Nova configuração da Inquisição entre Iluminados e Iluministas

Propaganda
Nova configuração da Inquisição entre Iluminados e Iluministas:
Portugal, 1680-1750.
Ana Luiza de Oliveira e Silva
Mestranda em História Social, FFLCH, USP
1. Objetivos
O projeto de trabalho trata da instituição da
Inquisição em Portugal, entre finais do século
XVII e meados do XVIII, objetivando analisar sete
processos inquisitoriais, de forma a apreender os
diálogos existentes entre a autoridade oficial
(católica) e aquela extra-oficial (alumbrados), bem
como entender o posicionamento da Inquisição
posta entre os iluminados (“luzes interiores”) e os
iluministas (“luzes da razão”). Dentre as questões
levantadas,
o
trabalho
problematiza,
primeiramente, as noções de feitiçaria e de
contato com o sagrado – que constam no
conjunto documental – de acordo com o impacto
da cultura do Iluminismo. Em segundo lugar,
problematiza os picos de repressão inquisitorial
característicos do século XVIII e sua relação com
a insurgência da razão laica, neste momento que
prenuncia a passagem da mística para a
racionalidade. De posse desse eixo, pode-se
enfocar o esforço de manutenção da instituição
inquisitorial frente à “derrocada”, quer em sua
perspectiva teórica e conceitual, quer em suas
inflexões específicas – analisando processos de
feiticeiros e visionários – ou, ainda, no
cruzamento entre ambas as linhas. Na atual
pesquisa pretende-se, portanto, como primeiro
objetivo, estudar a Inquisição em Portugal no
contexto iluminista, ou seja, durante o século
XVIII. O segundo objetivo é analisar os
documentos processuais tendo em vista os
procedimentos jurídicos inquisitoriais. O terceiro
objetivo do presente trabalho é apreender a
noção de feitiçaria e contatos heterodoxos com o
sagrado de acordo com o impacto do Iluminismo.
O quarto e último objetivo é relacionar a
repressão inquisitorial perante a racionalidade
leiga.
2. Material e Métodos
A documentação selecionada constitui em
processos da Inquisição portuguesa, dos quais
cinco tratam de feitiçaria e dois outros concernem
a religiosas consideradas falsas visionárias, no
total de sete fontes. A escolha, transcrição e
tabulação dos documentos já está feita, sendo os
próximos passos metodológicos os seguintes:
contextualização da ação inquisitorial; análise
semântica dos textos (aproximação com
lingüística); método comparativo na análise da
dicotomia
sagrado/profano
e
busca
de
circularidades
culturais
(aproximação com
antropologia); e interpretação dos dados
recolhidos, através de uma leitura isotópica.
3. Resultados e Discussão
O trabalho de pesquisa se encontra ainda em
fase incial. Porém, acredita-se que o estudo das
questões
mencionadas
acima,
destes
mecanismos
de
repressão
inquisitoriais
direcionados a feiticeiros e visionários durante o
século XVIII, poderá mostrar uma nova
configuração
da
ação
dos
inquisidores
portugueses frente ao Iluminismo crescente. Ou
seja, levando à hipótese de que a própria
instituição judicial (o Santo Ofício) recrudesceu o
acossamento sobre estas pessoas – possuidoras
de misticismo heterodoxo – por perceber que as
Luzes trariam sua derrocada.
4. Conclusões
Certas questões poderão ser reconsideradas ao
longo e ao final do estudo indicado por este
projeto de trabalho, mas acredita-se que será
possível vislumbrar, através das análises
propostas, a posição tomada pela Inquisição ao
se encontrar entre iluminados e iluministas.
5. Referências Bibliográficas
BETHENCOURT, Francisco. História das
Inquisições. São Paulo : Cia das Letras, 2000
CERTEAU, Michel de. La fable mystique, 1.
Paris : Éditions Gallimard, 1982
DELUMEAU, Jean. História do medo no
ocidente. São Paulo : Cia das Letras, 2001
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes. São
Paulo : Cia das Letras , 1987
GRUZINSKI,
Serge.
A colonização
do
imaginário. São Paulo : Cia das Letras, 2003
PAIVA, José Pedro. Bruxaria e superstição.
Lisboa : Editorial Notícias, 1997
PRODI, Paolo. Um história da justiça. São
Paulo : Martins Fontes, 2005
ROSSI, Paolo. A ciência e a filosofia dos
modernos. São Paulo : Editora UNESP, 1992
VILLARI, Rosario (Org.). O Homem barroco.
Lisboa : Editorial Presença, 1995
Download