A BALANÇA COMERCIAL E O CRESCIMENTO ECONÔMICO

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A BALANÇA COMERCIAL E O CRESCIMENTO ECONÔMICO:
ESTUDO DE CASO SOBRE O ESTADO DO CEARÁ NO PERÍODO DE 1994-2003
Carlos Flaviano
Mestrado em Negócios Internacionais
Centro de Ciências Administrativas
Universidade de Fortaleza – UNIFOR
Wilton Medeiros
Mestrado em Negócios Internacionais
Centro de Ciências Administrativas
Universidade de Fortaleza - UNIFOR
Eveline carvalho
Mestrado em Negócios Internacionais
Centro de Ciências Administrativas
Universidade de Fortaleza - UNIFOR
2
RESUMO
A presente pesquisa enfoca a influencia da Balança Comercial no Crescimento
Econômico buscando levantar como o Estado do Ceará pôde registrar crescimento econômico
no período de 1994-2003, mantendo sua balança comercial deficitária, bem assim encontrar
argumentos que corroborem a conexão entre a balança comercial e o crescimento econômico.
Trata-se de pesquisa exploratória e qualitativa. Verificou-se que os déficits na balança
comercial do Ceará ocorreram pelo crescimento das importações e que o crescimento
econômico foi mérito da política de incentivos fiscais adotada não existindo argumentos que
forneçam embasamento à dependência do crescimento econômico ao saldo da balança
comercial.
Palavras-Chave: Balança Comercial; Crescimento Econômico, Exportações, Políticas
Públicas.
ABSTRACT
The present research focuses the influences of trade balance on Economic Growth studing the
State of Ceará case and how it could register economical growth in the period of 1994-2003,
maintaining trade balance deficits, and also to find arguments that corroborate the connection
among trade balance and economic growth. It is a exploratory and qualitative research. It was
verified that the deficits in the trade balance of Ceará happened for the growth of the imports
and that the economic growth was merit of the politice of fiscal incentives adopted with no
evidence of the dependence among economic growth and trade balance.
Key-words: Trade balance; Economical growth, Exports, Public Politicies.
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3
Introdução
Foram 10 anos de déficit na balança comercial. Uma análise simplista diria ter sido
anos de caos, porém o que se verificou foram anos de crescimento econômico. Este é um
retrato do estado do Ceará no período de 1994-2003
Os reais motivos porque um estado/país apresenta superávits ou déficits em sua
balança comercial ainda são pouco conhecidos. Acredita-se que existe o tempo de plantar e o
tempo de colher especialmente no que diz respeito ao marketing internacional. Assim, podese explicar porque o Ceará apresentou déficits em sua balança comercial contrapondo com um
crescimento econômico, o que contraria os pensamentos de que o saldo da balança comercial
represente o termômetro de crescimento de um estado.
A idéia do “tudo ao seu tempo” remonta os anos 60, com a implantação do Programa
de Substituição de Importação – PSI, onde se criaram os parques industriais na busca de
substituir as importações, com um mercado fechado, e gerar excedente para exportações
(MALUF, 2000). Nos anos 90, com a abertura econômica, não se tratou de pura
industrialização, mas de modernização tecnológica, forçada pelo poder da concorrência e o
fim do protecionismo. Neste contexto o ceará viu o seu mercado posto em xeque.
A década de 90 foi marcada por intenso processo de liberalizações comercial no
Brasil, sendo que no período 1997/2000 registrou-se forte instabilidade conjuntural, tanto
doméstica quanto internacional, marcada pelas crises econômicas na Ásia, Rússia e o próprio
Brasil, tendo como efeito a elevação das dificuldades do Brasil financiar seu comércio
exterior.
O problema a ser discutido neste trabalho é: como justificar o crescimento econômico
do estado do Ceará num período em que sua balança comercial registrou déficits constantes?
Dentro dessa problemática o presente trabalho tem por objetivo analisar as reais implicações
econômicas de uma balança comercial deficitária ou superavitária, tendo como base o estado
do Ceará no período de 1994-2003, especificamente buscar justificar como o estado do Ceará
registrou crescimento econômico com uma balança comercial deficitária, bem assim, levantar
questionamento sobre a existência real de políticas de crescimento econômico que se alie com
uma balança comercial negativa.
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, para um embasamento teórico, e
levantamentos de dados secundários, basicamente estatísticas levantadas por órgãos
especializados. Com base nos estudos realizados formulou-se as seguintes hipóteses: a) o
Ceará aceitou passivamente a condição de estado pobre, mantendo suas exportações de
produtos primários e de pouca competitividade, resultando em uma balança comercial
deficitária; b) houve preocupação por parte do Governo e da classe empresarial, porém os
produtos cearenses não conseguiram competir com seus similares estrangeiros, daí a
continuidade dos déficits na balança comercial; c) o governo percebeu a defasagem
tecnológica do parque fabril do estado e buscou outras alternativas, de longo prazo, para sanar
o problema, logo, sendo possível a reversão dos resultados deficitários da balança comercial
do Estado.
1. Balança Comercial
A balança comercial registra as importações e exportações realizadas por um estado ou
país durante um período de tempo. Quando as exportações excedem às importações diz-se que
houve superávit, quando ocorre o inverso diz-se que houve déficit. O resultado da balança
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comercial pode ser visto como fruto de políticas governamentais, visto que o governo pode
fazer uso das importações como mecanismo de controle de preços, se os preços internos
estiverem altos, além dos interesses governamentais, o governo libera ou facilita as
importações de produtos similares para que a força da concorrência provoque a redução de
preços dos produtos em questão, bem assim, o inverso, quando pretendem proteger
determinados segmentos dificultam ou sobre-taxam as importações. (EconomiaNet – web)
Os superávits na balança comercial são de suma importância para garantir divisas para
o país/estado saldar seus compromissos em moedas estrangeiras resultante das importações
e/ou pagamento de juros e amortizações de empréstimos contraídos no exterior.
Como explica Kenen (1998, p.21), teoricamente o motivo para a existência do
comércio entre nações é a diferença de preço, dos custos reais de produção, remontando a
tradicional teoria das vantagens comparativas de David Ricardo, porém ele acrescenta uma
observação que leva a uma dimensão maior: “serve para maximizar o valor real dos recursos
da produção mundial”. Observa-se que ele não dimensiona os recursos, o que leva a ir além
do fator trabalho.
Na visão dos autores essa explicação ainda se apresenta simplista, uma vez que as
mobilidades dos fatores de produção passam por estratégias políticas que vão além dos
preços. Neste sentido buscou-se no pensamento de Raul Prebisch uma explicação para o caso
cearense.
Prebisch constatou que os preços dos produtos industrializados não declinam com o
progresso tecnológico ou declinam menos que os preços dos produtos primários. Em seu
entender, nas economias mais avançadas os fatores de produção absorvem os ganhos de
produtividade através do aumento de suas remunerações, o que não ocorre com os países
pouco industrializados cuja produção esteja centrada em produtos primários. Essa diferença
faz com que países industrializados retenham os benefícios da inovação tecnológica. Dentro
dessa lógica, Prebisch propõe a industrialização dos países periféricos. (CARVALHO;
SILVA - 2002).
O comportamento dos produtos que compõem a pauta de exportação do estado do
Ceará pode se visualizado na tabela 1, a seguir:
AGREGADOS
1994
1996
1998
2000
2002
Básicos
145.803
198.729
160.905
199.715
195.014
Em %
43,54
52,24
45,33
40,35
35,85
Semi-Manufaturados
36.678
56.950
41.064
99.128
97.074
Em %
10,95
14,97
11,57
20,02
17,85
Manufaturados
106.763
118.266
150.377
185.405
240.750
Em %
31,88
31,09
42,36
37,45
44,26
Outros (cons.de bordo) 45.614 (*)
6.488
2.650
10.850
11.064
Em %
13,62
1,71
0,75
2,19
2,03
TOTAL
334.861
380.434
354.998
495.098
543.902
Em %
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
TABELA 1 – Exportações Cearenses por Agregação de Fatores (Em US$ mil – FOB)
Fonte: MICT/SECEX – Adaptado pelos autores
(*) Incluídos combustíveis e lubrificantes p/embarcações
1.1 Balança Comercial Deficitária
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O déficit na balança comercial pode ser resultado de uma falta de competitividade,
porém uma barreira tarifária, protecionista, seria capaz de amenizar ou eliminar esse déficit.
Esta alternativa, de forma isolada, seria a negação da internacionalização de um estado ou
nação. Em outra ótica, o déficit pode ser fruto de uma política governamental para melhoria
do sistema de produção, resultado de importações de bens de capital, que à médio prazo
resultará em melhoria tecnológica, aumento de produtividade, agregação de valores, redução
de custos de produção e elevação do poder competitivo, o que, obviamente, iniciar-se-á um
processo de reversão do déficit em superávit.
A observação acima pode ser reforçada por Krugman (1999, p.35) quando avalia o
impacto do crescimento do comércio internacional no setor industrial norte-americano.
Explica que um dólar de exportação acrescenta um dólar nas vendas internas, porém, na
prática, um dólar de importação pode substituir menos de um dólar nas vendas internas,
porque gastos adicionais podem ser feitos domesticamente em serviços ou outras compras.
Assim, a balança comercial determina um limite superior ao efeito líquido do comércio
internacional. Ressalta, ainda, que ao analisar, em um determinado período, a indústria norteamericana verificou que a competitividade externa desempenhou um papel secundário na
retração daquela indústria, bem assim com relação às perdas de emprego. Já a redução na
renda interna pode ser efeito dos termos troca.
Com o advento do Plano Real, em 1944, como forma de estancar a inflação e perseguir
a estabilidade econômica, o Governo fez uso da política de juros e, com maior ênfase, a
política cambial, controlando o câmbio através de uma âncora cambial. Com isso, de forma
artificial, tornou a moeda brasileira forte, valorizada. A valorização da moeda provocou o
desestímulo às exportações em decorrência da perda de competitividade, visto que os
produtos brasileiros tornaram-se mais caros no exterior e, em contra-partida, os produtos
estrangeiros tornaram-se mais atrativos, resultando em uma elevação substancial das
importações. A tabela a seguir mostra o comportamento da balança comercial do Brasil e do
Ceará frente à valorização cambial.
VALOR (US$ 1.000
VALOR (US$ 1.000 FOB)
FOB)
BRASIL
CEARÁ
EXPORTAÇÃO IMPORTA SALDO EXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO SALDO
ÇÃO
1992
303.692
238.937
64.755
35.792.986
20.554.091 15.238.895
1993
295.579
389.551 -93.972
38.554.769
25.256.001 13.298.768
1994
334.861
522.728
43.545.149
33.078.690 10.466.459
187.867
1995
352.131
646.953
46.506.282
49.971.896 -3.465.614
294.822
1996
380.433
813.408
47.746.728
53.345.767 -5.599.039
432.975
1997
353.043
628.155
52.994.341
59.747.227 -6.752.887
275.112
1998
354.995
651.524
51.139.862
57.763.476 -6.623.614
296.529
1999
371.206
573.475
48.011.444
49.294.639 -1.283.195
202.269
ANOS
5
6
2000
495.098
717.933
55.085.595
55.838.590
-752.994
222.835
2001
527.051
623.491 -96.440
58.222.642
55.572.176 2.650.466
2002
543.902
635.905 -92.002
60.361.786
47.240.488 13.121.297
2003
760.927
540.760 220.167
73.084.140
48.259.592 24.824.547
TABELA Nº 2 – Saldo da Balança Comercial – Ceará e Brasil– 1992-2003
Fonte: Ministério da Indústria do Comércio e do Turismo, Secretaria do Comércio Exterior
(SECEX) –
(Adaptado p/autores)
Especificamente, o déficit na balança comercial do Ceará deu-se mais pelo
crescimento das importações que pela redução das exportações, como se mostra no gráfico a
seguir:
Comportamento da Balança Comercial do Ceará
EXPORTAÇÃO
IMPORTAÇÃO
03
20
02
01
20
00
20
20
99
98
19
97
19
96
19
19
95
94
19
93
19
19
92
SALDO
19
1.000.000
800.000
600.000
400.000
200.000
0
-200.000
-400.000
-600.000
Fonte: Ministério da Indústria do Comércio e do Turismo, Secretaria do Comércio Exterior
(SECEX)- Montado p/autores
2. Crescimento Econômico
Ao se abordar o tema “crescimento econômico” é obtuso não citar o modelo de
Harrod-Domar. O modelo, com essência keynesiana, engloba como determinantes para o
crescimento econômico a relação positiva da taxa de poupança e a taxa de capital/trabalho.
Observa que a simples reposição de capital não é suficiente, necessita de adições liquidas.
Segundo o coordenador da UEE/FIEC, Hélio Beltrão Soares, o princípio básico da teoria de
Harrod-Domar incorporado em toda teoria moderna apresenta um efeito duplo do
investimento. O investimento constitui uma demanda por produtos que aumenta a capacidade
da economia de elaborar novos produtos. Assim, o investimento líquido tem efeito de
demanda e um efeito de capacidade de produção.
Segundo Jones (2000), no o modelo de Solow, verificou-se que este é constituído por
duas equações: uma de produção, onde desenvolve a combinação máquinas, equipamentos e
operários para gerar produtos, ou seja, a combinação de capital (K) e trabalho (L) na geração
do produto (Y). A outra equação trata-se da acumulação de capital (K), determinando o
montante dos investimentos (sY) como sendo a variação do estoque de capital menos a
depreciação do processo produtivo. Complementando, mostra o modelo de Romer que
descreve a combinação do capital (K) e o trabalho (Ly) para gerar o produto (Y), só que
usando um estoque de idéias (A), que representa as inovações em tecnologias e
conhecimentos. Nesse modelo o produto per capita, razão entre capital/trabalho e o estoque
de idéias crescerão à mesma taxa ao longo da trajetória de crescimento. Se não houver
progresso tecnológico, então não haverá crescimento.
Não é fácil buscar um modelo capaz de explicar o comportamento do crescimento
econômico brasileiro, uma vez tratar-se de um país com estados federalizados, com
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independência política, concorrentes entre si, os quais apresentam índices de crescimentos
divergentes em iguais períodos. Após a década de 80, conhecida como a década perdida, o
governo buscou encontrar condicionantes capazes de recrudescer a volta do crescimento,
voltando suas políticas para a recuperação da estabilidade econômica. Porém, a fragilidade do
crescimento está na dependência excessiva do Estado.
Segundo Willian Eid Jr. e Fábio Gallo Garcia, especialistas do iG Economia,
crescimento econômico está relacionado com a expansão da produção de um país, ou seja,
com o crescimento do PIB per capta, considerando apenas a produtividade da população. A
tabela e gráfico a seguir mostram um comparativo do PIB per capita Brasil e Ceará.
PIB per capita (R$ ) Ceará
ANOS PIB per capita (R$ ) Brasil
1994
8.059
992
1995
8.281
1.856
1996
8.383
2.291
1997
8.540
2.465
1998
8.437
2.602
1999
8.390
2.638
2000
8.641
2.794
2001
8.641
2.858
Tabela 3 - Comportamento do PIB do Ceará
Fonte: IPLANCE – elaborado pelos autores
Gráfico 2 – PIB per capita Ceará/Brasil
Fonte: IPLANCE – elaborado pelos autores
Neste artigo não se buscará detalhar as equações dos modelos de crescimento, mas
sintetizar-los para tentar encontrar uma correlação destes com o comportamento do
crescimento econômico do estado do ceará.
Ao focar o crescimento econômico, Jones (2000) aponta o progresso tecnológico como
a força motriz do crescimento. Segundo esse autor o progresso ocorre quando empresas ou
investidores maximizadores de lucros procuram obter novos e melhores produtos, sendo a
possibilidade de auferir lucro que leva as empresas a desenvolverem a aperfeiçoarem seus
produtos. Desse modo, melhorias tecnológicas e o progresso do crescimento são entendidos
como resultantes endógenos da economia. Como afirma Oliveira (2001), é consenso nas
Ciências Econômicas que a inovação tecnológica é essencial para manutenção do
crescimento, porém não existe, ainda, consenso quanto ao ambiente ideal para o
desenvolvimento da capacitação, difusão e inovação tecnológica. Enfatiza, ainda, que o fator
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tecnológico é imprescindível para a vitalidade da economia, que a inovação tecnológica é
responsável pelo rompimento e/ou aperfeiçoamento das técnicas e processos de produção.
Como disse Garcia (2000), se de fato se quer que o país cresça e diminua sua dívida
social nas próximas décadas é indispensável não reproduzirmos o velho e mau hábito nacional
de abandonar as políticas de longo prazo exatamente quando começaram a faze efeito.
2.1 A Influência do Comércio Internacional no Crescimento Econômico
De acordo com o pensamento de Smith (1983 apud OLIVEIRA, 2002), o homem tem
uma propensão natural à troca, logo, se aumenta o tamanho do mercado com a abertura
comercial ao mercado externo, o homem busca aumentar cada vez mais a sua produção pra
transacionar cada vez mais. Com isso, aumentam as capacidades instaladas das indústrias e
fábricas e assim se tornarão mais produtivos. Esse pensamento condiciona ou, até mesmo,
limita a produtividade do trabalho ao tamanho do mercado. Ainda, segundo Oliveira (opus
cit), os aumentos na escala de produção aumentam a capacidade de incrementar inovações,
tanto no aperfeiçoamento das máquinas quanto no processo de produção. Logo, inovações e
aperfeiçoamentos bem sucedidos propiciam aumentos permanentes de produtividade.
De acordo com Carvalho e Silva (2002), as teorias de crescimento econômico, através
do comercio internacional, tiveram origem, embora muito limitadas, com Adam Smith, em
1776, questionando o histórico mercantilismo, através da teoria das vantagens absolutas, em
sua obra “A Riqueza das Nações”. Segundo Smith, os países deveriam especializar-se em
produtos para os quais tivessem vantagens absolutas (custo/trabalho) em relação aos demais
países. Esta era a única referência necessária para que um país buscasse o comércio com
outros países. Quarenta e um anos depois, em 1816, David Ricardo mostrou que a troca entre
países podia ser realizada sem a existência de vantagens absolutas, mas apenas comparativas.
Que a troca pode existir com base em situações bem mais amplas. Assim, apresentou a
chamada “lei das vantagens comparativas”, observando a relatividade das vantagens
existentes na produção de bens diversos, mostrando que mesmo um país apresentando
vantagem comparativa em todos os seus produtos em relação ao outro país, esse deve se
especializar naquele de maior produtividade e comercializar os demais.
Registra, também, Carvalho e Silva (opus cit) que posteriormente, corrigindo as
limitações de Smith e Ricardo, em 1933, Bertil Ohlin desenvolve sua tese de doutorado
embasado nas idéias de Eli Filip Heckscher, onde tenta explicar o comércio entre nações
afirmando que cada país se especializa e exporta o bem que requer utilização mais intensiva
de seu fator de produção abundante, mostrando, com base nesses fatores, a existência de
fronteiras de possibilidades de produção, e através destas explica o porque da existência de
diferenças de preço relativos das mercadorias entre nações e respectivo padrão de vantagens
competitivas. Este estudo ficou conhecido como Teoria de Heckscher-Ohlin.
De acordo com Parikh (2002), os investimentos e crescimento em um país em
desenvolvimento são dependentes intermediários de importação de bens de capital. Mesmo
que as poupanças domésticas sejam suficientes para financiar todos os investimentos, um país
em desenvolvimento não pode levar a cabo todos os seus projetos se não existir um mercado
externo disponível. Isso ocorrendo os investimentos seriam menores do que a disponibilidade
dos recursos, provocando uma redução da capacidade produtiva abaixo da utilização da renda
e poupança existente. Não obstante, contesta o modelo de crescimento em que prediz que a
taxa de crescimento de um país é igual à taxa de crescimento do volume de exportação
dividido pela elasticidade da renda da demanda por importação. Ressalta que as aproximações
são estáticas, não se encontrando adequadas ligações de dependência de crescimento
econômico e comércio exterior.
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9
Segundo Parikh (opus cit), a expansão das exportações depende de investimentos, e
que crescimento econômico sustentável requer um processo dinâmico entre acumulação de
capital e exportações. O papel das exportações não é só ganhar mercado externo, mas também
mercado doméstico, porque as exportações permitem que as indústrias operem em sua plena
capacidade, o que geraria excessos sem esse mercado. Num processo dinâmico, as
exportações, poupança e investimentos aumentam em condições absolutas, mas com o passar
do tempo as poupanças domésticas diminuem e as exportações passam a crescer mais rápido
que as importações e investimentos. Conclui que o desempenho do comércio de um país é
influenciado por um grande número de fatores domésticos que incluem suas características
estruturais, recursos e políticas.
3. Metodologia
O presente trabalho busca levantar argumentos que possam justificar como o estado do
Ceará, no período de 1994-2004, tenha apresentado sucessivos déficits em sua balança
comercial e, concomitantemente, registrado crescimento econômico. Trata-se de uma
pesquisa exploratória, bibliográfica e qualitativa, a qual foi consolidada em dois momentos
entrelaçados: no primeiro, buscou-se através de leituras em livros, artigos científicos
publicados, assim como documentários escritos em jornais e revistas, com o auxilio do uso da
internet, formatar um embasamento teórico sobre o tema. Num segundo momento buscou-se
juntos aos órgãos oficiais de pesquisas (IBGE, IPLANCE, IPECE, BACEN, MDIC, CESEX)
encontrar dados estatísticos capazes de confirmar ou negar as teorias levantadas. Os autores
sentiram certa dificuldade em condensar as informações levantadas, observando existir
divergência entre os dados divulgados pelos diversos órgãos. Quando divergentes, optou-se
pelas publicações do IPLANCE. Outra dificuldade foi os parâmetros utilizados pelos órgãos
acima citados em elaborar e divulgar suas estatísticas. O primeiro momento estendeu-se de
início de maio até final de junho de 2004 e o segundo, a partir de 20 de maio até 08 de julho
de2004.
A pesquisa está formatada em 4 (quatro) tópicos: no primeiro é feito um introdutório
contextualizando o tema a se abordado, os objetivos e as hipóteses; no segundo tópico são
registrados os conceitos e teorias estudadas, intercalando tabelas e gráficos dos dados
estatísticos levantados; no terceiro tópico é feita a análise de correlação dos dados estatísticos
com as teorias abordadas e no quarto tópico registra-se a conclusão da pesquisa.
4. Análise dos Dados
Indo ao encontro do pensamento de Prebisch, o governo do Ceará buscou facilitar a
modernização do parque fabril do Estado, utilizando, para tanto, a política fiscal, com isenção
de impostos, atraindo indústrias antes instaladas no Sul/Sudeste do país, bem assim, capitais
estrangeiros, com isso o perfil da pauta de exportação do Estado começa a mudar, antes em
maior percentual de produtos primários para produtos manufaturados e semi-manufaturados,
como mostra a tabela 1.
A concorrência externa e a perda de competitividade dos produtos cearenses, a partir
da preparação (1993) e implantação do Plano Real (1994), colocaram a economia cearense em
xeque. O que fazer? Esta foi a pergunta que ecoou nos debates econômicos do Estado, mas
uma resposta era evidente: investir em melhoria tecnológica e em infra-estrutura. Neste mister
o Governo do Estado fez uso da política de incentivos fiscais na busca de atrair investidores
estrangeiros e de outras regiões do país. A estratégia deu certo e logo, empresas com
tecnologias modernas começaram a se instalarem nas diversas regiões do Estado do Ceará.
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Concomitante à adoção da política de incentivos fiscais o Governo passou a investir em obras
de infra-estruturas como melhoria das vias de acessos, construção de um novo aeroporto, de
porte internacional, um novo porto (porto do Pecém), e outros incentivos, como dação do
terreno para edificação de novas indústrias, bem assim a criação de distritos industriais. A
estratégia do Governo cearense manteve uma sintonia com os determinantes do modelo de
Harrod-Domar, quando se visualiza o retorno dos investimentos e melhorias no perfil
tecnológico das empresas/industrias instaladas no Ceará.
Através dos dados apresentados na tabela 1 pode-se calcular, no período de 19942002, uma queda de 17,66% na totalidade dos produtos primários que compunham a pauta de
exportação cearense, enquanto que, no mesmo período, os produtos semi-manufaturados e
manufaturados cresceram 45,0%. Esta mudança é resultado da produção das novas indústrias
instaladas no Ceará, frutos das políticas adotadas pelo Governo do Estado. Não obstante ainda
ser considerado alto a participação dos produtos primários na pauta e exportação, vale
ressaltar que entre esses produtos estão incluídos a castanha e caju e o camarão, que já
utilizam tecnologias mais avançadas, estando o camarão cearense entre os de maior
competitividade em todos os mercados. Considerando a constatação de Prebisch que os preços
dos produtos industrializados declinam bem menos que os dos produtos primários, o
comportamento da composição da pauta de exportação cearense apresenta-se altamente
positivo.
Observando a tabela 2, verificou-se uma maior fragilidade da economia cearense
frente à economia do Brasil como um todo. A valorização do Real fez com que a balança
comercial cearense apresentar-se deficitária já em 1993, enquanto que isso veio acontecer na
balança comercial do Brasil só em 1995. Por outro lado, na reversão de uma balança
deficitária para superavitária ocorreu o inverso, em 2001 o Brasil reverteu seu déficit e o
Ceará somente em 2003. Não obstante à maior fragilidade da economia cearense, no que
tange o comércio exterior, o que se observou foi uma tendência comportamental semelhante
quando se compara o Ceará e o Brasil como um todo. Analisando os déficits da balança
comercial do Ceará, no período de 1992 a 2003, através do gráfico 1 percebeu-se claramente
que os déficits foram originados não pela queda das exportações mas pelo crescimento das
importações, sendo grande parte dessas importações bens de capital que vem se revertendo
em melhoria do processo produtivo.
Ao se avaliar o crescimento econômico através do PIB per capita, a tabela 3 revela um
crescimento de R$ 992,00 em 1994 para R$ 2.858,00 em 2001. No mesmo período o PIB per
capita do Brasil cresceu de R$ 8.059,00 para R$ 8.641,00. Observa-se que embora o PIB per
capita do Ceará tenha triplicado nesse período e o do Brasil mantido-se aparentemente
constante, esse ainda é muito baixo em relação ao Brasil, denotando o quanto o estado do
Ceará é pobre e o quanto precisa se desenvolver para chegar à média Brasil.
Conclusões
A justificativa encontrada para o crescimento econômico do estado do Ceará, medido
pelo crescimento do PIB per capita, registrado na tabela 3, está centrada na inovação
tecnológica e na modernização do seu parque fabril. Quanto aos sucessivos déficits em sua
balança comercial, o Ceará como todo o Brasil sentiram o impacto da valorização cambial
brasileira. No Ceará, o impacto deu-se em maior proporção, visto o seu maior atraso
tecnológico, com seu parque fabril em estado de sucateamento, e como maior agravante a
inexistência de uma cultura empresarial voltada para a modernização tecnológica, esta sendo
vista como despesa, custo, e não como investimento capaz de trazer melhoria de
produtividade, competitividade e maiores ganhos.
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Embora nos artigos consultados e nos comentários econômicos publicados em jornais
e revistas enaltecerem a importância de uma balança comercial superavitária, nesta pesquisa
os autores não encontraram nas teorias de crescimento econômico levantadas, nem em
exemplos práticos argumentos que apresentassem substâncias capazes de relacionar ou
condicionar crescimento econômico com superávit na balança comercial, ou visse-versa.
Pelas análises, conclui-se que o crescimento econômico está fortemente condicionado à
otimização do uso de Capital e Trabalho associados a uma constante inovação tecnológica.
Sem a inovação tecnológica ocorre a estagnação econômica em curto prazo, para o
crescimento, e ocorre a involução no longo prazo.A estagnação é provocada por uma inércia
que ao cessar inicia-se uma rápida queda.
Quanto às hipóteses levantadas, verificou-se que a classe empresarial manteve-se, no
primeiro momento, insistindo na manutenção de seu sistema de produção ultrapassado,
porém, no âmbito do governo do Estado, foi intensificada uma política de incentivos fiscais
na busca de trazer para o Ceará empresas detentoras de tecnologias modernas, bem assim,
desenvolveu investimentos em infra-estruturas para dar suporte às novas empresas ou motivar
a modernização das já existentes, e com isso obter produtos com maior agregação de valores,
aumentar a geração de emprego e renda. A agressividade competitiva dos produtos
importados e o sucesso da empresas recém instaladas no Ceará acordaram os empresários
cearenses para a tomada de consciência da necessidade de modernizarem seus sistemas de
produção ou estariam fadados a fecharem suas portas, desaparecerem, como já se iniciava.
Assim, refutou-se a hipótese primeira, em que apontava para uma passividade geral cearense;
aceitou-se parcialmente a segunda hipótese, visto que a classe empresarial só tomou
consciência da possível saída para a crise após sofrerem forte pressão da concorrência dos
produtos importados e perceberem o sucesso das empresas recém instaladas, as quais
utilizavam evoluídas tecnologias em seus sistemas de produção e controle de custos; quanto à
terceira hipótese, essa foi aceita plenamente, creditando ao Governo do Estado o mérito de ser
o mentor da continuidade do crescimento econômico do estado do Ceará.
Não se registro barreiras às importações, mas uma preocupação em importar bens de
capital capazes de trazer melhorias para o sistema de produção e para o próprio produto. Nada
obstante ao período de âncora cambial, 1994-1999, o Ceará manteve estável, valor em US$,
as exportações, como se observou na tabela 2, gráfico 1, o que provocou os déficits na balança
comercial cearense foi o crescimento das importações.
Os resultados das inovações tecnológicas já podem ser vistos através do perfil dos
produtos que compõem a pauta de exportação cearense, embora persista alto índice de
produtos primários, já se registra grande maioria de produtos manufaturados e simimanufaturados, bem assim que os produtos primários em maior destaque são a castanha de
caju e o camarão para os quais já se utilizam tecnologias de ponta em seus sistemas de
produção.
A avaliação dos dados levantados leva a concluir não existir argumentos que dêem
substância à dependência do crescimento econômico ao saldo da balança comercial. Assim,
este estudo é considerado pelos autores como limitado, dada a imensidão de variáveis que se
insere ao tema crescimento econômico. Espera-se que sirva de ponto de partida para novas
pesquisas, especialmente no mundo acadêmico.
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