CARREIRA POLICIAL – RETA FINAL FELIPE OBERG PROVA N. 1 CESPE-2009 MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL ANALISTA NÍVEL SUPERIOR Um peixe, se tivesse consciência, provavelmente não se daria conta de que vive permanentemente na água. Nós raramente tomamos consciência de que vivemos imersos em uma grande camada de oxigênio. Do mesmo modo, quase nunca nos apercebemos que vivemos em contato direto com os grupos e as instituições. Somente quando sofremos alguma privação de oxigênio, quando nos afastamos ou perdemos um grupo de referência, ou seja, quando o peixe é retirado da água, é que sentimos o quanto estávamos envolvidos por esse meio ambiente, que nos abraça de forma tão gentil, tão cotidiana, e que o temos como um fato, pois pouco nos importamos com ele. De maneira parecida ocorre com os grupos. De tão habituados a viver em relação com os demais, poucas vezes percebemos ou constatamos sua importância ou sua influência em nossos comportamentos ou em nossas decisões. A vida humana é grupal. Francisco José B. de Albuquerque e Kátia Elizabeth Puente-Palácios. Grupos e equipes de trabalho nas organizações. In: Zanelli et al. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil, p. 357-8 (com adaptações). Julgue os itens que se seguem, a respeito da organização das ideias e estruturas linguísticas do texto acima. 1. No desenvolvimento da argumentação, a referência a um peixe tem a função de contrapor a consciência, presente no comportamento social dos seres humanos, ao alheamento e à inconsciência, características que opõem os atos dos animais irracionais aos dos humanos. 2. Nas relações de coesão do texto, os referentes dos pronomes “se” (l.2) e “o” (l.11) são, respectivamente, “Um peixe” (R.1) e “esse meio ambiente” (l.10). 3. Nos segmentos “de que vive” (l.2) e “de que vivemos” (l.3), o uso da preposição “de” é requerido pela regência do verbo viver 4. Como, no texto, a significação da forma verbal “apercebemos” (l.5) é semelhante à do verbo perceber, sua substituição por percebemos preservaria a coerência e a correção gramatical do texto. 5. Em “De tão habituados” (l.13), a preposição “De” introduz oração de valor causal que, entre outras estruturas, corresponde a Porque estamos tão habituados ou a Por estarmos tão habituados. 6. Preservam-se as relações de coerência entre os argumentos, bem como sua correção gramatical, ao se explicitar um conectivo — como, por exemplo, Apesar de — para a última oração do texto, fazendo-se o devido ajuste na letra inicial maiúscula dessa oração. Rousseau defendia que o que, de fato, distingue os animais do ser humano é algo que ele denominou perfectibilidade. O nome é um neologismo um tanto inusitado, mas seu significado é por ele esclarecido: a perfectibilidade é a capacidade que o homem tem de aperfeiçoar-se. Atualizando um pouco a distinção, poder-se-ia dizer que é como se os animais viessem com um software instalado, de 01/08/2009 LÍNGUA PORTUGUESA fábrica, o qual os condiciona e limita durante toda a existência. Já os humanos seriam, nesse sentido, ilimitados, porque são seres que se aperfeiçoam, desenvolvem cultura, fazem história. Enquanto um pombo morreria de fome diante de um pedaço de carne, ou um felino, frente a um punhado de grãos, pois são programados por natureza a alimentar-se diversamente, o homem é um ser que supera determinações naturais. Não sendo condicionado por natureza, o homem é capaz de vivenciar novas experiências, de inventar artefatos que lhe possibilitem, por exemplo, voar ou explorar o mundo subaquático, quando não foi dotado por natureza para voar e permanecer sob a água. Diante disso, Rousseau defende que o homem é o único animal a possuir liberdade, porque ele pode fazer escolhas que vão contra seus instintos ou determinações naturais. Lília Pinheiro. Homem, o ser tecnológico. In: Ciência&Vida. Ano III, n.º 27, p. 27-8 (com adaptações). Filosofia, Julgue os seguintes itens quanto às ideias e às estruturas linguísticas do texto acima apresentado. 7. Conclui-se, a partir da argumentação do texto, que a liberdade decorre da capacidade de aperfeiçoamento do homem, ou seja, da sua perfectibilidade. 8. Para se evitar a repetição do pronome “que” (l.1), o desenvolvimento da textualidade admite a retirada da primeira ocorrência, mas não da segunda, com a vantagem de o texto se tornar menos informal. 9. Apesar de o sinal de dois-pontos após o vocábulo “esclarecido” (l.4) introduzir uma explicação, sua substituição por ponto, com os devidos ajustes na inicial maiúscula no artigo “a” em “a perfectibilidade” (l.4), preservaria a coerência e a correção gramatical do texto. 10. A substituição de “poder-se-ia dizer” (l.6) pela forma menos formal poderia se dizer preservaria a correção gramatical do texto, desde que fosse respeitada a obrigatoriedade de não se usar hífen, para se reconhecer que o pronome se está antes do verbo dizer, e não depois do verbo poderia. 11. O uso de “Já” (l.9), que inicia um período, tem a função argumentativa de ressaltar a ideia de os seres humanos serem ilimitados a partir do início de sua criação. 12. No desenvolvimento das relações de coesão do texto, o pronome “lhe” (l.17) retoma “homem” (l.15) e, por isso, sua substituição pelo pronome o preservaria a coerência e a correção gramatical do texto. A expressão sustentabilidade do desenvolvimento não significa um ajustamento suplementar à racionalidade do desenvolvimento moderno. O âmago do conceito — o princípio ético da solidariedade — guarda o imenso desafio contemporâneo de assegurar a sustentabilidade da humanidade no planeta, no interior de uma crise de civilização de múltiplas dimensões interdependentes e interpenetrantes: ecológica, social, política, humana, étnica, ética, moral, religiosa, afetiva, mitológica... A sustentabilidade do desenvolvimento é um problema complexo, porque a sua essência está imbricada em um tecido de problemas inseparáveis, exigindo uma reforma epistemológica da própria noção de desenvolvimento. A modernidade tramou-se no virtuosismo da civilização europeia. As luzes da razão e do saber alimentaram o ideal civilizatório, em oposição a tudo que Neste curso os melhores alunos estão sendo preparados pelos melhores Professores 1 CARREIRA POLICIAL – RETA FINAL FELIPE OBERG LÍNGUA PORTUGUESA representasse barbárie. Aos olhos do colonialismo, a dignidade da existência do bárbaro do novo mundo foi reconhecida, apenas, na sua capacidade de incorporar-se às luzes da moral cristã, da mentalidade capitalista e do racionalismo progressivo do mundo industrial, em sua voracidade insaciável por recursos naturais, cada vez mais distantes. Julgue os próximos itens, acerca das ideias e das estruturas linguísticas do texto acima. Paula Yone Stroh. Introdução. In: Edgard Morin. Saberes globais e saberes locais: o olhar transdisciplinar. Rio de Janeiro: Garamond, 2000, p. 9-10 (com adaptações). 21. O desenvolvimento das ideias do texto permite substituirse “Diante” (l.1) por Frente, sem prejuízo para a coerência nem para a correção gramatical do texto. Julgue os itens subsequentes, a respeito da organização das idéias no texto acima. 13. De acordo com o texto, a “sustentabilidade do desenvolvimento” (l.1) não significa um mero ajustamento, pois o princípio da solidariedade é incompatível com o modo de vida capitalista moderno. 14. Na linha 2, a obrigatoriedade do uso do sinal indicativo de crase em “à racionalidade” deve-se à presença da preposição a, exigida na complementação da palavra “suplementar”, juntamente com o artigo definido que antecede o vocábulo “racionalidade”. 15. Pela função que exercem no texto, os dois travessões nas linhas 3 e 4 correspondem a duas vírgulas, e por elas podem ser substituídos, sem prejuízo para a coerência ou para a correção do texto. 16. Seriam preservados a coerência textual e o respeito às regras gramaticais ao se escrever a oração iniciada por “exigindo” (l.12) como uma oração desenvolvida iniciada por que exigem. 17. O desenvolvimento da argumentação do texto mostra que a estrutura linguística “tramou-se” (l.13) corresponde a foi tramada. 18. Nas relações de coesão do texto, em “incorporar-se” (l.18), o verbo está flexionado no singular porque o pronome “se” retoma “novo mundo” (l.17). 19. Mantêm-se o respeito às regras gramaticais e a coerência na argumentação ao se substituir “em sua” (l.20) tanto por na sua como por com sua. Diante das notícias atuais, pode até parecer natural que cada um de nós vista algum tipo de couraça para se proteger de tudo isso. E, assim, encouraçados e amedrontados, vamos nos escondendo, nos encolhendo, antes mesmo de enxergar as possibilidades de fazer o que temos de fazer em conjunto, em comunidade, em companhia. A desconfiança é um tipo de desnutrição mental. Falo da atitude, crescente no cotidiano, que faz da desconfiança a própria ambiência nas relações. Pode parecer natural, mas não é aceitável. E, no fim, não serve de nada. O medo não elimina perigo algum. Se o mundo é arriscado, esse fato não será mudado por nosso medo ou desconfiança. E, muito importante, não faria sentido vivermos, estudarmos e trabalharmos em conjunto se não pudéssemos estabelecer alguma — ou muita — confiança nas pessoas que estão conosco nessa jornada. Caco de Paula. Nutrição mental. In: Vida Simples. Ed. 74, dez./2008, p. 78 (com adaptações). 2 01/08/2009 20. De acordo com a argumentação do texto, o que faz a violência das notícias atuais parecer natural, mas não aceitável, é ter medo de aceitar que o mundo é arriscado. 22. Devido à presença do termo “cada um de nós” (l.2) como sujeito de oração, o uso do pronome se, em lugar de “nos” (l.4), preservaria a coerência e a correção gramatical do texto. 23. Na linha 8, a forma verbal “faz” está flexionada no singular porque o pronome “que” retoma, por coesão textual, o termo “cotidiano”. 24. A organização da textualidade mantém a coerência entre os argumentos, bem como o respeito às regras gramaticais, ao se usar viver, estudar e trabalhar em lugar de “vivermos, estudarmos e trabalharmos” (l.13-14). 25. A opção pelo uso do modo subjuntivo em “pudéssemos” (l.14) sugere que, na organização dos argumentos, o texto endossa a hipótese de que não é possível estabelecer a confiança. PROVA N. 2 CESPE-2009 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA NÍVEL SUPERIOR Confissão de Allan Poe Cometi apenas um erro. Não soube ser feliz. Nunca: nem um só dia, nem sequer uma hora. A própria criação, um prazer para os poetas mais sensíveis, foi para mim sempre mais angustiante que redentora. A causa primeira do meu infortúnio, conheço-a agora. Tive sempre medo da vida. De uma sensibilidade exacerbada e doentia desde a mais tenra infância, atormentada e mortificada até a exaustão pelo infortúnio e pela miséria, a vida banal, as realidades quotidianas constituíam para mim uma fonte constante de terror. Tinha a impressão de viver continuamente suspenso no limite de dois reinos — ser uma criança semimorta unida em laço misterioso a um espectro nostálgico. A criança tinha medo da treva; o espectro da luz. Uma e outro aspiravam à morte e, simultaneamente, receavam-na. A vida era para mim aborrecimento, alucinação, condenação. Cada vez que eu tentava reconciliar-me com ela, saía maltratado, repelido. Fazia-me o efeito de um anjo que pretendesse participar num banquete de monstros. O próprio amor não logrou salvar-me porque a mulher é uma das mais perfeitas encarnações da vida, e eu tinha da vida um indizível terror. Todas as mulheres que julguei amar ou fugiram de mim, ou estão mortas. Uma vez mortas, e só então, elas pareciam realmente minhas amantes na eternidade, as únicas que poderiam amar um homem segregado da vida. Para escapar às minhas visões terrificantes, aos meus pesadelos, às tentações de minha razão delirante, um gênio forçava-me a escrever, senhor mais titânico e exigente que um demônio. Escrevi, pois, toda a minha vida poemas, narrativas, contos, tratados, ensaios. Neste curso os melhores alunos estão sendo preparados pelos melhores Professores CARREIRA POLICIAL – RETA FINAL FELIPE OBERG LÍNGUA PORTUGUESA Porém, mal experimentava a ilusão de pela poesia ter exorcizado a perseguição dos meus pavores, logo outras alucinações, outros pesadelos, outras bizarrias macabras e fúnebres assaltavam sem trégua a minha pobre alma acabrunhada. Então, como última esperança do meu desespero, buscava socorro no álcool, que, aliás, abominava. política de instrução primária. No caso do Brasil, é curiosa, depois da Independência, a relativa indiferença pela fundação de escolas superiores, além do mínimo para formar quadros dirigentes restritos. Custa crer que o Brasil só tenha tido universidades no século XX; e que, durante o período colonial, não houvesse nele escolas de nível superior. Revista Literatura. São Paulo: Escala Editorial, 2009, n.º 23, p. 45 (com adaptações). Antonio Candido. A perversão da Aufklärung. In: Textos de intervenção. 34.ª ed., São Paulo: Duas Cidades, 2002, p. 321-3 (com adaptações). Considerando as estruturas linguísticas do texto acima, julgue os itens de 1 a 7. 1. Confissão de Allan Poe, o título do texto, e construção de Brasília são estruturas semelhantes sintaticamente, pois são formadas por substantivo abstrato mais preposição de seguida de outro substantivo, o qual, no título do texto, desempenha papel de agente — pelo qual se entende que Allan Poe fez uma confissão — e, em construção de Brasília, desempenha papel de paciente. 2. Em “Cometi apenas um erro” (l.1) e “Tive sempre medo da vida” (l.5), a mudança na ordem dos termos adverbiais para Apenas cometi um erro e Sempre tive medo da vida mantém inalterado o sentido desses períodos no texto. 3. Para a palavra “quotidianas” (l.9), está também prevista, nos dicionários da língua portuguesa, a grafia cotidianas. 4. Na construção “Uma e outro aspiravam à morte” (l.13-14), ao se substituir a conjunção “e” por ou, flexionando-se o verbo na terceira pessoa do singular, mantém-se a correção gramatical. 5. Em “Cada vez que eu tentava reconciliar-me com ela” (l.1516), a expressão “Cada vez que” pode ser substituída por À medida que, sem alteração de sentido. 6. Com o deslocamento da conjunção “pois” para o início da oração “Escrevi, pois, toda a minha vida poemas, narrativas, contos, tratados, ensaios” (l.27-28), com os devidos ajustes de maiúsculas e minúsculas, preserva-se o sentido original do período. 7. Em “Porém, mal experimentava a ilusão (...) a minha pobre alma acabrunhada” (l.29-33), o termo “mal” é empregado com sentido temporal. Acerca das ideias e estruturas linguísticas do texto acima, julgue os itens a seguir. 8. Infere-se do texto que os ideais ilustrados propunham, originalmente, o saber e a educação como formas de emancipação, liberdade e igualdade entre os homens. 9. Ao restringir às elites locais o acesso ao saber, a América Latina perverteu os ideais ilustrados plenamente realizados na Europa pela difusão igualitária do saber. 10. As relações sintático-semânticas do período entre as linhas 9 e 10 indicam que a realização da ideologia ilustrada como bem comum condicionava-se às lutas populares pela democratização do saber. 11. A flexão de plural da forma verbal “permitiram” (l.13) justifica-se pela relação de concordância estabelecida, na oração, entre o verbo e o sujeito “países do Ocidente da Europa” (l.11). 12. A forma verbal “dosando” (l.19) corresponde a uma ação de política educacional que, voltada para as classes dominadas, previa a democratização do saber em curto prazo. 13. Infere-se do texto que o fato de as universidades só terem surgido no Brasil, no século XX, relaciona-se à manifestação do caráter contraditoriamente restritivo da ideologia ilustrada. “Quem não luta pelos seus objetivos não é digno deles.” Rui Barbosa A história dos ideais ilustrados na América Latina tem, às vezes, um sabor quase trágico de perversão dos intuitos ostensivos, porque acabaram funcionando como fatores de exclusão, não de incorporação; de sujeição, não de liberdade. O saber como salvação acabava como teoria de poucos eleitos. Na América Latina, as condições locais puseram a nu a contradição fundamental da ideologia ilustrada, que desaguava quase inevitavelmente na delegação de função às elites. O propalado bem comum ficava no limbo da utopia se os povos não lutassem pela sua realização. Nos países do Ocidente da Europa, as lutas democráticas do fim do século XVIII e século XIX, aliadas à prosperidade econômica, permitiram uma solução parcial da contradição apontada acima, com relativa difusão do saber. Em nossos países, a contradição permaneceu com toda força. Essa contradição se manifesta de vários modos e em vários níveis. No nível estrutural, é óbvio que ela corresponde a uma tendência das sociedades de classe para concentrar o saber nas camadas superiores, dosando as suas formas mais modestas ao longo da escala social dominada. No nível escolar, ela aparece tanto na política universitária quanto na 01/08/2009 Neste curso os melhores alunos estão sendo preparados pelos melhores Professores 3