UM BALANÇO DE PORTUGAL DE 1820 A 1850 Dr. Edson Santos Silva (UNICENTRO/I) Resumo. O presente artigo tem por objetivo apresentar um panorama histórico-político de Portugal no século XIX, a partir da vinda da família real ao Brasil. Período de crises internas e externas que culminou com uma forte crise ideológica. Palavras-chave: Revolução Liberal. Guerra Civil. Absolutismo. Constitucionalismo. Abstract. This paper aims to present a historical-political landscape of Portugal in the nineteenth century, from the arrival of the royal family to Brazil. A period of internal and external crises that culminated with a strong ideological crisis. Key words: Liberal Revolution. Civil War. Absolutism. Constitutionalism A situação portuguesa em 1820 é frequentemente definida por alguns historiadores como caótica. Os planos da vida nacional foram abalados desde que D. João VI, então regente de Portugal, a rainha, D. Maria II, toda a família real e os órgãos da administração central mudaram-se para o Brasil, em 1808. A crise ultrapassava o limite do campo político, estendendo-se à economia e a uma forte crise ideológica. A crise política fazia-se sentir pela ausência do Rei, enquanto a ideológica, há muito fomentada, nascia da progressiva difusão de novas ideias políticas que julgavam a monarquia absoluta um regime ultrapassado e opressivo. Esses fatos traziam, no seu bojo, o desgaste econômico da Nação, cuja causa era resultante da emancipação econômica da colônia- Brasil- que ocupara, a partir de 1808, o posto de metrópole. Por fim, a presença dos oficiais ingleses, tendo à sua frente Beresford, nos altos postos do exército, criava uma crise militar sem precedentes no território português. A abertura dos portos do Brasil à navegação internacional enriqueceu a colônia, mas arruinou a metrópole. Diante da previsível bancarrota, os governadores do reino suplicavam a D. João VI uma tomada de atitude, entre elas o seu regresso a Portugal, sem o qual o risco de uma revolução seria inevitável. Revista Interlinguagens 2014 5ed v.1 ISSN2178-955X Página 88 Na Espanha, as ideias revolucionárias tomavam corpo e é notória a sua influência em Portugal. No dia primeiro de janeiro de 1820, houve um levante nos subúrbios de Cadiz contra o governo absolutista de Fernando VII. No dia sete de março do mesmo ano, o Rei tirano jurava a Constituição de 1812 em Madri, fato secundado em toda Espanha. O Sinédrio1 atestava que as relações entre espanhóis constitucionalistas e portugueses dedicados à mesma causa eram constantes e íntimas. Basicamente composto por homens politicamente doutrinados, o Sinédrio tinha por objetivo manter o contato e discutir a evolução da situação política na Península Ibérica. Em fins de março de 1820, Beresford embarcou para o Brasil, completando desta forma o perfeito panorama para o nascimento de uma nova ordem política em Portugal: o Liberalismo. As causas diretas da Revolução podiam ser condensadas por meio do discurso de Xavier de Araújo2 proferido na época: Fez sobre mim impressão profunda o discurso que Fernandes Tomás me dirigiu. Presidia ele; e com sua voz fortemente acentuada pintou o estado do País, sem rei que o governasse, um general estrangeiro senhor do exército, estrangeiros também governando as províncias, nossa dependência do Brasil, enfim a Revolução da Espanha. Que acabava de terminar felizmente com o juramento de Fernando à constituição de Cádis. Ficaremos nós assim? Devemos continuar neste aviltamento? (apud SARAIVA, 1995, p. 277). Após a Revolução do Porto (1820), assumiu o poder “A Junta Provisória do Governo Supremo do Reino”, presidida por Antônio Silveira Pinto da Fonseca e doze membros. A junta comprometeu-se a governar em nome do Rei, a manter a religião católica e a elaboração de uma constituição política, só finalizada em 1822. Para tanto, fazia-se necessária a realização de Cortes Constituintes. Os membros dessas Cortes seriam eleitos por um sufrágio indireto em três graus: as paróquias 3 escolhiam os 1 Manuel Fernandes Tomás, desembargador da Relação, organizou no Porto uma associação de liberais com fins revolucionários. Foi em 1808, no mês de janeiro. Agregou a si o advogado Ferreira Borges e o juiz-dos-órfãos Silva Carvalho. Vieram mais tarde outros, entre eles os coronéis Mello Castro e Bernardo Sepúlveda. Ao todo, treze. O grupo reunia-se todos os meses na Foz, num jantar isolado para se informarem dos progressos do seu plano. (FERREIRA, 1951, p. 687) 2 Um dos membros secundários do Sinédrio.. 3 Paróquia no contexto da Revolução do Porto (1820) era a unidade que partia da concepção ou da influência da Igreja como marco divisor territorial (bairro). Comarca, aqui, significa cidade e seria a unidade geográfica que reunia as paróquias; entretanto, as comarcas traziam no seu bojo a lógica territorial do Estado e não da Igreja. Revista Interlinguagens 2014 5ed v.1 ISSN2178-955X Página 89 eleitores paroquiais, que designavam os eleitores de comarca e estes elegiam os deputados. Os deputados eleitos pertenciam, em sua maioria, às alas mais radicalizadas das fileiras liberais. Quase todos eram formados em Direito. Havia em quantidade inferior elementos da burguesia mercantil ou da burguesia agrária. A massa rural, por sua vez, ficou à margem da Revolução. A obra legislativa dos mentores de 1822 trazia em seu nascedouro, entretanto, as contradições políticas cujos atos e fatos iriam comprová-las. Entre elas, o caráter radical da Constituição a ser elaborada, a atitude assumida para com o Rei quando este regressou, o conflito com o cardeal-patriarca de Lisboa e a recusa de um parlamento bicameral. Para Joaquim Freire, a Revolução de 1820 incorporou a nação portuguesa na democracia. Ainda segundo o historiador, apesar das contradições que foram apontadas acima, a Revolução foi um sucesso de gigantesca importância para a nação portuguesa. Excetuando os erros cometidos, provenientes da paixão sectária e da inexperiência administrativa, encontrava-se a essência da Revolução: a prosperidade da pátria na dignidade cívica. A primeira resolução das Cortes Constituintes foi instituir uma Regência de cinco membros para o governo de Portugal, até que o Rei regressasse. Foram eleitos o marquês Castelo-Maior, o conde de Sampaio, Fr. Francisco de S. Luís, José da Silva Carvalho e João da Cunha Soutomaior. Indicaram-se também os Ministros do Interior, da Fazenda, dos Estrangeiros, da Guerra e da Marinha. E declarou-se, enfim, dissolvida “A Junta Provisional do Governo Supremo do Reino”. A Regência vigorou até 4 de julho de 1821, quando D. João VI assumiu as suas funções de rei constitucional em 1822. Os Vintistas4 elaboraram a Constituição de 1822, tendo por base a Constituição de Cadiz. As Cortes eram formadas por uma só câmara, a qual possuía mandato bienal. A eleição da Câmara, excetuando analfabetos, mulheres e frades, ocorria por sufrágio universal e direto. Imperava, neste caso, a supremacia do poder parlamentar sobre o 4 “Aos homens que desencadearam a Revolução de 1820 e que colaboraram com a Constituição de 1822 deu-se o nome de Vintistas, neologismo inspirado no espanhol doceanistas, partidários da Constituição de 1812. O vintismo seria, por muito tempo, a posição ideológica mais audaciosa e exigente do consitucionalismo.” (SARAIVA, 1995, p. 281). Revista Interlinguagens 2014 5ed v.1 ISSN2178-955X Página 90 poder real. Não era competência do Rei suspender as Cortes, dissolvê-las ou interferir no seu funcionamento. Entretanto, o Rei podia apor, nos projetos de leis, a sanção e a ordem de publicação. O poder do Rei passava, a partir de então, a ser limitado. A autoridade real emanava da Nação, nos termos da Constituição. Em outras palavras: o Rei era o chefe do Poder Executivo, exercendo suas funções por meio dos secretários de Estado por ele nomeados. Cabia, no entanto, às Cortes, quando o sistema constitucional encontrava-se em perigo, indicar os secretários de Estado. Em um ofício enviado a D. João VI em 2 de junho de 1820, os governadores do Reino advertiam o Rei das misérias do país e o descontentamento da população. A reação do Rei foi, no entanto, de lassitude e de inércia. A notícia da Revolução de 24 de agosto, entretanto, parece tê-lo tirado da letargia. Coube a Palmela a incumbência de levar pessoalmente as notícias da Revolução ao monarca. O conde chegou ao Rio de Janeiro em dezembro. Informando o Rei dos últimos fatos ocorridos na metrópole, exortou-o a aceitar a Revolução. A salvação da dinastia, segundo o conde, estava vinculada à aceitação das novas regras ditadas pelos vintistas. Somente assim, D. João VI resolveu regressar a Portugal, deixando no Brasil o príncipe regente D. Pedro I. A nau D. João VI, em que navegava a família real, ancorou no rio Tejo em 3 de julho de 1821, sendo recebida com festa pela população lisboeta, pelo Senado Municipal e por uma delegação das Cortes. No Palácio das Necessidades, local em que funcionavam as Cortes, o rei sentou-se ao trono e jurou observar as bases constitucionais já aprovadas e a Constituição resultante delas. A partir desse momento, instaurava-se em Portugal o novo Regime: a monarquia constitucional. A evolução da política na Espanha fez nascer e fez morrer a primeira experiência constitucional portuguesa, A monarquia absoluta foi restaurada na Espanha em 1823, quando um exército francês, agindo em nome do programa antiliberal da Santa Aliança, derrotou os partidários da Constituição de Cadiz. O impacto desse fato repercutiu rapidamente em Portugal. Em Lisboa, os desafetos da Revolução de 1820 conspiraram para a volta de Carlota Joaquina, irmã do Rei de Espanha e declarada adversária dos liberais. O infante D. Miguel servia-lhe de instrumento para os manejos contrarrevolucionários. O malogro da Constituição de 1822 já se fazia sentir em todos Revista Interlinguagens 2014 5ed v.1 ISSN2178-955X Página 91 os meios. O clero e a nobreza, diante da certeza de que iriam perder seus privilégios, hostilizavam abertamente o governo parlamentar. A burguesia ligada aos negócios sentiu-se desapontada após o rumo tomado pela questão brasileira. Em 27 de maio de 1823, em Vila Franca, ocorreu o primeiro levante antiliberal que selaria o destino da primeira experiência parlamentar em Portugal. D. Miguel, à frente dos revoltosos, bradava: “É tempo de quebrar o férreo jugo em que ignominiosamente vivemos”. A união da guarnição de Lisboa aos revoltosos neutralizou as Cortes que, sem forças para resistir, dissolveram-se. Coube a D. João VI suspender a vigência da Constituição de 1822, prometendo, ao mesmo tempo, a promulgação de uma nova lei que garantisse a segurança pessoal, a propriedade e os empregos. Essa revolta que marcou o fim do primeiro período constitucional foi chamada Vilafrancada. D. Miguel foi nomeado general do exército por D. João VI. O primeiro ato do Infante foi a nomeação de um governo a seu arbítrio, extraparlamentar, de que faziam parte o conde de Palmela e Mouzinho da Silveira. Nesse momento, triunfava a realeza absoluta. Tanto em Portugal, quanto na Espanha, os desafetos do Constitucionalismo formavam duas correntes: a moderada e a radical. No caso português, a facção moderada era chefiada pelo Monarca. Carlota Joaquina liderava a ala radical. Após a Vilafrancada, D. João VI e os seus ministros oscilavam entre o absolutismo paternal e conciliador e o liberalismo conservador e tímido. Os radicais, tendo à frente Carlota Joaquina, defendiam um absolutismo sem concessões e repressão acirrada às novas ideias. A noite de 29 de abril de 1824 assistiu a uma nova revolta liderada por D. Miguel - a Abrilada. À frente do exército, o infante anunciou que a vida do Rei corria perigo. Mandou prender os ministros, preparando-se para assumir o poder. O corpo diplomático interveio. O Rei foi retirado do paço, em que estava prisioneiro5, sendo conduzido a uma nau inglesa que estava ancorada no rio Tejo. Com a proteção da Inglaterra, o Rei recuperou a situação. Da nau Windsor Castle, o monarca ordenou a libertação de todos os indivíduos presos pelo infante no dia 30 de abril. D. Miguel foi intimado a sair do 5 Na verdade, a alegação de que a vida do Rei corria perigo era um estratagema para que D. Miguel o mantivesse preso no paço. A palavra prisioneiro é um pouco exagerada, embora muito defendida entre os historiadores, dentre os quais Hermano Saraiva e Oliveira Martins, em obras citadas ao longo do trabalho. Revista Interlinguagens 2014 5ed v.1 ISSN2178-955X Página 92 país6 e a corrente moderada manteve-se no poder. A revolta que não aconteceu recebeu o nome de Abrilada, por ter ocorrido em abril de 1824. A morte de D. João VI, em 10 de março de 1826, gerou uma questão política aliada à querela dinástica da sucessão do trono português. Qual dos dois filhos do Rei deveria ser o sucessor? Um dos poderes centrava-se em D. Pedro, que representava o constitucionalismo, e o outro, em D. Miguel, representante do Absolutismo. Segundo as leis que regiam a sucessão, o herdeiro do trono seria o filho primogênito, D. Pedro, mas o príncipe herdeiro abraçara a emancipação do Brasil, lutando a favor dos brasileiros, sendo contra os portugueses. Assim, para os absolutistas, D. Pedro, ao proclamar a Independência do Brasil e ao tornar-se soberano de um outro país, não só perdera o direito de sucessão ao trono, como também a nacionalidade portuguesa. De outro lado, a figura de D. Manuel, após a conduta dele na Abrilada, e sua submissão política à facção extremada de Carlota Joaquina, faziam com que moderados e liberais vissem com receio sua subida ao trono. Como solucionar tal impasse? Em Lisboa, a regência nomeada anteriormente por D. João VI considerava D. Pedro o herdeiro do trono. A resolução da sucessão dinástica pensada pelo futuro rei de Portugal, após a morte de D. João VI, deveria agradar aos partidos políticos de então: liberais, moderados e absolutistas. O caminho, segundo D. Pedro, seria abdicar a coroa portuguesa em nome de sua filha, Maria da Glória, então com sete anos. A abdicação dependia das seguintes condições: que em Portugal fosse jurada uma nova Constituição – a futura Carta Constitucional - e que D. Miguel contraísse núpcias com a pequena rainha. A elaboração da Carta Constitucional traria consequências adversas à causa liberal. Enquanto a Constituição de 1822 tinha sido elaborada pela Nação e imposta ao Rei, a Carta fora preparada pelo Rei em “sua real sabedoria” e concebida como uma dádiva à Nação. Na óptica Vintista, havia rei por haver Constituição; na Cartista, havia Constituição por haver um Rei. Pela Carta, outorgada em 1826, o Rei, constitucionalmente, era o órgão do poder moderador, ou seja, expressão que designava a chefia efetiva e autoritária do Estado, podendo convocar as sessões das Cortes, recusar a promulgação das decisões 6 D. Miguel deixou o Tejo no dia 13 de maio de 1824, a bordo da fragata portuguesa Pérola. E só regressaria em 1828, para inaugurar, em Portugal, a mais sangrenta guerra civil de sua história. Revista Interlinguagens 2014 5ed v.1 ISSN2178-955X Página 93 parlamentares, nomear e demitir ministros que não dependiam de voto de confiança das Cortes para se manterem no poder. A Constituição parlamentar, após a Carta, foi profundamente alterada. Passava a ser formada por duas Câmaras – a dos Deputados e a dos Pares-, sendo a última nomeada pelo rei, com caráter vitalício, hereditário e sem limite de números. D. Pedro, com o apoio da Inglaterra, colocou em ação seu plano. O infante D. Miguel celebrou os esponsais com sua sobrinha e jurou cumprir a Carta. A intenção de D. Pedro em agradar aos três partidos não se cumpriu. Os absolutistas queriam D. Miguel no poder e o regresso imediato ao poder absoluto. Os liberais vintistas não concordavam com a Carta, e os moderados viam crescer gradativamente o poder da contrarrevolução. A Espanha, com pressões políticas, dinheiro e armamento, apoiava de todos os modos a restauração da Monarquia Absoluta. Tais pressões atravessavam a fronteira e penetravam profundamente em Portugal, para deleite da rainha Carlota Joaquina. Em 1828, D. Miguel regressou a Portugal, entre aclamações e perseguições aos liberais. As Cortes, convocadas segundo o antigo estilo monárquico, aboliram a Carta de 1826 e reconheceram D. Miguel como rei legítimo. O absolutismo radical iria dominar totalmente a cena lusitana, entronizando-se a partir de então. Os liberais eram perseguidos e uma onda de terror geraria o maior número de exílios já vistos no país. A guerra civil dominou Portugal de 1828 a 1834. A primeira reação antiabsolutismo ocorreu em 1828, com uma revolta ocorrida na cidade do Porto, alargando-se a quase todas as cidades ao norte do rio Mondego, obtendo a adesão de oficiais que sublevavam as guarnições. Nessa altura, os principais chefes da causa liberal estavam exilados na Inglaterra, entre eles figuras importantes como Palmela, Terceira e Saldanha. Informados dos acontecimentos em Portugal, fretaram um velho vapor, o Belfast, que os levou ao Porto, onde formaram um governo provisório. A tentativa foi frustrada, mas serviu, ao menos, para batizar o embate entre absolutistas versus liberais. A revolta ficou conhecida como a Belfastada. Os resultados dessa revolta geraram péssimas consequências aos liberais: o exército vintista fugiu da cidade e chegou a Galiza, de onde uma parte conseguiu fugir rumo à Inglaterra. Outra parte da tropa dos liberais foi presa e logo condenada à forca, sem ao menos haver um julgamento. Ainda em 1828, a população da ilha da Madeira e a Ilha Terceira revoltou-se a favor da causa dos liberais; Madeira foi dominada por Revista Interlinguagens 2014 5ed v.1 ISSN2178-955X Página 94 absolutistas, mas a revolta da ilha Terceira aguentou-se e teve consequências decisivas. Os refugiados da Inglaterra, após o governo inglês lhes criar dificuldades, se dirigiram para essa ilha, onde puderam reunir as forças dos liberais dispersos. Mas, em 1830, ocorreu uma transformação na política europeia. Caiu a Monarquia legítima na França e na Inglaterra, assim como o governo dos Torys. Reacenderam-se os focos revolucionários na Espanha e a Santa Aliança7 estava em vias de extinção. Portugal não pôde deixar de sentir os efeitos de tais acontecimentos. Foi em 7 de abril de 1831, perante um tumulto, que D. Pedro abdicou da coroa imperial e embarcou para a Inglaterra. Parecia que sua intenção era recuperar o trono português, mas não encontrou apoio político da França nem da Inglaterra. Desta forma, passou a usar o título de Duque de Bragança, Regente de Portugal, até que sua filha, a Rainha, pudesse exercer o poder. O tempo passado em Londres foi de grande valia para D. Pedro. Ele conseguiu dinheiro emprestado, comprou navios de guerra, armas e recrutou mercenários. Em 1832, seguiu para os Açores e lá organizou a expedição que em 8 de julho desembarcaria no Mindelo, uma praia escura que ficava a cerca de três léguas da cidade do Porto. D. Pedro acreditava que seria recebido triunfalmente como libertador. O primeiro oficial enviado a terra para convencer as tropas miguelistas a aderirem foi ameaçado de fuzilamento e reembarcou entre apupos e vivas a D. Miguel. A resistência ao desembarque parou por aí. O exército invasor avançou até o Porto, cuja tropa miguelista abandonara sem combate. Por um ano, a guerra limitou-se ao cerco ao Porto. A desproporção das forças entre absolutistas e liberais era gritante: oitenta mil homens no campo dos miguelistas versus sete mil e quinhentos dos liberais. Porém, a estratégia usada por D. Pedro, que consistia numa hábil linha de fortificações criada à volta da cidade, era muito forte e a esquadra garantiu sempre o acesso marítimo. O papel da população do Porto também foi decisivo, com ajuda pecuniária, como também com trabalho e contingente de soldados. 7 A Santa Aliança foi um pacto militar firmado entre as grandes potências europeias no Congresso de Viena, cujo objetivo era a repressão aos movimentos liberais que colocassem em risco a política de restauração, o princípio de legitimidade e o equilíbrio europeu. Formado inicialmente por Áustria, Prússia, Rússia e Inglaterra, a Santa Aliança ficou também conhecida como Quádrupla Aliança. Em 1818, com a adesão da França ao pacto militar, transformou-se na Quíntupla Aliança. (ITAUSSU, 1995, p. 134). Revista Interlinguagens 2014 5ed v.1 ISSN2178-955X Página 95 A situação, no entanto, agravava-se a cada mês. A derrota chegou a parecer inevitável e fizeram-se diligências para uma mediação inglesa. Em junho de 1833, foi enviado ao Algarve um corpo de tropas para obrigar o exército absolutista e redistribuir suas forças rumo ao Sul, aliviando assim a pressão sobre o Porto. As províncias do Sul, despreparadas para a guerra, facilitaram a pequena expedição liderada por D. Pedro IV a apoderar-se do Algarve, marchando depois para Lisboa, onde entrou em luta em 24 de julho. A ocupação de Lisboa decidiu a guerra a favor dos liberais. Inglaterra e França reconheceram, enfim, o governo liberal. A luta continuou, com toda sua carnificina, por mais um ano. Felizmente, os absolutistas, enfraquecidos pelo desânimo, pelas deserções, pelas pequenas vitórias, acabaram por depor as armas em maio de 1834 (Convenção de Évora Monte). D. Miguel embarcou para o exílio, entre vaias populares e escoltado pela cavalaria do exército vencedor. Em 1834, teve início o regime constitucional. O país vivia uma situação dramática. A emancipação do Brasil, em 1808, as invasões francesas, a exploração inglesa, a agitação da época vintista e a guerra civil de 1828 a 1834 não permitiram a recuperação de Portugal, não deixando nem que se adaptasse às novas condições de vida. Havia uma estagnação econômica em Portugal, que se refletia na completa falta de produtos e de quadros profissionais, tornando impossível uma produção exportável. As contas públicas apresentavam um quadro assustador: a receita do Estado foi, em 1828, de cerca de 10 000 contos e a despesa de 13 900. Três décadas depois, os mesmos números se repetiam. Na Europa, esses trinta anos foram de crescimento econômico. No campo político, a situação era de precariedade do poder executivo. A falta de definição ideológica das correntes políticas, a marginalização das camadas populares, a indisciplina e a ingerência dos chefes políticos eram o próprio retrato da política coeva. O chefe do poder executivo era o Rei. A função real, no entanto, cabia a D. Maria II, que em 1834 tinha apenas quinze anos. Com a morte de D. Pedro, a chefia efetiva do Estado passou às mãos da inexperiente rainha. O cenário político de então estava representado por duas correntes: a moderada, que defendia a vigência da Carta Constitucional de 1826, e a avançada, que defendia a Constituição democrática de 1822. Ambos os partidos não possuíam organização, não se sentiam irmanados ao trono, e a indefinição ideológica era evidente. Vários políticos Revista Interlinguagens 2014 5ed v.1 ISSN2178-955X Página 96 passavam do Cartismo8 ao Vintismo, e do Vintismo ao Cartismo, ao sabor da oportunidade e do bem-estar político. A população estava à margem dos acontecimentos e só intervinha no âmbito político quando era arrebanhada para as fileiras de algum partido sublevado. A falta de cultura e o analfabetismo eram gerais e nenhum dos partidos de então se mostrou interessado em corrigi-los. Coube à Guerra Civil (1828-1834) revelar alguns grandes chefes militares que a vitória cobriu de prestígio e que tinham tendência para ver o regime em débito para com eles e, portanto, se julgavam no direito de mandar. Talvez este fato explique a instabilidade que marcaria o primeiro período do constitucionalismo monárquico, ou seja, os rumos políticos estiveram durante muito tempo mais subordinados aos movimentos e ajustes dos quartéis do que às regras constitucionais. O mais notável de todos os heróis da guerra civil foi o marechal Duque de Saldanha. Dentre os fatores que dificultaram a estabilização do novo regime, destacam-se as crises econômica, política e ideológica. Até que essa estabilização fosse atingida, decorreram-se dezoito anos de confrontos violentos entre a direita e a esquerda do liberalismo. Para Hermano Saraiva (1995), ambas as correntes tiveram oportunidade de dar as suas provas e só depois dessa fase experimental e incerta o país encontrou, com a Regeneração, a paz de compromisso e de cansaço que tornou possível o funcionamento pacífico da monarquia constitucional. Os dois primeiros anos do reinado de D. Maria II, que se iniciou em 1834, foram marcados pelo desentendimento entre o governo e o parlamento. Após substituir quatro vezes o Governo, a Rainha dissolveu, por fim, o parlamento e mandou fazer novas eleições. Para a oposição, a causa dos desentendimentos e a inércia governativa encontravam-se no texto que regia a nação: a Carta. O consenso entre Vintistas era o regresso ao regime constitucional de 1822. A situação em Portugal era de revolta. Coube à Espanha, mais uma vez, servir de modelo aos insatisfeitos. Em agosto de 1836, uma revolta de sargentos (Motim da Granja) forçou a reposição da Constituição democrática de 1812. Mais uma vez manifestou a estreita ligação entre a política portuguesa e a espanhola. Um mês depois do Motim da Granja, um movimento revolucionário em Lisboa- o Setembrismoobrigou a Rainha a pôr em vigor a Constituição de 1822. 8 Designação dada aos defensores da Carta outorgada por D. Pedro IV, em 1826. Revista Interlinguagens 2014 5ed v.1 ISSN2178-955X Página 97 Foi uma violência. A Rainha, a facção de Palmela, de Saldanha e de Terceira, em suma, os partidários da Carta, uniram-se para expulsar do poder os Vintistas. A Revolução de Setembro não foi um pronunciamento de chefes militares, mas um movimento popular a que depois as tropas aderiram. Ainda em 1836, a mobilização popular sufocou o contragolpe da Belenzada, golpe frustrado do paço contra a Revolução de Setembro. O governo saído dessa revolução ficou conhecido pela designação de Setembrista, cuja palavra serviu para exprimir, até meados do século, a ala mais extremada do Liberalismo. O Setembrismo teve curta duração (de 1836 a 1840) e nesse período houve várias reações violentas contra o governo. Em 1836, com a Belenzada, a Rainha, contando com o apoio da Bélgica e da Inglaterra, pretendia restaurar a Carta de 1826, por meio de um golpe de estado. Foi anunciada a demissão do governo pela Rainha; um batalhão inglês chegou a desembarcar, mas as forças populares responsáveis pela Revolução de Setembro pegaram em armas e ameaçaram marchar rumo ao palácio de Belém, onde a Rainha se encontrava, e fizeram falhar o golpe que ficou conhecido por Belenzada. Em 1837, os quartéis de muitas cidades da província revoltaram-se e proclamaram a Carta (1826); Saldanha e Terceira assumiram o comando do movimento, que por isso foi chamado de Revolta dos Marechais. Os Setembristas atribuíram-na a maquinações inglesas provocadas pela legislação tributária, que procurava diminuir a importação pela agravação da pauta alfandegária. A revolta durou de julho a setembro e acabou por ser vencida pelos setembristas, depois de combates sangrentos. A exaltação antissetembrista tomou fôlego. Os grupos civis que haviam feito a revolução setembrista sentiam-se desapontados e preparavam-se para fazer outra. Os batalhões da guarda nacional (organização paramilitar com armamento próprio, incluindo artilharia) eram a força do movimento. O mais ativo desses batalhões era o dos arsenalistas, formados por artífices do Arsenal, e comandados por Soares Caldeira, verdadeiro chefe civil. Na noite de 13 de março de 1838, as tropas do governo setembrista cercaram os arsenalistas no Rossio e metralharam-nos implacavelmente. Os mortos elevaram-se a várias centenas, ou não passaram de uma dúzia, consoante a atitude política dos narradores ante o episódio, que ficou sempre na penumbra da historiografia liberal. Revista Interlinguagens 2014 5ed v.1 ISSN2178-955X Página 98 Na óptica de José Hermano Saraiva (1995), o massacre do Rossio teve consequências funestas para o Setembrismo, porque o deixou sem força que lhe servisse de esteio. O efêmero movimento popular de Lisboa mergulhou, a partir de então, numa clandestinidade mortiça e todas as outras forças políticas eram tendencialmente conservadoras. As maiores inovações legislativas na administração setembrista ocorreram no campo da cultura: criação dos liceus, fundação das Academias de Belas-Artes de Lisboa e do Porto, da Escola Médico-Cirúrgica do Porto, da Escola Politécnica, em Lisboa. A política ultramarina, por sua vez, foi pautada pela criação, em África, de um segundo Brasil. Iniciou-se a colonização dos planaltos de Angola e em 1836 foi proibida a importação de escravos ao sul do Equador. Em 1838, o parlamento, revestido de poderes constituintes, preparou uma nova Constituição, cujo teor era uma tentativa de conciliação entre a Carta de 1826 e a Constituição de 1822: voltou-se à divisão tripartite dos poderes, desaparecendo, portanto, o poder moderador do rei. Manteve-se, entretanto, o veto absoluto e, com isso, a chefia do executivo se robusteceu. O parlamento, por sua vez, continuou, como na Carta, a ser formado por duas câmaras, mas a Câmara alta passou a ser constituída por senadores eleitos e temporários, e não vitalícios e de escolha régia, como ocorria na Carta. A Constituição de 1838 teve vida curta. Em 1842, depois de um golpe de Estado, ocorrido no Porto e chefiado por Costa Cabral, a Rainha mandou proclamar outra vez a Carta de 1826 como constituição política do país. As reformas cabralinas foram levadas ao interior do país, afetando de forma direta a ordem tradicional que continuava a reinar nos meios rurais. A proibição dos sepultamentos dentro das igrejas provocou a reação dos povos. Segundo a população, enterrar cristão em covas, no descampado, era uma ofensa sem precedentes e um atentado à dignidade humana. Esse descontentamento, aliado ao cadastro de propriedade rural, fez deflagrar uma revolta, em meados de abril de 1846, muito similar ao movimento camponês que agitou a Galiza no mesmo mês. Revista Interlinguagens 2014 5ed v.1 ISSN2178-955X Página 99 A essa revolta, cujos membros em sua maioria eram camponeses minhotos, deu-se o nome de Maria da Fonte.9 Diante do quadro impetrado pela Maria da Fonte, a oposição setembrista deu-se conta do poder que a explosão da cólera camponesa poderia ter para os seus objetivos políticos e secundou-a por meio de pronunciamentos de políticos e militares em quase todas as cidades importantes. A capital, no entanto, manteve-se à margem do movimento que, pela óptica setembrista, visava à demissão de Costa Cabral. Costa Cabral foi afastado, mas a Rainha, poucos meses depois, constituía um ministério cuja filosofia se pautava ainda na ideia daquele ex-ministro. E isso reacendeu a revolta e conduziu à guerra civil da Patuleia, que se articulou com a Maria da Fonte, mas trouxe em seu bojo características completamente diferentes. Segundo Saraiva (1995), na origem, foi a Patuleia um movimento de políticos e de militares influenciados pela ideologia pequeno-burguesa que e França conduziu à Revolução de 1848 e à Segunda República. A diferença entre a Patuleia e Maria da Fonte reside no fato de que aquela foi uma reação do liberalismo doutrinal contra o neoaristocratismo dos barões guiados pelo Cabralismo, mas não chegou a ser um verdadeiro movimento popular como a Maria da Fonte. No Porto instalou-se um governo provisório e preparou-se a marcha para Lisboa. De um lado e do outro foram feitos recrutamentos forçados; a falta de convicção entre os soldados era geral e a mudança de partido entre os combatentes foi comum. As tropas do Porto, como as de Lisboa, diziam combater pela Rainha; as do Porto, para liberá-la; as de Lisboa, para mantê-la livre. Guerrilheiros e políticos partidários do miguelismo juntaram-se então aos patuleias. Esta aliança representava um esvaziamento ideológico e revolucionário. De toda forma, os exércitos levaram a guerra para todas as províncias do país e o resultado foi que houve vários mortos. 9 A justificativa do nome vem do papel saliente que as mulheres tiveram e também por conta dos primeiros acidentes que ocorreram na freguesia da Fonte Arcada, concelho de Póvoa de Lanhoso. Bandos de rurais, homens e mulheres armados de clavinas, pistolas, chuços, fouces e espetos assaltaram as sedes das administrações da concelhos, queimaram o cadastro predial e os registros das propriedades, arrombaram as cadeias, chegaram a atacar as tropas aquarteladas em Braga. Um dos guerrilheiros, o famoso Pe. Casimiro, publicou mais tarde um relato dos acontecimentos; por ele se vê que os chefes populares da guerrilha se consideravam miguelistas, mas que o seu miguelismo era menos um apoio determinado a uma pretensão dinástica do que um violento protesto contra a miséria, a opressão dos impostos e a crescente invasão do Estado. ( SARAIVA,1995, p. 303) Revista Interlinguagens 2014 5ed v.1 ISSN2178-955X Página 100 Coube à intervenção estrangeira levar a paz ao solo português, a pedido do governo de Lisboa, quando este já havia perdido o controle político do país. Uma esquadra inglesa e um exército espanhol aprisionaram os navios e as melhores tropas patuleias, obrigando os representantes do Governo do Porto a assinar um acordo cujas condições eram a rendição em troca da anistia, que resultou na Convenção de Gramido, a 24 de junho de 1847. A Guerra Civil terminada pela Convenção de Gramido resultou da repulsa nacional ao Cabralismo. Costa Cabral era considerado pela opinião pública um governante sem escrúpulos e violento. Finda essa guerra, a Rainha mudou o governo para efetivar as eleições a que se obrigara no protocolo. As potências signatárias queriam representantes da Junta Provisória do Porto, assegurando-lhes assim a imparcialidade e a lisura, mas o paço contrariava as ideias liberais, democráticas e a Rainha escolheu ministros que não usufruíam da confiança da enorme facção vencida. As cortes abertas em janeiro de 1848 reconduziam Portugal às violências do Cabralismo. Saldanha e Costa Cabral, solidarizados com Terceira, constituíam uma frente comum e dirigiam em conjunto os cabralistas. Em 18 de junho de 1849, a Rainha deu a Costa Cabral o encargo de formar um governo, reservando para ele a presidência e o ministério do reino. O objetivo dela em fazer de Costa Cabral um político amado pelo povo já acendera duas revoluções - a Maria da Fonte, em 1846, e a Patuleia, em 1847. Ambas inundaram de sangue o país, revoltado contra o arbítrio tirânico do ministro. A Rainha, indiferente ao povo, confiou-lhe, outra vez, o poder. A oposição a Costa Cabral ecoava em campanhas por todo o país. A vida pública dele, a sua riqueza acumulada no governo e as concussões do seu partido, tudo estava à baila nos jornais e no parlamento. As críticas ferrenhas a Cabral eram rebatidas com coragem por aquele que tinha o apoio incondicional do trono. Em 1851, Saldanha irritou-se com Costa Cabral e abandonou espontaneamente algumas honrarias conquistadas pelos serviços à Rainha nas guerras civis. A hostilidade de Saldanha era mais perigosa do que a dos tribunos parlamentares e a dos jornais. Ele tinha livre acesso ao exército e sabia que podia contar com o apoio das tropas nos quartéis, e foi o que ocorreu. Rebelado no Porto o regimento nº 18 da infantaria, em 24 de abril o Marechal logrou fazer-se obedecer e marchou com as tropas da guarnição Revista Interlinguagens 2014 5ed v.1 ISSN2178-955X Página 101 portuense para Coimbra. Nessa cidade, acolheram-no com aplauso. Costa Cabral destacou para ali uma expedição contra Saldanha, comandada pelo rei D. Fernando que voltou sem combater. Costa Cabral viu-se então perdido e acabou fugindo. A Rainha chamou o Duque de Terceira para substituir o ministro do governo. Em 15 de maio, entrou Saldanha em Lisboa e investiu-se na presidência ocupada provisoriamente pelo Duque de Terceira. Em 7 de junho, Fontes Pereira de Melo passou a dirigir a pasta da Marinha, e em 21 de agosto, o Ministério da Fazenda. A fuga de Costa Cabral pôs fim à sua carreira política. O resultado da fuga do Conde de Tomar introduziu no cenário da administração pública um dos estadistas mais insígnes do século XIX – Fontes Pereira de Melo. Iniciava-se, na década de cinquenta, o Fontismo. Fontes Pereira de Melo foi um grande empreendedor; formado em Engenharia, Ministro da Fazenda e Obras Públicas, modernizou Portugal, sobretudo com a construção de uma rede de estradas, criação dos Correios. (Cabe salientar que o primeiro selo postal foi criado por ele, como também o telégrafo.) Assim, a grande preocupação desse Ministro estava voltada para a política de instalação de vias de comunicação, política essa que transformou a vida portuguesa na segunda metade do século XIX. Referências FERREIRA, Joaquim. História de Portugal. Porto: Editorial Domingos Barreira, 1951. ITAUSSU, Leonel et alii. História Moderna e Contemporânea. São Paulo: Scipione, 1995. MARTINS, Oliveira. História de Portugal. Lisboa: Guimarães Editores, 1968. SARAIVA, José Hermano. História de Portugal. Lisboa: Publicações EuropaAmérica, 1993. ______. História Concisa de Portugal. Lisboa: Publicações Europa- América, 1995. Revista Interlinguagens 2014 5ed v.1 ISSN2178-955X Página 102