ARS VETERINARIA, 16(2):112-117, 2000. 112 DETERMINAÇÃO DE IVERMECTINA EM AMOSTRAS DE PLASMA BOVINO PARA FINS DE ESTUDO DE BIOEQUIVALÊNCIA (DETERMINATION OF IVERMECTIN IN BOVINE PLASMA FOR BIOEQUIVALENCY STUDIES) L. B. COUTO1, R. G. BARBOSA1, L. R. L. PEREIRA1, P. C. B. REZENDE2, A. J. COSTA2 RESUMO O presente trabalho avaliou a bioequivalência de duas formulações farmacêuticas, para uso veterinário, contendo Ivermectina 1%, sendo uma delas como referência. As concentrações plasmáticas de Ivermectina, em 504 amostras de sangue colhidas de 18 bovinos, distribuídos em dois grupos, foram determinadas por cromatografia líquida de alta eficiência com detector de fluorescência, após processo de derivatização. Nenhuma alteração clínica ou hematológica (hematócrito, contagem de leucócitos e níveis de uréia) foi observada nos bovinos medicados com os dois compostos. Segundo os parâmetros farmacocinéticos determinados conforme a legislação vigente, que regula a produção de medicamentos genéricos para humanos, as duas formulações avaliadas mostraram-se bioequivalentes. PALAVRAS- CHAVE: Ivermectina, bioequivalência, exames hematológicos, bovinos. SUMMARY The present work evaluated the bioequivalency of two commercial 1% Ivermectin formulae, one used as reference product. The plasmatic concentrations of Ivermectin, in 504 blood samples taken from 18 steers, distributed in two groups, were determined by high performance liquid chromatography (HPLC), with fluorescence detector, after a derivation process. Clinical and hematological (hematocrit, white cell count and blood urea nitrogen levels) examination showed no alterations in the animals medicated with both formulations. The pharmacokinetic parameters, determined according to brazilian law that regulates the production of generic medicaments for humans, showed that both evaluated formulations to be bioequivalent. KEY-WORDS: Ivermectin, bioequivalency, hematological analysis, cattle. INTRODUÇÃO As avermectinas são lactonas macrocíclicas, estruturalmente complexas, porém, estreitamente relacionadas entre si. A ivermectina (CAS70288-86-7) faz parte deste grupo de compostos e foi introduzida como fármaco antiparasitário em 1981 (CAMPBELL, 1989). A fermentação do actinomiceto Streptomyces avermitilis produz quatro pares homólogos de compostos estreitamente relacionados, um dos quais serve de base para o análogo semi-sintético 22, 23-dihidro avermectin B1, o qual tem sido usado pela designação genérica de ivermectina. Esse fármaco, dotado de potente atividade antiparasitária, tem se mostrado eficaz no tratamento contra um grande espectro de endo e ectoparasitos (CAMPBELL, 1989, SILVA et al. 1995, MEEUS et al., 1997; MILLER 1 Professores de Farmacologia – Curso de Ciências Farmacêuticas – Universidade de Ribeirão Preto – 14096-380, Ribeirão Preto, SP, Brasil – e-mail: [email protected] 2 Centro de Pesquisas em Sanidade Animal – CPPAR/Departamento de Patologia Veterinária – FCAVJ - UNESP 113 ARS VETERINARIA, 16(2):112-117, 2000. et al., 1997; WILLIAMS et al., 1999; LIFSCHITZ et al., 1999a; LIFSCHITZ et al., 1999b; ANZIANI et al., 2000; LIFSCHITZ et al, 2000). Segundo ARANCÍBIA, (1992) e STOPIRTIS & CONSIGLIERI (1995), parâmetros farmacocinéticos, como área sob a curva do gráfico de concentração plasmática do fármaco analisado em função do tempo, concentração máxima atingida no plasma em função do tempo, tempo no qual a concentração máxima foi atingida, além de tempos de meia-vida de eliminação e coeficiente de variação, são preconizados para estudos de biodisponibilidade e bioequivalência. De acordo com a Lei número 9787 (Regulamentação de Medicamentos Genéricos), de 03 de Agosto de 1999, a biodisponibilidade está relacionada à “velocidade e à extensão de absorção de um princípio ativo em uma forma de dosagem a partir de sua curva de concentração/tempo na circulação sistêmica ou sua excreção na urina”. A ivermectina tem sido determinada em amostras de plasma por cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) com detector de fluorescência, após processo de derivatização (MONTIGNY et al, 1990; RABEL et al, 1993; REISING 1998). No presente trabalho foi avaliada a bioequivalência de duas formulações de Ivermectina 1%*, sendo uma delas como referência, em amostras de plasma de bovinos. MATERIAL E MÉTODOS Bovinos Foram selecionados 18 bovinos da raça Nelore, fêmeas, com idade aproximada de 8 a 12 meses, os quais não haviam recebido tratamento com qualquer lactona macrocíclica nos últimos seis meses. Os animais foram pesados e, após identificação com brincos plásticos numerados, listados em ordem decrescente de acordo com o peso individual. Em seguida, os primeiros dois animais foram alocados um para cada grupo e, assim, por diante até que, ao final, se obtivesse dois grupos de nove animais com pesos médios semelhantes. Os bovinos foram instalados em baias individuais onde permaneceram durante o período experimental. Por sorteio, um dos grupos (I) de bovinos recebeu o tratamento com a formulação contendo 1% de Ivermectina referência* (Partida: 130/98) e o outro grupo (II) outra formulação também contendo Ivermectina 1%* * (Partida 010/99). Os animais foram medicados, via subcutânea, de acordo com as dosagens recomendadas pelos fabricantes (200μg/kg). Após a administração dos medicamentos, os animais foram observados diariamente _________________________________________________________________________________________________ * Ivomec - Merial Saúde Animal Ltda. (referência) Ivermectina 1% Ouro Fino – Produtos Veterinários Ouro Fino Ltda. ** até o término do período experimental, anotando-se quaisquer sinais clínicos que eventualmente pudessem apresentar. Análises hematológicas Para avaliação de parâmetros hematológicos (hematócrito, contagem de leucócitos e níveis de uréia) foram colhidas amostras de sangue, em todos os animais, imediatamente antes dos tratamentos e no final do período experimental. As determinações hematológicas foram realizadas de acordo com KANEKO (1989). Fases experimentais (I e II) Fase I Amostras de sangue foram colhidas, de todos os animais, na seguinte periodicidade: 1, 3, 6, 12, 24, 48, 72 horas, 5, 7, 9, 14, 21 e 28 dias pós-tratamento. As amostras de plasma obtidas foram armazenadas a -20oC, para posteriores análises dos níveis plasmáticos dos fármacos administrados. Fase II No 28o dia pós-tratamento, após a última colheita de sangue (Fase I), os animais foram mantidos nas baias e não receberam nenhum tipo de medicação por 29 dias. Este “intervalo” foi considerado suficiente para a completa eliminação dos fármacos. No 21o dia deste “intervalo” foi realizada uma colheita de sangue para confirmação da baixa concentração plasmática dos fármacos aplicados. Decorridos 29 dias de intervalo dos tratamentos, iniciou-se a segunda fase do experimento (Fase II). Nesta, manteve-se os mesmos grupos, com os mesmos animais, porém os tratamentos foram invertidos, ou seja, cada animal foi medicado com a formulação diferente daquela recebida na primeira fase. Antes da inversão dos tratamentos, todos os animais foram novamente pesados para cálculo das dosagens a serem administradas. Realizouse, ainda, nesta segunda fase, colheitas de sangue de cada bovino, na mesma periodicidade estabelecida na primeira fase, para análises hematológicas e níveis plasmáticos de ivermectina. Determinação de Ivermectina por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) A 1,0 mL de plasma foram adicionados 50 μL de padrão interno, 1,0 mL de solução de acetona; água (50:50 v/v) e 6,0 mL de isooctano em um tubo de vidro, cônico, com tampa esmerilhada. A extração foi realizada sob agitação por 10 minutos. Após centrifugação, a fase orgânica foi separada e evaporada (50° C) em tubo de vidro silanizado. O resíduo seco foi reconstituído com 100 μL da mistura derivatizante [ dimetilformamida / anidrido acético / 1 – metilmidazol (9:3:2 v/v/v)] e aquecido a 100° ARS VETERINARIA, 16(2):112-117, 2000. 114 C durante 1 hora. Após o resfriamento, 1,0 mL de clorofórmio foi adicionado ao tubo e agitado em mixer. O extrato obtido pela derivatização (de cor marrom), foi adicionado em colunas de sílica pré-condicionadas com 3,0 mL de clorofórmio. A eluição foi realizada utilizandose 8,0 mL de clorofórmio. O eluato purificado foi evaporado (50°C) e reconstituído com 100 μL de metanol e uma alíquota de 50 μL foi injetada no CLAE Varian 9012, detector de fluorescência Varian 9070 e comprimentos de onda de 364 nm e 440 nm de excitação e emissão, respectivamente. Os compostos foram separados em coluna C18 Varian (250,0 x 4,6 mm) (5,0 μm) e fase móvel, metanol / água (95:5 v/v) com fluxo de 1,8 mL/minuto. Todas estas análises foram realizadas no Laboratório de Biofarmacotoxicologia da Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP. zero até o último tempo de colheita, C*, à concentração plasmática neste último tempo e Kel, a constante de eliminação, determinada por meio da expressão matemática: Kel = 0,693 / t½ el. Os tempos de meia-vida de eliminação (t½ el.) foram obtidos graficamente relacionandose os logaritmos das concentrações plasmáticas dos fármacos em função do tempo (h). Os valores de MRT (Mean Residence Time) foram determinados através da seguinte expressão matemática: MRT = AUMC0-∞/AUC0∞, onde AUMC0-∞ = ASC0-t + C*.t* / Kel + C* / Kel2. (C*.t* representa a concentração do produto no último tempo avaliado de colheita). O coeficiente de variação (CV) foi determinado segundo a expressão matemática: CV = Cmáx / ASC0-t (SRINIVASU et al, 2000). Análise estatística Foi realizada através da análise de variância (ANOVA) e dois testes estatísticos adicionais para comparações pareadas entre as médias (Test t e Tuckey), seguindo o que é sugerido pela Legislação vigente no Brasil, que regula a produção de medicamentos genéricos para humanos, como também o que preconiza o Federal Drug Administration (FDA), E.U.A. Estabilidade de Ivermectina em amostras de plasma Amostras de plasma bovino de referência, livres de ivermectina, foram enriquecidas com os fármacos em estudo, nas concentrações de 25 ng/mL. Estas amostras foram armazenadas em freezer e a cada sete dias, durante dois meses, uma fração representativa (1mL) foi descongelada e determinada a concentração de ivermectina, segundo a metodologia anteriormente citada. RESULTADOS E DISCUSSÃO Análises farmacocinéticas Neste estudo foi considerada a biodisponibilidade absoluta, avaliada pela área sob a curva do tempo zero ao infinito e definida pela equação: ASC0-∞ = ASC0-t + C*/ Kel, onde ASC0-t corresponde à área sob a curva do tempo Parâmetros clínicos e hematológicos Os resultados dos exames clínicos e hematológicos (hematócrito, contagem de leucócitos e uréia), realizados em todos os animais, no início e Tabela 1 - Valores hematológicos e ponderais obtidos de bovinos antes e imediatamente após tratamento (200 μg/kg) com duas formulações de ivermectina. UNAERP, Ribeirão Preto - SP, Brasil. IVERMECTIN** IVERMECTIN* o N dos b o v in o s 96 98 250 86 237 100 82 84 97 m é d ia 83 247 238 94 243 95 249 85 99 m é d ia V o lu m e in je ta d o (m L ) 2 ,9 2 2 ,6 0 2 ,6 0 2 ,5 0 2 ,4 4 2 ,1 4 2 ,1 4 2 ,0 6 2 ,0 2 2 ,3 8 2 ,8 8 2 ,8 4 2 ,5 6 2 ,5 0 2 ,3 0 2 ,2 4 2 ,1 4 2 ,1 0 1 ,8 4 2 ,3 8 A n te s d o T ra ta m e n to H e m a to c rito (% ) 35 43 34 37 31 30 39 40 42 4 ,0 9 36 41 41 39 32 44 38 35 42 3 8 ,6 7 -1 L e u c ó c ito (μ l ) 9100 9800 10000 11800 11900 6500 9700 8800 9500 1 0 7 5 ,3 1 11000 11800 11700 10000 11700 9500 10000 9200 7700 1 0 2 8 8 ,8 9 *Ivomec injetável -Merial Saúde Animal Ltda. ** Ivermectina 1% Ouro Fino - Produtos Veterinários Ouro Fino Ltda. ***NS= não significativo (P > 0.05) A p ó s o tra ta m e n to U ré ia (m g /d l) 1 8 ,9 0 2 3 ,8 0 1 8 ,8 0 3 1 ,9 0 2 7 ,3 0 2 8 ,9 0 2 6 ,9 0 2 2 ,9 0 2 3 ,5 0 2 ,7 5 2 2 ,8 9 2 3 ,6 0 3 7 ,6 0 3 9 ,0 0 2 7 ,8 0 3 9 ,9 0 3 5 ,9 0 2 4 ,8 0 1 7 ,9 0 2 9 ,9 3 H e m a to c rito (% ) 38 44 32 38 41 35 44 43 35 4 ,3 2 43 40 39 35 29 34 24 34 33 3 4 ,5 6 -1 L e u c ó c ito (μ l ) 6550 8900 5800 11950 10000 4900 8200 9700 8400 9 1 8 ,5 2 10000 7550 11950 7000 9060 6600 11300 6900 9000 8 8 1 7 ,7 8 U ré ia (m g /d l) 3 2 ,8 0 2 4 ,8 0 2 1 ,8 0 2 9 ,7 0 3 2 ,3 0 2 8 ,7 0 1 8 ,9 0 1 7 ,9 0 4 0 ,3 0 3 ,0 5 1 2 ,9 0 3 2 ,4 0 2 6 ,8 0 3 6 ,8 0 2 4 ,8 0 2 7 ,8 0 2 3 ,7 0 2 6 ,9 0 3 1 ,6 0 2 7 ,0 8 115 ARS VETERINARIA, 16(2):112-117, 2000. Tabela 2 - Concentrações de ivermectina (ng/mL) em amostras de plasma de bovinos medicados com a formulação* Produtos Veterinários Ouro Fino Ltda (Fases I e II). UNAERP, Ribeirão Preto – SP, Brasil. Tabela 3 - Concentrações de ivermectina (ng/mL) em amostras de plasma de bovinos medicados com a formulação* – Merial Saúde Animal Ltda (Fases I e II). UNAERP, Ribeirão Preto – SP, Brasil. imediatamente após o período experimental (Tabela 1), demonstraram que os mesmos apresentavam-se dentro dos parâmetros de normalidade para a espécie bovina (KANEKO, 1989). Determinação de Ivermectina por CLAE O método analítico desenvolvido apresentou sensibilidade (limite de detecção 5,0 ng/mL) e especificidade (ausência de interferentes como compostos endógenos presentes no plasma ou resíduos de reagentes utilizados no processo de extração). A linearidade foi confirmada no intervalo de 5,0 a 80 ng/mL pelo coeficiente de correlação r = 0,998. A repetibilidade analítica (precisão) foi avaliada através da determinação dos coeficientes de variação, os quais mostraram valores inferiores a 10 %. As concentrações plasmáticas de Ivermectina 1% (Produtos Veterinários Ouro Fino Ltda) e de IvomecÒ (Merial Saúde Animal Ltda) nas diferentes ARS VETERINARIA, 16(2):112-117, 2000. 116 Tabela 4 - Parâmetros farmacocinéticos obtidos pela administração subcutânea de 200μg/kg de Ivermectina 1% (Produtos Veterinários Ouro Fino Ltda.) e Ivomec® (Merial Saúde Animal Ltda.), em dose única, em 18 bovinos. T ra ta m e n to ASC ASC 0 -∞ CV 0 -t M RT ( n g .h .m l-1 ) ( n g .h .m l -1 ) (h ) T 1 /2 e l. (h ) T m áx ( n g .h .m l-1 ) C m áx. ( n g /.m l) M é d ia ± d e s v io p a d rã o Iv e rm e c tin a a 1% F ase I Iv e rm e c tin a a 1% F a s e II Iv o m e c F ase I 1 2 .7 6 5 ,1 8 ± 3 .2 2 2 ,1 8 1 1 .6 7 6 ,7 7 ± 3 .1 4 4 ,9 9 0 ,0 0 3 6 ± 0 ,0 0 1 3 8 6 ,2 8 ± 3 7 ,9 9 1 3 6 ,0 0 ± 3 7 ,0 4 5 3 ,3 3 ± 1 0 ,5 8 4 6 ,7 8 ± 1 6 ,6 4 1 7 .9 2 0 ,0 9 ± 2 .0 6 7 .0 0 1 6 .6 2 3 ,1 0 ± 1 .8 4 7 ,0 6 0 ,0 0 3 7 ± 0 ,0 0 0 5 7 2 ,5 1 ± 4 8 ,3 5 2 4 8 ,0 0 ± 4 8 ,6 5 5 3 ,3 3 ± 1 0 ,5 8 6 0 ,7 2 ± 1 3 ,8 4 1 2 .3 3 8 ,6 7 ± 3 .2 4 7 ,0 0 1 0 .6 4 2 ,2 6 ± 2 .9 1 9 ,4 7 0 ,0 3 3 ± 0 ,0 0 0 7 1 6 9 ,7 2 ± 1 2 4 ,9 5 2 0 5 ,0 0 ± 7 1 ,1 0 5 3 ,3 3 ± 1 0 ,5 8 3 3 ,1 6 ± 1 0 ,9 8 Iv o m e c F a s e II 1 4 .6 6 7 ,2 6 ± 3 .1 7 6 ,0 5 1 3 .7 1 9 ,4 9 ± 3 .2 4 0 ,1 1 0 ,0 4 2 ± 0 ,0 0 0 6 6 7 ,6 9 ± 4 5 ,5 8 1 2 9 ,0 0 ± 4 8 ,0 1 6 4 ,0 0 ± 1 2 ,0 0 5 8 ,0 0 ± 1 6 ,4 2 Concentrações plasmáticas (ng/mL) * O s c á lc u lo s fo r a m r e a liz a d o s e m m o d e lo n ã o -c o m p a r tim e n ta l 70 Ivermectina Fase I Seqüência1 60 Seqüência2 Ivermectina Fase II 50 Seqüência3 Ivomec Fase I Seqüência4 Ivomec Fase II 40 30 20 10 0 0 200 400 600 800 Tempo (h) Figura 1 - Concentrações plasmáticas de Ivermectina 1% (Produtos Veterinários Ouro Fino Ltda.) e Ivomec ® (Merial Saúde Animal Ltda.) em bovinos. Concentrações menores do que 5 ng/ mL não foram consideradas. fases do experimento são apresentadas nas Tabelas 2 e 3. As determinações das concentrações plasmáticas do referido fármaco, nas duas formulações, no período denominado “intervalo”, já definido ao longo deste texto, foram menores que o limite de detecção do método analítico (5,0 ng/mL). Estabilidade de Ivermectina em amostras de plasma As concentrações de ivermectina determinadas em amostras de plasma, armazenadas em freezer, durante 60 dias, apresentaram variações menores que 10%. Por estes resultados, pode-se constatar a estabilidade da ivermectina, nas condições avaliadas. Análises farmacocinéticas As curvas das médias das concentrações plasmáticas do princípio ativo, contido nas duas formulações avaliadas, em bovinos, em função do tempo, estão representadas na Figura 1. As concentrações plasmáticas máximas (Cmáx), determinadas para cada animal de experimentação, foram atingidas em 53,33 h (Tmáx), em média, após as administrações de Ivermectina 1% (Produtos Veterinários Ouro Fino Ltda.) nas fases I e II. Para o Ivomec® (Merial Saúde Animal Ltda.) na Fase I obteve-se os mesmos valores de (Tmáx) encontrados para a Ivermectina 1% (Produtos Veterinários Ouro Fino Ltda.), sendo que, no entanto, na fase II, o valor de (Tmáx) foi de 64,00 h. Dentre os parâmetros farmacocinéticos propostos por STORPIRTIS & CONSIGLIERI (1995), GLEITER et al (1998) e OLLING et al (1999), para fins de comparação em estudos de biodisponibilidade entre medicamentos, foram analisados no presente estudo o Tmáx, a Cmáx, a ASC0, a ASC0-∞, o coeficiente de variação (CV) e o MRT (Mean t Residence Time). Para todos os parâmetros farmacocinéticos citados, os valores obtidos, e representados na Tabela 4, não apresentaram diferenças estatisticamente significativas (P ≤ 0,05). Outro dado que pode ser analisado neste trabalho e que reflete a extensão da absorção dos medicamentos em estudo é a razão ASCo-t / ASC0-∞. Segundo a Legislação vigente no Brasil, que regula a produção de medicamentos genéricos para humanos, e também o preconizado pelo Federal Drug Administration (FDA) é estabelecido o limite mínimo de 80% para os valores da razão ASCo-t / ASC0-∞. No presente estudo, a Ivermectina 1% (Produtos Veterinários Ouro Fino Ltda.) mostrou valores de 91% e 93% para as fases I e II, respectivamente. Para o Ivomec® (Merial Saúde Animal Ltda.), o parâmetro acima referido apresentou valores correspondentes a 86% e 93% para as fases I e II, respectivamente. Assim, a análise dos dados farmacocinéticos obtidos sugere, nas condições estudadas, a bioequivalência entre as duas formulações. 117 ARS VETERINARIA, 16(2):112-117, 2000. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANZIANI, O.S., FLORES, S.G., MOLTEDO, H., DEROZIER, C., GUGLIELMONE, A.A., ZIMMERMANN, G.A., WANKER, O. 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