Artigos publicados – Edital 195

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Pesquisa e
extensão
no fortalecimento das demandas
econômicas, sociais e culturais locais
no âmbito do IFC
Reitoria
João Célio de Araújo
José Carlos Brancher
Michel Goulart da Silva
Romano Roberto Valicheski
(organizadores)
Pesquisa e extensão no fortalecimento das demandas
econômicas, sociais e culturais locais no âmbito do IFC
IFC
Blumenau
2014
Copyright IFC - Instituto Federal Catarinense
Todos os direitos reservados
Reitor: Francisco José Montório Sobral
Pró-Reitor de Extensão : José Carlos Brancher
Pró-Reitor de Pesquisa e Inovação : Romano Roberto Valicheski
Capa: Cecom - Câmpus Videira (Maria José de Castro Bomfim)
Diagramação: Cecom - Câmpus Videira (Maria José de Castro Bomfim)
P474
Pesquisa e extensão no fortalecimento das demandas
econômicas, sociais e culturais locais no âmbito do IFC.
/ João Célio de Araújo ... [et al.] (organizadores).
Blumenau : IFC, 2014.
94 p. : il., color ; 21 cm
ISBN 978-85-68261-01-9.
Inclui bibliografias.
1. Pesquisa. 2. Ciência Estudo e ensino. 3. Ensino
profissional. I. Araújo, João Célio de. II. Título.
CDD
001.42
Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Deisi Martignago – CRB 14/726
Prefácio
N
esta publicação, encontramos estudos cujas abordagens vão desde
contribuições na área das Ciências Agrárias, Humanas até Tecnológicas,
as quais refletem, através de seus nove artigos, parte do conhecimento e
da produção científica do Instituto Federal Catarinense, com relatos de
pesquisas realizadas nos diferentes Câmpus, sinalizando a maneira como
aplicamos e atendemos às demandas e aos arranjos produtivos locais.
Diante disto, nota-se o estímulo do diálogo com diferentes áreas
do conhecimento, ampliando-se, com esta publicação, o debate como
forma de incentivo a novas produções e à atuação em novas áreas.
Nesta perspectiva, encontramos, na abertura deste volume, “A
pesquisa aplicada e a extensão tecnológica no apoio ao fortalecimento
das demandas locais no âmbito do Instituto Federal Catarinense.” onde
é destacada a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, num
conjunto de ações que, devem ser legitimadas.
O resultado deste trabalho se apresenta como forma de
socialização desse conhecimento, ao permitir o acesso às pesquisas
desenvolvidas pelos nossos servidores e discentes.
Nota-se que os autores se empenharam verdadeiramente em
apresentar seus estudos e socializar seus conhecimentos no universo
da pesquisa no âmbito do IFC. Deste modo, é imperativo destacar que
a pesquisa no IFC é, sem sombra de dúvida, uma realidade e continuará
sendo fortalecida, corroborando o papel dos Institutos Federais.
Quanto ao papel da Pesquisa nos Institutos Federais, cabe
destacar o cumprimento da Lei nº11.892/2008 que institui a Rede Federal
de Educação Profissional, Científica e Tecnológica a qual preceitua,
como uma das finalidades dos Institutos Federais realizar e estimular
a pesquisa aplicada, dispondo também esta ação em seus objetivos, de
modo a estimular o desenvolvimento de soluções técnicas e tecnológicas,
estendendo seus benefícios à comunidade.
Estamos, portanto, solidificando ações de pesquisa em nosso
ambiente acadêmico, em sintonia com as políticas Inclusivas de Educação
do MEC.
A Pesquisa, articulada à Extensão e ao Ensino, possibilita
avanços nos processos e nas práticas pedagógicas e permite desembocar
na sociedade de uma maneira em geral, o atendimento às demandas e
arranjos produtivos locais.
Esta publicação não se limita, apenas, ao campo da divulgação
científica, mas que articula todas as unidades do IFC revelando novos
paradigmas e atuando, desta forma, na busca da excelência, promovendo
novas aprendizagens, estimulando nossos servidores e discentes a
desvendarem o universo da pesquisa, evidenciando o amadurecimento
da Pesquisa no IFC.
A todos, uma excelente leitura!
Francisco José Montório Sobral
Reitor do Instituto Federal Catarinense (IFC).
Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico.
Doutor em Educação pela Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP).
Sumário
A pesquisa aplicada e a extensão tecnológica no apoio ao
fortalecimento das demandas locais no âmbito do Instituto
Federal Catarinense
7
Diagnóstico anatomopatológico de doenças em animais
de produção na região Oeste de Santa Catarina
13
Avaliação da citotoxicidade e atividade coagulante de
extrato de folhas e flores de Asclepias Curassavica
23
A difusão e a realidade do conhecimento sobre plantas
tóxicas nas pequenas propriedades rurais
31
Efeito das plantas de cobertura nos atributos físicos
do solo, suprimento de nitrogênio e produtividade do
milho
41
Propagação de aceroleira (Malpighia Spp.) por estaquia
em casa de vegetação
57
Desenvolvimento de um equipamento de termoanálise
para medir o grau de modificação de ligas de alumínio
eutéticas fundidas
67
Contribuição para a melhoria no desenvolvimento de
software em Videira e região
79
Atividades culturais no Instituto Federal Catarinense:
uma contribuição para manter e cultivar os costumes e as
tradições de Videira e região
87
A pesquisa aplicada
e a extensão
tecnológica no apoio
ao fortalecimento
das demandas
locais no âmbito do
Instituto Federal
Catarinense
João Célio de Araújo*
José Carlos Brancher**
Michel Goulart da Silva***
Romano Roberto Valicheski****
Q
uando os institutos federais foram criados, por meio da Lei Nº 11892,
de 29 de dezembro de 2008, uma de suas mais prementes preocupações
passava pela inserção de cada campi dentro da realidade local em que
estava inserido. Segundo a referida lei, que criou a Rede Federal de
Educação Profissional, Científica e Tecnológica, os Institutos Federais
são
instituições de educação superior, básica e profissional,
pluricurriculares e multicampi, especializados na oferta de
educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades
de ensino, com base na conjugação de conhecimentos técnicos e
tecnológicos com as suas práticas pedagógicas (BRASIL, 2008).
Entre outras finalidades, essas instituições visam “orientar sua
oferta formativa em benefício da consolidação e fortalecimento dos
arranjos produtivos, sociais e culturais locais, identificados com base no
mapeamento das potencialidades de desenvolvimento socioeconômico e
cultural no âmbito de atuação do Instituto Federal” (BRASIL, 2008).
O Instituto Federal Catarinense (IFC) nasceu da unificação de
cinco escolas agrotécnicas instaladas em Santa Catarina, nas cidades de
* Diretor de Pesquisa da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do Instituto Federal
Catarinense (IFC). Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico. Doutor em Irrigação e
Drenagem pela Universidade de São Paulo (USP).
**Pró-Reitor de Extensão do Instituto Federal Catarinense (IFC), Professor de Ensino Básico,
Técnico e Tecnológico, Mestre em Extensão Rural pela Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM).
***Técnico em Assuntos Educacionais do Instituto Federal Catarinense (IFC). Doutorando
em História na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em História pela
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).
****Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do Instituto Federal Catarinense (IFC).
Doutor em Produção Vegetal pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF).
V 8 V
Araquari, Camboriú, Concórdia, Rio do Sul e Santa Rosa do Sul. Em sua
trajetória particular, cada uma dessas escolas constituiu numerosas redes
com agentes econômicos, políticos e culturais em suas respectivas cidades
e regiões. Por sua vez, os novos campi do IFC, instalados em outras seis
cidades, foram estruturados buscando respeitar os anseios da população
que circunda nossa instituição.
O conceito de arranjo produtivo local (APL) é um dos fundamentos
das políticas relacionadas à expansão dos institutos federais. Entende-se
pelo conceito de APL as “aglomerações de empresas localizadas em um
mesmo território, que apresentam especializações produtivas e mantém
algum vínculo de articulação, interação cooperação e aprendizagem entre
si e com outros atores locais”. Essa concentração geográfica de empresas
e instituições “inclui fornecedores especializados, universidades,
associações de classe, instituições governamentais e outras organizações
que proveem educação, informação, conhecimento e/ou apoio técnico”
(MATTIODA, 2011, p. 42.).
Essa relação com os APL ocorre por meio da indissociabilidade
entre as ações de ensino, pesquisa e extensão. Segundo a lei de criação
dos institutos, cabe a essas instituições “realizar e estimular a pesquisa
aplicada, a produção cultural, o empreendedorismo, o cooperativismo e o
desenvolvimento científico e tecnológico” (BRASIL, 2008). Nesse sentido,
além de oferecer educação profissional pública e gratuita, cabe aos
institutos federais também realizar investigações acerca de problemas
colocados pela realidade local e intervir sobre os mesmos. Para tanto, a lei
de criação dos institutos federais mobiliza dois conceitos centrais nesse
processo: o de pesquisa aplicada e o de extensão tecnológica.
Entende-se como pesquisa aplicada aquela que objetiva gerar
conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de problemas
específicos, com o objetivo de transformar em ação concreta os resultados
do trabalho. Extensão tecnológica, por sua vez, se refere ao
Processo educativo, cultural, social, científico e tecnológico que
promove a interação entre as instituições, os segmentos sociais e
o mundo do trabalho com ênfase na produção, desenvolvimento
e difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos visando o
V 9 V
desenvolvimento sócio-econômico sustentável local e regional
(CONIF, 2013, p. 16).
Em outros termos, o conceito de extensão tecnológica vincula
não apenas as ações de ensino e de pesquisa às demandas regionais,
mas também associa as ações de extensão às demandas prementes
das comunidades no entorno dos campi dos Institutos Federais. Esses
elementos são enfatizados pelo documento produzido pelos pró-reitores
de extensão, quando afirmam:
A extensão tecnológica da Rede Federal de EPCT tem como
diferencial o atendimento aos segmentos sociais e ao mundo do
trabalho com ênfase na inclusão social, emancipação do cidadão,
favorecendo o desenvolvimento local e regional, a difusão do
conhecimento científico e tecnológico, a produção da pesquisa
aplicada e a sustentabilidade sócio-econômica (CONIF, 2013, p.
20).
Como resposta às necessidades colocadas pelos APL das regiões
em que estão localizados seus campi, o IFC lançou, no ano de 2013, o
edital de apoio a projetos que tenham como foco ações de pesquisa
e extensão voltadas à realidade local. Nesse edital, cujos projetos
executados deram origem aos artigos que compõem este volume, foram
analisadas e aprovadas propostas que contemplavam uma diversidade de
áreas do conhecimento, passando pelas Ciências Agrárias, Humanas e
Tecnológicas.
Na formulação dos projetos, os proponentes deveriam partir de
problemas locais que poderiam necessitar da intervenção do instituto
federal. Com isso, estruturando o projeto em duas grades etapas, os
proponentes deveriam, em primeiro lugar, responder aos problemas
propostos, produzindo novos conhecimentos por meio da pesquisa
aplicada. Em um segundo momento, deveriam buscar formas de fazer
o conhecimento produzido intervir sobre o meio local em que estão
inseridos, por meio de diferentes ações de extensão, como prestação de
serviço ou a realização de eventos.
V 10 V
Os problemas apresentados pelos projetos apresentavam a
necessidade de intervenção, por meio da pesquisa e da extensão, nos
processos de produção agrícola, de criação de animais, de desenvolvimento
tecnológico e até mesmo da preservação cultural local, ente outras questões
de grande importância. O presente volume, que entregamos aos leitores,
proporciona um panorama da produção de conhecimento realizada no
âmbito do IFC e da relação desta instituição com as comunidades em que
seus campi estão inseridos.
Referências
BRASIL. Lei Nº 11892, de 29 de dezembro de 2008.
Conselho Nacional das Instituições Federais de Educação Profissional e
Tecnológica (CONIF). Extensão Tecnológica: Rede Federal de Educação
Profissional, Científica e Tecnológica. Cuiabá (MT): CONIF/IFMT, 2013.
MATTIODA, Eliana. APL’s de sucesso: estudo de caso de três Arranjos
Produtivos Locais do Rio Grande do Sul. São Paulo: Blucher Acadêmico,
2011.
V 11 V
Diagnóstico
anatomopatológico
de doenças em animais
de produção na
região Oeste de Santa
Catarina
Caroline do Couto*
Ianara Galvagni*
Ricardo Evandro Mendes**
Renata Assis Casagrande**
Introdução
A
produção animal apresenta participação significativa na economia
do estado de Santa Catarina. A região Oeste é a maior produtora de suínos,
aves e bovinos de leite, assim como tem boa expressão na produção de
bovinos de corte e pequenos ruminantes do estado. A região abriga o maior
número de pequenas propriedades rurais do estado (38,3%) (IBGE, 2011).
Nessa região há ainda grande destaque para o complexo agroindustrial
voltado ao mercado nacional/internacional, a exemplo da BRF (Sadia e
Perdigão), Seara, Tirol, Copérdia e Aurora.
No entanto, a falta de conhecimento técnico-científico dos
produtores rurais, bem como a deficiência do controle sanitário, possui
uma tendência em diminuir a eficiência produtiva dos rebanhos,
principalmente pela dificuldade na tomada de decisões em relação ao
método de controle e prevenção das enfermidades (RIET-CORREA et al.,
2007).
O diagnóstico das doenças que ocorrem no campo é importante
para diminuir a distância entre os produtores rurais e o conhecimento
desenvolvido nas instituições de ensino superior. A necropsia é a
principal ferramenta de diagnóstico de doenças em rebanhos produtivos
(McGAVIN & ZACHARY, 2009). Também salienta-se a importância de
realizar o diagnóstico de zoonoses, monitorando e impedindo o contato
de pessoas com animais doentes, além das principais enfermidades que
podem ser transmitidas para outros animais na mesma propriedade
(SANTOS & ALESSI, 2010).
*Aluno(a) graduação em Medicina Veterinária - Instituto Federal Catarinense (IFC) - Concórdia.
**Professores do curso de Medicina Veterinária, Laboratório de Patologia Veterinária, IFCConcórdia.
V 14 V
O objetivo desse trabalho é o diagnóstico, o treinamento e a
educação continuada em Patologia Veterinária das doenças que acometem
os animais de produção, tanto para auxiliar os profissionais atuantes no
campo nas medidas de controle e prevenção das doenças, como para os
alunos de graduação em Medicina Veterinária que tem a oportunidade de
conhecer a realidade de trabalho da região, assim como para os produtores
rurais e toda a comunidade através da formação de profissionais
mais capacitados para atender as reais necessidades da região Oeste
Catarinense. Este trabalho descreve os casos diagnosticados pelo Bloco
de Patologia IFC-Concórdia desde o início do seu funcionamento até
setembro de 2014.
Material e Métodos
Durante os meses de janeiro de 2013 a setembro de 2014, realizouse o diagnóstico das enfermidades dos animais de produção encaminhados
ao Bloco de Patologia Veterinária do Instituto Federal Catarinense –
Campus Concórdia, onde foram realizados exame de necropsia; exame
histopatológico de animais mortos que foram submetidos à necropsia; e
exame histopatológico de fragmento de tecido de animais vivos colhidos
através de biópsias.
Todos os animais receberam um número de registro. Dos
animais submetidos ao procedimento de necropsia foram colhidos
fragmentos de todos os órgãos e tecidos (encéfalo, coração, pulmão,
músculos, linfonodos, baço, fígado, estômago, intestinos, rins, adrenais,
bexiga, órgãos reprodutores e glândulas), fixados em formalina 10% por
24 a 48 horas. Após, os órgãos foram processados rotineiramente para
histopatologia, que nesse processo incluiu: o corte de todos os órgãos
numa espessura de 3mm, processamento em histotécnico (passagem em
diferentes concentrações de álcool para desidratação do tecido, após em
xilol para impregnação da parafina), confecção dos blocos de parafina
para então serem cortados numa espessura de 3µm em micrótomo e
posterior fixação dos tecidos em lâmina de vidro. Na sequência, foram
corados pela técnica de hematoxilina e eosina, ou quando necessário,
por outras colorações especiais. Com as lâminas dos tecidos prontas,
V 15 V
visualizou-se em microscópio óptico, sendo registradas todas as lesões
observadas.
Para cada caso foi emitido um laudo final com o diagnóstico da
doença que causou a morte do animal, sendo este entregue ao veterinário
responsável pelo caso e ao proprietário.
Nos casos em que o exame histopatológico não permitiu concluir
o diagnóstico definitivo da doença, foram realizados exames adicionais
com uso de técnicas mais específicas de diagnóstico como bacteriologia,
sorologia, PCR, parasitológico, dentre outras. Nesses casos os materiais
foram encaminhados para laboratórios e instituições de pesquisas
específicas.
Quando solicitado pelo veterinário ou produtor rural, foram
realizadas visitas técnicas para a observação da propriedade em que
ocorreu mortalidade de animais de produção, e concomitantemente,
realizou-se as necropsias dos animais mortos. Em outras situações optouse por buscar os animais nas respectivas localidades e transportá-los até o
Laboratório para a realização do exame necroscópico. Em todos os casos,
antes da realização de qualquer procedimento, obteve-se o histórico junto
ao produtor e/ou médico veterinário sobre o ambiente, alimentação, sinais
clínicos, sucesso ou insucesso do tratamento dentre outras informações
relevantes para o diagnóstico.
Resultados e discussão
Durante os meses de janeiro de 2013 a setembro de 2014 foram
realizadas 641 necropsias em animais encaminhados ao Bloco de Patologia
Veterinária do Instituto Federal Catarinense - Campus Concórdia. Do
total de animais submetidos ao procedimento 32,76% (210/641) eram
animais de produção. Desses, 52,86% (111/210) eram bovinos; 31,43%
(66/210) suínos; e 15,71% (33/210) ovinos. Em 93,33% (196/210) dos casos,
foi possível concluir o diagnóstico da causa da morte e em 6,67% (14/210)
o diagnóstico definitivo não foi estabelecido ou estava em andamento. Os
casos foram classificados de acordo com a etiologia das doenças e a espécie
animal (Gráfico 1). Nos bovinos as principais causas de morte foram de
origem infecciosa-bacteriana [27,03% (30/111)], seguido de distúrbios
V 16 V
causados por agentes físicos (DCAF - traumatismo, distocias, rupturas/
torções de órgãos, presença de corpo estranho, predação) [15,32% (17/111)]
e doença metabólica [13,51% (15/111)]. Nos suínos, o percentual de animais
acometidos por doença infecciosa-bacteriana foi de 45,46% (30/66), sendo
esta a principal causa de morte nessa espécie, seguida de DCAF com
16,67% (11/66) e doença infecciosa-viral [13,64% (9/66)]. Nos ovinos, as
causas de morte de maior ocorrência foram doenças parasitária [21,22%
(7/33)] e DCAF [18,18% (6/33)].
Os resultados obtidos permitem afirmar que as causas de
mortalidade em animais são diversas, mas que as de origem infecciosasbacteriana são as mais frequentes em animais de produção [30%
(63/210)] seguidas de DCAF [16,19% (34/210)]. As demais causas de morte
em animais de produção foram: doença metabólica [8,1% (17/210)];
aborto de causa indeterminada [7,14% (15/210)]; parasitária [7,14%
(15/210)]; neoplasmas [5,23% (11/210)]; infecciosa-viral [4,29% (9/210)];
intoxicação por planta [4,29% (9/210)]; doença idiopática [3,33% (7/210)];
nutricional [2,38% (5/210)]; parasitária e metabólica [1,43% (3/210)];
parasitária e infecciosa bacteriana [0,95% (2/210)]; intoxicação por
substância química [0,95% (2/210)]; causas diversas [0,95% (2/210)];
eutanásia por conveniência [0,48% (1/210)]; e infecciosa viral e bacteriana
[0,48% (1/210)]. Em 4,29% (9/210) dos casos não se estabeleceu um
Gráfico 1. Causas
de
morte
em
animais de produção diagnosticadas
pelo Bloco de Patologia Veterinária
do IFC-Concórdia
no período de
janeiro de 2013 a
setembro de 2014.
V 17 V
diagnóstico definitivo e em 2,38% (5/210) os casos ainda estavam em
andamento ou aguardavam resultados de exames complementares.
Durante o mesmo período também se realizou 426 exames
anatomopatológicos, sendo 9,86% (42/426) em animais de produção.
Desses, 69,05% (29/42) eram bovinos; 23,81% (10/42) suínos; e 7,14% (3/42)
ovinos. Em 80,95% (34/42) dos casos foi possível concluir o diagnóstico
do material enviado e em 19,05% (8/42) o diagnóstico definitivo não
foi estabelecido ou estava em andamento (Gráfico 2). Nos bovinos os
diagnósticos de maior ocorrência foram de origem infecciosa-bacteriana
[17,24% (5/29)], neoplasmas [17,24% (5/29)] e parasitária [17,24% (5/29)],
seguidos de DCAF [13,80% (4/29)], doença metabólica [10,34% (3/29)] e
aborto de causa indeterminada [3,45% (1/29)]. Nos suínos, o percentual
de animais diagnosticados com doença infecciosa-viral foi de 40%
(4/10), sendo este o diagnóstico de maior ocorrência nessa espécie,
seguido de doença infecciosa-bacteriana 20% (2/10), doença nutricional
[10% (1/10)] e doença idiopática [10% (1/10)]. Foram realizados exames
anatomopatológicos em três ovinos e os diagnósticos foram doença
parasitária, infecciosa-bacteriana e neoplasma [33,33% (1/3) cada].
Os resultados obtidos permitem afirmar que os achados
anatomopatológicos encontrados nos materiais e amostras enviados
ao Bloco de Patologia Veterinária são diversas, mas que as de origem
infecciosa-bacteriana
são as mais frequentes
em animais de produção
[19,05% (8/42)] seguidas
de doenças parasitárias
[14,26%
(6/42)]
e
neoplasmas
[14,26%
(6/42)].
Gráfico
2.
Diagnósticos
anatomopatológicos em animais de produção das amostras
enviadas ao Bloco de Patologia
Veterinária do IFC-Concórdia
no período de janeiro de 2013 a
setembro de 2014.
V 18 V
Foram realizadas ainda visitas técnicas em propriedades rurais
do município de Concórdia e região, que apresentavam mortalidade em
animais de produção. Nestas visitas, foram observados os principais
aspectos relacionados ao manejo dos animais, bem como conversado com
o proprietário, procurando obter informações relevantes para conclusão
do diagnóstico. Posteriormente, realizou-se a necropsia dos animais
mortos.
No município de Concórdia foram visitadas propriedades
localizadas nas comunidades de Barra do Tigre, Primeiro de Setembro,
Barra Fria, Cachimbo, Canavense, Costa e Silva, Gasperini, Lageado dos
Pintos, Pinhal, Planalto, Rancho Grande, Rigon, Salete, Saltinho, Sede
Brum, Presidente Kennedy, Distrito de Santo Antônio e Vila Fragosos.
No município de Peritiba realizou-se visitas nas comunidades Caravaja,
Vila Nova, Lageado Mirim e Luciano; em Alto Bela Vista nas comunidades
Dois Vicente, Floresta e Schuck; em Ipira nas linhas São Luis e Filadélfia;
em Piratuba nas linhas São Paulo e Uruguai; em Arabutã na comunidade
de Jundiaí; em Itá na linha Adolfo Konder; em Lindóia do Sul na linha
Sanga Martins; em Seara na comunidade de Caçador; em Ipumirim
na linha Dois Irmãos; em Jaborá na comunidade de Castelhano; e em
Irani na linha Aparecida. Esses doze municípios visitados pertenciam
ao Alto Uruguai Catarinense (AMAUC) (Figura 1). Também foi realizada
visita técnica no município de Capinzal (comunidade de Alto Alegre),
abrangendo-se assim, treze municípios da região Oeste Catarinense.
Figura 1. Mapa dos municípios
pertencentes à Associação dos
Municípios do Alto Uruguai
Catarinense – AMAUC em que
se realizou visitas técnicas
e
exames
necroscópicos
(asteriscos vermelhos).
V 19 V
O atendimento às propriedades rurais é importante para diminuir
a distância existente entre o conhecimento técnico-científico produzido
nas instituições de ensino com os produtores rurais ou proprietários de
animais. A realização de necropsias e análises histopatológicas é uma
importante ferramenta de diagnóstico, permitindo que medidas de
controle e prevenção de doenças possam ser instituídas rapidamente,
evitando a disseminação das enfermidades e maiores perdas econômicas
para os produtores rurais. O serviço de extensão no diagnóstico
em patologia veterinária serviu para treinamento dos estudantes,
atualização dos alunos sobre as enfermidades que estão ocorrendo no
campo e permitiu ainda divulgar o trabalho prestado pelo IFC-Concórdia
à comunidade, auxiliando no reconhecimento do mesmo como uma
instituição de ensino superior.
Conclusão
O trabalho possibilitou determinar que as enfermidades de maior
ocorrência em animais de produção na região oeste de Santa Catarina
são de origem infecciosa bacteriana ou causadas por agentes físicos. O
conhecimento das doenças que acometem os rebanhos é importante
para auxiliar os veterinários atuantes no campo na adoção de medidas de
controle e prevenção de doenças, diminuindo os prejuízos econômicos na
produção animal e aumentando a rentabilidade desse sistema.
Os casos recebidos e as atividades desenvolvidas serviram
como aprendizado e formação acadêmica complementar aos alunos da
graduação do curso de Medicina Veterinária. Os alunos envolvidos tiveram
a oportunidade de conhecer a rotina laboratorial e extensiva desenvolvida
em centros de diagnóstico de doenças em animais, entender como são
visualizadas as alterações patológicas e praticar os conhecimentos
obtidos no curso. O trabalho contribuiu para formar profissionais mais
capacitados para atender as necessidades dos produtores rurais do Oeste
Catarinense.
V 20 V
Agradecimentos
Ao Instituto Federal Catarinense por possibilitar o
desenvolvimento desse projeto e pelo custeio das bolsas de pesquisa
e extensão e demais recursos orçamentários. Também por todo apoio
prestado ao curso de Medicina Veterinária. Às Pró-Reitoria de Extensão
e de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (PROEX/PROPI) pelo incentivo
à iniciação científica dos alunos de graduação. A todos os veterinários
que nos enviaram os animais de produção, sendo eles: Ademar Mori,
Claudinei Volpini, Diovane dos Santos Medeiros, Edgar Gheller, Eduardo
Peres Neto, Fabrisio Broll, Flávio L. Hanauer Gauer, Ildo Dal Pozzo,
Luciane Wicket, Marcos Loureiro, Melchior Conte, Rodrigo Pivatto, Taíza
Schiavini, Tarcísio Martini e Wanderson Biscola Pereira.
Referências
IBGE. Pesquisa Pecuária Municipal 2003-2010, Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/
producaoagropecuaria/default.shtm>.
McGAVIN, M. D; ZACHARY, J.F. Bases da patologia em veterinária. 4.ed.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. 1475p.
RIET-CORREA, F.; SCHILD, A. L.; LEMOS, R. A. A.; BORGES, J. R. J.
Doenças de Ruminantes e Equídeos. 3.ed. 2 v., Santa Maria: Pallotti, 2007.
694p.
SANTOS, R. L.; ALESSI A. C. Patologia veterinária. São Paulo: Roca, 2010.
904p.
V 21 V
Avaliação da
citotoxicidade e
atividade coagulante
de extrato de folhas
e flores de Asclepias
Curassavica
Carla Imlau*
Daiane Karen Wentz*
Marina Caus Santos*
Patrícia Giacomin*
Jéssica Scortegagna*
Letícia Ribeiro Rafagnin*
Mário Lettieri Teixeira*
Introdução
A
presença de substâncias químicas com diferentes propriedades
farmacológicas e toxicológicas é uma característica de muitas plantas
do grupo das Angiospermas pertencentes às famílias Asclepiadaceae,
Euphorbiaceae e Moraceae, entre outras. As plantas da família
Asclepiadaceae incluem mais de 2.000 espécies classificadas em 280
gêneros e estão distribuídas em todo o mundo, nas regiões tropicais e
subtropicais. A maioria dos representantes da família Asclepiadaceae
são ervas perenes e seu látex é usado exclusivamente como um remédio
comum para a cicatrização de feridas e para parar o sangramento em
cortes frescos por curandeiros tradicionais (MUEEN e RANA, 2005;
MUTHU et al., 2006).
A composição do látex destas plantas, comumente, é uma mistura
de várias enzimas hidrolíticas, em que as proteases são as principais
enzimas responsáveis pelas ações farmacológicas e toxicológicas
observadas. Estudos tem demonstrado que cisteína-proteases extraídas
de Calotropis gigantea e as serina-proteases de Synadenium grantii
afetam a hemostasia formando coágulos de fibrina (RAJESH et al., 2006).
Semelhante a outras plantas destas famílias, a Asclepias curassavica,
popularmente conhecida como oficial-de-sala, também é uma boa fonte
de enzimas proteolíticas, como cisteína-proteases (LIGGIERI et al., 2004).
As principais atividades econômicas do Oeste Catarinense estão
* Curso de Medicina Veterinária, Instituto Federal de Santa Catarina – Campus Concórdia,
Concórdia/SC
V 24 V
estruturadas em cadeias produtivas, nas quais as agroindústrias são os
atores determinantes de suas trajetórias, obedecendo a determinações
que vêm do mercado e/ou da legislação do setor. Atualmente, Santa
Catarina é o quinto maior produtor de leite do Brasil e o estado ainda
registra um crescimento anual de 10% na produção. Até o final de 2013
os produtores catarinenses devem chegar à casa dos três bilhões de litros
(TESTA et al., 2013).
Desta forma, a ausência de informações sobre a presença de
plantas tóxicas no local de pastoreio pode acarretar na diminuição da
produção leiteira e em casos mais graves a redução do número de animais.
Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar, de forma preliminar, as
propriedades citotóxicas dos extratos brutos de folhas (EBF) e flores
(EBFL) de A. curassavica, bem como a interferência destes extratos no
processo de coagulação sanguínea.
Materiais e métodos
Exemplares de A. curassavica foram recolhidos da mata da
região, sendo realizada a identificação botânica por meio de excicata. Os
extratos foram preparados à base de folhas e flores. O extrato bruto das
folhas (EBF) foi preparado a partir de 200 g de folhas com 320 mL de água
acidificada (pH 5,0) e foi submetido ao processo de extração por maceração
no período de 3 dias. O extrato bruto das flores (EBFL) foi preparado com
50 g das mesmas e 80 mL de água acidificada (pH 5,0), e procedido da
mesma forma que o extrato de folhas. A avaliação da citotoxicidade foi
mensurada pela capacidade de lisar eritrócitos bovinos. A dosagem de
hemoglobina livre foi realizada submetendo uma suspensão de hemácias
a 2% a diferentes concentrações dos extratos de A. curassavica (1/1, ½, ¼,
1/8, 1/16, 1/32, 1/64, 1/128, 1/256, 1/512), por um período de 5 minutos de
incubação em temperatura ambiente. Após esse período, foi verificada a
formação de um botão no fundo de cada tubo e, logo em seguida foi feita
a mensuração da fração de hemoglobina livre (Hemoglobina – Labtest,
Minas Gerais, Brasil). Como controle negativo foi utilizado solução
fisiológica (NaCl 0,9%) e como controle positivo solução de KCN 0,01%.
Este teste foi realizado em triplicata, da mesma forma, que o teste de
V 25 V
dosagem de hemoglobina, o sobrenadante foi utilizado para a dosagem de
lactato desidrogenase. Ao sobrenadante foi adicionado 1 mL do reagente
de trabalho do kit Labtest (Minas Gerais, Brasil) e realizada a leitura da
absorbância (A) de cada tubo em 340 nm durante o intervalo de 1 minuto.
A concentração de lactato desidrogenase (LDH) foi calculada de acordo
com a equação (LDH (U/L) = [Afinal - Ainicial/ 2] x 8095). Como controle
negativo foi utilizado solução fisiológica (NaCl 0,9%) e como controle
positivo sangue hemolisado de bovino a 1% sendo o teste realizado em
triplicata.
Para a avaliação da atividade coagulante, foi coletado 4,5 mL
de sangue bovino e colocado em tubos de ensaio, contendo 100 µL dos
extratos de A. curassavica e cronometrado imediatamente o tempo para a
formação do coágulo. O controle negativo utilizado foi solução de citrato
de sódio 22,5 mM e o controle positivo foi solução fisiológica (NaCl 0,9%),
sendo realizado em triplicata.
Resultados e discussão
A atividade hemolítica dos extratos de A. curassavica foi
determinada pela percentagem de lise de eritrócitos. De acordo com este
estudo, houve lise celular a partir da concentração 1/64 do EBF e 1/32 para
o EBFL (Figura 1).
Figura 1. Avaliação da citotoxicidade dos extratos brutos de folhas (EBF) e de flores (EBFL)
de Asclepsia curassavica em relação à percentagem de eritrócitos lisados de acordo com a
quantificação de hemoglobina livre. Extrato Bruto de Folhas.
Extrato Bruto de Flores.
V 26 V
As células tratadas com as diferentes concentrações dos extratos
de A. curassavica resultaram no aumento dos níveis de liberação de LDH.
Na concentração 1/64 do EBF, a concentração extracelular de LDH foi de
15,27 % e para a concentração de 1/32 do EBFL foi de 4,63%, em relação ao
padrão positivo (Figura 2).
Figura 2. Avaliação da citotoxicidade dos extratos brutos de folhas (EBF) e de flores (EBFL)
de Asclepsia curassavica em relação à percentagem de eritrócitos lisados de acordo com a
quantificação de lactato desidrogenase liberada (LDH).
Extrato Bruto de Folhas. Extrato Bruto de Flores.
A perda da integridade da membrana celular está intimamente
relacionada com a concentração dos extratos (EBF e EBFL). O tubo controle
demorou 3’40’’ para coagular, enquanto o tubo EBFL 3’07’’ e o tubo EBF
2’09’’. Em relação à atividade anticoagulante, o tubo controle levou 2’36’’
enquanto o tubo EBFL demorou 1’45’’ e o tubo EBF 1’38’’, respectivamente.
Diante destes resultados, observou-se a rápida coagulação do sangue em
contato com o extrato bruto da planta. O tubo EBF foi o que apresentou o
maior potencial de coagulação.
A análise preliminar da citotoxicidade dos extratos brutos
de A.curassavica foi investigada em eritrócitos de bovinos. As células
tratadas com os EBF e EBFL mostraram resultados semelhantes
neste estudo, em que a extensão do dano celular foi proporcional a
concentração dos respectivos extratos. Desta forma, a viabilidade celular
V 27 V
diminui progressivamente com o aumento da concentração dos extratos.
Diferentes níveis de citotoxicidade podem ser relacionados com os
parâmetros bioquímicos das células envolvidas, como a composição da
membrana do plasma e a atividade metabólica, do tempo de exposição
ao agente tóxico, e também o ensaio de toxicidade usado (PAPO e SHAI,
2005). Um dos indicadores de morte celular é a liberação de conteúdos
intracelulares para o meio extracelular, e a quantificação da LDH no
sobrenadante do meio de cultura de células, indica lesão da membrana
celular e consequente morte celular (DECKER e LOHMANN-MATTHES,
1988). O ensaio de LDH indica, portanto, a perda de integridade da
membrana plasmática das células tratadas.
As espécies que pertencem à família Asclepiadaceae geralmente
contêm enzimas proteolíticas no seu látex, o qual apresenta na sua
composição uma mistura complexa de componentes, como proteínas,
vitaminas, carboidratos, lipídios, terpenos, alcalóides e aminoácidos
livres. A presença de certas enzimas como quitinases e proteases em
vacúolos de látex sugere que estas podem ser responsáveis por mecanismos
de defesa da planta, quando a célula vegetal for lisada (VIERSTRA, 1996).
O látex desta planta tem sido usado na medicina popular como emético
e vermífugo (TREJO et al., 2001). Sendo assim, A. curassavica, apresenta
propriedades tóxicas, por possuir diversos glicosídeos, entre eles a
asclepiadina que é um glicosídeo cardioativo (LI et al. 2009). Entretanto,
na literatura existem poucos estudos em relação às características
toxicológicas. Ainda, de acordo com vários fatores, como sazonalidade,
temperatura, disponibilidade hídrica, radiação ultravioleta, adição de
nutrientes, poluição atmosférica, danos mecânicos e ataque de patógenos
podem interferir no teor de metabólitos secundários (GOBBO-NETO e
LOPES, 2007).
Conclusões
Ao término desta pesquisa, constata-se que os EBF e EBFL da
A. curassavica apresentam um potencial efeito citotóxico e atividade
coagulante. A ingestão desta planta por animais pode oferecer riscos à
saúde dos mesmos de acordo com este estudo de avaliação preliminar de
V 28 V
citotoxicidade.
As perspectivas deste trabalho remetem à identificação e à
caracterização físico-química deste(s) composto(s) presentes nas folhas
e flores da planta A.curassavica. Portanto, mais estudos devem ser
realizados a fim de compreender a complexidade do mecanismo de ação,
bem como a relação estrutura-atividade dos compostos ativos presentes
nos extratos. Estes estudos devem envolver a caracterização molecular
e a interação dos compostos químicos presentes nos extratos com os
receptores de membrana celular.
Agradecimentos
Este trabalho foi financiado pelo IFC.
Referências
DECKER, T.; LOHMANN-MATTHES, M.L. A quick and simple method
for the quantitation of lactate dehydrogenase release in measurements of
cellular cytotoxicity and tumor necrosis factor (TNF) activity. Journal of
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V 30 V
A difusão e a
realidade do
conhecimento sobre
plantas tóxicas
nas pequenas
propriedades rurais
Daiane Karen Wentz*
Carla Imlau*
Marina Caus Santos*
Patrícia Giacomin*
Jéssica Scortegagna*
Letícia Ribeiro Rafagnin*
Mário Lettieri Teixeira*
Introdução
A
presença de substâncias químicas com diferentes propriedades
farmacológicas e toxicológicas é uma característica de muitas plantas
do grupo das Angiospermas pertencentes às famílias Asclepiadaceae,
Euphorbiaceae e Moraceae, entre outras. As plantas da família
Asclepiadaceae incluem mais de 2.000 espécies classificadas em 280
gêneros e estão distribuídas em todo o mundo, nas regiões tropicais e
sub-tropical (MUTHU et al., 2006).
A composição do látex destas plantas, comumente, é uma mistura
de várias enzimas hidrolíticas, em que as proteases são as principais
enzimas responsáveis pelas ações farmacológicas e toxicológicas
observadas (RAJESH et al., 2006). Um exemplo disto é a formação de
fibrina durante a coagulação do sangue e hidrólise da fibrina em fases
posteriores, em que a ingestão do látex e/ou seiva desta planta pode
causar um efeito toxicológico bastante severo, podendo, inclusive, levar
a um quadro clínico irreversível. Desta forma, a ingestão de plantas por
animais só é considerada maléfica quando o número de mortes atinge
um considerado patamar, e desta forma, estudos toxicológicos são
desenvolvidos para averiguar esta determinada situação (OMOLAJA
e FUNMI, 2003; PATTANAIK et al., 2008). Ficina, uma protease de
cisteína a partir de Ficus carica ativa o fator X do plasma humano e
induz a coagulação (RICHTER et al., 2002). Recentemente, estudos tem
* Curso de Medicina Veterinária, Instituto Federal de Santa Catarina – Campus Concórdia,
Concórdia/SC
V 32 V
demonstrado que cisteína-proteases extraídas de Calotropis gigantea e as
serina-proteases de Synadenium grantii afetam a hemostasia formando
coágulos de fibrina (RAJESH et al., 2005; RAJESH et al., 2006). Semelhante
a outras plantas destas famílias, a Asclepias curassavica (Asclepiadaceae),
popularmente conhecida como oficial-de-sala, também é uma boa fonte
de enzimas proteolíticas, como cisteína-proteases (LIGGIERI et al.,
2004).
As principais atividades econômicas do Oeste Catarinense estão
estruturadas em cadeias produtivas, nas quais as agroindústrias são os
atores determinantes de suas trajetórias, obedecendo à determinações
que vêm do mercado e/ou da legislação do setor. Como uma atividade
econômica em expansão, a bovinocultura de leite vem implementando o
ciclo da seletividade dos produtores de matéria-prima. Esta seletividade
se dá conforme a eficiência em relação aos custos-resultados que cada
agente econômico produz. A seletividade ocorre mediante exigências,
como a ampliação de volume, de qualidade biológica do leite ofertado
e de adequação às normas sanitárias vigentes. A presença de agentes
químicos pode ocorrer na medida que o animal tenha um contato com
os mesmos. Desta forma, os produtores, tendo o conhecimento de que
existem plantas tóxicas na sua propriedade, podem fazer um manejo
adequado do rebanho. A bovinocultura de leite possui um diferencialchave em relação à suinocultura ou avicultura. Enquanto estas produções
são feitas em galpão (confinados), sendo os grãos (milho e soja) a base
para alimentação dos suínos e aves, a bovinocultura de leite alia sua
exigência de galpão (estábulo para ordenha, etc) às condições de oferta
de pasto para alimentação dos animais. Ou seja, na produção de leite,
a princípio, ocorre uma menor dependência de grãos. Isto pode dar ao
produtor que dispuser de terra uma maior autonomia no fornecimento
de alimento, ou seja, menor custo na produção da matéria-prima, tendo
uma vantagem em relação a custos-resultados. Atualmente, Santa
Catarina é o quinto maior produtor de leite do Brasil e o estado ainda
registra um crescimento anual de 10% na produção. Até o final de 2013,
os produtores catarinenses devem chegar à casa dos três bilhões de litros
(TESTA et al., 2013).
Desta forma, a ausência de informações sobre a presença de
V 33 V
plantas tóxicas no local de pastoreio pode acarretar na diminuição
da produção leiteira e em casos mais graves a redução do número de
animais. Portanto, o objetivo deste trabalho foi verificar e disseminar o
conhecimento em relação às mesmas na região de estudo.
Materiais e métodos
Para realizar este estudo, escolheu-se utilizar a pesquisa do tipo
exploratória. De acordo com Cervo e Bervian (1996), este tipo de pesquisa é
baseada na observação, registro e análise dos resultados, correlacionando
os mesmos a fatos ou fenômenos sem nenhum tipo de manipulação. Desta
forma, os estudos descritivos buscam descrever conjunturas a partir de
dados elementares arrolados em um primeiro momento, por meio de
entrevistas pessoais ou discussões em grupo, pautando e ratificando as
hipóteses alçadas na demarcação do problema de pesquisa. Foi realizado
um questionário fechado realizado no município de Arabutã, sendo que
a amostra populacional avaliada foi uma parcela constituída por 55 das
376 propriedades que desenvolvem atividades de bovinocultura de leite
e de corte na cidade. Segundo dados do setor de tesouraria da prefeitura
municipal, até dezembro de 2013, a amostra foi definida segundo
Gomes e colaboradores (2013) em split 80/20, erro amostral de +/- 10%,
grau de confiança de 95%. Os questionários foram aplicados durante o
mês de maio/2014. Foi elaborada uma cartilha com informações básicas
das plantas tóxicas mais citadas como presentes ou importantes para
a população em questão, e foi distribuída com o apoio da Prefeitura
Municipal. A análise dos dados dos prontuários foi feita pelo software
estatístico Stats D+ (versão 1.0) por análise estatística descritiva.
Resultados e discussão
O projeto de extensão verificou que, na população consultada, a
maioria (50,91%) está há mais de 20 anos na atividade, podendo-se dizer
que essa população possui muita experiência, porém devido a forma
tradicional, e muitas vezes à dificuldade em conseguir conhecimentos
novos, podem ocorrer enganos ou equívocos em relação a quais plantas
V 34 V
são as mais tóxicas. Contudo, a maioria deles aprendeu a discernir
plantas tóxicas de outras com o dia-a-dia, observando seus animais, o
que comprova que a população conhece os riscos que as plantas tóxicas
representam. Além disso, a composição do tamanho das propriedades dáse principalmente por propriedades de 10 a 20 hectares (Tabela 1).
Tabela 1. Perfil dos produtores rurais pesquisados em relação aos anos de atividade agrícola e
tamanho da propriedade rural.
A bovinocultura leiteira mostrou-se uma importante atividade
econômica para os munícipes, sendo a principal fonte de renda para
25,46% das propriedades consultadas e uma atividade secundária de
suma importância para 69,09% dos agricultores, seguida da suinocultura
em 10,91% das propriedades do município, como atividade secundária. A
bovinocultura de corte é uma atividade que se mostrou de pouca extensão
no município, sendo a mais importante em 7,27% das propriedades, e
uma atividade secundária em 3,64% delas (Tabela 2).
Tabela 2. Perfil dos produtores rurais pesquisados em relação à atividade principal e secundária
da propriedade rural.
V 35 V
Em relação a situação atual de conhecimento, 52,73% dos
bovinocultores declararam não receber informações sobre as plantas
tóxicas, e os 42,27% que recebem afirmam que o médico veterinário
é responsável, em 53,85% dos casos, por levar o conhecimento sobre as
plantas tóxicas aos produtores. Em contrapartida, boletins informativos
são pouco usados, e para tanto foi criada uma cartilha educativa com
informações básicas sobre as plantas tóxicas mais citadas e mais
frequentes nas propriedades do município. A criação de uma cartilha
impressa é importante pois é uma forma de chegar rapidamente a muitas
propriedades, além de ser um método muito usado e consagrado para
outros fins, como qualidade de produtos, e informações sobre manejos
em outros sistemas de criação, como por exemplo, de suínos ou aves
(Tabela 3).
Tabela 3. Perfil dos produtores rurais pesquisados em relação ao recebimento de informações e
instruções sobre plantas tóxicas.
Em relação às plantas mais encontradas na região, e mais citadas
pelos produtores, pode-se destacar a Samambaia (Pteridium aquilinum),
apontada como tóxica por 26,18% dos bovinocultores, e presente em
32,52% das propriedades. A ingestão da planta pode ter efeito agudo,
que, mesmo raro, causa edema de garganta, hemorragias cutâneas
e de cavidade naturais, pelo arrepiado, depressão, além de mucosas
pálidas e com petéquias. Porém, a forma de manifestação mais comum
é a crônica, causando anemia, hematúria enzoótica, carcinoma de células
escamosas(esôfago, faringe e rúmen), timpanismo e emagrecimento
progressivo.
No caso da mamona (Ricinus comunis), apontada como tóxica
V 36 V
e presente nas propriedades por 11,52% e 14,63% respectivamente,
a importância biológica dá-se pela ingestão de folhas e sementes,
principalmente, que causam no bovino um andar desequilibrado, com
tremores musculares, e dificuldade de caminhar longas distâncias,
fazendo com que procure ficar deitado. Ocorre também eructação
excessiva (arroto) acompanhada por sialorreia (baba).
Na intoxicação por sementes o animal demonstra fraqueza,
apatia e diarreia sanguinolenta, além de insuficiência respiratória. Outra
planta muito citada foi a Oficial-de-sala (Asclepias curassavica), que
14,66% consideram tóxica, e 19,51% declararam que está presente em suas
propriedades. A planta possui glicosídeos digitálicos e um látex tóxico, que
é, porém, um elemento que prejudica altamente a palatabilidade, fazendo
com que não haja relatos na região sobre intoxicações espontâneas
decorridas devido a ingestão da planta, sendo possível concluir que a
planta, apesar de conter quimicamente moléculas e substâncias capazes
de intoxicar o animal, não possui representatividade clínica prática,
sendo importante que os produtores a conheçam por conter substâncias
tóxicas, mas que sejam mais atentos a plantas que possuem casuística
reconhecida e confirmada, como é o caso da Samambaia (Pteridium
aquilinum), do Timbó (Ateleia glazioviana), da Maria-mole (Senecio
brasiliensis) e do Carrapicho (Xanthium strumarium).
Em relação à Maria-mole (Senecio brasiliensis), 12,57% dos
produtores relataram que a conhecem e 16,26% dos entrevistados declaram
que ela está presente na propriedade. A planta possui ação hepatotóxica
por alcalóides pirrolizidícos, que inibem a síntese de ureia e a eventual
intoxicação pro amônia no Sistema Nervoso Central, causando também
paralisação do rúmen, sangue nas fezes e frequência cardio-respiratória
aumentada.
O Carrapicho (Xanthium strumarium) é conhecida como tóxica
por 11,52% e está presente em 14,63% das propriedades. Possui ação
hepatotóxica e um glicosideo triterpenoide que causa necrose hepática
e sinais clínicos e morte associadas à insuficiência hepática aguda,
alterações digestivas, dor abdominal, tremor muscular. Timbó (Ateleia glazioviana) foi citada como tóxica por 10,47%
dos entrevistados. A ingestão dessa planta causa apatia, letargia e
V 37 V
cegueira, “morte súbita” e insuficiência cardíaca, tremores, respiração
ofegante, falha reprodutiva, abortos e nascimento de bezerros fracos que
geralmente morrem após algumas horas. As mortes concentram-se nos
meses de junho e julho, diminuindo a partir do mês de agosto.
Erva-de-rato ou café-bravo (Palicourea marcgravii) foi
reconhecida como tóxica por 3,66% dos entrevistados, e segundo
eles, ausente nas propriedades, isso porque a região não possui uma
disseminação do crescimento da planta. Outra planta que segundo
os proprietários não é encontrada na região é o Pessegueiro-bravo
(Prunus shaerocarpa), citado como tóxico por 9,42% dos bovinocultores
questionados.
Com relação aos casos confirmados por médico veterinário,
apenas 23,64% dos bovinocultores citaram que houve alguma intoxicação
na propriedade do período de janeiro de 2013 a abril de 2014. Esse
número é considerado baixo, mas vale ressaltar que, muitas vezes,
as informações dadas para evitar intoxicações ocorrem, geralmente,
durante atendimentos de animais com quadros clínicos suspeitos de
intoxicações, o que diminui muito a confiabilidade destes dados, levando
em consideração que em muitos casos de intoxicações o diagnóstico é
inconclusivo, e nem todos os proprietários buscam profissionais que
possam realizar o diagnóstico após a morte do animal.
Conclusão
De acordo com os resultados encontrados, pode-se dizer que os
bovinocultores conhecem a maioria das plantas tóxicas da região, e que
a casuística é baixa. Porém, seria necessário que essas plantas fossem
erradicadas das propriedades, fator que foi disseminado juntamente
a cartilha com informações básicas sobre as plantas tóxicas mais
citadas da região. As principais formas de eliminação divulgadas foram
desenraizamento, roçada e o manejo de pastagens, já que a ingestão de
plantas tóxicas dá-se principalmente pela escassez de alimento.
V 38 V
Agradecimentos
Este trabalho foi financiado pelo IFC.
Referências
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V 40 V
Efeito das plantas
de cobertura nos
atributos físicos do
solo, suprimento
de nitrogênio e
produtividade do
milho
Sidinei Leandro Klöckner Stürmer*
Gilmar Silvério da Rocha*
Romano Roberto Valicheski*
Rodrigo Salvador**
Herberto Lopes**
Guilherme Vitória**
Francieli Steffler Weber**
Tainah Triani Alves**
Introdução
N
o cenário atual dos sistemas agrícolas, o solo tem grande importância
na produção de alimentos, fibras e principalmente na manutenção da
qualidade ambiental. No entanto, com o manejo inadequado do solo a
desestruturação do mesmo está em constante crescimento. Pesquisas
relatam que a compactação corresponde a 82% do total de solos fisicamente
degradados no mundo, o que corresponde a 68,3 milhões de hectares.
A diminuição das operações agrícolas não é condição suficiente
para evitar a compactação, a menos que seja suplementada com rotação
de culturas e com uso de plantas que produzam grande quantidade de
massa para promover a cobertura do solo e que possuam sistema radicular
profundo (CARDOSO et al., 2003). Para Alvarenga et al. (1996) as raízes
podem estar envolvidas, direta ou indiretamente, na estabilização do solo,
pois o emaranhado que elas formam aproxima e protege os agregados do
solo, em especial os macroagregados e, indiretamente, devido à exudação
pelas raízes e decomposição das mesmas, fornecendo materiais orgânicos
estabilizantes e deposições de carbono abaixo da superfície do solo.
Algumas espécies produzem enorme quantidade de raízes, como
as gramíneas, que possuem sistema radicular abundante e, embora não
possuam raízes muito desenvolvidas, ocorrem em grande quantidade
(JIMENEZ, et al. 2008). Além do processo mecânico de descompactação
* Docente, IFC Campus Rio do Sul.
** Discente, IFC Campus Rio do Sul.
V 42 V
do solo, com escarificadores e subsoladores, a utilização de espécies de
plantas de cobertura, sobretudo com a utilização da rotação de culturas
em espécies com sistema radicular bastante agressivo e profundo, faz-se
necessário, pois além da proteção da superfície do solo com a presença de
resíduos vegetais, as raízes dessas espécies vão se decompor, deixando
canais que proporcionarão o aumento do movimento de água e a difusão
de gases (MÜLLER et al., 2001; JIMENEZ, et al. 2008).
A utilização de plantas de cobertura é uma prática que
proporciona melhoria nas condições químicas, físicas e biológicas do
solo. Seus diversos efeitos têm sido constatados na proteção do solo,
mediante a redução das perdas por erosão, o que proporciona ganho de
matéria orgânica, aumento da CTC, amenizando também os problemas
de compactação e trazendo os nutrientes mais profundos para a superfície
(ALCÂNTARA et al., 2000).
A introdução das espécies de cobertura do solo pode representar
melhorias nas condições de fertilidade e estrutura do solo, além da
recuperação da bioestrutura e auxiliando na adubação nitrogenada
(leguminosas) e na produção de matéria orgânica (gramíneas). As
espécies utilizadas devem repor ao solo as quantidades de nutrientes que
as plantas dele retiram, além dos perdidos pelas colheitas. Essa prática
evita que o solo se esgote ou se torne deficiente (VASCONCELLOS et al.,
2002).
As espécies escolhidas para o sistema devem ser selecionadas
pelo potencial de produção de fitomassa, pela capacidade de incorporar
ou reciclar nutrientes ao solo, pela velocidade e uniformidade do
desenvolvimento vegetativo e pela facilidade de manejo. Existem também
algumas plantas com função de “descompactar” o solo, isto é, elas podem
proporcionar um rompimento mais uniforme da camada compacta, além
de contribuírem na melhoria do estado de agregação do solo (JIMENEZ et
al., 2008; CONTE et al., 2008).
Essas plantas, além de fazerem parte da diversificação de um
agroecossistema, podem ser excelentes adubos, pois além de protegerem
o solo, podem ser a ele incorporados, servindo como matéria orgânica.
Quando são usadas plantas leguminosas, sua associação com bactérias do
gênero Rhizobium proporcionam a fixação de nitrogênio do ar no solo,
V 43 V
reduzindo o consumo de adubo sintético nitrogenado (PEDROSO, 2005).
O aumento da disponibilidade de N para a primeira cultura
cultivada em sucessão às leguminosas pode ser de efeito imediato, podendo
fixar cerca de 50 a 200 kg ha-1 (AMADO et al., 2002). Assim, normalmente
é a produção de matéria seca que determinará o total de N a ser fixado ao
solo pelas leguminosas, podendo permanecer no solo por médio e longo
prazo, reduzindo dessa forma a necessidade de outras fontes de N para
maximizar o rendimento de culturas utilizadas na rotação (AMADO et al.,
2002).
Nesse sentido, o conhecimento do efeito de diferentes plantas de
cobertura sobre a compactação, dinâmica dos nutrientes e produtividade
das culturas pode auxiliar na escolha de critérios de uso e manejo do solo
a serem adotados por agricultores da região do Alto Vale do Itajaí-SC e,
consequentemente, promover a preservação de sua qualidade.
Material e métodos
O experimento foi conduzido no Instituto Federal Catarinense
- Câmpus Rio do Sul – SC, em uma área agricultável localizada
aproximadamente a 5 km da Sede do Câmpus. O delineamento
experimental adotado foi o de blocos ao acaso com parcelas subdivididas
com quatro repetições. Como plantas hibernais foram utilizadas ervilhaca
(Vicia sativa), tremoço-branco (Lupinus albus), aveia-preta (Avena
strigosa) e azévem (Lolium multiflorum). Além disso, uma área foi mantida
sem plantas de cobertura, representando o tratamento testemunha. Cada
parcela teve dimensões de 6m x 16m, perfazendo área útil total de 96m2.
As subparcelas tiveram dimensões de 4m x 6m (24m2), nas quais foram
aplicadas as doses de nitrogênio (0, 100, 200 e 300 kg ha-1) para o milho.
A semeadura das espécies de adubos verde foi realizada
manualmente a lanço, realizando uma gradagem leve na superfície do
solo para cobrir as sementes. A quantidade de sementes distribuídas
para a implantação das culturas hibernais foi de 65 kg ha-1 para a aveia
preta, 25 kg ha-1 para o azevém, 60 kg ha-1 para o tremoço branco e 40
kg ha-1 para a cultura da ervilhaca. No momento da semeadura também
foram removidos todos os restos de culturas presentes na área, bem como
V 44 V
a vegetação viva existente na superfície do solo das parcelas tidas como
testemunha. Quando as plantas de cobertura atingiram a plena floração,
foram dessecadas para viabilizar a semeadura do milho.
A semeadura do milho foi realizada em 8 linhas, espaçadas de
0,80m por parcela, procurando-se estabelecer uma população final de
60.000 planta ha-1 (aproximadamente 5 plantas/m). Para a adubação
de base foi utilizado o fertilizante mineral formulado 07-28-14, sendo a
quantidade distribuída, calculada de acordo com os resultados obtidos na
análise química do solo.
As variáveis físicas foram analisadas em duas etapas. A primeira
análise foi feita antes da semeadura das plantas hibernais para levantar
dados a respeito dos atributos físicos e químicos iniciais do solo, e
a segunda, feita após plena floração das gramíneas e leguminosas
utilizadas como cobertura do solo. Foram coletadas amostras deformadas
e indeformadas de solo nas camadas de 0,00 a 0,07m; 0,07 a 0,14m e 0,14
a 0,21m.
Para a determinação da densidade do solo foi utilizada a
metodologia do anel volumétrico, de acordo com os procedimentos
descritos em EMBRAPA (1997). A densidade de partículas foi
determinada medindo-se o volume ocupado por 20g de terra fina seca
em estufa (TFSE), com o emprego de álcool etílico e balão volumétrico
aferido de 50 mL. A partir dos dados de densidade do solo e densidade de
partículas foi determinada a porosidade total do solo.
A microporosidade foi obtida pelo método da mesa de tensão,
com amostras saturadas, aplicando-se uma tensão de 60 cm de altura
de coluna de água, a qual retira a água dos macroporos (poros com Ø >
0,05 mm). Após as amostras atingirem o equilíbrio, estas foram levadas à
estufa a 105ºC, e pesadas novamente após secagem. A macroporosidade,
por sua vez, foi obtida com a seguinte equação:
Macroporosidade = Porosidade Total – Microporosidade
A resistência mecânica do solo à penetração (RP) foi determinada
com auxílio de um penetrômetro de haste metálica, marca FALKER,
modelo Penetrolog 1020. Este equipamento permite registrar valores
V 45 V
de resistência mecânica à penetração com intervalos de 0,01 m. Os
dados obtidos foram expressos em MPa, considerando críticos para o
desenvolvimento das raízes valores superiores a 2,00 MPa.
A condutividade hidráulica (Ks) em solo saturado foi determinada
pelo método do permeâmetro de carga constante.
Para a análise granulométrica, realizou-se a dispersão química
do solo com NaOH 1M, associada à agitação mecânica com agitador
horizontal, durante 12 horas. Após a agitação, a suspensão foi passada em
peneira de 53µm, a qual retém a areia e deixa passar a suspensão de silte
e argila para uma proveta de 1L. A areia, depois de transferida para uma
placa de petri e seca em estufa (105-110ºC), foi determinada usando-se
uma balança de precisão. A argila foi determinada pelo método da pipeta,
coletando-se uma alíquota de 50 mL durante o processo de sedimentação
da suspensão coletada na proveta. O silte foi determinado pela diferença
das outras frações em relação à amostra original.
As variáveis analisadas nas plantas de cobertura do solo ocorreram
no período de máximo desenvolvimento vegetativos das espécies, ou seja,
no florescimento das plantas. Em cada parcela experimental foi lançado
ao acaso um quadrado de madeira (com 1m2 de área interna), cortandose junto ao solo todas as plantas inseridas nesta área. A quantidade da
fitomassa produzida na área coletada foi quantificada com o uso de uma
balança de precisão, sendo a fitomassa produzida estimada então para
um hectare.
Após a quantificação da fitomassa, o material coletado foi
acondicionado em sacos de papel devidamente identificados, sendo
então submetidos a secagem em estufa a uma temperatura de 65-70ºC
com circulação forçada de ar até atingir peso constante, quantificando-se
então, a matéria seca, sendo estimada, respectivamente, para um hectare.
Após a determinação da quantidade de massa seca produzida
pela parte aérea, o material vegetal coletado foi triturado em moinho tipo
Wiley, provido de facas e peneiras de aço inoxidável. O material triturado
foi acondicionado em recipientes plásticos até o momento da análise. O
procedimento analítico e a metodologia seguida para digestão sulfúrica
do tecido vegetal, bem como a determinação dos teores de nitrogênio, é o
descrito por Tedesco (1997). Após determinação do teor de N na fitomassa
V 46 V
das diferentes espécies de adubos verde, com base na quantidade de
massa seca produzida por cada espécie, foi determinada a quantidade de
nitrogênio existente em um hectare de lavoura.
Para determinação do teor de nitrogênio no milho, foi coletada
a folha inteira oposta e abaixo da primeira espiga (superior), excluída
a nervura central. A coleta foi efetuada logo após o aparecimento da
inflorescência feminina (embonecamento), uma vez que é nesta fase que
as plantas requerem maior quantidade de nitrogênio. Após a coleta das
folhas estas foram lavadas por meio de imersão rápida em água destilada
para retirar a poeira, e em seguida submetidas a secagem em estufa a 60
°C até obtenção de peso constante.
A produtividade do milho foi determinada em 4 linhas centrais
de cada tratamento, sendo colhidos 2m de cada linha, totalizando 8 m
lineares por tratamento. A debulha das espigas foi feita utilizando-se um
debulhador manual. A massa de sementes obtida em cada tratamento foi
quantificada após padronização da umidade a 13%, sendo estimada para
um hectare.
Resultados e Discussão
De acordo com análises físico-químicas anteriores ao início do
experimento, o solo da área experimental pode ser classificado como de
média fertilidade. A classe textural foi classificada como franca, uma vez
que este solo apresenta aproximadamente 30% de areia, 44% de silte e 26%
de argila, sem variações significativas entre as camadas avaliadas.
Os demais atributos físicos do solo antes na implantação do
experimento para as camadas de 0,0-0,07m, 0,07-0,14m e 0,14-0,21m são
apresentados na Tabela 1. Observa-se que para a densidade do solo, há um
pequeno incremento no valor deste atributo nas camadas mais profundas
(0,07-0,14m e 0,14-0,21m) quando comparado com a camada superficial.
Este fato pode estar relacionado ao manejo do solo nesta área agrícola, na
qual adotava-se o cultivo mínimo, sendo a cada dois anos efetuada uma
subsolagem até 0,25m de profundidade, seguido de uma gradagem até
aproximadamente 0,10m de profundidade, com revolvimento superficial
do solo e manutenção de áreas adensadas em subsuperfície.
V 47 V
PT – Porosidade Total; Mac – Macroporosidade; Mic – Microporosidade; Ds – Densidade do solo;
Ks – Condutividade hidráulica em solo saturado e; RPcc – Resistência mecânica à penetração na
capacidade de campo.
Tabela 1. Caracterização física do solo nas parcelas experimentais antes da implantação do
experimento.
Os maiores valores de densidade do solo em camadas mais
profundas estão refletidos em maiores valores de resistência mecânica à
penetração (RP) nas mesmas camadas, embora ainda não se caracterizavam
como restritivos ao desenvolvimento radicular das plantas. Além disso, a
densidade do solo também está associada aos valores de macroporosidade,
microporosidade e da porosidade total. A condutividade hidráulica do solo
saturado encontrava-se com valores próximos a 100 mm h-1 na superfície,
enquanto que na camada intermediárias estes valores apresentavam uma
redução de aproximadamente 50%. Esse comportamento em relação este
atributo físico pode representar problemas com a drenagem de água na
lavoura.
Na Tabela 2 são apresentados os valores de alguns atributos
físicos do solo, para as camadas de 0,0-0,07m, 0,07-0,14m e 0,14-0,21m,
após dois anos de condução do experimento.
V 48 V
(
3
Tabela 2. Porosidade total (PT), Macroporosidade (MAC), Microporosidade (MIC) e Densidade
(Ds) do solo em três camadas sob distintas plantas de cobertura.
Nota-se que, de modo geral, os valores da porosidade total
não foram significativamente afetados pelas plantas de cobertura em
nenhuma das camadas avaliadas, embora seus valores absolutos tenham
sido ligeiramente inferiores aos valores no início do experimento. Klein
(2014) cita que de modo geral os solos apresentam porosidade total próxima
aos 50%, corroborando os valores encontrados para este solo. Em relação
ao diâmetro dos poros no solo percebe-se que em relação à área original
houve um aumento dos macroporos e uma diminuição dos microporos.
Não se percebeu, no entanto, diferenças na porosidade em função das
plantas de cobertura utilizadas. Bertol et al. (2000) mostram que os
sistemas de manejo afetam menos a porosidade total em comparação
com a macro e microporosidade, uma vez que a PT depende do efeito
combinado das duas. Assim, citam os autores, que é mais importante
estudar o comportamento relativo da macro e microporosidade com a
porosidade total do solo.
Assim como para a porosidade, a densidade do solo também
não foi significativamente afetada pelas plantas de cobertura do solo.
Mesmo assim, percebeu-se um aumento na densidade do solo atual em
V 49 V
comparação com o início do experimento. Vários autores citam que
um dos principais atributos físicos afetados pelo sistema de plantio
direto é a densidade do solo. Costa et al. (2003) afirmam que os efeitos
do manejo do solo sobre os seus atributos dependem dos sistemas de
culturas utilizados, da umidade do solo no momento em que as operações
agrícolas são realizadas e também são dependentes do tempo de uso
dos diferentes sistemas. Neste sentido, percebe-se que apenas dois anos
de cultivo com plantas de cobertura do solo não foram suficientes para
alterações substanciais nas propriedades físicas do solo.
O efeito das plantas de cobertura nas características químicas,
físicas e biológicas do solo e produtividade das culturas depende do
adequando aporte de fitomassa ao solo, em quantidade, qualidade e
frequência (Agroconsult, 2008). Nesse sentido, a quantidade de fitomassa
seca e verde produzida pelas plantas hibernais de cobertura do solo foi
bastante distinta (Figura 1).
As gramíneas avaliadas, aveia e azevém, produziram em
torno de 20 Mg ha-1 de massa verde na parte aérea, evidenciando
crescimento bastante similar. As leguminosas, por sua vez, apresentaram
comportamento distinto entre si. Enquanto a ervilhaca produziu na parte
aera apenas 10 Mg ha-1, o tremoço produziu aproximadamente 30 Mg
ha-1. Nota-se que a quantidade foi de aproximadamente 200% a mais
que a ervilhaca. Esses dados são bastante similares aos encontrados por
Dahlem et al. (2014) para a região Sudoeste do Paraná.
Em relação à fitomassa seca, no entanto, os valores foram
diferentes. O azevém apresentou maior produção de fitomassa seca
enquanto que a ervilhaca apresentou menor produção. A menor produção
de fitomassa por parte da ervilhaca se deve ao seu maior ciclo. Como as
plantas foram semeadas e avaliadas nas mesmas datas, provavelmente
esta planta teria um potencial maior de produção de fitomassa. A maior
produção de fitomassa seca por parte das gramíneas se deve à menor
quantidade de água presente nos tecidos vegetais em comparação com
as leguminosas. O percentual de MS nas espécies foi de 44, 35, 25 e 18%,
respectivamente, para azevém, aveia, ervilhaca e tremoço.
V 50 V
Figura 1. Produção de fitomassa seca e verde pela parte aérea das plantas hibernais de cobertura
do solo.
Outro importante aspecto das plantas de cobertura e que
está relacionado à melhoria das características químicas, físicas e
produtividade das culturas, além da produção de fitomassa, é a quantidade
de nitrogênio fixado pelas plantas. O milho é uma das espécies comerciais
mais exigentes em fertilizantes, mormente os nitrogenados, que
apresentam forte influência na produtividade da cultura. O uso exclusivo
de fertilizantes químicos representa custos adicionais, que podem
ser diminuídos com o uso de plantas fixadoras de nitrogênio, como as
leguminosas.
O teor de nitrogênio (Figura 2) presente nos tecidos vegetais
das plantas de cobertura avaliadas foi bastante distinto. Enquanto que
as gramíneas apresentaram entre 1 e 1,5% de sua fitomassa seca sendo
representada por N, para as leguminosas este percentual foi de 2,53,0%, evidenciando a sua eficiência na fixação biológica de nitrogênio
atmosférico.
Em função da quantidade de N nos tecidos vegetais e produção
total de fitomassa seca, as plantas de cobertura utilizadas no estudo
fixaram 66, 84, 95 e 170 kg de N por hectare, respectivamente para ervilhaca,
aveia, azevém e tremoço. Percebe-se que a quantidade total de N fixado
é muito dependente da quantidade de fitomassa produzida. A fitomassa
produzida apresenta grande variação nos anos, o que pode resultar em
quantidades diferentes de N fixado ao solo. Mesmo assim, os resultados
V 51 V
encontrados neste estudo são similares aos encontrados por Dahlem et
al. (2014). Nesse sentido, de acordo com o citado por Amado et al. (2002)
a utilização de plantas de cobertura antecedendo a cultura do milho pode
resultar no aumento da produtividade devido a disponibilização de N
para a cultura e contribuir para a redução da necessidade de aplicação de
fertilizantes minerais nitrogenados.
Figura 2. Teor de nitrogênio no tecido vegetal das plantas hibernais de cobertura do solo.
A produtividade do milho (Tabela 3) foi afetada tanto pelas
culturas de cobertura que antecederam o milho como pelas doses de
fertilizante mineral nitrogenado aplicado. Quando desconsiderada a
dose de fertilizante aplicado percebe-se que o milho apresentou maior
produtividade quando antecedido por ervilhaca. Para as demais plantas
de cobertura não se percebeu diferenças significativas entre as plantas
hibernais de cobertura.
V 52 V
Tabela 3. Produtividade de milho (kg ha-1) sob distintas plantas hibernais de cobertura do solo e
doses de fertilizante nitrogenado aplicado.
Quando avaliado o efeito sinérgico das plantas de cobertura e das
doses de fertilizante mineral nitrogenado aplicado, nota-se que para o ano
agrícola de 2013-2014 a maior produtividade de milho ocorreu quando se
utilizou ervilhaca e adição de 200 kg ha-1 de nitrogênio.
Conclusão
Para as condições ambientais da região do Alto Vale do Itajaí e
para os tratamentos avaliados, pode-se concluir que, em solo sob SPD
com alto teor de silte:
Ő
ĬŐÁ¯ÒŐ¼ÁÒ՚Ő“ܵׯåÁՓÁ»Ő̵¼×ÒŐ­¯’Î¼¯Ò՚Ő“Á’Î×ÜÎ՚ÁŐÒÁµÁŐ
não são suficientes para alterar de modo significativo os atributos físicos
do solo, com exceção da densidade do solo.
Ő
ĬŐ žŐ ÍܼׯššŐ šŐ ¼¯×ÎÁ© ¼¯ÁŐ š¯ÒÌÁ¼¯’¯µ¯ñšÁŐ ÌµÒŐ “ܵ×ÜÎÒŐ
hibernais depende da fitomassa produzida e do tipo de cultura utilizada.
Ő
ĬŐžŐÜׯµ¯ñ—Á՚Ő̵¼×ÒŐ­¯’Î¼¯Ò՚Ő“Á’Î×ÜÎ՚ÁŐÒÁµÁ՚¯»¯¼Ü»Ő
a necessidade de aplicação de fertilizantes nitrogenados no milho.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao apoio recebido da Pró-Reitoria de
Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação e da Pró-Reitoria de Extensão do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense pela
concessão de bolsas de iniciação científicas referentes ao Edital 195/2013.
V 53 V
Referências
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V 55 V
Propagação de
aceroleira (Malpighia
Spp.) por estaquia em
casa de vegetação
Frank Ramos Machado*
Dhiogo Freccia Simão*
Ivar Antonio Sartori**
Nestor Valtir Panzenhagen**
Introdução
A
flora brasileira é rica em frutas comestíveis, as quais constituem
um patrimônio genético e cultural de inestimável valor (MIELKE et al.,
1990). Dentre as espécies destacam-se a aceroleira (Malpighia glabra L.),
originária da América Central e Norte da América do Sul. Esta espécie
teve despertado o interesse pelo elevado teor de ácido ascórbico (vitamina
C) em seu fruto, em torno de 1.500 a 4.600 mg por 100 g de polpa, sendo
uma fruta altamente requisitada no mercado mundial para o preparo de
sucos, no consumo in natura e na a fabricação de geleias, vinhos e licores
caseiros (PIO, 2003).
De acordo com CASTRO & KLUGE (2003), a aceroleira suporta
diversos tipos de propagação existentes, seja por intermédio de sementes,
estaquia, enxertia, alporquia e mergulhia. No Brasil, RITZINGER et al.
(2003) reportam que a expressiva maioria dos plantios comerciais de
acerola foi estabelecida, de forma generalizada, com base em mudas
obtidas de sementes, havendo, em decorrência disto, uma grande
desuniformidade entre plantas, com reflexos negativos na produtividade
e qualidade de frutos. Desse modo, o emprego da propagação vegetativa
deve ser preferido, pois permite a multiplicação (clonagem) de indivíduos
com características agronômicas superiores, permitindo uma maior
renda ao produtor. Em escala comercial, o método de propagação que
tende a ser o mais utilizado é a estaquia, pois tem proporcionado maior
precocidade na produção e garantia na manutenção das características
genéticas da planta matriz.
De acordo com FIGUEIREDO et al. (1995), as auxinas estimulam
*Instituto Federal Catarinense/Agronomia/Campus Santa Rosa do Sul, Estudantes de Graduação
**Professores Orientadores, IFC/Agronomia/Campus Santa Rosa do Sul.
V 58 V
a divisão celular, modificações da parede celular e a atividade enzimática.
Segundo FACHINELLO et al. (1995), uma das formas mais comuns de
favorecer o balanço hormonal para o enraizamento é a aplicação exógena
de auxinas, como o ácido indolbutírico (AIB) e o ácido naftalenoacético
(ANA). Segundo RITZINGER e GRAZZIOTTI (2005), a base das estacas pode
ser tratada com reguladores de crescimento como o ácido indolbutírico
(AIB), visando acelerar a emissão de raízes, sendo os melhores resultados
obtidos em concentrações de 2.000 a 2.800 mg L-1. Já para LOPES et al.
(2003), os melhores resultados de enraizamento de estacas de aceroleiras
foram obtidos com a aplicação de AIB nas concentrações e 1.500 e 2.000
mg L-1.
Outra possibilidade que pode viabilizar e incrementar o
enraizamento de estacas é a prática do estiolamento dos ramos. Para
FACHINELLO et al. (1995), esta prática poderá proporcionar o aumento da
concentração de co-fatores de enraizamento e estimular o enraizamento
de estacas. Conquanto, testaremos neste experimento também
ranhuras na base da estaca como forma de estimular os fitormônios de
enraizamento.
O presente trabalho teve por objetivos estudar a propagação
vegetativa de aceroleira em casa de vegetação visando incrementar o
índice de sobrevivência de mudas.
Metodologia
O experimento foi conduzido em casa de vegetação do IFC
Campus Santa Rosa do Sul, localizado na comunidade de Vila Nova, no
município de Santa Rosa do Sul/SC, contendo sistema de nebulização
intermitente. O delineamento experimental adotado foi completamente
casualizado, com 40 repetições para cada tratamento.
A estaquia foi realizada em novembro de 2013 e, de acordo com
LIMA et al. (2006), os ramos coletados apresentavam entre 10 e 12 cm
de comprimento, sendo retirados da porção mediana dos mesmos, de
plantas com seis anos de idade. Estes foram cortados em bisel, tanto na
base das estacas, logo abaixo de um nó, como no ápice, logo acima de um
nó. Os tratamentos foram assim distribuídos: T1 - Testemunha (estacas
V 59 V
com um par de folhas); T2 - Pré-estiolamento de ramos, com a presença
de um par de folhas nas estacas; T3 - Pré-estiolamento de ramos, com
ausência de folhas nas estacas + AIB 2.000 mg L-1; T4 - Pré-estiolamento
ramos, com estacas sem folhas + AIB + ranhuras na base; T5 - Ranhuras
na base das estacas, com presença de um par de folhas; e T6 - Ranhuras na
base das estacas com presença de um par de folhas + AIB 2.000 mg L-1.
Foram coletados dados experimentais relativos ao número de
brotações, altura do ramo principal de crescimento, a quantidade final de
estacas enraizadas, bem como o peso de raízes e parte aérea, em massa
seca e úmida. O substrato utilizado foi composto de 33% de argila, 33% de
casca de arroz carbonizada e 33% de areia grossa. O manejo da correção
do substrato e da adubação do mesmo foi realizado com o uso de calcário
dolomítico e adubos minerais contendo os elementos N, P e K.
Foram utilizados sacos de polietileno, com altura de 15,0cm e
com capacidade de 1,2 litros, preenchidos integralmente com o referido
substrato. Nos tratamentos com ácido indolbutírico (AIB), foi realizada
a imersão de 3,0cm da base das estacas nesta solução a 2.000 mg L-1,
durante dez segundos, sendo imediatamente plantadas, de acordo com
BORDIN et al. (2003) e LOPES et al. (2003).
O estiolamento de ramos foi realizado no pomar de aceroleiras
do Campus Santa Rosa do Sul, 21 dias antes da realização do plantio das
estacas. Esta prática foi realizada em alguns ramos destas plantas a partir
do ensacamento de ramos com lona preta e cobertura externa com saco
de papelão de cor clara, com o objetivo de proporcionar o escurecimento
interno e diminuir o aquecimento do material ensacado.
Já a prática das ranhuras na base das estacas foi realizada
imediatamente antes do plantio das estacas, a partir da formação de 4
a 6 ranhuras verticais na casca, de 3,0cm cada, na base da estaca, com o
auxílio de um canivete.
A irrigação na casa de vegetação foi realizada por um conjunto
de microaspersores, acionados para nebulizar o ambiente em horários
previamente definidos, às 08:00h, 12:00h, 17:00h e 24:00h, por três
minutos em cada período, visando manter a umidade dos substratos.
A adubação de cobertura, com N, P e K foi realizada uma única
vez, no mês de fevereiro de 2014. Assim como a adubação, os demais
V 60 V
tratos culturais, como o controle manual de plântulas espontâneas, foram
realizados uniformemente em todos os tratamentos.
As análises estatísticas foram realizadas pelo sistema ASSISTAT
versão 7.7, (SILVA & AZEVEDO, 2009) ao nível de 5% de probabilidade de
erro e, em caso de significância foi aplicado para separação de médias o
teste de Tukey.
Resultados e discussão
A Tabela 1 - expressa a massa média seca e úmida de raízes das
plantas, de aceroleiras propagadas por estaquia, aos 160 dias após a
instalação do experimento.
Médias seguidas por letras distintas entre si diferem ao nível de 5% de significância pelo teste
de Tukey.
Tabela 1 – Massa média úmida e seca (g) do sistema radicular de mudas de aceroleira (Malpighia
spp.) propagadas por estaquia, em casa de vegetação com controle de irrigação aos 160 dias após
a instalação do experimento. Santa Rosa do Sul, SC.
Verifica-se que houve maior desenvolvimento radicular das
aceroleiras nos tratamentos T3, T4 e T6. Nestes três tratamentos,
similarmente, foi realizada a aplicação exógena de auxinas pela imersão
de estacas em solução de ácido indolbutírico (AIB), com ou sem o préestiolamento e com a presença ou ausência de ranhuras na base das
estacas, o que demonstra a importância deste hormônio no favorecimento
da formação do sistema radicular de estacas de aceroleiras concordando
com BORDIN, et al. (2003) e LOPES et al. (2003). Já a superioridade do
crescimento radicular obtida no tratamento T4 (Tabela 01 e Figura
01) demonstra que há interação conjunta da aplicação de AIB, do préestiolamento das estacas e da presença de ranhuras na base das mesmas.
A Tabela 2 expressa a massa úmida e seca (g) da parte aérea
V 61 V
de mudas de aceroleira propagadas por estaquia, aos 160 dias após a
instalação do experimento. De maneira geral observa-se certa semelhança
nos resultados de crescimento radicular e desenvolvimento da parte
aérea. Quando comparado aos demais tratamentos, verifica-se que
houve maior desenvolvimento foliar, em massa úmida, no tratamento
T4, em que foi realizada a aplicação exógena de auxinas pela imersão de
estacas em solução de ácido indolbutírico (AIB), após o pré-estiolamento
e a realização de ranhuras na base das estacas. Já, quando se considera
a matéria seca foliar, há, igualmente, uma superioridade nos resultados
obtidos pelo tratamento T4 que, no entanto, não diferiu significativamente
dos tratamentos T3 e T6.
Médias seguidas por letras distintas entre si diferem ao nível de 5% de significância pelo teste
de Tukey.
Tabela 2 – Massa média úmida e seca (g) da parte área de mudas de aceroleira (Malpighia spp.)
propagadas por estaquia, em casa de vegetação com controle de irrigação aos 160 dias após a
instalação do experimento. Santa Rosa do Sul, SC.
Fonte: Do autor, em 17
de abril de 2014.
Figura 01
Enraizamento de estaca
de aceroleira, 160 dias
após a instalação do
tratamento T4, em que
foi realizada a aplicação
exógena de auxinas
pela imersão de estacas
em solução de ácido
indolbutírico (AIB), após
o pré-estiolamento e a
realização de ranhuras
na base das mesmas.
Santa Rosa do Sul/SC.
V 62 V
Similarmente aos resultados de desenvolvimento radicular,
observou-se, de maneira geral, a importância da aplicação exógena
de auxinas pela imersão de estacas em solução de ácido indolbutírico
(AIB). Esta observação está amparada pelos diversos resultados obtidos
por FIGUEIREDO et al. (1995), FACHINELLO et al. (1995), LOPES et al.
(2003) e RITZINGER E GRAZZIOTTI (2005). Por outro lado, a prática do
pré-estiolamento de ramos e de ranhuras na base das estacas também
contribuíram para promover maior desenvolvimento foliar concordando
com FACHINELLO et al. (1995).
A Tabela 3 mostra o percentual de plantas viáveis, que
efetivamente desenvolveram o sistema radicular e parte aérea, aos 160
dias após a instalação do experimento.
Tabela 3 - Percentagem de mudas viáveis de aceroleira (Malpighia ssp.), com formação de raízes
e crescimento vegetativo da parte aérea, propagadas por estaquia, em casa de vegetação com
controle de irrigação aos 160 dias após a instalação do experimento. Santa Rosa do Sul, SC.
Os resultados mostram que o enraizamento de estacas atingiu 80%
quando estas foram previamente estioladas e quando se realizou a prática
de ranhuras na base e imersão em ácido indolbutírico a 2.000 mg L-1 em
estacas sem a presença de folhas. Já GONTIJO et al. (2003), ao testarem
o enraizamento de estacas tratadas com diferentes concentrações de
AIB, constataram que a presença de dois pares de folhas em estacas de
aceroleira proporcionou maior número e massa seca de raízes por estaca.
Os autores afirmam, ainda, que as folhas são requisitos essenciais para
o enraizamento das estacas, tendo demonstrado grande participação no
processo de enraizamento, por contribuírem com substâncias benéficas
ao mesmo. No entanto, no presente trabalho verificou-se, de maneira
generalizada, um melhor desenvolvimento e formação de mudas viáveis
de aceroleiras quando as estacas foram cultivadas sem a presença de
V 63 V
folhas. Estes resultados podem ser devidos aos longos períodos de
intervalos de acionamento dos microaspersores, o que promoveu, já a
partir da segunda semana após a instalação do experimento, uma intensa
queda foliar das estacas dos Tratamentos T1, T2, T5 e T6, provavelmente
ocorrida pela baixa intensidade de molhamento foliar e consequente
desidratação da mesma, com prováveis reflexos negativos à integridade
hídrica das estacas. Estes resultados, contudo, demonstram a viabilidade
da propagação de estacas de aceroleiras sem folhas para ambientes com
deficiência ou menor intensidade de molhamento foliar.
Considerações finais
As práticas associadas da aplicação exógena de auxinas
pela imersão de estacas em solução de ácido indolbutírico (AIB), do
estiolamento de estacas sem folhas e de ranhuras na base proporcionaram
maior peso seco e úmido, tanto da parte aérea como do sistema radicular
e formação de mudas viáveis de aceroleiras propagadas por estaquia.
Agradecimentos
Ao Instituto Federal Catarinense pela bolsa de pesquisa
institucional disponibilizada e a todos os que direta ou indiretamente
contribuíram no desenvolvimento da presente pesquisa.
Referências
BORDIN, I.; ROBERTO, S. R.; NEVES, C. S. V. J.; STENZEL, N. M.
C.; FURLANETO, T. L. R. Enraizamento de estacas de acerola sob
concentrações de ácido indol-butírico. Semina: Ciências Agrárias,
Londrina, v. 24, n. 2, p. 262-264, jul-dez, 2003.
CASTRO, P. R. C.; KLUGE, R. A. Ecofisiologia de fruteiras: abacateiro,
aceroleira, macieira, pereira e videira. Piracicaba, Editora Agronômica
Ceres Ltda., 2003. 136p.
FACHINELLO, J. C.; HOFFMANN, A.; NACHTIGAL, J. C.; KERSTEN, E.;
FORTES, G. R. L. Propagação de plantas frutíferas de clima temperado.
V 64 V
2.ed. Pelotas: UFPEL, 1995. p. 41-125.
FIGUEIREDO, S. L. B.; KERSTEN, E.; SCHUCH, M. W. Efeito do
estiolamento parcial e do ácido indolbutírico (AIB) no enraizamento de
estacas de goiabeira serrana (Feijoa sellowiana Berg). Scientia Agrícola,
Piracicaba, v.52, n.1, p.167-171, 1995.
GONTIJO, T. C. A.; RAMOS, J. D.; MENDONÇA, V.; PIO, R.; ARAÚJO
NETO, F. E.; CORRÊA, S. L. O. Enraizamento de diferentes tipos de
estacas de aceroleira utilizando ácido indolbutírico. Revista Brasileira de
Fruticultura, Jaboticabal - SP, v. 25, n. 2, p. 290-292, Ago, 2003.
LOPES, J. C.; ALEXANDRE, R. S.; SILVA, A. E. C. da; RIVA, E. M. Influência
do ácido indol-3-butírico e do substrato no enraizamento de estacas de
acerola. Revista Brasileira de Agrociência, v.9, n.1, p.79-83, jan-mar, 2003.
LIMA, R. L. S. de; SIQUEIRA, D. L. de; WEBER, O.B; CAZETTA, J. O.
Comprimento de estacas e parte aérea do ramo na formação de mudas de
aceroleira. Revista Brasileira de Fruticultura, Jabuticabal – SP, v. 28, n. 1,
p. 83-86, abril 2006.
MIELKE, J. C.; FACHINELLO, J. C.; RASEIRA, A. Fruteiras nativas –
Características de 5 mirtáceas com potencial para exploração comercial.
Hortisul, Pelotas, v.1, n.2, p.32-36. 1990.
PIO, R. O cultivo da acerola. Piracicaba, ESALQ - Divisão de Biblioteca
e Documentação, 2003. 28p. (Série Produtor Rural, nº 20, ESALQ/USP).
RITZINGER, R.; KOBAYASHI, A. K; OLIVEIRA, J. R. P. A cultura da
aceroleira. Cruz das Almas, BA. Embrapa Mandioca e Fruticultura
Tropical, 2003. 198p.
RITZINGER, R.; GRAZZIOTTI, P. H. Produção de mudas de acerola por
miniestaquia. Cruz das Almas, BA. Embrapa Mandioca e Fruticultura
Tropical. In: Acerola em Foco, n.10, dez/2005. 2p.
SILVA, F. de A. S. E. & AZEVEDO, C. A. V. de. Principal Components
Analysis in the Software Assistat-Statistical Attendance. In: WORLD
CONGRESS ON COMPUTERS IN AGRICULTURE, 7, Reno-NV-USA:
American Society of Agricultural and Biological Engineers, 2009.
V 65 V
Desenvolvimento
de um equipamento
de termoanálise
para medir o grau de
modificação de ligas
de alumínio eutéticas
fundidas
Mário Wolfart Junior*
Diego Rodolfo Simões de Lima*
Tomaz Fantin de Souza*
Gianpaulo Alves Medeiros*
Tarcila Pedrozo Benemann*
Vinicius Peccin Beppler*
Introdução
O
alumínio é um dos materiais mais econômicos e atrativos para uma
vasta gama de aplicações nas indústrias automobilística, aeronáutica,
naval, médica, entre outras. Suas principais características de fundição
são: baixa viscosidade, o que facilita o preenchimento de seções finas;
baixa temperatura de fusão, possibilitando o emprego de moldes
metálicos; elevado coeficiente de transferência de calor, possibilitando a
realização de ciclos de fundição mais curtos.
O silício é considerado um dos principais candidatos a elemento
de liga para fundição de alumínio por aumentar a fluidez da liga, reduzir a
temperatura de fusão e diminuir a contração durante a solidificação, além
de apresentar baixa densidade, o que é uma grande vantagem na redução
do peso total do componente fundido. As ligas de alumínio-silício apesar
de apresentarem vantagens como, por exemplo, uma elevada resistência
à corrosão, são muito frágeis devido a sua microestrutura grosseira em
função da presença do Si. Um tratamento conhecido por “modificação”
melhora as características desta microestrutura, conferindo uma melhor
resistência mecânica e uma boa ductilidade.
A modificação com Sr melhora as propriedades da liga como,
por exemplo, a resistência mecânica, além de possuir um custo médio,
fácil estocagem, menor reatividade com refratários, e a não produção
de gases (fumo). A grande desvantagem consiste no fato de favorecer a
solubilidade do hidrogênio e a formação de porosidades.
A liga A269, fornecida pela empresa SUMESA, foi escolhida neste
*IFC Luzerna
V 68 V
projeto por ser utilizada em grande escala na produção de blocos de
motores de automóveis e motocicletas e pistões, dentre outros. Esta é uma
liga eutética, com aproximadamente 11,9% de silício (Si). A microestrutura
desta liga apresenta o silício em forma de lâminas ou plaquetas aciculares.
A morfologia do silício pode então prejudicar as propriedades mecânicas
metalúrgicas dos componentes com ela fabricados, apresentando
uma vida em fadiga extremamente baixa. Sendo assim, é de grande
importância a mudança da morfologia desta microestrutura almejando
melhoria nas propriedades, como por exemplo, um aumento significativo
na vida em fadiga.
O objetivo do desenvolvimento do termoanalisador, é efetuar
a análise da modificação causada pelo Sr na liga, uma vez que a adição
de Sr baixa a temperatura eutética. Na microestrutura, a influência
do estrôncio (Sr) também é visível, uma vez que a microestrutura em
forma de plaquetas aciculares original da liga transforma-se em uma
microestrutura globular, em forma de ilhas. A modificação é realizada por
meio da adição de Sr metálico ou na forma da ante liga AlSr, normalmente
da ordem de 0,005% até 0,02% de Sr em peso. Este agente modificador
inibe a nucleação de grãos eutéticos, o que resulta em uma diminuição da
nucleação da fase eutética do silício.
A termoanálise é uma das técnicas utilizadas para avaliar a
qualidade do material fundido. Por este método, valores importantes são
extraídos a partir de uma curva de resfriamento, para posteriormente
serem relacionados com as características e índices de qualidade da
liga como, por exemplo, o tamanho do grão e a morfologia do silício
(MALEKAN, 2014).
Um dos dados que podem ser extraídos com a técnica da
termoanálise é a temperatura eutética da liga, que consiste basicamente
em uma temperatura que permanece constante durante a solidificação
do material e é a mais baixa possível levando em consideração o ponto de
fusão de cada material da liga separadamente. Dessa forma todos os seus
constituintes se solidificam simultaneamente a partir do metal líquido
(ALVES, 2013).
Vários estudos apontam que existe uma relação entre a queda
da temperatura eutética com a modificação das ligas, de forma que se
V 69 V
adicionarmos um agente modificante como, por exemplo, Sr (estrôncio)
a temperatura eutética sofrerá uma queda proporcional a porcentagem
de Sr adicionado, ou seja, quanto maior a quantidade de Sr adicionado,
maior será a queda de temperatura.
O presente trabalho tem como objetivo desenvolver um
equipamento capaz de realizar a termoanálise direcionada ao estudo do
grau de modificação da liga Alumínio -Silício.
Material e métodos
a) Adaptação do forno e verificação da temperatura do forno
A fusão da liga de alumínio foi realizada em um forno poço,
adaptado a partir de um forno mufla.
Devido às modificações no forno, foi necessário o controle das
temperaturas relativas ao forno e ao metal líquido. Isso se deve ao fato do
termopar de controle de temperatura do forno estar situado no fundo do
forno, gerando assim uma grande diferença entre a temperatura ajustada
no forno e a temperatura da liga fundida.
Como a temperatura de trabalho indicada para se trabalhar com
as ligas de alumino é de 750 °C, o forno foi configurado para atingir o
patamar de 850 °C.
b) Construção do equipamento de termoanálise
A etapa da construção do equipamento foi realizada conforme
descrição abaixo:
- O termopar tipo K (que fica imerso no metal líquido) é
conectado a um controlador de temperatura, que atua como uma placa
de aquisição de dados, ou seja, transforma os sinais analógicos em sinais
digitais. Estes dados são então enviados para o computador via protocolo
de comunicação modbus em uma rede RS485. Através de um sistema
supervisório Elipse Scada (versão DEMO), os dados então são lidos e
exibidos em uma tela em forma de gráfico tempo x temperatura, sendo
posteriormente salvos em uma planilha eletrônica.
Através dos gráficos gerados foi possível observar a curva de
resfriamento da liga até sua completa solidificação.
V 70 V
c) Cálculo da temperatura eutética
A equação utilizada para calcular a temperatura de fusão do Al-Si
foi desenvolvida por Modolfo e Gruzleski (DJURDJEVIC, 2012) com base
em dados obtidos através da literatura e dos experimentos dos autores.
TAlSi, E = 660.452 – (6,11 Si + 0,057 Si2) (12,6/Si) – (3,4 Cu + 1,34 Fe + 6,3 Mg
+ 1218,9Sr – 32965 Sr2 – 4,293 Sb + 186,3 Sb2 – 495,5 Sb2) [1]
Como a equação é baseada na composição química da liga, foi
realizada a análise química na empresa Sulina de Metais (SUMESA) e
apresentou os seguintes resultados: 11,92% de Si, 1,24% de Cu, 0,355% de Fe,
0,99% de Mg, 0,0001% de Sr e 0,025% de Sb. De posse dessas informações, a
equação foi inserida em uma planilha eletrônica para facilitar os cálculos,
e a fim de confrontar a teoria com a prática, foram efetuados ensaios com
a liga não modificada.
d) Temperatura eutética x Temperatura eutética medida
A comparação entre a temperatura eutética teórica e a
temperatura eutética medida foi necessária tendo em vista que a equação
escolhida considera os elementos químicos da liga de alumínio não
modificada. Logo para validar o resultado, foram realizados ensaios que
confirmaram temperaturas bem próximas.
Para efetuar a verificação foi utilizado um cadinho de grafite
para fundir a liga na temperatura de 750 °C (definida no item 2.1) e então
vazado em um cadinho de aço inoxidável, sendo em seguida, inserido
um termopar tipo k no metal líquido. A curva de resfriamento da liga foi
então monitorada. Os valores de tempo x temperatura foram coletados
durante o resfriamento da liga até a completa solidificação, num total de
três ensaios.
e) Termoanálise
A termoanálise é a etapa fundamental do projeto, pois devem ser
tomados cuidados especiais desde o momento do abastecimento do forno
com alumínio, até a coleta dos dados do ensaio.
Os ensaios foram realizados utilizando em média 300 g de
V 71 V
alumínio em um cadinho de grafite juntamente com a quantidade
correspondente de Sr para fundir.
O metal fundido foi vazado em um cadinho de aço inoxidável,
onde o termopar tipo K conectado ao controlador era inserido no metal
líquido, em seguida o controlador enviava os dados de temperatura de
resfriamento para o computador onde o supervisório plotava uma curva
tempo-temperatura para visualização e as informações em seguida eram
salvas em uma planilha eletrônica (Excel).
Estes dados posteriormente foram utilizados para plotar um
gráfico em uma nova planilha eletrônica, onde foram inseridos também
os dados da temperatura eutética da liga sem adição de Sr, e o cálculo
do grau de modificação, que consiste basicamente na diferença entre
a temperatura eutética da liga pura e a temperatura eutética da liga
modificada.
f) Metalografia x Grau de modificação
A análise microestrutural do material foi utilizada para verificar se
a microestrutura em forma de plaquetas aciculares havia sido modificada
por uma microestrutura em forma globular em ilhas e então comparálas com o grau de modificação calculado. As amostras foram preparadas
conforme procedimentos padrões de preparação metalográfica e em
seguida foram analisadas em um microscópio metalúrgico, sendo que as
seções analisadas sempre foram as mesmas para todas as amostras.
Resultados e discussão
a) Cálculo da Temperatura eutética.
Como visto, a temperatura eutética do alumínio pode ser
calculada através de uma equação [1], que engloba os percentuais de
determinados elementos de liga presentes no material e a temperatura de
fusão do alumínio puro que é de 660,452 °C. Com esses valores é possível
calcular a temperatura que permanece constante por um tempo maior
durante o seu resfriamento, sendo esta denominada temperatura eutética
(DJURDJEVIC, 2012).
Com base na análise química feita pela empresa SUMESA, a
V 72 V
equação [1], apresentou como resultado a temperatura de 564,15°C.
Os ensaios realizados confirmaram a validade da equação [1],
uma vez que sem a adição de nenhum elemento modificador, o resultado
do ensaio foi de 563,9 °C, valor este muito próximo da temperatura
calculada de 564,15°C.
Como por exemplo, para a liga com adição de 50 PPM de estrôncio
o valor encontrado através da equação [1] foi de 559 °C. O valor medido
através da termoanálise é de 559,9°C, observado na Figura 2. Desta forma,
levando em consideração que o resultado é similar aos obtidos nos ensaios
para obtenção da temperatura eutética sem e com adição de estrôncio e
o erro apresentado é muito pequeno, podemos considerar que a equação
[1], pode ser utilizada para qualquer outra liga de Al-Si-Cu eutética
(DJURDJEVIC, 2012).
b) Grau de modificação
Após atingir o pico, indicado na Figura 1 por (1), a primeira
depressão da curva, indicada na Figura 1 por (2), que apresenta uma
temperatura constante é denominada temperatura eutética. Quando é
feita a adição de um elemento modificador, como por exemplo, o Sr, esta
temperatura eutética diminui. A diferença (∆T) entre as temperaturas
eutética da liga modificada e da não modificada fornecem um valor
denominado de grau de modificação.
A Figura 1 ilustra essa diferença entre as temperaturas eutéticas,
além de apresentar a microestrutura da liga A269 não modificada em que
podemos observar uma matriz de alumínio com silício eutético em forma
de plaquetas aciculares.
Fonte: autor
Figura 1: Curvas
sobrepostas da
amostra
não
modificada
e da amostra
modificada
V 73 V
c) Curvas de resfriamento, Termoanálise e Microestrutura
A Figura 2 mostra a curva de resfriamento para a liga A269
modificada com 50 ppm de Sr, onde podemos observar na região
demarcada pela elipse, o ponto em que a curva se mantém constante
em uma determinada temperatura. Esta temperatura é considerada a
temperatura eutética da liga, e no caso, é de 559,9°C. A diferença entre
564,15 °C e 559,9°C é de 4,25°C, ou seja, o grau de modificação é de 4,25.
Figura 2: Curva de resfriamento e micrografia para ensaio com adição de 50 ppm de Sr. Fonte:
autor.
Já a análise microestrutural da amostra da liga modificada com 50
ppm apresentou uma modificação parcial, pois exibe uma microestrutura
composta de alumínio na matriz juntamente com a formação de uma
pequena quantidade de ilhas de silício eutético na forma fibrosa e uma
pequena parte em forma acicular.
A Figura 3 mostra a curva de resfriamento para a liga A269
modificada com 100 ppm de Sr, onde podemos observar na região
demarcada pela elipse a temperatura eutética da liga e no caso indicou
um valor de 556,9°C. A diferença entre 564,15 °C e 556,9°C é de 7,25°C, ou
seja, o grau de modificação é de 7,25.
Figura 3: Curva de resfriamento e micrografia para ensaio com adição de 100 ppm de Sr. Fonte:
autor
V 74 V
A análise microestrutural da amostra da liga modificada com 100
ppm exibe uma microestrutura totalmente fibrosa e em forma de ilhas, o
que sugere uma modificação total da microestrutura.
Para a adição de 150 ppm, a Figura 4 mostra a curva de
resfriamento, onde se pode observar na região demarcada pela elipse a
temperatura eutética da liga que no caso indicou um valor de 557,9°C.
A diferença entre 564,15 °C e 557,9°C é de 6,25°C, ou seja, o grau de
modificação é de 6,25.
Na análise microestrutural da amostra da liga modificada com
150 ppm pode ser observada uma microestrutura fibrosa no centro das
ilhas de sílico e na parte externa das ilhas observa-se a formação de silício
acicular indicando uma supermodificação. Além disso, o fato do grau
de modificação ter diminuído em relação a adição de 100 ppm também
indica uma supermodificação, segundo Furlan, 2008, uma adição de
aproximadamente 150 ppm pode ocasionar uma supermodificação, o que
é confirmado na avaliação destes resultados.
Figura 4: Curva de resfriamento e micrografia para ensaio com adição de 150 ppm de Sr. Fonte:
autor
Levando-se em consideração que o sistema de medição possui
muitos ruídos (erros), o que pode prejudicar ou tornar, em certos
momentos, as medições imprecisas, os resultados obtidos com este
trabalho são satisfatórios e similares aos encontrados nas literaturas.
Com estes valores de grau de modificação é possível afirmar que
o equipamento de termoanálise pode ser utilizado para medir o grau de
modificação de ligas de alumínio-silício-cobre eutéticas.
V 75 V
Conclusão
Ő
Ĭվ՝ÍÜ—ÁŐĿĂŀŐ̝λ¯×ŐÌΝåÎŐŐם»ÌÎ×ÜÎ՝Üמׯ“ŐÌÎŐµ¯©ÒŐ
Al-Si-Cu sem e com adição de Sr.
Ő
ĬŐžŐš¯—Á՚ŐĆāŐÌÌ»ŐšŐ\ÎŐ»Áš¯¨¯“ÁÜŐÌΓ¯µ»¼×ŐŐµ¯©ŐžăćĊŐ
transformando a microestrutura em plaquetas aciculares em ilhas de
silício eutético parcialmente fibroso. O grau de modificação com 50 ppm
é de 4,25 e representa a modificação parcial da liga A269.
Ő
ĬŐ žŐ š¯—ÁŐ šŐ ĂāāŐ ÌÌ»Ő šŐ \ÎŐ »Áš¯¨¯“ÁÜŐ ×Á×µ»¼×Ő Ő µ¯©Ő žăćĊįŐ
transformando a microestrutura em plaquetas aciculares em ilhas de
silício eutético totalmente fibroso. O grau de modificação com 100 ppm é
de 7,25 e representa a modificação total da liga A269.
Ő
ĬŐ žŐ š¯—ÁŐ šŐ ĂĆāŐ ÌÌ»Ő šŐ \ÎŐ ÒÜ̝λÁš¯¨¯“ÁÜŐ Ő µ¯©Ő žăćĊįŐ
transformando a microestrutura em plaquetas aciculares em uma
microestrutura fibrosa no centro das ilhas de sílico e na parte externa das
ilhas ocorreu a formação de silício acicular.
Ő
ĬŐ KŐ ÍܯÌ»¼×ÁŐ šŐ םλÁ¼€µ¯ÒŐ ÒŐ »ÁÒ×ÎÁÜŐ ¨¯“¯¼×Ő ÌÎŐ
medir o grau de modificação da liga objeto deste estudo.
Agradecimentos
A PROEX/PROPI pela concessão de bolsas de pesquisa e extensão,
ao Instituto Federal Catarinense Câmpus Luzerna pela estrutura e a
empresa SUMESA pelo apoio prestado através da doação das ligas de
alumínio e conhecimentos técnicos.
Referências
ALVES, L. Mistura eutética., 2013. Disponível em: <http://www.
brasilescola.comHYPERLINK
“http://www.brasilescola.com/quimica/
mistura-eutetica.htm”/quimica/mistura-eutetica.htm>. Acesso em: 25
ago. 2014.
DJURDJEVIC, B. M., et al.; ‘Thermal Description of Hypoeutetic Al-SiCu Alloys Using Silicon Equivalency’, Vojnotehcicki Glasnik / Military
V 76 V
Technical Courier, 2012, vol. LX, pag. 158.
FURLAN, T. S., Influência do teor de estrôncio na modificação da liga
A356 / São Paulo, 2008. Dissertação – Escola Politécnica da Universidade
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2008.
SHABESTARI, S. G. e GHODRAT, S.; “Assessment of modification and
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ZHANG, Y. et al.; “Cluster-assisted nucleation of silicon phase in
hypoeutetic Al-Si alloy with further inoculation”, Acta Materialia, 2014,
vol. 70.
V 77 V
Contribuição para
a melhoria no
desenvolvimento de
software em Videira
e região
Leonardo Lopes Albuquerque*
Dieyson França*
Leila Lisiane Rossi**
Marcelo Massocco Cendron**
Introdução
C
om o crescente volume de informações faz-se necessário tecnologias
adequadas e seguras para armazená-las. O profissional de informática
é bastante requisitado para suprir essas necessidades. Mas para isso é
importante estar capacitado adequadamente para garantir a qualidade
do trabalho.
Com o objetivo de contribuir para a melhoria no desenvolvimento
de software em Videira e região, o presente projeto foi desenvolvido no
Instituto Federal Catarinense - IFC - Campus Videira através de atividades
desempenhadas por duas frentes de trabalho: grupo de gerenciamento de
projetos de software, sendo este composto por membros tanto internos
quanto externos ao IFC - Campus Videira.
A principal atividade do grupo foi o estudo e a aplicação de
técnicas e de metodologias ágeis como a Extreme Programming - XP e a
SCRUM no desenvolvimento e no gerenciamento de projetos de software.
A outra equipe formada por estudantes também tanto internos quanto
externos ao IFC participou de um curso de lógica e programação, na sua
maioria iniciantes.
Na sequência são apresentados os procedimentos metodológicos
usados, resultados e discussões, considerações finais e referências.
Métodos
A parte do projeto Equipe de Gerenciamento de Projetos de
Software foi desenvolvido nos laboratórios do IFC conforme descrito
*Graduando em Computação – Câmpus Videira.
**Mestre em Ciência da Computação - Câmpus Videira.
V 80 V
acima, composto por uma equipe de integrantes tanto internos quanto
externos ao Instituto, sendo a grande maioria pessoas experientes na
área do desenvolvimento e gerenciamento de software. O projeto foi
iniciado em Setembro de 2013 e finalizado em Agosto de 2014. O período
inicial foi utilizado na divulgação, preparação de materiais e o contato
com os possíveis interessados em participar do projeto. Na sequência
foram estudas/revisadas e definidas as principais metodologias, técnicas
e ferramentas a serem aplicadas em um estudo de caso.
Dentre outros, foram estudadas as técnicas e as metodologias
ágeis de desenvolvimento e gerenciamento de software Extreme
Programming - XP e a SCRUM. A equipe foi dividida conforme o perfil
dos membros, sendo uma parte como programadores e a outra como
analistas e designers.
Inicialmente foi desenvolvido o cronograma do projeto usando a
ferramenta OpenProject, e a PangoScrum, para a definição das Sprints.
Os analistas e os designers foram responsáveis por todo o
levantamento inicial dos requisitos do software, obtidos por meio das
reuniões realizadas frequentemente com o proprietário do produto Product Owner. Na sequência foram criados os principais diagramas
usando a linguagem de Modelagem Unificada - UML. Para a fase de
projeto foram utilizadas ferramentas como a DBDesigner para o modelo
relacional de dados. Na sequência foi criado o banco de dados usando a
ferramenta MySQL.
Em paralelo foi sendo definido o layout das telas.
Seguindo a prática Stand Up Meeting da metodologia XP, toda a
equipe sempre trabalhou unida e conhecendo o sistema completo.
Como estudo de caso do projeto foi escolhido o setor de extensão
do Instituto Federal Catarinense - Campus Videira. Foram aplicadas
algumas práticas da metodologia ágil XP como a programação em pares,
código simplificado, reuniões rápidas e objetivas entre outras e a SCRUM,
sendo esta usada principalmente nas fases iniciais do projeto como na
definição das Sprints.
Para o desenvolvimento do Data Webhouse foi utilizado o
modelo multidimensional estrela, sendo este criado no banco de dados
PostgreSQL. O Schema Workbench foi usado para a criação do cubo no
V 81 V
formato XML necessário para o servidor BI interpretá-lo, gerando assim
as consultas OLAPs. A parte do projeto do curso de lógica e programação
também foi desenvolvida nos laboratórios de informática do IFC através
de aulas práticas e teóricas de lógica e programação. Foram desenvolvidos
os algoritmos e na sequência transcritos para a linguagem de programação
C. No final do curso foram apresentados alguns conceitos de Arduino,
sendo estes usados na robótica. Também foi realizada a minimaratona
de programação nos moldes da Maratona de Programação da Sociedade
Brasileira de Computação – SBC, cujo objetivo foi estimular os alunos a
resolverem problemas através da lógica e programação.
Todas as equipes tiveram um bom desempenho, destacando uma
delas por ter resolvido todos os problemas propostos no menor tempo.
Resultados e discussão
Os principais resultados obtidos com o projeto são descritos a
seguir:
A troca de experiências dos membros da equipe principalmente
em relação às boas práticas de projetos de software, a melhora da qualidade
e a capacitação das equipes, o estudo e a aplicação das metodologias
em um estudo de caso, resultando assim em um protótipo do Sistema
Gerenciador de Estágios - SGE e de um Data Webhouse para os projetos
de extensão e estágios. Algumas telas do Data Webhouse e do SGE são
apresentas a seguir:
Figura 1. Exemplo de Consulta OLAP - Data
Webhouse
Através da consulta OLAP da
Figura 1 é possível conhecer os
projetos de extensão realizados
por determinado professor
de um curso em determinado
ano de maneira fácil, amigável
e segura. As técnicas de
Business Inteligence - BI, ou
V 82 V
seja, a Inteligência nos negócios é
imprescindível para uma empresa
concorrer melhor no seu ramo.
Geralmente são usadas técnicas de
Inteligência Artificial. No caso da
ferramenta do projeto foi usada uma
delas bastante conhecida também, o
Data Webhouse. A Figura 2 apresenta
a tela de cadastro do estagiário do
protótipo do sistema SGE
Figura2. Tela Cadastro Estagiário - Protótipo SGE
A Figura 3 apresenta a tela
de cadastro do estagiário do
protótipo do sistema SGE.
Figura 3. Tela Cadastro Professor
Orientador - Protótipo SGE
A Figura 3 apresenta a
tela de cadastro do professororientador do protótipo do
sistema SGE.
Como
parte
dos
resultados foi realizada
pela equipe do curso de
programação a Minimaratona
de Programação descrita
anteriormente.
V 83 V
Figura 4. Equipes participantes da Mini-Maratona de Programação
A Figura 4 apresenta as equipes participantes da Minimaratona
de Programação.
A Figura 5 apresenta o grupo de gerenciamento de projetos de
software.
Figura 5. Grupo de Gerenciamento de Projetos de Software
V 84 V
Conclusão
Considera-se de suma importância a aplicação das metodologias
ágeis de desenvolvimento e gerenciamento de projetos de software.
Mesmo não sendo certificado com uma norma e/ou modelo de qualidade,
as boas práticas contribuem muito para o alcance dos objetivos do projeto.
A contribuição na preparação dos alunos através do curso de lógica e
programação é importante também para motivá-los e descobrir assim
possíveis talentos na área.
Como continuidade do projeto pode ser melhorado o protótipo
desenvolvido permitindo assim o funcionamento e a integração de todos
os módulos.
O Data Webhouse da mesma forma poderá ser melhorado
considerando também a alimentação contínua e atualizada dos dados a
partir de uma base relacional.
Agradecimentos
Agradecimentos a Pró-Reitoria de Extensão do Instituto Federal
Catarinense - PROEX-IFC por disponibilizar os recursos para a realização
do projeto.
Referências
SCRUM – Scrum.Org– Disponível em: https://www.scrum.org/ - acesso
em 10 de Julho de 2014
Extreme Programming - XP – Disponível em: http://www.
extremeprogramming.org/ - acesso em 10 de Julho de 2014
Pango Scrum – Disponível em: http://pangoscrum.com/pt-BR - acesso em
10 de Julho de 2014
V 85 V
Atividades culturais
no Instituto Federal
Catarinense: uma
contribuição para
manter e cultivar
os costumes e as
tradições de Videira
e região
Vera Regina Mazureck*
Elizângela de Almeida Santos**
Roseli Schöfen***
Marizete Bortolanza Spessatto****
Leila Lisiane Rossi*****
Introdução
O
presente projeto visa contribuir para manter e cultivar a cultura
italiana em Videira e região. O mesmo foi dividido em duas frentes de
trabalho: a pesquisa, a qual apresenta as atividades de coleta de dados
e organização de obra bibliográfica com receitas da culinária italiana. A
parte de extensão, por sua vez, é formada por um grupo italiano, o qual
está preparado com músicas folclóricas italianas de domínio público.
É composta também por um evento gastronômico, contando com uma
equipe formada dentre outros componentes por avaliadores dos pratos
inscritos no concurso, sendo que os melhores farão parte do livro bilíngue
que será lançado no dia do evento gastronômico em parceria com a
Secretaria Municipal da Cultura da cidade de Videira. As seções a seguir
apresentam os procedimentos metodológicos, resultados e discussões,
considerações finais e referências usadas.
Métodos
Na parte da pesquisa, fazem parte do projeto as cidades
consideradas com maior predominância de descendentes desse grupo
étnico. São elas: Arroio Trinta, Iomerê, Pinheiro Preto, Salto Veloso e
Videira [4].
Desse conjunto, foram definidas algumas comunidades
*Mestre em Pedagogia – Câmpus Videira.
**Graduanda em Pedagogia – Câmpus Videira
***Graduanda em Pedagogia – Câmpus Videira
****Doutora em Educação - Câmpus Videira
*****Mestre em Ciência da Computação - Câmpus Videira
V 88 V
adequadas ao perfil da proposta para realização de pesquisa com vistas a
conhecer como a comunidade mantém os costumes e as tradições italianas.
Nesses locais, foram aplicados questionários para identificação do que se
mantém da língua, cultura e gastronomia, entre outros fatores. Como
exemplo de perguntas do questionário aplicado destacam-se algumas
como: “As pessoas em família costumam falar italiano?” “A comida típica
italiana faz parte do cardápio da família?” “A família tem o hábito de
cantar cantigas italianas?” As possíveis respostas poderiam ser: sempre,
com frequência, raramente, nunca. Em relação à culinária, identifica-se
uma forte predominância da culinária italiana na região. Assim sendo,
o projeto oportunizou a realização de um concurso gastronômico. Um
conjunto de mais de setenta receitas foi escolhido para compor um livro
de edição bilíngue (Português/Italiano).
O livro será lançado ainda no decorrer deste ano, em evento
gastronômico a ser realizado em parceria com a Prefeitura de Videira.
Exemplares serão distribuídos, visando difundir as receitas nele contidas,
contribuindo assim para a manutenção da cultura italiana, cumprindo os
objetivos do projeto.
Na parte da extensão, as atividades de língua e canto são
desenvolvidas em um grupo de estudos, sendo realizadas nas
dependências do IFC- Câmpus Videira, além da equipe organizadora do
evento gastronômico agendado em parceria com a Prefeitura Municipal
de Videira através da Secretaria Municipal da Cultura.
Com as atividades espera-se obter os seguintes resultados:
Mapeamento da presença da cultura de origem italiana e da língua
italiana em Videira e região; Divulgação de receitas gastronômicas que
fazem parte da história de famílias de ascendência italiana; Contribuição
junto às comunidades envolvidas, por meio das atividades propostas,
motivando-as a manterem e a fortalecerem os costumes e as tradições de
origem italiana na região.
Resultados e discussão
Os principais resultados obtidos com o projeto são descritos a
seguir, considerando primeiramente a parte da extensão e na sequência a
pesquisa realizada:
V 89 V
Figura 1. Grupo de Canto Italiano “Voci del Vigneto”
O grupo de canto italiano “Voci del Vigneto”, composto por
membros tanto internos quanto externos ao IFC. O repertório do grupo é
composto por músicas italianas de domínio público e preferencialmente
conhecidas pela comunidade. Vale ressaltar que no início das atividades o
conhecimento da língua italiana era bem variado entre os participantes,
tendo alguns um conhecimento avançado ou sendo a sua própria
língua materna e outros em fase inicial e necessitando, portanto, de um
nivelamento básico, possibilitando o acompanhamento das atividades.
Foi priorizado o ensino da língua principalmente por meio da música,
uma vez que o foco do projeto já descrito anteriormente foi contribuir
para manter e cultivar a cultura italiana na região e não um curso formal
com perfil acadêmico.
A Figura 1 apresenta o grupo na sua primeira apresentação
realizada na III Semana da Pedagogia do IFC, em Maio de 2014.
A Figura 2 apresenta parte do grupo Italiano na mesma
apresentação.
Figura 2. Parte do Grupo
de Canto Italiano “Voci del
Vigneto”
V 90 V
Figura 3. Capa do Livro de Receitas Bilíngue do Concurso Mangiare
A Figura 3 apresenta a capa do livro de receitas bilíngue do
concurso Mangiare. O livro é resultado de um concurso de receitas, sendo
estas selecionadas por especialistas e pessoas experientes na área da
gastronomia. Foram selecionadas 100, receitas sendo estas apresentadas
no livro nas línguas portuguesa e italiana. Na Figura 4 é apresentado
um dos pratos cuja receita faz parte do livro. O prato foi apreciado com
outros em uma degustação realizada para a escolha/teste das receitas no
momento da avaliação.
Figura 4. Receita Mangiare Coelho ao Vinho Branco
V 91 V
Em relação a pesquisa, foram obtidos os seguintes resultados:
Foram aplicados os questionários em cinco municípios na
região [2] conforme mostrado na Figura 5 (Videira, Iomerê [1], Pinheiro
Preto, Arroio Trinta e Salto Veloso [3]), definidos pela predominância da
cultura italiana. O objetivo do questionário foi fazer um levantamento de
como as pessoas contribuem para manter as tradições italianas, seja na
gastronomia, seja por meio da língua ou da música.
No total foram aplicados 615 questionários e, como resultado da
pesquisa, conclui-se que a culinária italiana está presente sempre ou com
frequência nas famílias entrevistadas. Já a língua e o canto raramente são
mantidos por eles.
Figura 5. Cidades participantes da Pesquisa
Os questionários foram aplicados por famílias, conforme cálculo
amostral e com embasamentos em dados estatísticos do IBGE [2010] e
Secretaria da Saúde [2014].
V 92 V
Conclusão
A realização de cursos abertos a toda a comunidade é de extrema
importância para as instituições de ensino. No caso específico do presente
projeto, procura-se contribuir para manter e cultivar as tradições da
cultura italiana em Videira e região, por meio do canto, da língua e da
gastronomia. Procura-se dar continuidade ao trabalho em relação ao
canto através do grupo italiano, sendo este o de maior interesse e mais
procurado pela comunidade.
Como trabalhos futuros é possível pensar em outras estratégias
e contribuições para aumentar o contato com a língua e o canto italiano
nas famílias da região, mantendo assim cada vez mais viva a cultura
predominante.
Agradecimentos
Agradecimentos a Pró-Reitoria de Extensão do Instituto Federal
Catarinense - PROEX-IFC por disponibilizar os recursos para a realização
do projeto.
Referências
[1] ANSILIEIRO, Eliane et al. Rio dos Cochos - A Bom Sucesso - Uma
História Viva entre Nós - Iomerê -SC, 2003
[2] PIAZZA, Walter F. – Italianos em Santa Catarina. Lunardelli, 2001
[3] SCAPIN, Alzira - O que somos - De onde viemos - Prefeitura de Salto
Veloso - Agência Vale Visare - Salto Veloso, 1996
[4] SILVA, Diogo Dreyer da – A Imigração Italiana – Disponível em: http://
www.educacional.com.br - Acesso em: 26 de Junho de 2014
V 93 V
Capa: papel Supremo Duo Design 250g
Miolo: papel off-set 90g
Fonte: Alegreya
Fotos capa: http://pixabay.com/ , Cecom - Câmpus
Videira
Impressão e acabamento: Polimpressos
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