ENTENDER, GOSTAR E FAZER ARTE: MAIS QUE UMA EXPERIÊNCIA Clauderice de Oliveira Ferreira Souza 1 Grupo de Trabalho – Educação, Arte e Movimento Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O que chamo aqui de experiência, vivencia, trabalho é uma proposta de aprendizagem em Artes Visuais. Esta proposta fora concebida a partir da necessidade de criar uma maneira prática de realizar uma sondagem dos conteúdos básicos em Artes Visuais dos alunos em geral, para saber o que haviam aprendido e apreendido destes conhecimentos que, como professora especialista na área, julgo necessários para que os alunos sigam aprendendo. A partir de então, a experiência foi desenvolvida em decorrência da necessidade de um plano de trabalho pedagógico que pudesse contemplar uma gama de conteúdos básicos para uma aprendizagem significativa, mais interligada, menos fragmentada e que estivesse de acordo com as expectativas de aprendizagem para o ensino de Artes. Em consequência desta busca encontrei alunos de escolas públicas do Estado e do Município de São Paulo desafiados a desenvolver um desenho com elementos básicos das Artes Visuais, tais como ponto, linha, plano, textura, espaço, forma, ilustração de fundo na imagem e pintura, de modo que os alunos se envolveram no processo e se sentiram estimulados a pesquisar biografias e técnicas. Na finalização do processo, os aprendizes fizeram um relatório descrevendo a caminhada passo a passo na forma de registro do processo da experiência, praticando a leitura e a escrita ou o fizeram na oralidade em roda de conversa e na exposição dos trabalhos finais. Também encontrei adultos com o mesmo dilema, do “eu não sei desenhar”, comumente encontrado entre os alunos. Mas, felizmente, tanto alunos quanto o grupo de adultos receberam a estratégia de maneira positiva, demonstrando mudança em sua maneira de ver a Arte na escola. Palavras-chave: Arte-Educação. Experiência. Pratica pedagógica. Introdução Este artigo surge do desejo de compartilhar a experiência de uma ação pedagógica que tem como características tanto a possibilidade de uma sondagem de conhecimentos em 1 Mestra em Educação pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), professora de Artes de Escolas Estadual e Municipal de São Paulo, auxiliar técnica do Grupo Escoteiro Jean Philippe Costeau – 173/SP em São Bernardo do Campo (UEB/SP) ramo lobo. ISSN 2176-1396 30348 elementos das artes visuais, quanto do acréscimo no repertório de conceitos e valores estéticos, biografias e técnicas para os alunos de artes. A ação pedagógica foi desenvolvida como um texto instrucional em que a cada etapa o aluno teve a oportunidade de perceber seu progresso enquanto autor de seu trabalho e, consecutivamente, participar do seu processo de aprendizagem. O resultado obtido desta experiência culminou em uma exposição dos trabalhos de artes visuais que em seu processo abrangia uma sucessão de exercícios de desenho, cor, ponto, linha, plano, textura, ilustração, arcos, quadriláteros, sobreposições de imagens, com alunos de escola pública municipal e estadual em São Paulo. Além dos alunos de duas escolas, uma de Fundamental II e outra de Fundamental II e Médio, ainda tive a oportunidade de compartilhar esta ideia com outras quatro professoras, duas especialistas em Artes, uma de História e uma estudante de pedagogia, sendo que estas duas últimas citadas, ensinaram para os seus filhos como um momento de descontração e foi este grupo de profissionais que me incentivaram a compartilhar esta experiência. Este exercício foi desenvolvido com a finalidade de atender minhas necessidades de ensino como professora, e as necessidades de aprendizagem dos meus alunos. Assim, surgiu a construção de um plano de trabalho pedagógico que pudesse contemplar conteúdos básicos para uma aprendizagem significativa, que interligasse o fazer, o ser e o aprender arte, de maneira menos fragmentada e que estivessem de acordo com as expectativas de aprendizagem. Em consequência desta busca encontrei alunos desafiados a desenvolver um desenho com elementos básicos das artes visuais, personalizados e a pesquisar biografias e técnicas. Encontrei-me envolvendo a todos num jogo de aprender e ensinar, onde os integrantes não eram um grupo comum, mas, parceiros: Há um instante mágico na vida em que, nem mesmo sabendo por que, ficamos envolvidos num jogo. Num jogo de aprender e ensinar. Fazemos parcerias. Não só com os outros, mas também parcerias internas nos propondo desafios. \porém, só ficamos nesse estado de total cumplicidade com o saber se este tem sentido para nós. Caso contrário, somos apenas espectadores do saber do outro. (MARTINS, 2009, p.117). É importante lembrar que todo professor tem uma bagagem cheia de conhecimentos técnicas, anseios, desejos e vontade de mostrar o que sabem em seu campo de trabalho (e estes sentimentos devem estar vivos e firmes durante toda a trajetória dos educadores, movendo-os). Entretanto, somente no local da atuação o professor terá o contato com as reais 30349 necessidades de seus alunos, e é a partir de sua vivência que entenderá o que precisará para preparar suas aulas respeitando o conhecimento destes alunos. Em sala de aula, pode ser comum nos depararmos com alunos apresentando muita dificuldade motora ou com pouca motivação para aprender arte ou qualquer outra disciplina, e acredito que a sondagem é uma estratégia necessária, rápida e, eficaz, de diagnóstico de aprendizagem, que possibilita ao professor conhecer para trabalhar as dificuldades dos alunos o quanto antes, a fim de planejar suas aulas do decorrer do ano letivo, respeitando as características individuais em cada turma. Sou professora especialista em Artes e observei uma grande quantidade de alunos com defasagem de aprendizagem dos conteúdos de artes ou com pouca motivação para ações como desenhar ou pintar. O objetivo aqui não é saber o que os desmotivou a aprender arte, mas buscar uma alternativa para que estes alunos descubram uma maneira de vivenciar a aprendizagem da arte com prazer. Entretanto, algo me chamou a atenção quando ouvi uma vez um aluno do ensino médio, me declarar que não entendia as aulas de Artes, e ao perguntar o porquê ele me respondeu com outra pergunta: Porque eu tenho que caprichar tanto para desenhar se alguns desenhos famosos não são tão “caprichados” como são exigidos que sejam os meus?... Porque eu tenho que pintar direitinho... se alguns quadros parecem um borrão de tinta, se o Van Gogh fosse aluno de tal professora ele seria reprovado. (ALUNO 1º ANO DO ENSINO MEDIO, 2015). Sua resposta me fez pensar em buscar outra maneira de iniciar meu ano letivo, um Plano B, que me garantisse pelo menos amenizar o que parecia um grito de socorro do que uma atitude de desprezo pela disciplina. Este era um aluno do ensino médio, mas, na mesma e em outra escola, eu percebi esta postura em alunos do ensino fundamental. Buscando alcançar respostas para estas questões e sondar os conhecimentos dos alunos, pensei em desenvolver um único trabalho, que abrangessem os elementos básicos das artes visuais como ponto, linha, plano, textura, espaço e forma, cor, ilustração, arcos, etc. Eu chamo de “O Casario”, que é desenvolvido passo a passo em cinco momentos ou estágios, e termina em relatório e exposição. Alguns exemplos de empecilhos no processo de ensino e aprendizagem em Artes podem ser a rotatividade de professores, caso não estejam fixados em uma mesma escola todos os anos e alguma dificuldade na preparação do planejamento das aulas do início do ano sem que venha causar descontinuidade, sem saber o quanto o aluno aprendeu ou mesmo se ele 30350 lembra o que lhe fora transmitido. Para tanto é necessário o envolvimento do professor, o quadro pode ser ou parecer o mesmo, mas o olhar deve ser diferenciado, mudar as estratégias acreditando que: Para possibilitar a sensibilização do estudante, é necessário que o próprio professor se envolva com ampla gama de experiências artístico-culturais. Somente uma pessoa que mantém viva a curiosidade, parte fundamental dessa condição humana que é o desejo de conhecer, não apagará a qualidade em outras pessoas, senão seus procedimentos se tornam mecânicos. (SANDERLICH, 2001, p.146). Uma resposta pronta? Não creio e nem é a minha intenção, mas quero compartilhar uma experiência que se caracteriza pela praticidade na ação pedagógica e que achei por bem compartilhar o processo e resultados obtidos visando contribuir com a arte-educação. Analisando a minha prática, percebi que esta proposta de atividade pode ser utilizada em todos os níveis de escolaridade, pois sua pré- produção traz um clima de novidade que surpreende o aluno quando da construção e desenvolvimento passo a passo do trabalho, em que o aluno aprende sobre um determinado elemento visual, e o professor, por sua vez pode apresentar um artista que utiliza e/ou é reconhecido por utilizar tal elemento em suas obras. A minha preocupação com um planejamento de aulas que estimulassem o aluno, trazendo a tona sua inata criatividade e reconhecimento das linguagens artísticas como mais um idioma para ele se comunicar, vou criando, como afirma Christov “estruturas para conhecer” ao pensar em: ...um planejamento de aulas pleno de situações novas a serem conhecidas, plenas de perguntas que desafiassem os alunos a sofrerem desequilíbrios cognitivos e não a preocupação da formação para a criatividade, mas o planejamento para experiências de conhecimento. (CHRISTOV, 2006, p. 13). Lembrando que o objetivo desta experiência é fazer uma sondagem da aprendizagem de elementos básicos para composição plástica das Artes Visuais, repertoriar o aluno em artes visuais bem como trabalhar “as habilidades básicas de ouvir, criar, decidir, resolver problemas, somadas às qualidades pessoais de autoestima e sociabilidade” do aluno (SANDERLICH, 2001, p.143). Esta experiência foi vivida numa escola de periferia da Grande São Paulo em que me ocorreu ideia de desenvolver um único exercício. Objetivos Lembrando que o objetivo primário da ação pedagógica foi buscar uma alternativa para que meus alunos viessem a descobrir uma maneira de vivenciar a aprendizagem da arte 30351 com prazer e confiança, sem os argumentos defensivos e depreciativos, do “não sei fazer, não sei desenhar“. Pensando nisso, proponho uma lista de objetivos possíveis para a realização deste trabalho, ou, melhor dizendo, desta experiência artístico-estética tão necessária como defende Dewey (2010), que se seguem: 1- Promover a autoestima do aluno para o desenvolvimento de atividades nas artes visuais. 2- Auxiliar o aluno na construção do conhecimento e na aplicação dos elementos básicos das artes visuais. 3- O aluno irá desenvolver seu próprio desenho partindo de formas simples, através do exercício de observação. 4- O aluno exercitará o entendimento de princípios e valores estéticos. 5- O aluno treina os conteúdos ensinados de maneira divertida e desafiadora, pois ele participará de todo o processo de desenvolvimento de sua obra artística /O aluno vai construir seu desenho observando seu progresso passo a passo. 6- O professor tem a possibilidade de fazer uma sondagem de seus alunos no tocante ao seu conhecimento prévio destes sobre elementos básicos da arte visual como desenho, pintura, ilustração, fundo e imagem, textura, perspectiva, sobreposição dos elementos, linha, ponto, plano, luz e sombra... O desenvolvimento do trabalho acontece de acordo com uma sequencia de tópicos no processo que vão do exercício da observação, atenção e concentração até a pintura final do desenho, que principalmente aos alunos que se dizem com mais dificuldades ficarão surpresos e contentes com o resultado. Neste processo, pude observar o desenvolvimento do aluno tanto na esfera intelectual, cultural como também emocional, haja vista a grande quantidade de alunos que se impressionaram com o próprio trabalho e mostraram surpresos ao depararem com a liberdade que tiveram quando planejaram e fizeram a ilustração do fundo do “casario” que chamaram de “comunidade”, “morro do Rio de Janeiro”, ou fizeram menção a comunidades do entorno da escola, ou onde moravam. Desenvolvimento do trabalho O caminho percorrido com e para os alunos. 30352 O trabalho foi desenvolvido como um instrucional onde passo a passo se concretizou na elaboração do desenho de um casario que foi tomando forma a partir da composição dos elementos visuais desde os primeiros riscos até sua finalização. Observação - instrucional (o mestre mandou: sigam meus traços se puderem) O primeiro momento foi uma preparação, do aluno com a ideia do que iria surgir; do suspense em relação a obedecer à voz de comando do professor, pois assim que os alunos recebiam a folha de trabalho, foram utilizadas frases como: “Peguem apenas o lápis e preste atenção em cada movimento meu, cada risco que eu fizer no retângulo que está na lousa que é a representação da folha que vocês têm na carteira”. Este era o momento dos alunos perceberem a posição em que a folha deveria estar, pois o retângulo da lousa estava desenhado na posição vertical. Corrigindo, completando, preenchendo (complete o seu desenho). No final do primeiro momento acima citado, os alunos tem uma espécie de esboço, sendo que alguns preencheram todo espaço da folha de trabalho, enquanto outros chegaram até a metade da folha preenchida com casas, outros fizeram com traços tão curtos que as casas ficaram bem pequenas, sobrando bastante espaço em branco no papel. Como o desenvolvimento desenho foi num exercício passo a passo, seguindo o mestre, que foi traçando linhas sem uma sequencia lógica a princípio, para que seja uma surpresa para o aluno, estimulando a curiosidade, a vontade de saber o próximo passo, têm-se como resultado diferentes pontos de vista, ou maneiras de observar e seguir as linhas de comando. Assim, temos composições de linhas, formando casas que preenchem todo o espaço da folha, outros nem tanto, e outros que fazem um desenho bem pequeno, que ocupa um pequeno espaço da folha, sobrando bastante espaço sem desenho. É boa hora para ensinar aos alunos, que há diferenças na maneira de ver um mesmo objeto ou imagem, bem como há diferenças quando na construção de um projeto com o mesmo tema e objetivo que podem seguir caminhos diferentes e proporcionar resultados diferentes. É bom orientar o aluno que não há certo ou errado na construção de um quadro, entender que há um processo e não podemos descartar nem desprezar experiências vividas durante o processo ou em função dele. Aqui também o aluno aprende sobre a importância do equilíbrio dos elementos no espaço plano. E para consertar tudo isso? É só mostrar para os alunos que durante todo o tempo eles estavam desenhando uma sucessão de trapézios e duas linhas verticais, ou meio trapézio com uma linha vertical e assim formando as sobreposições e completando os espaços que 30353 sobraram sem desenho seguindo na diagonal até a parte inferior da folha. De imediato, o aluno tem a reação de jogar aquele papel fora e começar tudo de novo, baseado no que ele acredita ser o resultado, mas aí o professor media lembrando que não é um jogo de certo e errado, o importante é o que vai acontecendo com o desenho e com o aluno durante todo o processo, e este é um dos motivos que os desenhos finais têm resultados tão diferentes. Texturas (traços e cores nos telhados, amigos de Romero Britto e Aleksandro Reis). Mostrar aos alunos que combinando linhas retas, quebradas, curvas, ou entrelaçandoas, combinando com pontos diversos e formando grafismos divertidos, como Romero Britto e Aleksandro Reis, que trouxeram todo o lúdico colorido para a pintura em quadros, murais, objetos e espaços de arte. O aluno tem o contato com o trabalho de Aleksandro Reis, um importante contribuinte para a Arte urbana, e como figura representante e referência do ABC paulista com seus murais da cidade de São Caetano do Sul. Arcos e quadriláteros formam janelas e portas com um ar interiorano, lembrando o estilo barroco mineiro, e tendo como referência as obras e o estilo de Alfredo Volpi. Com um pouco de formas arredondadas, trazemos Tarsila do Amaral pra perto dos alunos. Neste estagio, o desenho do casario já tem uma forma definida, com arcos e quadriláteros, os alunos vão criando portas e janelas, com sobreposições, dando um charme especial a cada casa. O contato com os casarios, as fachadas e portas de Alfredo Volpi, e também o “Morro da Favela” de Tarsila do Amaral, tornando a experiência mais divertida, e muitos comentam que o desenho deles está mais bonito, porque tem mais detalhes, e à sua maneira vão fazendo comparações. Ilustração (fundo e imagem, perspectiva, criação livre, de Da Vinci a Cícero Dias). Como elementos ilustrativos é comum nestes desenhos observarmos muitas pipas no céu, como referencia ao cotidiano dos alunos em suas horas de lazer, assim como também havia desenhos de armas e balas no céu, ilustrando signos da violência como representantes da realidade. Curiosamente, os primeiros alunos que ilustraram o fundo do desenho com a representação de tiroteios, mostravam o desenho com tom de gozação, mas quando eu passava, para olhar os desenhos nas carteiras, durante o processo de criação, eu dizia “bom, bom... correto... está ok... está indo bem...”, os alunos riam e começavam a comentar os 30354 elementos representativos da composição e eu só respondia: “ você está contente com o seu trabalho? Vá em frente, é real pra você, seu desenho é real.” Diante desta realidade, é necessário entender e fazer-se entender que, quando o aluno, faz uma crítica, está mostrando sua maneira de mostrar o que, como vê e se sente. No momento da teoria prepara-se o aluno para a descoberta de algum artista; cito como exemplo: Leonardo Da Vinci que ao ilustrar o fundo de quadros como a “Modaliza (Da Vinci, 1503 – 1517, Museu do Louvre, FR) e” A Madona das Rochas (Da Vinci, 1483 – 1486, Museu do Louvre, FR, Nacional Gallery, Londres, ING)”, trouxe elementos da perspectiva como a profundidade. Outro artista que pode ser bem explorado é Cícero Dias, com o quadro “Eu vi o mundo...ele começava no Recife 1926-1929”, qual o artista não se prendeu a este conceito de perspectiva, mas colocou bidimensionalmente uma miscelânea de elementos culturais do nordeste que comunicavam e se harmonizavam como uma “Feira de Caruaru”, onde “...de tudo que há no mundo, na feira tem pra vender...” (Luiz Gonzaga, RCA VICTOR, 1957). Durante a observação do desenvolvimento da atividade em sala de aula, o professor pode perceber que muitos daqueles alunos gostam de contornar com um lápis escuro ou colorido, é bom motivo para que o professor procure pesquisar qual artista tem pinturas com contornos bem definidos. Pintura (como você quiser pintar, seja com lápis, canetas ou gizes). Neste momento, a mediação do professor é importante quanto ao material e a técnica a serem utilizados para a pintura, mas não deve ser um gesso na mão do aluno, ele escolhe o que lhe apraz, pois é importante que ele se sinta bem com os resultados. Socialização e exposição: sempre com a mediação do professor, os alunos compartilham com os colegas suas descobertas e resultados, podendo expô-las para toda a escola. Uma exposição e o toque final, a cereja do bolo, que também é parte integrante numa vivência estética. O aluno se sente valorizado, vendo todo seu esforço recompensado. O professor pode pedir para que o aluno faça um relatório, um registro detalhado da experiência retomando pela memória, cada momento do processo de produção e aprendizagem, sem desprezar sua avaliação pessoal do que gostou ou não, pois cada aluno tem toda liberdade de colocar sua opinião sobre o trabalho e seu desenvolvimento. Uma alternativa é o registro diário da atividade, mas vai de acordo com a característica da turma, ou da necessidade do professor. Uma análise ou avaliação de todo processo, o momento de recordar algumas sensações e sentimentos, podem ser compartilhados em roda de conversa. 30355 É importante que o aluno aprenda e exercite a reflexão sobre sua aprendizagem, sobre sua prática. Assim também é com o professor, que, quando reflete sobre sua prática, pode seguir melhorando, aprimorando-se. A experiência educativa é, para Dewey, reflexiva, resultando em novos conhecimentos. Deve seguir alguns pontos essenciais: que o aluno esteja numa verdadeira situação de experimentação, que a atividade o interesse, que haja um problema a resolver, que ele possua os conhecimentos para agir diante da situação e que tenha a chance de testar suas ideias. Reflexão e ação devem estar ligadas, são parte de um todo indivisível. Dewey acreditava que só a inteligência dá ao homem a capacidade de modificar o ambiente a seu redor.(DEWEY, 2010). A experiência com adultos Além de desenvolver todo este trabalho com os alunos, tive a oportunidade de compartilhar com algumas professoras, e com uma estudante de pedagogia. Todas gostaram da atividade e disseram que assim ficava mais fácil ensinar alguns elementos das Artes Visuais. Apesar de vivenciarem a experiência cada um em momentos diferentes, sem se encontrarem, as integrantes deste grupo de adultos também enfatizou no início da aplicação do primeiro passo do exercício que tinham dificuldade em desenhar, mas logo ficaram surpresas com o resultado de seu próprio trabalho. Duas compartilharam com os filhos (uma professora de História e a estudante de Pedagogia). Também foi realizada esta experiência em 2003 a 2005 com alunos de E.J.A. (Educação de Jovens e Adultos) e foi o estímulo para eu trabalhar com os alunos de Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano) de 2009 a 2012, como também abriu caminho para o ingresso no Mestrado em Educação com o tema “Ensino de Arte: Desafios e Possibilidades no Contexto da Alfabetização” pela Universidade Metodista de São Paulo, concluído em 2013. Concluindo e refletindo Para fechar nossa conversa, posso dizer com satisfação, que os resultados que obtive e obtenho com esta ação pedagógica, são gratificantes, de ambos os lados, principalmente quando vejo o resultado no desenvolvimento intelectual, cultural e emocional dos alunos em todo processo. As ideias não se limitam as que foram colocadas aqui neste relato. A cada ano que experimento, vou inserindo mais artistas, e nestas vivencias, a gente acaba cantando, desenvolvendo um canto grupal e/ou uma expressão corporal, encenando o texto e penetrando (como diria Helio Oiticica) o contexto musical; é também o momento de 30356 ouvirmos MPB juntos, canções como “A Feira de Caruaru”; “Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada...”; “Casa de Campo”; ou “Lá vem o Brasil, descendo a ladeira”, ou “Ladeira da Preguiça” onde eles têm contato como o audiovisual de artistas consagrados da MPB como Luiz Gonzaga, Vinicius de Moraes, Elis Regina, Moraes Moreira, entre outros artistas e canções que muitas vezes os alunos nunca ouviram sequer falar. O importante é repertoriar o aluno, de maneira atraente, divertida, de modo que lhe sejam apresentadas as informações teóricas no contexto do trabalho, durante o processo, de forma interligada com sua prática. A aprendizagem deve ser significativa para o aluno. Assim, ele se satisfaz com as descobertas e fica estimulado a descobrir mais. Quando o aluno é protagonista na ação pedagógica, se vê com autonomia em buscar informações complementares e trocar experiências com os colegas. Não se sente desanimado, desestimulado, prossegue aprendendo. Longe de ser uma receita, é mais uma forma de compartilhar a exposição de ideias que se entrelaçam, interligam, e formam outros caminhos, tomam outros rumos, mas sempre com o objetivo inicial e final de fazer o aluno gostar de entender e fazer arte, na escola ou em qualquer lugar, de modo que este aluno siga aprendendo a respeitar seu trabalho e dos outros, seus limites e dos outros, compartilhando experiências, perceber a importância de conhecer técnicas e artistas sem se prender a conceitos de certo e errado, na arte, a vivencia é importante, ter uma experiência com qualidade estética é essencial, necessária e ocorre continuamente como aprendemos com Dewey (2010), e produz a consciência do indivíduo no mundo. REFERÊNCIAS CHRISTOV, Luiza Helena da Silva. MATTOS, Simone Ap. Ribeiro de. Arte Educação: Experiências, Questões e Possibilidades. São Paulo: Expressão e Arte Editora, 2006. DEWEY, John. Arte Como Experiência. São Paulo: Martins Fontes. 2010. MARTINS, Miriam Celeste. Teoria e Prática do Ensino de Arte: A Língua do Mundo. Volume único. Livro do Professor. 1ª edição, São Paulo. FTD, 2009. SANDERLICH, Maria Emilia. Formação Inicial e Permanente do Professor de Arte na Educação Básica. In: Cadernos de Pesquisa, n. 114, Departamento de Educação da Universidade Estadual de Feira de Santana. Novembro/ 2001.