8 GAZETA DE MATEM A TICA O método de Fubini para a integração das funções racionais por Manuel Como é sabido, pode sempre determinar-se a primitiva de toda a função racional desde que seja possível resolver uma equação algébrica. O processo clássico consiste em reduzir a função dada à soma dum polinómio inteiro e duma fracção algébrica irredutível cujo numerador é de grau inferior ao do denominador. Esta decompõe-se, cm seguida, em fracções simples (correspondentes aos zeros do denominador da fracção dada, cuja determinação poderá ser impossível como acima se aludiu); e procede-se à integração destas o que se faz sistematicamente. É-se conduzido assim, no caso geral, a uma combinação linear de logaritmos do funções lineares ou do 2." grau, arcos- tangentes de funções lineares, e de funções algébricas. Zaluar A partir dêsto desenvolvimento a regra de Fubini permite imediatamente estabelecer o tipo da primitiva, à-parte constantes a determinar: J Tal observação levou o professor italiano Guido Fubini (i) à descoberta do seu engenhoso método que apresentaremos aos nossos leitores por ser de alguns desconhecido. Consideremos a função racional ? ( » ) / $ (£) onde <P (x) e í- (x) designam dois polímónios inteiros de coeficientes reais sem factores comuns sendo o grau de 9 ( i ) inferior ao de ^ (as). Suponhamos que sabemos determinar as raízes de $ (x) = 0 e que conhecemos, portanto, o desenvolvimento íínico tji (x) — (x — a)« (x —6)0 - (x^+px (xí + rx + s)!* com p*—4q < 0 , r* — 4* -<.0, dx—A log (»—a) +D log (x — b) + +• m + ^|log(j; i -|-px + g) + J / i l o g ( x i - f r x + e ) + ••• + 2 x+p 2x+r cpi(x) arc * +Af*arc * T i ^ f onde é Í! (x) - (x - a)*-i • ( x - È ) M (xZ + px + 1 ) * " ' . * ( x ! + re-í-«)^"^ ••• e a>t (x) um polinómio, de coeficientes a determinar, de grau inferior uma unidade ao de <|i| (x) . Prova-se facilmente ( s ) que, derivando ambos os membros da expressão anterior e desembaraçando de denominadores [o menor denominador comum é <Kx)j obtém-se, por identificação dos dois polinómios, um sistema de equações lineares que permite determinar as constantes. O processo indicado, como se acaba de ver, dispensa a decomposição prévia de ip (x)/$ (ÍC) em fracções simples e qualquer operação de integração. Bastante engenhoso êste método, rápido na indicação do tipo da primitiva, c sobretudo de aplicação útil quando a equação 41 ( ' c ) a d m i t e raízes complexas de grau de multiplicidade elevado. [Gajeío dl Matemática, 5t, Abril d» 1940], II) Vide; O. Fubini, «Loaiocí dl AnalIsi Mttematicu 3.* ed., Torino, 1319, 5 76. Ill Vido: O, Vizarili, «Loztoul dl Analisl Mateinatleai, Torino, 1330, Tol, I, páí. 41S-414. Aplicação das propriedades do trinómio do 2° grau à c/eferminaçao de alguns problemas de máximos e mínimos por J o s é da O estudo das propriedades do trinómio do 2." grau fornece matéria para a resolução de muitos problemas quer de álgebra quer de geometria entre os quais problemas de máximos e ininimos do tipo dos que têm sido propostos nos exames de aptidão ao Instituto Superior Técnico. Como, geralmente, o assunto não é tratado nos liceus, exporemos aqui um caminho a seguir para a resolução de tais problemas, aplicando simplesmente conhecimentos adquiridos na 7.* classe dos iieeus. Suponhamos que se pretendo resolver o Beguinte problema : Dado um círculo de raio igual a 5 inscrever nêle um rectângulo de área igual a 48 . Silva Paulo Se forem x e y os lados do rectângulo, as equações que resolvem o problema são xy — 48 o x 2 + ^ = 1 0 0 . Se multiplicarmos ambos os membros da primeira equação por 2 , e lhe adicionarmos ordenadamente a segunda, obtém-se o sistema equivalente: xy=4% e x + y — l/l00-)-96 . Êste sistema é ainda equivalente à equação X1—14.Y-{--á8=0 cujas soluções são x—6 e y*= 8 . É evidente que não podemos dar arbitrariamente a área do rectângulo, pois que, se ela pode ser tão pequena quanto se quizer, não pode, no entanto, ultrapassar, por exemplo a área do circulo. Poderá portanto acontecer, o acontece, que dentre todos os rectângulos que podem inscrever-se no círculo dado 9 GAZETA DE MATEM A TICA haja um cuja área seja a maior de todas. Procuremos então resolver êste problema: Dado um círculo de raio R inscrever nêle um rectângulo cuja área seja máxima. Começamos por pôr em equação o seguinte problema: determinar um rectângulo de área S inscrito num circulo de raio R . Duma maneira análoga à precedente somos conduzidos a resolver a equação X*— j/4ií*+2i" X+S — 0 , cujas soluções são os lados x e y do rectângulo procurado. O problema terá ou não soluções conforme os valores de S . Exprimindo que as soluções desta equação são reais tem-se a limitação procurada. Com efeito, para que esta equação tenha soluções reais, é necessário e suficiente que o descriminante seja positivo ou nulo, isto é, i = + 4S > 0 donde se tira S < 2 A ' . Quero dizer, S não pode exceder 2R2 e o máximo valor que S pode ter é 2R*, Neste caso A = 0 e portanto x=*y=R \J2 . Vê-se assim que o rectângulo de área máxima ó o quadrado inscrito no círculo de raio R . Fica pois determinado o máximo valor que pode tomar a área do rectângulo. E este o método que devemos empregar na resolução de problemas dês te género e que consiste em determinar as equações do problema de modo a sermos conduzidos a uma equação do 2.° grau (no caso em que isso é possível) e procurar as condições para que a equação tenha soluções reais; estas condições fornecem-nos as limitações que dão os valores procurados. Vejamos outro exemplo: Ê dado tim jxmto P às distâncias a e 2a dos dois lados de um ângulo recto, e dada uma recta qualquer pausando por P ; mostrar que a área do triângulo compreendido entre o recta e os lados do ângulo nunca pode ser inferior o 4a*. (Exame de aptidão ao L S. T. — Ponto modêlo). Na figura vê-se que o triângulo cuja área pretende determinar-se é QOR. Seja OR=x e OQ=y. Será 2 ax 1 y x então a área o = e como ^ = ®a x—a " x—a x 2ax ax2 e S= — = donde ax?— S s + a S — O , 2 x—a x —a Para que haja soluções reais deve ser 4 í i 3 S > 0 ou JS (S~ia2)>Q e como S é positivo, por se tratar duma área, será S—4aí>0 e S > 4cs-. Portanto a área será sempre maior e no mínimo igual a 4a 3 . Dêmos ainda exemplos dum outro tipo de problemas que se resolvem pelo mesmo processo. Seja o seguinte problema : (J Qual é o menor valor que pode tomar a expressão 3x ! — 8x — 7 quando se atribui a x valores reais? Seja K o valor do trinómio, é então — &x + 7 — K ou 3® 1 —8x+7 — K = 0 . A condição para que as soluções desta equação sejam reais é g A = 6 - 1 - 1 2 ( 7 - A ) > 0 ou K > - quere dizer, o trinóo mio toma sempre valores superiores e no mínimo é 5 4 igual a —I valor que corresponde a ÍC = - t> o Vejamos outro exemplo: 2 j ' -f- 3-c + 2 Determinar o máximo e o mínimo de Como o numerador e o denominador têm raízes complexas, são sempre positivos para valores reais de x e então fazendo a fracção igual a K, desembaraçando de denominador e simplificando vem (2—K) + (3-K) x+(2-K)~Q. A condição para que as soluções sejam reais é 3 A * — 1 0 A + 7 < 0 ; como êste trinómio tem as raíze» 7 „ . ' — 1 e - j aquela condição é verificada para K < - e 3 3 7 então A" = - é um máximo; ou para A " > — 1 e A— —1 é um mínimo. Damos a seguir o enunciado de alguns problemas que podem resolver-se por êste processo. I -— Mostrar que o perímetro 2p de um rectângulo inscrito num círculo do raio 11 não pode exceder 4R \J2, II — Mostrar que o produto de dois números positivos, cuja soma é constante, é máximo quando os dois números forem iguais. III — Mostrar que a soma de dois números positivos, cujo produto é constante, é mínima quando os números forem iguais. IV — De todos os triângulos rectângulos com o mesmo perímetro 2p , qual é aquele cuja superfície m1 é máxima? E de todos os triângulos rectângulos cuja área é constante qual é o de perímetro mínimo? V — Qual ê o maior rectângulo que se pode inscrever num quadrado dado? asi-fis-l VI — Determinar o máximo e o mínimo de x*+3x-|-3 [Gaitla ai Mitemáltca, n.° 3, Junho de 1910]