ENTENDER, GOSTAR E FAZER ARTE: MAIS QUE UMA

Propaganda
ENTENDER, GOSTAR E FAZER ARTE: MAIS QUE UMA
EXPERIÊNCIA
Clauderice de Oliveira Ferreira Souza 1
Grupo de Trabalho – Educação, Arte e Movimento
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O que chamo aqui de experiência, vivencia, trabalho é uma proposta de aprendizagem em
Artes Visuais. Esta proposta fora concebida a partir da necessidade de criar uma maneira
prática de realizar uma sondagem dos conteúdos básicos em Artes Visuais dos alunos em
geral, para saber o que haviam aprendido e apreendido destes conhecimentos que, como
professora especialista na área, julgo necessários para que os alunos sigam aprendendo. A
partir de então, a experiência foi desenvolvida em decorrência da necessidade de um plano de
trabalho pedagógico que pudesse contemplar uma gama de conteúdos básicos para uma
aprendizagem significativa, mais interligada, menos fragmentada e que estivesse de acordo
com as expectativas de aprendizagem para o ensino de Artes. Em consequência desta busca
encontrei alunos de escolas públicas do Estado e do Município de São Paulo desafiados a
desenvolver um desenho com elementos básicos das Artes Visuais, tais como ponto, linha,
plano, textura, espaço, forma, ilustração de fundo na imagem e pintura, de modo que os
alunos se envolveram no processo e se sentiram estimulados a pesquisar biografias e técnicas.
Na finalização do processo, os aprendizes fizeram um relatório descrevendo a caminhada
passo a passo na forma de registro do processo da experiência, praticando a leitura e a escrita
ou o fizeram na oralidade em roda de conversa e na exposição dos trabalhos finais. Também
encontrei adultos com o mesmo dilema, do “eu não sei desenhar”, comumente encontrado
entre os alunos. Mas, felizmente, tanto alunos quanto o grupo de adultos receberam a
estratégia de maneira positiva, demonstrando mudança em sua maneira de ver a Arte na
escola.
Palavras-chave: Arte-Educação. Experiência. Pratica pedagógica.
Introdução
Este artigo surge do desejo de compartilhar a experiência de uma ação pedagógica que
tem como características tanto a possibilidade de uma sondagem de conhecimentos em
1
Mestra em Educação pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), professora de Artes de Escolas
Estadual e Municipal de São Paulo, auxiliar técnica do Grupo Escoteiro Jean Philippe Costeau – 173/SP em São
Bernardo do Campo (UEB/SP) ramo lobo.
ISSN 2176-1396
30348
elementos das artes visuais, quanto do acréscimo no repertório de conceitos e valores
estéticos, biografias e técnicas para os alunos de artes. A ação pedagógica foi desenvolvida
como um texto instrucional em que a cada etapa o aluno teve a oportunidade de perceber seu
progresso enquanto autor de seu trabalho e, consecutivamente, participar do seu processo de
aprendizagem.
O resultado obtido desta experiência culminou em uma exposição dos trabalhos de
artes visuais que em seu processo abrangia uma sucessão de exercícios de desenho, cor,
ponto, linha, plano, textura, ilustração, arcos, quadriláteros, sobreposições de imagens, com
alunos de escola pública municipal e estadual em São Paulo. Além dos alunos de duas
escolas, uma de Fundamental II e outra de Fundamental II e Médio, ainda tive a oportunidade
de compartilhar esta ideia com outras quatro professoras, duas especialistas em Artes, uma de
História e uma estudante de pedagogia, sendo que estas duas últimas citadas, ensinaram para
os seus filhos como um momento de descontração e foi este grupo de profissionais que me
incentivaram a compartilhar esta experiência.
Este exercício foi desenvolvido com a finalidade de atender minhas necessidades de
ensino como professora, e as necessidades de aprendizagem dos meus alunos. Assim, surgiu a
construção de um plano de trabalho pedagógico que pudesse contemplar conteúdos básicos
para uma aprendizagem significativa, que interligasse o fazer, o ser e o aprender arte, de
maneira menos fragmentada e que estivessem de acordo com as expectativas de
aprendizagem. Em consequência desta busca encontrei alunos desafiados a desenvolver um
desenho com elementos básicos das artes visuais, personalizados e a pesquisar biografias e
técnicas. Encontrei-me envolvendo a todos num jogo de aprender e ensinar, onde os
integrantes não eram um grupo comum, mas, parceiros:
Há um instante mágico na vida em que, nem mesmo sabendo por que, ficamos
envolvidos num jogo. Num jogo de aprender e ensinar. Fazemos parcerias. Não só
com os outros, mas também parcerias internas nos propondo desafios. \porém, só
ficamos nesse estado de total cumplicidade com o saber se este tem sentido para nós.
Caso contrário, somos apenas espectadores do saber do outro. (MARTINS, 2009,
p.117).
É importante lembrar que todo professor tem uma bagagem cheia de conhecimentos
técnicas, anseios, desejos e vontade de mostrar o que sabem em seu campo de trabalho (e
estes sentimentos devem estar vivos e firmes durante toda a trajetória dos educadores,
movendo-os). Entretanto, somente no local da atuação o professor terá o contato com as reais
30349
necessidades de seus alunos, e é a partir de sua vivência que entenderá o que precisará para
preparar suas aulas respeitando o conhecimento destes alunos.
Em sala de aula, pode ser comum nos depararmos com alunos apresentando muita
dificuldade motora ou com pouca motivação para aprender arte ou qualquer outra disciplina, e
acredito que a sondagem é uma estratégia necessária, rápida e, eficaz, de diagnóstico de
aprendizagem, que possibilita ao professor conhecer para trabalhar as dificuldades dos alunos
o quanto antes, a fim de planejar suas aulas do decorrer do ano letivo, respeitando as
características individuais em cada turma.
Sou professora especialista em Artes e observei uma grande quantidade de alunos com
defasagem de aprendizagem dos conteúdos de artes ou com pouca motivação para ações como
desenhar ou pintar. O objetivo aqui não é saber o que os desmotivou a aprender arte, mas
buscar uma alternativa para que estes alunos descubram uma maneira de vivenciar a
aprendizagem da arte com prazer.
Entretanto, algo me chamou a atenção quando ouvi uma vez um aluno do ensino médio, me
declarar que não entendia as aulas de Artes, e ao perguntar o porquê ele me respondeu com
outra pergunta:
Porque eu tenho que caprichar tanto para desenhar se alguns desenhos famosos não
são tão “caprichados” como são exigidos que sejam os meus?... Porque eu tenho que
pintar direitinho... se alguns quadros parecem um borrão de tinta, se o Van Gogh
fosse aluno de tal professora ele seria reprovado. (ALUNO 1º ANO DO ENSINO
MEDIO, 2015).
Sua resposta me fez pensar em buscar outra maneira de iniciar meu ano letivo, um
Plano B, que me garantisse pelo menos amenizar o que parecia um grito de socorro do que
uma atitude de desprezo pela disciplina. Este era um aluno do ensino médio, mas, na mesma e
em outra escola, eu percebi esta postura em alunos do ensino fundamental.
Buscando alcançar respostas para estas questões e sondar os conhecimentos dos
alunos, pensei em desenvolver um único trabalho, que abrangessem os elementos básicos das
artes visuais como ponto, linha, plano, textura, espaço e forma, cor, ilustração, arcos, etc. Eu
chamo de “O Casario”, que é desenvolvido passo a passo em cinco momentos ou estágios, e
termina em relatório e exposição.
Alguns exemplos de empecilhos no processo de ensino e aprendizagem em Artes
podem ser a rotatividade de professores, caso não estejam fixados em uma mesma escola
todos os anos e alguma dificuldade na preparação do planejamento das aulas do início do ano
sem que venha causar descontinuidade, sem saber o quanto o aluno aprendeu ou mesmo se ele
30350
lembra o que lhe fora transmitido. Para tanto é necessário o envolvimento do professor, o
quadro pode ser ou parecer o mesmo, mas o olhar deve ser diferenciado, mudar as estratégias
acreditando que:
Para possibilitar a sensibilização do estudante, é necessário que o próprio professor
se envolva com ampla gama de experiências artístico-culturais. Somente uma pessoa
que mantém viva a curiosidade, parte fundamental dessa condição humana que é o
desejo de conhecer, não apagará a qualidade em outras pessoas, senão seus
procedimentos se tornam mecânicos. (SANDERLICH, 2001, p.146).
Uma resposta pronta? Não creio e nem é a minha intenção, mas quero compartilhar
uma experiência que se caracteriza pela praticidade na ação pedagógica e que achei por bem
compartilhar o processo e resultados obtidos visando contribuir com a arte-educação.
Analisando a minha prática, percebi que esta proposta de atividade pode ser utilizada
em todos os níveis de escolaridade, pois sua pré- produção traz um clima de novidade que
surpreende o aluno quando da construção e desenvolvimento passo a passo do trabalho, em
que o aluno aprende sobre um determinado elemento visual, e o professor, por sua vez pode
apresentar um artista que utiliza e/ou é reconhecido por utilizar tal elemento em suas obras. A
minha preocupação com um planejamento de aulas que estimulassem o aluno, trazendo a tona
sua inata criatividade e reconhecimento das linguagens artísticas como mais um idioma para
ele se comunicar, vou criando, como afirma Christov “estruturas para conhecer” ao pensar
em:
...um planejamento de aulas pleno de situações novas a serem conhecidas, plenas
de perguntas que desafiassem os alunos a sofrerem desequilíbrios cognitivos e não a
preocupação da formação para a criatividade, mas o planejamento para experiências
de conhecimento. (CHRISTOV, 2006, p. 13).
Lembrando que o objetivo desta experiência é fazer uma sondagem da aprendizagem
de elementos básicos para composição plástica das Artes Visuais, repertoriar o aluno em artes
visuais bem como trabalhar “as habilidades básicas de ouvir, criar, decidir, resolver
problemas, somadas às qualidades pessoais de autoestima e sociabilidade” do aluno
(SANDERLICH, 2001, p.143). Esta experiência foi vivida numa escola de periferia da
Grande São Paulo em que me ocorreu ideia de desenvolver um único exercício.
Objetivos
Lembrando que o objetivo primário da ação pedagógica foi buscar uma alternativa
para que meus alunos viessem a descobrir uma maneira de vivenciar a aprendizagem da arte
30351
com prazer e confiança, sem os argumentos defensivos e depreciativos, do “não sei fazer, não
sei desenhar“.
Pensando nisso, proponho uma lista de objetivos possíveis para a realização deste
trabalho, ou, melhor dizendo, desta experiência artístico-estética tão necessária como defende
Dewey (2010), que se seguem:
1-
Promover a autoestima do aluno para o desenvolvimento de atividades nas
artes visuais.
2-
Auxiliar o aluno na construção do conhecimento e na aplicação dos elementos
básicos das artes visuais.
3-
O aluno irá desenvolver seu próprio desenho partindo de formas simples,
através do exercício de observação.
4-
O aluno exercitará o entendimento de princípios e valores estéticos.
5-
O aluno treina os conteúdos ensinados de maneira divertida e desafiadora, pois
ele participará de todo o processo de desenvolvimento de sua obra artística /O aluno vai
construir seu desenho observando seu progresso passo a passo.
6-
O professor tem a possibilidade de fazer uma sondagem de seus alunos no
tocante ao seu conhecimento prévio destes sobre elementos básicos da arte visual como
desenho, pintura, ilustração, fundo e imagem, textura, perspectiva, sobreposição dos
elementos, linha, ponto, plano, luz e sombra...
O desenvolvimento do trabalho acontece de acordo com uma sequencia de tópicos no
processo que vão do exercício da observação, atenção e concentração até a pintura final do
desenho, que principalmente aos alunos que se dizem com mais dificuldades ficarão surpresos
e contentes com o resultado.
Neste processo, pude observar o desenvolvimento do aluno tanto na esfera intelectual,
cultural como também emocional, haja vista a grande quantidade de alunos que se
impressionaram com o próprio trabalho e mostraram surpresos ao depararem com a liberdade
que tiveram quando planejaram e fizeram a ilustração do fundo do “casario” que chamaram
de “comunidade”, “morro do Rio de Janeiro”, ou fizeram menção a comunidades do entorno
da escola, ou onde moravam.
Desenvolvimento do trabalho
O caminho percorrido com e para os alunos.
30352
O trabalho foi desenvolvido como um instrucional onde passo a passo se concretizou
na elaboração do desenho de um casario que foi tomando forma a partir da composição dos
elementos visuais desde os primeiros riscos até sua finalização.

Observação - instrucional (o mestre mandou: sigam meus traços se puderem)
O primeiro momento foi uma preparação, do aluno com a ideia do que iria surgir; do
suspense em relação a obedecer à voz de comando do professor, pois assim que os alunos
recebiam a folha de trabalho, foram utilizadas frases como: “Peguem apenas o lápis e preste
atenção em cada movimento meu, cada risco que eu fizer no retângulo que está na lousa que é
a representação da folha que vocês têm na carteira”. Este era o momento dos alunos
perceberem a posição em que a folha deveria estar, pois o retângulo da lousa estava
desenhado na posição vertical.

Corrigindo, completando, preenchendo (complete o seu desenho). No final
do primeiro momento acima citado, os alunos tem uma espécie de esboço, sendo que alguns
preencheram todo espaço da folha de trabalho, enquanto outros chegaram até a metade da
folha preenchida com casas, outros fizeram com traços tão curtos que as casas ficaram bem
pequenas, sobrando bastante espaço em branco no papel. Como o desenvolvimento desenho
foi num exercício passo a passo, seguindo o mestre, que foi traçando linhas sem uma
sequencia lógica a princípio, para que seja uma surpresa para o aluno, estimulando a
curiosidade, a vontade de saber o próximo passo, têm-se como resultado diferentes pontos de
vista, ou maneiras de observar e seguir as linhas de comando. Assim, temos composições de
linhas, formando casas que preenchem todo o espaço da folha, outros nem tanto, e outros que
fazem um desenho bem pequeno, que ocupa um pequeno espaço da folha, sobrando bastante
espaço sem desenho.
É boa hora para ensinar aos alunos, que há diferenças na maneira de ver um mesmo
objeto ou imagem, bem como há diferenças quando na construção de um projeto com o
mesmo tema e objetivo que podem seguir caminhos diferentes e proporcionar resultados
diferentes. É bom orientar o aluno que não há certo ou errado na construção de um quadro,
entender que há um processo e não podemos descartar nem desprezar experiências vividas
durante o processo ou em função dele. Aqui também o aluno aprende sobre a importância do
equilíbrio dos elementos no espaço plano.
E para consertar tudo isso? É só mostrar para os alunos que durante todo o tempo eles
estavam desenhando uma sucessão de trapézios e duas linhas verticais, ou meio trapézio com
uma linha vertical e assim formando as sobreposições e completando os espaços que
30353
sobraram sem desenho seguindo na diagonal até a parte inferior da folha. De imediato, o
aluno tem a reação de jogar aquele papel fora e começar tudo de novo, baseado no que ele
acredita ser o resultado, mas aí o professor media lembrando que não é um jogo de certo e
errado, o importante é o que vai acontecendo com o desenho e com o aluno durante todo o
processo, e este é um dos motivos que os desenhos finais têm resultados tão diferentes.

Texturas (traços e cores nos telhados, amigos de Romero Britto e Aleksandro
Reis).
Mostrar aos alunos que combinando linhas retas, quebradas, curvas, ou entrelaçandoas, combinando com pontos diversos e formando grafismos divertidos, como Romero Britto e
Aleksandro Reis, que trouxeram todo o lúdico colorido para a pintura em quadros, murais,
objetos e espaços de arte. O aluno tem o contato com o trabalho de Aleksandro Reis, um
importante contribuinte para a Arte urbana, e como figura representante e referência do ABC
paulista com seus murais da cidade de São Caetano do Sul.

Arcos e quadriláteros formam janelas e portas com um ar interiorano,
lembrando o estilo barroco mineiro, e tendo como referência as obras e o estilo de Alfredo
Volpi. Com um pouco de formas arredondadas, trazemos Tarsila do Amaral pra perto dos
alunos.
Neste estagio, o desenho do casario já tem uma forma definida, com arcos e
quadriláteros, os alunos vão criando portas e janelas, com sobreposições, dando um charme
especial a cada casa. O contato com os casarios, as fachadas e portas de Alfredo Volpi, e
também o “Morro da Favela” de Tarsila do Amaral, tornando a experiência mais divertida, e
muitos comentam que o desenho deles está mais bonito, porque tem mais detalhes, e à sua
maneira vão fazendo comparações.

Ilustração (fundo e imagem, perspectiva, criação livre, de Da Vinci a Cícero
Dias).
Como elementos ilustrativos é comum nestes desenhos observarmos muitas pipas no
céu, como referencia ao cotidiano dos alunos em suas horas de lazer, assim como também
havia desenhos de armas e balas no céu, ilustrando signos da violência como representantes
da realidade. Curiosamente, os primeiros alunos que ilustraram o fundo do desenho com a
representação de tiroteios, mostravam o desenho com tom de gozação, mas quando eu
passava, para olhar os desenhos nas carteiras, durante o processo de criação, eu dizia “bom,
bom... correto... está ok... está indo bem...”, os alunos riam e começavam a comentar os
30354
elementos representativos da composição e eu só respondia: “ você está contente com o seu
trabalho? Vá em frente, é real pra você, seu desenho é real.”
Diante desta realidade, é necessário entender e fazer-se entender que, quando o aluno,
faz uma crítica, está mostrando sua maneira de mostrar o que, como vê e se sente.
No momento da teoria prepara-se o aluno para a descoberta de algum artista; cito
como exemplo: Leonardo Da Vinci que ao ilustrar o fundo de quadros como a “Modaliza (Da
Vinci, 1503 – 1517, Museu do Louvre, FR) e” A Madona das Rochas (Da Vinci, 1483 – 1486,
Museu do Louvre, FR, Nacional Gallery, Londres, ING)”, trouxe elementos da perspectiva
como a profundidade. Outro artista que pode ser bem explorado é Cícero Dias, com o quadro
“Eu vi o mundo...ele começava no Recife 1926-1929”, qual o artista não se prendeu a este
conceito de perspectiva, mas colocou bidimensionalmente uma miscelânea de elementos
culturais do nordeste que comunicavam e se harmonizavam como uma “Feira de Caruaru”,
onde “...de tudo que há no mundo, na feira tem pra vender...” (Luiz Gonzaga, RCA VICTOR,
1957).
Durante a observação do desenvolvimento da atividade em sala de aula, o professor
pode perceber que muitos daqueles alunos gostam de contornar com um lápis escuro ou
colorido, é bom motivo para que o professor procure pesquisar qual artista tem pinturas com
contornos bem definidos.

Pintura (como você quiser pintar, seja com lápis, canetas ou gizes). Neste
momento, a mediação do professor é importante quanto ao material e a técnica a serem
utilizados para a pintura, mas não deve ser um gesso na mão do aluno, ele escolhe o que lhe
apraz, pois é importante que ele se sinta bem com os resultados.

Socialização e exposição: sempre com a mediação do professor, os alunos
compartilham com os colegas suas descobertas e resultados, podendo expô-las para toda a
escola. Uma exposição e o toque final, a cereja do bolo, que também é parte integrante numa
vivência estética. O aluno se sente valorizado, vendo todo seu esforço recompensado.
O professor pode pedir para que o aluno faça um relatório, um registro detalhado da
experiência retomando pela memória, cada momento do processo de produção e
aprendizagem, sem desprezar sua avaliação pessoal do que gostou ou não, pois cada aluno
tem toda liberdade de colocar sua opinião sobre o trabalho e seu desenvolvimento. Uma
alternativa é o registro diário da atividade, mas vai de acordo com a característica da turma,
ou da necessidade do professor. Uma análise ou avaliação de todo processo, o momento de
recordar algumas sensações e sentimentos, podem ser compartilhados em roda de conversa.
30355

É importante que o aluno aprenda e exercite a reflexão sobre sua
aprendizagem, sobre sua prática. Assim também é com o professor, que, quando reflete sobre
sua prática, pode seguir melhorando, aprimorando-se.
A experiência educativa é, para Dewey, reflexiva, resultando em novos
conhecimentos. Deve seguir alguns pontos essenciais: que o aluno esteja numa
verdadeira situação de experimentação, que a atividade o interesse, que haja um
problema a resolver, que ele possua os conhecimentos para agir diante da situação e
que tenha a chance de testar suas ideias. Reflexão e ação devem estar ligadas, são
parte de um todo indivisível. Dewey acreditava que só a inteligência dá ao homem a
capacidade de modificar o ambiente a seu redor.(DEWEY, 2010).
A experiência com adultos
Além de desenvolver todo este trabalho com os alunos, tive a oportunidade de
compartilhar com algumas professoras, e com uma estudante de pedagogia. Todas gostaram
da atividade e disseram que assim ficava mais fácil ensinar alguns elementos das Artes
Visuais. Apesar de vivenciarem a experiência cada um em momentos diferentes, sem se
encontrarem, as integrantes deste grupo de adultos também enfatizou no início da aplicação
do primeiro passo do exercício que tinham dificuldade em desenhar, mas logo ficaram
surpresas com o resultado de seu próprio trabalho. Duas compartilharam com os filhos (uma
professora de História e a estudante de Pedagogia). Também foi realizada esta experiência
em 2003 a 2005 com alunos de E.J.A. (Educação de Jovens e Adultos) e foi o estímulo para
eu trabalhar com os alunos de Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano) de 2009 a 2012, como
também abriu caminho para o ingresso no Mestrado em Educação com o tema “Ensino de
Arte: Desafios e Possibilidades no Contexto da Alfabetização” pela Universidade Metodista
de São Paulo, concluído em 2013.
Concluindo e refletindo
Para fechar nossa conversa, posso dizer com satisfação, que os resultados que obtive e
obtenho com esta ação pedagógica, são gratificantes, de ambos os lados, principalmente
quando vejo o resultado no desenvolvimento intelectual, cultural e emocional dos alunos em
todo processo. As ideias não se limitam as que foram colocadas aqui neste relato.
A cada ano que experimento, vou inserindo mais artistas, e nestas vivencias, a gente
acaba cantando, desenvolvendo um canto grupal e/ou uma expressão corporal, encenando o
texto e penetrando (como diria Helio Oiticica) o contexto musical; é também o momento de
30356
ouvirmos MPB juntos, canções como “A Feira de Caruaru”; “Era uma casa muito
engraçada, não tinha teto, não tinha nada...”; “Casa de Campo”; ou “Lá vem o Brasil,
descendo a ladeira”, ou “Ladeira da Preguiça” onde eles têm contato como o audiovisual de
artistas consagrados da MPB como Luiz Gonzaga, Vinicius de Moraes, Elis Regina, Moraes
Moreira, entre outros artistas e canções que muitas vezes os alunos nunca ouviram sequer
falar.
O importante é repertoriar o aluno, de maneira atraente, divertida, de modo que lhe
sejam apresentadas as informações teóricas no contexto do trabalho, durante o processo, de
forma interligada com sua prática. A aprendizagem deve ser significativa para o aluno. Assim,
ele se satisfaz com as descobertas e fica estimulado a descobrir mais.
Quando o aluno é protagonista na ação pedagógica, se vê com autonomia em buscar
informações complementares e trocar experiências com os colegas. Não se sente desanimado,
desestimulado, prossegue aprendendo.
Longe de ser uma receita, é mais uma forma de compartilhar a exposição de ideias que
se entrelaçam, interligam, e formam outros caminhos, tomam outros rumos, mas sempre com
o objetivo inicial e final de fazer o aluno gostar de entender e fazer arte, na escola ou em
qualquer lugar, de modo que este aluno siga aprendendo a respeitar seu trabalho e dos outros,
seus limites e dos outros, compartilhando experiências, perceber a importância de conhecer
técnicas e artistas sem se prender a conceitos de certo e errado, na arte, a vivencia é
importante, ter uma experiência com qualidade estética é essencial, necessária e ocorre
continuamente como aprendemos com Dewey (2010), e produz a consciência do indivíduo no
mundo.
REFERÊNCIAS
CHRISTOV, Luiza Helena da Silva. MATTOS, Simone Ap. Ribeiro de. Arte Educação:
Experiências, Questões e Possibilidades. São Paulo: Expressão e Arte Editora, 2006.
DEWEY, John. Arte Como Experiência. São Paulo: Martins Fontes. 2010.
MARTINS, Miriam Celeste. Teoria e Prática do Ensino de Arte: A Língua do Mundo.
Volume único. Livro do Professor. 1ª edição, São Paulo. FTD, 2009.
SANDERLICH, Maria Emilia. Formação Inicial e Permanente do Professor de Arte na
Educação Básica. In: Cadernos de Pesquisa, n. 114, Departamento de Educação da
Universidade Estadual de Feira de Santana. Novembro/ 2001.
Download