Edmund Husserl e a crise das ciências europeias

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V Seminá
inário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSC
Car
19 a 23 de outubro de 2009
EDMUND HUSSER
ERL E A CRISE DAS CIÊNCIAS EU
UROPÉIAS
Irineu Letenski
Mestrado – Universidade Federal doo Paraná (UFPR)
irineul
[email protected]
1. Introdução
Visitando as obras de Husserl percebe-se uma permanente invest
estigação, sobre o
tema da crise das ciências
as e, juntamente, a investigação de seu sentido
ido. Entretanto, as
indagações sobre estas prob
roblemáticas parece que se aglutinaram na obra
bra Die Krisis der
europäischen Wissenchafte
ften und die Transzendentale Phänomenologie
gie226 (A crise das
ciências européias e a fenom
nomenologia transcendental) 1936, e nas confe
ferências vienesas
Die Krisis der europaisc
ischen Menschentums und die Philosophie
hie (A crise da
humanidade européia e a filosofia).
fi
Nesse período Husserl aborda oss problemas
p
que, a
seu ver, conduziram a crise
ise e indaga o porquê do fracasso das ciências.
s. Busca a origem
da crise até a moderna mat
atematização das ciências, constata que estas
as se afastaram do
mundo-da-vida, abordando
do assim a divisão ou ruptura surgida entre
tre o objetivismo
fisicalista e o subjetivismoo ttranscendental.
2. Crise das ciências
Mas o que podemo
mos entender pela expressão “crise das ciênc
ncias européias”?
Inicialmente o próprio Huss
usserl questiona-se e podemos “realmente falar
lar seriamente em
uma crise das ciências frent
nte aos seus constantes êxitos?” (HUSSERL,, 1984,
1
§ 1, p. 09).
De acordo com MOURA,
M
o diagnóstico da “crise das ci
ciências”, é um
diagnóstico paradoxal, enu
nunciado no momento em que as ciências se expandem e se
consolidam. Paradoxo doo qqual parte Husserl, ou seja, “existe sim uma
ma crise da razão,
apesar do sucesso incontestá
estável das ciências positivas” (2001, p. 186).
Mas qual será entãoo o sentido para o qual aponta Husserl, para
ra a existência de
uma crise da razão, que se manifestaria através da “crise das ciências
as européias”? Os
textos anteriores a 1936 ind
indicavam para Husserl a crise dos fundament
entos das ciências.
Crise para a qual a fenomen
enologia indicava uma terapia intuicionista. M
Mas agora, a crise
226
Foi somente nesta última obra
bra que ele mesmo publicou, que ele quis recorrer siste
stematicamente a este
termo (Krisis) para qualificar a situação onde se encontram, desde o começo dos tempos
tem
modernos, as
“ciências européias” (ENGLISH,
H, J. 2002, p. 21).
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até então tematizada pare
arece ter perdido o seu sentido, ou mesmo
mo não havendo
cabimento referir-se à ant
ntiga crise dos fundamentos. Husserl aprese
esenta as ciências
positivas como modeloss dde rigorosidade científica, desaparecem os problemas de
métodos, aceitando os seus
se conceitos. O próprio Husserl assegura
ura aos cientistas
“seguros em seu método,
o, o direito de protestar com o título de suas
uas conferências”
(HUSSERL, 1984, § 1, p.. 110).
Contudo, de acordo
do com Husserl, se considerarmos as lamentaçõ
ações sobre a crise
de nossa cultura e do pap
papel atribuído às ciências, se manifestam oos motivos para
submeter o caráter científico
fico a uma séria e necessária critica, contudoo ssem renunciar ao
seu sentido de caráter cientí
ntífico, sua legitimidade e seu método (Cf.1984
84, § 2, p. 11).
Desta forma, agora
ra a crise das ciências européias, apenas homôn
ônima à primeira,
será detectada a partir dee agora por meio de uma ‘mudança de direç
ireção’ da análise,
levando Husserl a instalar
lar a crise das ciências no interior de uma ccrise da cultura,
equivalente a uma crise da ‘humanidade européia’, expressa pelo ‘nii
niilismo europeu’.
Tal ‘mudança de direção’’ dda análise refere-se à valoração da ciênciaa ppelo europeu do
seu tempo. Neste sentido en
então, alterou-se o significado e o campo semâ
mântico da palavra
crise, “o que estará em qquestão, doravante, será o significado dass cciências para a
‘existência humana’” ( MO
OURA, 2001, p. 187).
A mudança de aprec
reciação não concerne ao caráter científico das
as cciências, mas ao
que as ciências, ao que a ciê
ciência tomada absolutamente significou e pod
ode significar para
a existência humana. A maaneira exclusiva pela qual a concepção do mu
mundo do homem
moderno na metade do séc
éculo XIX foi determinada pelas ciências posi
ositivas e falseada
pela ‘prosperity’ que a eelas se devia, significava também o aban
andono cheio de
indiferença dos problemas
as que são decisivos para um humanismoo autêntico. Para
Husserl, “as ciências doss fatos
fa puros e simples produzem homens quee só
s vêem puros e
simples fatos” (HUSSERL,
L, 1984, § 2, p. 11).
As ciências contem
emporâneas excluem os problemas que mais
is contam para o
homem. Husserl enfatiza qu
que, “na miséria de nossa vida, (...) essa ciênci
ncia não tem nada
a nos dizer. Em princípio
io eela exclui os problemas que são os mais ca
candentes para o
homem, o qual, em nosso
ssos tempos atormentados, sente-se à mercê
cê do destino: os
problemas do sentido e ddo não-sentido da existência humana em
m seu conjunto”
(HUSSERL, 1984, § 2, p.. 111-12).
Desta forma, partin
tindo deste novo enfoque que Husserl falará
ará agora de uma
“crise das ciências européia
éias”, as quais são passíveis de uma “crítica séri
séria e necessária”,
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mesmo com a legitimidade
de de seus conceitos e métodos. Na Krisis, po
portanto, Husserl
toma como ponto de partid
tida das suas reflexões os fatos culturais, quant
anto a si inegável,
da crise das ciências europé
opéias. É necessário buscar as causas deste distanciamento
dis
ea
questão que se coloca então
tão é compreender as origens de tal crise da razã
azão.
Husserl procede uma
um reflexão histórica que remonta às orig
rigens do projeto
moderno de filosofia, aco
acompanhando as mutações pelas quais as concepções de
conhecimento da totalidad
dade dos entes foi realizada. Busca assim
sim, explicitar o
desenvolvimento científico
co até o reducionismo positivista.
Um dos momentoss iniciais nesta tarefa é a invenção de uma fís
física matemática,
atribuída por Husserl a Gali
alileu. Husserl reconhece uma certa generalizaç
zação do problema
ao atribuir toda a matematiz
tização a Galileu, admite “estar simplificandoo aas coisas”, o que
segundo FERRAZ (2004,, pp. 365), não invalida sua análise, pois acredit
dita que a idéia de
uma natureza concreta toma
mada como “multiplicidade matemática” (HUS
USSERL, 1994, §
9, p. 27), pela primeira vez
ez foi estabelecida na obra de Galileu227.
3. Objetivismo
A crise que atinge a sociedade tem a sua origem na criação e instauração da
ciência moderna, sobretudo
do com a “matematização da natureza por Ga
Galileu” no início
do século XVII, marcandoo o advento de tal ciência (Cf. HUSSERL, 198
984, § 9, p. 27). A
física moderna foi edifica
icada por Galileu num terreno teórico já eelaborado, o da
geometria e das matemátic
ticas constituídas na Antigüidade. O mundoo das idealidades
geométricas e matemáticas,
as, nasceu da experiência do mundo sensível on
onde encontramos
corpos como formas imperf
erfeitas e variadas.
Com a objetivação da
d natureza física e psíquica esta torna-se a única atividade
científica válida, supervalo
alorizando o método científico, esquecendo-se
se o “mundo da
vida”. Assim, afirma Husse
sserl, “começa, pois, como Galileu, a substituiç
tuição da natureza
pré-científica dada na intui
tuição, por uma natureza idealizada” (HUSSE
SERL, 1994, § 9,
p. 55).
A objetividade das ciê
ciências se transformou em objetivismo. O obj
objetivismo é uma
“crença” segundo a qual
ual a ciência poderia revelar o “mistério
io da realidade”;
227
No famoso trecho de O Ensaiador escreve que “(...) A filosofia encont
ntra-se escrita neste
grande livro que continuamente
nte se abre perante nossos olhos (isto é o universo)
so) que não se pode
compreender antes de entender
er a língua e conhecer os caracteres com os quais est
está escrito. Ele está
escrito em linguagem matemát
ática, os caracteres são triângulos, circunferências
ias e outras figuras
geométricas, sem cujos meios é impossível entender humanamente as palavras; sem
em eles nós vagamos
perdidos dentro de um obscuroo la
labirinto. (...) (GALILEI, 1973, p. 119).
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diferentemente das outras
as formas de conhecimento, ela diz o quee é. As fórmulas
apresentadas por um físico,
co, seriam a expressão do “ser-em-si” das cois
oisas e do mundo
físico. Por sua objetividade,
de, tal discurso é considerado não como sendoo ddito por alguém,
mas como sendo o discurso
rso do ser por si próprio, portanto, sua “verda
rdade absoluta”. O
cientista apenas torna claro
aro por esquemas e fórmulas aquilo que já se faz presente na
natureza. O objetivismo esq
esquece que a identificação do ser com a lingua
uagem científica é
uma atividade constituídaa ppelo próprio homem. Logo passou-se a tomarr “por verdadeiro
o que é método” (1994, § 9, p. 57).
A ilusão do novo método
m
e da nova ciência proposta por Gali
alileu, substitui o
mundo real por uma nature
ureza idealizada. Instaura-se uma crença de que
q os conceitos
representantes do mundo sã
são mais reais do que aquele oferecido pela int
intuição, isto é, do
que apreendemos de maneir
eira imediata.
Aqui não se trata de desmerecer nenhum trabalho científico,, aliás o próprio
Husserl afirma que “a ciên
iência matemática da natureza é uma técnicaa m
maravilhosa que
permite efetuar induções de
d uma fecundidade, de uma probabilidadee e precisão e de
uma facilidade de cálculo,, qque antes sequer se teria podido suspeitar”.. T
Trata-se somente
de descrever as operações
es de idealização pelas quais pode-se obterr o conhecimento
científico, pois “à medidaa qque se esquece, na temática científica do muundo circundante
intuitivo, o fator meramente
nte subjetivo, esquece-se também o próprio suj
sujeito atuante, e o
cientista não se torna temaa dde reflexão” (1996, p. 80-81).
Husserl, portanto, denuncia
de
a origem da crise não nos fundame
mentos teoréticos,
mas no fracasso das ciênc
ências na compreensão do homem. A origem
gem da crise é a
convicção de que “a verda
rdade do mundo se encontra apenas no quee é enunciável no
sistema de proposições daa cciência objetiva, ou seja, no objetivismo, o qu
qual deixa de lado
todas as questões decisivas
as para uma autêntica humanidade. Deste modo
do a ciência perde
importância para a vida e o mundo (ZILLES, 1996, p. 40).
A crise então é marcada,
ma
não tanto como crise das ciências
ias na região da
objetividade de seus especí
ecíficos formalismos, mas como crise dos “fu
“fundamentos” em
que se deve apoiar o “mund
ndo” oferecido pelas ciências à habitação do hhomem, e que ao
filósofo, como itinerante do ser, incumbe buscar.
4. Crise da razão
Mas para onde apon
pontam tais considerações vagamente “human
anistas” da última
filosofia de Husserl? Parece
ece que a partir de agora, submete a racionalida
idade crítica a uma
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“crítica” exercida em nome
me de uma preocupação extrínseca à ciência,
ia, ou seja, o seu
significado para nossa “ex
“existência”. Teria Husserl descido das altu
lturas da “atitude
transcendental” para pres
restar atenção à “subjetividade originariam
mente concreta”,
“prático operativa”, com
m os problemas da “chamada existência”,
a”, as quais ele
classificava
com
as
ru
rubricas
poucos
lisonjeiras
do
“psicolo
logismo”
e
do
“antropologismo”? Segund
ndo Moura não se trata disso. Tampouco é uma oposição
romântica entre a vida e a tteoria. Trata-se exatamente do contrário, poi
ois, se as ciências
entram em cena como pass
assíveis de uma crítica, “é porque elas são vis
vistas por Husserl
como disciplinas que nãoo te
tem nada a nos dizer sobre a ‘razão e a não--razão, sobre nós
homens como sujeitos daa liberdade’”. Esse era o diagnóstico formul
ulado em Lógica
formal e transcendental: “as
“a ciências, assim como a cultura modelada
da pelas ciências,
não podem ser mais vistass ccom a ‘auto-objetivação da razão humana’.
’. E é por isso que,
a fortiori, nosso mundo e nnossa vida parecem ‘sem sentido’” (Cf. MO
OURA, 2001, p.
188).
O tema da separaçã
ção entre ciência e razão percorre toda a obra
bra de Husserl, ou
seja, a crítica à transformaç
ação das ciências modernas em técnicas, ou no fato das várias
ciências estarem divorciada
das da vida. Um tema que não é irrelevante pa
para compreender
em que a “racionalidadee ccientífica” se transformou aos olhos da fen
fenomenologia. A
análise husserliana da “téc
técnica” indicava que as ciências contemporân
râneas transmitem
uma imagem da “razão”, qu
que não é neutra nem indiferente. O que Husse
serl encontrava na
origem da tecnicização da
das ciências era o fim da idéia de uma raz
razão universal, a
prevalência crescente do “p
“pensamento simbólico” (matematizado) em fa
face da intuição.
Na Lógica formall e transcendental, era o entrecruzamento desse
ses dois processos
complementares que davaa llugar à transformação das ciências em técnica
icas. Em primeiro
lugar, perdendo qualquer re
referência a um solo comum de racionalidade
de que as guie, as
ciências tornam-se “especia
cializadas”, isto é, desligadas de qualquer mat
atriz que unifique
suas operações. Em segund
ndo lugar, o progresso metódico leva a ciência
ia a trabalhar cada
vez mais no plano do “pen
ensamento puramente simbólico”, o que para
ra uum intuicionista
como Husserl só poderáá significar uma distância crescente entre a “ciência” e o
“conhecimento autêntico”.
Agora o princípio
io da utilidade tomará frente diante da id
idéia clássica de
intelecção, a ciência tornad
ada “técnica teórica” repousa mais sobre a exp
experiência prática
do que sobre uma verdadei
deira ratio de suas operações. Assim, os conc
nceitos científicos
são apenas instrumentos de um “cálculo” com o qual se opera, e as ciê
ciências tornam-se
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aquilo que atualmente são:
o: fontes de proposições “praticamente úteis”,
”, m
mas nas quais as
descobertas se fazem apen
enas pela aplicação de regras de um jogo ccom signos, que
produz indeterminadament
ente outros signos. Dirá Husserl, que a rac
racionalidade das
ciências é apenas uma racio
cionalidade técnica. Desta forma, as “ciências
ias européias” nos
transmitem a compreensã
nsão de “razão” determinada, ou seja,, uma faculdade
caracterizada por alguns pr
procedimentos e operações, “mero ‘cálculo’’ m
mecânico que se
desdobra no domínio dos ‘signos
‘s
conceituais’” (MOURA, 2001, p. 190).
0).
Segundo Husserl, a crise tem origem “em um certo racionalismoo”. Racionalismo
que vai reiterar o aniquilam
ilamento da verdadeira razão em uma ‘racion
onalidade técnica’
através de ideologias comp
mplementares, ou seja, o positivismo e o hist
istoricismo228. As
ciências positivas limitand
ndo-se aos “fatos”, não terão nada a dizer
er a respeito dos
genuínos problemas do ho
homem. O historicismo comentará o curso da história como
sendo o processo de diss
issolução de normas e de todos os ideais.. D
Desta forma, o
positivismo e o historicism
ismo excluirão de seu horizonte todas as ques
uestões relativas à
validade das genuínos prob
roblemas, contribuirão para a dissolução de qu
qualquer idéia de
uma razão normativa, a qua
ual já fora antecipada pela alienação técnica das ciências.
Assim, se a “razão”
o” que se exprime através das “ciências europé
péias” não é mais
uma razão normativa, tais
ais ciências não terão mais nada a dizer sobr
obre a “existência
humana”. Ou seja, a “crisee ddas ciências” será compreendida por Husserl
erl como uma crise
da “humanidade européia”,
”, de sua cultura e de sua existência.
Tendo como ponto
to de
d partida o suposto de que é a razão que co
confere sentido às
coisas, aos valores e aos fin
fins, Husserl concluirá dessa premissa da “cris
rise da razão”, sua
conotação positivista instr
strumental, configurando-se então no “niili
iilismo europeu”:
“perde-se a fé na razão que dá sentido ao mundo, no sentido da históri
ória, no sentido da
humanidade, em sua liberd
erdade, na capacidade e possibilidade do hom
omem conferir um
sentido racional a sua existê
istência individual e coletiva” (HUSSERL, 198
984, p. 18).
O que está subjacen
cente ao crivo em que a “cultura européia”” é submetida por
Husserl na Krisis, é a suaa iidéia de uma “cultura filosófica”. Trata-se de recuperar uma
noção de cultura cuja certid
rtidão de nascimento é escrita em grego clássic
sico, “cultura” que
sempre foi regida por “norm
rmas da razão”.
228
Com a emergência de umaa hhistoriografia de raiz empírica, desejou-se substituir
ir uma historiografia
sistemática estabelecida a prior
iori, por uma historiografia de “campo”, fundamentad
tada na investigação
minuciosa das fontes, determinan
nando deste modo, empiricamente os fatos estudados.. H
H. Ranke, conhecido
e criticado pela excessiva objetiv
tividade, diz que “a história não pode ter nunca a unid
nidade de um sistema
filosófico”, porque temos diante
te de nós “uma série de acontecimentos que se seguem
em e se condicionam
uns aos outros” (H. Ranke. Weltgeschichte,
We
IX, p. XIIIs, citado por H. G. Gadam
damer em Verdade e
Método, p. 316).
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Na Grécia, razão ee vida se reconciliam, ali todas as questõess ppráticas estariam
referidas às questões do co
conhecimento, às ações, aos fins e todos os valores seriam
reportados a uma verdade. A tradição grega contém em si um elemento
nto absolutamente
inaudito, o desejo de um sa
saber desinteressado que conduz à atitude fil
filosófica. Só esta
atitude teorética, desintere
ressada, permite abstrair dos circunstancialis
lismos práticos e
finitos, imediatos, do mun
undo fatual, visando fins racionais, com vali
alidade universal.
Segundo Husserl, “apodera
era-se, pois, do homem a paixão por um con
conhecimento que
transcende toda práxis natu
atural da vida com seus esforços e suas preocu
cupações diárias e
transforma o filósofo em eespectador desinteressado, em um contempla
plador do mundo”
(1992, p. 69).
Portanto, poderemos
os encontrar as origens da separação entre ciê
ciência e razão em
dois níveis diferentes e com
omplementares: por um lado, a crise das ciênc
ências surge como
conseqüência da unidadee perdida da própria filosofia; por outro la
lado, igualmente
encontra a sua origem, noo desaparecimento da subjetividade, uma vez
ez que o discurso
cientifico delimita o seu ca
campo de investigação ao mundo dos fatos (PA
(PAISANA, 1992,
p. 264).
Deste modo, para Husserl
H
a terapia para a “crise européia” será
rá a restauração do
sentido autêntico da razão
ão. Tarefa que coincidirá com a constituição
ção da verdadeira
filosofia por alguém quee só poderia ser mesmo um “funcionário da humanidade”.
Contra a “tirania de toda
odas as especializações científicas”, a feno
nomenologia será
apresentada como aquela
la sapientia universalis que poderá conferir
rir às ciências a
“unidade da razão da qua
ual todas elas, definitivamente, devem proce
ceder”. Uma vez
afastado o prejuízo “objeti
etivista”, a subjetividade será restituída ao se
seu papel de solo
comum, no qual todos os co
conhecimentos encontram a sua raiz. Este ato
to será equivalente
à redescoberta da verdadei
eira “razão”, já que a subjetividade não é sen
senão a “razão na
atualidade”, a intencionalid
lidade em que se originam todas as verdades
des, tanto teóricas
quanto axiológicas e prática
icas.
Torna-se claro entã
tão que Husserl não possa aceitar, para o esc
esclarecimento da
realidade mundana, a conce
ncepção de mundo proposta pelas ciências posi
ositivas. O mundo
das ciências surge não co
como expressão de algo imediatamente intu
tuído, mas como
resultado de um processo
so contínuo de total objetivação. Recorda-no
nos assim que “a
ciência é obra do espírito
ito humano, e que historicamente, e para to
todo aquele que
aprende, supõe haver partid
tido do mundo circundante intuitivo e pré-dado”
do” (1994, § 33, p.
125).
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De acordo com Hus
usserl, o mundo-da-vida já existia para a hum
umanidade, isto é,
anteriormente à ciência, as
assim como continua sua maneira de ser tam
ambém na era das
ciências. Por isso é factível
vel proceder o problema da maneira do “ser do mundo-da-vida
em si” (1994, § 22, p. 127)
7). O esforço husserliano passa a ser então o dde fixar a função
do mundo-da-vida como origem
or
de toda objetividade, constituindo-see dessa
d
forma em
“um grande tema de trabalh
alho” (1994, § 22, p. 127).
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ISSN 2177-0417
- 155 -
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