Conflitos na Equipe de Trabalho da Unidade de Pronto Socorro de

Propaganda
Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil
Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA
Mestrado Profissional em Gestão Empresarial
Alessandra Cavalcanti Barbosa
Conflitos na Equipe de Trabalho da Unidade de Pronto Socorro de um Hospital
Particular e sua Influência na Assistência ao Paciente
Recife – PE
2012
Alessandra Cavalcanti Barbosa
Conflitos na Equipe de Trabalho da Unidade de Pronto Socorro de um Hospital
Particular e sua Influência na Assistência ao Paciente
Dissertação
apresentada
ao
Mestrado
Profissional em Gestão Empresarial da
Faculdade Boa Viagem como pré-requisito
para a obtenção do título de Mestre em
Administração.
Orientadora: Prof. Dra. Lúcia Maria Barbosa
de Oliveira, PhD.
Recife – PE
2012
Este trabalho é dedicado a Deus, aos meus
filhos Maria Vitória, Luís Eduardo e Billy, ao
meu marido Eduardo e à minha mãe Vitória.
AGRADECIMENTOS
A Deus e à Nossa Senhora. Sem a sua orientação, proteção e amor infinito, tão
presentes em todos os momentos da minha vida, nada seria possível.
À minha amada família: Eduardo, Maria Vitória e Luís Eduardo, pelo apoio
incondicional e compreensão em tantos momentos ausentes durante o mestrado.
Ao meu filho “canino” Billy, que após treze anos e cinco meses de um amor
incondicional e companheirismo sem igual, foi para junto do Pai. A sua companhia, nas
inúmeras noites que passei acordada fazendo os trabalhos do mestrado, era reconfortante.
Nunca me sentia sozinha! A saudade é eterna e o amor também!
À minha mãe, Vitória, por ter abdicado de tantas coisas na vida para me proporcionar
formação pessoal e profissional, além da ajuda incessante em todos os dias da minha vida;
À minha vó Lúcia, por ser um exemplo de bondade e união na família e,
especialmente pelo amor dispensado a mim;
Às pessoas amadas, tão presentes no meu dia-a-dia, que acreditam em mim e me dão
forças para prosseguir, não deixando que eu desmorone diante das dificuldades e decepções
da vida – meu pai Carlos, minha querida prima Luciana, Tia Dorinha, meus padrinhos Lúcia
Helena e Alcione, minhas amigas Ione, Dimitra e Denise (in memorian);
Aos meus companheiros do mestrado, em especial, a Daniela, Antônio Carlos, Marise,
Diogo, Alexandre, Sofia e Érica; pela ajuda e pelos momentos de angústia e de alegria
compartilhados durante essa jornada;
À minha orientadora, e também amiga e professora, Lúcia Barbosa, por me nortear e
apoiar nesse projeto, tão importante na minha vida;
E, finalmente, ao amigo George Trigueiro Filho, diretoria e profissionais que atuam na
unidade de saúde pesquisada, pela ajuda e compreensão, tornando possível a concretização
desse projeto.
Não há palavras que expressem a minha gratidão a todos vocês!
Alessandra C. Barbosa de Melo
“Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem
perder o bem que poderíamos conquistar, se
não fosse o medo de tentar.”
(WILLIAM SHAKESPEARE)
“Procure a sabedoria e aprenda a escrever os
capítulos mais importantes de sua história nos
momentos mais difíceis de sua vida.”
(AUGUSTO CURY)
RESUMO
O objetivo do presente estudo foi identificar os conflitos existentes entre os
trabalhadores de uma unidade de Emergência/Urgência e que podem interferir na qualidade
do atendimento ao cliente de saúde. O tema é relevante pela percepção, nos últimos anos, de
quanto esses conflitos põem em risco a qualidade e o tratamento do enfermo. Foi realizado
um estudo exploratório e descritivo, de abordagem qualitativa e quantitativa, na unidade de
Pronto Socorro de um hospital particular da região metropolitana de Recife/PE. A amostra foi
composta por profissionais das três áreas. Foram distribuídos 33 questionários, para
identificar o nível de estresse e o clima organizacional da unidade; utilizando a versão
reduzida da EET (Escala de Estresse no Trabalho), de Tamayo e Paschoal (2004), e a ECO
(Escala de Clima Organizacional), de Martins et al (2004); e realizadas 16 entrevistas para
identificar esses conflitos, na percepção das categorias envolvidas. Foram analisadas as
relações entre o nível de estresse e o clima organizacional com as variáveis sexo, área de
atuação e tempo de serviço dos pesquisados. Os resultados mostraram que a unidade não
atingiu o nível indicativo de estresse, mas alguns fatores apresentaram um escore relevante
quando levado em consideração o tempo de serviço dos pesquisados. O clima organizacional
foi apurado como razoável, mas com considerações peculiares quanto à área de atuação e sexo
dos pesquisados. As entrevistas foram tratadas pela análise de conteúdo, segundo as
orientações de Bardin (2011). Os conflitos mencionados por cada área foram registrados e a
falha no processo de comunicação e a falta de integração das equipes foram apontadas como
as principais causas responsáveis por eles. Apesar da existência de conflitos relevantes entre
os pesquisados, que poderiam resultar num clima organizacional ruim e num nível de estresse
alto, foi constatado que há uma coesão do grupo, principalmente entre os trabalhadores da
enfermagem – como estratégia de defesa - e uma tendência ao não enfrentamento das outras
equipes com os médicos - uma vez que a instituição avaliada trata-se de uma cooperativa
médica. Os achados desse estudo podem contribuir para o entendimento das causas desses
embates e incentivar a busca de alternativas para administrá-los de forma produtiva para a
organização e seus clientes.
Palavras-chave: Conflitos. Pronto Socorro. Estresse. Clima Organizacional.
ABSTRACT
The aim of this study was to identify conflicts between workers of a unit of
Emergency / Urgency and that can interfere with quality customer service health. The issue is
relevant for the perception in recent years, how these conflicts endanger the quality and
treatment of the sick. We conducted an exploratory and descriptive, qualitative and
quantitative approach in the Emergency Unit of a private hospital in the metropolitan area of
Recife / PE. The sample was composed of three professional areas. 33 questionnaires were
distributed to identify the stress level and the organizational climate of unit, using a reduced
version of the TSE (Work Stress Scale), Tamayo and Pascoal (2004), and ECO
(Organizational Climate Scale), Martins et al (2004), and conducted 16 interviews to identify
such conflicts, the perception of the categories involved. We analyzed the relationship
between stress level and the organizational climate variables such as sex, area and length of
service of respondents. The results showed that the unit has not reached the level indicative of
stress, but some factors showed a significant score when taken into consideration the length of
service of respondents. The organizational climate was found to be reasonable, but with
considerations peculiar about the area and sex of respondents. The interviews were addressed
by the content analysis, according to the guidelines of Bardin (2011). The conflicts listed for
each area were recorded and failure in the communication process and the lack of integration
of the teams were cited as the main causes responsible for them. Despite the existence of
conflicts between the relevant surveyed, which could result in poor organizational climate and
a high level of stress, it was found that there is group cohesion, especially among nursing
workers - as defense strategy - and a tendency to not facing the other teams with doctors since the institution evaluated it is a medical cooperative. The findings of this study may
contribute to the understanding of the causes of these conflicts and encourage the search for
alternatives to manage them productively to the organization and its customers.
Keywords: Conflict. Emergency Room. Stress. Organizational Climate.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - O processo de pesquisa ............................................................................................ 44
Quadro 1 - Níveis dos conflitos ................................................................................................ 25
Quadro 2 - ECO – Fatores, definições e itens ......................................................................... 49
Quadro 3 - Conflitos relatados pelos entrevistados .................................................................. 81
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Quantidade de colaboradores por função que trabalham na unidade pesquisada ... 47
Tabela 2 - Dados demográficos dos profissionais pesquisados ................................................ 57
Tabela 3 - Médias da Escala de Estresse no Trabalho (EET) por Itens ................................... 58
Tabela 4 - Médias da Escala de Estresse no Trabalho (EET) por tempo de serviço ................ 60
Tabela 5 - Médias da Escala de Clima Organizacional (ECO) ................................................ 62
Tabela 6 - Médias da Escala de Clima Organizacional por área de atuação ............................ 63
Tabela 7 - Médias da Escala de Clima Organizacional por sexo ............................................. 63
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11
1.1 Objetivo Geral .................................................................................................................. 16
1.2 Objetivos Específicos ........................................................................................................ 16
1.3 Justificativas ...................................................................................................................... 17
1.3.1 Justificativa Teórica ...................................................................................................... 17
1.3.2 Justificativa Prática ....................................................................................................... 18
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 20
2.1 O que é Hospital?.............................................................................................................. 20
2.2 Conflito .............................................................................................................................. 23
2.3 Grupos versus Equipes ..................................................................................................... 29
2.4 Stress e Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) ............................................................ 32
2.4.1 Stress ............................................................................................................................... 32
2.4.2 Qualidade de Vida no Trabalho (QVT)....................................................................... 36
2.5 Clima Organizacional ...................................................................................................... 38
3 METODOLOGIA................................................................................................................ 41
3.1 Natureza da Pesquisa ....................................................................................................... 41
3.2 Delineamento da Pesquisa ............................................................................................... 43
3.2.1 Locus da Investigação.................................................................................................... 45
3.3 Características dos Pesquisados ...................................................................................... 46
3.4 Métodos de Coleta dos Dados .......................................................................................... 47
3.5 Pré-Teste ............................................................................................................................ 50
3.6 Métodos de Análise dos Dados ........................................................................................ 51
3.7 Limites e Limitações ......................................................................................................... 53
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................................... 56
4.1 Análise Descritiva das Variáveis ..................................................................................... 56
4.2 Média dos Itens Analisados pela Escala de Estresse no Trabalho (EET), de Paschoal
e Tamayo (2004) ............................................................................................................... 56
4.3 Média dos Itens Analisados pela Escala de Clima Organizacional (ECO), de Martins
et al (2004)......................................................................................................................... 61
4.4 Análise de Conteúdo ......................................................................................................... 64
4.4.1 Conflitos Relatados pelos Profissionais da Área Administrativa .............................. 64
4.4.2 Conflitos Relatados pelos Profissionais da Área de Enfermagem ............................ 71
4.4.3 Conflitos Relatados pelos Profissionais da Área Médica ........................................... 77
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES ....................................................................................... 82
5.1 Conclusões ......................................................................................................................... 82
5.2 Sugestões para Estudos Futuros...................................................................................... 88
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 89
APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista Área Administrativa ............................................ 97
APÊNDICE B – Roteiro de Entrevista Área Médica .......................................................... 98
APÊNDICE C – Roteiro de Entrevista Área de Enfermagem ........................................... 99
ANEXO A – Caderno de Questionários ............................................................................. 100
11
1 INTRODUÇÃO
As naturais demandas sociais geradas na intimidade da sociedade incluem o hospital
no rol das instituições fundamentais da comunidade, como o são as escolas, as organizações
políticas e as instituições religiosas. Sua importância pode bem ser avaliada pelo grau de
relações que o hospital mantém com os indivíduos em particular e com a coletividade em
geral, resultante do papel essencial da instituição hospitalar em momentos fundamentais da
vida das pessoas, no nascimento, na doença e na morte (GONÇALVES, 1998).
Segundo Antunes (1991), todas as cidades, em todas as épocas, mobilizam-se de
alguma maneira para tentar dar conta da necessidade de atenção aos doentes, sendo que os
templos, conventos e mosteiros estão entre as primeiras instituições a receber essas pessoas,
providenciando-lhes atenções especiais. As organizações especificamente médicas surgem,
por motivos de ordem econômica e militar, no Império Romano. Na Idade Média existia a
crença de que a assistência espiritual era o remédio para doenças e outros males, o que faz
com que os hospitais de então sejam mantidos, em sua maioria, pela cristandade. Eram locais
destinados a oferecer alimento e abrigo aos pobres, viajantes e doentes sem casa, daí a origem
latina da palavra hospital (Hospitalis) que vem de Hospes (Hóspedes).
De acordo com Zoboli (2002), é o processo de transformação pelo qual passa o
hospital, de abrigo para pobres e viajantes a centro de diagnóstico e tratamento de alta
tecnologia, tornando necessário mais recursos para seu financiamento e exigindo mudanças
em sua organização administrativa, que requer a introdução da forma empresarial de organizar
e estruturar o trabalho nos hospitais.
O aumento da demanda, a necessidade de inovação tecnológica constante, a pressão
pela redução de custos, o aumento significativo da oferta de serviços médicos e a baixa
remuneração dos serviços (seja pelo Sistema Único de Saúde (SUS), seja pelas seguradoras de
12
saúde) têm impulsionado os hospitais a realizarem esforços para, não só sobreviverem, mas,
se sobressaírem junto aos concorrentes. Preocupações com lucro, eficiência, eficácia,
satisfação do cliente, qualidade, entre outros pontos, passam a fazer parte da rotina da gestão
da área de saúde.
Gonçalves (2002) caracteriza uma instituição hospitalar como sendo organizações
complexas, visto que necessita de uma diversidade de cargos, funções, departamentos e
equipes exigindo atividades fins inerentes a esta organização. São várias categorias
profissionais, com pontos de vista e formações diferentes, que devem trabalhar como uma
equipe bastante equilibrada e focada para que a satisfação do cliente de saúde seja atingida.
Nos dias de hoje, o fator humano tem importância decisiva no desempenho de uma
organização. A valorização e o reconhecimento das pessoas dentro das instituições propiciam
um clima organizacional saudável, resultando em colaboradores mais atuantes e
comprometidos. Em instituições de saúde – hospitais, clínicas e postos de saúde – onde o
serviço é oferecido para pessoas fragilizadas pela doença e vulneráveis com a situação, mais
do que em qualquer outra empresa, o fator humano é essencial (BERTELLI, 2004).
De acordo com Braga, Dyniewicz e Campos (2008), não somente a técnica capacita o
profissional a exercer atividades para as quais a academia o preparou. É necessário, também,
que os padrões comportamentais pessoais estejam em consonância com os propósitos do
trabalho para o efetivo relacionamento com os demais profissionais, a fim de oferecer
tratamento eficiente e eficaz aos pacientes. Ainda, segundo Cherubin (1998), os Recursos
Humanos são os principais componentes do hospital em sua prestação de serviço; são eles que
transportam e manifestam a imagem do hospital.
No entanto, Vendemiatti et al (2010) afirmam que a Gestão de Pessoas nas instituições
de saúde tem uma característica peculiar: uma dualidade no processo de gestão orientada por
vetores que, em alguns momentos, se colocam em posições antagônicas. De um lado
13
encontra-se o grupo de especialistas, composto por médicos, enfermeiros, psicólogos, entre
outros. Esse grupo utiliza a lógica da sua formação profissional em suas ações e é detentor de
poder tanto em função de seu conhecimento específico, como pelo ambiente de urgência e
risco. Por outro lado, tem-se o corpo gerencial, que não trabalha com ou sobre o doente, mas,
no sentido de que a atividade fim do hospital, se faça do melhor modo possível, utilizando-se
de uma lógica racionalizadora típica de empresa.
Nesse sentido, a estrutura organizacional dos hospitais abriga subculturas com
peculiaridades que demarcam campos de poder que se constituem em desafios para o processo
de gestão. A profissionalização da gestão hospitalar ocorre em um contexto dúbio: não
abandona a missão da saúde (função social), mas tem que lidar com a racionalização
característica dos processos de gestão (VENDEMIATTI et al., 2010).
Essa ideia também é compartilhada por Farias e Vaitsman (2002) quando ressaltam
que nas organizações hospitalares, a heterogeneidade das categorias profissionais aliada à
distribuição de poder típica das organizações de especialistas, torna mais complexos os
esforços de coordenação.
A complexidade das relações que se estabelecem nesses locais gera conflitos, dilemas
e sofrimento aos trabalhadores, com implicações éticas no atendimento à população (POLL;
LUNARDI; LUNARDI FILHO, 2008).
Segundo Gonçalves (2002), esses conflitos se iniciam geralmente devido à hegemonia
médica encontrada nos principais cargos gerenciais de um hospital. Já Alves e Brito (1999)
ressaltam que a cultura de formação inerente aos médicos e o tradicionalismo da profissão
transformam esses profissionais em “senhores absolutos”.
Santos e Filho (1995) afirmam que, mesmo constituindo o maior grupo de
profissionais e possuindo formação de nível superior, a enfermagem não tem autonomia para
discutir, questionar e deliberar junto ao médico sobre o andamento dos serviços prestados ao
14
paciente, sentindo-se desestimulada. Os autores destacam, nesse caso, os enfermeiros, que,
assim como a classe médica, possuem formação de nível superior.
E, em um terceiro grupo, tem-se o corpo gerencial, responsável por ações de controle e
direcionamento das atividades diárias. Logo, o processo administrativo ocorre na tensão entre
essas dimensões (VENDEMIATTI et al., 2010).
Para Mirshawka (1994), um dos sérios obstáculos para se estabelecer uma Gestão de
Qualidade Total nos serviços de saúde é a comunicação entre as equipes; muitas vezes tensa e
inadequada, e às vezes – o que é pior – praticamente inexistente.
Diante dessa complexidade, a Gestão de Pessoas nas instituições de saúde tende a
enfrentar desafios adicionais se comparada com a de outras organizações. Entretanto, o
conflito é um fato da vida em qualquer relação interpessoal e, no local de trabalho, é um
fenômeno natural e previsível que, quando administrado construtivamente, produz resultados
fundamentais para o sucesso da organização. Ideia também compartilhada por Robbins
(2009).
Segundo Lima e Bastos (2007), este tema tornou-se particularmente importante, nos
últimos vinte anos, quando os hospitais passaram a observar com empenho o quanto esses
conflitos estavam interferindo na relação do profissional de saúde versus paciente, pondo em
risco a qualidade e andamento do tratamento do enfermo.
Em uma pesquisa realizada por Boller (2003), com profissionais da área de
enfermagem de uma unidade de Pronto Socorro, com o objetivo de identificar fatores
desencadeantes de estresse e possíveis alternativas gerenciais e políticas para minimizá-los, os
“conflitos entre profissionais atuantes na unidade” foi identificado pelos entrevistados como
um dos principais fatores responsáveis pelo estresse da equipe. Ainda segundo a autora,
os trabalhadores de saúde estressados têm diminuído a capacidade de produção,
executam atividades com menor precisão, faltam ao trabalho, adoecem
frequentemente, trabalham tensos e cansados, são ansiosos e depressivos, com
atenção dispersa, desmotivados e se sentem com baixa realização pessoal
(BOLLER, 2003, p. 337).
15
Logo, torna-se vital a busca de meios eficazes para que se possa administrar os
conflitos. No entanto, o fundamental para encarar o conflito é entender a sua natureza e
identificar suas bases, ou seja, as situações que podem estar causando o conflito na equipe
(ALVES; MORESCHI, 2006). Com isso, delimitam-se as possibilidades de atuação das
lideranças na mediação desses conflitos, podendo proporcionar melhor qualidade de vida aos
profissionais da área, impactando diretamente na qualidade da prestação do serviço oferecido
aos clientes de saúde.
Reforçando essa linha de pensamento, Follet (HAMPTON, 1991) ressalta que não se
deve temer os conflitos, e que existe um modo destrutivo e um modo construtivo de se
proceder nesses momentos. Ressalta que, atuando de forma saudável, os resultados serão
benéficos ao grupo, resultando num progresso para a equipe.
Nos hospitais, a Unidade de Pronto Socorro é considerada uma das áreas com maior
complexidade de assistência e maior fluxo de atividades de profissionais e usuários. De
acordo com Oliveira et al (2004), é um ambiente onde o tempo é limitado, as atividades são
inúmeras e a situação clínica dos usuários exige, muitas vezes, que o profissional faça tudo
com rapidez para afastá-lo do risco de morte iminente. São essas unidades as responsáveis
pelo atendimento dos casos de Urgência e Emergência.
Levando em consideração tais características, pode-se verificar que os trabalhadores
das Unidades de Pronto Socorro estão sujeitos a um grande sofrimento psíquico e a desgastes
de relacionamento, tanto pelas características inerentes ao setor de saúde, como pelas
peculiaridades da área em que atuam, podendo comprometer o atendimento prestado ao
cliente de saúde.
Em virtude da experiência profissional de quinze anos na área hospitalar e, mais
especificamente, dez anos atuando como gestora em uma Unidade de Pronto Socorro, a autora
vivenciou diversos conflitos entre trabalhadores da área, resultando no desgaste psíquico-
16
emocional desses profissionais e interferindo diretamente na assistência dos usuários desses
serviços. Com a finalidade de obter um entendimento mais claro e minucioso sobre o assunto,
foi realizada uma pesquisa teórica e chegou-se à seguinte pergunta de pesquisa:
Quais os conflitos existentes entre os profissionais da equipe de trabalho de uma
Unidade de Pronto Socorro, que podem interferir na qualidade da assistência prestada
ao cliente, na percepção desses profissionais?
1.1 Objetivo Geral
Identificar os conflitos existentes entre os profissionais da equipe de trabalho de uma
Unidade de Pronto Socorro, que interferem na qualidade da assistência prestada ao cliente, na
percepção desses profissionais.
1.2 Objetivos Específicos

Avaliar o Clima Organizacional da unidade pesquisada e o nível de estresse dos
profissionais que compõem a equipe de trabalho desta unidade.

Identificar quais os entraves na assistência ao paciente, causados por conflitos entre os
trabalhadores da unidade pesquisada, que lidam diretamente com o paciente, na
percepção desses profissionais.
17
1.3 Justificativas
1.3.1 Justificativa Teórica
As organizações de saúde desempenham um papel principal na sociedade atual – elas
não só objetivam a cura e o tratamento, mas também, são vistas como lugar de ensino e
investigação biomédica, contribuindo decisivamente na prevenção de diversos males.
A análise dos conflitos existentes entre os profissionais que atuam em serviços de
saúde é de fundamental importância para a abordagem do tema da gestão do trabalho em uma
área com características bastante peculiares e, até mesmo para a gestão desses serviços como
um todo.
No nordeste brasileiro, Pernambuco tem-se destacado como centro de referência na
área de saúde. A economia do Nordeste tem experimentado expressivo crescimento e a taxa
média de crescimento do PIB da região tem superado a taxa de crescimento médio do Brasil.
Os setores produtivos passaram por um processo de modernização e o crescimento da
indústria e especialmente dos serviços superou o crescimento da agropecuária. A
infraestrutura expandiu-se e foi aperfeiçoada e o Nordeste obteve melhorias em seus
indicadores sociais – a expectativa de vida do nordestino passou de 48 para 70 anos
(VALENTE JR., 2010). Forma-se um ambiente propício para um crescimento das empresas
da região, mas, também, para a chegada de empresas de outras regiões, tornando a
concorrência mais acirrada e o consumidor mais esclarecido e exigente.
Pela pesquisa bibliográfica realizada, percebeu-se a carência existente no meio
científico brasileiro em relação a esse tema e uma carência maior ainda em pesquisas
realizadas na Região Nordeste. O nordeste brasileiro tem particularidades quanto ao seu
desenvolvimento econômico e social em relação às outras regiões do país, e o resultado dessa
18
pesquisa poderá fornecer esclarecimentos para a formulação de propostas gerenciais
específicas para a realidade da região. E também, formar uma base empírica que agrega dados
para a reflexão sobre as organizações de saúde no Brasil.
1.3.2 Justificativa Prática
Pernambuco, no nordeste brasileiro, tem destaque como centro de referência na área
de saúde, atraindo mais clientes e mais empresas concorrentes. Segundo dados da Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS), publicados pelo Jornal do Comércio em 01 jul 2012,
cresceu mais de 80,0% o número de usuários de planos de saúde na Região Metropolitana do
Recife. Ainda segundo a ANS, esse percentual é quase o dobro do observado na Região
Metropolitana de Salvador (45,4%) e muito acima do que foi observado em São Paulo
(26,4%) e Rio de Janeiro (51,2%). Esse fato contribuiu decisivamente para a lotação das
unidades de Pronto Socorro. ,uma vez que os pacientes não conseguem atendimento a curto
prazo nos consultórios e acabam procurando os hospitais para um atendimento mais rápido.
Inseridas nesse panorama, as instituições de saúde têm que fazer uso dos seus recursos
da forma mais racional possível, reduzindo seus custos e aumentando sua produtividade. Os
colaboradores têm um papel essencial no sucesso dessas organizações, já que a atividade
principal é a prestação do serviço de assistência à saúde – área em que o conhecimento
técnico e o empenho do profissional se sobrepõem aos recursos tecnológicos.
Uma vez que abrigam profissionais de diversas áreas que devem trabalhar em equipe,
e, por serem “instituições de especialistas”, na classificação de Vendemiatti et al (2010), os
conflitos tendem a surgir com maior intensidade, podendo pôr em risco, consequentemente, a
qualidade da assistência prestada ao paciente.
Diante dessas considerações, a Unidade de Pronto Socorro apresenta condições mais
favoráveis ao desenvolvimento da pesquisa, uma vez que as peculiaridades da área – grande
19
fluxo de usuários, alta complexidade da assistência, elevado número de atividades de
profissionais e tempo reduzido para a ação – podem propiciar maior desgaste psicológico dos
trabalhadores e, consequentemente, resultar em um ambiente mais conflituoso do que as
outras áreas hospitalares.
Ressalta-se que os resultados dessa pesquisa são de total interesse da alta gestão da
instituição pesquisada, já que poderão surgir métodos de trabalho mais eficazes para o alcance
dos objetivos organizacionais.
Justifica-se, portanto, a investigação dos conflitos entre os profissionais da equipe de
trabalho da unidade avaliada e que interferem na assistência ao paciente, na percepção desses
profissionais, uma vez que, conhecendo a natureza desses conflitos, os gestores das unidades
de Pronto Socorro poderão atuar na sua mediação, melhorando o Clima Organizacional e
alavancando o desempenho do grupo.
20
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para um entendimento mais amplo sobre o tema a ser pesquisado, faz-se necessário
um aprofundamento na literatura sobre tópicos como Conflitos, Grupos e Equipes, Stress e
Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) e Clima Organizacional. Considerando que o foco da
pesquisa é a identificação dos conflitos entre equipes em uma unidade de saúde (Hospital), e,
mais especificamente na unidade de Pronto Socorro, inicia-se o embasamento teórico pela
caracterização desse tipo de instituição.
2.1 O que é Hospital?
De acordo com Mirshawka (1994), a palavra hospital vem do latim hospitalis, adjetivo
derivado de hospes (hóspede, estrangeiro, viajante, conviva), significando também o que dá
agasalho, que hospeda. Entretanto, nos primórdios da era cristã, a terminologia mais usada foi
Nosocomium (lugar para tratar doentes, asilo de enfermos). Ainda, conforme referências do
mesmo autor, no início, os hospitais foram estabelecidos como instituições filantrópicas e
agências de auxílio aos pobres, sendo caracterizados como instituições religiosas e espirituais,
já que funcionavam em templos, igrejas e mosteiros. Isso foi resultado de uma característica
do sentimento da época medieval – o desejo da salvação, da santificação. As doações,
legados, oferendas, terras e construções proveram as bases financeiras do hospital da Idade
Média.
Segundo Foucault (1979), até meados do século XVIII, quem detinha o poder era a
parcela das lideranças religiosas, mas, a partir do momento em que o hospital é concebido
como um instrumento de cura e, a distribuição do espaço torna-se um instrumento terapêutico,
o médico passa a ser o principal responsável pela organização hospitalar. A partir daí, os
21
hospitais sofrem várias mudanças e, em virtude do fenômeno conhecido como
“empresarização do mundo”, os hospitais passam por um processo de transformação: de
organização social para empresa.
O que caracteriza o hospital moderno é, sobretudo, a ruptura conceitual, ou seja, a
passagem do “social” (prestação de assistência) para um conceito relativamente oposto, o de
prestação de serviços (GRAÇA, 2000).
Os hospitais, assim como as empresas, os partidos políticos, as associações sindicais,
as igrejas, entre outros, são organizações. E, como sendo uma organização, trata-se de uma
unidade social “intencionalmente construída e reconstruída a fim de atingir objetivos
específicos” (ETZIONI, 1980, p. 9).
No entanto, como afirmam Ruthes e Cunha (2007), o hospital moderno é uma
organização completa e complexa e, de acordo com Fontinele Júnior (2002), não pode ser
visualizado como uma empresa qualquer, já que é detentor de uma variedade única de setores
e serviços.
A organização hospitalar possui traços próprios e que perduram em sua essência
independente do contexto histórico em que estejam inseridas, e que, na interpretação de Graça
(2000), seriam:

Uma missão ou finalidade própria qualquer que seja o seu sistema de financiamento
ou o seu estatuto jurídico-legal;

É o local de trabalho de grupos socioprofissionais muito particulares;

Tem um sistema de poder e de autoridade, dada a importância do seu staff
profissional;

Tem um sistema técnico e organizacional de trabalho bastante peculiar, já que o seu
objeto de trabalho são seres humanos;
22

E, finalmente, possui uma cultura muito própria, ligada às questões da vida, da dor e
da morte.
O hospital é uma estrutura bastante complexa, de alto dinamismo operacional e com
atividades diversificadas. Além da atividade de assistência médica, funcionam ali setores que
poderiam desenvolver-se isoladamente fora dele, como a hotelaria, farmácia, lavanderia e
restaurante, sendo que cada um individualmente já tem a necessidade de uma gestão eficiente.
Assim, a gestão de um hospital é um desafio à medida que deve colocar todos esses
segmentos em funcionamento simultâneo, harmonioso, eficiente e economicamente viável
(RUTHES, 2000; OLIVEIRA, 2001).
Para que esse desafio seja vencido, a integração das equipes é vital, estimulando a
comunicação e os relacionamentos funcionais cruzados entre os participantes da organização.
Bertelli (2004) afirma que a abordagem da integração em liderança organizacional defende a
criação de um vínculo, não uma divisão entre as pessoas que administram uma corporação
moderna. Mas ressalta que:
O que se observa na grande maioria dos hospitais brasileiros é exatamente o
contrário: a liderança nas mãos de poucos, em geral dos médicos, e uma tendência
de separação entre as outras áreas e os serviços que se organizam sob uma forma
quase que de ‘pequenos feudos’, atrelados à rígida hierarquia do hospital. [...] Essa
criação de hierarquias poderosas, cadeias de comando e canais de comunicação
departamental dividida, rachou a organização (no caso, os hospitais) em unidades
funcionais autônomas (BERTELLI, 2004, p. 40).
Nesse ambiente tão peculiar e complexo está a Unidade de Pronto Socorro, que é
responsável pelo atendimento dos casos de urgência e emergência. A Resolução CFM n
1451/95 do Conselho Federal de Medicina, de 10 de março de 1995, estabelece nos
Parágrafos I e II do Artigo 1º as definições para os conceitos de urgência e emergência, a
serem adotadas na linguagem médica no Brasil:
“Parágrafo Primeiro – Define-se por URGÊNCIA a ocorrência imprevista de agravo à
23
saúde com ou sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistência médica
imediata.”
“Parágrafo Segundo – Define-se por EMERGÊNCIA a constatação médica de
condições de agravo à saúde que impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso,
exigindo tratamento médico imediato.”
Ambos os termos têm em comum serem quadros nosológicos graves que, se não
tratados, podem causar mal irreversível ou morte. Diferem: a Emergência, o aparecimento ou
agravamento é súbito e imprevisto, necessitando de solução imediata; a Urgência o
aparecimento é rápido e a solução pode ser em curto prazo.
Conhecendo as peculiaridades de uma organização hospitalar como empresa e a
especificidade do trabalho desenvolvido nas unidades de pronto socorro, fica mais fácil
entender os conflitos que possam existir nesse tipo de ambiente. Logo, a definição do que vem
a ser conflito, na visão dos autores pesquisados, será abordada no próximo tópico.
2.2 Conflito
O termo conflito vem do latim conflictu e significa embate dos que lutam, discussão
injuriosa, briga, pleito, conjuntura, colisão. Schermerhorn, Hunt e Osborn (1999) definem o
conflito como um processo que “ocorre sempre que houver desacordos numa situação social
com relação a questões importantes ou sempre que um antagonismo emocional cria atrito
entre pessoas ou grupos”.
Os conflitos sempre existiram, desde o início da humanidade. Pode-se perceber que
este é algo iminente à condição humana (ALVES; MORESCHI, 2006). Segundo Hodgson
(1996), para que haja conflito basta a existência de grupos. Cada pessoa tem suas
características, experiências, valores: enfim, cada indivíduo é único em sua essência. Logo,
24
cada pessoa reage de forma diferente às situações e, como resultado, os conflitos surgem,
conforme observado por Hodgson (1996), por divergência de interesses, de necessidades ou
de opinião.
Hampton (1991) define conflito “como um processo que começa quando uma parte
percebe que a outra parte frustrou ou vai frustrar seus interesses”. Para Shinyashiki (2002), o
conflito é causado pela interface de pessoas de diferentes grupos (hierárquicos, funcionais e
culturais).
Nota-se que os autores mencionados definem conflito de forma muito próxima,
sempre enfatizando o atrito, a frustração de interesses e o desacordo entre pessoas ou grupos;
o que dá à referida palavra um sentido negativo, que denota sofrimento, dor, desentendimento.
Este ponto de vista é uma herança das teorias clássicas de Administração, que teve como
principais autores Taylor, Fayol e Weber. Nas suas teorias, estes autores preconizavam a
eliminação de todas as fontes de conflito, a emoção, de todos os elementos “irracionais”, de
modo a produzir a organização mais produtiva possível (RAHIM, 2001).
A visão tradicional era consistente com as atitudes sobre comportamento de grupo
que prevaleciam nas décadas de 1930 e 1940. As conclusões obtidas de estudos como aqueles
realizados em Hawthorne, levaram o conflito a ser considerado como uma disfunção
resultante de falhas de comunicação, falta de abertura e de confiança entre as pessoas e um
fracasso dos administradores em atender às necessidades e aspirações dos funcionários
(ROBBINS, 2009).
Já no final da década de 40 até meados de 1970, uma visão de relações humanas
dominou as teorias sobre conflito. Segundo essa conceituação, o conflito é uma ocorrência
natural e por ser inevitável, deve ser aceito; e, em algumas ocasiões, pode ser benéfico para o
desempenho do grupo.
Conforme Robbins (2009), a mais recente perspectiva é conhecida como
25
interacionista, que além de defender que o conflito pode ser uma força positiva, encoraja a
sua existência, por acreditar que um grupo harmonioso e pacífico tende a tornar-se estático e
incapaz de responder à necessidade de mudança e inovação. Ainda segundo o mesmo autor, a
visão interacionista classifica os conflitos em funcionais e disfuncionais. Os primeiros são os
que melhoram o desempenho da equipe: são considerados construtivos. Já os disfuncionais
são os que atrapalham a equipe: são considerados destrutivos (MARTINELLI, 2006).
Os conflitos podem ter início por várias causas e podem ficar em um plano mais
ameno ou se agravarem, gerando hostilidades entre as partes. Segundo a visão de Nascimento
e El Sayed (2002), os conflitos possuem níveis, de acordo com sua evolução. Esses níveis
podem ser vistos no Quadro 1.
Já para Bowditch e Buono (1992), os conflitos possuem quatro níveis: Latente (as
partes ainda não percebem a mudança de clima, mas existe a fonte do conflito), Percebido (as
partes percebem o conflito, mas não se importam com ele), Sentido (momento de tensão e
“stress” entre as partes) e, o último nível, Manifesto (comportamentos agressivos).
Quadro 1 - Níveis dos conflitos
NÍVEIS
CARACTERÍSTICAS
Discussão
Estágio inicial. Tem como características a racionalidade e
Nível 1
objetividade.
Debate
As pessoas começam a demonstrar padrões de comportamento para
Nível 2
defender suas posições. A objetividade começa a diminuir.
Façanhas
As partes envolvidas passam a não acreditar nas alternativas sugeridas
Nível 3
pela outra parte.
Imagens Fixas Em virtude de experiências anteriores ou preconceitos, uma parte
Nível 4
começa a preconceber uma imagem da outra parte, desenvolvendo uma
postura mais rígida em relação ao seu posicionamento.
Loss of Face Etapa em que as partes ou uma delas se torna mais inflexível,
Nível 5
(“ficar com a defendendo sua posição “custe o que custar”.
cara no chão”)
Estratégias
Surgem as ameaças e a comunicação se torna mais rara.
Nível 6
Falta
de Aparecimento dos comportamentos destrutivos e as partes se tornam
Nível 7
humanidade
mais “frias”, desprovidas de sentimentos”.
Ataque
de Prevalece a auto-preservação. Preparação para atacar e ser atacado.
Nível 8
Nervos
Ataques
Nível mais crítico. Uma das partes se retira ou é derrotada.
Nível 9
Generalizados
Fonte: Nascimento; El Sayed (2002).
26
Percebe-se que, apesar das diferenças de classificação dos níveis de conflitos, os
autores mencionados concordam em que há um ponto de “estrangulamento” na comunicação,
quando as partes envolvidas partem para a agressão verbal, ou até mesmo, para a agressão
física, sendo as consequências negativas para todo o grupo. Daí a importância do gestor
compreender o processo, para evitar que esse ponto seja atingido, e o conflito possa ser
transformado em funcional.
Como visto anteriormente, o conflito sendo disfuncional, prejudica o desempenho de
todo um grupo. As consequências desse tipo de conflito aparecem com frequência nas
organizações e, na visão de Nascimento e El Sayed (2002), as mais visíveis são: o desvio dos
esforços e recursos para objetivos diversos dos objetivos da organização, interferência do
grupo de “perdedores habituais” na percepção e socialização de novos colaboradores e a
percepção estereotipada de indivíduos – “perdedores”, “ganhadores”, “culpados”, “inimigos”.
Um ponto importante ressaltado por esses autores é de que o chamado “comportamento
político na organização”, também inevitável, tem uma forte vinculação com o conflito, pois
sua relação é direta, ou seja, quanto mais conflito, mais comportamento político.
Entendendo o processo do conflito e a importância da sua administração por parte do
gestor, torna-se imprescindível o conhecimento das técnicas de administração de conflitos.
Contudo, para que o gestor possa aplicá-las, deve ter ou desenvolver habilidades pessoais de
comunicação e relacionamento interpessoal – congruência, assertividade, empatia,
neutralidade, saber ouvir, perguntar (ALVES E MORESCHI, 2006).
Considerando também que existem diferentes formas e estratégias, a administração de
conflitos consiste exatamente na escolha e implementação das estratégias mais adequadas
para se lidar com cada tipo de situação (NASCIMENTO; EL SAYED, 2002).
Mallory (1997) propõe cinco passos para lidar com o conflito: determinar a pessoa ou
o grupo em conflito, analisar a causa do conflito, analisar o melhor caminho ou uma
27
combinação deles para lidar com o conflito, fazer um plano e colocá-lo em prática.
Para Brandt (2001) o líder deve ouvir e estar atento ao conteúdo, sentimentos e a
relação entre a comunicação verbal e não verbal. De acordo com Rosso, Silva e Ciamponi
(2003), quando o conflito ocorre, a solução é “esfriar a cabeça e aprender a negociar”; já que a
comunicação fica mais difícil, uma vez que cada um gasta uma grande quantidade de energia
tentando provar que a sua posição é a correta.
Na visão de Schermerhorn, Hunt e Osborn (1999), os gestores deveriam
primeiramente utilizar abordagens indiretas para a solução dos conflitos. Seriam elas: a
redução da interdependência do fluxo de trabalho entre unidades ou pessoas, apelo às metas
comuns, uso da referência hierárquica, reprojeto organizacional e apelo às rotinas e mitos da
organização. Ainda, segundo os autores, existem as técnicas diretas de administração de
conflitos e que podem ser analisadas pela perspectiva de cada uma das partes na questão de
“quem ganha”:

Resolução Perde-Perde: resulta da administração do conflito por Evitação (todos os
envolvidos fingem que o conflito não existe e esperam que ele desapareça),
Acomodação (diminuir as diferenças entre as partes e destacar as semelhanças e áreas
de interesse) e Compromisso (uma das partes cede algo de valor para a outra);

Resolução Ganha-Perde: resulta de uma Competição (uma das partes vence pela força,
maior habilidade, dominância ou em consequência do comando autoritário). Logo,
uma das partes consegue o que quer em detrimento dos desejos da outra parte;

Resolução Ganha-Ganha: é obtida pela Colaboração (leva em consideração os
interesses de todas as partes envolvidas e busca um resultado satisfatório para todos).
28
Para Martinelli (2006) o uso com maior frequência de uma determinada técnica para
resolução de conflito depende muito de questões culturais. Os americanos, por exemplo,
defendem sempre a Colaboração, mas, na prática, utilizam muito a Acomodação. Já os
chineses, por terem uma postura coletivista, dão maior importância à harmonia, reduzindo as
manifestações de desacordo, fazendo uso da Acomodação.
De acordo com Wanderley (1998), os conceitos de administração de conflitos e
negociação estão tão próximos, que muitas vezes se confundem, uma vez que ambos se
relacionam à busca de objetivos, ao relacionamento interpessoal e à necessidade de tomar
decisões. Mussak (2010) acrescenta que é um tema recente e que tem duas vertentes: a dos
autores que acreditam que a negociação depende de teorias que devem ser aprendidas e a dos
autores que pensam que a negociação é uma atividade derivada da experiência prática.
A negociação é um processo de tomar decisões conjuntas quando as partes envolvidas
têm preferências diferentes (SCHERMERHORN; HUNT; OSBORN, 1999). Para Cohen
(1980), negociação é o uso da informação e do poder, com a finalidade de influenciar o
comportamento dentro de uma rede de tensão. Considerando que o processo de negociação
está presente em praticamente todas as relações humanas, é de vital importância o seu
entendimento por parte dos gestores. Colaiácovo e Colaiácovo (1999) entendem o processo de
negociação como um poderoso instrumento na solução de duas atividades sociais
fundamentais pela sua frequência e importância, que são o conflito e as transações.
Weeks (1992) expôs que para que um conflito seja resolvido de forma efetiva, é
necessário levar em consideração o futuro do relacionamento. Ele classifica o nível de
resolução do conflito em alto, médio e baixo. O alto nível de resolução é obtido quando se
chega a uma solução que atende tanto necessidades individuais como compartilhadas,
estreitando o relacionamento. O nível médio de resolução acontece quando as partes chegam a
um acordo quanto ao conflito naquele momento, sem maiores esforços para melhorar o
29
relacionamento no futuro. E, por último, o baixo nível de resolução é alcançado quando uma
das partes se submete às exigências da outra, ou quando o relacionamento é desfeito com
prejuízos mútuos.
Um ponto importante a ser observado é a relevância do processo de comunicação na
negociação. Mussak (2010), definindo a comunicação humana como um processo constituído
por palavras, inflexão da voz e linguagem corporal, ressalta que as palavras devem traduzir
com exatidão o que se deseja comunicar, a inflexão da voz denuncia o estado emocional do
indivíduo no momento em que ele fala e a linguagem corporal deve estar em harmonia com o
que está sendo dito, porque pode confirmar ou desfazer essa comunicação.
Finalizando a abordagem sobre conflitos, Martinelli e Almeida (1998) citam oito
passos que consideram essenciais para a administração de conflitos: Criar uma atmosfera
afetiva, esclarecer as percepções, focalizar-se em necessidades individuais e coletivas,
construir um poder positivo compartilhado, olhar para o futuro e aprender com o passado,
gerar opções, desenvolver “degraus” para a ação e estabelecer acordos de benefícios mútuos.
Entendendo que os conflitos surgem em várias situações da vida das pessoas e que,
nesse trabalho está sendo focalizado o conflito no ambiente organizacional, torna-se
necessário um maior entendimento do papel desempenhado pelos indivíduos no ambiente
corporativo. Daí, o próximo tópico abordará os conceitos de Grupo e Equipe de Trabalho.
2.3 Grupos versus Equipes
De acordo com Moscovici (1994), Grupos e Equipes não são a mesma coisa. Um
grupo de trabalho é aquele onde os indivíduos compartilham informações e tomam decisões
que ajudam cada membro a desempenhar as funções em sua área de responsabilidade. Já em
uma equipe de trabalho, os esforços individuais resultam em um nível de desempenho maior
30
do que a soma das entradas individuais. Sintetizando: nos grupos de trabalho o objetivo é o
compartilhamento de informações, a sinergia entre os indivíduos é neutra, a responsabilidade
é individual e as habilidades são aleatórias e variadas. Nas equipes de trabalho o objetivo é o
desempenho coletivo, a sinergia é positiva, a responsabilidade além de individual, é mútua e,
as habilidades são complementares.
Casado (2002) inclui o conceito de time. Para a autora, o grupo enfoca
prioritariamente as ligações afetivas entre os componentes, enquanto a equipe volta-se
principalmente para o resultado. Já o time reúne os aspectos emocionais presentes no conceito
de grupo com a noção de responsabilidade pelo resultado presente no conceito de equipe.
De acordo com o objetivo para o qual foram criadas, as equipes são classificadas, na
interpretação de Robbins (2009), em: de resolução de problemas (os membros trocam ideias
ou oferecem sugestões sobre processos e métodos de trabalho a serem melhorados), as
autogerenciadas (grupos de funcionários que realizam trabalhos relacionados e assumem a
coordenação do grupo), as multifuncionais (formadas por indivíduos de mesmo nível
hierárquico, de diferentes setores, e que se reúnem para cumprir uma tarefa específica) e,
finalmente, as virtuais (os membros interagem através da tecnologia da informação, a
presença física é dispensável).
Para Schermerhorn, Hunt e Osborn (1999), há três tipos de equipes: as que
recomendam coisas (criadas para solucionar problemas específicos, são desativadas depois
do término do trabalho), as que fazem coisas (grupos funcionais que executam tarefas em
andamento e são consideradas permanentes) e as que dirigem as coisas (equipes gerenciais
que lideram outros grupos). Os autores ressaltam que o trabalho em equipe e o alto
desempenho não ocorrem naturalmente em um grupo: tanto os membros do grupo quanto os
líderes precisam trabalhar para alcançá-los.
Os grupos possuem normas, que são ideias ou crenças a respeito do comportamento
31
que se espera dos seus membros (FELDMAN, 1984). Quando algum membro viola uma regra
do grupo, os outros reagem de modo a restaurar a norma através de reações como uma crítica
direta, expulsão, repreensão, entre outras.
Inúmeras pesquisas desenvolvidas para identificar as principais características do
profissional do futuro apontam a habilidade de trabalhar em time como uma das favoritas,
pois modelos de organização mais integrados, nos quais a informação e os resultados são
compartilhados, estão surgindo e se consolidando (CASADO, 2002).
De acordo com Shaw (1971), coesão do grupo é o grau segundo o qual os membros
são atraídos e motivados a continuarem fazendo parte daquele grupo. A coesão tende a ser
alta em grupos pequenos, onde há respeito entre os membros pela competência de cada um, há
uma concordância quanto às metas a serem atingidas e atuam em tarefas interdependentes.
Nos grupos onde há uma proximidade dos membros quanto à idade, atitudes, experiências e
formações acadêmicas, a coesão também tende a ser alta. Nos grupos isolados ou nos
momentos de crise ou sucesso, a coesão aumenta como resultado do “comportamento de
manutenção”.
No entanto, Schermerhorn e colaboradores (1999) ressaltam que nem sempre a coesão
é benéfica para a organização. É verdade que, em um grupo coeso, as pessoas se tornam mais
participativas, se ausentam menos e procuram manter um relacionamento positivo com os
outros membros. Entretanto, quanto mais coeso o grupo, maior a conformidade dos membros
às suas normas. Se as normas forem positivas, o desempenho do grupo tende a ser positivo; já
se as normas forem negativas, os resultados alcançados pelo grupo podem ser insuficientes.
O trabalho em equipe é importante para o relacionamento interpessoal de seus
integrantes, o que, consequentemente, conduz para a melhoria no ambiente organizacional, de
forma que poderá trazer benefícios à organização (MUSSAK, 2010). Robbins (2009) alerta
que, o desafio de fazer com que os membros atuem como integrantes de uma equipe é maior
32
em duas situações: quando a cultura organizacional é altamente individualista e quando as
equipes são inseridas em uma organização que valoriza as realizações individuais.
Entretanto, para que uma equipe ou time de trabalho obtenha uma performance
significativa e atenda às expectativas dos seus membros e da organização, torna-se vital que a
organização invista em políticas de Recursos Humanos voltadas à redução do stress no
ambiente corporativo e à melhora da qualidade de vida dos seus colaboradores. Felício Jr.
(2004) reforça essa ideia quando afirma que muitas dessas práticas de RH constituem formas
de atenuar os conflitos e tornar mais sutis as formas de controle sob a égide das ideias de
integração e de cooperação.
Para um melhor entendimento da questão, o próximo ponto irá abordar os conceitos de
STRESS e QVT na interpretação dos autores pesquisados.
2.4 Stress e Qualidade de Vida no Trabalho (QVT)
2.4.1 Stress
Hans Seley, um recém-formado médico canadense, ao realizar uma pesquisa em
animais, nos anos 30, observou que, quando se submete um organismo vivo a estímulos que
põem em risco o seu equilíbrio orgânico, ele manifesta um conjunto de respostas não
específicas que são desencadeadas involuntariamente. Esse processo foi batizado de Síndrome
Geral de Adaptação, e as manifestações que são por ele geradas no organismo foram
denominadas stress.
Ainda segundo Seley (1965), a Síndrome Geral de Adaptação consiste de três fases:
1. Reação de Alarme: o instinto é de oscilar entre enfrentar o perigo ou fugir dele. Há
aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial e da frequência respiratória,
33
aumento da glicose e da circulação de glóbulos vermelhos e brancos no sangue,
dilatação das pupilas, broncodilatação e ansiedade.
2. Fase de Resistência: quando a exposição do indivíduo aos fatores causadores do stress
torna-se duradoura. Como reações fisiológicas, tem-se o aumento do córtex da
glândula supra-renal, irritabilidade, insônia, oscilações de humor, diminuição da
libido, gastrite e úlceras pépticas. As doenças psicossomáticas se instalam.
3. Fase da Exaustão: os mecanismos de adaptação tornam-se falhos, e o organismo
regride à reação de alarme, não conseguindo mais responder às demandas e ficando
mais suscetível a eventos de alta gravidade, podendo, inclusive, chegar à morte.
Seley (1965) também divide o stress em dois tipos:
1. Eustress: também conhecido como stress positivo e caracteriza-se pela tensão com
equilíbrio entre esforço, tempo, realização e resultados.
2. Distress: caracteriza-se pela tensão com o rompimento do equilíbrio orgânico
dinâmico por excesso ou falta de esforço, incompatível com o tempo, realização e
resultados.
A palavra stress, originária da língua inglesa, foi adaptada para a língua portuguesa
como “estresse”, inclusive, constando em dicionário. O termo passou a ser utilizado não só na
medicina, mas também na psicologia e em todos os campos que se relacionam com elas:
escola, família, sociedade, trabalho, entre outros (AZEVEDO; KITAMURA, 2006 ).
De acordo com Schermerhorn, Hunt e Osborn (1999), os estressores, ou coisas que
causam o estresse, podem vir do trabalho, de fora dele e de fatores pessoais. E acrescentam
que, no trabalho, o estresse tem origem em muitas fontes e citam como exemplos as
exigências da tarefa, ambiguidades do papel, conflitos do papel, dilemas éticos, problemas
34
interpessoais, ambiente físico e desenvolvimento de carreira. Os autores ressaltam que, como
é muito difícil separar a vida pessoal da profissional, os estressores pessoais (acontecimentos
familiares, dificuldades econômicas, entre outros) podem afetar o comportamento do
indivíduo tanto dentro como fora do ambiente de trabalho. Considerando tal afirmação,
Martins (2010) ressalta que, um mesmo trabalho, num mesmo contexto de uma organização,
pode ser considerado estimulante e desafiador para um trabalhador, e estressante e
desmotivador para outro.
A saúde, o bem-estar e o trabalho são fenômenos que se inter-relacionam, podendo
afetar não apenas o empregado, mas também as organizações (TEIXEIRA; ZACCARELLI,
2008).
Na definição do National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH,
1999), o estresse ocupacional é entendido como as respostas físicas e emocionais nocivas que
ocorrem quando as exigências do trabalho não são compatíveis com as capacidades, os
recursos ou as necessidades do trabalhador, podendo conduzir a um estado de saúde precário e
até a danos irreversíveis.
Schermerhorn, Hunt e Osborn (1999) ressaltam essa linha de pensamento quando
afirmam:
Não há dúvida de que o estresse causa impacto sobre a saúde das pessoas. É uma
fonte potencial de ansiedade e frustração, e ambos podem prejudicar o bem-estar
fisiológico e/ou psicológico no decorrer do tempo. Problemas de saúde relacionados
com o estresse incluem ataques cardíacos, infartos, hipertensão, enxaquecas
constantes, úlceras, abuso de medicamentos, abuso de alimentos, depressão e dores
musculares, dentre outros (SCHERMERHORN; HUNT; OSBORN, 1999, p. 291).
O estresse excessivo acaba minando as condições físicas e mentais de uma pessoa e
pode ser identificado através de sinais como absenteísmo, rotatividade, erros, acidentes,
insatisfação,
desempenho
reduzido
e
até
mesmo
comportamento
anti-ético
(SCHERMERHORN; HUNT; OSBORN, 1999).
Na Lista das Doenças Relacionadas ao Trabalho (MINISTÉRIO DA SAÚDE DO
35
BRASIL, 2001), há várias formas de apresentação do estresse relacionadas ao trabalho e,
entre estas, a que mais se destaca nos serviços de saúde é a Síndrome do Esgotamento
Profissional. Também chamada de Síndrome de Burn-out, que significa “queimar por
completo”, foi assim denominada pelo psicanalista americano Herbert J. Freudenberger, no
início dos anos 70, após diagnosticá-la em si mesmo.
Uma das definições mais aceitas na comunidade científica é a fundamentada na
perspectiva social-psicológica, onde a Síndrome de Burn-Out é entendida como um processo
constituído por três dimensões: Exaustão Emocional (EE), Despersonalização (DE) e Baixa
Realização Profissional (BRP). A EE caracteriza-se pela falta de energia, entusiasmo e
sentimento de esgotamento de recursos. A DE faz com que o profissional demonstre
insensibilidade e afastamento dos clientes e colegas. Já a BRP causa um sentimento de
diminuição de competência e de sucesso no trabalho.
Essa síndrome incide principalmente em profissionais que mantêm uma relação direta
e constante com outras pessoas, que prestam assistência ou são responsáveis pelo
desenvolvimento e cuidado de outros (BENEVIDES-PEREIRA, 2002; CORDES;
DOUGHERTY, 1993; RODRIGUEZ-MARÍN, 1995). Para Lautert (1997), alguns fatores
explicariam a maior incidência dessa síndrome nos trabalhadores da saúde, como: o rápido
desenvolvimento tecnológico, a divisão e expansão das especialidades médicas, desenhando
um complexo sistema de divisão do trabalho, elevada hierarquia de autoridade, grande
conjunto de regras e normas para funcionamento e duas linhas paralelas de autoridade, a
administrativa e a profissional.
Bohlander, Snell e Sherman (2003) afirmam que a questão do estresse no trabalho tem
sido muito divulgada e o número de pedidos de indenização de trabalhadores por estresse
mental tem crescido desde a década passada. Acrescentam que, muitas empresas têm
desenvolvido programas de gerenciamento do estresse, tentando minimizar os efeitos
36
negativos dele no ambiente organizacional. Já Robbins (2009), enfatiza que qualquer tentativa
de redução de estresse deve começar pela seleção de pessoal e cita outras medidas como:
melhoria da comunicação organizacional, replanejamento do trabalho, os programas de
aconselhamento, além de programas de atividades físicas.
2.4.2 Qualidade de Vida no Trabalho (QVT)
O termo Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) tem sido abordado por diversos
autores e tem um conceito bem mais abrangente que o de estresse ocupacional. Atualmente, o
conceito de QVT envolve tanto os aspectos físicos e ambientais, como os aspectos
psicológicos do local de trabalho, sendo utilizado com frequência como um importante
indicador das experiências humanas na organização e do grau de satisfação dos trabalhadores
(CHIAVENATO, 2008).
A European Foundation (2002) ressalta que promover a Qualidade de Vida significa
promover a qualidade do trabalho e do emprego tendo como ponto de partida os seguintes
objetivos:

garantir a segurança na carreira e no emprego, assegurando a empregabilidade, a
renda, a proteção social e o direito dos trabalhadores;

manter e promover a saúde e o bem-estar dos trabalhadores através dos cuidados à
saúde e à exposição a riscos no trabalho, e de uma organização do trabalho mais
adequada e eficaz;

desenvolver habilidades e competências através de qualificação, do treinamento e do
desenvolvimento na carreira;

reconciliar a vida fora e dentro do trabalho através da redução ou adequação da
37
extensão da jornada de trabalho, da flexibilização do tempo dedicado ao trabalho e da
criação de estruturas sociais de apoio.
De acordo com Walton (1973), um dos primeiros pesquisadores a conceituar a QVT,
esta significa a humanização do trabalho. Envolve o atendimento às necessidades e às
aspirações do trabalhador pela reestruturação do desenho de cargos e de novas formas de
organizar o trabalho. O autor propõe um modelo conceitual composto de oito categorias,
objetivando avaliar a QVT nas organizações. São elas:
1. compensação justa e adequada;
2. condições de trabalho (condições físicas do ambiente e jornada de trabalho);
3. uso e desenvolvimento da capacidade humana, possibilitando que o trabalhador
reconheça a importância e utilidade do seu trabalho, promovendo a realização
profissional;
4. oportunidades futuras para crescimento contínuo e segurança;
5. integração social na organização entre trabalhadores de níveis hierárquicos iguais e
diferentes;
6. o constitucionalismo na organização de trabalho, referindo-se aos direitos e deveres
dos trabalhadores;
7. o equilíbrio entre o trabalho e a vida privada do trabalhador;
8. a importância social da atividade do empregado, referindo-se ao respeito que a
organização tem por seus trabalhadores.
Limongi-França e Arellano (2002) afirmam que toda pessoa é um complexo
biopsicossocial, ou seja, composta por fatores biológicos, psicológicos e sociais que
correspondem às condições de vida; e, acrescenta que a saúde passa a ter um significado mais
38
amplo, significando o completo bem-estar biológico, psicológico e social. Os autores
complementam que, havendo aumento na qualidade de vida no trabalho, haverá uma melhora
da produtividade, propiciando o alcance dos objetivos empresariais, auxiliando a organização
a enfrentar o ambiente competitivo e a comprometer as pessoas com o negócio da empresa.
O levantamento das necessidades de QVT pode ser realizado de algumas formas:
levantamento de frequência de acidentes de trabalho, movimento no ambulatório, auditoria
interna, diagnóstico de clima organizacional, entre outros. No próximo tópico será abordado o
conceito de clima organizacional, indispensável para o embasamento da pesquisa.
2.5 Clima Organizacional
Para Fleury e Sampaio (2002), a ideia de clima organizacional remete à noção de
clima metereológico e retrata um estado momentâneo da organização, que pode ser alterado
por um evento ou notícia. Difere da cultura, que consiste em um fenômeno mais complexo e
profundo, que remete às origens da organização. Os autores definem clima organizacional
como o “termo empregado para definir o conjunto de satisfações e insatisfações dos membros
de uma organização em determinado período, geralmente identificado através de pesquisas
calcadas em percepção e opinião”.
Na interpretação de Knapik (2008), clima organizacional é o ambiente psicológico que
existe dentro de um departamento ou empresa: é aquela condição interna percebida pelas
pessoas e que influencia seus comportamentos. Está ligado à motivação da equipe, aos
aspectos internos da organização que conduzem a diferentes níveis ou tipos de motivação e
dão origem a comportamentos que podem ser favoráveis e benéficos ou desfavoráveis e
prejudiciais ao trabalho.
39
Clima é a percepção que os subordinados têm sobre seus superiores. É construído ao
longo do tempo, em função de experiências e situações vividas e ainda é a reação
comportamental dos subordinados aos estímulos proporcionados pela sua liderança.
(HAYGROUP, 1993).
De acordo com Lima e Albano (2002), o clima terá sua origem dentre os valores e
tradições que cada um dos envolvidos no processo traga para dentro da organização, sendo
que esses pressupostos influenciarão diretamente no estilo gerencial ou de liderança.
Como afirma Guerra (2000), atualmente, o Capital Intelectual (conjunto de ideias,
conceitos, metodologias e ferramentas que permitem atuar junto às pessoas) deve ser
entendido como valor intangível e que se torna uma vantagem competitiva para a empresa, já
que dinheiro e tecnologia estão ao alcance de todos. Logo, esse “capital”, composto por
PESSOAS, deve ser gerido de forma a atrair e manter os talentos na organização. Nesse
sentido, a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) ou o Clima Organizacional passam a ser
metodologias capazes de fornecer os indicadores de satisfação ou insatisfação dos
empregados, fornecendo elementos para a tomada de ações gerenciais.
É justamente em função do clima organizacional que algumas empresas atraem mais e
outras menos candidatos a um posto de trabalho. Não existe um clima ideal, mas as pessoas
devem identificar-se com a empresa e seu ambiente de trabalho para manter um alto nível de
motivação (KNAPIK, 2008).
Mussak (2010) também concorda com esse raciocínio quando afirma que o clima
interno das organizações é um fator crítico de sucesso, já que apenas conhecendo a percepção
coletiva e viabilizando ações para solucionar os pontos críticos e ampliar os pontos positivos é
que a organização pode melhorar o ambiente e, consequentemente, os resultados. Daí a
importância de se avaliar o clima organizacional.
O clima organizacional pode ser percebido de várias formas: como os funcionários
relacionam-se, suas expressões e atitudes, o modo como o trabalho está sendo realizado, o
absenteísmo, o turnover, a participação em eventos, entre outros. Segundo Luz (2003), as
40
pichações nos banheiros, as greves, conflitos interpessoais e interdepartamentais constantes,
desperdícios de material e queixas nos serviços médicos são importantes indicadores de como
está o clima na empresa. O autor ainda alerta que esses são apenas indicadores e não uma
estratégia de avaliação do clima, e cita como estratégias a “Linha direta com o presidente”,
“Café da manhã com presidente/diretores/gerentes” e a Pesquisa de clima organizacional.
A pesquisa de clima organizacional é uma ferramenta objetiva e segura, isenta de
comprometimento com a situação atual, em busca de problemas reais na gestão dos Recursos
Humanos. A análise, o diagnóstico e as sugestões, proporcionados pela pesquisa, são valiosos
instrumentos para o sucesso de programas voltados para a melhoria da qualidade, aumento da
produtividade e adoção de políticas internas (BISPO, 2006).
Coda (1997) ressalta que a efetividade de uma pesquisa depende da decisão política
por parte da alta gestão quanto a objetivos, itens a serem pesquisados, como os colaboradores
serão informados e, o mais importante, como os resultados serão administrados.
Vários autores desenvolveram modelos para o estudo do clima organizacional de
acordo com fatores como responsabilidade, liderança, consideração humana, entre outros, que
seriam capazes de mensurar o clima. Pode-se citar os modelos de Litwin e Stringer (1968),
que utiliza um questionário baseado em nove fatores, o de Kolb et al (1978), que utiliza uma
escala de sete fatores, e o de Sbragia (1983), que leva em consideração vinte fatores. De
acordo com Bispo (2006), todos os métodos apresentam algumas lacunas e deve-se avaliar
qual o melhor método a ser aplicado de acordo com o tipo de organização.
Luz (2003) afirma que administrar o clima passou a ser uma ação estratégica para
todas as organizações e questiona “como se pode alcançar a qualidade dos produtos ou
serviços se não houver qualidade na vida pessoal e profissional de quem os faz, se não houver
qualidade no clima organizacional?”.
A seguir, será apresentada a metodologia utilizada para o desenvolvimento da
pesquisa.
41
3 METODOLOGIA
Este capítulo apresenta os procedimentos metodológicos utilizados na investigação das
questões de pesquisa, que teve como objetivo saber quais os conflitos existentes entre os
profissionais da equipe de trabalho de uma Unidade de Pronto Socorro, que interferem na
qualidade da assistência prestada ao cliente.
Após a coleta e análise dos dados, identificaram-se as possíveis causas desses
conflitos, gerando dados que podem auxiliar as lideranças na mediação desses conflitos, a fim
de produzir resultados positivos na integração da equipe e na qualidade do serviço prestado.
De acordo com Marconi & Lakatos (1991, p. 64), “a pesquisa é um procedimento
formal, com método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se
constitui no caminho para conhecer a realidade ou descobrir verdades parciais”.
Inicialmente será descrita a Natureza da Pesquisa juntamente com o seu
Delineamento. Em seguida será apresentado o Locus da Investigação, as Características
dos Pesquisados, os Métodos de Coleta de Dados, o Pré-Teste e os Métodos de Análise
dos Dados.
3.1 Natureza da Pesquisa
A metodologia utilizada para este estudo foi de cunho qualitativo e quantitativo.
De acordo com Leopardi (2002), o estudo qualitativo possibilita compreender os
fenômenos sensório-perceptivos de apreensão do real pelos sujeitos, permitindo retratar
aspectos dos sujeitos pesquisados que não poderiam ser alcançados com outro método.
Gomes (2004, p. 25) enfatiza que a “utilização da abordagem qualitativa possui a
facilidade de poder descrever a complexidade de uma determinada hipótese ou problema,
42
compreender e classificar processos dinâmicos experimentados por grupos dinâmicos, em
maior grau de profundidade, a interpretação das peculiaridades dos comportamentos ou
atitudes dos indivíduos”.
Logo, a pesquisa qualitativa é centrada no específico, sem preocupação em medir
unidades ou categorias homogêneas. Envolve um número menor de pesquisados,
possibilitando maior abertura por parte dos mesmos quanto ao assunto abordado.
No entanto, é importante ressaltar que uma das questões deste estudo procurou
identificar quais os conflitos que interferem na qualidade da assistência prestada ao paciente,
na percepção dos profissionais avaliados. Isso englobou uma pesquisa de clima
organizacional e uma para medir o nível de estresse dos profissionais, relacionando-as com os
dados demográficos dos pesquisados. Os resultados levantaram questões esclarecedoras sobre
o tema pesquisado.
É importante explorar e, sobretudo, cruzar de todas as formas possíveis dados
quantitativos e qualitativos para a geração de ideias, a verificação de hipóteses, a
elaboração de conclusões ou indicação de planos de ação, etc. O uso de técnicas
qualitativas e quantitativas permite, quando combinadas, estabelecer conclusões
mais significativas a partir dos dados coletados (FREITAS; JANISSEK-MUNIZ,
2008, p.1).
Quanto aos objetivos, tratou-se de uma pesquisa exploratória e descritiva. Para Gil
(2002), a pesquisa exploratória tem como objetivo familiarizar-se com um assunto ainda
pouco conhecido, tornando-o mais explícito ou formulando hipóteses. A pesquisa exploratória
se vale da intuição do pesquisador. Quanto à pesquisa descritiva, o autor afirma que o objetivo
principal é a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, ainda, o
estabelecimento de relações entre variáveis.
Constituiu-se em um estudo de caso, uma vez que, segundo Gil (2002), essa
metodologia tem sido usada em diferentes propósitos, como explorar situações da vida real
cujos limites não estão claramente definidos, formular hipóteses ou desenvolver teorias, entre
outros. Cooper e Schindler (2003) ressaltam que o estudo de caso enfatiza a análise contextual
43
completa de poucos fatos ou condições e suas inter-relações com um único sujeito ou
respondente. Essas conceituações se enquadraram no perfil desse estudo, já que este teve
como pretensão investigar um fato que ocorre em um ambiente específico e, os dados
coletados e analisados nessa organização podem formular hipóteses para esse mesmo tipo de
locus em outras organizações.
Analisando as definições e o fato de que a pesquisadora trabalhou na área de saúde
durante quinze anos, verificou-se que as classificações do tipo da pesquisa foram condizentes
com as questões levantadas no início desse trabalho.
3.2 Delineamento da Pesquisa
O Delineamento é a fase que fornece uma visão geral do planejamento da pesquisa, ou
seja, como a pesquisa vai acontecer. Conforme Gil (2002), o delineamento envolve tanto a
diagramação quanto a previsão de análise e interpretação de coleta de dados.
Essa fase é denominada de processo de pesquisa por Cooper e Schindler (2003), que
afirmam que esse processo começa no nível mais geral, com o problema de administração e,
progressivamente, origina as questões mais específicas. Os autores entendem que os passos ou
etapas traçadas não são fixos e ressaltam que podem ocorrer adaptações, enganos e saltos e
que alguns passos são iniciados fora da sequência, outros são desenvolvidos simultaneamente
e alguns podem ser omitidos.
Uma citação de Albert Einstein, em Cooper e Schindler (2003, p. 68), apoia essa
visão:
A formulação de um problema é muito mais essencial do que sua solução, que pode
ser simplesmente uma questão de capacidade matemática ou experimental. Levantar
novas questões, novas possibilidades e ver velhos problemas a partir de um novo
ângulo exige imaginação criativa e representa avanço real na ciência. (COOPER;
SCHINDLER, 2003, p. 68).
44
Na próxima página, será apresentada a figura 1, que representa o processo de
pesquisa que norteou esse estudo.
Figura 1 - O processo de pesquisa
FORMULAÇÃO DO PROBLEMA
Ambiente tenso, facilitando o surgimento de conflitos entre os profissionais de uma unidade de pronto
socorro e que podem prejudicar a qualidade do atendimento prestado aos clientes de saúde.
DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS
*Medição do Clima Organizacional da unidade e o nível de estresse dos profissionais
analisados.
* Identificação dos conflitos existentes entre os profissionais da equipe de trabalho em uma unidade
de pronto socorro e que podem interferir na qualidade da assistência prestada ao paciente;
PROPOSTA DE PESQUISA
Identificação do tipo de pesquisa quanto à abordagem (qualitativa e quantitativa), quanto aos objetivos
(descritiva e exploratória) e quanto ao procedimento técnico utilizado (dados fornecidos por pessoas - Estudo de
Caso)
*Definição das características dos pesquisados (profissionais com, no mínimo, um ano de atuação na
unidade pesquisada)
REALIZAÇÃO DO PRÉ-TESTE E DA COLETA DE DADOS
*Pré-teste para adequação do instrumento de coleta ao público alvo da pesquisa.
*Processo de coleta de dados através da realização de entrevistas e aplicação de questionários.
ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Análise estatística para os dados quantitativos e análise de conteúdo para os dados qualitativos.
REDAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
Fonte: Adaptado de Gil (2002)
45
As características do ambiente em que foi realizado o estudo serão apresentadas no
próximo tópico.
3.2.1 Locus da Investigação
O estudo foi realizado na unidade de Emergência/Urgência de um hospital particular
da região metropolitana do Recife. Segundo dados coletados a partir do site da empresa, o
hospital escolhido pertence a um grupo que conta ainda com mais dois hospitais e cinco
unidades de atendimento, localizados em pontos estratégicos da cidade, e tem uma situação de
destaque na região, influenciando de forma significativa os seus concorrentes e a comunidade
como um todo. Nasceu com o objetivo de buscar sempre a ampliação do mercado de trabalho
para que o médico exerça sua profissão de forma liberal, ética e com justa remuneração,
proporcionando aos seus clientes um serviço médico de qualidade.
Foi escolhido como locus do estudo em virtude da facilidade de acesso da
pesquisadora, além do interesse da alta gestão nos resultados da referida pesquisa, que
poderão sugerir métodos de trabalho mais eficazes para o alcance dos objetivos da
organização.
A unidade pesquisada conta com atendimento 24h em Clínica Médica e
Otorrinolaringologia, sendo, dois Clínicos e um Otorrinolaringologista por plantão. São 10
leitos, 03 consultórios médicos, sala de grandes urgências, de suturas e de curativos. Dispõe
de um serviço de Atendimento Domiciliar com UTI’s móveis totalmente equipadas. De
acordo com a gerência executiva, na unidade atuam, aproximadamente, 70 profissionais,
formando uma equipe multidisciplinar composta por administrador, enfermeiro, técnico de
enfermagem, médico, entre outras categorias. A administração geral é exercida por uma
gerência ligada diretamente à presidência do hospital. Essa gerência tem as supervisões de
enfermagem e administrativa ligadas diretamente a ela, e desenvolve um trabalho conjunto
46
com a Gerência Médica.
Fica ressaltado que o presente estudo levou em consideração os aspectos de
relacionamento dos profissionais das áreas administrativa e de enfermagem com o corpo
médico de modo geral, não levando em consideração as peculiaridades quanto à especialidade
do profissional médico.
No próximo tópico serão apresentadas as características dos pesquisados.
3.3 Características dos Pesquisados
Na unidade pesquisada há departamentos que dão suporte direta ou indiretamente ao
atendimento do cliente de saúde, como faturamento, farmácia, entre outros. Para o presente
estudo foi levado em consideração os profissionais que lidam diretamente com o paciente.
Para a realização desta pesquisa foram escolhidos os enfermeiros, técnicos de
enfermagem, os técnicos de coleta laboratorial, os auxiliares de recepção, os técnicos de
radiologia, recepcionistas e médicos, com, no mínimo, um ano de trabalho na unidade
pesquisada. Como esclarecimento, os técnicos de coleta laboratorial, no organograma da
instituição, estão lotados na área de enfermagem e, os técnicos de radiologia, recepcionistas e
auxiliares de recepção são lotados na área administrativa. Por isso, a inclusão dos mesmos na
pesquisa. Não serão considerados aqueles que, mesmo possuindo mais de um ano de vínculo
com a instituição, estavam lotados em outros setores do hospital, já que isso comprometeria o
discernimento do pesquisado quanto aos aspectos relativos ao trabalho exclusivamente na
unidade de Emergência/Urgência pesquisada.
Os supervisores, administrativo e de enfermagem, já trabalham na área pesquisada há
mais de um ano.
Ressalta-se que, do grupo de profissionais que participaram da pesquisa, há tanto
profissionais com contrato celetista como profissionais cooperados.
47
A tabela 1 mostra a quantidade de funcionários da área pesquisada por função.
Tabela 1 - Quantidade de colaboradores por função que trabalham na unidade pesquisada
QUANT
QUANT. DE
FUNÇÃO
RESPONDENTES
PROFISSIONAIS
QUESTION ENTREV
GERÊNCIA ADMINISTRATIVA
01
01
00
GERÊNCIA MÉDICA
01
01
00
SUPERVISÃO ADMINISTRATIVA
01
01
01
SUPERV. ENFERMAGEM
01
01
01
ENFERMEIRO
05
05
02
TÉCNICO ENFERMAGEM
16
11
04
TÉCNICO COLETA
LABORATORIAL
02
01
01
TÉCNICO RADIOLOGIA
04
02
01
RECEPCIONISTA
12
02
02
AUXILIAR DE RECEPÇÃO
04
01
01
MÉDICO
23
04
03
Fonte: Dados da pesquisa (2012).
Após o detalhamento das características dos pesquisados, os métodos utilizados para a
coleta dos dados serão apresentados no tópico seguinte.
3.4 Métodos de Coleta dos Dados
A aplicação de questionários e a realização de entrevistas foram as técnicas de coleta
de dados escolhidas para o desenvolvimento desta pesquisa.
De acordo com Hanashiro, Teixeira e Zaccarelli (2008), no estudo de caso o
pesquisador pode utilizar dados coletados em diferentes momentos, oriundos de diversas
48
fontes de informação. Tem como estratégias fundamentais da coleta de dados a entrevista, a
observação e a análise de documentos, mas o questionário também pode ser adotado.
Para Selltiz, em Gil (2002), as técnicas de interrogação mostram-se bastante úteis para
a obtenção de informações acerca do que a pessoa “sabe, crê ou espera, sente ou deseja,
pretende fazer, faz ou fez, bem como a respeito de suas explicações ou razões para quaisquer
das coisas precedentes”. Uma das grandes vantagens desse método é o anonimato por parte do
respondente, o que garante mais liberdade para que o pesquisado possa demonstrar o que
pensa ou sente sem medo de represália.
Cooper e Schindler (2003) afirmam que o principal valor do uso da técnica de
entrevista para a coleta de dados está na profundidade das informações e nos detalhes que
podem ser obtidos. E ressaltam que, nesse caso, o entrevistador tem mais recursos para
melhorar a qualidade das informações recebidas do que com outro método.
Logo, baseando-se nos objetivos desse estudo e utilizando-se o referencial teórico
como guia, foram utilizados dois questionários validados e elaborado um roteiro de entrevista,
ou seja, uma entrevista semi-estruturada.
Conforme Gil (2002), a entrevista por pautas, também denominada semi-estruturada,
apresenta certo grau de estruturação, guiando-se por uma relação de pontos que são
explorados de acordo com o interesse do entrevistador. Os questionários utilizados foram o
ECO (Escala de Clima Organizacional), de Martins et al (2004) e o EET (Escala de Estresse
no Trabalho), de Paschoal e Tamayo (2004). Os modelos dos questionários e do roteiro de
entrevistas encontram-se no ANEXO, no final desse estudo.
A Escala de Estresse no Trabalho (EET), de Paschoal e Tamayo (2004) foi utilizada na
sua versão reduzida, com 13 questões, com coeficiente de alfa Cronbach de 0,85. Foi utilizada
por ser uma ferramenta simples, pela qualidade dos seus parâmetros psicométricos e pelo fato
de que ela fornece um escore geral de estresse. Todos os itens são avaliados em escala Likert
49
de concordância de 05 pontos, variando de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente).
A Escala de Clima Organizacional (ECO), de Martins et al (2004), é uma escala
multidimensional, com coeficiente alfa de Cronbach de 0,78 a 0,92, desenvolvida com o
objetivo de avaliar a percepção do trabalhador sobre várias dimensões do clima
organizacional. São 63 itens agrupados em 05 fatores, como pode ser visto no Quadro 2.
Quadro 2 - ECO – Fatores, definições e itens
FATORES
DEFINIÇÕES
ITENS
APOIO DA CHEFIA E
ORGANIZAÇÃO
Suporte afetivo, estrutural e operacional da
chefia e da organização
1 ao 21
RECOMPENSA
Formas de recompensa para premiar a
qualidade, produtividade, esforço e desempenho
22 ao 34
CONFORTO FÍSICO
Ambiente físico, segurança e conforto
proporcionado pela empresa aos empregados
35 ao 47
CONTROLE/PRESSÃO
Controle e pressão exercidos pela empresa e
pelos supervisores sob os empregados
48 ao 56
COESÃO ENTRE COLEGAS
União, vínculo e colaboração entre os colegas
de trabalho
57 ao 63
Fonte: Adaptado de Martins et al (2004)
No total, foram distribuídos 33 questionários e realizadas 16 entrevistas. Dos trinta e
três questionários, três foram desconsiderados por preenchimento incorreto ou incompleto.
Dos trinta questionários válidos, sete foram respondidos por trabalhadores da área
administrativa, cinco por médicos e dezoito por profissionais da área de enfermagem. Das
dezesseis entrevistas realizadas, cinco contemplaram profissionais administrativos, oito da
área de enfermagem e três da área médica.
Segundo Rosa e Arnoldi (2008), na pesquisa qualitativa, não é a quantidade de pessoas
que irá prestar informações que tem importância, mas, sim, o significado que os sujeitos têm,
em razão do que se procura para a pesquisa. E, afirmam que, a fórmula qualitativa para o
cálculo da mostra contém como ingrediente-chave a noção, princípio e estratégia da
saturação. No caso desse estudo, as entrevistas foram encerradas quando não se encontravam
50
mais dados adicionais à solução do tema em questão. Ou seja, as respostas passaram a ser
repetitivas.
A coleta de dados foi realizada em uma sala reservada, na própria unidade, no período
de junho a julho de 2012, e os entrevistados foram convidados a participar por livre adesão e
com garantia do anonimato, não sendo solicitado nenhum dado pessoal e ressaltando-se essa
questão tanto no caderno de questionários como no início de cada entrevista. Mesmo após tal
procedimento e sendo enfatizado de que se tratava de uma pesquisa para fins acadêmicos,
houve a recusa de um profissional da equipe médica.
A dinâmica da entrevista ocorreu da seguinte forma: após explicação do objetivo da
entrevista e anuência do pesquisado para gravação da mesma, dava-se início ao
questionamento. Primeiramente, a pesquisadora perguntava a função e o tempo de atuação na
unidade pesquisada, garantindo, dessa forma, que os pesquisados estivessem dentro dos
padrões pré-estabelecidos para esse estudo; depois, as questões envolvidas diretamente com o
tema eram levantadas. O entrevistado tinha a liberdade de falar livremente até que se sentisse
satisfeito com sua própria resposta. Enquanto isso a entrevistadora analisava se o entrevistado
abordava todos os pontos necessários. Caso a questão não ficasse totalmente respondida, a
entrevistadora perguntava diretamente sobre o tema não respondido.
As entrevistas foram gravadas e transcritas manualmente pela própria pesquisadora.
As informações relativas à realização do pré-teste serão detalhadas no próximo tópico.
3.5 Pré-Teste
De acordo com Gil (2002), os estudos de campo utilizam vários instrumentos para a
coleta de dados, tais como formulários, questionários, entrevistas e escalas de observação.
Para que esses instrumentos sejam adequados para o entendimento da população a ser
51
pesquisada e assegurar que as questões possibilitem medir as variáveis que se pretende medir,
é realizado o chamado Pré-Teste. Segundo o autor, o objetivo do Pré-Teste é detectar
dificuldades dos respondentes quanto à clareza e precisão dos termos, quantidade de
perguntas, formatação das questões, e ainda possibilita a adequação da melhor maneira de
fazer a introdução para os entrevistados após a análise de suas reações. O autor ainda ressalta
que não há uma exigência quanto ao tamanho da amostra para a realização do pré-teste. No
entanto, quanto maior a amostra, maior a probabilidade de sucesso do pré-teste.
Logo, com o objetivo de aprimorar os instrumentos de coleta de dados e procurar
evitar pontos fracos no planejamento do estudo, foram realizadas quatro entrevistas com
profissionais que atuam numa unidade de pronto socorro de outro hospital particular da
região.
Com a realização do Pré-Teste, foram identificadas algumas dificuldades de
entendimento em relação a termos utilizados nas perguntas, gerando questionamentos por
parte dos respondentes do tipo “Não entendi” e “Como assim?”. A partir daí, as questões
foram revistas e os termos que haviam gerado dúvidas foram substituídos por outros que
tiveram uma maior aceitação durante o Pré-Teste. Como exemplo, pode-se citar a substituição
da palavra “entrave” pela palavra “dificuldade” e, assim como o pedido da pesquisadora para
que os entrevistados citassem exemplos de ocorrências vividas na unidade avaliada, buscando
um entendimento mais amplo do que estava sendo relatado pelo entrevistado.
Os métodos escolhidos para análise dos dados serão esclarecidos a seguir.
3.6 Métodos de Análise dos Dados
A análise estatística descritiva tem como objetivo a redução de dados, a informação
relevante contida numa grande massa de informações através de um número muito menor de
valores ou medidas características.
52
Para a análise quantitativa foram utilizados os softwares STATA/SE 9.0 e o Excel
2007. Todos os testes foram aplicados com 95% de confiança e os resultados estão
apresentados em forma de tabela, com suas respectivas frequências absolutas nas Tabelas 2, 3
e 5, e, mais especificamente, na Tabela 2, frequências relativas. As variáveis numéricas estão
representadas pelas medidas de tendência central e medidas de dispersão. Para as variáveis
quantitativas foi utilizado o Teste de Normalidade de Kolmogorov-Smirmov. Na análise
comparativa de dois grupos foram utilizados o Teste t Student (Distribuição Normal) e MannWhitney (Não Normal); e, na análise comparativa com mais de dois grupos foram utilizados
os testes ANOVA (Distribuição Normal) e Kruskal Wallis (Não Normal).
Já para a análise dos dados qualitativos foi realizada a análise de conteúdo, método
proposto pela professora da Universidade de Paris V, Laurence Bardin (2011). Nele, o
investigador tenta construir um conhecimento analisando o “discurso”, a disposição e os
termos utilizados pelo locutor.
Segundo Moraes (1999), a análise de conteúdo constitui uma metodologia de pesquisa
utilizada para descrever e interpretar o conteúdo de toda classe de documentos e textos. Essa
análise, conduzindo a descrições sistemáticas, qualitativas ou quantitativas, ajuda a
reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus significados num nível que
vai além de uma leitura comum. O autor enfatiza que a análise de conteúdo tem oscilado entre
o rigor da suposta objetividade dos números e a fecundidade sempre questionada da
subjetividade. Entretanto, ao longo do tempo, têm sido cada vez mais valorizadas as
abordagens qualitativas, utilizando especialmente a indução e a intuição como estratégias para
atingir níveis de compreensão mais aprofundados dos fenômenos que se propõem a investigar.
Para Bardin (2011, p.45), a análise de conteúdo aparece como um conjunto de técnicas
de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição
do conteúdo das mensagens. E faz uma comparação interessante: “o analista é como um
53
arqueólogo, trabalha com vestígios, mas os vestígios são a manifestação de estados, de dados
e de fenômenos”.
Inicialmente foi feita a pré-análise, com a leitura de todo o material, a escolha dos
documentos e a formulação das hipóteses. Num segundo momento, a exploração do material,
onde se insere a etapa da codificação, definindo os temas, categorias, subcategorias, as
unidades de registro e as unidades de contexto. E, por fim, o tratamento dos resultados, a
inferência e a interpretação, quando se relacionam os dados encontrados com os objetivos
iniciais do estudo, buscando a construção de conhecimento científico sobre o objeto
pesquisado.
Alguns limites e certas limitações permearam o andamento deste estudo e serão
apresentados com mais detalhes no próximo tópico
3.7 Limites e Limitações
Algumas limitações foram encontradas na realização desse estudo:

De acordo com Gil (2002), apesar das vantagens relacionadas à entrevista, essa técnica
de coleta de dados também apresenta limitações que podem ser contornadas pelo
pesquisador: possível falta de motivação dos entrevistados, inadequada compreensão
do significado das perguntas, fornecimento de respostas falsas, influência das opiniões
pessoais do entrevistador sobre as respostas do entrevistado. Levando esse aspecto em
consideração, a pesquisadora tomou alguns cuidados: para minimizar a falta de
motivação, a adesão à pesquisa foi por livre iniciativa do entrevistado, só participava
quem realmente queria; para evitar que as perguntas não fossem corretamente
compreendidas pelos entrevistados, foi realizado o pré-teste; para diminuir a influência
54
da entrevistadora sobre as respostas dos entrevistados, a entrevistadora tentou não
interromper ou fazer observações durante as entrevistas. Entretanto, mesmo tomando
essas precauções, tais limitações não podem ser completamente excluídas da análise
desse estudo.

Os profissionais foram entrevistados em uma sala reservada, mas dentro do ambiente
da empresa, o que pode ter influenciado de forma negativa, por receio de que a chefia
ou os colegas de trabalho tomassem conhecimento das declarações feitas. O
esclarecimento sobre o anonimato sempre era reforçado pela pesquisadora visando
minimizar tal limitação.

Tempo reduzido de duração das entrevistas em virtude do grande volume de trabalho
na unidade pesquisada. Por se tratar de uma unidade de Emergência/Urgência, os
pesquisados não se sentiam confortáveis em passar mais tempo relatando suas
experiências, uma vez que demonstravam preocupação com o andamento do setor. A
pesquisadora tentou marcar com alguns profissionais fora do horário do expediente,
mas, em virtude de plantões em outras instituições e, em alguns casos, dobra de
plantão na própria instituição, isso não foi possível. Para minimizar essa limitação, a
pesquisadora compareceu diversos dias ao local, realizando as entrevistas nos dias e
horários que apresentavam um menor fluxo de pacientes.

A dificuldade de acesso especificamente ao corpo médico. Objetivando minimizar
esse aspecto, a pesquisadora explicou todo o processo de entrevista e os objetivos do
estudo para a Gerência Médica.
Entretanto, apesar das limitações apresentadas, foi possível identificar pontos de
divergências que causam conflitos entre os trabalhadores da unidade e que interferem
diretamente na qualidade do atendimento prestado aos clientes da instituição.
55
O principal limite desse estudo foi levantar os conflitos existentes entre os
profissionais das áreas médica, administrativa e de enfermagem que lidam diretamente com o
paciente, e que podem interferir na qualidade do serviço prestado, numa unidade de pronto
socorro de uma instituição particular específica. Os seus resultados podem dar uma noção do
que ocorre em outras unidades de pronto socorro. No entanto, há a necessidade de novos
estudos, tendo em vista a complexidade do tema e os diferentes contextos onde estes
profissionais exercem suas atribuições.
Finaliza-se, desse modo, a apresentação da metodologia utilizada nesse estudo e no
próximo tópico será abordada a análise e discussão dos resultados encontrados.
56
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Análise Descritiva das Variáveis
Participaram da pesquisa 30 profissionais, sendo 23,3% da área administrativa, 60,0%
da área de enfermagem e 16,7% do corpo médico. 70,0% dos respondentes foram do sexo
feminino e 40,0% já atuavam na área de saúde no período compreendido entre 6 a 10 anos.
Um dado que chamou a atenção foi o de que 60,0% dos profissionais pesquisados
trabalhavam na unidade avaliada há menos de 5 anos; o que pode apontar um índice
considerável de rotatividade de pessoal. Em relação à faixa etária dos participantes da
pesquisa, a maioria (83,3%) se concentra na faixa de 28 a 47 anos, indicando uma equipe
equilibrada em relação à idade dos profissionais: nem muito jovens, nem com idades muito
avançadas, como pode ser observado na Tabela 2. Os médicos foram os profissionais
pesquisados que apresentavam maior tempo de serviço e idade mais avançada, seguidos dos
técnicos de enfermagem.
4.2 Média dos Itens Analisados pela Escala de Estresse no
Trabalho (EET), de Paschoal e Tamayo (2004)
Conforme as médias obtidas e apresentadas na Tabela 3, o escore médio foi de 1,93.
Este escore está relativamente distante do ponto médio teórico, que, numa escala de cinco
graus, é 3,0 (TAMAYO, 2007). Isso demonstra que, de um modo geral, o nível de estresse
dos trabalhadores entrevistados é baixo.
57
Tabela 2 - Dados demográficos dos profissionais pesquisados
VARIÁVEIS
N
%
Masculino
9
30,0
Feminino
21
70,0
Administrativa
7
23,3
Corpo de enfermagem
18
60,0
Corpo médico
5
16,7
De 18 a 27 anos
2
6,7
De 28 a 37 anos
14
46,6
De 38 a 47 anos
11
36,7
Acima de 47 anos
3
10,0
Até 5 anos
18
60,0
De 6 a 10 anos
9
30,0
3
10,0
Sexo
Área de trabalho
Faixa etária
Tempo de serviço
Acima de 10 anos
Fonte: Dados da pesquisa (2012)
Observa-se que os temas que têm deixado os profissionais desta unidade mais
apreensivos se referem aos itens 9, 10 e 1, respectivamente, demonstrando que aspectos
relativos à perspectiva de crescimento, às atividades executadas e à distribuição de tarefas são
fontes de preocupação mais presentes no cotidiano dos entrevistados. São resultados
compatíveis com o pensamento de Schermerhorn, Hunt e Osborn (1999) quando afirmam que,
no trabalho, o estresse se origina de muitas fontes e, citam entre outros exemplos, as
exigências da tarefa, ambiguidades do papel, conflitos do papel e desenvolvimento de
carreira.
Tanto a NIOSH (1999) como a European Comission (1999) definem algumas
condições do trabalho que podem contribuir para o aparecimento do stress, e, entre elas, três
se relacionam com os itens 1, 9 e 10 da EET. São elas:

O desenho das tarefas: pesada carga de trabalho ou carga inferior, tarefas de rotina
que possuem pouco significado inerente;
58

Papéis no trabalho: expectativas de trabalho conflituosas ou incertas, muita
responsabilidade, porém pouca autoridade ou capacidade de tomada de decisões,
ausência de uma descrição clara de papéis;

Preocupações com a carreira: insegurança no trabalho e ausência de oportunidade de
crescimento ou promoção, rápidas mudanças para as quais o trabalhador não está
preparado.
Tabela 3 - Médias da Escala de Estresse no Trabalho (EET) por Itens
VARIÁVEIS
N
MÉDIA
DP
1 A forma como as tarefas são distribuídas em minha área tem
me deixado nervoso.
2 A falta de autonomia na execução do meu trabalho tem sido
desgastante.
3 Tenho me sentido incomodado com a falta de confiança de meu
superior sobre o meu trabalho.
4 Sinto-me irritado com a deficiência na divulgação de informações
sobre decisões organizacionais.
5 Sinto-me incomodado por ter que realizar tarefas que estão além
de minha capacidade.
6 Tenho me sentido incomodado com a deficiência nos
treinamentos para capacitação profissional.
7 Fico de mau humor por me sentir isolado na organização.
30
2,13
1,07
30
2,10
0,84
30
1,67
0,66
30
1,90
0,96
30
1,77
1,01
30
2,10
1,30
30
1,70
0,75
8 Fico irritado por ser pouco valorizado por meus superiores.
29
1,79
0,90
30
2,30
1,37
30
2,23
1,17
30
1,67
0,80
30
1,80
0,81
30
1,97
0,85
9 As poucas perspectivas de crescimento na carreira tem me
deixado angustiado.
10 Tenho me sentido incomodado por trabalhar em tarefas
abaixo do meu nível de habilidade.
11 A competição no meu ambiente de trabalho tem me deixado de
mau humor.
12 A falta de compreensão sobre quais são minhas
responsabilidades neste trabalho tem causado irritação.
13 O tempo insuficiente para realizar meu volume de trabalho
deixa-me nervoso.
Fonte: Dados da pesquisa (2012)
Os itens 3, 11 e 7 da EET obtiveram os menores índices nas respostas dos sujeitos,
indicando que a maioria dos respondentes discorda quando lhe é perguntado se sente falta de
confiança da chefia em relação ao seu trabalho, se sente isolados ou se há competição no local
59
de trabalho. Embora esses possam ser considerados aspectos do trabalho causadores de stress,
de acordo com Azevedo e Kitamura (2006), os pesquisados não os identificaram no ambiente
avaliado. Schermerhorn, Hunt e Osborn (1999) também concordam que esses pontos causam
sofrimento aos trabalhadores e são fontes de estresse quando afirmam:
No local de trabalho, o estresse tem origem em muitas fontes. Pode resultar de
exigências altas ou baixas demais, de conflitos e ambiguidades de papéis, de más
relações interpessoais ou de progresso rápido ou lento demais na carreira
(SCHERMERHORN; HUNT; OSBORN, 1999, p. 290).
Em relação ao sexo e à área de atuação dos pesquisados, não foram encontradas
diferenças estatisticamente significativas na EET (Escala de Estresse no Trabalho). Já em
relação ao tempo de serviço dos pesquisados, foi constatado que os entrevistados com mais de
seis anos de trabalho na instituição pesquisada apresentavam um maior nível de estresse no
fator 1, que diz respeito à forma de distribuição das tarefas na área. Nas questões que se
referem à perspectiva de crescimento na carreira, à falta de autonomia na execução do
trabalho e à insatisfação pela deficiência nos treinamentos para capacitação profissional, os
trabalhadores que possuem entre 6 a 10 anos de serviço na unidade foram os que
demonstraram maior grau de insatisfação, como pode ser observado na Tabela 4.
60
Tabela 4 - Médias da Escala de Estresse no Trabalho (EET) por tempo de serviço
VARIÁVEIS
Menos de 5
anos
Média/DP
De 6 a 10
anos
Média/DP
Mais de 10
anos
Média/DP
p-valor*
1- A forma como as tarefas são
distribuídas em minha área tem me
deixado nervoso
1,78/1,00
2,67/1,00
2,67/1,15
0,040
2- A falta de autonomia na execução do
meu trabalho tem sido desgastante
1,83/0,71
2,56/1,01
2,33/0,58
0,136
3- Tenho me sentido incomodado com a
falta de confiança do meu superior sobre
o meu trabalho
1,61/0,70
1,67/0,71
2,00/0,00
0,504
4- Sinto-me irritado com a deficiência na
divulgação de informações sobre decisões
organizacionais
1,89/1,08
2,00/0,87
1,67/0,58
0,799
5- Sinto-me incomodado por ter que
realizar tarefas que estão além de minha
capacidade
1,89/1,23
1,56/0,53
1,67/0,58
0,940
6- Tenho me sentido incomodado com a
deficiência nos treinamentos para
capacitação profissional
1,72/0,96
2,89/1,69
2,00/1,00
0,155
7- Fico de mau humor por me sentir
isolado na organização
1,61/0,85
1,89/0,60
1,67/0,58
0,394
8- Fico irritado por ser pouco valorizado
por meus superiores
1,72/1,02
1,89/0,60
2,00/1,41
0,562
9- As poucas perspectivas
crescimento na carreira tem
deixado angustiado
1,89/1,08
3,22/1,48
2,00/1,73
0,044
10- Tenho me sentido incomodado por
trabalhar em tarefas abaixo do meu nível
de habilidade
2,11/1,08
2,44/1,51
2,33/0,58
0,747
11- A competição no meu ambiente de
trabalho tem me deixado de mau humor
1,61/0,98
1,67/0,50
2,00/0,00
0,249
12- A falta de compreensão sobre quais
são as minhas responsabilidades neste
trabalho tem causado irritação
1,78/0,94
1,89/0,60
1,67/0,58
0,657
13- O tempo insuficiente para realizar
meu volume de trabalho deixa-me
nervoso.
1,89/0,90
2,11/0,78
2,00/1,00
0,643
(*) Teste de Kruskal Wallis
Fonte: Dados da pesquisa (2012)
de
me
61
4.3 Média dos Itens Analisados pela Escala de Clima
Organizacional (ECO), de Martins et al (2004)
A ECO (Escala de Clima Organizacional), de Martins et al (2004), como mencionado
anteriormente, é uma escala composta por cinco fatores. Logo, seus resultados devem ser
apurados por fator. Assim, se terá um resultado para cada um dos fatores, proporcionando
uma percepção mais apurada e, consequentemente, uma análise mais precisa dos seus
resultados. A interpretação dessa escala deve ser realizada da seguinte forma: quanto maior
for o valor da média fatorial, melhor é o clima organizacional. Valores maiores que 4,0
tendem a indicar bom clima e menores que 2,9 a apontar clima ruim. Para o Fator
Controle/Pressão a interpretação é inversa. Quanto maior o valor da média fatorial, pior será o
clima organizacional, indicando que há pressão e controle excessivos.
Referindo-se à coleta de dados realizada pela Escala de Clima Organizacional (ECO),
nota-se que, de modo geral, o clima organizacional na unidade pesquisada é considerado
razoável, uma vez que o menor índice encontrado foi 3,01, mais precisamente relativo ao
Fator Apoio da Chefia e da Organização, como pode ser observado na Tabela 5. Deve ser
destacado também, que pode ser considerado um resultado com baixa variabilidade, já que os
valores dos desvios-padrão encontrados foram baixos. O maior índice encontrado foi no Fator
Conforto Físico.
Fazendo uma análise por área de atuação dos pesquisados, constatou-se que só houve
diferença estatisticamente significativa nos fatores “Apoio da chefia e da organização” e
“Coesão entre colegas”, como pode ser observado na Tabela 6. Os entrevistados da área
médica se sentem mais insatisfeitos do que os entrevistados das outras áreas no que diz
respeito ao apoio da chefia e da organização. Já a equipe de enfermagem demonstrou ser um
62
grupo unido, já que foi essa área de atuação que apresentou o maior índice da tabela no fator
“Coesão entre colegas”.
Tabela 5 - Médias da Escala de Clima Organizacional (ECO)
FATORES
N
MÉDIA
DP
Apoio da chefia e da organização
30
3,01
0,28
Recompensa
30
3,05
0,62
Conforto físico
30
4,00
0,61
Controle/Pressão
30
3,24
0,51
Coesão entre colegas
30
3,95
0,42
Fonte: Dados da pesquisa (2012).
De acordo com informações da Administração Geral, a instituição pesquisada está
passando por um processo de reestruturação, que interfere diretamente na sua cultura, e que
tem incomodado, como percebido pela pesquisadora, principalmente aos profissionais da área
médica. A cultura dessa organização pode ser compreendida se levarmos em consideração
que, por se tratar de uma cooperativa médica, a organização sempre demandou mais regalias e
poder de decisão, inclusive nas questões administrativas, ao corpo médico de um modo geral,
fazendo com que estes se sentissem superiores aos demais trabalhadores da instituição e
desobrigados dos cumprimentos das normas administrativas. Sentindo a pressão do mercado e
dos concorrentes e a necessidade de implementar uma gestão mais profissional, a alta
administração está reorganizando seus processos internos e cobrando mais disciplina dos seus
trabalhadores, principalmente dos médicos, que têm um papel crucial na qualidade do
atendimento e na satisfação do usuário do serviço. Esse fato explica a insatisfação dos
médicos, uma vez que os mesmos estão se sentindo “desprestigiados”.
Quanto ao maior índice apresentado pela equipe de enfermagem no fator “Coesão
entre colegas”, pode ser um reflexo de um ambiente pequeno e como modo de proteção do
grupo. Schermerhorn, Hunt e Osborn (1999) citam esse aspecto dos grupos quando afirmam
63
que a coesão tende a ser alta nos grupos e equipes onde há homogeneidade de idade, atitudes,
necessidades e experiência e em grupos pequenos. Os autores também ressaltam que, nos
grupos coesos, os membros têm uma fonte de lealdade, segurança e estima.
Tabela 6 - Médias da Escala de Clima Organizacional por área de atuação
ADMINISTRATIVA ENFERMAGEM
MÉDICA
FATORES
p-valor*
Média/ DP
Média/DP
Média/DP
Apoio da chefia e da
organiz.
3,01/0,22
3,10/0,25
2,67/0,27
0,006
Recompensa
2,75/0,51
3,11/0,69
3,22/0,38
0,331
Conforto físico
3,97/0,14
4,02/0,69
3,97/0,77
0,974
Controle/pressão
3,06/0,53
3,39/0,51
2,98/0,32
0,154
3,63/0,31
4,10/0,43
3,86/0,23
0,031
Coesão entre colegas
(*) Teste de ANOVA
Fonte: Dados da pesquisa (2012).
Quando observada a Escala de Clima Organizacional (ECO) em relação ao sexo dos
pesquisados, constatou-se que só houve diferença estatisticamente significativa no fator
“Conforto físico”. As mulheres pesquisadas não tinham uma percepção tão boa quanto a dos
homens em relação às instalações físicas da unidade de trabalho, como pode ser constatado na
Tabela 7. Quanto ao tempo de serviço, não foi encontrada diferença estatisticamente
significativa na ECO.
Tabela 7 - Médias da Escala de Clima Organizacional por sexo
Sexo
Masculino
Fatores
Sexo
Feminino
p-valor*
Média/DP
Média/DP
Apoio da chefia e da organização
3,01/0,36
3,01/0,26
0,991
Recompensa
3,34/0,35
2,92/0,67
0,094
Conforto físico
4,39/0,36
3,83/0,62
0,018
Controle/pressão
3,37/0,59
3,19/0,47
0,385
Coesão entre colegas
4,10/0,30
3,89/0,45
0,215
(*) Teste t Student
Fonte: Dados da pesquisa (2012).
64
Essas considerações fazem com que o primeiro objetivo específico desse estudo –
Medir o clima organizacional da unidade pesquisada e o grau de estresse dos profissionais das
áreas médica, administrativa e de enfermagem na unidade pesquisada - seja elucidado.
No próximo tópico, serão apresentados os achados das entrevistas através da análise
de conteúdo, conforme Bardin (2011).
4.4 Análise de Conteúdo
Com o objetivo de identificar os conflitos existentes entre os profissionais da equipe
de trabalho da unidade pesquisada e quais os entraves na assistência ao cliente de saúde,
causados por esses conflitos - objetivo principal e segundo objetivo específico desse estudo foi elaborado pela autora um roteiro de entrevista para cada área. Foram realizadas 16
entrevistas e, como mencionado anteriormente, foi utilizado o critério de saturação para a
finalização dessa etapa. Através da análise de conteúdo, seguindo os critérios de Bardin
(2011), a pesquisadora chegou aos seguintes resultados:
4.4.1 Conflitos
Relatados
pelos
Profissionais
da
Área
Administrativa
a) Com a Equipe Médica

Dificuldade de comunicação
Uma das maiores dificuldades relatadas pelos profissionais da área administrativa no
relacionamento com os médicos e, que resultam em conflitos entre essas equipes, é a
dificuldade de comunicação. Relata-se tanto a dificuldade que os profissionais sentem para ter
acesso aos médicos, como o desinteresse que esses demonstram pelos assuntos abordados
pela área administrativa. Essa percepção pode ser confirmada nos depoimentos a seguir:
65
[...] tem médicos que nós temos uma boa acessibilidade e, tem médicos que não, que
são mais complicados. (ENTREVISTADO 1)
[...] na minha, opinião, o maior problema é o acesso aos médicos [...] quando vou
tirar uma dúvida sobre o exame que vou fazer [...] é sempre demorado.
(ENTREVISTADO 15)
A comunicação é um dos processos fundamentais que constituem a base para quase
todas as atividades nas organizações, tornando possível que as pessoas se organizem, definam
suas tarefas, compartilhem ideias, tomem decisões, resolvam problemas e gerem trocas
(MUSSAK, 2010). Logo, uma comunicação falha põe em risco todo um trabalho que, mais do
que em qualquer outro tipo de instituição, deve ser realizado em equipe: uma equipe
multidisciplinar. Mussak (2010) enfatiza que a comunicação torna possível que se crie um
ambiente no qual os indivíduos se sintam valorizados como pessoas. Tal ideia reforça o
sentimento transmitido pelos entrevistados da área administrativa e pode ser constatado nos
trechos abaixo, transcritos do relato do Entrevistado 1.
[...] pra gente resolver algum problema que, às vezes, eles não dão importância [...]
não dão tanta credibilidade.
[...] os médicos mais novos, pelo que eu tenho notado, entendem mais, assim... dão
mais importância. E os mais velhos, que aqui tem muitos, não têm tanta paciência,
dizem ‘ isso é besteira’, ‘o paciente reclama demais’ [...]
Como consequência, podem ocorrer diversas situações que dificultem ou inviabilizem
uma prestação do serviço de forma correta e satisfatória: pode haver demora na realização de
procedimentos, falta de resolução de algum problema de fluxo ou de queixas dos clientes,
entre outros; podendo, inclusive, pôr em risco, a vida de um paciente.
Outro ponto importante que deve ser levantado como consequência de uma
comunicação falha entre as áreas é a dificuldade na troca de ideias e sugestões para melhorias
de fluxos e estrutura da unidade, que poderiam resultar em melhores condições de trabalho e
aumento da qualidade dos serviços prestados aos seus clientes. Isso influencia negativamente
na equipe de trabalho. Lembrando a definição de Moscovici (1994), nas equipes de trabalho
66
o objetivo é o desempenho coletivo, a sinergia é positiva, a responsabilidade é individual e
mútua e as habilidades são complementares. Funcionando de forma diferente, a principal
finalidade do hospital e, mais especificamente, de uma unidade de pronto socorro, fica
seriamente comprometida.

Interferência e não cumprimento das normas administrativas, por parte da
equipe médica.
As equipes de trabalho fornecem normas a seus componentes. Na definição de Casado
(2002), normas são padrões morais, valores e regras de funcionamento, que auxiliam os
componentes a saberem o que é esperado, válido e legítimo em termos de comportamento. Se
algum membro desobedecer às normas, os demais agirão para corrigir ou até punir a violação.
Nas entrevistas, pode-se perceber que um dos problemas mencionados pelos
profissionais da área administrativa é a interferência dos médicos nas decisões administrativas
ou o não cumprimento das normas estabelecidas pela Administração, gerando indignação e
conflito entre as áreas. Os relatos do Entrevistado 11 comprovam essa afirmação.
[...] eu acredito que o médico ainda quer trabalhar... interferir um pouco na
administração.
[...] Dentro do hospital, o grupo administrativo trabalha com normas e parte
jurídica... o médico já pensa no lado do paciente.
[...] um dos maiores problemas é, por exemplo, passagem de plantão. Tem médico
que diz ‘vou-me embora, vou-me embora’. Isso vira um problema administrativo
porque fica sem médico no hospital.
O Entrevistado 4 também sugere esse conflito nos seus relatos:
[...] todo hospital tem que pegar autorização para prestar atendimento... o médico
reage mais ‘a flor da pele’.
[...] o médico esquece de carimbar muitas vezes (as solicitações de exames).
67
O não cumprimento das normas por parte da equipe médica gera indignação da área
administrativa por passar a ideia de privilégio, além de dificultar muito o trabalho dessa
equipe. Robbins (2009) explica esse comportamento quando afirma que, os membros do
grupo que gozam de maior status costumam ter mais liberdade para se desviar das normas que
os demais e também demonstram mais resistência às pressões para a conformidade.
As consequências desse conflito repercutem diretamente no atendimento ao paciente.
Alguns exemplos podem ser citados: falta do médico entre o término de um plantão e início
de outro, impossibilidade de realização de algum procedimento por falta de carimbo e
assinatura do médico na prescrição, atraso na realização de procedimentos médicos, entre
outros.

Tratamento desrespeitoso ou grosseiro
Em alguns depoimentos, a forma de tratamento que alguns médicos dispensam aos
profissionais de outras áreas, passando a ideia de superioridade, foi mencionada. Os
colaboradores de outras áreas ficam receosos e, se possível, tendem a evitar tratar algum
assunto com a esses profissionais, como pode ser percebido nos relatos abaixo:
[...] aqui os médicos são donos, então, quanto mais “ser amigo”, as coisas vão fluir
mais fácil. (ENTREVISTADO 3)
[...] você tem que ter todo aquele traquejo... vamos dizer assim... o modo de falar, o
modo de tratar. Eles têm que olhar a gente com outros olhos porque senão vão
existir barreiras, e você tem que quebrar essas barreiras. (ENTREVISTADO 3)
[...] alguns não têm um jeito muito educado de falar. (ENTREVISTADO 15)
[...] o médico tem seus egos pessoais, né? Cada um pensa que é o próprio Deus.”
(ENTREVISTADO 11)
Gonçalves (2002) explica esse aspecto na relação administração versus médicos
quando afirma:
68
No hospital ocorrem tensões de natureza grupal e profissional, envolvendo, por
exemplo, o corpo clínico, os médicos que trabalham no hospital. Trata-se de
profissionais com os quais muitas vezes é difícil trabalhar, principalmente por serem
formados – ou deformados – ao longo dos anos de sua preparação acadêmica para
estar capacitados a exercer, a cada momento, decisões que envolvem a vida e a
morte das pessoas. Daí sua dificuldade em repartir seu poder, em aceitar normas de
disciplina coletiva, em ouvir sugestões ou recomendações. (GONÇALVES, 2002, p.
82)
Foi relatada dificuldade de comunicação com os médicos, pois, segundo os
profissionais entrevistados, muitos falam de forma grosseira ou não dão a atenção devida ao
que está sendo tratado, passando a ideia de pré-conceito dos médicos em relação aos
profissionais de outras áreas. Mussak (2010) define esse tipo de comunicação como não
assertiva, ou seja, quando há o desrespeito pelos direitos dos outros. E, cita a agressividade
como exemplo. Segundo o autor, a agressividade é a expressão de sentimentos, pensamentos e
convicções de um modo que viola os direitos dos outros, utilizando formas inadequadas de
expressão, como ficar zangado, elevar o tom de voz e usar ironia, por exemplo.
Nesses depoimentos também pode ser observado que os profissionais administrativos
procuram manter um relacionamento harmonioso e “pacífico” com os médicos, tentando
evitar conflitos. Nascimento e El Sayed (2002) chamam isso de “comportamento político na
organização”, e, complementam que a relação desse tipo de comportamento é diretamente
proporcional ao conflito. Ou seja, quanto mais conflito, mais comportamento político. A
pesquisadora observou que esse tipo de atitude não parte somente dos profissionais
administrativos, mas também dos outros profissionais entrevistados que não são médicos.
De acordo com as informações apuradas, há sérias consequências nesse ponto
abordado pelos profissionais da área administrativa: redução da comunicação com os médicos
por receio, podendo acarretar falhas diversas na prestação do serviço de saúde. Citando a
classificação de Bowditch e Buono (1992) e Schermerhorn, Hunt e Osborn (1999), esse tipo
de conflito encontra-se no nível Sentido. Quando o conflito é Sentido, é experimentada uma
tensão que motiva a pessoa a tomar medidas para reduzir o sentimento de desconforto.
69
Também foi observado pela pesquisadora que, por trás desse modo de falar dos
médicos há, de forma disfarçada, uma disputa de poder, ou melhor, uma afirmação da
hegemonia do médico na instituição hospitalar. Esse é um traço do perfil do médico que se
originou no período colonial, quando a formação desses profissionais ocorria nas escolas
europeias. Eles recebiam status por sua influência na intervenção da vida de pessoas
influentes e ricas. Surgiu, dessa forma, o corporativismo e a supremacia médica através da
propagação da medicina como uma ciência superior às outras (PIRES, 1989).
b) Com a Equipe de Enfermagem
Os conflitos entre o pessoal administrativo e o de enfermagem são bem reduzidos na
unidade pesquisada. Como a supervisão de enfermagem é ligada à gerência administrativa e é
realizado um trabalho em conjunto, verificou-se que as equipes são mais próximas, e a
comunicação flui de forma mais fácil. Alguns entrevistados da área administrativa, quando
questionados sobre como era o relacionamento com a equipe de enfermagem, confirmam essa
informação em seus relatos:
[...] com as coordenadoras de enfermagem é bom, mas, com os técnicos, de vez em
quando, encontramos dificuldades, mas, no fim, é tudo resolvido porque a
coordenação entra em campo. A coordenação é atuante. (ENTREVISTADO 1)
[...] não tenho problema. Se tiver alguma coisa, passo a C.I. para a Coordenação e
ela resolve. Aqui é bem centralizado e tudo é resolvido localmente.
(ENTREVISTADO 3)
[...] o relacionamento com a enfermagem eu acho mais fácil do que com o médico.
(ENTREVISTADO 11)
Os conflitos relatados são consequência da inexistência do processo de triagem na
recepção da unidade. Triagem é um processo de identificação dos pacientes de acordo com a
gravidade do quadro de saúde, determinando em que ordem o paciente será atendido. Deve
ser realizado por um profissional da saúde de nível superior, que segue protocolos médicos
70
pré-estabelecidos. No entanto, a implantação desse processo, na percepção da administração
superior, significa maior custo, o que, muitas vezes, esbarra nos objetivos da instituição como
empresa.
Quando não existe essa rotina numa recepção de um pronto socorro, há uma pressão
muito grande por parte dos pacientes e acompanhantes para que o seu atendimento seja
prioritário, colocando a recepção numa situação conflitante. Os colaboradores da recepção
não possuem conhecimentos técnicos para definir quem deve ser atendido prioritariamente.
No entanto, muitos pacientes alegam estar “passando mal”, podendo realmente ser um caso
mais grave ou não. Sentindo-se pressionados e receosos de causar algum dano ao cliente, o
pessoal da recepção tende a pressionar a equipe de enfermagem para acomodar o paciente na
sala de observação, dando início aos primeiros procedimentos – aferição de temperatura e
pressão arterial, realização de alguns exames, etc. A equipe de enfermagem, por sua vez,
sente-se incomodada, já que é acionada frequentemente, interrompendo suas atividades, para
receber pacientes que, muitas vezes, teriam condições de aguardar o atendimento médico na
ordem de chegada. Quanto a esse aspecto, o Entrevistado 3 alega:
[...] eu acho que precisaria ter é um tipo de triagem, o paciente crítico... você recebe
uma pulseirinha, pronto! Eu acho que a gente poderia começar a implantar, talvez
melhorasse mais.
Visando melhorar o atendimento ao paciente e minimizar os conflitos relacionados a
esse aspecto, a unidade disponibilizou um técnico de enfermagem para ajudar no atendimento
da recepção. No entanto, como o mesmo afirma em seu relato, a questão não foi totalmente
solucionada.
[...] eu não posso fazer a triagem mesmo porque não sou enfermeiro. O que eu posso
fazer é: chegou um paciente desmaiando, vomitando muito, aí eu posso encaminhar
para dentro. (ENTREVISTADO 3)
O mesmo ressalta que não resolveu completamente o problema, mas amenizou o
conflito entre recepção e enfermagem, porque, em alguns casos, ele consegue acomodar ou
71
encaminhar o paciente para outro serviço, descongestionando a unidade.
Nessa questão, pode-se entender que há um impasse dos profissionais: dão início ao
atendimento do paciente sem cumprimento das rotinas pré-estabelecidas ou cumprem essas
rotinas apesar de toda a pressão que sofrem dos clientes e dos profissionais das outras áreas?
A explicação para esse dilema, vivido diariamente pelos profissionais da saúde, pode ser
encontrada no pensamento de Graça (2000), que coloca como principal característica do
hospital moderno uma ruptura conceitual, onde a função deixa de ser a “prestação de
assistência” e passa a ser a “prestação de serviços”. Vendemiatti et al (2010) também
concorda com esse pensamento quando afirma que a profissionalização da gestão hospitalar
ocorre em um contexto dúbio: não abandona a missão da saúde (função social), mas tem que
lidar com a racionalização característica dos processos de gestão.
As consequências desse impasse podem acarretar problemas diversos na assistência ao
paciente, mas, o mais grave, é o comprometimento na prestação de socorro ao paciente com
maior gravidade no quadro de saúde, que, muitas vezes, não tem o seu atendimento priorizado
pela falta do processo de triagem ou por desentendimento entre as equipes da recepção e da
enfermagem.
4.4.2 Conflitos
Relatados
pelos
Profissionais
da
Área
de
Enfermagem
a) Com a Equipe Administrativa
Os profissionais da área de enfermagem, em seus relatos, expressaram a mesma
opinião em relação ao relacionamento com a área administrativa que os profissionais
administrativos mencionaram em relação ao relacionamento com os profissionais de
enfermagem. Em geral, há um conflito num nível Percebido entre as equipes. Na
72
classificação de Bowditch e Buono (1992), o nível Percebido do conflito é aquele em que as
partes percebem o conflito, mas não se importam com ele. A inexistência do processo de
triagem é percebida como um fator que dificulta o trabalho na unidade e gera algumas
desavenças entre os profissionais das duas equipes, como pode ser observado nos relatos a
seguir:
[...] acho que, por ser pequena, é mais fácil. Não tem problema. (quando questionado
sobre o relacionamento com a equipe administrativa). (ENTREVISTADO 5)
[...] Nós temos contato com todos os setores da unidade, e, não temos nenhum
grande problema. Os problemas que vão surgindo, vão sendo resolvidos.
(ENTREVISTADO 2)
[...] não tenho nenhum problema com a área administrativa. (ENTREVISTADO 14)
[...] tem casos assim... vamos dizer assim, como exemplo... de um paciente que fala
muito, aí se queixa mais, aí elas (recepcionistas) têm medo e querem passar na frente
e sobrecarrega (o trabalho da enfermagem). (ENTREVISTADO 7)
[...] A recepção (recepcionistas) se mete muito no trabalho da enfermagem.
(ENTREVISTADO 12)
Quanto ao relato do entrevistado 12, a pesquisadora questionou o que significava “se
meter no trabalho da enfermagem”. O entrevistado alegou que havia uma pressão grande por
parte dos recepcionistas para acomodar pacientes na sala de observação antes do atendimento
médico, confirmando as informações de outros entrevistados da equipe de enfermagem. Como
mencionado anteriormente, os conflitos entre essas profissionais acontecem basicamente pela
falta do processo de triagem na recepção da unidade pesquisada.
b) Com a Equipe Médica

Não cumprimento de rotinas
Alguns profissionais da área de enfermagem relataram dificuldades em trabalhar com
a equipe médica em virtude da falta de cumprimento de algumas rotinas importantes no fluxo
73
da unidade de Pronto Socorro. Basicamente, esse tipo de conflito com os médicos é o mesmo
relatado pela equipe administrativa, quando se referem ao não cumprimento das normas.
Como mencionado anteriormente, os membros do grupo que gozam de maior status
costumam ter mais liberdade para se desviar das normas que os demais e também demonstram
mais resistência às pressões para a conformidade (ROBBINS, 2009). Os relatos dos
entrevistados 2 e 14 refletem o que outros membros dessa equipe também mencionaram nas
entrevistas:
[...] Às vezes eles (os médicos) ligam e dizem “Faça isso”. “Não Doutor, tem que
prescrever”. Porque a gente não pode fazer; se a gente faz e acontece alguma coisa
com o paciente, né? A culpa é nossa. É uma responsabilidade muito grande!.
(ENTREVISTADO 2)
[...] o médico também esquece de carimbar algumas vezes (as prescrições).
(ENTREVISTADO 14)
[...] às vezes um médico esquece da assinatura (no prontuário), e a gente tem que
mandar o motoqueiro onde ele está. (ENTREVISTADO 3)
O médico, pela sua própria formação, não se acha na obrigação de realizar qualquer
tarefa que perceba como inferior à sua capacidade, como preencher por completo um
prontuário, cumprindo exigências administrativas e legais. Alegam que perdem muito tempo
realizando essas tarefas. Pires (1989) menciona essa questão quando enfatiza a origem da
divisão do trabalho na assistência à saúde: trabalho intelectual e trabalho manual. O trabalho
intelectual referia-se à prática médica baseada no conhecimento, enquanto o manual
compreendia as atividades das quais os médicos não se ocupavam, deixando-as a cargo de
outras pessoas que não possuíam formação específica. O autor também reforça que, a partir
daí surgiram os primeiros conflitos entre os médicos e as demais pessoas que trabalhavam na
ação de saúde.
As consequências desse impasse são muitas. Além de um desgaste no relacionamento
entre as equipes, já que os médicos sofrem cobranças por parte do pessoal da enfermagem,
74
pode haver atraso ou demora na realização de procedimentos nos pacientes, comprometendo
gravemente o quadro de saúde destes. A prestação do serviço leva mais tempo para ser
finalizado, gerando, juntamente com o aumento do número de usuários de planos de saúde
que procuram a unidade de Pronto Socorro (SANDES, 2012), um tumulto na recepção e a
insatisfação dos clientes de saúdes. Tentando amenizar a situação, os profissionais envolvidos
tendem a agir de forma mais rápida, não dando, em alguns casos, a atenção devida. A imagem
da instituição sofre prejuízos, uma vez que os clientes a associam a um serviço de baixa
qualidade. Alguns relatos confirmam esses pontos:
[...] sobrecarrega as urgências (os pacientes) e sobrecarrega também o
relacionamento, porque existe um cansaço por parte do médico... e existe uma
demanda de demora por parte do paciente, que fica esperando um tempão.
(ENTREVISTADO 13)
[...] um paciente relatou, por escrito, que veio para cá, suspeitando de meningite.
Demorou para ser atendido, a recepção tava cheia. O médico não deu tanta
importância, atendeu bastante mal, foi bem rápido na consulta e mandou o paciente
pra casa. O paciente foi pra casa, mas, quando foi à noite, começou a agravar,
agravar e, voltando ao hospital, foi diagnosticado meningite. O paciente foi para a
UTI. (ENTREVISTADO 1)

Dificuldade de comunicação e falta de reconhecimento profissional
A dificuldade na comunicação é apontada mais uma vez como causadora de conflitos
entre profissionais de áreas diferentes. No caso do pessoal de enfermagem, essa dificuldade de
trocar informações com os médicos está vinculada à falta de reconhecimento da importância
profissional da enfermagem e da cultura da hegemonia médica no ambiente hospitalar, como
pode ser observado nos relatos abaixo:
[...] o técnico que tá ali com o paciente é que tá vendo a necessidade do paciente [...]
mas, tem médico que não aceita isso [...] você diz: ó doutor, o paciente não
melhorou com essa medicação. E eles não gostam! A maior dificuldade, acho que é
essa, em relação à comunicação. (ENTREVISTADO 5).
[...] eu acho que eles não escutam muito a gente. Como a gente passa a maior parte
do tempo com o paciente, a gente tem uma noção. Acho que eles poderiam escutar
mais. (ENTREVISTADO 7).
75
[...] as medicações [...] porque, às vezes, tem medicações que eles passam que dói no
paciente, que é com água e tem que ser com soro [...] mas tem uns que não aceitam.
Feito a colega, que foi falar para um (médico) e ele não gostou. É “a posição é
minha! (postura do médico). (ENTREVISTADO 8).
[...] A comunicação. (ENTREVISTADO 12, quando questionado qual a dificuldade
enfrentada no trabalho com os médicos).
Esses depoimentos confirmam o que Santos e Filho (1995) afirmam sobre essa
questão: que, mesmo constituindo o maior grupo de profissionais e possuindo formação de
nível superior (no caso dos enfermeiros), a enfermagem não tem autonomia para discutir,
questionar e deliberar junto ao médico sobre o andamento dos serviços prestados ao paciente,
sentindo-se desestimulada. O conflito tem início quando os médicos reduzem a natureza
específica da enfermagem a uma mera execução de ordens que o enfermeiro deve dar conta
(CARAPINHEIRO, 1998).
Pode ser percebida uma dificuldade de comunicação entre os médicos e os técnicos de
enfermagem, por uma questão de status. Mussak (2010) menciona esse ponto quando afirma
que as diferenças de status e poder determinam quem irá comunicar-se com quem e,
complementa que, se os membros da equipe não conseguem trocar informações sobre seu
trabalho, o processo de comunicação não funcionará de forma eficaz.
O relato abaixo confirma essa percepção:
[...] querendo ou não, tem alguns médicos que veem o técnico de enfermagem meio
que diferente. Tudo tem que passar pra enfermeira, pra depois chegar a eles, e isso,
às vezes, dificulta. (Entrevistado 5).
Robbins (2009) concorda com a questão sobre a interferência do status na
comunicação e alerta:
As diferenças de status, na verdade, inibem a diversidade de ideias e a criatividade
nos grupos, porque os componentes com menos prestígio tendem a participar menos
das discussões. Nas situações em que eles possuem habilidades e capacidades
importantes para o sucesso grupal, estas características são subutilizadas, reduzindo,
assim, o desempenho geral (ROBBINS, 2009, p.108).
76
Como consequência desses conflitos observou-se uma baixa autoestima da
enfermagem, resultando em desmotivação dos profissionais entrevistados. Também foi
percebido que a comunicação entre os médicos e, principalmente, os técnicos de enfermagem
é reduzida por ambas as partes: pelos médicos, por uma questão de pré-conceito e noção de
superioridade, e, pelos técnicos de enfermagem, por uma questão de preservação. Para os
pacientes, as consequências podem ser mais agravantes: negligência, administração incorreta
de medicamentos, curativos mal executados, atraso na execução de exames e na
administração de medicações, entre outras.
77
4.4.3 Conflitos Relatados pelos Profissionais da Área Médica
a) Com a Equipe Administrativa
Os médicos entrevistados levantaram dois pontos conflitantes na relação com a equipe
administrativa.

Excesso de normas e rotinas administrativas
Os médicos queixam-se do excesso de normas e rotinas imposto pela área
administrativa, alegando que essas tarefas demandam muito tempo do médico, atrasando o
atendimento do paciente, como pode ser confirmado nos relatos abaixo:
[...] tem muita burocracia; ou a gente atende (o paciente) ou preenche papel.
(Entrevistado 13).
[...] e acho que tem muito papel pra preencher, o que atrasa mais ainda o
atendimento do paciente. (Entrevistado 16).
Os hospitais evoluíram desde pequenos grupos estruturados informalmente até às
grandes e complexas organizações dos dias atuais (GONÇALVES, 1998). Num ambiente
mais competitivo e com clientes mais esclarecidos, as instituições hospitalares tiveram que se
reinventar, obtendo mais resultados positivos através do controle e do uso racional de seus
recursos. A pressão das empresas seguradoras de saúde pela redução, tanto do uso como dos
preços dos materiais e serviços, também contribuiu de forma decisiva para essa
transformação.
Os médicos, por terem uma formação especificamente técnica, geralmente não
possuem uma visão empresarial do negócio, além dos aspectos culturais da sua formação.
Somando-se a isso, o aspecto da hegemonia médica encontrada nos principais cargos
gerenciais de um hospital (GONÇALVES, 2002) e a sensação de superioridade em relação
78
aos outros cargos por se achar responsável pela vida e morte do paciente, faz com que haja
uma resistência por parte desse grupo em cumprir normas e rotinas determinadas por
profissionais de outras áreas.
Sentindo-se pressionados, os médicos ficam impacientes e acabam “descontando” no
tratamento com os profissionais das outras áreas e, eventualmente, nos pacientes; podendo
causar prejuízos operacionais, financeiros e da imagem da instituição perante seus usuários.

Condições inadequadas de trabalho
Os entrevistados da área médica narraram uma grande insatisfação em relação à
elevada carga de trabalho na unidade pesquisada, afirmando que o médico não tem tido
condições adequadas de trabalho, uma vez que mal consegue tempo para se alimentar ou ir ao
banheiro durante o plantão. Alegam que o trabalho na unidade tem sido desgastante e, por
isso, acabam ficando mal humorados e afirmam que muitos pacientes não precisariam estar
num pronto socorro, mas, como existe uma dificuldade em agendar consultas eletivas, acabam
superlotando as unidades de pronto atendimento. Enfatizam que a administração não
compreende o que realmente acontece e sempre julga o médico de forma inadequada. Os
relatos a seguir confirmam essas considerações:
[...] a gente se sobrecarrega, e isso leva um cansaço ao médico e, às vezes, sem
querer, a gente fica mal humorado, não é? [...] ele (paciente) tenta marcar consulta aí
fora, só marca pra uma semana, quinze dias, às vezes mais tempo, aí ele se sente
quase obrigado a procurar uma urgência. [...] a gente tem um problema aqui
seríssimo com relação à atestado. O paciente que não tem doença, vem aqui atrás de
atestado. Quando a gente não dá, ele faz queixas para a diretoria, inventando um
monte de mentira e que, às vezes, a própria direção do hospital não entende, diz que
o médico tá atendendo mal. Então, é uma coisa assim, que acaba deixando a gente
chateado. (Entrevistado 13).
[...] eles (a administração da unidade) têm que ver que nós estamos sobrecarregados.
É muito paciente pra pouco médico e ultrapassa o que a lei manda. (Entrevistado
16).
[...] mas, o número de pacientes é absurdo, a gente não para! (Entrevistado 10).
79
De acordo com os dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS),
Pernambuco tem, atualmente, 1.495.534 usuários de planos de saúde e 2.441 leitos, resultando
numa proporção de 612 pacientes para cada leito (SANDES, 2012). Há, de fato, um número
elevado de pacientes que procuram atendimento nas Urgências/Emergências, fazendo com
que o tempo de espera para atendimento do paciente, sem considerar qualquer complicador no
processo interno do serviço, seja elevado, acarretando insatisfação em todos os envolvidos no
processo.
Walton (1973) define as condições de trabalho (condições físicas do ambiente e
jornada de trabalho) como um dos pontos principais que influenciam a QVT (Qualidade de
Vida no Trabalho), fundamentando a alegação dos médicos quanto às suas condições de
trabalho na unidade pesquisada. Importante ressaltar que esse ponto de conflito foi colocado
pelos próprios entrevistados como sendo um entrave entre eles e a área administrativa, uma
vez que é a alta administração que tem poder para realizar alguma mudança nesse aspecto. A
média de pacientes atendidos na unidade pesquisada é de 200 pacientes/dia e, desse total,
aproximadamente 170 atendimentos são realizados no período das 8 às 22h; resultando em
uma média de 12 pacientes por hora. Os médicos se sentem esgotados e prejudicados e
alegam que cabe à Administração a contratação de mais médicos para resolver tal situação.
b) Com a Equipe de Enfermagem

Excesso de cobrança
Os entrevistados da área médica disseram que o desgaste com a equipe de enfermagem
acontece pelo excesso de cobrança que esses fazem sobre eles, seja para realizar uma
prescrição ou para avaliação ou reavaliação de um paciente, como pode ser visto no relato do
Entrevistado 16:
80
[...] às vezes ficam (a enfermagem) chamando a gente várias vezes pra mesma coisa.
Não precisa, né? Se já avisou uma vez, não precisa repetir.
Pelo que foi apurado pela pesquisadora, realmente existe uma cobrança por parte da
enfermagem para que os médicos realizem alguns procedimentos. Isso foi relatado pela
própria equipe de enfermagem quando questionada sobre os conflitos com a área médica.
Mas, é importante ressaltar que, essas cobranças ocorrem porque as tarefas são interligadas e
interdependentes. A enfermagem, em muitos casos, fica impossibilitada de realizar o seu
trabalho se o médico deixar de fazer alguma etapa do seu. Isso é uma característica do
trabalho em equipe, que, segundo Bertelli (2004), é o tipo de trabalho que mais ocorre dentro
de um ambiente hospitalar. Para reforçar essa conclusão, recorre-se ao conceito de equipe, de
Schermerhorn, Hunt e Osborn (1999, p. 148, grifo nosso):
Equipe é um pequeno grupo de pessoas com habilidades complementares, que
trabalham juntas com o fim de atingir um propósito comum pelo qual se
consideram coletivamente responsáveis (1999, p. 148, grifo nosso).
Como consequência dessa situação, pode ser mencionado o desgaste do
relacionamento entre as equipes, acarretando, muitas vezes, um tratamento descortês dos
médicos com os profissionais de enfermagem e, até com os pacientes. Mais uma vez, os
conflitos entre os profissionais afetam diretamente o cliente de saúde que percebe direta ou
indiretamente o “clima” conflitante que se instala no ambiente.
Um resumo dos conflitos entre profissionais da unidade pesquisada que foram
identificados nesse estudo pode ser visualizado no Quadro 3. Nele pode-se verificar que as
falhas de COMUNICAÇÃO e a falta de INTEGRAÇÃO estão inseridas nas origens desses
conflitos.
81
Quadro 3 - Conflitos relatados pelos entrevistados
ÁREA
ADMINISTRATIVA
COM OS
MÉDICOS
ÁREA DE
ENFERMAGEM
COM A
ENFERMAGEM
COM ÁREA
ADMINISTRATIVA
COM OS
MÉDICOS
ÁREA
MÉDICA
COM ÁREA
ADMINISTRATIVA
COM A
ENFERMAGEM
Dificuldade de comunicação
Interferência e não cumprimento das normas
Tratamento desrespeitoso ou grosseiro
Desentendimentos pela falta do processo de triagem na
recepção da unidade
Desentendimentos pela falta do processo de triagem na
recepção da unidade
Não cumprimento das rotinas
Dificuldade de comunicação e falta de reconhecimento
profissional
Excesso de normas e rotinas
Condições inadequadas de trabalho
Excesso de cobrança
Fonte: Dados da pesquisa (2012)
As conclusões e sugestões para estudos futuros serão apresentados a seguir.
82
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES
5.1 Conclusões
O objetivo geral desse estudo foi o de identificar os conflitos entre os profissionais de
uma equipe de trabalho de uma unidade de Pronto Socorro, que possam interferir na qualidade
da assistência prestada ao cliente, na percepção desses profissionais.
Esta investigação ocorreu por um interesse da pesquisadora, após quinze anos de
trabalho numa instituição hospitalar, em compreender de forma mais clara e minuciosa os
trabalhadores da área, mais especificamente da unidade de Pronto Socorro.
Referindo a visão de Gonçalves (1998), os hospitais são organizações com um elevado
grau de importância na sociedade, resultante do papel essencial dessas instituições em
momentos fundamentais da vida das pessoas, no nascimento, na doença e na morte. Como
locus desse estudo, foi escolhida a unidade de Pronto Socorro em virtude da maior vivência
profissional da pesquisadora nessa área e pelas peculiaridades de uma unidade de
Emergência/Urgência – grande fluxo de usuários, a complexidade da assistência, elevado
número de atividades profissionais e tempo reduzido para a ação – que apresenta condições
bastante favoráveis ao tema investigado.
Como afirma Lima e Bastos (2007), este tema obteve maior importância nos últimos
vinte anos, quando os hospitais passaram a observar que esses conflitos geram mal-estar para
os profissionais de saúde entre si, e para os pacientes em relação aos referidos profissionais,
dificultando a consecução dos objetivos organizacionais.
No entanto, os conflitos sempre existiram e pode-se perceber que é algo imanente à
condição humana (ALVES; MORESCHI, 2006). Como citado por Farias e Vaitsman (2002),
os conflitos e as tensões são inerentes às organizações e são nutridos pelas tentativas para
83
conservar ou alterar a distribuição de poder. De um modo geral, esse foi o ponto principal
encontrado nos resultados desse estudo: conflitos em virtude da distribuição de poder, típico
das organizações de “especialistas”.
Por opção da pesquisadora, apenas os profissionais da unidade que lidam diretamente
com o paciente foram considerados nesse estudo. Todos os pesquisados (enfermeiros, técnicos
de enfermagem, técnicos de coleta laboratorial, técnicos de radiologia, gerente e supervisor
administrativo, recepcionistas, auxiliares de recepção e médicos) possuíam mais de um ano de
serviço na unidade pesquisada, evitando comprometer o discernimento destes quanto aos
aspectos relativos à área avaliada.
O primeiro objetivo específico buscou medir o clima organizacional da unidade e o
grau de estresse dos profissionais que atuam diretamente com o paciente. Foram distribuídos
cadernos de questionários, cada um contendo três questionários. O primeiro foi o instrumento
denominado Escala de Clima Organizacional (ECO), de Martins et al (2004). O segundo foi o
questionário da ESCALA DE ESTRESSE NO TRABALHO (EET), de Paschoal e Tamayo
(2004). O terceiro, elaborado pela pesquisadora, para o levantamento dos dados demográficos
dos pesquisados.
Da análise desses dados, foi apurado que 60% dos pesquisados trabalham há, no
máximo, 05 anos no respectivo setor, indicando uma equipe relativamente jovem. Quanto à
área de atuação, os médicos foram os profissionais que apresentavam maior tempo de serviço
e idade mais avançada.
O grupo pesquisado alcançou um escore médio de 1,93 na EET, o que está
relativamente distante do ponto médio, que é 3,0, indicando baixo nível de estresse. Os
escores mais altos foram encontrados nos temas: perspectiva de crescimento (2,30),
distribuição de tarefas (2,13) e complexidade das tarefas (2,23), indicando maior preocupação
dos pesquisados nesses pontos. Esses resultados podem ser um reflexo da insatisfação do
84
maior grupo pesquisado: os profissionais de enfermagem. Durante as entrevistas, muitos
trabalhadores dessa área mencionaram insatisfação quanto à falta de autonomia em relação ao
tratamento dos pacientes e a pouca importância dada pelos médicos às informações prestadas
pela equipe de enfermagem, resultando em baixa autoestima. Pela experiência profissional da
pesquisadora e pelo o que foi observado durante a realização desse estudo, a preocupação
quanto à perspectiva de crescimento, por parte da enfermagem e dos trabalhadores da área
administrativa, é uma constante em organizações de saúde. Isso ocorre pelo fato desses
profissionais se sentirem “menos importantes” na instituição, já que os médicos ocupam
posição de destaque e status diferenciado. Isso é sentido, como mencionado na introdução
desse trabalho, nas organizações de especialistas.
Analisando a Escala de Estresse do Trabalho em relação ao tempo de serviço dos
pesquisados, constatou-se que aqueles com mais de seis anos de serviço na unidade
demonstraram preocupação em relação à forma como as tarefas são distribuídas. E, os que
estavam na unidade no período de 6 a 10 anos, apresentaram inquietação quanto às
perspectivas de crescimento na carreira. Em relação ao sexo e área de atuação dos
pesquisados, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas na EET.
Um ponto importante a ser ressaltado é que a maioria dos respondentes sente que a
chefia confia em seu trabalho, que não há competição entre os colegas e que não há sensação
de isolamento no ambiente de trabalho. Isso demonstra um grupo coeso, o que também foi
apurado na Escala de Clima Organizacional, mais especificamente no grupo da enfermagem.
Os resultados da Escala de Clima Organizacional (ECO) apontaram um clima
razoável, uma vez que o menor índice encontrado foi de 3,01, relativamente próximo do
índice 4,0, que indica bom clima.
Um dado que chamou a atenção na ECO, levando-se em consideração à área de
atuação dos pesquisados, foi o de que os médicos apresentaram o menor índice no fator Apoio
85
da Chefia e da Organização (2,67). Isso pode ser entendido como um reflexo do processo de
reestruturação pelo qual está passando a instituição pesquisada – a presidência da instituição
está exigindo maior comprometimento da equipe médica e instituindo regras de
comportamento - gerando um desconforto nesses profissionais, acostumados a regalias e
privilégios.
Em relação ao sexo dos pesquisados, as mulheres demonstraram maior insatisfação
quanto ao fator Conforto Físico. Quanto ao tempo de serviço dos profissionais, não foi
encontrada nenhuma diferença estatisticamente significativa na Escala de Clima
Organizacional.
O segundo objetivo específico desse estudo procurou identificar os conflitos existentes
entre os profissionais da unidade analisada e quais os entraves causados por esses conflitos na
qualidade do serviço prestado ao cliente de saúde, na percepção desses trabalhadores.
Dezesseis trabalhadores foram entrevistados e os dados foram apurados pela análise de
conteúdo de Bardin (2011).
De um modo geral, tanto os profissionais da área de enfermagem como os da área
administrativa, relatam complicações em trabalhar com a área médica quanto à dificuldade de
acesso e comunicação, além de perceberem que os médicos não dão à devida importância aos
assuntos abordados por eles, tanto em relação às normas administrativas quanto aos assuntos
ligados ao tratamento do paciente. Os médicos, por sua vez, reclamam do excesso de normas
e rotinas impostas, excesso de cobrança e condições inadequadas de trabalho. Um ponto
conflitante entre os profissionais da área administrativa e da área de enfermagem foi a falta do
processo de triagem na recepção da unidade avaliada, que acaba dificultando o trabalho das
duas áreas.
Fazendo uma análise dos conflitos relatados pelos entrevistados e fazendo o
cruzamento desses dados, pode-se concluir que duas palavras-chave estão inseridas na origem
86
desses conflitos: COMUNICAÇÃO e INTEGRAÇÃO.
Essa conclusão pode ser reforçada quando se recorre a Casado (2002, p. 271):
[...] Como ser social, o homem possibilitou e garantiu a vida social através dos
diferentes sistemas de comunicação que desenvolveu. Ao interagir com seus
semelhantes utilizando um código comum, inteligível, o homem faz mais do que
informar e ser informado sobre as coisas do mundo: ele agrega novas formas de
organização do próprio pensamento, adquire novos pensamentos e amplia a
consciência de si próprio, de seu lugar no mundo e de sua responsabilidade social.
O significado da palavra INTEGRAÇÃO também colabora com a conclusão da
pesquisadora. A palavra integração tem origem no termo latim integratio. É entendido como
um processo dinâmico que supõe que pessoas de diferentes grupos se reúnam sob um mesmo
objetivo. Para Walton (1973), a integração é considerada boa quando houver um clima de
trabalho no qual o trabalhador seja aceito, seja tratado com igualdade em relação aos seus
colegas de trabalho, tenha perspectivas na carreira, obtenha o apoio do grupo e compartilhe
ideias e sentimentos. Com a integração, os indivíduos passam a compreender as realidades
uns dos outros e a importância de cada um no resultado final. Obtém-se, dessa forma, um time
de trabalho. De acordo com Casado (2002), um time de trabalho reúne os aspectos emocionais
presentes no conceito de grupo com a noção de responsabilidade pelo resultado, presente no
conceito de equipe. A autora ainda acrescenta que, no cenário atual, o trabalho em time
aparece como uma das alternativas viáveis de gestão de recursos humanos para levar a
organização aos patamares de desempenho esperados.
Concluiu-se que os clientes podem ser prejudicados diretamente por esses conflitos e
algumas consequências na prestação do serviço de saúde podem ser citadas: atrasos ou falhas
na realização de procedimentos (realização de exames e administração de medicamentos),
comprometimento na prestação de socorro ao paciente com maior gravidade no quadro de
saúde, interrupção ou excesso de demora no atendimento médico, erros médicos, maus tratos,
negligência, entre outros.
A instituição e os profissionais envolvidos também sofrem as consequências desses
87
conflitos. Os indivíduos tendem a se comunicar menos, como um modo de evitar tais
desavenças. Apesar desse ponto ter sido mencionado explicitamente nas declarações da
enfermagem, a pesquisadora pôde perceber que profissionais de outras áreas também se
sentem dessa forma, principalmente, quando presenciou o receio de alguns recepcionistas no
momento em que tinham que tratar algum assunto com os médicos. O clima organizacional
tende a ser prejudicado e os trabalhadores podem desenvolver níveis de estresse que
comprometam todos os envolvidos: instituição, colaboradores e clientes.
A instituição sofre com o prejuízo da sua imagem, pois o trabalhador coletivo é uma
imagem que corresponde, enquanto agente do trabalho, ao produto final do serviço prestado
ao usuário (SANTANA, 1993).
Conclui-se que, apesar da instituição analisada apresentar um clima organizacional
razoável e seus trabalhadores possuírem um baixo nível de estresse (achados da Análise
Quantitativa), conflitos relevantes entre as categorias pesquisadas, e que podem resultar num
comprometimento do clima organizacional e num aumento do nível de estresse dos
profissionais (achados da Análise Qualitativa), foram identificados. Pela percepção da
pesquisadora, dois fatores podem explicar essa contradição:
1.
Por se tratar de uma unidade de pequeno porte, comparando com outras unidades da
mesma organização e com unidades de pronto socorro de outros hospitais, há uma
tendência de coesão do grupo como estratégia de sobrevivência. Mesmo ocorrendo
conflitos, os membros do grupo procuram minimizá-los, evitando desgaste excessivo
no relacionamento da equipe, e
2.
Pelo fato da unidade pesquisada fazer parte de uma cooperativa médica, os
trabalhadores da área administrativa e da enfermagem tendem a desenvolver um
“comportamento político”, evitando confrontos com os médicos, já que temem
possíveis represálias.
88
Como sugestão, ressalta-se que a comunicação, em todos os seus aspectos, seja
ampliada; a integração social, incentivada pela instituição e, os conflitos, trabalhados de
maneira construtiva, em busca de alternativas, visando melhorar a relação de trabalho entre as
áreas.
A seguir, no último tópico desse trabalho, são feitas sugestões para estudo futuros.
5.2 Sugestões para Estudos Futuros
Tomando como base essa dissertação, outros estudos podem vir a ser realizados
buscando aprofundar os conhecimentos sobre os conflitos existentes entre os profissionais das
áreas médica, administrativa e de enfermagem, em uma unidade de pronto socorro, e que
interferem na qualidade do atendimento prestado ao cliente de saúde. As sugestões para os
próximos estudos são:
1.
Realizar estudos semelhantes em outras unidades de instituições hospitalares, fazendo
uma comparação com os resultados encontrados nesse trabalho;
2.
A realização de um estudo longitudinal para a comparação dos resultados;
3.
Realizar estudos sobre a percepção do cliente de saúde, quanto à qualidade no
atendimento, em unidades de pronto socorro de instituições hospitalares diversas,
comparando os resultados e levantando as causas das diferenças;
4.
Realização de estudos para a melhoria na formação dos profissionais da área de saúde
nas instituições acadêmicas, ressaltando a importância dos processos administrativos,
a integração e trabalho em equipe e a humanização no atendimento.
89
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97
APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista Área Administrativa
ÁREA ADMINISTRATIVA
FUNÇÃO:
IDADE/TEMPO DE TRABALHO NA ÁREA/TEMPO DE TRABALHO NA INST.
PESQUISADA:
1. Com os MÉDICOS:
1.1 Na sua opinião, quais os principais problemas no seu dia-a-dia de trabalho que interferem
na assistência ao paciente? Explique sua colocação citando situações ocorridas como
exemplo.
1.2 Na sua opinião, quais as dificuldades no atendimento aos pacientes causados pelos
conflitos citados na pergunta anterior?
2. Com a ENFERMAGEM:
2.1 Na sua opinião, quais os principais problemas no seu dia-a-dia de trabalho que interferem
na assistência ao paciente? Explique sua colocação citando situações ocorridas como
exemplo.
2.2 Na sua opinião, quais as dificuldades no atendimento aos pacientes causados pelos
conflitos citados na pergunta anterior?
3. Com os outros colaboradores da área ADMINISTRATIVA:
3.1 Na sua opinião, quais os principais problemas no seu dia-a-dia de trabalho que interferem
na assistência ao paciente? Explique sua colocação citando situações ocorridas como
exemplo.
3.2 Na sua opinião, quais as dificuldades no atendimento aos pacientes causados pelos
conflitos citados na pergunta anterior?
98
APÊNDICE B – Roteiro de Entrevista Área Médica
ÁREA MÉDICA
IDADE/TEMPO DE TRABALHO NA FUNÇÃO/ TEMPO DE TRABALHO NA INST
PESQUISADA:
1. Com os colaboradores da área ADMINISTRATIVA:
1.1 Na sua opinião, quais os principais problemas no seu dia-a-dia de trabalho que interferem
na assistência ao paciente? Explique sua colocação citando situações ocorridas como
exemplo.
1.2 Na sua opinião, quais as dificuldades no atendimento aos pacientes causados pelos
conflitos citados na pergunta anterior?
2. Com a ENFERMAGEM:
2.1 Na sua opinião, quais os principais problemas no seu dia-a-dia de trabalho que interferem
na assistência ao paciente? Explique sua colocação citando situações ocorridas como
exemplo.
2.2 Na sua opinião, quais as dificuldades no atendimento aos pacientes causados pelos
conflitos citados na pergunta anterior?
3. Com os outros colaboradores da área MÉDICA:
3.1 Na sua opinião, quais os principais problemas no seu dia-a-dia de trabalho que interferem
na assistência ao paciente? Explique sua colocação citando situações ocorridas como
exemplo.
3.2 Na sua opinião, quais as dificuldades no atendimento aos pacientes causados pelos
conflitos citados na pergunta anterior?
99
APÊNDICE C – Roteiro de Entrevista Área de Enfermagem
ÁREA DE ENFERMAGEM
FUNÇÃO:
IDADE/TEMPO DE TRABALHO NA FUNÇÃO/TEMPO DE TRABALHO NA
INSTITUIÇÃO
1. Com os colaboradores da área ADMINISTRATIVA:
1.1 Na sua opinião, quais os principais problemas no seu dia-a-dia de trabalho que interferem
na assistência ao paciente? Explique sua colocação citando situações ocorridas como
exemplo.
1.2 Na sua opinião, quais as dificuldades no atendimento aos pacientes causados pelos
conflitos citados na pergunta anterior?
2. Com os MÉDICOS:
2.1 Na sua opinião, quais os principais problemas no seu dia-a-dia de trabalho que interferem
na assistência ao paciente? Explique sua colocação citando situações ocorridas como
exemplo.
2.2 Na sua opinião, quais as dificuldades no atendimento aos pacientes causados pelos
conflitos citados na pergunta anterior?
3. Com os outros colaboradores da área de ENFERMAGEM:
3.1 Na sua opinião, quais os principais problemas no seu dia-a-dia de trabalho que interferem
na assistência ao paciente? Explique sua colocação citando situações ocorridas como
exemplo.
3.2 Na sua opinião, quais as dificuldades no atendimento aos pacientes causados pelos
conflitos citados na pergunta anterior?
100
ANEXO A – Caderno de Questionários
CARTA EXPLICATIVA DE PESQUISA
FACULDADE BOA VIAGEM
CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL
Recife, junho de 2012.
Prezado(a) colaborador(a),
Este caderno de perguntas faz parte de uma pesquisa sobre os conflitos existentes entre
as categorias médica, administrativa e de enfermagem em uma unidade de Pronto Socorro que
podem interferir na qualidade do atendimento prestado aos clientes de saúde, na percepção
dessas categorias.
Com fins acadêmicos, este levantamento de dados servirá tão somente como pesquisa
para o embasamento de dissertação apresentada ao Mestrado Profissional em Gestão
Empresarial da Faculdade Boa Viagem como pré-requisito para a obtenção do título de
Mestre. Portanto, agradeço a empresa pelo apoio, autorização e espaço para o
desenvolvimento de uma pesquisa com seus colaboradores.
Solicito sua cooperação para responder a este questionário. Sua participação é
voluntária e asseguro que os respondentes não serão identificados. Por favor, responda todas
as questões com sinceridade e seriedade.
Agradeço a colaboração!
Atenciosamente,
Alessandra Cavalcanti Barbosa de Melo.
Aluna do curso Mestrado Profissional em Gestão Empresarial da Faculdade Boa Viagem.
Orientadora: Prof. Lúcia Maria Barbosa de Oliveira, PhD.
Contato, dúvidas ou esclarecimentos:
Telefone: (81) 9925 7960
E-mail: [email protected]
101
QUESTIONÁRIO I – DADOS DEMOGRÁFICOS
1. Sua área de trabalho:
( ) Administrativa
( ) Corpo de enfermagem
2. Sexo:
( ) Masculino
( ) Feminino
3. Sua faixa etária:
( ) de 18 a 27 anos
( ) de 28 a 37 anos
( ) de 38 a 47 anos
( ) acima de 47 anos
4. Tempo de atuação na área de saúde:
( ) Menos de 5 anos
( ) de 6 a 10 anos
( ) de 11 a 15 anos
( ) acima de 15 anos
5. Tempo de serviço na instituição pesquisada:
( ) Menos de 5 anos
( ) de 6 a 10 anos
( ) de 11 a 15 anos
( ) acima de 15 anos
( ) Corpo Médico
102
QUESTIONÁRIO II - ESCALA DE CLIMA ORGANIZACIONAL - ECO
Caro colaborador,
Neste questionário você vai encontrar uma série de frases que descrevem características das
empresas e que foram levantadas em diferentes organizações de trabalho. Por favor, avalie o
quanto estas características descrevem a empresa onde você trabalha.
Para responder, leia as características descritas nas frases a seguir e marque com um “X” a
opção que melhor representa sua opinião, de acordo com os seguintes códigos:
DT (Discordo totalmente), D (Discordo), NC/ND (Nem concordo/nem discordo),
C (Concordo) e CT (Concordo totalmente)
N
ITENS
01
02
Meu setor é informado das decisões que o envolvem
Os conflitos que acontecem no meu trabalho são
resolvidos pelo próprio grupo
O funcionário recebe orientação do supervisor (ou
chefe) para executar suas tarefas
As tarefas que demoram mais para serem realizadas
são orientadas até o fim pelo chefe
Aqui, o chefe ajuda os funcionários com problemas.
O chefe elogia quando o funcionário faz um bom
trabalho
As mudanças são acompanhadas pelos supervisores (ou
chefes)
As mudanças nesta empresa são informadas aos
funcionários.
Nesta empresa, as dúvidas são esclarecidas
Aqui, existe planejamento das tarefas.
O funcionário pode contar com o apoio do chefe
As mudanças nesta empresa são planejadas
As inovações feitas pelo funcionário no seu trabalho
são aceitas pela empresa.
Aqui, novas ideias melhoram o desempenho dos
funcionários.
O chefe valoriza a opinião dos funcionários.
Nesta empresa, os funcionários têm participação nas
mudanças.
O chefe tem respeito pelos funcionários
O chefe colabora com a produtividade dos funcionários
Nesta empresa, o chefe ajuda o funcionário quando ele
precisa.
A empresa aceita novas formas de o funcionário
realizar suas tarefas.
O diálogo é utilizado para resolver os problemas da
empresa.
Os funcionários realizam suas tarefas com satisfação
Aqui, o chefe valoriza seus funcionários
Quando os funcionários conseguem desempenhar bem
o seu trabalho, eles são recompensados.
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
DT
D
NC/
ND
C
CT
103
N
ITENS
25
O que os funcionários ganham depende das tarefas que
eles fazem.
Nesta empresa, o funcionário sabe por que está sendo
recompensado
Esta empresa se preocupa com a saúde de seus
funcionários
Esta empresa valoriza o esforço dos funcionários
As recompensas que o funcionário recebe estão dentro
das suas expectativas.
O trabalho bem feito é recompensado
O salário dos funcionários depende da qualidade de
suas tarefas
A produtividade do empregado tem influência no seu
salário.
A qualidade do trabalho tem influência no salário do
empregado
Para premiar o funcionário, esta empresa considera a
qualidade do que ele produz.
Os funcionários desta empresa têm equipamentos
necessários para realizar suas tarefas
O ambiente de trabalho atende às necessidades físicas
do trabalhador
Nesta empresa, o deficiente físico pode se movimentar
com facilidade
O espaço físico no setor de trabalho é suficiente
O ambiente físico de trabalho é agradável
Nesta empresa, o local de trabalho é arejado
Nesta empresa, existem equipamentos que previnem os
perigos do trabalho
Existe iluminação adequada no ambiente de trabalho
Esta empresa demonstra preocupação com a segurança
no trabalho
O setor de trabalho é limpo
Os equipamentos de trabalho são adequados para
garantir a saúde do empregado no trabalho.
Nesta empresa, a postura física dos empregados é
adequada para evitar danos à saúde
O ambiente de trabalho facilita o desempenho das
tarefas
Aqui, existe controle exagerado sobre os funcionários
Nesta empresa, tudo é controlado
Esta empresa exige que as tarefas sejam feitas dentro
do prazo previsto
A frequência dos funcionários é controlada com rigor
por esta empresa
Aqui, o chefe usa as regras da empresa para punir os
funcionários
Os horários dos funcionários são cobrados com rigor
Aqui, o chefe pressiona o tempo todo
Nesta empresa, nada é feito sem a autorização do chefe
Nesta empresa existe uma fiscalização permanente do
chefe
As relações entre as pessoas deste setor são de amizade
O funcionário que comete um erro é ajudado pelos
colegas
Aqui os colegas auxiliam um novo funcionário em suas
dificuldades
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
50
51
52
53
54
55
56
57
58
59
DT
D
NC/
ND
C
CT
104
N
ITENS
60
61
Aqui nesta empresa, existe cooperação entre os colegas
Nesta empresa, os funcionários recebem bem um novo
colega
Existe integração entre colegas e funcionários nesta
empresa
Os funcionários se sentem à vontade para contar seus
problemas pessoais para alguns colegas
62
63
DT
D
NC/
ND
C
CT
105
QUESTIONÁRIO III – ESCALA DE ESTRESSE NO TRABALHO - EET
Caro colaborador,
Você encontrará a seguir uma série de itens que descrevem o nível de estresse no trabalho.
Examine cada descrição e indique o quanto ela corresponde à maneira como você percebe
cada item. Para responder, assinale com um “X” apenas um dos códigos da escala à direita de
cada frase, conforme descrição abaixo:
DT (Discordo totalmente), D (Discordo),
(Concordo) e CT (Concordo totalmente)
N
ITENS
01
A forma como as tarefas são distribuídas em
minha área tem me deixado nervoso.
A falta de autonomia na execução do meu
trabalho tem sido desgastante.
Tenho me sentido incomodado com a falta de
confiança de meu superior sobre o meu trabalho.
Sinto-me irritado com a deficiência na
divulgação de informações sobre decisões
organizacionais.
Sinto-me incomodado por ter que realizar tarefas
que estão além de minha capacidade.
Tenho me sentido incomodado com a deficiência
nos treinamentos para capacitação profissional.
Fico de mau humor por me sentir isolado na
organização.
Fico irritado por ser pouco valorizado por meus
superiores.
As poucas perspectivas de crescimento na
carreira tem me deixado angustiado.
Tenho me sentido incomodado por trabalhar em
tarefas abaixo do meu nível de habilidade.
A competição no meu ambiente de trabalho tem
me deixado de mau humor.
A falta de compreensão sobre quais são minhas
responsabilidades neste trabalho tem causado
irritação.
O tempo insuficiente para realizar meu volume
de trabalho deixa-me nervoso.
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NC/ND (Nem concordo/nem discordo),
DT
D
NC/ND
C
CT
C
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