritema da pele. Foram efetuadas medidas em 8 pontos diferentes da região do antebraço dos voluntários. Os parâmetros referentes ao conteúdo aquoso do estrato córneo, perda transepidérmica de água, melanina e eritema foram avaliados. Para avaliação do pH, foram realizadas medidas em 5 pontos diferentes, sendo calculada a média dos valores obtidos. O número de medições realizadas foi determinado de acordo com o tamanho da região a ser analisada, de tal forma a garantir que todo o local fosse avaliado. As medidas de biometria cutânea foram realizadas antes do início da aplicação das formulações (medidas basais). As leituras foram realizadas de 7 em 7 dias, no 7º, 14º, 21º, 28º, 35º, 42º, 49º, 56º e 63º. Estes estudos foram realizados em ambiente climatizado e monitorado, com temperatura variando entre 22 °C e 25 °C, e umidade relativa do ar entre 40 % e 50 %. As análises somente foram iniciadas após os voluntários permanecerem de 42 10-15 minutos neste ambiente. Para a realização destes estudos, foram utilizados equipamentos específicos para este fim, de acordo com o que segue: 3.2.5.4 Determinação do conteúdo aquoso do estrato córneo (grau de hidratação cutânea) Para a realização deste estudo foi utilizado o equipamento Corneometer®, acoplado a um software (SM_CM_PH), o qual mede o conteúdo aquoso do estrato córneo (determinando assim o teor de água das camadas superficiais da epiderme até uma profundidade de cerca de 0,1 mm). Este método é baseado no princípio da medida da capacitância elétrica, ou seja, na variação do valor da constante dielétrica da água. Um sensor do tipo caneta foi colocado em oito pontos diferentes do antebraço, sendo o final da análise sinalizado por um bip sonoro, sendo estas medidas registradas automaticamente no aparelho. 3.2.5.5 Determinação do pH cutâneo A análise do pH da superfície cutânea foi realizada por potenciometria direta, isto é, por meio de um eletrodo especial de pontes simples, concebido através de uma fina membrana de vidro e porcelana, cujo eletrólito é o KCl 3 M. A potenciometria direta tem sido o método mais empregado para medição dessa variável, a qual permite sensibilidade de determinação da ordem de 0,1 unidade de pH. Esta análise se deu através do equipamento Skin-pH-meter®, acoplado a um software (SM_CM_PH). O eletrodo foi calibrado antes de cada leitura com soluções tampão pH 4,0 e 7,0 e colocado diretamente em contato com a pele das voluntárias em cinco regiões distintas do antebraço, sendo que um sinal sonoro indica o término de cada medida (Manual CourageKhazaka Electronic, Alemanha). 3.2.5.6 Determinação da perda transepidérmica de água (PTEA) Para a realização deste estudo foi utilizado o equipamento Tewameter® TM 300, 43 acoplado a um software (Multi Probe Adapter 5), cuja função é medir a perda transepidérmica de água (em g/h/m2), baseado no princípio de difusão descrito por Adolf Fick em 1885: dm = - D . A . dp dt dx onde: A = superfície em m2; m = água transportada (em g); t = tempo (h); D = coeficiente de difusão; p = pressão de vapor da atmosfera; x = distância da superfície da pele ao ponto de medição (m). Uma sonda foi colocada em oito pontos diferentes do antebraço, onde o fim de cada medição foi indicado por um bip sonoro, sendo estas medidas registradas automaticamente no aparelho. A cabeça de medição da sonda é composta por dois pares de sensores (temperatura e umidade), onde através destes é possível receber as informações de temperatura e umidade de cada valor da PTEA durante a medição completa. Isto é de grande importância para a avaliação da precisão e reprodutibilidade do dispositivo (Manual Courage-Khazaka Electronic, Alemanha). 3.2.5.7 Determinação da intensidade de melanina e eritema Este método baseia-se na medida da luz absorvida e refletida, através de um espectrofotômetro projetado para medir precisamente a cor da pele. O aparelho utilizado para esta análise foi o Mexameter MX 18, acoplado a um software (Multi Probe Adapter 5), que utiliza o princípio ótico para determinar a intensidade do eritema e da pigmentação da melanina. Este aparelho apresenta uma sonda especial que emite luz de três comprimentos de onda definidos. Assim que a sonda é colocada sobre a superfície da pele o processo para determinação começa automaticamente. A sonda é muito sensível e mostra uma larga escala de valores de melanina e eritema (0-999), podendo detectar até mesmo a mais leve 44 alteração na cor da pele. Todos os resultados foram expressos em valores numéricos, correspondendo ao valor médio de todas as medidas, tanto de melanina como de eritema (Manual Courage-Khazaka Electronic, Alemanha). 3.2.6 Estudos de liberação in vitro Estudos de liberação in vitro foram realizados utilizando uma célula de difusão vertical do tipo Franz com um compartimento receptor com capacidade em torno de 6,0 mL e uma área de difusão de 3,14 cm2 (FRANZ, 1975; VENTER et al, 2001). Para realização deste experimento foram utilizadas membranas de acetato de celulose com poros de 0,45 µm da Millipore®. As membranas foram hidratadas em água destilada por 24 horas antes de iniciar o experimento. Após esse período, as células de difusão foram montadas e as membranas mantidas em contato com uma solução receptora de tampão fosfato pH 7,4. Este meio foi conservado em banho-maria a uma temperatura de 37 °C (± 1 ºC), sendo constantemente agitado com uma barra magnética teflon-coberta. As amostras (0,5 g) foram colocadas na parte superior da membrana e em intervalos de tempo pré determinados (de 2 em 2 horas) foram coletados 2 mL da solução receptora por um período de 10 horas. Após as 10 horas, as amostras foram coletadas nos tempos 24 e 48 horas, até atingir um platô. A cada retirada da solução receptora, foram recolocados novamente 2 mL da mesma na célula de difusão e as amostras foram analisadas de acordo com o item 3.2.2.1. Para análise de cada formulação, seis células de difusão tipo Franz foram utilizadas. 3.2.6.1 Análise dos resultados da liberação A quantidade de fármaco difundida através da membrana foi plotada em função do tempo e análises de regressão linear foram estudadas para determinação do fluxo do mesmo em cada formulação (HUANG et al, 1995; WAGNER e KOSTKA, 2001). O coeficiente de permeabilidade Kp (cm/h), foi dado conforme a seguinte equação: 45 J = Kp. A. Cd onde: J = fluxo através da membrana (inclinação da porção linear dos dados); A = área em cm2; Cd = Concentração do fármaco no compartimento doador. 3.2.7 Ajuste de curvas dos perfis cinéticos Os perfis de liberação obtidos, foram modelados utilizando o programa Scientist® (MicroMath Scientific Software, Inc.), conforme cinética de primeira ordem monoexponencial ou biexponencial utilizando, respectivamente as equações seguinte (PEREIRA et al, 2006; FELIPPI, 2008): C = C0 . e-k.t C = A . e-α.t + B . e-β.t onde: C = concentração de fármaco no tempo t; C0 = concentração de fármaco no tempo zero; k = constante cinética observada no processo monoexponencial; A = quantidade de fármaco dissolvido na velocidade α; B = quantidade de fármaco dissolvido na velocidade β; α = constante cinética observada na etapa rápida de liberação; β = constante cinética observada na etapa lenta de liberação Todos os perfis de liberação foram testados para os dois modelos e o modelo mais adequado foi escolhido baseando-se no valor de Critério de Seleção de Modelo (MSC), coeficiente de correlação e inspeção visual dos gráficos modelados. A Lei da Potência foi avaliada com o auxílio do programa Scientist® (MicroMath Scientific Software, Inc.), para descrever a liberação do adapaleno a partir das nanocápsulas poliméricas. Este modelo semi-empírico relaciona exponencialmente a liberação de uma 46 substância com o tempo, utilizando a equação abaixo (SIEPMANN e PEPPAS, 2001; REZA, QUADIS e HAIDER, 2003; SILVA et al, 2010): ft = atn onde: a = constante que incorpora características estruturais e geométricas do sistema de liberação; n = expoente de liberação e indicativo do mecanismo de liberação da substância; ft = liberação fracional do fármaco. O valor de n está relacionado com a forma geométrica do sistema carreador e determina o mecanismo de liberação, conforme a Tabela 4. Sendo assim, a difusão Fickiana indica que a liberação da substância é controlada por difusão. Já os modelos não-Fickianos apresentam três classes (caso-II, caso anômalo e super caso-II), as quais diferenciam-se em relação à velocidade de difusão do solvente. O caso-II sugere que a liberação da substância é controlada pelo inchamento do sistema. O caso anômalo indica que os fenômenos de difusão e relaxamento do polímero são da mesma ordem de magnitude. Por sua vez, o super caso-II ocorre quando a velocidade de difusão do solvente é o fator determinante da liberação (SIEPMANN e PEPPAS, 2001; COSTA e LOBO, 2001). Tabela 4. Mecanismos de liberação de substâncias por difusão a partir de sistemas poliméricos de diferentes geometrias (SIEPMANN e PEPPAS, 2001). Expoente de liberação (n) Mecanismo de liberação da substância Filmes Cilíndrico Esférico 0,5 0,45 0,43 Difusão Fickiana 0,5 < n < 1,0 0,45 < n < 0,89 0,43 < n < 0,85 Caso anômalo 1,0 0,89 0,85 Caso-II > 1,0 > 0,89 > 0,85 Super Caso-II 47 3.3 Análise estatística A metodologia estatística dos dados incluiu análise descritiva de variáveis como média, desvio padrão (DP), desvio padrão relativo (DPR), análise de variância (ANOVA) e teste de Tukey, considerando-se níveis de significância de 0,05. 48 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Avaliação físico-química das suspensões de nanocápsulas contendo adapaleno As características físico-químicas das suspensões foram avaliadas através da determinação da distribuição do diâmetro das partículas, índice de polidispersão, potencial zeta, pH e teor do ativo. A suspensão contendo nanocápsulas de adapaleno foi previamente desenvolvida e caracterizada por Barrios et al (2009). No presente trabalho, a suspensão foi novamente caracterizada com o objetivo de comparar com os resultados obtidos anteriormente. As nanocápsulas de adapaleno apresentaram um diâmetro médio em torno de 153,9 nm (±3,85) e índice de polidispersão de 0,1 (±0,01). Os valores referentes ao tamanho de partícula, estão de acordo com os encontrados por Barrios et al (2009) os quais foram próximos a 154 nm. Para o índice de polidispersão, os resultados encontrados também foram semelhantes, sendo que os apresentados por Barrios et al (2009) foram inferiores a 0,1. Estes valores indicam uma homogeneidade na distribuição do tamanho das partículas, prevendo uma boa estabilidade das suspensões. Com relação ao potencial zeta, observou-se valores de aproximadamente -27,3 mV (±2,6), os quais foram maiores do que os encontrados por Barrios et al (2009) para o mesmo experimento (-18 mV). Vale ressaltar que o fator mais importante que afeta o potencial zeta é o pH, ou seja, as características ácido-básicas da superfície da partícula estão intimamente relacionadas com o seu potencial. Desta forma, é interessante observar que o maior valor de potencial zeta (em módulo) ocorre em um pH oposto ao pH do ponto isoelétrico (pHIEP), onde o potencial zeta é igual a zero. Por exemplo, considerando uma partícula com pHIEP = 3,5, o seu valor máximo de potencial zeta será obtido em pH de aproximadamente 11,5 (GOUVÊA e MURAD, 2001; HANS e LOWMAN, 2002; FRONZA, CAMPOS e TEIXEIRA, 2004). Os valores para o pH das suspensões neste experimento foram de 5,3 (±0,15) e nas suspensões desenvolvidas por Barrios et al (2009) os valores foram de 5,5. Estes valores de pH levemente ácidos, encontram-se de acordo com os resultados relatados na literatura para este tipo de sistema (ALVES et al, 2007; ROGGIA, 2009; MARCHIORI et al, 2010). 49 O teor de ativo das suspensões de nanocápsulas no presente estudo foi de 99,1 % (±1,9), encontrando-se o mesmo dentro dos limites aceitáveis para o teor de ativo, sendo estes entre 90 e 110%, conforme Guia de estabilidade da ANVISA (BRASIL, 2004). Neste contexto, ressalta-se que a taxa de associação do fármaco às nanocápsulas, observada por Barrios e colaboradores (2009), para as suspensões de adapaleno contendo óleo de melaleuca como núcleo oleoso, foi de 95,4%, sendo este valor considerado eficaz para a encapsulação de ativos. Deve-se considerar que por se tratar de um óleo essencial volátil pode ter ocorrido perda do mesmo, durante o processo de obtenção das nanopartículas, desta forma o processo de caracterização das estruturas foi acompanhado por avaliações do óleo de melaleuca por CLAE. Conforme os resultados obtidos por Barrios (2009) e através da avaliação físicoquímica das suspensões de nanocápsulas realizada no presente experimento, pode-se concluir que o adapaleno adequou-se a este tipo de sistema. 4.2 Determinação dos parâmetros de estabilidade para as formulações semissólidas de Aristoflex AVL® contendo adapaleno na forma nanoencapsulada e na forma livre Após a caracterização das suspensões, estas foram incorporadas em formulações semissólidas contendo Aristoflex AVL®. Este veículo propõe inovação e tecnologia para as bases dermocosméticas, visto que trata-se de uma dispersão polimérica líquida, de preparo instantâneo à frio, onde o acriloildimetil-taurato de amônio é utilizado como polímero. É um veículo não comedogênico, com sensorial agradável e isento de pegajosidade, tornandose adequado para formulações faciais, especialmente em indivíduos com pele oleosa e acneica. Além disso, o Aristoflex AVL® apresenta-se como um creme gel de caráter aniônico, sendo compatível com a suspensão de nanocápsulas (CASTELI et al, 2008; MENDONÇA et al, 2009; Pharmaspecial, 2010). A estabilidade é um parâmetro necessário para assegurar a qualidade do produto cosmético ou farmacêutico, desde a fabricação até a expiração do prazo de validade. Fatores relacionados à formulação, ao processo de fabricação, às condições ambientais, assim como cada componente da formulação seja ativo ou não, podem influenciar na 50 estabilidade do produto (BRASIL, 2004; ISAAC et al, 2008). Com base nestes dados, alguns estudos de estabilidade de formulações utilizando nanoestruturas já vem sendo realizados para o desenvolvimento de novos produtos, com o objetivo de assegurar que a nanotecnologia na área farmacêutica, gere além de inovações uma maior qualidade e segurança das formulações (SCHAFFAZICK et al, 2002; MANCONI et al, 2003; IOELE et al, 2005; OURIQUE et al, 2008). Os estudos realizados para a determinação da estabilidade das formulações desenvolvidas no presente trabalho, após a incorporação das suspensões no veículo semissólido, consistiram nas avaliações referentes à determinação do diâmetro das partículas, pH, índice de polidispersão e potencial zeta. Determinação das características organolépticas, espalhabilidade, viscosidade, teor do ativo e teste de centrifugação. As formulações contendo nanocápsulas brancas (sem adapaleno) foram avaliadas como controle do experimento e a caracterização físico-química das mesmas torna-se de suma importância, pois através delas pode-se avaliar se houve alterações no comportamento destes sistemas com a incorporação do fármaco nanoestruturado. 4.2.1 Determinação das características organolépticas das formulações semissólidas contendo adapaleno na forma livre e nanoencapsulada As formulações semissólidas contendo o adapaleno na forma livre ou nanoencapsulada foram analisadas com relação à aparência, cor e odor. Figura 7. Formulações semissólidas contendo adapaleno nanoencapsulado em 0 dias (A) e após 21 dias de experimento (B) 51 Figura 8. Formulações semissólidas contendo adapaleno na forma livre em 0 dias (A) e após 21 dias de experimento (B) Inicialmente as formulações contendo o fármaco na forma livre ou nanoestruturada apresentaram coloração branca e superfície lisa com aspecto brilhante e homogêneo, indicando que o veículo utilizado foi adequado para a preparação das formulações contendo adapaleno. Neste contexto, é importante ressaltar que o produto final não apresentou o aspecto gel-gelatina, observado em muitos dos géis formulados com espessantes à base de polímero. Conforme pode ser observado nas Figuras 7 e 8, para ambas as formulações (contendo adapaleno livre ou nanoencapsulado) não houve alteração quanto à aparência, cor e odor ao longo do período de estudo, mantendo-se inalteradas após as diferentes condições à que foram submetidas. Em estudos desenvolvidos anteriormente por este grupo de pesquisa, suspensões contendo nanocápsulas de adapaleno foram incorporadas em base semissólida de Carbopol 940®, determinando-se a estabilidade da mesma (Bruschi, 2010). Foi observado que, com relação às características organolépticas (aparência, cor e odor), para as amostras armazenadas em temperatura ambiente, ambas as formulações (contendo o fármaco livre e nanoencapsulado) apresentaram ligeiras modificações com relação à aparência, cor e odor após 90 dias de estudo, enquanto para as preparações mantidas em estufa, as mesmas modificações foram observadas nas duas formulações estudadas após 60 dias de armazenamento. Entretanto, para as formulações armazenadas em geladeira, observou-se que a forma nanoencapsulada não sofreu alteração durante os 90 dias de experimento, enquanto o hidrogel contendo o fármaco livre apresentou alterações visíveis em relação à coloração e odor após 60 dias de estudo. Desta forma, o autor concluiu que, para as amostras mantidas em geladeira, as nanopartículas podem estar promovendo uma proteção 52 do fármaco, visto que a nanoencapsulação do ativo foi capaz de manter um melhor aspecto da formulação semissólida durante um período maior de tempo. 4.2.2 Determinação da distribuição do diâmetro médio, índice de polidispersão e potencial zeta das nanocápsulas de adapaleno incorporadas nas formulações semissólidas A determinação do tamanho de partícula e do índice de polidispersão em função do tempo são parâmetros que devem ser estudados em preparações coloidais, visto que qualquer mudança pode ser indício de agregação das partículas e, consequentemente, sedimentação do sistema (GUTERRES et al, 1995; CALVO, VILA-JATO e ALONSO, 1996). Diversos autores têm avaliado o tamanho de partícula em formulações contendo nanocápsulas preparadas pelo método de nanoprecipitação, utilizando como polímero a poli (ε-caprolactona). Entre eles, Pohlmann e colaboradores (2002) estudaram nanocápsulas de indometacina, Ourique e colaboradores (2008) avaliaram formulações contendo nanocápsulas de tretinoína e Terroso e colaboradores (2009) desenvolveram nanocápsulas associadas à coenzima-Q10. Estes autores encontraram diâmetros em torno de 197, 222 e 218 nm, respectivamente. Com relação ao potencial zeta, o qual reflete o potencial de superfície das partículas, vale ressaltar que quanto maior o potencial zeta, maior a probabilidade de a suspensão manter-se estável, pois as partículas carregadas se repelem umas às outras e essa força supera a tendência natural à agregação. Portanto, em módulo, um valor relativamente alto de potencial zeta é importante para uma boa estabilidade físico-química da suspensão coloidal, pois grandes forças repulsivas tendem a evitar a agregação em função das colisões ocasionais de nanopartículas adjacentes (SCHAFFAZICK et al, 2003; BOCHI, 2010). Em outros estudos, utilizando-se também como polímero a poli (ε-caprolactona), determinou-se o potencial zeta das formulações e foram obtidos valores negativos em torno de - 10 mV para nanocápsulas contendo nimesulida (ALVES, POHLMANN e GUTERRES, 2005); - 24 mV para nanocápsulas contendo indometacina (DOMINGUES et al, 2008) e - 9,5 mV para nanocápsulas contendo benzofenona-3 (PAESE, 2008). 53 Os resultados referentes ao diâmetro médio das partículas, índice de polidispersão e potencial zeta das suspensões incorporadas em Aristoflex AVL® estão descritos na Tabela 5. Tabela 5. Diâmetro médio, índice de polidispersão e potencial zeta das nanocápsulas contendo adapaleno (CGNCA) e das nanocápsulas sem adapaleno (CGNC) incorporadas em Aristoflex AVL® CGNCA CGNC Dias Diâmetro (nm)±DP PI±DP 0,1±0,03 Potencial Zeta (mV) ±DP -35,9±3,8 0 183,2±3,09 21 183,1±0,05 Diâmetro (nm)±DP PI±DP 182,1±0,61 0,07±0,02 Potencial Zeta (mV)±DP -32,6±2,1 0,1±0,04 -34,3±4,6 184,0±0,76 -33,1±1,5 0,1±0,03 Após a incorporação da suspensão no veículo, observa-se que houve um aumento do tamanho das nanopartículas, passando de 153,9 ± 3,8 nm (diâmetro observado para as suspensões de nanocápsulas) para 183,2 ± 3,0 nm (Tabela 5). Este aumento pode estar associado a vários fatores dentre eles à agregação de moléculas de água, ou mesmo de cargas presentes na formulação de creme gel, à estrutura polimérica das nanocápsulas (FERRONY, 2009). Da mesma forma, houve um aumento do potencial zeta após a incorporação da suspensão no creme gel, passando de – 27,3 ± 2,6 mV para -35,9 ± 3,8 mV. Este aumento da carga negativa pode estar relacionado com o caráter aniônico do veículo. De acordo com a Tabela 5, para ambas as formulações, os valores iniciais referentes ao tamanho de partícula não sofreram alteração significativa (p>0,05) após 21 dias de análise. Permanecendo entre 183,2 ± 3,09 nm e 183,1 ± 0,05 nm para as formulações contendo nanocápsulas de adapaleno e entre 182,1 ± 0,6 nm e 184,0 ± 0,7 nm para as formulações brancas, ou seja, sem a presença do ativo. Os valores de polidispersabilidade obtidos para ambas as formulações, durante os 21 dias de análise, mantiveram-se estáveis, ou seja, menores que 0,2 (Tabela 5), as quais não demonstraram diferença estatística significativa (p>0,05) entre seus valores iniciais e finais, bem como entre si. Desta forma, os resultados obtidos indicam uma estreita distribuição do tamanho das partículas e boa homogeneidade destes sistemas ao longo do 54 tempo de armazenamento (MÜLLER et al, 2001; MILÃO, KNORST e GUTERRES, 2003; ALVES, POHLMANN e GUTERRES, 2005). A Tabela 5 ainda demonstra que o potencial zeta para a formulação contendo nanocápsulas de adapaleno, não apresentou alteração significativa (p≤0,05), comparando-se os valores iniciais (- 35,9 ± 3,8 mV) aos finais (- 34,3 ± 4,6 mV) mantendo-se inalterado, no decorrer das análises. A formulação branca, ou seja, sem adapaleno obteve um valor inicial médio de potencial zeta de - 32,6 ± 2,1 mV e final de - 33,1 ± 1,5 mV, desta forma também não foi observada diferença significativa entre os valores basais e após 21 dias de experimento. De acordo com a literatura, a carga negativa destes sistemas deve-se a presença de poli (ε-caprolactona), fosfolipídios e tensoativos não-iônicos como o Span 60® e o Tween 80® (MÜLLER, MÄDER e GOHLA, 2000; SCHAFFAZICK et al, 2003). Além disso, o potencial zeta pode ser influenciado pelo dispersante, pelo pH, condutividade, concentração dos componentes da formulação, inclusive do princípio ativo e pela força iônica do meio (TEIXEIRA, 2010). Baseado nos resultados obtidos pode-se afirmar que a distribuição do diâmetro, índice de polidispersão e potencial zeta das formulações contendo nanocápsulas de adapaleno mantiveram os valores iniciais, ou seja, as amostras não apresentaram sinais agregação ou sedimentação durante os 21 dias de experimento. Desta forma, pode-se concluir também que o veículo mostrou-se adequado para a incorporação deste tipo de sistema. 4.2.3 Determinação do pH das formulações semissólidas contendo adapaleno na forma livre e na forma nanoencapsulada O monitoramento do pH em função do tempo fornece informações relevantes sobre a estabilidade de formulações, principalmente as nanoparticuladas, visto que alterações deste parâmetro podem estar relacionadas com a degradação do polímero, de algum outro componente da formulação ou até mesmo difusão da substância ativa do sistema para o meio aquoso (GUTERRES et al, 1995; SCHAFFAZICK et al, 2003). Por outro lado, em relação ao pH fisiológico, pode-se considerar que a pele humana 55 apresenta um pH levemente ácido, o qual atua na proteção contra bactérias e fungos. Dessa forma, as formulações tópicas devem apresentar valores de pH entre 3 e 10, pois do contrário podem provocar alterações no pH cutâneo (LEONARDI, GASPAR e MAIA CAMPOS, 2002). As formulações semissólidas contendo nanocápsulas de adapaleno e as formulações contendo o fármaco na forma livre apresentaram declínio dos valores de pH (p<0,05), passando de 5,0 ± 0,1 para 4,4 ± 0,1 e de 6,3 ± 0,02 para 6,0 ± 0,1, respectivamente, após 21 dias de análise. Apesar da diferença estatística verificada, considera-se que os valores experimentais são coerentes para este tipo de sistema e encontram-se na faixa de pH adequada para formulações de uso tópico (ALVES et al, 2007). Comparando-se as formulações contendo o fármaco na forma livre e o fármaco na forma nanoencapsulada pode-se considerar que houve diferença significativa (p<0,05) entre os valores encontrados, observa-se que para as formulações contendo as nanocápsulas os valores iniciais e final de pH foram menores. Esta diferença pode ser decorrente da presença de grupos carboxílicos funcionais na cadeia polimérica (SCHAFFAZICK et al, 2002). Diversos autores têm estudado formulações semissólidas contendo nanocápsulas associadas a diferentes ativos e utilizando como polímero a poli (ε-caprolactona). Entre eles, Marchiori e colaboradores (2010) realizaram a incorporação de nanocápsulas de dexametasona em um hidrogel e observaram valores de pH em torno de 5,7 ± 0,1. Estes resultados foram semelhantes aos valores iniciais encontrados no presente estudo, que foram de 5,0 ± 0,1. Em outro estudo realizado por MILÃO, KNORST e GUTERRES (2003), os autores avaliaram nanopartículas poliméricas contendo diclofenaco incorporado em diferentes veículos, e também observaram uma diminuição dos valores de pH. Dentre as possíveis causas estaria a degradação do polímero, o qual não pode ser justificado pelos autores, pois também houve diminuição do pH, na formulação de creme gel contendo fármaco livre. Da mesma forma, no presente estudo houve uma redução significativa dos valores de pH tanto para as formulações contendo nanocápsulas de adapaleno, quanto para aquelas contendo o fármaco livre, descartando a possibilidade de degradação do polímero. 56 4.2.4 Determinação das características reológicas para as formulações semissólidas contendo adapaleno na forma livre e nanoencapsulada O termo reologia vem do grego rheo (fluxo) e logos (ciência), foi sugerido por Bingham e Crawford, para descrever as deformações de sólidos e a fluidez de líquidos (LABA, 1993; LEONARDI e MAIA CAMPOS, 2001). Desta forma, a reologia é o ramo da física que estuda a viscosidade, a plasticidade, a elasticidade, o escoamento e a deformação da matéria sobre ações de forças. A viscosidade pode ser definida como a resistência interna que um fluido apresenta resultante da aplicação de uma força que causa deformação temporária ou permanente da matéria, ou simplesmente a resistência de uma substância ao fluxo, quando submetida a uma tensão, sendo que quanto maior a viscosidade, maior a resistência (MARTIN, 1993). Nos últimos anos, tem havido um grande interesse em estudar a reologia das emulsões, principalmente pela relação direta da mesma com a estabilidade do produto (AULTON, 1988; LABA, 1993; MARTIN, 1993; CORRÊA et al, 2005; PRESTES et al, 2009). Em vista disso, análises reológicas são fundamentais para o desenvolvimento tecnológico, sendo imprescindíveis para quantificar, em produtos semissólidos, os efeitos provocados pelo tempo, pela temperatura, pela incorporação de substâncias ativas e de carreadores como lipossomas, ciclodextrinas e sistemas nanoparticulados (MARTIN, 1993; ALVES et al, 2007). Vale ressaltar também que a receptividade dos cremes e loções tópicas por parte do consumidor depende principalmente, da eficácia e do sensorial do produto, ambos influenciados pelos aspectos reológicos (LEONARDI e MAIA CAMPOS, 2001). Em estudos de reologia, os sistemas podem apresentar fluxo newtoniano ou não newtoniano. O fluxo newtoniano é caracterizado pela viscosidade constante, independente da força de cisalhamento aplicada. Entretanto, a maioria dos fluídos cosméticos e farmacêuticos apresentam comportamento não newtoniano, visto que a viscosidade do fluido varia com a velocidade de cisalhamento. O fluxo não newtoniano não apresenta relação linear entre a taxa de cisalhamento aplicada e sua tensão de cisalhamento. Dentre a classificação de fluído não-newtoniano inclui-se o fluxo plástico, pseudoplástico e dilatante (MARRIOT, 2005; ALLEN Jr., POPOVICH e ANSEL, 2007; ALVES et al, 2007). 57 O comportamento não newtoniano plástico é caracterizado pela necessidade de uma força de cedência prévia capaz de ultrapassar as forças internas e destruir a estrutura do material para que ocorra a sua fluidez. Todavia, o sistema não-newtoniano pseudoplástico não possui ponto de cedência, por isso o reograma começa na origem e o material começa a fluir tão logo uma tensão de cisalhamento seja aplicada. A inclinação da curva diminui gradualmente com o aumento da velocidade de cisalhamento (AULTON, 2005). Os valores referentes à viscosidade das formulações semissólidas contendo adapaleno na forma livre e na forma nanoencapsulada podem ser observados na Tabela 6. As leituras foram realizadas na velocidade de 50 rpm usando o spindle 29. Tabela 6. Valores referentes à viscosidade, índice de plasticidade (n) e coeficiente de consistência (K) apresentados pelo creme gel de Aristoflex AVL®, contendo adapaleno na forma livre (CGA) e nanoencapsulada (CGNCA) durante 21 dias de experimento. CGNCA CGA Tempo (dias) Viscosidade (mPa.s) n K 0 56200± 916,51 0,24±0,03 112620,4± 3191,8 21 67734,33± 714,57* 0,24±0,01 124828,9± 10830,1 Viscosidade (mPa.s) n K 81733,33± 611,01 0,24±0,04 157697,8± 23760,1 79200± 2088,06 0,29±0,02 129734,2± 3191,8 Valores referentes à média para determinação de três formulações ± desvio padrão. * Valores estatisticamente significativos (p≤0,05) quando comparados com os seus resultados iniciais (0 dias). De acordo com os resultados apresentados na Tabela 6 é possível observar que as formulações contendo adapaleno na forma livre mantiveram seus valores de viscosidade sem apresentar diferença significativa durante os 21 dias de estudo, quando comparado com os valores iniciais. Entretanto, para as formulações contendo o fármaco nanoencapsulado ocorreu um aumento significativo (p<0,05) da viscosidade após 21 dias de análise, quando comparado com seus valores iniciais. Conforme os resultados expostos na Tabela 6, pode-se observar também que não houve uma alteração significativa (p>0,05) do índice de plasticidade e do coeficiente de consistência em ambas as formulações semissólidas contendo adapaleno em função dos 21 dias de análise. Houve diferença significativa (p<0,05) no tempo zero, quando a viscosidade do 58 creme gel contendo o fármaco na forma livre foi comparada com o creme gel contendo a forma nanoencapsulada. Da mesma forma, após 21 dias de experimento também foi observada diferença significativa entre a viscosidade das duas formulações estudadas. Conforme demonstra a Tabela 6, a forma livre apresentou valores maiores de viscosidade quando comparado com a forma nanoencapsulada. Pode-se observar desta forma, que para cada formulação existe um tipo de interação entre o carreador, o fármaco e/ou o veículo, em função do tempo e dos componentes envolvidos, determinando os diferentes comportamentos reológicos de cada sistema. Além disso, estes resultados demonstram que apesar da formulação nanoestruturada apresentar um valor de viscosidade menor que o encontrado para a formulação contendo o ativo na forma livre, ela é capaz de manter a viscosidade da formulação em valores adequados mesmo após ser submetida ao ciclo gelodegelo durante 21 dias, não havendo perda da estabilidade do produto. Estes valores podem ser comparados com o comportamento reológico apresentado por formulações semissólidas contendo nanocápsulas de adapaleno quando incorporadas em bases de Carbopol 940® estudados por Bruschi (2010). O autor observou que as formulações contendo os sistemas nanopartículados não sofreram alteração significativa de viscosidade, comparando os valores iniciais (886333 ± 91571 mPa.s) e após 90 dias de armazenamento em estufa (780000 ± 17088 mPa.s). Além disso, pode-se observar que o Carbopol 940® contendo adapaleno nanoestruturado apresentou maior viscosidade que as formulações de Aristoflex AVL® após a incorporação da suspensão de nanocápsulas, entretanto ambas as formulações apresentaram valores de viscosidade adequados. Desta forma, pode-se considerar que esta divergência, provavelmente deva-se às diferenças entre os dois veículos. 59 Figura 9. Reograma para as formulações semissólidas contendo adapaleno na forma livre ou nanoencapsulada referentes aos valores iniciais e após 21 dias de estudo Através da análise das características reológicas das formulações semissólidas contendo adapaleno, tanto para a forma nanoencapsulada como para a forma livre (Tabela 6 e Figura 9), pode-se verificar que as formulações apresentaram fluxo não-newtoniano e comportamento pseudoplástico (n<1), seguindo o modelo de Ostwald, indicando que a adição das nanopartículas não modificou o comportamento reológico da formulação. De acordo com a literatura, várias formulações farmacêuticas e cosméticas apresentam este comportamento, especialmente géis, emulsões e suspensões constituídas com partículas de diâmetro inferiores a 1 µm (GASPAR e MAIA CAMPOS et al, 2003; ALVES, POHLMANN e GUTERRES 2005; RIBEIRO, MORAIS e ECCLESTON, 2004; BRUSCHI, 2010). O fluxo pseudoplástico pode ser caracterizado pela ruptura progressiva da estrutura do meio, quando a taxa de cisalhamento é aumentada. Nas dispersões poliméricas e na maioria os sistemas semissólidos que contenham esses componentes, o comportamento pseudoplástico surge em consequência da existência de interações intermoleculares entre as cadeias poliméricas (LACHMAN, LIEBERMAN e KANIG, 2001). O tipo de influência que os sistemas nanoestruturados exercem nas formulações semissólidas tem sido avaliado por diversos autores. Alves e colaboradores (2007) estudaram o comportamento reológico de formulações semissólidas (hidrogéis) contendo 60 nanocápsulas, nanoesferas ou nanoemulsões de nimesulida e observaram que todas as formulações estudadas (contendo nanocarreador ou não) apresentaram comportamento não newtoniano pseudoplástico, indicando que a adição de nanopartículas não modificou as características reológicas da formulação de gel hidrofílico. Bruschi (2010) ao estudar nanocápsulas de adapaleno incorporadas em base de Carbopol 940®, avaliou as características reológicas do hidrogel contendo o fámaco na forma livre ou nanoestruturada e observou que ambas as formulações estudadas apresentaram comportamento não newtoniano com fluxo pseudoplástico. Este comportamento não newtoniano pseudoplástico ainda foi observado com nanocápsulas de meloxicam incorporadas em hidrogel de Carbopol 940® (BOCHI, 2010), confirmando os resultados obtidos no presente estudo e com nanocápsulas de dexametasona incorporadas em creme gel (FERRONY, 2009). Dentre as avaliações reológicas realizadas pode-se determinar os valores de espalhabilidade, avaliando-se o comportamento da mesma após a incorporação do nanocarreador. Pode-se avaliar ainda se as formulações semissólidas mantêm seus valores de espalhabilidade quando submetidas ao ciclo gelo-degelo durante 21 dias. No presente estudo, os valores de espalhabilidade foram comparados entre as formulações semissólidas contendo adapaleno na forma livre e na forma nanoencapsulada. Essa comparação foi realizada para verificar se a presença das suspensões contendo nanocápsulas poderia modificar a espalhabilidade da formulação. Os valores de espalhabilidade para as formulações contendo adapaleno na forma livre e nanoencapsulada encontram-se descritos na Tabela 7 e na Figura 10. Tabela 7. Valores referentes à espalhabilidade (mm²) das formulações semissólidas contendo adapaleno na forma livre (CGA) e na forma nanoencapsulada (CGNCA) durante 21 dias de estudo Tempo (dias) CGNCA CGA 0 4905±435 2793±489 21 4641±446 6269±1034* Valores referentes à média para determinação de três formulações ± desvio padrão. * Valores estatisticamente significativos (p≤0,05) quando comparados com os seus resultados iniciais. **Peso da placa: 348,62 g. 61 Conforme pode ser observado na Tabela 7 e Figura 10, as formulações semissólidas contendo adapaleno nanoencapsulado, não alteraram significativamente seus valores de espalhabilidade após 21 dias de análise. Entretanto, nas formulações contendo adapaleno na forma livre, verificou-se um aumento significativo (p<0,05) entre a espalhabilidade inicial e após 21 dias. Figura 10 - Valores referentes a espalhabilidade apresentada pelas formulações contendo adapaleno na forma livre ou nanoencapsulado durante 21 dias de estudo Quando foram realizadas análises de espalhabilidade no tempo zero, observou-se que houve diferença significativa (p<0,05) entre a espalhabilidade do gel contendo o fármaco na forma livre e na forma nanoestruturada. Desta forma, pode-se verificar que a incorporação da suspensão de nanocápsulas conferiu um aumento significativo da espalhabilidade das preparações, comparando com as formulações contendo adapaleno livre. Entretanto, estes valores foram mantidos durante todo o período de estudo. A espalhabilidade está diretamente relacionada com a viscosidade e com a composição da formulação (CONTRERAS e SANCHEZ, 2002). Desta forma, pode-se observar no presente estudo que apesar de ter ocorrido um aumento estatisticamente significativo nos valores de viscosidade para as formulações contendo o ativo nanoestruturado, experimentalmente este aumento não modificou as características do produto assim como os valores de espalhabilidade. De acordo com os resultados encontrados no presente experimento, pode-se 62 observar que o Aristoflex AVL® representou ser um veículo adequado para a incorporação de suspensões contendo nanocápsulas de adapaleno, visto que as características reológicas das formulações estudadas foram mantidas durante todo o período de análise. 4.2.5 Determinação do teor de adapaleno das formulações semissólidas 4.2.5.1 Construção da curva padrão para determinação do teor de adapaleno A metodologia analítica para a quantificação do adapaleno em suspensões de nanocápsulas foi previamente desenvolvida e validada por Barrios e colaboradores (2011). O método foi linear na faixa de concentração entre 10-30 µg/mL, apresentando coeficiente de determinação de 0,994. Foram determinados também os limites de quantificação e de detecção, indicando que a metodologia é eficiente para quantificar o adapaleno em concentração mínima de 0,37 µg/mL. Analisando os resultados obtidos, constatou-se que a curva padrão do adapaleno apresentou regressão linear significativa (p<0,05), não havendo desvio significativo de linearidade (p>0,05), mostrando-se desta forma linear. A equação da reta para o método foi: y = 73,688x – 304,39; onde x é a concentração em µg/mL e y a área, apresentando um coeficiente de determinação de 0,9992. Figura 11. Curva padrão do adapaleno obtida por CLAE De acordo com os resultados obtidos, conclui-se que a curva analítica pode ser 63 utilizada para a interpolação de valores experimentais, visando à determinação quantitativa do teor de adapaleno, visto que o coeficiente de determinação foi maior que 0,99. Isto permite uma estimativa da qualidade da curva analítica obtida, sendo que quanto mais próximo de 1,0, menor a dispersão do conjunto de pontos experimentais (ANVISA, 2003a). 4.2.5.2 Doseamento do adapaleno na forma livre e nanoencapsulada e incorporado nas formulações semissólidas De acordo com os resultados obtidos (n = 3), o teor inicial de adapaleno (95,31 % ± 1,33) nas formulações semissólidas contendo o fármaco nanoencapsulado não sofreu alteração significativa (p>0,05), quando comparado com o teor obtido no término do experimento (94,59 % ± 1,82). Porém, nas formulações contendo o ativo na forma livre houve uma redução estatisticamente significativa (p<0,05) na concentração de adapaleno, visto que o teor inicial foi de 99,21 % ± 1,50 e que este decaiu para 87,43 % ± 1,64 após 21 dias de análise. A influência que sistemas nanoestruturados exercem com relação à manutenção do teor de ativos por um período de tempo maior, tem sido investigada por diversos autores como Paese et al (2009) que realizaram experimentos com nanocápsulas de benzofenona-3, Ioele et al (2005) que estudaram lipossomas contendo tretinoína e isotretinoína e Ourique et al (2008) que realizaram estudos utilizando a tretinoína associada a nanocápsulas poliméricas. Os autores observaram que a associação do ativo ao nanocarreador aumentou a estabilidade do mesmo, ou seja, o teor do ativo foi mantido por um período de tempo maior, comparando com as formulações contendo o fármaco na forma livre. Neste contexto, os resultados encontrados no presente experimento indicam que as nanocápsulas estão mantendo o teor do ativo por um período de tempo maior, quando comparado com as mesmas formulações contendo o fármaco na forma livre, ou seja, as nanocápsulas podem estar exercendo uma ação protetora frente ao fármaco, permitindo a manutenção de seus teores acima de 90% mesmo após serem submetidas ao ciclo gelodegelo durante 21 dias. 64 4.2.6 Teste de centrifugação Quando trata-se de formulações emulsionadas, como no presente experimento, a centrifugação simula um aumento na força da gravidade, acelerando a mobilidade das partículas e antecipando possíveis sinais de instabilidade, como precipitação, separação de fases, formação de sedimento compacto e coalescência (ANVISA, 2007). O teste de centrifugação realizado no presente experimento teve como objetivo determinar o comportamento apresentado pelas formulações no final das condições de armazenamento. Observou-se que as formulações estudadas não sofreram qualquer tipo de alteração após a centrifugação, ou seja, não houve precipitação ou mudanças que demonstrem instabilidade. Desta forma, pode-se considerar que o Aristoflex AVL® é um veículo adequado para a incorporação de suspensões coloidais contendo nanocápsulas de adapaleno. 4.3 Avaliação dos efeitos das formulações na pele humana por Bioengenharia Cutânea De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, quando a um produto é atribuído um beneficio específico, é necessária a comprovação de sua eficácia e segurança. Sendo assim, para a avaliação da segurança de um produto dermocosmético deve-se considerar parâmetros como condições de uso, composição do produto, efeitos toxicológicos sistêmicos e reações de irritação, as quais são decorrentes da penetração cutânea ou de mucosa dos ingredientes e estão relacionadas às concentrações de uso do produto final. Destaca-se, assim, a importância da realização de ensaios em humanos para avaliar produtos de uso tópico a fim de verificar potencial de reações cutâneas (ANVISA, 2003b). A incidência de dermatite de contato pela aplicação de produtos dermocosméticos varia de acordo com a área geográfica, visto que depende de hábitos de prescrição, além de variações no decorrer dos anos (LAZZARINI et al, 2009). É desencadeada por agentes com propriedades de causar dano tecidual direto, sendo o eczema de contato, em todas as fases, o tipo mais freqüente de reação, sempre acompanhado de prurido intenso. Os agentes causadores da dermatite de contato, presentes em formulações de uso tópico, incluem tanto 65 principios ativos (retinóides, peróxido de benzoíla) quanto outros ingredientes (conservantes, acidulantes, emulsificantes), muitos dos quais são encontrados tanto em formulações farmacêuticas quanto cosméticas (BRANDÃO, GOOSSENS e TOSTI, 2006). Destaca-se também, que pacientes portadores de dermatites apresentam uma perda da função barreira da pele, o que aumenta a probabilidade de sensibilização à substâncias ativas (LAZZARINI et al, 2009). A avaliação através de ensaios de biometria cutânea tem sido bastante utilizada para realização de estudos sobre os efeitos de diferentes ativos na pele, mas existem poucos trabalhos realizados com ativos em sistemas nanoparticulados (WISSING e MÜLLER, 2003; MÜLLER et al, 2007; PARDEIKE, SCHWABE e MÜLLER 2010). Desta forma, torna-se de extrema relevância a realização deste experimento, em função de que até o presente momento, nenhum trabalho foi realizado com o adapaleno nanoencapsulado para determinação dos parâmetros analisados. Cabe ressaltar que para a realização dos ensaios de biometria cutânea in vivo, utilizou-se as formulações semissólidas previamente desenvolvidas por Bruschi (2010), visto que o autor já realizou testes de estabilidade das preparações, bem como ensaios de permeação cutânea in vitro. A região dos antebraços dos voluntários foi a região corporal escolhida para a realização do referido estudo, pois a mesma vem sendo empregada para a avaliação de eficácia de produtos dermocosméticos. Esta região pode apresentar uma série de vantagens, como o comprometimento dos voluntários ao estudo, devido à facilidade de aplicação e avaliação. Considera-se ainda que nessa região, ocorre menor interferência das condições ambientais e do estilo de vida (CAMARGO Jr., 2006; ESPOSITO et al, 2007; ALEKSEEV, SZABO e ZISKIN, 2008; CHENG et al, 2008). 4.3.1 Determinação do conteúdo aquoso do estrato córneo (grau de hidratação cutânea) O conteúdo aquoso do estrato córneo é mantido por um filme hidrolipídico, constituído por material graxo excretado pelas glândulas sebáceas e componentes excretados no suor (emulsão epicutânea). Este filme hidrolipídico encontrado na pele, tem 66 como funções: formar uma barreira de proteção acídica evitando a penetração de substâncias danosas ao organismo, proteger a pele do ressecamento e manter a sua flexibilidade (SPENCER, 1988). A hidratação da pele é um dos principais determinantes da absorção percutânea, visto que influencia cada passo da formação, maturação e esfoliação do estrato córneo, incluindo a formação dos corneócitos e a organização lipídica intercelular (SMITH, 1999). O Corneometer® é um equipamento baseado na medida da capacitância, e vem sendo muito utilizado na avaliação do conteúdo aquoso do estrato córneo por apresentar alta sensibilidade (RODRIGUES,1995; ROGIERS et al, 1999; MÜLLER et al, 2007). Os resultados obtidos para a determinação do conteúdo aquoso do estrato córneo no antebraço dos voluntários são expressos em unidades arbitrárias (U.A.) e estão demonstrados na Tabela 8. Tabela 8. Determinação do conteúdo aquoso do estrato córneo realizado por biometria cutânea utilizando gel de Carbopol® contendo adapaleno na forma livre (GCA) e na forma nanoencapsulada (GCNCA) Tempo (dias) 0 7 14 21 28 35 42 49 56 63 Formulações GCA GCNCA Média (U.A.) ± DP DPR (%) 47,19±7,53a 15,96 45,69±6,31a 13,82 13,78 a 13,49 a 12,49 a 12,36 a 17,59 a 17,61 a 15,77 a 21,43 a 12,68 a 11,12 41,48±5,72 abc 39,7±5,53 b 41,29±4,67 abc 42,09±7,32 abc 42,75±6,69 abc 42,59±8,44 abc 40,53±7,46 abc b 38,83±8,02 33,25±4,03 bd 13,90 11,31 17,38 15,64 19,83 18,40 20,65 12,11 Média (U.A.) ± DP 42,14±5,69 40,23±5,02 41,72±5,16 42,77±7,52 41,67±7,34 42,45±6,69 40,54±8,69 40,94±5,19 41,15±4,58 DPR (%) a-b-c-d: as médias com as letras diferentes dentro da mesma coluna apresentaram diferença significativa entre si (p<0,05) de acordo com o teste de Tukey. Conforme pode ser observado na Tabela 8, os valores basais das formulações contendo adapaleno na forma livre apresentaram uma diminuição significativa (p<0,05) após 56 dias de aplicação do produto, ou seja, ocorreu uma redução do conteúdo aquoso do 67 estrato córneo com o uso prolongado da formulação. Entretanto, no caso do gel contendo o ativo na forma nanoencapsulada não ocorreu diferença significativa durante todo o período observado. Comparando o gel contendo adapaleno na forma nanoestruturada com o gel contendo o fármaco na forma livre houve alteração significativa (p<0,05) após 63 dias de aplicação, observando-se uma redução mais pronunciada dos valores do conteúdo aquoso do estrato córneo nas regiões tratadas com o gel com o ativo na forma livre, o que indica que as formulações nanoestruturadas podem estar causando uma diminuição do ressecamento provocado pelo adapaleno. As alterações que diferentes ativos de uso tópico podem causar, com relação às características fisiológicas da pele, vêm sendo estudadas por diversos autores. Entre eles, Gomes (2007) analisou formulações semissólidas contendo ácido retinóico nas concentrações de 0,025, 0,05 e 0,1%, comparando com formulações contendo palmitato de retila nas concentração de 0,025, 0,05 e 1%. Para a realização dos ensaios biológicos foram utilizados, como modelo experimental, camundongos sem pêlo. Na avaliação da pele dos camundongos por técnicas de Biometria Cutânea, o palmitato de retila não apresentou nenhuma alteração nos valores do conteúdo aquoso do estrato córneo quando comparados com o controle e o veículo. Por outro lado a aplicação das diferentes concentrações de ácido retinóico reduziu de forma estatisticamente significativa o grau de hidratação cutânea, semelhante ao que foi observado no presente experimento quando avaliou-se o conteúdo aquoso da pele dos voluntários após a aplicação das formulações contendo adapaleno na forma livre. Com base no exposto pode-se concluir que, com relação à hidratação cutânea, o adapaleno associado às nanocápsulas foi capaz de manter as características fisiológicas da pele mesmo com o uso prolongado do produto. Desta forma, as formulações contendo o fármaco nanoencapsulado podem ser mais indicadas para pacientes com pele sensível, visto que a hidratação cutânea reduz a suscetibilidade à irritação, favorecendo a manutenção da integridade do estrato córneo. 68 4.3.2 Determinação do pH cutâneo A manutenção do pH cutâneo está diretamente ligado ao equilíbrio do manto hidrolipídico, da homeostase e de funções imunológicas da pele. Porém, em estudos que envolvem avaliação do pH cutâneo é comum que algumas variações sejam observadas na realização destas análises, sem com isto significar algum comprometimento da pele (LEONARDI, GASPAR e MAIA CAMPOS, 2002). Os resultados referentes à determinação do pH no antebraço dos voluntários durante 63 dias estão demonstrados na Tabela 9. Tabela 9. Determinação do pH realizado por biometria cutânea para avaliação do gel de Carbopol® contendo adapaleno na forma livre (GCA) e na forma nanoencapsulada (GCNCA) Formulações Tempo (dias) GCA Média (U.A.) ± DP 4,57±0,41 a 4,54±0,65 a 4,62±0,46 a 4,60±0,62 a 4,84±0,59 a 4,87±0,53 a 42 4,86±0,45 a 49 a 0 7 14 21 28 35 56 63 4,77±0,7 4,74±0,67 a 5,03±0,78 a GCNCA DPR (%) 8,94 14,30 9,97 13,48 12,25 10,94 9,36 14,87 14,14 15,48 Média (U.A.) ± DP DPR (%) 4,54±0,43 a 9,47 4,62±0,50 a 10,91 4,78±0,37 a 7,82 4,72±0,78 a 16,45 4,92±0,54 a 10,98 4,79±0,39 a 8,22 4,85±0,40 a 8,33 4,71±0,59 a 12,56 4,89±0,56 a 11,53 5,07±0,56 a 11,05 a-b: as médias com as letras diferentes dentro da mesma coluna apresentaram diferença significativa entre si (p<0,05) de acordo com o teste de Tukey. De acordo com os resultados expressos na Tabela 9, pode-se observar que não houve alteração estatisticamente significativa (p>0,05) do pH durante os 63 dias de aplicação para ambas as formulações testadas. Desta forma, os valores do pH cutâneo mantiveram-se dentro de uma faixa considerada normal (4,5-5,5) para aplicação de produtos tópicos, demonstrando que as formulações estudadas não alteraram as características fisiológicas da pele (PRUNIERAS, 1994; LEONARDI, GASPAR E MAIA 69 CAMPOS, 2002). A importância do pH se deve principalmente pela ligação entre o mesmo e algumas patogenias como dermatite de contato, dermatite atópica, ictiose, acne vulgar e infecções por Candida Albicans (EBERLEIN-KÖNIG et al, 2000; SCHMID-WENDTNER e KORTING, 2006). Em vista disso, vale ressaltar a importância das formulações analisadas no presente experimento não causarem alterações no pH cutâneo. Apesar de existirem poucos trabalhos utilizando análises biofísicas não invasivas para avaliação de sistemas nanoparticulados, Silva (2010) realizou estudos de bioengenharia cutânea comparando formulações de creme gel contendo um filtro solar químico (benzofenona-3) associado à nanocápsulas com o creme gel contendo o ativo na forma livre. O experimento foi realizado com vinte voluntários e o pH foi avaliado nos tempos 0, 7, 14, 21 e 28 dias, comparando os valores basais (5,31 e 5,46) e finais (4,67 e 4,75) de ambas as formulações, pode-se observar uma diminuição nos valores obtidos para a determinação do pH e a ocorrência de diferença estatística significante (p<0,05), porém estes valores, assim como os encontrados neste experimento, mantiveram-se dentro de uma faixa considerada normal, não caracterizando alteração fisiológica importante. 4.3.3 Determinação da perda transepidérmica de água Além do conteúdo aquoso do estrato córneo, um parâmetro importante na avaliação da função barreira da pele é a perda transepidérmica de água (PTEA). Quando a pele está adequadamente hidratada, ela está apta para cumprir efetivamente todas as suas funções. O aumento excessivo da PTEA indica que a função barreira da pele está prejudicada, ou seja, a pele está susceptível a agentes externos e, também, à desidratação (HADGRAFT, 2001; VERDIER-SEVRAIN e BONTÉ, 2007). Levin e Maibach (2005) observaram que há relação entre a perda transepidérmica de água e a absorção percutânea e que, além disso, diversos estudos mostraram a associação entre várias doenças de pele e a função barreira alterada, expresso por um aumento da PTEA. Lebwohl e Herrmann (2005), por exemplo, demonstraram que a dermatite atópica está associada a distúrbios da função barreira da pele, evidenciado por um aumento na PTEA. Os estudos clínicos realizados por estes autores sugerem que este déficit aumenta a 70 susceptibilidade à irritação e compromete a integridade do estrato córneo. O mesmo foi observado por Agner (1992) o qual constatou que pacientes com dermatite atópica tinham um aumento na PTEA, bem como na susceptibilidade da pele à irritação em comparação ao grupo controle. Neste contexto, Lodén (1995) observou que o uso de hidratantes contendo óleo de canola aumenta a hidratação da pele e diminui a PTEA, com isso reduz a irritação cutânea induzida por lauril sulfato de sódio. Os resultados obtidos através da determinação da perda transepidérmica de água no antebraço dos voluntários são expressos em g/h/m2 e estão demonstrados na Tabela 10 e Figura 12. Tabela 10. Determinação da perda transepidérmica de água realizada por biometria cutânea utilizando o gel de Carbopol® contendo adapaleno na forma livre (GCA) e na forma nanoencapsulada (GCNCA) Tempo (dias) Formulações GCA Média (U.A.) ± DP 0 7 14 21 28 35 42 49 56 63 5,35±1,28 a ab 6,66±1,89 ab 6,15±1,75 ab 6,64±1,68 ab 6,65±1,66 6,92±1,77 b 7,63±2,09 b 7,90±2,24 b 7,39±1,51 b 8,15±1,97 b GCNCA DPR (%) 23,96 28,35 28,50 25,27 24,94 27,36 25,60 28,32 20,37 24,20 Média (U.A.) ± DP DPR (%) 5,88±1,36 a 23,22 5,82±0,87 a 14,99 ab 27,84 3,78±1,06 b 27,96 3,71±1,05 b 28,36 3,42±0,74 b 21,63 3,65±0,58 b 15,93 3,54±0,84 b 23,61 3,40±0,77 b 22,60 3,40±0,72 b 21,23 5,97±1,66 a-b: as médias com as letras diferentes dentro da mesma coluna apresentaram diferença significativa entre si (p<0,05) de acordo com o teste de Tukey. De acordo com os resultados apresentados na Tabela 10, observa-se que na formulação contendo o fármaco na forma livre houve um aumento estatisticamente significativo (p<0,05) na PTEA após 35 dias de aplicação do produto testado (6,92±1,77), quando comparado aos valores basais (5,35±1,28). Ao contrário, analisando-se os valores obtidos pelo uso do gel contendo adapaleno nanoencapsulado observa-se uma redução estatisticamente significativa (p<0,05) na PTEA após 63 dias de experimento (3,40±0,72), 71 comparando com os valores iniciais (5,88±1,36). Figura 12. Representação gráfica dos valores médios obtidos no período de 63 dias, no ensaio de biometria cutânea para perda transepidérmica de água. Através da comparação entre a formulação de gel contendo o adapaleno na forma livre e nanoestruturada, evidenciou-se que as nanocápsulas poliméricas são capazes de diminuir a perda transepidérmica de água, favorecendo o grau de hidratação cutânea, apesar do uso do retinóide. Este efeito vem sendo evidenciado para nanopartículas lipídicas sólidas (NLS). Wissing e Müller (2003) avaliaram a hidratação cutânea utilizando ensaios in vivo não invasivos durante o desenvolvimento de novas formulações cosméticas. Os autores compararam um creme O/A convencional com o mesmo creme enriquecido com NLS e observaram que o creme contendo as nanopartículas foi significativamente mais efetivo que o creme convencional, visto que foi capaz de aumentar 31% o conteúdo aquoso do estrato córneo, enquanto a formulação sem a adição das nanopartículas aumentou 24%. Estes resultados confirmaram o que foi observado pelos mesmos autores para formulações fotoprotetoras associadas à NLS. Neste caso, foi detectado a formação de um filme sobre a pele após a aplicação das preparações, visualizado por microscopia eletrônica (Wissing e Müller, 2003). Desta forma os autores sugerem que as nanopartículas reduzem a perda transepidérmica de água e com isso aumentam o grau de hidratação cutânea. Além da estrutura e características do sistema, a concentração do ativo é outro fator que pode influenciar as características fisiológicas da pele, em vista disso Camargo Jr 72 (2006) avaliou formulações cosméticas contendo diferentes concentrações de pantenol (0,5; 1,0 e 5,0 %), para tal foi realizada a determinação da perda transepidérmica de água por metodologia in vivo não-invasiva (Biometria Cutânea). Neste estudo, para analisar os efeitos à longo prazo, as formulações foram aplicadas nos antebraços de 40 voluntários, sendo realizadas medidas basais e após 15 e 30 dias de experimento. Com isso os autores observaram que apenas as formulações contendo o pantenol a 1,0 e 5,0% protegeram a função barreira, provocando uma diminuição significativa na perda transepidérmica de água, o que pode sugerir que para que o pantenol tenha um efeito significativo na função barreira da pele à longo prazo, este deve ser incorporado nas formulações em concentrações mais altas, ou seja, 1,0 e 5,0%. Conforme descrito anteriormente, pode-se concluir que a associação do fármaco às nanocápsulas impediu o aumento da PTEA causada pelo ativo na forma livre, contribuindo para a redução do ressecamento da pele, o qual é considerado um dos principais efeitos adversos provocados pela administração tópica do adapaleno. 4.3.4 Determinação do conteúdo de melanina A pigmentação da pele deve-se a presença da melanina, que se dispõe de forma homogênea na camada córnea. A síntese de melanina resulta de um processo complexo, designado melanogênese, o qual é regulado pela incidência da radiação UV, por estímulos hormonais e por fatores hereditários (OLIVEIRA et al, 2004a). O Mexameter® MX 18 especificamente mede o conteúdo de melanina e hemoglobina na pele. Conforme Bhawan (1998) os retinóides além de agirem na modulação da proliferação e diferenciação dos queratinócitos, estão envolvidos na pigmentação do estrato córneo, visto que esta classe de fármacos atua na regulação da atividade dos melanócitos, promovendo também a dispersão dos grânulos de melanina. Neste contexto, Draelos (2005) avaliou a eficácia de um creme emoliente contendo retinol a 0,3% associado à hidroquinona a 4% em 44 voluntários, com idade entre 30 e 50 anos. A formulação foi aplicada uma vez ao dia (à noite) durante 16 semanas, observando no final do experimento que o creme constituiu uma forma eficaz para eliminar manchas castanhas resultantes da exposição solar excessiva. 73 No presente experimento, para efeito de classificação, segundo Fitzpatrick e colaboradores (1974), foram determinados seis fototipos cutâneos que variaram de acordo com a coloração da pele de mais clara a mais escura, sendo que 60 % dos voluntários apresentaram fototipo IV (pele morena, cabelos castanhos escuros e olhos escuros), 30 % apresentaram fototipo III (pele clara a morena clara, cabelos loiros ou castanhos claros e olhos claros) e 10 % apresentaram os demais fototipos. Os resultados obtidos na determinação da melanina no antebraço dos voluntários estão demonstrados na Tabela 11. Tabela 11. Determinação do conteúdo de melanina realizado por biometria cutânea utilizando o gel de Carbopol® contendo adapaleno na forma livre (GCA) e na forma nanoencapsulada (GCNCA) Tempo (dias) Formulações GCA Média (U.A.) ± DP 0 7 14 21 28 35 42 49 56 63 174,78±44,44 a ab 163,03±41,45 ab 159,07±41,58 ab 150,82±36,15 ab 148,00±37,64 ab 148,33±38,88 ab 137,87±32,87 ab 143,06±38,48 ab 138,59±35,81 134,15±34,69 b GCNCA DPR (%) 25,43 25,43 26,14 23,97 25,43 26,21 23,84 26,90 25,84 25,86 Média (U.A.) ± DP DPR (%) a 25,78 ab 27,46 ab 26,69 ab 25,70 ab 26,53 ab 26,48 ab 26,17 ab 26,71 ab 26,07 b 25,02 172,16±44,38 161,18±44,26 156,40±41,74 149,00±38,30 147,27±39,07 145,11±38,42 141,22±36,96 139,24±37,19 136,15±35,49 131,95±33,02 a-b: as médias com as letras diferentes dentro da mesma coluna apresentaram diferença significativa entre si (p<0,05) de acordo com o teste de Tukey. Através da comparação dos valores basais com os obtidos após 63 dias de experimento, pode-se observar uma diminuição estatisticamente significativa (p<0,05) do conteúdo de melanina no decorrer do experimento para ambas as formulações. Provavelmente esta diminuição esteja associada à ação regulatória dos retinóides sobre a atividade dos melanócitos, visto que os receptores retinóicos são importantes tanto na modulação da diferenciação dos queratinócitos quanto na sua pigmentação (BHAWAN, 1998). 74 Em outro estudo envolvendo biometria cutânea, Hwang e colaboradores (2009) avaliaram o índice de melanina em 40 voluntários com melasma que foram tratados durante 16 semanas com ácido L-ascórbico 25% associado a N-metil-2-pirrolidona e dimetil isossorbida (C’ensil). O serum estudado foi aplicado na face dos pacientes duas vezes ao dia e o conteúdo de melanina foi determinada através de ensaios de biometria cutânea nos tempos 0 (medida basal), 4, 8, 12 e 16 semanas. Os resultados demonstraram que houve uma diminuição estatisticamente significativa no índice médio de melanina comparando os valores basais com àqueles obtidos após 16 semanas de experimento. Com isso os autores podem concluir que a formulação estudada foi efetiva para o tratamento do melasma. Com base nos resultados obtidos no presente experimento evidenciou-se que o adapaleno tanto na forma livre quanto nanoencapsulada reduziu o índice de melanina com o uso prolongado do produto, sendo que esta redução foi verificada somente após 63 dias de aplicação das formulações. 4.3.5 Determinação da presença de eritema O índice de eritema tem uma correlação direta com os processos de irritação da pele e é frequentemente usado em testes para avaliação da segurança dos produtos. Os resultados obtidos na determinação do eritema no antebraço dos voluntários estão demonstrados na Tabela 12 e Figura 13. A análise estatística indicou que as formulações contendo o fármaco na forma livre aumentaram, de maneira significativa (p<0,05) o índice de eritema da pele dos voluntários. Este aumento pode ser observado após 56 dias de aplicação do produto quando comparado com os valores basais. Com relação ao gel contendo nanocápsulas de adapaleno, não houve qualquer indício de irritação, uma vez que os valores basais obtidos não apresentaram alteração significativa nos 63 dias de uso das formulações (Tabela 12), ou seja, não foram estatisticamente diferentes (p>0,05), indicando que as formulações nanoestruturadas reduziram o eritema causado pelo uso do retinóide na forma livre. Este fato provavelmente deva-se à redução da perda transepidérmica de água causada pelo o uso das formulações nanoestruturadas, o que reduz a suscetibilidade à irritação, favorecendo a manutenção da 75 integridade do estrato córneo e a hidratação cutânea. Tabela 12. Determinação da presença de eritema realizado por biometria cutânea utilizando o gel de Carbopol® contendo adapaleno na forma livre (GCA) e na forma nanoencapsulada (GCNCA) Tempo (dias) Formulações GCA Média (U.A.) ± DP 0 7 14 21 28 35 42 49 56 63 238,08±47,80 a ab 247,14±49,46 ab 250,48±41,90 ab 248,29±46,52 ab 260,70±44,01 ab 262,11±34,98 ab 262,39±39,90 ab 263,19±35,54 272,71±38,33 b 276,18±39,34 b GCNCA DPR (%) 20,08 20,01 16,73 18,74 16,88 13,34 15,21 13,50 14,06 14,24 Média (U.A.) ± DP DPR (%) 240,27±56,54 a 23,53 239,19±55,87 a 23,36 234,48±47,30 a 20,17 229,59±53,42 a 23,27 232,92±42,46 a 18,23 227,84±47,20 a 20,72 224,36±49,82 a 22,21 214,63±47,95 a 22,34 217,82±46,69 a 21,44 208,94±42,90 a 20,53 a-b: as médias com as letras diferentes dentro da mesma coluna apresentaram diferença significativa entre si (p<0,05) de acordo com o teste de Tukey. Figura 13. Representação gráfica dos valores médios obtidos no período de 63 dias, no ensaio de biometria cutânea para os valores de eritema. Gomes (2007) avaliou o índice de eritema na pele de camundongos sem pêlo através de ensaios de biometria cutânea, comparando formulações semissólidas contendo ácido 76 retinóico 0,025, 0,05 e 0,1% com formulações contendo palmitato de retila 0,025, 0,05 e 1%. Após 5 dias de experimento, a análise dos resultados demonstrou que apenas as formulações contendo 0,025 e 0,05% de ácido retinóico e 1,0% de palmitato de retinila aumentaram, de maneira estatisticamente significativa, o índice de eritema da pele dos camundongos sem pêlo, quando comparados com a região que recebeu apenas a aplicação do veículo. Analisando os resultados, o autor sugeriu que após 5 dias de tratamento, os grupos tratados com as formulações contendo as duas menores concentrações de ácido retinóico ainda estavam em processo de aumento da vascularização e os grupos tratados com a maior concentração deste já estavam no final do processo e com a vascularização e, conseqüentemente, com o eritema reduzidos. Neste contexto, pode-se concluir que o ácido retinóico, bem como o adapaleno, na forma livre podem provocar um aumento do índice de eritema, sendo este efeito considerado como adverso ao uso de retinóides por via tópica. Com base no exposto, pode-se concluir que a formulação contendo adapaleno nanoencapsulado foi capaz de reduzir o índice de eritema provocado pelo fármaco na forma livre e isto provavelmente esteja associado à velocidade de liberação mais lenta do ativo quando incorporado a este tipo de sistema. 4.4 Estudos de liberação in vitro 4.4.1 Construção da curva analítica para realização dos estudos de liberação A curva analítica para realização dos estudos de liberação foi obtida através de cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), de acordo com o item 3.2.2.1. A equação da reta foi calculada por meio de estudos de regressão linear, entre a concentração de adapaleno e sua respectiva área (Figura 14). 77 Figura 14. Curva de calibração do adapaleno obtida por CLAE O estudo da linearidade do método analítico foi realizado através de análise de variância, verificando-se regressão linear significativa e desvio da linearidade não significativo (p<0,01). O método foi considerado linear na faixa entre 0,2 e 4 µg/mL, obtendo-se um coeficiente de determinação igual a 1. 4.4.2 Análise dos resultados de liberação O perfil de liberação in vitro de uma substância ativa associada à nanocápsulas depende de uma variedade de fatores, tais como: concentração e características físicoquímicas do fármaco (principalmente sua solubilidade e coeficiente de partição óleo/água); natureza, degradabilidade, peso molecular e concentração do polímero; microestrutura do polímero sólido, quando re-precipitado; a natureza do núcleo oleoso; tamanho das nanocápsulas; condições do método de preparação e condições do ensaio de liberação (pH do meio, temperatura e tempo de contato). Neste contexto, as condições estabelecidas para a realização de cada estudo é fundamental na determinação do perfil de liberação in vitro da substância ativa (MORA-HUERTAS, FESSI e ELAISSARI, 2010). De acordo com a literatura, nanocápsulas obtidas por nanoprecipitação representam um sistema bifásico com uma liberação rápida inicial (burst), seguida por uma fase de liberação mais lenta (CAUCHETIER et al, 2003). A fase de liberação inicial pode ser atribuída ao fármaco que encontra-se adsorvido na superfície da nanocápsula (CRUZ et al, 2006) ou a degradação da fina membrana polimérica (CAUCHETIER et al, 2003). A 78 segunda fase corresponde à difusão da substância ativa a partir do núcleo oleoso. Este processo de difusão é determinado pelo coeficiente de partição do fármaco entre o núcleo oleoso e o meio aquoso externo, pelos volumes relativos das duas fases, pela existência de interações entre o polímero e o ativo e pela concentração de surfactantes (TEXEIRA et al, 2005; LIMAYEM et al, 2006). Diversos artigos, assim como guias internacionais (FDA), preconizam o uso de células de difusão como a célula de Franz, com membrana sintética de acetato de celulose para determinar a liberação in vitro de ativos incorporados em formulações tópicas, como em cremes, géis, loções e sistemas transdérmicos (DOUCET et al, 1998; SHAH et al, 1998; CLEMENT, LAUGEL e MARTY, 2000). As membranas sintéticas são amplamente empregadas por atenderem a exigências, dentre elas, como não reagir com a formulação ou o meio receptor, serem permeáveis ao fármaco e não serem determinantes da taxa de liberação (SHAH et al, 1998). Vale ressaltar que no presente estudo a manutenção das condições sink nas células de difusão foi respeitado durante todo o experimento para garantir a obtenção de resultados efetivos. A condição sink é fundamental para a realização de análises matemáticas de liberação, uma vez que as equações de difusão tornam-se de difícil resolução em condições de acúmulo do ativo no meio de dissolução (WASHINGTON, 1990; SAARINENSAVOLAINEN et al, 1997). No presente experimento, utilizou-se uma concentração bem abaixo dos 10% de saturação da solução receptora, que é de 1,2 mg. As leituras foram realizadas através de CLAE e os resultados obtidos (em área) foram plotados frente a uma curva analítica correspondendo a concentração de 0,2; 0,5; 1; 2; 3 e 4 μg/mL. A Tabela 13 descreve os resultados referentes ao fluxo, concentração total liberada de adapaleno, coeficiente de regressão e coeficiente de permeabilidade (Kp) para as duas formulações testadas: gel de Carbopol® contendo nanocápsulas de adapaleno (GCNCA) e gel de Carbopol® contendo o fármaco na forma livre (GCA). 79 Tabela 13. Valores referentes ao fluxo, coeficiente de regressão, coeficiente de permeabilidade (Kp) e concentração total liberada de adapaleno para a forma nanoencapsulada (GCNCA) e para a forma livre (GCA) (n=6). Concentração Coeficiente de Fluxo Kp (cm2/h) Formulação 2 2 total (µg/cm )** regressão (r2) (µg/cm /h) GCA 26,0x10-2 4,86 ± 0,11 0,96 2,0x10-3 -2 GCNCA 9,0x10 * 1,55 ± 0,01* 0,97 0,7x10-3 * Valores estatisticamente significativos (p≤0,05) quando comparados com os resultados encontrados para as formulações contendo o fármaco na forma livre. **Concentração total liberada até atingir o nível linear platô (48 horas) Na Tabela 13 pode-se observar os resultados de coeficiente de permeabilidade (Kp) para as duas formulações estudadas. Observa-se uma quantidade maior de fármaco difundida pela membrana em função do tempo para o gel contendo o ativo na forma livre (Kp = 2,0x10-3), quando comparado com o gel contendo o adapaleno nanoencapsulado (Kp = 0,7x10-3). Pode-se verificar ainda, que a membrana artificial de acetato de celulose foi adequada para a realização dos estudos de liberação in vitro. Isto pode ser justificado analisando-se os valores de regressão linear para as formulações, o qual apresentou-se em torno de 0,97 (Tabela 13). As formulações foram analisadas até atingirem o platô, o qual foi observado para as duas formulações a partir da décima leitura, ou seja, após 10 horas de experimento. Figura 15. Perfil de liberação do gel contendo adapaleno nanoencapsulado (GCNCA) e do gel contendo o fármaco livre (GCA) até atingir o platô (48 horas) (n = 6). 80 Na Tabela 13 e Figura 15 pode-se observar que o fluxo determinado através da quantidade de fármaco detectado na solução receptora em função da área e do tempo foi de 9,0x10-2 (µg/cm2/h) para a forma nanoencapsulada e de 26,0x10-2 (µg/cm2/h) para a forma livre. Com relação à concentração total liberada, os valores encontrados foram de 1,55 µg/cm2 para as formulações contendo nanocápsulas de adapaleno e de 4,86 µg/cm2 para as formulações contendo o fármaco na forma livre. Assim, pode-se verificar que o adapaleno na sua forma livre apresentou uma liberação maior do veículo quando comparado com as formulações contendo o fármaco nanoencapsulado, sendo esta diferença estatisticamente significativa, tanto para o fluxo, quanto para a concentração total liberada (p<0,05). Diversos autores têm estudado a influência do polímero no processo de liberação de fármacos. Entre eles, Cauchetier e colaboradores (2003) realizaram ensaios de liberação in vitro com suspensões de nanocápsulas contendo atovaquona usando diferentes polímeros: poli (ε-caprolactona) (PCL), ácido poli (lático) (PLA) e ácido poli (lático-co-glicólico) (PLGA). Os autores observaram que após 4 meses de experimento não houve liberação do fármaco a partir das nanocápsulas preparadas com PCL, apenas 25,9 % da atovaquona foi liberada a partir das suspensões preparadas com PLA e para as nanocápsulas contendo PLGA como polímero houve uma liberação de 54,2 % do ativo. Conforme os pesquisadores, este comportamento deve-se à capacidade do polímero ou dos fosfolípideos presentes na formulação em manter a substância ativa mesmo após os 4 meses de estudo. Barrios (2010) realizou estudos de liberação in vitro com a suspensão de nanocápsulas de adapaleno contendo óleo de melaleuca como núcleo oleoso e observou que após 46 horas de experimento, a concentração total de fármaco liberado foi de 13,58 µg/cm2, prevendo um comportamento de liberação prolongada ou modificada para este tipo de preparação, visto que para a nanodispersão a quantidade de fármaco liberado no mesmo período foi de 17,63 µg/cm2. Comparando os resultados obtidos por Barrios com os observados no presente experimento, percebeu-se que a incorporação da suspensão de nanocápsulas contendo adapaleno no Carbopol 940® reduziu a quantidade de fármaco liberado após 48 horas de análise (1,55 µg/cm2), indicando que a incorporação no veículo e conseqüente aumento da viscosidade da preparação vieram reforçar a liberação sustentada do ativo fazendo com que o fármaco seja lentamente disponibilizado para o meio (OLIVEIRA et al, 2004b; MARRIOT in AULTON, 2005). 81 A influência do veículo sobre a liberação de ativos tem sido alvo de estudos para que os diversos parâmetros físico-químicos que envolvem estes sistemas sejam elucidados. Chorilli e colaboradores (2007) avaliaram a influência da viscosidade do veículo na liberação in vitro da cafeína e verificaram que o aumento da viscosidade da formulação, em função do aumento da concentração de Carbopol 940®, diminuiu a velocidade de liberação da cafeína. Marchiori e colaboradores (2010) avaliaram o perfil de liberação de géis de Carbopol Ultrez ® contendo dexametasona associada à nanocápsulas e na forma livre. Os autores observaram resultados semelhantes aos demonstrados no presente experimento, visto que os perfis de liberação indicaram que a inclusão da dexametasona nas nanoestruturas diminuiu a liberação do ativo por cm2 após 24 horas de experimento. Além disso, a formulação contendo dexametasona nanoencapsulada apresentou um fluxo de liberação menor (20,21 ± 2,96 mg/cm2/h) quando comparada ao gel contendo o fármaco na forma livre (26,65 ± 2,09 mg/cm2/h). Bruschi (2010) realizou estudos de permeação cutânea com formulações semissólidas contendo adapaleno na forma livre ou nanoencapsulada usando como veículo o Carbopol 940®. A pele de orelha de porco foi utilizada como membrana e o autor observou que após 48h de experimento, não houve diferença significativa entre a quantidade de fármaco retido no estrato córneo para as formulações contendo adapaleno na forma livre (2,22 µg/cm²) e nanoencapsulado (2,24 µg/cm²). Entretanto, para o fármaco quantificado na derme e epiderme, a forma nanoencapsulada (1,23 µg/cm²) apresentou uma penetração significativamente maior (p<0,05), quando comparada com a forma livre do adapaleno (0,84 µg/cm²). Esta diferença provavelmente deva-se tanto a tendência das nanopartículas em acumularem-se nas aberturas foliculares (ALVAREZ-ROMÁN et al 2004), quanto ao fato de que o adapaleno livre, por apresentar uma liberação maior do veículo, é mais rapidamente metabolizado. Com base no exposto, vale ressaltar que para os produtos de uso dermatológico deseja-se que o fármaco administrado tenha um pequeno fluxo e uma alta taxa de retenção nas membranas (TOUITOU, MEIDAN e HORWITZ, 1998). Considerando que somente a formulação contendo adapaleno livre provocou ressecamento e eritema na pele dos voluntários, pode-se concluir que a associação do 82 fármaco às nanocápsulas foi capaz de reduzir estes efeitos colaterais. Este fato provavelmente esteja relacionado à liberação sustentada ou modificada do adapaleno nanoencapsulado e a redução da perda transepidérmica de água observada para este tipo de sistema, visto que a manutenção do conteúdo aquoso do estrato córneo diminui a suscetibilidade à irritação. Desta forma, o fármaco nanoestruturado foi capaz de reduzir os principais efeitos adversos causados pelo uso de retinóides por via tópica. 4.5 Ajuste de curvas dos perfis cinéticos Sistemas transportadores de fármacos devem ser capazes de controlar a velocidade de liberação sem alterar a estrutura química da molécula transportada. Esses sistemas envolvem duas concepções básicas: sistemas matriciais ou monolíticos, nos quais o fármaco está intimamente misturado com os excipientes da fórmula, podendo proporcionar maiores tempos de liberação do mesmo e sistemas reservatórios, nos quais o fármaco encontra-se separado do meio de dissolução através de um revestimento, uma membrana ou uma interface, devendo transpor essa barreira para ser liberado para o meio (OLIVEIRA, SCARPA e CERA, 2002; OLIVEIRA et al, 2004b). As nanocápsulas poliméricas são consideradas sistemas reservatórios e espera-se diferentes comportamentos cinéticos para um fármaco dissolvido no seu núcleo oleoso ou simplesmente retido ou adsorvido em sua parede polimérica (MORA-HUERTAS, FESSI e ELAISSARI, 2010). Desta forma, uma compreensão adequada do mecanismo de liberação do ativo a partir deste nanocarreador é essencial (ABDEL-MOTTALEB, NEUMANN e LAMPRECHT, 2010). Neste contexto, a partir dos resultados obtidos na liberação in vitro, foi realizado um estudo comparativo entre o GCNCA e GCA baseado no ajuste de curvas dos perfis cinéticos segundo os modelos monoexponencial (fornece uma constante cinética para o processo) e biexponencial (constituído de duas constantes cinéticas). Seguindo metodologia adaptada por Cruz e colaboradores (2006) o ajuste de curvas foi realizado para os pontos experimentais até a décima hora de experimento para as duas formulações. Para a escolha do modelo matemático adequado aos pontos experimentais foram observados os melhores ajustes gráficos, os maiores coeficientes de correlação e os 83 valores de critério de seleção do modelo (MSC). Os perfis de liberação foram construídos plotando-se a concentração de adapaleno liberada em função do tempo. Através do programa Micromath Scientist®, o ajuste de curva obtido pelo perfil de liberação do gel contendo adapaleno livre mostrou que a equação monoexponencial foi a que melhor descreveu o comportamento dos dados experimentais, com coeficiente de correlação (r) próximo a 1 (Tabela 14), semelhante ao que foi observado por Domingues e colaboradores (2008) para a liberação de indometacina pura e a partir de micropartículas nanorrevestidas com nanocápsulas de Eudragit® RS100. Tabela 14. Parâmetros do modelo monoexponencial para o gel hidrofílico contendo adapaleno na forma livre (GCA) Parâmetro Média ± DP Monoexponencial k (h-1) 0,3241 ± 0,4031 MSC 3,0654 ± 0,2368 r 0,9802 ± 0,0013 Conforme demonstrado na Tabela 14, foi possível calcular a constante cinética para a liberação do fármaco (k = 0,3241 h-1). O ajuste gráfico dos pontos experimentais para a Concentração (%) liberação do adapaleno livre incorporado no gel hidrofílico é apresentado na Figura 19. Tempo (horas) Figura 16. Ajuste gráfico do modelo monoexponencial para o gel contendo adapaleno na forma livre 84 Quanto ao perfil de liberação do adapaleno a partir de nanocápsulas incorporadas no gel de Carbopol®, o modelo biexponencial apresentou valores de MSC = 3,48 e r = 0,995 (Tabela 15), sendo esses, superiores aos obtidos pelo modelo monoexponencial. Pela comparação desses valores e da análise gráfica dos ajustes, o modelo escolhido para descrever matematicamente a liberação da formulação contendo o fármaco dois termos nanoencapsulado foi o biexponencial. O modelo biexponencial é constituído pela adição de monoexponenciais, fornecendo duas constantes cinéticas para a liberação, onde α está relacionada à velocidade de dissolução da etapa rápida de liberação (efeito burst), e β está relacionada à velocidade de dissolução da etapa lenta de liberação (resultante da dissolução do fármaco mais internamente localizado). Da mesma forma, os parâmetros A e B representam a quantidade de fármaco dissolvido nas etapas rápida e lenta de liberação, respectivamente (PEREIRA et al, 2006). A Tabela 15 apresenta os parâmetros da modelagem matemática para as formulações contendo adapaleno nanoencapsulado. Pode-se observar que o percentual de fármaco que contribui para a dissolução na fase rápida é de 77% e o percentual de adapaleno liberado na fase lenta é em torno de 30%. Estes resultados estão de acordo com os encontrados por Pereira e colaboradores (2006) para a liberação de dexametasona a partir de micropartículas preparados com propilenoglicol. Os autores também observaram que 77% do fármaco foi liberado na fase rápida e 27% na fase lenta, com uma velocidade de dissolução de 0,0177 min-1 e 0,032 min-1, respectivamente. Tabela 15. Parâmetros do modelo monoexponencial e biexponencial para o gel contendo adapaleno nanoencapsulado (GCNCA). Parâmetro Monoexponencial K (h-1) MSC r Biexponencial A α (h-1) B β (h-1) MSC r Média ± DP 0,059 ± 0,010 2,675 ± 0,104 0,972 ± 0,010 0,695 ± 0,004 0,774 ± 0,123 0,302 ± 0,000 0,004 ± 0,003 3,485 ± 0,361 0,995 ± 0,004 85 O ajuste gráfico dos pontos experimentais para a liberação do gel contendo adapaleno associado às nanocápsulas é apresentado na Figura 17. (a) Concentração (%) Concentração (%) (b) Tempo (horas) Tempo (horas) Figura 17. Ajuste gráfico do modelo monoexponencial (a) e biexponencial (b) para o gel contendo nanocápsulas de adapaleno Barrios (2010) comparou o perfil de liberação do adapaleno em suspensões contendo diferentes núcleos oleosos, Miglyol® e óleo de melaleuca e a nanodispersão do fármaco. O autor observou que a nanodispersão e a formulação contendo Miglyol® como núcleo oleoso foram adequadamente descritas pelo modelo monoexponencial, enquanto a formulação de nanocápsulas contendo o óleo de melaleuca obteve um melhor ajuste gráfico pelo modelo biexponencial. Desta forma, é importante ressaltar que a incorporação da suspensão no gel de Carbopol 940® não modificou o perfil de liberação das nanocápsulas de adapaleno contendo óleo de melaleuca como núcleo oleoso, ou seja, os resultados obtidos no presente experimento confirmaram aqueles observados por Barrios. Com base no exposto, pode-se concluir que a associação do fármaco às nanocápsulas poliméricas contendo óleo de melaleuca como núcleo oleoso foi capaz de modificar o perfil de liberação do adapaleno livre, sendo este descrito pelo modelo monoexponencial, com uma única velocidade de difusão (k = 0,3241 h-1), enquanto o fármaco nanoencapsulado adequou-se melhor a equação biexponencial, tendo uma velocidade inicial (burst) de 0,7744 h-1, mais rápida que a velocidade de liberação do fármaco livre. Isto provavelmente deve-se a grande área superficial nas nanocápsulas, visto 86 que a quantidade de adapaleno liberado nesta etapa corresponde ao fármaco que encontrase adsorvido à parede polimérica. Por outro lado, a velocidade lenta de liberação (β = 0,0047 h-1) é menor que a constante cinética para a liberação do adapaleno livre, indicando que o ativo encontra-se dissolvido no núcleo oleoso e precisa difundir através da parede polimérica para que ocorra a liberação. O modelo semi-empírico da Lei de Potência (Korsmeyer-Peppas) foi aplicado com o objetivo de descrever o mecanismo de liberação do adapaleno a partir do veículo, através da análise dos valores de n. Foram encontrados valores de n entre 0,43 e 0,85 (Tabela 16), sugerindo uma liberação de acordo com um modelo não-Fickiano. Considerando a geometria esférica das nanocápsulas, esses valores indicam comportamento anômalo, ou seja, processos de cinética de liberação envolvendo comportamento misto entre difusão e relaxação da cadeia polimérica (SIEPMANN e PEPPAS, 2001; REZA, QUADIS e HAIDER, 2003). Os resultados demonstrados na Tabela 15 estão de acordo com a literatura, visto que, segundo Ritger e Peppas (1987) nos sistemas de liberação controlada, a extensão e a velocidade de liberação do fármaco resulta da combinação da difusão com o transporte de Caso II das moléculas de fármaco através das cadeias poliméricas. Nestes casos, a difusão obedece às leis de Fick, enquanto o transporte Caso II reflete a influência do relaxamento do polímero. Tabela 16. Parâmetros obtidos pela aplicação da Lei da Potência à formulação contendo adapaleno nanoencapsulado Parâmetro Média ± DP a 0,426±0,009 n 0,810±0,012 r 0,991±0,000 MSC 4,052±0,081 Considerando que a poli-(ε-caprolactona) apresenta propriedades plásticas e hidrofóbicas, vale ressaltar que a sua permeabilidade depende do grau de cristalinidade, visto que a permeabilidade é uma função da sua fração amorfa. Além disso, existem outros fatores que influenciam a difusibilidade deste polímero, entre eles a massa molecular elevada e o grau de interligações (FLORENCE e ATTWOOD, 2003). 87 Silva e colaboradores (2010) realizaram ensaios de liberação in vitro, com objetivo de avaliar alterações no perfil de liberação do clomazone a partir de nanopartículas de alginato. Os autores observaram um mecanismo de liberação não-Fickiano, seguindo comportamento anômalo, ou seja, a análise dos resultados indicou que os valores de n determinados para o clomazone associado às nanopartículas encontram-se na faixa entre 0,43 e 0,85. Com base no exposto, pode-se constatar que os resultados da modelagem matemática empregando o modelo da Lei de Potência permitiram a proposição de um modelo de liberação não-Fickiano, sugerindo comportamento anômalo, ou seja, a liberação do adapaleno a partir das nanocápsulas ocorreu através da combinação dos fenômenos de difusão e relaxação da cadeia polimérica, sendo estes dois mecanismos da mesma ordem de magnitude. Ressalta-se também que o veículo (Carbopol 940®) é capaz de influenciar no processo de liberação do fármaco, portanto o modelo de liberação observado para o GCNCA deve-se não só à associação do ativo ás NC, mas também à incorporação das suspensões no hidrogel. 88 5 CONCLUSÕES Considerando os objetivos propostos neste trabalho e analisando-se os resultados obtidos, é possível obter algumas conclusões em relação ao estudo realizado: A incorporação de uma suspensão, contendo nanocápsulas de adapaleno com óleo de melaleuca em creme gel (Aristoflex AVL®), apresentou características físico-químicas adequadas, representando viabilidade farmacotécnica. O diâmetro médio das partículas, índice de polidispersão e potencial zeta do creme gel contendo adapaleno na forma livre e nanoencapsulado não apresentaram alterações após serem submetidas ao ciclo gelo-degelo. As características organolépticas referentes à aparência, cor e odor foram mantidas durante todo o experimento, tanto para o creme gel com Aristoflex® contendo adapaleno na forma nanoencapsulada como na forma livre. O creme gel contendo nanocápsulas de adapaleno e as formulações contendo o fármaco na forma livre apresentaram diminuição significativa para os valores de pH (p<0,05), após 21 dias de estudo. Entretanto, apesar da diferença estatística verificada, considera-se que os valores experimentais, os quais ficaram entre 5,0 e 6,3, são coerentes para este tipo de sistema e encontram-se na faixa de pH adequada para formulações de uso tópico. Os valores de viscosidade foram mantidos estáveis para o creme gel contendo adapaleno na forma livre durante todo o período de análise. Para as formulações contendo o fármaco nanoestruturado, apesar dos valores de viscosidade apresentarem um aumento estatisticamente significativo no decorrer do estudo, esta alteração não modificou as características reológicas do produto. Nos estudos de espalhabilidade ocorreu um aumento significativo (p < 0,05) entre 89 a espalhabilidade inicial e final quando a formulação contendo adapaleno livre foi submetida ao ciclo gelo-degelo. Entretanto, as formulações contendo nanocápsulas de adapaleno não alteraram significativamente seus valores de espalhabilidade durante todo o período de estudo. O teor inicial de adapaleno nas formulações semissólidas de creme gel contendo o fármaco nanoencapsulado não sofreu alteração, quando comparado com o teor obtido no término do experimento. Porém, para as formulações contendo o ativo na forma livre houve uma redução na concentração de adapaleno, visto que o teor inicial decaiu para valores abaixo de 90% após 21 dias de análise. Desta forma, pode-se concluir que as nanocápsulas exercem um tipo de proteção frente ao fármaco. Ambas as formulações estudadas não sofreram qualquer tipo de alteração após o teste de centrifugação, realizado no final do experimento, ou seja, não houve precipitação ou mudanças que demonstrem instabilidade. Nos resultados obtidos para hidratação cutânea observou-se uma redução mais pronunciada dos valores do conteúdo aquoso do estrato córneo, nas regiões tratadas com o gel contendo o ativo na forma livre, o que indica que as formulações nanoestruturadas causaram uma diminuição do ressecamento provocado pelo adapaleno. Para os valores de pH verificou-se uma tendência a elevação do mesmo, porém estes valores mantiveram-se dentro de uma faixa considerada normal (4,5-5,5). Para formulação contendo o fármaco na forma livre houve um aumento na perda transepidérmica de água enquanto que para o gel contendo adapaleno nanoencapsulado observa-se uma redução deste parâmetro. Assim evidenciou-se que as nanocápsulas poliméricas são capazes de diminuir a perda transepidérmica de água, favorecendo o grau de hidratação cutânea e mantendo a integridade do estrato córneo. Foi detectada uma redução no conteúdo de melanina no decorrer do experimento, 90 tanto para as formulações contendo o fármaco nanoencapsulado como para a forma livre. Provavelmente esta diminuição esteja associada à ação regulatória do adapaleno sobre a atividade dos melanócitos. O gel contendo o fármaco nanoestruturado não causou eritema, configurando a segurança na utilização da formulação. Entretanto, o gel com o ativo na forma livre aumentou, de maneira estatisticamente significativa, o índice de eritema da pele dos voluntários, indicando que as formulações nanoencapsuladas reduziram o eritema causado pelo uso do adapaleno na forma livre. A associação do fármaco às nanocápsulas modificou os parâmetros de liberação com relação ao fluxo e à concentração total de ativo liberada. A formulação contendo adapaleno na forma nanoencapsulada apresentou concentração total e fluxo de liberação menor do que o gel contendo o fármaco na forma livre, o que demonstra a capacidade das nanopartículas em controlar a liberação do ativo. O modelo monoexponencial foi o mais adequado para descrever o perfil de liberação da formulação contendo adapaleno livre, obtendo-se apenas uma constante cinética para o processo. Por outro lado, para o hidrogel contendo o fármaco associado às nanocápsulas o modelo biexponencial foi o que melhor descreveu os dados experimentais. A análise dos perfis de liberação através do modelo da Lei de Potência permitiu a proposição de um modelo de dissolução. A análise do valor de n, considerando a geometria esférica das nanocápsulas, demonstrou que a liberação do adapeleno a partir das NC foi classificada como não-Fickiano, sugerindo comportamento anômalo, ou seja, processos de cinética de liberação envolvendo comportamento misto entre difusão e relaxação da cadeia polimérica. 91 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABDEL-MOTTALEB, M. M. A.; NEUMANN, D.; LAMPRECHT, A. In vitro drug release mechanism from lipid nanocapsules (LNC). International Journal of Pharmaceutics, v.390, p.208–213, 2010. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Portaria nº 344, de 12/05/1998: Aprova o Regulamento Técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial. Brasília, 1998. Agência Nacional Sanitária – ANVISA; RE nº 899, de 29/05/2003: Guia para validação de métodos de Vigilância analíticos e bioanalíticos, Ministério da Saúde: Brasil 2003a. Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Gerência Geral de cosméticos. 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