1 O USO DO BRINCAR NA ESCUTA PSICOLÓGICA DE CRIANÇAS HOSPITALIZADAS: CONTRIBUIÇÕES PSICANALÍTICAS RENATA FURTADO ISAÍAS1 KELLY MOREIRA DE ALBUQUERQUE 2 Resumo: Objetivamos investigar, à luz da psicanálise, a utilização da atividade lúdica do brincar como um dispositivo de intervenção na escuta clínica de crianças no ambiente hospitalar. Acredita-se que a teoria e método psicanalíticos podem estabelecer interlocuções favoráveis com a medicina de modo a incluir a atenção ao sujeito e ao seu sofrimento psíquico decorrentes da experiência com doenças orgânicas no hospital. Trata-se de um estudo teórico que se organizou da seguinte forma: primeiramente abordamos o conceito histórico de infância para compreendermos as modificações simbólicas pelas quais este passou. Em seguida, situamos o inédito freudiano sobre a infância, em especial, sua relação com a sexualidade. Após, exploramos o lugar do brincar na clínica dos primórdios da psicanálise com crianças. Posteriormente, propomos um diálogo entre medicina e psicanálise, na tentativa de demarcar as especificidades e contribuições da teoria psicanalítica no hospital. Por fim, apresentaremos a importância da atividade lúdica do brincar na escuta analítica de crianças hospitalizadas. À guisa de conclusão afirmamos que o brincar, por revelar os medos e fantasias singulares da criança, permite a esta elaborar simbolicamente, pelo viés da linguagem, a vivência de uma doença. Palavras-chaves: Psicanálise. Infância. Hospital. Brincar. THE PLAY USING THE LISTENING PSYCHOLOGY OF HOSPITALIZED CHILDREN: CONTRIBUTIONS PSYCHOANALYTIC Abstract: This study investigates, in the light of psychoanalysis, the use of playing of playing as an intervention device in clinical listening to children in the hospital. It is believed that the theory and psychoanalytic method can establish favorable dialogues with medicine to include attention to the subject and its psychological distress resulting from experience with organic diseases in the hospital. This is a theoretical study that is organized as follows: first approach the historical concept of childhood to understand the symbolic modifications why this happened. Then we place the unprecedented Freudian about childhood, in particular its relationship to sexuality. After we explore the role of playing in the clinic from the early days of psychoanalysis with children. Subsequently, we propose a dialogue between medicine and psychoanalysis in an attempt to demarcate the characteristics and contributions of 1 Graduada em Psicologia pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). E-mail: [email protected]. Docente do curso de Graduação em Psicologia Fanor Devry Brasil. Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected]. 2 2 psychoanalytic theory in the hospital. Finally, we will present the importance of playing the play in analytic listening hospitalized children. In conclusion we say that the play, to reveal the fears and fantasies of natural child, allows this elaborate symbolically, from the perspective of language, the experience of a disease. Key-words: Psychoanalysis. Childhood. Hospital. Play. INTRODUÇÃO Objetivamos por meio deste estudo ver o papel do lúdico como um dispositivo de intervenção no tratamento de crianças hospitalizadas. É interessante ressaltar que não podemos considerar o lúdico apenas pelo uso de brinquedos, haja vista o objeto não possuir significado igual para todas as crianças. Sabe-se que as crianças se utilizam da imaginação, assim, uma boneca não será apenas uma boneca, mas um objeto pelo qual se investe uma fantasia. Iremos abordar o lúdico através de desenhos, modelagens e brinquedos ou qualquer outro equipamento que possa ser manejado simbolicamente pela criança. Ora, o brinquedo, para Brougère (1995), é um objeto cultural produzido por adultos, mas seu valor está na imagem simbólica representada pela criança, que ganha significado no processo da brincadeira, comunicando seus pensamentos. Ao se trabalhar com a criança é necessário entender sua significação em um determinado contexto e momento histórico, pois se sabe que a criança é um conceito historicamente datado. É interessante ressaltar que a palavra infância vem de infante que significa “não falante”. De fato, até o século XVIII as crianças não tinham vez nem “voz”. Desta forma, para entendermos o sentido atual que é dado à infância, teremos que nos remeter à construção do conceito. Na Idade Medieval, de acordo com Stellin (1994), a criança era considerada como um adulto em escala reduzida, não havia distinção entre o adulto e a criança. Essa fase, a infância, não era vista como diferenciada, peculiar e decisiva na construção do sujeito. Logo que as crianças não precisavam mais dos cuidados maternos se inseriam na vida adulta, com os mesmos trabalhos dos demais, inclusive usando as mesmas vestimentas. Contudo havia, de acordo com Ariès (1981), um 3 tratamento superficial que as famílias ou empregados dedicavam quando as crianças ainda eram bebês. Dessa manieira, os pais passaram a ter novos sentimentos pelas crianças. Vários fatores contribuíram para essas mudanças, por exemplo, o capitalismo, que se preocupava com o aumento da população, o que possibilitava ver a questão da alta mortalidade infantil. Outro fator que contribuiu para essa mudança foi que o Estado moderno quis aumentar a população para o povoamento de colônias e o aumento do contingente militar. A criança, passa a ser vista, como uma força de produção que traria lucros a longo prazo, fato que fez valorizar a educação pedagógica. Essa época coincide com a Filosofia das Luzes, que trouxe uma preocupação humanizada de igualdade e felicidade. Com esse olhar diferenciado para a criança, conforme Costa (2007), no séc. XIX desenvolveu-se a pedagogia, pediatria entre outras especializações em torno da criança. A infância passou a ser um direito inato do homem, sendo colocada dentro das escolas, a criança passou a vestir roupas específicas, a ler a sua própria literatura e a brincar com os seus próprios jogos. A psicologia é vista como algo capaz de produzir um discurso científico sobre a infância, através do qual outras práticas possam se nortear. A criança, segundo Costa (2007), passa a ser vista como desprovida de toda sexualidade, essa inocência infantil passa a ser preservada pelos educadores, que diferentemente do que acontecia anteriormente, começa a afastar a criança de assuntos relativos ao sexo. A criança é vista como um ser assexuado, que possui uma natureza a ser corrigida pelo adulto, não possui desejo próprio. Tal concepção predominou durante muito tempo, até que Freud veio modificá-la. Foi nesse momento histórico descrito que surgiu a psicanálise com Freud. Ele abordou a infância pela lógica do inconsciente, ao invés de utilizar-se de um registro genético e cronológico. Freud, ao escrever “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905) colocou em dúvida as concepções existentes na época sobre a atividade sexual na infância. Ele apresenta a sexualidade da infância de uma nova forma, usando o termo perverso-polimorfo pelo qual o corpo da criança passa a ser visto como um corpo de 4 desejo. A sexualidade infantil está presente na infância e irá se prolongar durante a vida adulta, mesmo que sob a determinação de deslocamentos e condensações característicos das representações recalcadas. Freud elabora essa teoria da sexualidade a partir da escuta de suas pacientes histéricas, e, como Birman (1997) afirma, qualquer análise, sempre implicará a análise do infantil. Mas a análise de crianças só terá início com o caso “O pequeno Hans”, publicado por Freud em 1909. Nessa análise Freud só se encontrou com a criança uma vez, a análise foi realizada pelas interlocuções travadas com o pai da criança. Seu propósito com o caso, segundo Costa (2007), era comprovar seus descobrimentos sobre a sexualidade infantil. A partir de Hans, Freud revisou a questão da análise com crianças observando que a realidade psíquica destas se assemelha à do adulto em suas angústias, fantasias e desejos. Com isso, foi estabelecido os três parâmetros indispensáveis para que uma análise seja possível: a demanda, a transferência e a interpretação. A demanda foi formulada pelo pai que procurou Freud a fim de aliviar o sofrimento de seu filho. Freud reconhece que uma análise não pode ser conduzida por um pai, mas pode-se pensar que Freud ocupou o lugar de analista para Hans, já que ele sabia que o pai escrevia para o mesmo relatando o que Hans sentia, Freud ocupou assim o sujeito suposto saber, sendo possível com isso a transferência. Com relação à interpretação, Freud, ao interpretar a fobia de cavalos como medo da represália paterna por causa dos desejos eróticos pela mãe, possibilitou a cura da neurose. A partir do caso do pequeno Hans foi possível, afirma Costa (2007), estabelecer as bases teóricas para a análise de crianças, mas ainda levou muito tempo para que ela se desenvolvesse. A psicanálise de crianças tem especificidades em relação à clínica com adultos, já que a obediência à regra fundamental de condução de uma análise, qual seja, a associação livre, é atravessada pelo devanear presente na brincadeira. O papel do brincar na infância foi estudado por várias teorias, mas, de acordo com Jardim (2003) é a psicanálise que irá atribuir sua função simbólica. Apesar de Freud não ter atendido crianças, a não ser indiretamente, através das conversas com o pai de Hans, ele analisou os sonhos e as brincadeiras relatadas. O brincar por si só não foi estudado 5 por Freud, mas a descoberta que o mesmo poderia ser um recurso para o inconsciente foi propiciada pelo mesmo em “Escritores criativos e devaneio” (1908), ao introduzir a ideia de que a brincadeira da criança corresponde à fantasia no adulto. Freud deu importância e significados a essas brincadeiras infantis, considerandoas como a primeira manifestação da fantasia, “ao brincar toda criança se comporta como um escritor criativo, pois cria um mundo próprio.” (FREUD, 2006, p.135). A criança sabe distinguir o mundo criado por ela da realidade e, assim, passa a inserir as situações imaginadas às situações vividas no mundo real. Essa conexão é que irá diferenciar o “brincar” infantil do “fantasiar”. Quando a criança para de brincar, ela apenas renuncia a sua ligação com os objetos reais, ao invés de brincar, ela fantasia, “cria castelos no ar”. (FREUD, 2006, p.136). De fato, o brincar da criança é determinado pelo desejo de ser adulto, ela imita em seus jogos o que conhece da vida dos mais velhos, colocando muita emoção nesse mundo de brinquedos. As crianças em suas brincadeiras repetem tudo que lhes causou uma grande impressão na vida real, e assim procedendo, ab-reagem a intensidade da impressão, tornando-se, por assim dizer, senhoras da situação. Por outro lado, porém, é óbvio que todas as suas brincadeiras são influenciadas por um desejo que as domina o tempo todo: o desejo de crescer e poder fazer o que as pessoas crescidas fazem. Pode-se também observar que a natureza desagradável de uma experiência nem sempre a torna inapropriada para a brincadeira. Se o médico examina a garganta de uma criança ou faz nela alguma pequena intervenção, podemos estar inteiramente certos de que essas assustadoras experiências serão tema da próxima brincadeira; contudo, não devemos, quanto a isso, desprezar o fato de existir uma produção de prazer provinda de outra fonte. Quando a criança passa da passividade da experiência para a atividade do jogo, transfere a experiência desagradável para um de seus companheiros de brincadeira e, dessa maneira, vinga-se num substituto (FREUD, 2006, p. 26). Cada criança irá dar um significado diferenciado aos brinquedos expostos no consultório, ele é apenas um mediador entre a realidade e a imaginação. Depois da constatação de que o brinquedo pode ser utilizado na análise de crianças, ocorreu o verdadeiro nascimento e desenvolvimento da psicanálise de crianças. Abordaremos as pesquisas e o trabalho das primeiras analistas de crianças, considerando que cada uma dessas teorias apresenta um modo de trabalho decorrente do entendimento desses teóricos sobre a representação da criança. 6 De acordo com Costa (2007), foi inicialmente as mulheres que analisaram crianças, já que na época não era permitido o ingresso de mulheres na universidade. Assim, elas começaram a praticar a psicanálise nas escolas. É inclusive essa formação pedagógica que irá influenciar a clínica. A primeira psicanalista de crianças foi Hugh-Hllmunth. Conforme Avellar (2011) esta psicanalista reconheceu a importância da comunicação da criança como complexo nuclear da neurose infantil. Valorizou o brincar e o seu sentido simbólico como forma de desvelar os sintomas e a problemática da criança. Segundo Roza (1993), outras pioneiras na psicanálise de crianças foram Sophi Mongenstein, na França, que escreveu um livro sobre o desenho, e Rambert, na Suíça, que introduziu nos atendimentos infantis o emprego de marionetes de famílias. Mesmo com as contribuições desses autores, foram Anna Freud e Melanie Klein que justificaram o trabalho da psicanálise infantil, que o próprio Freud tinha dúvidas, devido às limitações do discurso verbal da criança. Anna Freud, sexta e última filha de Sigmund Freud, conscientizava “a criança de seu sofrimento e da necessidade de ser ajudada a se livrar de seu sintoma.” (COSTA, 2007, p. 24). Anna Freud, segundo Costa (2007), mostrou, por exemplo, que a criança podia ser castigada se se comportasse de forma rebelde. A fim de cumprir tais objetivos ela associava medidas pedagógicas aos meios analíticos. Neste sentido, a interveção do analista provinha de sua autoridade. Anna Freud, conforme Costa (2007), não se apoiou no inconsciente, nas forças psíquicas recalcadas. De acordo com o seu ponto de vista, caberia ao analista exercer uma ação educativa, controlando e decidindo o que deve ser rejeitado ou satisfeito, ao invés de utilizar-se da escuta. Anna Freud, segundo Roza (1993), afirmava que na clínica psicanalítica, o brincar não podia ser usado como método de associação livre, pois o psiquismo das crianças é diferente dos adultos. Costa (2007) observa que Anna Freud parece demonstrar para o analisando que o analista efetivamente ocupa o lugar do saber e não o lugar de suposto saber, proposto, por exemplo, por Lacan. 7 Já Melanie Klein, de acordo com Costa (2007), deu importância à constituição interna da criança e na sua clínica observou o brincar infantil, fazendo interpretações do conteúdo inconsciente expresso nos brinquedos. Segundo Jardim (2003), foi a partir dessa ideia que a brincadeira pôde expressar a angústia, assim como outros desejos inconscientes. Entre essas analistas, Melanie Klein se sobressaiu ao dar uma elevada importância a esse mundo interno psíquico, utilizando o brincar em sua atividade clínica. Para esta, segundo Segal (1975, p.13), “o brincar da criança poderia representar simbolicamente suas ansiedades e fantasias.”, haja vista o emprego restrito da associação livre ser limitado a crianças muito pequenas. O brincar, então, constitui-se como expressão simbólica de conflitos inconscientes. Através de sua clínica que se funda privilegiando o mundo interno da criança, “Melanie Klein eleva a criança à plena condição de analisando.” (COSTA, 2007, p.42). Nesta medida, o analista deve observar todo o comportamento da criança na hora da sessão. O que ela brinca, como faz, tudo terá um significado. A tarefa do analista é descobrir, através dos símbolos e brinquedos, o material inconsciente e interpretá-lo, tentar traduzir em palavras as ansiedades e fantasias da criança, tornando-as acessíveis ao pensamento e à fala. Winnicott é outro nome importante ao se falar da clínica infantil psicanalítica e do brincar infantil. Ele estudou, conforme Costa (2007), não só a técnica do brincar, mas o conceito do brincar como uma atividade humana que se situa no espaço intermediário entre a mãe e o bebê, o espaço potencial preenchido pela fantasia. Winnicott (1975) vê o brincar como um fator decisivo para o desenvolvimento e utilizou-se dele em sua psicoterapia que: se efetua na sobreposição de duas áreas do brincar, a do paciente e a do terapeuta. A psicoterapia trata de duas pessoas que brincam juntas. Em consequência, onde o brincar não é possível, o trabalho efetuado pelo terapeuta é dirigido então no sentido de trazer o paciente de um estado em que não é capaz de brincar para um estado que o é (WINNICOTT, 1975, p.59). Para Winnicott (1975), o terapeuta deve envolver-se com o brincar do paciente, podendo ser uma forma de comunicação. Deve-se buscar a comunicação da criança e 8 sabe-se que o domínio dela pela fala normalmente não é muito expressivo, ela não é capaz de transmitir o que ela transmitiria através da brincadeira. O brincar torna-se assim essencial para que o paciente manifeste sua criatividade. Segundo Winnicott (1975), o brincar espontâneo é por si mesmo uma terapia. A criança traz para dentro da brincadeira fenômenos vivenciados na realidade externa, usando-os a serviço de alguma amostra derivada da realidade interna. “Sem alucinar, a criança põe para fora uma amostra do potencial onírico e vive com essa amostra num ambiente escolhido de fragmentos oriundos da realidade externa” (WINNICOTT, 1975, p. 76). Se observarmos que tudo o que acontece na brincadeira já foi feito antes, sentido antes, deve-se esperar, pela evolução natural da transferência que irá surgindo pela confiança do paciente no próprio cenário psicanalítico, que conteúdos inconscientes apareçam neste espaço. Não se deve ser seguido pela necessidade pessoal do analista de interpretar, mas esperar que o paciente chegue à compreensão criativamente, já que é o paciente e apenas ele quem tem as respostas, o analista não pode interpretar de acordo com as suas próprias imaginações criativas. É importante falar das contribuições de Bettelheim para a psicanálise infantil. Ele realiza uma leitura psicanalítica dos contos de fadas clássicos evidenciando a relação destes com as emoções expressas pela criança. Algumas crianças podem se identificar com algum conto de fadas, ele “reassegura, dá esperança para o futuro e oferece a promessa de um final feliz” (BETTELHEIM, 2011, p.37). Uma das mensagens transmitidas pelos contos de fadas é que uma luta contra dificuldades é algo inevitável e pertence a existência humana. Mas se a pessoa não se intimida com situações inesperadas, dominará os obstáculos para no fim emergir vitoriosa. Assim, o conto de fadas escolhido pela criança normalmente não tem nada a ver com a vida exterior, mas há uma identificação com seus problemas interiores, podendo estruturar os devaneios, dando melhor direção a sua vida. O significado será diferente para cada pessoa: e diferente para a mesma pessoa dependendo do momento de sua vida. A criança extrairá significados diferentes do mesmo conto de fadas, dependendo de seus interesses e necessidades do momento. Tendo oportunidade, voltará ao mesmo 9 conto, quando estiver pronta a ampliar os velhos significados ou substituí-los por novos (BETTELHEIM, 2011, p. 21). Em decorrência desse significado particular, Bettelheim (2011) afirma que não há uma história que é específica para uma idade específica, mas que irá depender dos problemas que emergem no momento e de seu próprio momento psicológico. Assim, como no brincar, ao contar uma história deve-se seguir a vontade demonstrada pela criança, pois ela irá fantasiar em cima do significado que ela dá à história. Mesmo que os pais atribuam algum significado ao filho ter se envolvido com aquela história e que a reproduza através do brincar, é favorável, assim como Winnicott (1975) coloca, que eles guardem isso para si, até que as crianças decidam se revelar. Contar a elas porque um conto de fadas é tão cativante destrói, segundo Bettelheim (2011), o encantamento da história, que depende do porquê de se estar tão maravilhada. Ao analisar a importância da fantasia no mundo infantil, enfatiza que a capacidade de desenvolver fantasias ultrapassa o presente, torna suportáveis as fantasias experimentadas na realidade. A fantasia contém de forma imaginária uma enorme variedade de saídas também presentes na realidade, tendo assim um grande material de elaboração. Uma história relatada por Bettelheim (2011) refere-se a um menino de cinco anos que se identificou com a história da Rapunzel no momento em que soube que sua avó, que cuidava dele durante o dia, teria que ir ao hospital por conta de uma doença grave. Foi importante para o menino o fato de a Rapunzel ter achado os meios de escapar de sua condição em seu próprio corpo, as tranças, pelas quais o príncipe subiu na torre. A história mostrou que, se necessário, ele encontraria no corpo a fonte de sua segurança. De fato, a criança repete nas brincadeiras os mesmos personagens, tendo uma identificação com os mesmos. Mas cada vez que ela brinca, ou ouve a história, ela nunca será a mesma, está sendo sentida de uma maneira diferente. Para Bettelheim (2011) sem fantasias a vida fica limitada, e a infância é a época que essas fantasias precisam ser nutridas. Jardim (2003) afirma que no brincar ou no conto de fadas, a criança encontra uma saída através da imaginação para aliviar a frustação, a decepção e o desespero. Assim, a criança recorre à 10 fantasia, transgredindo a realidade como satisfação, para não ceder ao desespero, devendo o adulto não interferir na brincadeira. A experiência da criança deve ser respeitada: Seu mundo é rico e em contínua mudança, inclui um intercâmbio permanente entre fantasia e realidade. Se o adulto interfere e irrompe em sua atividade lúdica, pode pertubar o desenvolvimento da experiência decisiva que a criança realiza ao brincar. (Bettelheim. 1988, p.142). Ao se estudar psicanálise é válido ressaltar a releitura, de forma diferenciada, feita por Lacan da obra freudiana, ao demarcar a questão do sujeito do inconsciente, afirmando, segundo Costa (2007), que o campo do inconsciente é o campo da linguagem. Lacan não analisou crianças, mas observou que Melanie Klein e Anna Freud desconsideravam a dimensão simbólica do sujeito no tratamento. Lacan pensava o sujeito pela sua relação com a fala e com o Outro, sendo a linguagem preexistente ao sujeito. O Outro transforma o grito produzido pelos bebês em demanda, com isso a criança entra no campo da linguagem, mesmo que ainda não fale. O bebê, com seus balbucios, começa a fazer jogos vocais, alucinando a voz da mãe, quando ela não está presente. Essa voz e língua são instrumentos de gozo, esses sons são jogo de gozo que a criança pode fazer também em resposta à demanda da mãe. Freud, segundo Costa (2007), estudou sobre necessidade e desejo, Lacan introduziu um terceiro elemento que é a demanda. A passagem do real para o simbólico é feita através da intervenção do Outro, introduzindo a demanda na criança, a demanda de amor. A necessidade é satisfeita pelo alimento e o desejo é produzido pela abertura entre a necessidade e a demanda. O bebê para Lacan, de acordo com Costa (2007), ocupa um lugar que já está marcado pelo desejo do Outro, ele completa a mãe no seu desejo narcísico. Ele é fascinado pelo olhar da mãe, se identifica com essa mãe e se aliena. A entrada do pai destitui esse lugar imaginário onde a criança é o falo da mãe, permitindo que o infans saia desse lugar de ser o objeto de satisfação do desejo da mãe, para se constituir como sujeito desejante. Nesse sentido, o pai encarna a lei, permitindo assim à criança adquirir sua identidade. Lacan não trabalhou diretamente com crianças, mas acompanhou o trabalho realizado 11 pelas primeiras psicanalistas que se dedicaram à clínica com crianças, como Françoise Dolto e Maud Mannoni, que seguiram seus ensinamentos. Fraçoise Dolto, conforme Costa (2007), foi pioneira da psicanálise de crianças na França, era colaboradora e amiga de Lacan. A proposta de Dolto, de acordo com Costa (2007), era inserir a criança na estrutura desejante da família, pois ao nascer ela já está inserida no desejo do Outro. Sendo fruto de três desejos: o do pai, o da mãe e o do próprio sujeito. Sendo assim, para ela o sintoma da criança é também o sintoma da estrutura familiar. Por isso é importante nas entrevistas preliminares analisar as relações inconscientes entre os pais e a criança, remontando as estruturas edípicas dos pais e dos avós. Com Lacan aprendeu a abordar a criança sob o ângulo da verdade, abordando seu sintoma como sendo uma resposta ao que existe de sintomático da estrutura familiar. Costa (2007) afirma que para Dolto é a relação com o Outro que humaniza o bebê, sendo que “a fala materna traduz a realidade para a criança nomeando suas sensações e organizando seu mundo.” (COSTA, 2007, p.70). É a partir dos sentidos que o lactente organiza suas trocas significativas com o outro cuidador, o corpo é sempre uma construção simbólica. Em sua clínica com crianças, Dolto, conforme Costa (2007), dava atenção ao contexto familiar, detectando de onde vem a demanda, percebendo o lugar da criança no narcisismo dos pais e vendo quem realmente está sofrendo. Françoise Dolto, ainda segundo Costa (2007), não costumava utilizar o brinquedo em si, mas utilizava outros meios de atividades lúdicas como o desenho e a modelagem, pedindo que a criança falasse deles, buscava que o dito da criança fosse representado nessa fala; do desenho e da modelagem buscava que o dito da criança fosse representado, dando prioridade ao trabalho associativo, sem deixar escapar as expressões, lapsos e erros. Assim, pensar numa possível interlocução entre Psicanálise e hospital implica primeiramente, especificarmos o ambiente hospitalar. Este, segundo Carvalho e Couto (2011), é um lugar propício para a vivência de situações traumáticas, não só para os 12 pacientes, mas para os familiares e amigos que os acompanham e para os profissionais de saúde que ali atuam. A psicanálise, ao se inserir nesse ambiente, passa a atuar junto com a clínica médica. É importante saber as fronteiras e as similaridades que estão presentes no olhar da medicina e na escuta da psicanálise. A psicanálise, segundo Pinto (2011), surgiu a partir do desejo de Freud fundar uma disciplina que fosse um campo de conhecimento que levasse em conta os objetivos de observação, previsão e controle das doenças psíquicas. Mas ele percebeu que ao atuar como médico não obtinha as transformações que ele buscava no paciente. Ao perceber que o inconsciente dos pacientes é o determinante dos sintomas, Freud observou que os efeitos que ele buscava dependiam do engajamento do paciente na resolução de seus problemas, cabendo ao analista o papel de sustentar o trabalho feito pelo paciente, utilizando-se da escuta. O analista, designado por Lacan, não tem lugar específico para atuar, “autorizando-o” a sair do consultório. De acordo com Moura (2011), não há uma instituição ideal para a psicanálise, para que ela seja possível é necessário que haja um analista e um sujeito, que só saberá o que a psicanálise oferece quando estiver diante de um psicanalista. A inserção da psicanálise no hospital não se trata de simplesmente estruturar um serviço de psicanálise dentro da instituição, nem de agendar com os pacientes em ambulatórios, seguindo com isso os moldes do consultório privado. O psicanalista deve se colocar de forma diferenciada a cada situação que é chamado a intervir, em busca dos objetivos que se propõe. É considerado sempre o caso a caso, buscando uma solução particular diante do sofrimento, das situações geradoras de angustia. Ao ser chamado para resolver uma dificuldade, “o que ele pode é oferecer não uma resolução predeterminada, mas uma que passe pela palavra, possibilitando algo do sujeito possa advir” (CARVALHO; COUTO, 2011, p.117). Já a clínica médica, conforme Ansermet (2003), baseia-se no olhar e procura construir seu objeto através da observação e descrição, busca essa relação entre o olhar e a linguagem. O olho clínico irá distinguir e classificar, o médico irá observar o que 13 surpreende seu olhar e sua prática clínica se baseará em tal ponto. A clínica médica deriva de demarcar o sujeito, irá descrevê-lo minuciosamente. Pretendendo tudo englobar, mas nega a evidência pulsional, que a psicanálise escuta. Ela postula um objeto neutro, positivo, imutável. Como Ansermet (2003, p. 10) escreve, “eles também têm olhos para não ver, justamente no que as coisas os olham.” Em contrapartida, conforme Ansermet (2003) a clínica psicanálitica aposta na fala, ela irá se orientar a partir do que o sujeito enuncia, desenvolvendo a escuta que não é ouvida pelo paciente, a atenção é no que não pode ser dito. Ela irá além do que se manifesta no visível, dá acesso a algo que não pode ser capturado pelo olhar. Já que a psicanálise baseia-se no inconsciente, ela irá levar em consideração o que permanece escondido, não deixando-se iludir pelo manifesto. O saber produzido em uma análise é para Pinto (2011) um saber apaixonado que demanda interpretação. O analisante busca uma formulação científica sobre seu sofrimento, busca a causa. Mas a psicanálise foge a essa causalidade, ela interessa-se pela singularidade de cada sujeito, ele irá desdobra-se na linguagem. O analista utiliza-se da enunciação para facilitar essa percepção do ato analítico pelo analisante, que o analisante escute o que não permite escutar no domínio lógico. A clínica psicanalítica não está apenas na escuta, está também no olhar sobre a fala do sujeito. Como descreve Ansermet (2003, p.10): “na clínica psicanalítica podemos dizer que nos deixamos olhar pelo olhar. Aceita-se o retorno do olhar. Trabalha-se a partir do olhar na fala”. Com isso, a clínica psicanalítica não é apenas da escuta, mas a clínica do olhar que põe em jogo a fala do sujeito. Na medicina, de acordo com Ansermet (2003), o objeto vem saciar o olho, na psicanálise é o contrário, o olho sacia o objeto. Na psicanálise não é feita uma simples observação, o analista se insere em sua problemática. O médico irá observar no paciente algo que ele já estudou, algo no paciente em que ele já possui um conhecimento, já para o analista apenas o paciente pode saber o que ele sente e revela. 14 Ansermet (2003) deixa claro que o saber da biologia não exclui o saber psicanalítico. Abordar os fenômenos mentais através da anatomia ou da genética não eliminará o sujeito, mesmo que determinado organismo seja atendido, não se pode saber o que resultará de fato nisso. O psicanalista não pode também subtrair-se dos determinantes corporais, mas não deve deter-se a eles, mas sim o que eles representam para o sujeito. De acordo com Carvalho e Couto (2011), o hospital tem as normas necessárias para o seu funcionamento, o psicanalista deve estar atento para as diversas situações que se advinham nesse contexto, já que ele não se deterá apenas nas demandas explícitas de atendimento. A intervenção do analista, ainda conforme os autores, pode possibilitar que o paciente, a família e a equipe tenham o seu espaço nesse ambiente e que possam dialogar para possibilitar que o paciente seja ouvido. A posição do analista é a de se oferecer para escutar e intervir em situações que façam parte do ambiente hospitalar, mas não como o que tem o poder de solucionar os problemas. Muitas vezes o psicanalista é chamado para ocupar o lugar de quem sabe, ou seja, do detentor do saber. Mas a proposta de Freud é que o psicanalista se ofereça em posição de “não saber”, necessária para a escuta dos pacientes, dos seus familiares e dos profissionais, para que não se deixem entrar em um jogo de poder, podendo acolher as demandas, sem que seja necessário atendê-las. O que se percebe é que muitas vezes há um mal entendido entre o que o médico demanda e o que este lhe propõe, o médico pede algo que não faz parte do seu saber próprio, cabe ao analista saber se o que os profissionais pedem a ele está de acordo com o seu saber. Além de acolher a queixa dos familiares, deve-se propor a busca de esclarecimentos sobre a doença, muitas vezes não é possível ir além do significante da doença até que a questão seja esclarecida, pois essas dúvidas podem ter efeitos na localização da angústia. O hospital, de acordo com Oliveira (1999), já carrega em si experiências caracterizadas pela dor, doenças, perdas, desespero, enfim, uma possiblidade de 15 destituição. A criança necessita de um Outro desejando por ela, no hospital isso não será diferente. O adoecimento e a hospitalização provocam uma série de mudanças na vida da criança, segundo Lindquist (1993), as reações são decorrentes da separação da família, do surgimento da doença e da admissão no ambiente hospitalar, pois muitas vezes ela não sabe o porquê de estar ali. A criança, conforme Oliveira (1999), passa a fazer muitas perguntas, como o porquê de estar ali ou como funciona o hospital. Essa dor causada pela internação pode tomar uma maior dimensão se a criança não puder falar de seu sofrimento. O adulto pode ter dificuldades de falar com a criança, mas deve saber que ela também sofre e também se questiona. Dolto, nas palavras de Costa (2007), enfatiza a necessidade de contar a criança, em uma linguagem acessível à sua compreensão, toda a verdade sobre a sua história, mesmo que isso seja doloroso para ela ou para os adultos. Muitas vezes um sintoma aponta para esse não dito. A dor da criança não é apenas a dor física (OLIVEIRA, 1999), mas a dor de estar ali, provavelmente destituída de sua subjetividade, a dor causada pelo sentimento de solidão, de abandono. A criança no hospital é esse sujeito que sofre, questiona, mas que acima de tudo, deseja. Uma técnica utilizada com a psicanálise de crianças é o uso do brinquedo para que ela possa expressar o que sente. Freud (2006b) ao falar das brincadeiras infantis, afirma que as crianças as levam muito a sério, colocando toda a emoção vivida, mas as distinguem da realidade, ligando seus objetos e situações imaginados às coisas visíveis do mundo real. A brincadeira, para Barreto (1998), é uma atividade lúdica livre, incerta e caracterizada pelo faz-de-conta. Vimos anteriormente como os psicanalistas que realizaram análise com crianças, utilizaram-se desse brincar na clínica e Dolto, conforme Costa (2007), que utilizou de outras atividades lúdicas, como o desenho e a modelagem, não interpretando os desenhos, mas tentando fazê-los ganhar vida, sem orientar, nem reagir. Pedia para que as crianças falassem deles, para a partir desse discurso fazer perguntas. 16 Para brincar com a criança na clínica, não é necessário a utilização de brinquedos elaborados, mas de objetos que possuem realidade própria para a criança, já que para ela “todo objeto é um objeto descoberto” (WINNICOTT, 1975, p.141). Através dos mesmos elas podem expressar sentimentos que estejam vivenciando, como demonstrar o modo pelo qual ela enxerga a doença e o tratamento hospitalar. Pode expressar seus desejos, expectativas e suas experiências atuais, projetando-se das atividades dos adultos, sendo coerente com os papéis que assume. A sua postura como paciente e médico se expressa de forma diferente. Podem ser utilizados desenhos, continuação de histórias, recortes de revistas, entre outros recursos que surgem através dessa relação com o paciente. No brincar a criança não está em uma posição passiva, como na maioria dos procedimentos a que ela está submetida no hospital, mas ela aparece como sujeito de desejos e vontades, não mais como mero objeto de cuidados. Na brincadeira, ela ganha voz e espaço para utilizar a imaginação e expressar o que sente. De acordo com Jardim (2003), o brincar envolve a relação entre o real e o imaginário, sendo atravessado pelo simbólico, espaço no qual os objetos criam vida e se transformam de acordo com a ilusão de quem brinca, sendo o brincar uma forma de descobrir, reinventar, reorganizar, aceitar desafios, arriscar para progredir. Tudo que vai surgindo na brincadeira já foi vivenciado pela criança antes, como no brincar de casinhas, elas tendem a expressar o que experencia em sua casa, ou brincar de médico, em que expressa o que já vivenciou nessa relação. Para Elkomin (1998), no processo de interpretação do seu papel, a criança transforma suas ações diante da realidade, possuindo liberdade para escolher o tema do qual quer brincar, entregando-se com toda sua emoção nesta atividade, escolhendo os papéis que irá desempenhar, sendo uma atividade autônoma. No ambiente hospitalar, a criança, em algumas brincadeiras, por exemplo, é o médico ou a enfermeira e desempenha o papel dos mesmos a apartir do modo que ela percebe, sendo muitas vezes de forma exagerada, mas sendo mesmo assim a forma como ela vivencia. 17 A criança, de acordo com Cabral (1999), seja na clínica convencional ou na análise realizada no hospital, está ali com seu jogo, com seu brincar, encenando sua história, sua novela familiar. O analista não é um companheiro imaginário que entra em seu brincar, mas ele está ali como o causador do desejo de saber, oferecendo-se à consumação. O lugar do analista, conforme Brant (1999), não é aquele que tem as respostas para a dor e sofrimento dos pacientes, mas sim deve escutá-los além do dito, como sujeito do inconsciente, receber sua demanda, acolher a sua dor, fornecer um espaço no qual a criança possa expressar suas angústias, fragilidades, dificuldades frente a situação estressante que enfrenta. O analista deve tentar se aproximar da criança e criar um vínculo com a mesma, deve-se jogar o jogo da criança ou nada acontecerá, pois ela não tem nenhuma razão para escutar as perguntas monótonas dos adultos. Ao fazer essa aproximação deve-se ajudá-la na construção de um saber, o seu saber sobre a doença, “deixando-a falar, estando atento às suas brincadeiras, dando importância às suas perguntas, fazendo-se presente” (OLIVEIRA, 1999, p.31). À guisa de conclusão, vale salientar que o brincar estudado nesse trabalho é o brincar criativo, aquele em que a criança está livre para se expressar. O lúdico terá sentido para a psicanálise se o analista estiver escutando-a, não orientando, nem fazendo a interpretação, mas dando voz a criança, sem influenciá-la , cabendo ao analista pedir para a criança falar sobre o seu brincar, o seu desenho, e fazer as perguntas que caibam no momento. A psicanálise ao se inserir no hospital não trata simplesmente de montar um serviço clínico dentro da instituição. A cada nova situação que o psicanalista é chamado a atuar deve ser visto o caso singular, buscando uma solução particular diante do sofrimento, das situações geradoras de angústia, mas sem fugir à técnica que passe pela palavra, pela associação livre. Cada paciente que chega é um novo caso, não há casos iguais, como aponta o olhar da medicina. 18 O ambiente hospitalar tem normas estabelecidas e horários mais rigorosos do que o sujeito estava acostumado em seu cotidiano, provocando diversas e significativas mudanças. Não é somente a dor física, mas a dor psicológica. Por isso muitas vezes esse processo hospitalar torna-se ainda mais doloroso para a criança, pois os adultos tentam esconder algumas verdades da criança, tornando-se um não-dito, que a criança não tem acesso ao seu todo, e essas partes podem aterrorizá-la ainda mais. O brincar é uma ferramenta lúdica muito importante, pois ao brincar a criança cria histórias e apresenta personagens que podem representar sua dor, as suas angústias. Ao brincar a criança revela os medos e fantasias singulares, permitindo a ela elaborar simbolicamente, pelo viés da linguagem, a vivência de sua doença. REFERÊNCIAS ÁRIES, P. História social da criança e da família. 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