97. diferenças fenomenológicas entre as filosofias - HCTE

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Scientiarum Historia II – Encontro Luso-Brasileiro de História das Ciências – UFRJ / HCTE & Universidade de
Aveiro
Diferenças fenomenológicas entre as filosofias de Husserl e de
Kant
André Vinícius Dias Senra*¹, Adilio Jorge Marques², Ricardo Silva Kubrusly³.
1,2
Doutorando do Programa de História das Ciências, das Técnicas e Epistemologia (HCTE) da
UFRJ, Instituto de Química. *Email: [email protected]
³ Professor do Departamento de Métodos Matemáticos e do Prog. História das Ciências, das
Técnicas e Epistemologia.
Palavras Chave: lógica, psicologia, fenomenologia.
Introdução
O conceito de Fenomenologia é uma indicação para constituir uma ciência filosófica.
Etimologicamente, phainomenon (objeto fenomênico) deve ser assunto de um saber do
conhecimento em geral (wissenschaft). O termo wissenschaft tem o sentido de uma ciência da razão
e não se restringe à pesquisa científico-natural meramente objetivista. Assim sendo, o conceito de
Fenomenologia implica em um estudo que não leva em conta apenas o mundo objetivo, mas também
como o sujeito representa o objeto de tal modo que este não seja reduzido ao solipsismo subjetivista.
Resultados e Discussão
Kant pode ser considerado como o pensador que fundou as bases para o estudo de uma
fenomenologia enquanto disciplina acadêmica, na medida em que cunhou a expressão ‘fenômeno’
para designar os objetos que podem ser conhecidos pela razão humana. O kantismo tornou-se
referência para análise dos aspectos relacionados à teoria do conhecimento. E a característica
específica da filosofia kantiana é ser uma filosofia transcendental, ou seja, buscar a fundação do
conhecimento a partir do que pode ser representado fenomenicamente. De acordo com Husserl, o
método fenomenológico é o método filosófico por excelência, contudo, ele considera que o projeto
filosófico de Kant encontra-se incapaz de cumprir o que promete em teoria. Husserl entende que o
conceito kantiano de fenômeno sustenta-se na ideia da condição de possibilidade para uma
experiência cognoscitiva. Isto significa que tal conceito fundamenta-se em uma restrição de caráter
empírico, não lógico. Segundo Husserl, este é o problema kantiano na tarefa para constituir uma
fundação do conhecimento a partir do que deveria ser um projeto fenomenológico. Husserl acusa
Kant de ter fracassado no projeto de uma Fenomenologia porque sua filosofia seria muito fisicalista, o
que tornou impossível abordar a ideia do fenômeno sem que esta não estivesse reduzida aos
aspectos sensíveis. De acordo com o método de Husserl, a superação do psicologismo torna-se
necessária não somente em função do reconhecimento da esfera ideal da objetividade na condição
de independente da sensibilidade, mas principalmente porque a fenomenologia pretende ser o
método filosófico que estabelece a fundação objetiva para o conhecimento em geral. O psicologismo
enquanto doutrina torna possível a redução da objetividade, da relação de conhecimento, aos
aspectos subjetivos, tanto no sentido idealista quanto no empirista. Desse modo, Husserl considera
que a tese psicologista tem como pressuposto a tradição metafísica, que ao apoiar-se na ideia da
representação subjetiva do objeto, permitiu a existência de disputas envolvendo o dualismo entre
sujeito e objeto, que teve como conseqüência, o aparecimento do ceticismo, precisamente por conta
da ausência de um rigoroso fundamento filosófico para a questão. Esta é a herança do kantismo,
segundo Husserl. Desse modo, Husserl entendeu que o problema era que a base de argumentação
cognitiva mantinha seu foco, até então, no objeto transcendente, do mesmo modo, e analogamente,
que a apreensão intuitiva deste objeto só poderia ser efetuada pelo sujeito empírico.
Conclusões
Husserl não considera a filosofia kantiana como falsa, mas certamente insuficiente para estabelecer
os parâmetros do autêntico método filosófico. Ao propor uma crítica da razão pura, Kant acertou ao
perceber que o embate entre idealistas e empiristas era infrutífero e estéril para a Filosofia. Contudo,
o fato é que este dualismo ainda se mantém no criticismo kantiano, de tal modo que Kant não
garantiu as bases para que a Filosofia não pudesse ser superada pela Ciência. Muito pelo contrário,
em sua resposta Kant nega a possibilidade da Filosofia como ciência. Para Husserl, a resposta de
Kant e dos kantianos mostra falta de compreensão sobre o que deve ser uma ciência filosófica.
Referências e Notas
1
Husserl, E. A Ideia da Fenomenologia. Lisboa: Ed.70, 1986.
2
Kant, I. Crítica da Razão Pura. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1989.
2º Congresso de História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia – 28 a 30 de outubro de 2009
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