XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho EA Análise das concepções de alunos sobre aquecimento global em uma seqüência didática elaborada a partir de uma situação-problema * Charleide Xisto Vilela1 (FM), Verônica Tavares Santos Batinga2 (FM), Marilia Gabriela de Menezes 3 (FM), Edenia Maria Ribeiro do Amaral4 (PQ), Rejane Martins Novais Barbosa4 (PQ) 1 Profa. das Escolas Compositor Antônio Maria e Sigismundo Gonçalves em PE,* [email protected]. Profa. da Escola Estadual Alberto Torres em Recife-PE 3 Profa. das Escolas Municipais Inês Soares de Lima e Vânia Laranjeira em PE. 4 Profas. do DQ e Mestrado em Ensino de Ciências da UFRPE. 2 Palavras Chave: seqüência didática, situação-problema, ensino de química RESUMO : Este trabalho procurou analisar concepções de alunos de uma turma da 1ª série do ensino médio em uma seqüência didática que teve como objetivo promover a discussão sobre o aquecimento global. A seqüência didática foi elaborada considerando as dimensões epistêmica e pedagógica proposta por Mehéut (2005). Na dimensão epistêmica buscou-se a aproximação do conhecimento científico com o mundo real a partir de uma situaçãoproblema e na pedagógica, as atividades realizadas enfatizaram as interações sociais utilizando um método cooperativo. Para a análise foram consideradas algumas atividades propostas, tais como – a apresentação de seminários, a construção de mapas conceituais e as respostas dadas à situação-problema , por dois grupos de alunos. A análise das concepções dos alunos mostrou uma maior compreensão dos conceitos químicos abordados. Entretanto, verificamos algumas dificuldades no desenvolvimento do trabalho, mas nenhuma invalidaram a importância e significado que o conteúdo proposto parece ter adquirido para os alunos. INTRODUÇÃO As demandas atuais da sociedade estão voltadas para uma educação em ciências que favoreça cada vez mais o processo de alfabetização científica dos alunos, futuros cidadãos de um novo milênio. Além disso, deve preparar estes alunos para novas necessidades do mundo social – incluindo as dimensões do trabalho e da qualidade de vida - num contexto caracterizado por uma diminuição de tarefas rotineiras, repetitivas e um aumento da demanda por habilidades de mais alto nível intelectual. Nesse contexto, se insere a necessidade e a relevância da atividade de resolução de situações-problemas (SP) como conteúdo curricular da educação básica. Sendo um dos objetivos da educação básica contribuir para que os alunos não somente se coloquem diante de certos problemas, mas também adquiram meios para resolvê-los. Para isso, é necessário que os alunos aprendam a elaborar e desenvolver estratégias pessoais e coletivas de identificação e de resolução de situações-problemas nas principais áreas de conhecimento, em especial na química, e possam aplicá- las em situações da vida cotidiana (BRASIL, 2002). Neste trabalho foi elaborada uma seqüência didática (SD) para o ensino de química que utilizou uma situação-problema como instrumento didático (MEIRIEU,1998). Para a elaboração dessa seqüência didática foram consideradas algumas das idéias colocadas por Méheut (2005), que define quatro componentes básicos a serem considerados – professor, alunos, mundo real e conhecimento científico, ressaltando que duas dimensões podem ser consideradas quando uma SD é proposta: a dimensão epistêmica e a dimensão pedagógica. Na primeira dimensão podem ser considerados os processos de elaboração, métodos e validação do conhecimento científico que podem significá- lo com relação ao mundo real. Na segunda dimensão, são pensados aspectos relativos ao papel do professor e do aluno, e as interações professor-aluno e aluno-aluno. Após tecer algumas críticas a propostas didáticas que privilegiam uma dimensão em detrimento da outra, Méheut (2005) apresenta o que chamou de abordagem “construtivista integrada”, para exemplificar um tipo de seqüência no qual são consideradas conjuntamente as duas dimensões, XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho EA colocando ênfase em aspectos tais como: o conteúdo a ser ensinado e sua gênese histórica, as características cognitivas dos alunos, a dimensão didática relativa à instituição de ensino, motivação para a aprendizagem e significância do conhecimento a ser ensinado. Para Méheut (2005) a validação de uma SD pode ser feita a partir de dois pontos de vista: externo ou comparativo e interno. A validação externa é feita de uma forma geral pela utilização de pré-testes e pós-testes que objetivam avaliar os efeitos de uma SD com relação ao ensino tradicional. Na validação interna, a idéia é analisar os resultados a partir dos objetivos propostos e isso pode ser feito de diversas formas, dentre elas: observar “trajetórias de aprendizagem” ao longo das situações propostas e também comparar as trajetórias de aprendizagem observadas com aquelas esperadas. Segundo a autora, experiências com SD têm apresentado vários tipos de resultados: alguns contribuem para a caracterização, apreciação, avaliação e eficácia pedagógica global das seqüências propostas e outras subsidiam informações sobre trajetórias cognitivas dos alunos. Considerando as duas perspectivas apresentadas acima, neste trabalho buscamos na elaboração de uma seqüência didática associar diferentes aspectos de cada uma das dimensões propostas por Méheut (2005), de forma que possamos caracterizar uma abordagem de ensino baseada no uso de resolução de situações-problemas e propor estratégias pedagógicas para a dinâmica da sala de aula. Nesse sentido, acreditamos também estar aproximando aspectos da pesquisa à prática da sala de aula (Leach et al., 2005). Na dimensão epistêmica, a aproximação do conhecimento científico com o mundo real foi feita a partir de uma situação-problema a ser solucionada como objeto de estudo na sala de aula, devido ao caráter contextualizador dessa abordagem, na qual a aprendizagem poderia ocorrer pela necessidade dos alunos em apresentar uma resposta a um desafio colocado Dessa forma, eles deveriam buscar a transposição de possíveis obstáculos, mobilizando recursos, tomando decisões, fazendo escolhas, estruturando informações, etc., no sentido de elaborar resposta(s) à situação colocada em sala de aula. Na dimensão pedagógica, foram sugeridas atividades que enfatizam interações aluno-aluno, pelo uso de um método cooperativo. Pretendemos apresentar uma análise da seqüência proposta a partir de critério s de validação interna, conforme será detalhada posteriormente. DISCUSSÃO TEÓRICA Dimensão epistêmica da seqüência: o uso de uma situação-problema Meirieu (1998) considera a situação-problema como uma situação didática na qual é proposto ao sujeito uma tarefa que ele não pode realizar sem efetuar uma aprendizagem precisa. Essa aprendizagem, que constitui o verdadeiro objetivo da situação-problema, ocorre quando o sujeito vence obstáculos na realização da tarefa (p. 192). Uma outra definição é dada por Macedo (2002, apud SANTOS, 2005) que considera uma situação-problema como fragmentos de situações reais que estão relacionadas com o nosso trabalho, nossa interação com as pessoas, nossa realização de tarefas, nosso enfrentamento de conflitos. Tais situações referem-se, pois, a recortes de algo sempre aberto, dinâmico, e, como tal, repetem aquilo que é universal no problemático e fantástico que é a vida, entendida como exercício das funções que a conservam no contexto de suas transformações (p. 115). Como pode ser observado, os dois autores definem situações-problema sob óticas diferentes. Enquanto Macedo enfatiza o caráter contextualizador intrínseco às situações-problema, Meirieu volta-se para o trabalho didático que a situaçãoproblema representa e que é, segundo os dois autores, gerador de aprendizagem. Contudo, as idéias dos autores convergem para pontos comuns: (1) as situações-problema devem representar recortes da vida real; (2) devem conter um obstáculo para a sua realização, que ao ser transposto ajudará a construir uma aprendizagem efetiva e (3) devem representar um problema que propicie a mobilização de recursos, tomadas de decisões e escolhas (SANTOS, 2005). UFPR, 21 a 24 de julho de 2008. Curitiba/PR. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho EA Quando foi feita a elaboração do texto da situação-problema que faz parte deste trabalho consideramos relevante que o mesmo fosse claro e objetivo, e as questões nele apresentadas conduzissem os alunos na direção desejada. Para atender a estes aspectos a elaboração do texto foi feita inicialmente por duas professoras, e depois modificações foram propostas na discussão de um grupo de pesquisa. Quando a situação-problema foi colocada, tivemos dificuldades com a finalização do texto, uma vez que o nosso intuito era não somente buscar construir com o aluno uma visão ambiental e social sobre o tema Aquecimento Global, amplamente divulgado na mídia, mas também conceitual, ou seja, levar o aluno a compreender o tema do ponto de vista químico ou físico-químico. Dessa forma, consideramos estar atendendo ao objetivo de aproximar mundo real do conhecimento escolar (Mehèut, 2005). Na construção do texto, atentamos para o fato de que, muitas vezes, no processo de contextualização ou na inserção de temas na sala de aula, o trabalho com os conceitos químicos é negligenciado ou mesmo sobreposto, prevalecendo idéias gerais e até mesmo do senso comum na discussão. Então, procuramos articular da melhor forma possível, informações gerais e conteúdos escolares. Em trabalho anterior (Vilela, Guedes, Amaral e Barbosa, 2007), algumas questões relativas ao processo de elaboração do texto da situação-problema foram levantadas, tais como: a importância de que as informações apresentadas na situação-problema sugiram uma ação de pesquisa por parte dos alunos; a necessidade de que seja estabelecido de forma clara um recorte para a pesquisa a ser realizada buscando orientar os alunos nas escolhas que devem ser feitas e finalmente, o texto deve instigar ou motivar o aluno a partir de questões, cuidando para que as respostas esperadas não sejam triviais. Neste trabalho, buscamos acompanhar elaborações feitas pelos alunos em diferentes atividades propostas na seqüência didática de forma a identificar percepções e concepções dos mesmos sobre o fenômeno focado na situação-problema. Dessa forma, consideramos estar tentando caracterizar trajetórias de aprendizagem que tenham sido percorridas na discussão em sala de aula. Dimensão pedagógica da seqüência: o uso de método cooperativo A dimensão pedagógica da seqüência proposta considerou perspectivas apresentadas para o ensino das ciências no sentido de promover interações sociais em sala de aula. Objetivando promover de forma sistematizada as interações em sala de aula foi utilizado um método cooperativo. Para Cohen (1994), a essência dos métodos cooperativos envolve o trabalho de alunos, em pequenos grupos, para que todos tenham oportunidade de participar de uma tarefa coletiva designada. Neste trabalho foi utilizado o método cooperativo de Jigsaw I proposto por Aronson et al (1978). Neste método, o material a ser ensinado é dividido em pequenas partes. Inicialmente, os alunos são divididos em grupos (origem) e cada membro do grupo é designado a estudar apenas uma parte do conteúdo. Após a divisão do assunto, cada aluno deixará o seu grupo de origem e formará um subgrupo com outros colegas que ficaram responsáveis por estudar assuntos semelhantes. Nos subgrupos, os alunos estudam e discutem seus materiais e depois cada aluno retorna ao seu grupo de origem e ensina sua parte para os outros membros. Assim, no final, espera-se que todos entrem em contato com o conteúdo completo e seja promovida aprendizagem, e que esta seja construída pela elaboração e re-elaboração nas discussões e consensos alcançados nos grupos. Isso pode ocorrer devido à pluralidade de idéias advindas dos alunos, o que contribui para a elaboração de respostas mais aprimoradas. As atividades focadas na análise para este trabalho não estão diretamente relacionadas com a dinâmica proposta pelo método cooperativo adotado, mas certamente que os momentos privilegiados para a análise trazem elementos do trabalho pedagógico estruturado dessa forma. Por essa razão não faremos uma análise focada no uso do método cooperativo. UFPR, 21 a 24 de julho de 2008. Curitiba/PR. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho EA Neste trabalho, partimos do pressuposto de que a estruturação da seqüência didática em torno da resolução de uma situação-problema a partir das interações dos alunos com seus pares possibilitará a emergência de concepções e percepções dos alunos sobre o tema estudado – aquecimento global – de forma que o processo de significação dos conceitos científicos ocorra a partir da consideração de tais concepções. Aqui, apresentaremos uma análise das concepções e percepções que emergiram nas discussões dos alunos quando tentavam responder a situaçãoproblema colocada. METODOLOGIA Este trabalho é parte de um projeto maior desenvolvido por um grupo de pesquisa da UFRPE, no qual se tem como objetivo a elaboração, aplicação e análise de diferentes seqüências didáticas para o ensino de química, buscando a validação das mesmas no âmbito externo e interno, como proposto por Mehé ut (2005). A seqüência em foco foi elaborada por duas professoras do grupo de pesquisa, tomando por base o uso de uma situação-problema para a abordagem do tema aquecimento global. No processo de elaboração todo o grupo participa das discussões sobre as atividades e estratégias propostas e o material didático utilizado, dentre outras. Na aplicação da seqüência didática, participaram 31 alunos, com faixa etária entre 16 e 18 anos, de uma turma da 1ª série do ensino médio do turno da tarde de uma escola da Rede Pública Estadual de Pernambuco. Vale ressaltar, que na escola atua uma professora participante do grupo de pesquisa e que a turma foi escolhida em função dos conteúdos químicos que foram propostos para a abordagem temática – reações químicas. A seqüência foi aplicada em sete etapas, cada uma com duração de 1 hora e 40 minutos (aulas geminadas). Além de alguns dos professores de ensino médio que fazem parte da equipe técnica deste projeto estavam presentes, de forma alternada, outros componentes do grupo contribuindo para o registro das observações durante a aplicação da seqüência. Nesta pesquisa, optamos por uma abordagem metodológica qualitativa para analisar as concepções e percepções sobre aquecimento global que emergiram em algumas etapas do percurso cognitivo desenvolvido por dois grupos de alunos (G1 e G2) em relação à construção do conhecimento químico que envolve o tema aquecimento global. É importante ressaltar que consideramos a perspectiva qualitativa da análise como colocada por Richardson et al (1999), que permite descrever a complexidade de determinado problema, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais. A nossa abordagem qualitativa envolveu uma análise descritiva que teve como objetivo principal apresentar características do processo de elaboração e aplicação de uma seqüência didática (GIL, 2007). Para a descrição do contexto no qual a investigação foi feita, privilegiamos uma dimensão etnográfica, a partir da qual podem ser identificados contextos relacionados à proposição de atividades, ao estabelecimento de regras, às ações e aos comportamentos dos sujeitos envolvidos nas interações em sala de aula. A análise foi estruturada a partir da aplicação da seqüência didática e, considerando o que foi colocado anteriormente, foram privilegiadas algumas atividades realizadas por dois grupos, para o registro de dados e análise – a apresentação de seminários, a construção de mapas conceituais e a elaboração de possíveis respostas para a situação-problema em um momento inicial e final da seqüência. Com isso, acreditamos estar buscando uma validação interna para a seqüência didática na forma como foi definida por Mehéut (2005), como foi colocado anteriormente. Para uma melhor visualização do contexto em que essas atividades foram realizadas a seguir será apresentado uma breve descrição das atividades desenvolvidas na aplicação da seqüência didática. De uma forma geral, as atividades desenvolvidas na aplicação da seqüência foram agrupadas em três blocos descritos a seguir e foram sublinhadas as atividades analisadas neste trabalho. UFPR, 21 a 24 de julho de 2008. Curitiba/PR. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho EA Primeiro Bloco: Apresentação da problemática com reprodução de vídeos e discussão de idéias gerais: exibição de um vídeo com imagens de fenômenos naturais provocados pelo aquecimento global; discussão sobre as imagens apresentadas; apresentação e discussão da situação-problema pela professora/pesquisadora aos alunos; discussão sobre a situação-problema no grupo de origem e a proposição de uma possível resposta (inicial) à situação-problema colocada; sistematização de idéias, pelos grupos de origem, a partir de mapas conceituais; apresentação pelos alunos das respostas elaboradas nos pequenos grupos (seminários para toda a turma). Segundo Bloco: Aplicação do método cooperativo de Jigsaw I: formação de subgrupos para leitura de textos e resolução de questões sobre conceitos químicos implicados na situaçãoproblema; realização de atividades experimentais nos subgrupos e de pesquisa na internet buscando mobilizar os alunos para a discussão; retorno dos alunos aos grupos de origem para a discussão dos textos e experimentos trabalhados nos subgrupos; aula expositiva sobre o balanceamento de equações químicas, assunto pouco compreendido pelos alunos nas discussões dos grupos. Terceiro Bloco: Resolução de exercícios e da situação-problema: resolução de questões do ENEM e de vestibulares com o objetivo de mobilizar os conceitos discutidos na situaçãoproblema; re-elaboração dos mapas conceituais pelos grupos; elaboração de um texto para responder a situação-problema, como etapa final da seqüência didática. Para análise da atividade de apresentação dos seminários pelos grupos foram transcritas as falas dos alunos, os mapas conceituais foram analisados a partir das imagens produzidas pelos alunos em cartazes e foi feita a análise do texto escrito produzido pelos dois grupos escolhidos para esta pesquisa. A análise das percepções e concepções dos alunos sobre o aquecimento global levou em consideração aspectos colocados por Merieu e Macedo com relação à situaçãoproblema: (1) se os alunos percebem a situação-problema como parte da sua vida cotidiana e/ou do contexto social em que está inserido (2) se eles expressam concepções que possam dificultar a elaboração de respostas coerentes para a situação proposta. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados e discussão serão apresentados, primeiramente, ressaltando aspectos gerais da seqüência didática proposta e mostrando o texto da seqüência didática. Em seguida, serão apresentadas a análise das falas dos alunos na apresentação do seminário, seguida da análise dos mapas conceituais do grupo e finalmente a análise das respostas à situação-problema elaboradas em um momento inicial e final da seqüência didática. Assim, ao final da análise pretendemos comparar idéias iniciais apresentadas pelos grupos, por meio da resposta inicial à situação-problema e do mapa conceitual (colocadas no seminário); com aquelas apresentadas após a intervenção didática, que correspondem à resposta final a situação-problema (texto escrito). De uma forma geral, a seqüência didática motivou a participação dos alunos a partir das suas atividades iniciais, no entanto, houve uma pequena diminuição neste entusiasmo por parte de alguns alunos ao longo das atividades. É importante destacar que uma das razões para esta evasão foi o fato de alunos normalmente ausentes em sala de aula terem sido atraídos pelo novo trabalho proposto pela professora, mas que não mantiveram o interesse em tomar parte mais ativamente do processo de discussão proposto. Entretanto, um grupo relativamente grande de 31 alunos se manteve participativo ao longo dos três blocos de atividades propostas. A situaçãoproblema apresentada aos alunos teve o seu texto final como mostrado a seguir. UFPR, 21 a 24 de julho de 2008. Curitiba/PR. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho EA SITUAÇÃO-PROBLEMA A receita de um ar limpo é: 78% de nitrogênio, 21% de oxigênio e 1% de outros gases, entre os quais o gás carbônico, com teor aproximado de 0,035%. Acrescenta-se ainda uma porção de água, em quantidade variável conforme a região do planeta e a época. No entanto, os processos tecnológicos, resultado das atividades humanas da civilização moderna, têm gerado grandes quantidades de resíduos gasosos, que acabam lançados, ou escapam, para atmosfera, contribuindo para o aumento das concentrações de alguns gases como, por exemplo, os gases estufas: metano, óxido nitroso, os gases CFC’s e, principalmente, o gás carbônico, intensificando o chamado efeito estufa e gerando o aquecimento global. Isto tem despertado a humanidade para discutir problemas como este, visando buscar alternativas na tentativa de solucioná-los. Neste contexto, como você explicaria o aquecimento global em termos físico-químicos e que ações podem ser feitas na sua região para conciliar desenvolvimento e aquecimento global? As questões que nortearam o trabalho em sala de aula foram: O que é o efeito estufa e quais os seus impactos? Por que o CO2 é considerado um gás estufa, mesmo estando em menor quantidade em relação a outros gases da atmosfera? Qual(is) a(s) origem(ns) do CO2 ? Quais os combustíveis que na queima produzem o gás carbônico e como se processa esta reação? Quais as vantagens e desvantagens, do ponto de vista social e ambiental, dos diferentes combustíveis que produzem o gás carbônico? A partir do recorte feito para essa problemática, pretendíamos trabalhar os seguintes conteúdos químicos e temas: Transformações Químicas e Físicas; Equação Química; Balanceamento de Equações; Aquecimento Global; Efeito Estufa e Poluição Atmosférica. Para a abordagem de tais questões a partir do recorte sugerido para a situação-problema, houve uma necessidade de elaboração de um material didático específico, uma vez que eram poucos os textos disponíveis na literatura que tratavam temas sociais associados a uma abordagem conceitual, nos moldes pretendidos para o nosso caso. Nesse sentido, podemos considerar que a adequação de textos e materiais didáticos para situações didáticas planejadas em um formato específico e inovador, torna-se uma demanda quase inevitável. No nosso caso, foram feitas adaptações de textos de livros didáticos e elaboradas atividades experimentais de acordo com a situação-problema proposta e este material foi disponibilizado para todos os alunos participantes. Os alunos trabalharam com este material nas diversas atividades de grupo conforme o planejamento para a aplicação do método cooperativo Jigsaw I. Como foi colocado anteriormente, a seguir serão apresentados os resultados relativos à algumas dessas atividades Análise da resposta inicial para a situação-problema: apresentação dos grupos No primeiro bloco de atividades, após a discussão no grande grupo sobre as imagens exibidas no vídeo, a situação-problema foi apresentada para os alunos que posteriormente se reuniram em pequenos grupos para a discussão. Nos pequenos grupos, os alunos discutiram o tema aquecimento global e depois apresentaram suas considerações para toda a turma. As colocações feitas pelos alunos dos grupos G1 e G2 estão descritas no quadro 1. É importante considerar que a apresentação dos seminários pelos grupos, geralmente, é estruturada considerando um tempo para cada participante do grupo se pronunciar. Dessa forma, na tabela 1 são colocadas separadamente as colocações feitas por diferentes alunos dos grupos. Um outro ponto a destacar é que nessa apresentação inicial, os alunos ainda não tiveram acesso aos textos produzidos e levam em consideração o que foi mostrado no vídeo apresentado. O vídeo mostra imagens de fenômenos naturais que estão ocorrendo em conseqüência do aquecimento global, tais como, o derretimento das geleiras, a desertificação de algumas áreas, o aumento do nível do mar em algumas regiões. É um vídeo produzido pelo Greenpeace e tem uma intenção de sensibilização das pessoas para o problema do aquecimento global. Na seqüência didática foi utilizado com a finalidade de sensibilização e motivação dos alunos para o debate sobre o tema a ser estudado. UFPR, 21 a 24 de julho de 2008. Curitiba/PR. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho EA Tabela 1: Respostas iniciais a situação-problema – apresentação dos grupos GRUPOS G1 G2 RESPOSTA INICIAL A SITUAÇÃO-PROBLEMA A 11 : O aquecimento global iria acontecer de qualquer modo, mas nós com os nossos hábitos errados aceleramos esse processo. Podemos afirmar que o efeito estufa é o principal causador do aquecimento global. A 12 : O efeito estufa nada mais é que (a existência)... de uma camada de CO2 (gás carbônico) na atmosfera impossibilitando a saída dos raios UV (ultravioleta). Com isso causa o aumento na temperatura, que faz com o que as calotas polares se derretam e aumenta o nível do mar diminuindo as faixas litorâneas. A 13 : Podem ser feitas pequenas modificações, podemos tomar como exemplo: a plantação de mamona que nos proporciona o Biodiesel e faz com que o carro que é abastecido com o Biodiesel polua menos. A 14 : O controle da natalidade também ajudaria bastante, porque o aumento da população faz com que o consumo aumente. A 21 : Bem, o alto nível de gás carbono na atmosfera aumenta o buraco na camada de ozônio, facilitando a entrada dos raios ultravioletas ajudando assim o aquecimento global. O gás carbônico é produzido por queimadas, usinas de energia, por meios de transportes que usam combustível que tem em sua composição o petróleo, etc. A 22 : O que podemos fazer para amenizar o aquecimento global é a diminuição da poluição nas praias e rios... as usinas utilizarem para produção de energia elétrica os rios, ventos e luz solar, e plantar árvores. Em um posicionamento inicial sobre a situação-problema os alunos do G1 demonstram ter certa compreensão sobre o efeito estufa. No entanto, mostram-se um pouco confusos quanto ao entendimento científico do que seja aquecimento global e efeito estufa, e sobre a relação entre estes dois fenômenos ambientais. Algumas expressões usadas pelos alunos são encontradas ou ouvidas comumente em notícias da mídia e percebemos uma apropriação superficial dos significados científicos implicados nessas expressões. Uma das dificuldades verificadas diz respeito à referência sobre o aquecimento global como algo que era inevitável e que foi acelerado pelo homem (A11 ). Um segundo ponto a ser ressaltado refere-se à relação causal estabelecida entre o efeito estufa e o aquecimento global, a partir de argumentos ainda frágeis (A11 e A12 ). Na literatura em geral, podemos encontrar considerações que afirmam ser o efeito estufa um fenômeno que acontece na natureza continuamente, enquanto que o aquecimento global é uma conseqüência da intensificação deste fenômeno. Finalmente, o grupo busca apontar possíveis soluções para o problema em foco (A13 e A14 ). Podemos considerar que os alunos do G1 têm uma boa percepção sobre o aquecimento global e apresentam algumas concepções que podem ser trabalhadas no ensino formal no sentido de construir uma compreensão mais aprofundada para os fenômenos. Como pode ser visto no quadro 1, os alunos do grupo G2 , demonstram perceber a relação entre o alto nível de gás carbônico na atmosfera e o aquecimento global (A21 ), porém como podemos verificar, o aluno demonstra ter uma compreensão limitada sobre a causa do aquecimento global, quando atribui única e exclusivamente este fato ao buraco na camada de ozônio. Aqui, verificamos também que as discussões que circulam na mídia muitas vezes são confundidas e articuladas de forma indevida. Nesse sentido, torna-se muito relevante a abordagem de temas atuais e relevantes no ensino de ciências na escola, de forma a promover um processo de alfabetização científica. Novamente, o segundo aluno (A22 ) do grupo aponta para possíveis soluções para o aquecimento global, que de forma confusa parece focar em processos de redução na produção de gás carbônico. É importante ressaltar que a apresentação do grupo ficou restrita ao posicionamento de dois alunos e consideramos que há uma percepção ainda confusa sobre o aquecimento global, sendo as idéias apresentadas confusas e pouco articuladas. Algumas concepções podem ser verificadas, tais como, os dois alunos no grupo demonstram conhecer fontes alternativas de energia que podem amenizar o problema do aquecimento global UFPR, 21 a 24 de julho de 2008. Curitiba/PR. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho EA (A22 ), mas apresentam equívocos ao colocar que alguns combustíveis têm em sua composição o petróleo. Podemos verificar que uma primeira tentativa de responder a questão principal posta na situação-problema, os alunos não fazem referência aos aspectos físico-químicos implicados no problema do aquecimento global. No entanto, eles apresentam possíveis ações no sentido de diminuir o problema e conciliar o desenvolvimento com os cuidados ambientais. Dessa forma, consideramos que estabelecemos aos alunos o desafio de tentar compreender este fenômeno sob a perspectiva da química, e os conteúdos trabalhados ao longo da seqüência tiveram esta orientação. Análise da apresentação do Mapa Conceitual Como forma de sistematização para a discussão feita inicialmente, foi solicitado aos alunos que eles construíssem mapas conceituais. Na ocasião, a professora explicou o que era um mapa conceitual e como eles deveriam proceder para a sua elaboração. Foi enfatizado que eles deveriam colocar em pequenos quadros os principais aspectos relativos ao aquecimento global, organizá- los de forma lógica e tentar estabelecer relações entre eles. O objetivo era avaliar se o grupo incluiria outros elementos à discussão inicial que foi feita. Inicialmente, os grupos foram orientados pela professora a anexarem na parede os seus mapas conceituais, para que em seguida eles fossem explicados para o grande grupo. A seguir serão apresentados os mapas conceituais elaborados pelos grupos G1 e G2 (figuras 1 e 2). AQUECIMENTO GLOBAL CAUSADOR MEIOS DE EVITAR POPULARIZAR O DIESEL EFEITO ESTUFA POLUIÇÃO DO AR AUMENTO DO CONSUMO CO2 CONTROLE DA POLUIÇÃO ETC Figura 1: Mapa conceitual do grupo G1 O mapa conceitual do grupo G1 reflete a apresentação feita anteriormente, e podemos inferir que os alunos articularam bem os diferentes instrumentos para a expressão das suas idéias. Ao apresentar o mapa conceitual, os alunos incluíram nas suas falas algumas relações de causas (causador – no mapa), que não foram apresentadas antes, por exemplo, quando uma aluna coloca que: “o principal causador do aquecimento global é o efeito estufa... e um dos contribuintes do efeito estufa é a poluição do ar, que é feita pelos automóveis, indústrias... tudo que joga gás no ar”. Além disso, ela explica de forma coerente embora pouco formal o que seria o efeito estufa. Em seguida, outra aluna apresenta as relações estabelecidas no mapa entre “efeito estufa”, “poluição do ar” e “aumento do consumo”: “...com o controle da população, com o controle da natalidade, a gente poderia evitar o aumento do consumo... então, com o aumento do consumo aumenta o consumo de CO2 na camada de UFPR, 21 a 24 de julho de 2008. Curitiba/PR. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho EA ozônio na camada da atmosfera...”. Podemos verificar que tais relações são frágeis e há uma dificuldade em expressar com propriedade as idéias principalmente relacionadas com o consumo/produção de gases e substâncias presentes nas camadas da atmosfera. Finalmente, na apresentação sobre os “meios de evitar”, o discurso de uma aluna assume um caráter de denúncia e indignação, quando retruca a solução apresentada pelo colega de investir no biodiesel, e ela coloca: “O que a gente faz, calma A3 ! O que é que a gente diz com ETC (no mapa). Como vocês já estão cansados de ouvir na televisão, no rádio, nos jornais e tudo quanto é canto, a gente tem que diminuir as queimadas, tem que fazer o reflorestamento. Então se a gente plantasse muda... não vai cair a mão de ninguém. Então é isso aí que eu acho. É isso aí gente, espero que vocês tenham gostado”. Neste último momento da apresentação, a aluna demonstra compreender que há uma demanda por responsabilidade social no problema discutido e as soluções para o problema do aquecimento global não estão somente na dimensão científica e natural do mesmo. No entanto, mais uma vez aspectos conceituais da química ou outras ciências não são usadas nas argumentações dos alunos. AQUECIMENTO GLOBAL CAUSADOR PREVENÇÕES GÁS CO2 AMENIZAR POLUIÇÕES QUEIMADAS VEÍCULOS REFLORESTAMENTO USINAS DE ENERGIA Figura 2: Mapa conceitual do grupo G2 Na apresentação do mapa conceitual os alunos do grupo G2 continuam a apresentar as idéias pouco articuladas, isso também pode ser visualizado a partir do fluxograma apresentado no mapa. As expressões dos alunos são confusas, por exemplo, quando um aluno coloca: “Aquecimento global... Existem vários causadores... Todo mundo sabe que é o gás CO2 que é jogado na camada de ozônio. As queimadas que, as queimadas também vêm acontecendo em maior quantidade na Amazônia que é a principal floresta do mundo... (risos)... Também a parte dos veículos que. Os derivados do petróleo também contribuem para o efeito da camada do aquecimento global, e as usinas de energia que usam carvão como combustível em vez de usar água”. Como podemos verificar, o aluno tentar apresentar algumas das idéias colocadas no mapa e faz diversas confusões quando busca construir articulações entre essas idéias. Outros dois alunos participam muito timidamente na apresentação, mas não contribuem significativamente para uma melhor compreensão da discussão feita no grupo. Um deles faz uma colocação que sugere um viés polític o pautado em idéias que circulam em fóruns de debate: “Já com relação às prevenções... amenizar as poluições... torna... mudar... começar a punir os Estados Unidos, talvez o culpado por tudo isso”. Finalmente, consideramos que, diferentemente do grupo G1 , o grupo G2 apresenta várias limitações para a discussão proposta, mas constatamos que para os dois grupos a elaboração e apresentação de um mapa conceitual foram atividades importantes no sentido de colocar para os alunos a tarefa de buscar uma construção de argumentos articulados e coerentes para responder a situaçãoproblema proposta. Sendo que, o grupo G1 apresentou respostas satisfatórias a este desafio enquanto o grupo G2 revelou dificuldades na compreensão do tema estudado. Consideramos que essas são percepções valiosas para o redimensionamento da ação docente em sala de aula. UFPR, 21 a 24 de julho de 2008. Curitiba/PR. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho EA Análise da resposta final para a situação-problema Após a realização das diversas atividades da seqüência didática proposta, conforme apresentado na metodologia, no terceiro e último bloco, os alunos deveriam apresentar uma resposta final dos grupos para a situação-problema a partir da elaboração de um texto. A seguir serão apresentados os textos escritos que foram entregues à professora pelos grupos G1 e G2 e feita a sua análise. Antes, porém gostaríamos de recolocar a principal pergunta feita no texto da situação-problema: como você explicaria o aquecimento global em termos físico-químicos e que ações podem ser feitas na sua região para conciliar desenvolvimento e aquecimento global? TEXTO ELABORADO PELO GRUPO G1 Trocar a gasolina normal pelo biodiesel que tem menor teor de enxofre e hidrocarbonetos. Conscientização da população e principalmente das indústrias, da utilização da reciclagem, por que as indústrias não só jogam gases poluentes no ar, mas também jogam lixos nos rios e mares, é no mar que se encontram os plânctons que produzem oxigênio 24 horas a partir da filtração do CO2 ; já as árvores elas filtram o CO2 e produzem oxigênio só 12 horas. Temos como exemplo nos termos físico-químicos do aquecimento global, a queima da gasolina que produz novas substâncias, dentre elas o CO2 . As queimadas de árvores, quando queimada ela libera todo CO2 filtrado ao longo de sua vida. Os CFC’s também influenciam o aquecimento global, pois na sua constituição existe o dióxido de carbono. Na resposta final à situação-problema, os alunos do grupo G1 demonstraram ter ocorrido uma aquisição significativa de conhecimento científico, quando introduzem argumentos científicos no seu texto, tais como, o reconhecimento de que na queima da gasolina ocorre a produção de novas substâncias, sendo uma delas o CO2. O que parece demonstrar a compreensão do conceito de reação química associado a um fato antes citado com relação ao tema sem articulação com os estudos de química. Este era um de nossos objetivos na aplicação dessa seqüência didática e consideramos que foi contemplado para o grupo G1 no que se refere à queima da gasolina. Além disso, no texto, os alunos mostraram ter adquirido uma compreensão mais ampla e elaborada sobre a origem do CO2 , ao mencionar diversos processos nos quais este gás é produzido: “... indústrias não só jogam gases poluentes no ar ... é no mar que se encontram os plânctons que produzem oxigênio 24 horas a partir da filtração do CO2 ; já as árvores elas filtram o CO2 e produzem oxigênio só 12 horas”. Também verificamos que ficou mais clara para os alunos a percepçao sobre diferentes constituintes presentes em materiais poluentes, quando propõem como ações, para conciliar o desenvolvimento com o aquecimento global a troca da gasolina pelo biodiesel, pelo fato deste último ter menor teor de enxofre e hidrocarbonetos. Porém, algumas questões ainda ficaram pouco definidas, por exemplo, com relação ao papel desempenhado pelos CFC’s no processo de aquecimento global, o que demonstra a permanência de algumas lacunas nos seus conhecimentos e também de alguns equívocos, quando colocam que os CFC’s possuem o dióxido de carbono na sua composição. TEXTO ELABORADO PELO GRUPO G2 Na nossa opinião, é causado pela poluição através de fábricas, sujeira nas marés, queimadas, uso de gasolina e outros combustíveis poluentes, gases CFC’s, etc. que por sua vez causa o efeito estufa (que é o acúmulo de gases poluentes na atmosfera) facilitando a entrada de raios UV’s e dificultando sua saída, por sua vez causando os fenômenos: aumento do nível do mar, aumento da temperatura, queimadas, derretimento de geleiras. Plantação de árvores, reciclagem do lixo, diminuição da poluição do ar, do mar, do meio ambiente, etc. uso de combustíveis alternativos (biocombustível), diminuição do desmatamento e das queimadas, uso de energia razoável, fabricação de energia através da água (hidroelétricas) etc. UFPR, 21 a 24 de julho de 2008. Curitiba/PR. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho EA Apesar de ser um texto sucinto e pontual, a resposta dada à situação-problema pelos alunos do grupo G2 , comparativamente ao desempenho deste grupo nas discussões iniciais, mostra idéias mais ricas e mais articuladas. Isto pode ser verificado quando são colocadas as seguintes relações: (1) a poluição causa o aquecimento global, como mostra o trecho quando o grupo responde sobre aquecimento global; (2) a poluição é causada pelas fábricas, queimadas e etc., e (3) os poluentes causam o efeito estufa, “que é o acúmulo de gases poluentes na atmosfera”. A sistematização das idéias em uma seqüência lógica e coerente parece ter sido um dos grandes aprendizados dos alunos neste grupo, mesmo que algumas confusões ainda não tenham sido resolvidas. Podemos verificar que é frágil a utilização de argumentos físico-químicos que foram discutidos ao longo da seqüência na construção do texto, mas consideramos que essa discussão provavelmente foi muito relevante para uma melhor articulação das idéias, antes bastante desconexas. Um outro fator importante a ressaltar, diz respeito ao fato de que quando os alunos propõm ações para conciliar desenvolvimento e aquecimento global, são introduzidos novos elementos e termos na apresentação das sugestões, tais como, reciclagem do lixo, uso de combustíveis alternativos (biocombustível) e uso razoável de energia considerando as fontes mais limpas de obtenção, como as hidroelétricas. CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise visando a validação interna da seqüência mostrou uma evolução, do ponto de vista cognitivo, dos alunos nos grupos G1 e G2 ao longo da aplicação da seqüência em sala de aula. Primeiramente, devemos colocar que a proposta de intervenção didática representou uma nova dinâmica em sala de aula e isso os levou a executarem as atividades de forma integrada, interessada, expondo as suas opiniões (as pré-existentes e aquelas adquiridas no processo). Esses aspectos são importantes para a resolução de situações-problema e para o processo de ensinoaprendizagem, por privilegiar e incentivar a participação de todos a partir de apresentação e discussão de idéias na sala de aula. A tentativa de articular o ensino de conceitos químicos a uma situação vinculada à realidade dos alunos, apesar de não se constituir em uma tarefa de fácil planejamento e elaboração, resultou em um debate mais significativo em sala de aula. No que se refere aos conhecimentos científicos, os alunos mostraram uma maior compreensão dos conceitos químicos abordados para um melhor posicionamento diante da situação-problema proposta. A organização dos alunos em grupos estabeleceu uma dinâmica de aprendizagem que transcende os limites do conteúdo estudado. Assim, podemos dizer que a eficácia global da seqüência aplicada foi satisfatória. No entanto, verificamos algumas dificuldades surgiram em sala de aula, relacionadas a fatores tais como: as dificuldades inerentes à aprendizagem dos conceitos, a não familiaridade de alunos com um processo mais participativo, promovendo pouco envolvimento de alguns deles, e dificuldades da professora no trabalho com o método cooperativo. No entanto, consideramos que nenhum desses fatores invalidaram a importância e significado que o conteúdo proposto parece ter adquirido para os alunos, o que pode ser verificado a partir da análise feita neste trabalho. A discussão de alguns aspectos da seqüência analisada poderá ser ampliada em trabalhos posteriores, por exemplo: a dificuldade dos alunos em estabelecerem relações entre diferentes situações e conceitos e como a elaboração de mapas conceituais pelos grupos parece ter contribuído nesse sentido, e as dificuldades dos alunos na elaboração de textos escritos e como eles são representativos dos processos de construção de significados e sua sistematização. UFPR, 21 a 24 de julho de 2008. Curitiba/PR. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho EA REFERÊNCIAS AROSON, E.; BLANEY, N.; STEPHAN, C.; SIKES, J. e SNAPP, M. The Jigsaw Classroom. Ed.1. London: Sage Publications, 1978. COHEN, E. Restructuring the classroom: conditions for productive small groups. Review of Educational Research, v. 64, n. 1, p. 1-35, mês 1994. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2007. LEACH, J., AMETLLER, J., HIND, A., LEWIS, J. E SCOTT, P. 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