SOLILÓQUIO 05 Nesse parque às vezes havia representações teatrais e nessa tarde seria levada uma peça infantil. Eu não cabia em mim, estava eufórico. Havia uma luz azul. Misteriosa, de repente surgiu uma figura, muito grande, toda dourada. Eu invejava todos os que estavam lá em cima, indo e vindo, falando e rindo – um deles podia até ir e voltar voando, cortando o ar! Perguntei à minha tia, que havia comprado o ingresso para mim: “ quanto é que a gente precisa pagar para estar lá em cima, para falar e voar?” ela riu e disse: “Nada, seu bobinho; nada, só se paga pra assistir!” “ Não acredito, ela não tem dinheiro suficiente.” Ela era uma jovem costureira, uma dessas tias solteiras, que aos domingos pega seu sobrinho pequeno e o leva para se divertir num lugar qualquer, só para lhe dar uma alegria. Essa é sua vida, ela não tem outra. Talvez não tenha havido em sua infância uma tia assim como essa, uma dessas adoráveis, dedicadas e eventualmente teimosas criaturas, que com suas próprias pernas seguem determinadas o seu caminho, sem esperar durante toda a sua vida, que alguém se volte e a siga carinhosamente com o olhar. Sim. Então eu me tornei ator, e paguei por isso com toda a minha vida. – E você? Como entrou para o teatro? 1