XXII. Influenza humana por novo subtipo

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Influenza (Gripe)
INFLUENZA (gripe)
CID 10: J10 a J11
Características clínicas e epidemiológicas
Descrição
A influenza ou gripe é uma infecção viral aguda do sistema respiratório que tem distribuição global e elevada transmissibilidade. Classicamente, apresenta-se com início abrupto
de febre, mialgia e tosse seca. Em geral, tem evolução auto-limitada, de poucos dias. Sua
importância deve-se ao seu caráter epidêmico, caracterizado por disseminação rápida e
marcada morbidade nas populações atingidas.
Sinonímia
Gripe.
Agente etiológico
A doença é causada pelos vírus Influenza da família dos Ortomixovirus. São vírus RNA
de hélice única e subdividem-se em três tipos: A, B e C, de acordo com sua diversidade antigênica. Os dois primeiros, principalmente os vírus influenza A, são altamente transmissíveis e mutáveis, causando maior morbidade e mortalidade e, por isto, merecem destaque
em saúde pública.
Os vírus da influenza A são classificados de acordo com os tipos de proteína que se
localizam em sua superfície, chamadas de hemaglutinina (H) e neuraminidase (N). A proteína H está associada a infecção das células do trato respiratório superior, onde o vírus se
multiplica, enquanto a proteína N facilita a saída das partículas virais do interior das células
infectadas. Nos vírus influenza A humanos estão caracterizados três subtipos de hemaglutinina imunologicamente distintos (H1, H2 e H3) e duas neuraminidases (N1 e N2).
A nomenclatura dos vírus influenza definida pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) inclui o tipo de vírus influenza, a localização geográfica onde o vírus foi isolado pela
primeira vez, o número de série que recebe no laboratório, o ano do isolamento e, entre
parênteses, a descrição dos antígenos de superfície do vírus, ou seja, da hemaglutinina e da
neuraminidase. Por exemplo, A/Sydney/5/97(H3N2).
Reservatório
Os vírus influenza do tipo B infectam exclusivamente os seres humanos e os do tipo C
infectam humanos e suínos. Os vírus influenza do tipo A são encontrados em várias espécies de animais, além dos seres humanos, tais como suínos, cavalos, mamíferos marinhos
e aves. As aves migratórias desempenham importante papel na disseminação natural da
doença entre distintos pontos do globo terrestre.
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Influenza (Gripe)
Modo de transmissão
A influenza é uma doença respiratória transmitida por meio de gotículas (< 10μl)
expelidas pelo indivíduo doente ao falar, espirrar e tossir. Em surtos, há evidências de disseminação aérea por gotículas em aerossol. A transmissão também pode ocorrer por contato
direto ou indireto com secreções nasofaringeanas, destacando-se aqui a importância da
lavagem adequada das mãos no controle desta doença. Apesar da transmissão inter-humana ser a mais comum, já foi documentada a transmissão direta do vírus para o homem, a
partir de aves e suínos.
Período de incubação
Em geral, de um a quatro dias.
Período de transmissibilidade
Um indivíduo infectado pode transmitir o vírus desde dois dias antes até cinco dias
após o início dos sintomas.
6
Susceptibilidade e imunidade
Acomete pessoas de todas as faixas etárias. Nos adultos sadios a recuperação geralmente é rápida. Entretanto, complicações graves podem ocorrer nos idosos e nos muito
jovens, determinando elevados níveis de morbimortalidade.
A imunidade aos vírus da influenza resulta de infecção natural ou vacinação anterior
com o vírus homólogo. Desta maneira, um hospedeiro que teve infecção com determinada
cepa do vírus influenza terá pouca ou nenhuma resistência a uma nova infecção com a cepa
variante do mesmo vírus. Isto explica, em parte, a grande capacidade deste vírus em causar
freqüentes epidemias nas populações atingidas.
I
Aspectos clínicos e laboratoriais
Manifestações clínicas
Clinicamente, a doença inicia-se com a instalação abrupta de febre alta, em geral acima de 38ºC, seguida de mialgia, dor de garganta, prostração, calafrios, dor de cabeça e tosse
seca. A febre é, sem dúvida, o sintoma mais importante e perdura em torno de três dias. Os
sintomas sistêmicos são muito intensos nos primeiros dias da doença. Com a progressão
desta, os sintomas respiratórios tornam-se mais evidentes e mantém-se em geral por três a
quatro dias após o desaparecimento da febre. É comum a queixa de garganta seca, rouquidão, tosse seca e queimação retro-esternal ao tossir. Os pacientes apresentam a pele quente
e úmida, olhos hiperemiados e lacrimejantes. Há hiperemia das mucosas, com aumento de
secreção nasal hialina.
O quadro clínico em adultos sadios pode variar de intensidade. Nas crianças, a temperatura pode atingir níveis mais altos, sendo comum o achado de aumento dos linfonodos cervicais. Quadros de bronquite ou bronquiolite, além de sintomas gastrointestinais,
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Influenza (Gripe)
também podem fazer parte da apresentação clínica em crianças. Os idosos quase sempre
se apresentam febris, às vezes sem outros sintomas, mas em geral a temperatura não atinge
níveis tão altos.
As complicações são mais comuns em idosos e indivíduos debilitados. As situações sabidamente de risco incluem doença crônica pulmonar (asma e doença pulmonar obstrutiva
crônica – DPOC), cardiopatias (insuficiência cardíaca crônica), doença metabólica crônica
(diabetes, por exemplo), imunodeficiência ou imunodepressão, gravidez, doença crônica
renal e hemoglobinopatias.
As complicações pulmonares mais comuns são as pneumonias bacterianas secundárias, sendo mais freqüentes as provocadas pelos seguintes agentes infecciosos: Streptococcus pneumoniae, Staphylococcus e Haemophillus influenzae. Uma complicação incomum, e
muito grave, é a pneumonia viral primária pelo vírus da influenza. Nos imunocomprometidos, o quadro clínico é geralmente mais arrastado e muitas vezes mais grave. Gestantes com
quadro de influenza no segundo ou terceiro trimestres da gravidez estão mais propensas à
internação hospitalar.
Dentre as complicações não-pulmonares em crianças, destaca-se a síndrome de Reye,
que também está associada aos quadros de varicela. Esta síndrome caracteriza-se por encefalopatia e degeneração gordurosa do fígado, após o uso do ácido acetilsalicílico, na vigência de um destes dois quadros virais. Recomenda-se, portanto, que não sejam utilizados
medicamentos do tipo ácido acetilsalicílico em crianças com síndrome gripal ou varicela.
Outras complicações incluem miosite, miocardite, pericardite, síndrome do choque
tóxico, síndrome de Guillain-Barré e, mais raramente, encefalite e mielite transversa.
Diagnóstico diferencial
É importante destacar que as características clínicas da gripe não são específicas e podem ser similares àquelas causadas por outros vírus respiratórios que também ocorrem sob a
forma de surtos e eventualmente circulam ao mesmo tempo, tais como rinovírus, vírus para
influenza, vírus sincicial respiratório, coronavírus ou adenovírus. Apesar de os sintomas sistêmicos serem mais intensos na influenza que nas demais infecções que cursam com quadro
clínico semelhante (daí a denominação de síndrome gripal para as infecções causadas por
estes agentes), o diagnóstico definitivo dessas infecções apenas pela clínica torna-se difícil.
Chama-se a atenção para o diagnóstico diferencial de casos de influenza grave (pneumonia primária) com possíveis casos de síndrome respiratória aguda grave (Sars).
Diagnóstico laboratorial
Os procedimentos apropriados de coleta, transporte, processamento e armazenamento de espécimes clínicos são fundamentais no diagnóstico da infecção viral.
O espécime preferencial para o diagnóstico laboratorial são as secreções da nasofaringe (SNF) obtidas por meio de aspirado de nasofaringe com auxílio de um coletor descartável ou por meio de swab combinado (oral + nasal). Estas amostras devem ser coletadas até
o quinto dia (preferencialmente até o terceiro) do início dos sintomas e transportadas em
gelo reciclável (não congelar) até o laboratório, para o devido processamento.
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Influenza (Gripe)
A detecção do vírus influenza é realizada pelas técnicas de imunofluorescência (IF),
de isolamento do agente em cultivos celulares/ovos embrionados (considerado método padrão) e de detecção por reação em cadeia da polimerase (PCR). Adicionalmente, o diagnóstico pode ser estabelecido através do exame de inibição de hemaglutinação (HI). Para
isso, coletar amostras pareadas de sangue durante a fase aguda e convalescente (15 dias de
intervalo entre as duas colheitas).
A IF é realizada nos laboratórios estaduais onde a vigilância da influenza está implantada, utilizando-se um painel de soros que detecta, além da influenza, outros vírus respiratórios de interesse (vírus respiratório sincicial, parainfluenza e adenovírus). A cultura e a
PCR são realizadas nos três laboratórios de referência (Instituto Evandro Chagas/SVS/MS,
Fiocruz/MS e Instituto Adolfo Lutz/SES/SP), que também procedem à caracterização antigênica e genômica dos vírus da influenza isolados.
Uma caracterização complementar para influenza é realizada em um dos laboratórios
de referência internacional da OMS. Para o vírus da influenza A, a tipagem completa é
essencial para que o mesmo seja introduzido na composição anual da vacina do hemisfério
sul. Para efeito da vigilância epidemiológica, esse diagnóstico é realizado apenas em alguns
pacientes atendidos em unidades sentinelas.
6
Tratamento
Recomenda-se repouso e hidratação adequada. Medicações antitérmicas podem ser
utilizadas, lembrando-se de evitar o uso de ácido acetil salicílico nas crianças. No caso de
complicações pulmonares graves, podem ser necessárias medidas de suporte intensivo.
Em casos de internação por complicações secundárias ou por apresentações graves da
infecção, devem ser instituídas precauções contra a transmissão do vírus influenza através
de gotículas respiratórias. Uma prática adequada de lavagem de mãos parece ser suficiente
para impedir a transmissão por contato. Precauções contra a transmissão por aerossóis
devem ser adotadas em caso de internação próxima a pacientes gravemente imunodeprimidos ou em infecções por cepas emergentes de influenza A com potencial pandêmico.
Atualmente, há duas classes de drogas utilizadas no tratamento específico da influenza.
Licenciadas há alguns anos, a amantadina e a rimantadina são drogas similares, com 70% a
90% de eficácia na prevenção da doença pelo vírus da influenza A em adultos jovens e crianças, caso sejam administradas profilaticamente durante o período de exposição ao vírus.
Também podem reduzir a intensidade e a duração do quadro, se administradas terapeuticamente. Ressalta-se, porém, que nenhuma destas drogas demonstrou ser eficaz na diminuição das complicações graves da influenza. Duas grandes limitações do uso dessa classe de
drogas são a ocorrência de efeitos colaterais no sistema nervoso central e no trato gastrointestinal (principalmente com o uso da amantadina) e a indução de resistência viral.
Já o oseltamivir e o zanamivir fazem parte de uma nova classe de drogas chamadas de
inibidoras da neuraminidase e que podem ser utilizadas contra a infecção pelos vírus da
influenza A e B. Estas drogas, se administradas até dois dias após o início dos sintomas, podem reduzir o tempo da doença não complicada. No entanto, como as do grupo anterior,
nenhuma das duas drogas desta classe foi eficaz em prevenir as complicações da influenza,
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I
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Influenza (Gripe)
havendo poucos dados sobre a efetividade do zanamivir em indivíduos de alto risco para
complicações da doença. Uma limitação importante para o seu uso é o custo elevado do
tratamento e a existência de restrições ainda existentes para seu uso profilático.
Aspectos epidemiológicos
A gripe ocorre em âmbito mundial, como surto localizado ou regional, em epidemias
e, também, devastadoras pandemias. O potencial pandêmico da influenza reveste-se de
grande importância. No século passado ocorreram três importantes pandemias de influenza (a Gripe Espanhola, entre 1918-20; a Gripe Asiática, entre 1957-60 e a de Hong Kong,
entre 1968-72). Destaca-se ainda a ocorrência de uma pandemia em 1977/78 (Gripe Russa),
que afetou primordialmente crianças e adolescentes.
Com os modernos meios de transporte, a propagação do vírus da influenza tornouse muito rápida e hoje o mesmo vírus pode circular ao mesmo tempo em várias partes do
mundo, causando epidemias quase simultâneas.
Em anos epidêmicos, a taxa de ataque na comunidade atinge aproximadamente 15%,
sendo ao redor de 2% em anos não-epidêmicos. Em comunidades fechadas, este número
sobe para 40% a 70%, com taxa de ataque secundário em torno de 30%. Tanto a morbidade
quanto a mortalidade, devido à influenza e suas complicações, podem variar ano a ano,
dependendo de fatores como as cepas circulantes, o grau de imunidade da população geral
e da população mais susceptível, entre outros.
Destaca-se ainda a ocorrência de transmissão direta do vírus da influenza aviária de
alta patogenicidade (H5N1) ao homem, gerando surtos de elevada mortalidade. Esse fenômeno foi detectado pela primeira vez em 1997, em Hong Kong, quando 18 pessoas foram
afetadas, das quais 6 morreram (letalidade de 33,3%). Novos episódios ocorreram em períodos mais recentes, destacando-se os surtos verificados no Vietnã e na Tailândia entre dezembro de 2003 e abril de 2004, que afetaram um total de 33 pessoas. As taxas de letalidade
observadas foram de, respectivamente, 45,4% e 70%. Este processo de transmissão se deu
em meio a uma epizootia de influenza aviária de alta patogenicidade em países do sudeste
asiático em proporções e extensão geográfica inusitadas.
Também se verificaram, no período 2003/2004, episódios de transmissão direta de
influenza aviária de baixa patogenicidade para o homem, com registro de surtos pela cepa
H7 na Holanda, Canadá e Estados Unidos.
No Brasil, os dados disponíveis no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Influenza (Sivep-Gripe) demonstram, para o período 2000/2003, a ocorrência
de casos de síndrome gripal predominantemente em crianças na faixa etária de 0-4 anos
(48,2%), seguida da faixa de 5-14 anos (25,4%) e de 15-24 anos (10,2%). As demais faixas contribuíram com 16,2%. Os principais vírus respiratórios detectados pelo método de
imunofluorescência neste período foram o vírus sincicial respiratório (31%), influenza A
(30,7%), parainfluenza 1, 2 e 3 (18,5%), adenovírus (16,8%) e influenza B (3%). Em 2004,
até a semana epidemiológica nº 36 foram coletadas 1.168 amostras na rede sentinela, das
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Influenza (Gripe)
quais 366 (31,3%) foram positivas para vírus respiratórios pelo método da imunofluorescência. Destas, 152 foram positivas para influenza A, tendo sido possível fazer a caracterização antigênica inicial de 23 (15%) dessas amostras, assim identificadas: influenza A
H3N2 (67%), influenza B (20%) e influenza A H1N1 (13%).
No ano de 2002 foram detectados e investigados dois importantes surtos comunitários de influenza no país, nas cidades de Araraquara/SP e do extremo oeste de Santa Catarina, totalizando aproximadamente 3 mil casos confirmados (influenza B Hong Kong). Em
2003, novo surto comunitário foi detectado nas cidades de Pium e Araguacema/TO, com
a confirmação de cerca de 500 casos (influenza A Tocantins H3N2). Em 2004, foram investigados surtos de influenza em comunidades fechadas (presídios e abatedouros de aves)
nos municípios de Marília e Araçatuba/SP e Francisco Beltrão e Almirante Tamandaré/PR,
devido à infecção por influenza A Fujian H3N2 e influenza A Korea H3N2.
6
Vigilância epidemiológica
O Sistema de Vigilância da Influenza no Brasil é de implantação recente (a partir do
ano 2000) e baseia-se em uma estratégia de vigilância sentinela que tem por função monitorar a circulação das cepas e a carga de morbidade por síndrome gripal* nas cinco regiões
brasileiras.
Objetivos
•
•
•
•
•
Monitorar as cepas dos vírus da influenza que circulam nas cinco regiões brasileiras.
Avaliar o impacto da vacinação contra a doença.
Acompanhar a tendência da morbidade e da mortalidade associadas à doença.
Responder a situações inusitadas.
Produzir e disseminar informações epidemiológicas.
I
Definição de caso suspeito
Indivíduo com doença aguda (com duração máxima de 5 dias), apresentando febre
(ainda que referida) e pelo menos um sintoma respiratório (tosse ou dor de garganta), na
ausência de outros diagnósticos.
Confirmado
Caso suspeito com confirmação laboratorial e/ou caso suspeito com vínculo epidemiológico com casos laboratorialmente confirmados.
Descartado
Caso suspeito em que o resultado do exame foi negativo, em amostra adequadamente
*Para definir síndrome gripal pode-se utilizar os seguintes códigos da 10ª Revisão da Classificação Internacional
de Doenças (CID 10): J00 (todos) – Nasofaringite aguda (resfriado comum); J02.9 – Faringite aguda não especificada; J03.9 – Amigdalite aguda não especificada; J04.0 – Laringite aguda; J04.1 – Traqueíte aguda; J04.2 – Laringotraqueíte aguda; J06 (todos) – Infecção aguda das vias aéreas superiores e não especificadas; J10 (todos) –
Influenza devida a vírus influenza identificado; J11 (todos) - Influenza devida a vírus influenza não identificado.
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Influenza (Gripe)
colhida e transportada, ou quando for identificado laboratorialmente outro agente etiológico que não o vírus da influenza.
Notificação
A influenza não é doença de notificação compulsória. Os dados da vigilância sentinela
são informados em um sistema de informação específico, através da Web, chamado de
Sivep-Gripe.
No entanto, considerando o potencial epidêmico desta doença, qualquer suspeita de
surto comunitário ou institucional (em particular os surtos com casos graves) deve ser comunicada (por telefone, fax, e/ou e-mail) à secretaria estadual de saúde e Coordenação de
Vigilância de Doenças de Transmissão Respiratória e Imunopreveníveis da SVS/MS.
Investigação
Recomenda-se a investigação de surtos pelas secretarias municipais e estaduais de
saúde, se necessário com apoio do nível federal, com os seguintes objetivos:
• confirmar a ocorrência do surto de síndrome gripal;
• descrever o surto por tempo, pessoa e lugar;
• caracterizar o processo de transmissão;
• identificar e caracterizar o vírus respiratório;
• monitorar os grupos de maior risco para complicações da doença;
• avaliar o impacto do surto na morbidade e na mortalidade;
• avaliar a necessidade da adoção de medidas emergenciais de controle;
• recomendar medidas de prevenção e controle de surtos.
Sugere-se realizar busca ativa de pessoas com síndrome gripal, utilizando a definição
de caso ou os códigos das CID descritos anteriormente. Os locais-alvo para a busca ativa
são as unidades de saúde (centros de saúde, hospitais) do município, as unidades de ensino,
creches, asilos, entre outras.
Para padronizar as informações coletadas na busca ativa recomenda-se a utilização de
um formulário que permita agregar os dados por semana epidemiológica e que contenha
as seguintes variáveis: total de pessoas com síndrome gripal e total de pessoas, unidade de
saúde por faixa etária (Anexo 1).
Deve-se coletar amostras para análise laboratorial. Se o município onde estiver ocorrendo o surto de síndrome gripal não pertencer à rede de vigilância da influenza, a secretaria estadual de saúde deve entrar em contato imediatamente com a Coordenação de
Vigilância de Doenças de Transmissão Respiratória e Imunopreveníveis (Cover) e com a
Coordenação Geral de Laboratório (CGLAB) do Ministério da Saúde/SVS, com vistas a
possibilitar a coleta, transporte e análise laboratorial das amostras.
Sugere-se realizar estudo descritivo detalhado da população doente ou pelo menos em
uma amostra desta. Para isso, é importante a aplicação de um questionário padronizado a todas as pessoas do estudo. Este instrumento deve conter, entre outras, as seguintes variáveis:
• demográficas (idade, sexo, endereço, ocupação);
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Influenza (Gripe)
• sinais e sintomas (febre, tosse, dor de garganta, dor no corpo, dor de ouvido, dor nas
articulações, dor de cabeça, etc.);
• uso da vacina contra a influenza;
• participação em festas, shows (aglomerado), viagem recente;
• contato com pessoas que adoeceram com síndrome gripal;
• presença de doenças crônicas (diabetes, cardiopatas, renais crônicos, hipertensos,
pneumopatas, etc.) e doenças imunosupressoras (aids, lúpus, etc.);
• uso de medicamentos;
• presença de alergia;
• necessidade de hospitalização;
• história de exposição a aves e suínos, principalmente criadouros de aves, bem como
relato de contato com aves doentes ou mortas;
• outras variáveis consideradas importante de acordo com as características do surto.
6
Em situações de surto, orientações específicas deverão ser buscadas junto à SVS/MS.
Instrumentos disponíveis para controle
Imunização
Desde 1999, o Ministério da Saúde implantou a vacinação contra gripe no Brasil, com
o objetivo de proteger os grupos de maior risco contra as complicações da influenza, ou
seja, os idosos e os portadores de doenças crônicas (doenças pulmonares ou cardiovasculares, imunocomprometidos, transplantados, dentre outros). É também recomendável a
vacinação de profissionais de saúde que atuam na assistência individual de casos de infecção respiratória e de trabalhadores de asilos e creches, como forma de reduzir o potencial
de transmissão da doença em comunidades fechadas e grupos mais vulneráveis à infecção.
Outro grupo de risco são os trabalhadores de avicultura, cuja vacinação visa protegê-los
contra infecção cruzada com vírus da influenza aviária.
A vacina é a melhor estratégia disponível para a prevenção da influenza e suas conseqüências, proporcionando redução da morbidade, diminuição do absenteísmo no trabalho
e dos gastos com medicamentos para tratamento de infecções secundárias.
A vacinação ocorre na forma de campanhas prolongadas, em geral duas semanas. O
período para a realização dessas campanhas deve ser anterior ao período de maior circulação
do vírus na população das diferentes regiões do país. Este imunógeno também encontra-se
disponível nos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (Cries) dos estados.
A vacina é constituída por três tipos de cepas dos vírus influenza, cultivados em ovos
embrionados de galinha e posteriormente inativados e purificados. Contém ainda neomicina, gentamicina e o timerosal como conservantes. É composta por dois tipos de vírus de
influenza A e um vírus de influenza B. Para conferir proteção adequada a vacina deve ser
administrada a cada ano, já que sua composição também varia anualmente, em função das
cepas circulantes.
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I
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Influenza (Gripe)
O esquema vacinal preconizado pelo Ministério da Saúde varia conforme a faixa etária
da pessoa a ser vacinada, demonstrado na tabela a seguir:
Idade
Dose (ml)
Nº de doses
6-35 meses
0,25ml
1-2*
3-8 anos
0,5ml
1-2*
> 9 anos e adultos
0,5ml
1
*A segunda dose com intervalo de 4 a 6 semanas.
Após a vacinação em adultos saudáveis, a detecção de anticorpos protetores ocorre
entre 1 a 2 semanas e seu pico máximo é após 4 a 6 semanas.
A imunidade obtida com a vacinação pode variar:
• em idosos, uma vez que a formação de anticorpos é modulada pela experiência
cumulativa através dos anos de estimulação repetitiva do sistema imunológico com
o vírus influenza;
• em pacientes com câncer, pois a produção de anticorpos é menor do que em controles sadios. A soroconversão é de 24% a 71%, sendo a terapia antineoplásica o
fator determinante da resposta mais baixa nesse grupo. As crianças que não estão
em quimioterapia há mais de quatro semanas e com linfócitos >1000/mm3 possuem
altas taxas de soroconversão com o uso da vacina;
• em transplantados, a imunização deve ser feita previamente à realização do procedimento. No transplante de rim a soroconversão ocorre em cerca de 50% dos casos
um mês após a vacinação;
• em portadores do HIV/aids, a vacina contra influenza produz títulos protetores de
anticorpos em pessoas infectadas por HIV pouco sintomáticas e com contagens
adequadas de linfócitos CD4. No entanto, nos pacientes com a doença avançada
e/ou contagem baixa de CD4 a vacina pode não induzir anticorpos protetores e uma
segunda dose não melhora a resposta imunológica à mesma.
A contra-indicação para esta vacina é a presença de reação de hipersensibilidade do
tipo anafilática a proteínas do ovo de galinha e indivíduos com história pregressa de síndrome de Guillain-Barré.
Os eventos adversos mais freqüentemente associados temporalmente à vacina são locais e resolvidos geralmente em 48 horas: dor leve no local da aplicação e eritema ocorrendo em 10% a 64% dos vacinados. Outras reações sistêmicas também podem estar presentes
tais como febre, astenia, mialgia e cefaléia que, geralmente se apresentam entre 6 a 12 horas
após a aplicação.
Como a vacina é composta por vírus inativados, não tem o poder de provocar doença.
“Casos de gripe” eventualmente diagnosticados em pessoas recentemente vacinadas podem
ser devidos a infecção por outras cepas não presentes na vacina, a falhas de conversão sorológica ou a infecção por outros vírus respiratórios.
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Influenza (Gripe)
Anexo 1
MINISTÉRIO DA SAÚDE
SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE
Vigilância de Síndrome Gripal
6
Unidade: _______________________________________________________________
Município: ____________________________________________________ UF: ______
Responsável pela informação: _______________________________________________
Semana de ____/____/____ a ____/____/____
Faixa etária
(em anos)
Número de consultas
Consultas de síndrome gripal
Total de consultas da unidade
I
<4
5 a 14
15 a 24
25 a 59
60 a 64
> 65
Idade ignorada
Total
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