86 Carta aos editores Uso da olanzapina em adolescente com transtorno do humor bipolar após síndrome neuroléptica maligna Use of olanzapine in adolescent with bipolar disorder after neuroleptic malignant syndrome Sr. Editor, A síndrome neuroléptica maligna (SNM) é uma reação idiossincrásica e potencialmente fatal, relacionada à utilização de antipsicóticos.1 O transtorno do humor bipolar (THB) de início na infância e adolescência pode apresentar sintomas psicóticos. Dessa forma, os antipsicóticos atípicos têm sido opção para casos de adolescentes com THB psicótico visto que esses apresentam menores riscos de SNM quando comparados com os antipsicóticos típicos.1 Relatamos a seguir o caso de um adolescente portador de THB em fase de mania psicótica, com antecedente de SNM e que apresentou remissão completa dos sintomas psiquiátricos com uso de olanzapina em associação com carbonato de lítio. Apresentação do caso: ARB, masculino, 16 anos, branco, passava bem até um ano atrás quando rompeu o namoro. Iniciou um quadro de tristeza, anedonia, alucinações auditivas com conteúdos depressivos e ideação com tentativa de suicídio. Foi tratado com doses diárias de citalopram 20 mg e carbamazepina 200 mg. Apresentou melhora dos sintomas depressivos após 60 dias, mas a seguir desenvolveu quadro de agitação psicomotora, euforia, aumento de energia, logorréia, idéias de grandeza e irritação. Mesmo após interromper antidepressivo, manteve-se com o estado de humor eufórico e grandioso por vários meses. Foi internado em clínica psiquiátrica e, num momento de agitação, foi medicado com haloperidol 5 mg intramuscular. A seguir, apresentou febre alta e evoluiu para SNM, foi encaminhado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Após alta da UTI, continuava com sintomas maniformes. Fez acompanhamento psiquiátrico irregular com doses diárias de risperidona 3 mg/dia sem nenhuma melhora. Foi encaminhado para internação no SEPIA-IPq. Na ocasião, apresentava-se evidente sintoma de mania psicótica e de liberação extrapiramidal (LEP), mas não apresentava sintomas de SNM. Após período de “washout” de 15 dias e melhora total de LEP, o paciente manteve-se em mania psicótica com muita agitação e desorganização. Optou-se inicialmente por introduzir carbonato de lítio com aumento progressivo até dose diária de 1.200 mg, o que não apresentou nenhum efeito colateral, mas também não obteve melhora. Optou-se, então, por associar olanzapina com aumento rápido até dose diária de 20 mg. Em oito dias, o paciente apresentou remissão clínica sem quaisquer intercorrências. ARB obteve alta hospitalar após 15 dias de inicio do uso da olanzapina em associação ao carbonato de lítio (litemia = 0,9 mEq/L), retornando ao quadro basal pré-crise. O paciente permanece estável há nove meses, algo que não havia ocorrido desde que apresentou os primeiros sintomas de THB. Discussão: Risperidona talvez seja o antipsicótico mais utilizado em casos THB em crianças e adolescentes e poderia ser uma opção neste caso. Entretanto, o paciente apresentou intensa LEP disfuncional e nenhuma melhora do quadro da mania e psicose até dose diária de 3 mg. Olanzapina tem suas propriedades terapêuticas nos casos de THB de início precoce já evidenciados em diversos ensaios abertos, inclusive em associação com o carbonato de lítio.2 Apesar de haver na literatura diversas situações que descrevem casos de SNM desenvolvidas após o uso da olanzapina,3-5 o caso descrito mostra que olanzapina pode ser uma opção eficaz e segura no tratamento de pacientes jovens portadores de mania psicótica com antecedentes de SNM. Miguel Angelo Boarati, Lee Fu-I Ambulatório de Transtornos Afetivos do Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência (ATA-SEPIA), Instituto de Psiquiatria (IPq), Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo (SP), Brasil Financiamento: Inexistente Conflito de interesses: Inexistente Referências 1. Strawn JR, Keck PE, Caroff SN. Neuroleptic Malignant Syndrome. Am J Psychiatry. 2007;164(6):870-6. 2. Emiroglu FN, Gencer O, Ozbek A­. Adjunctive olanzapine treatment in bipolar adolescents responding insufficiently to mood stabilizers: four case reports. Eur Child Adolesc Psychiatry. 2006;15(8):500-3. 3. Nielsen J, Bruhn AM. Atypical neuroleptic malignant syndrome caused by olanzapine. Acta Psychiatr Scand. 2005;112(3):238-40. 4. Filice GA, McDougall BC, Ercan-Fang N, Billington CJ. Neuroleptic malignant syndrome associated with olanzapine. Ann Pharmacother. 1998;32(11):1158-9. 5. Hall KL, Taylor WH, Ware MR. Neuroleptic malignant syndrome due to olanzapine. Psychopharmacol Bull. 2001;35(3):49-54. Qualidade de vida na depressão pós-parto na adolescência Quality of life in postpartum depressed adolescents Sr. Editor, A depressão pós-parto (DPP) é um problema de saúde pública que afeta a saúde da mãe e o desenvolvimento do recém-nascido, ocorrendo entre 4 e 20 semanas após o parto, com prevalência situada entre 10 e 20% em amostras não selecionadas de puérperas.1 A DPP tem sido considerada um dos maiores problemas da maternidade na adolescência, acometendo até uma em cada duas mães adolescentes.2 Apesar disso, é ainda pouco investigada em nosso meio. A gravidez na adolescência é um problema de caráter social. É mais freqüente em classes sociais menos favorecidas e acarreta conseqüências biopsicossociais negativas,2 favorecendo o surgimento da DPP e podendo ocasionar índices reduzidos da quaRev Bras Psiquiatr. 2008;30(1):86-90 87 Cartas aos Editores lidade de vida (QV).3,4 No entanto, importa ressaltar que existe um subgrupo de mulheres com maior vulnerabilidade genética aos eventos pós-parto (notadamente aquelas com história pessoal e/ ou familiar de transtornos de humor), não guardando relação com fatores sociais. Diante desse panorama, em 2006 foi realizada uma dissertação no Mestrado em Hebiatria da Universidade de Pernambuco, com objetivo de investigar a ocorrência da DPP em 177 puérperas adolescentes da rede pública de saúde da cidade do Recife-PE e de avaliar a QV dessas pacientes.5 Para diagnóstico da depressão, utilizou-se a Postpartum Depression Screening Scale (PDSS),1 e para a QV, a SF-36. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Pernambuco. As adolescentes com idade igual ou superior a 18 anos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e as menores de 18 anos tiveram o documento assinado por um responsável. A idade média das adolescentes entrevistadas foi de 17 anos (14-20 anos); 88 (49,7%) tinham o ensino fundamental incompleto e 53 (30%) haviam concluído o ensino fundamental. Em sua maioria, 128 (72,3%) relataram renda per capita familiar de até um salário mínimo. As 177 adolescentes foram entrevistadas entre a sexta e vigésima semanas de pós-parto, tendo sido encontrada DPP em 61 (34,5%). As puérperas com DPP apresentaram maior número de gestações (p = 0,018) e partos (p = 0,01), consumiram mais substâncias lícitas (p = 0,001) e ilícitas (p = 0,001) e alimentaram menos o recém-nascido com aleitamento exclusivo (p = 0,02). Não houve diferença estatisticamente significante no tocante aos aspectos sociodemográficos em ambos os grupos de puérperas. Em relação à QV, observaram-se, nas adolescentes com DPP, os piores escores em todas as subescalas da SF-36, sendo as diferenças estatisticamente significantes nos domínios: saúde mental (p = 0,001), vitalidade (p = 0,001), estado geral de saúde (p = 0,003), aspectos sociais (p = 0,033) e capacidade funcional (p = 0,010). De maneira semelhante, Rojas et al.correlacionaram a gravidade da depressão com a QV em 159 mulheres com DPP.3 A escala de QV utilizada foi a SF-36 e a de DPP, a Edinburgh Postpartum Depression Scale (EPDS). Os resultados mostraram relevante comprometimento nos aspectos emocionais, físicos e vitalidade da SF36 nas puérperas com DPP, comparadas com as não deprimidas. Da Costa et al. avaliaram 93 mulheres com DPP e também observaram comprometimento em cinco dos oito domínios da SF-36: Rev Bras Psiquiatr. 2008;30(1):86-90 limitação por aspectos físicos, emocionais, saúde mental, aspectos sociais e vitalidade.4 Os resultados permitem afirmar que na amostra de adolescentes puérperas da rede pública de saúde da cidade do Recife-PE, avaliada por meio de um instrumento de screening, observou-se uma prevalência importante de depressão e que os índices de QV nesse subgrupo foram piores, sugerindo haver uma relação entre DPP e QV. Diante do exposto, torna-se fundamental que pesquisas nesta área sejam realizadas, com inclusão de escalas de QV e a verificação das variáveis envolvidas. Edilene Maria da Silva Barbosa Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças (FENSG), Recife (PE), Brasil Kátia Petribú, Maria Helena de Araújo Mariano, Moacir de Novaes Lima Ferreira, Araken Almeida Faculdade de Ciências Médicas e Hospital Universitário Osvaldo Cruz, Universidade de Pernambuco (UPE), Recife (PE), Brasil Financiamento: Inexistente Conflito de interesses: Inexistente Referências 1. Cantilino A. Tradução para o português e estudo de validação da Postpartum Depression Scale na população brasileira [dissertação]. Recife: Universidade Federal de Pernambuco; 2003. 2. Figueiredo B. Maternidade na adolescência: conseqüências e trajetórias desenvolvimentais. Ana Psicol. 2000;4(8):485-98. 3. Rojas G, Fritsch R, Solis J, Gonzalez M, Guajardo V, Araya R. Calidad de vida de mujeres deprimidas en el posparto. Rev Med Chil. 2006;134(6):713-20. 4. Da Costa D, Dritsa M, Rippen N, Lowensteyn I, Khalife S. Healthrelated quality of life in postpartum depressed women. Arch Womens Ment Health. 2006;9(2):95-102. 5. Barbosa EM, Silva MC, Silva MR, Montenegro MC, Petribu K. Depressão pós-parto na adolescência: um problema relevante? Rev Saude Publica. 2006;40(5):935-7. Cartas aos Editores Delirium secundário ao uso de lamotrigina com aumento abrupto da dose de ácido valpróico Secondary delirium due to the use of lamotrigine with abrupt increase valproic acid’s dose Sr. Editor, O uso de combinações de estabilizadores de humor é, muitas vezes, necessário para um controle clínico adequado dos pacientes com transtorno afetivo bipolar;1,2 porém, é necessário um cuidado com as prováveis interações farmacológicas que muitas vezes podem resultar em efeitos adversos que causam maior morbi-morbidade.1,2 Descrevemos o caso de um paciente que apresentou um quadro de delirium provavelmente ocasionado pela toxicidade da lamotrigina secundária ao aumento abrupto da dosagem do ácido valpróico. Relato de caso: AML, 36 anos, sexo masculino, leucodérmico, advogado, com diagnóstico de transtorno afetivo bipolar do tipo I segundo critérios do DSM-IV, há aproximadamente 13 anos. Foi admitido em serviço de pronto atendimento psiquiátrico com quadro de rebaixamento do nível da consciência, desorientação temporal, pensamento com delírio pouco estruturado de cunho megalomaníaco, alucinações visuais e prejuízo da crítica. Exames laboratoriais como hemograma, funções tireoidiana, hepática e renal, ionograma, urina rotina e tomografia computadorizada do crânio não evidenciaram alterações significativas. Segundo dados da família, o paciente estava em uso de lamotrigina 400 mg/dia, clonazepam 2 mg/dia e ácido valpróico 500 mg/ dia, até aproximadamente seis dias atrás, quando, em uma consulta com seu médico assistente, houve aumento do ácido valpróico para 1.500 mg/dia. Os mesmos afirmaram que o estado confusional atual teria iniciado dois dias após a mudança da medicação. O nível do ácido valpróico durante a internação era de 78 ug/ml, mas o nível sérico da lamotrigina não pôde ser averiguado. Com a suspeita de toxicidade da lamotrigina secundária ao aumento abrupto do ácido valpróico, ambas as medicações foram retiradas, com melhora do quadro clínico em três dias. Discussão: A lamotrigina tem se apresentado nos últimos anos como um fármaco com resposta bastante favorável no tratamento da depressão bipolar, seja em monoterapia ou associada a outro estabilizador do humor. Seus principais efeitos colaterais são o rash cutâneo, sonolência, ataxia, cefaléia, diplopia e alterações gastrointestinais. Esses efeitos muitas vezes são minimizados pela introdução gradual do fármaco.1 O uso do ácido valpróico costuma aumentar a meia vida da lamotrigina em até três vezes devido a uma redução da glucoronidação hepática da lamotrigina, fato essencial para sua excreção renal que, por sua vez, é responsável por aproximadamente 70% da sua eliminação.2,3 O uso concomitante dessas drogas deve ser cauteloso, com aumento progressivo das doses e, muitas vezes, não aumentando as mesmas para valores habitualmente utilizados na prática psiquiátrica clínica.3 No caso clínico apresentado, além da nítida relação temporal entre o aumento abrupto do ácido valpróico e o aparecimento dos 88 sintomas, percebemos que a interrupção de ambas as drogas resultaram em uma melhora clínica significativa. Esses fatos corroboram a provável toxicidade da lamotrigina devido a um aumento expressivo do seu nível sérico por interação farmacocinética com o ácido valpróico. Uma revisão no MedLine com os descritores “lamotrigine” AND “delirium” evidenciou dois relatos de caso: um com o uso concomitante de divalproato e outro após introdução de sertralina.4,5 Felipe Filardi da Rocha Serviço de Psiquiatria, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil Departamento de Farmacologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil Financiamento: Inexistente Conflitos de Interesse: Inexistente Referências 1. Moreno RA, Moreno DH, Soares MB, Ratzke R. Anticonvulsants and antipsychotics in the treatment of bipolar disorder. Rev Bras Psiquiatr. 2004;26(Suppl 3):37-43. 2. da Rocha FF, Soares FM, Correa H, Teixeira AL. Addition of lamotrigine to valproic acid: a successful outcome in a case of rapid-cycling bipolar affective disorder. Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry. 2007;31(7):1548-9. 3. Steinhoff BJ. How to replace lamotrigine with valproate. Epilepsia. 2006;47(11):1943-4. 4. Mueller TH, Beeber AR. Delirium from valproic acid with lamotrigine. Am J Psychiatry. 2004;161(6):1128-9. 5. Kaufman KR, Gerner R. Lamotrigine toxicity secondary to sertraline. Seizure. 1998;7(2):163-5. A terapia ocupacional reduzindo sintomas ansiosos em uma clínica psiquiátrica The occupational therapy reducing anxious symptoms in a psychiatric clinic Sr. Editor, A terapia ocupacional (TO) é uma profissão da área da saúde voltada para a promoção e/ou reabilitação das habilidades físicas, cognitivas e sociais de indivíduos com disfunções diversas por meio da utilização de técnicas e recursos terapêuticos específicos. O terapeuta ocupacional, atuando como agente de saúde, colabora com outros profissionais nos locais onde ocorre o tratamento. Os pacientes se beneficiam das perspectivas e serviços oferecidos por múltiplos profissionais.1,2 Nos últimos anos, a importância da TO na saúde mental tem se destacado no atendimento integral ao portador de sofrimento Rev Bras Psiquiatr. 2008;30(1):86-90 89 Cartas aos Editores Humberto Correa Serviço de Psiquiatria, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil Departamento de Farmacologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil mental.2-4 Dessa forma, no intuito de avaliar o efeito da TO na rotina de uma clínica psiquiátrica, foi observado o número de solicitações de atendimento do psiquiatra de plantão em uma clínica particular em dias com atividades da TO e dias sem as mesmas. Os pacientes foram informados e assinaram termo de consentimento. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética da instituição. O plantão avaliado, com 12 horas de duração, ocorreu sempre em um mesmo dia da semana. Como o serviço de TO acontece, neste dia especificamente, a cada 14 dias, foram averiguados os pedidos para atendimento em 16 semanas com a presença da TO (duas horas seguidas) e 16 semanas sem nenhuma atividade relacionada durante o dia, perfazendo um total de oito meses de acompanhamento. Dentre as semanas sem e com atendimento, as médias de consultas foram de 5,18 (dp = 1,93; Mínimo = 2; máximo = 9; mediana = 5) e 3,43 (dp = 1,36; Mínimo = 0; máximo = 5; mediana = 4), respectivamente. Através de teste paramétrico (t de Student), constatou-se diferença estatisticamente significativa (p = 0,0040). Em ambos os grupos, as três principais queixas foram: ansiedade e/ou angústia, cefaléia e insônia, com maior proporção de atendimentos por ansiedade e/ou angústia nos dias sem atendimento da TO (Tabela 1). Ressalta-se que este é um de poucos estudos quantitativos brasileiros que avaliam a efetividade da TO na saúde mental, fato extremamente preocupante por mostrar a escassez de estudos nesta área e/ou o desconhecimento dos benefícios desta parceria médico/terapeuta. Apesar de não terem sido controlados os achados de acordo com variáveis como diagnóstico psiquiátrico, sexo e o número de vezes que um mesmo interno requisitava atendimento pelo médico de plantão, algumas considerações podem ser feitas. A demanda expressiva de atendimento por cefaléia pode ser secundária à realização de eletroconvulsoterapia, procedimento realizado toda terça-feira na parte da manhã, já que este é um dos principais efeitos colaterais do procedimento em questão.5 As constantes queixas de angústia e/ou ansiedade poderiam também, dentre outros fatores, estar relacionadas ao fato de os pacientes estarem em regime de internação, vendo-se destituídos de seus papéis ocupacionais (esposo, pai, trabalhador, dentre outros), projetos de vida e atividades que lhes são significativas, assim como do convívio de seus entes familiares. Neste sentido, as intervenções da TO proporcionam aos pacientes, principalmente, oportunidades de autoconhecimento, (re)experimentação da autonomia e mudança de atitude. Tais ganhos, aliados a reorganização do cotidiano, satisfação de sentir-se capaz novamente e pertencer a um grupo (embora restrito), conseqüentemente conduzem a um aumento da auto-estima e maior envolvimento com o tratamento.1-3 Naira Vassalo Lage, Beatriz Arruda Pereira Galvão Departamento de Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil Rev Bras Psiquiatr. 2008;30(1):86-90 Felipe Filardi da Rocha Serviço de Psiquiatria, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil Departamento de Farmacologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil Financiamento: Inexistente Conflitos de Interesse: Inexistente Referências 1. Steultjens EM, Dekker J, Bouter LM, Leemrijse CJ, van den Ende CH Evidence of the efficacy of occupational therapy in different conditions: an overview of systematic reviews. Clin Rehabil. 2005;19(3):247-54. 2. Kirsh B, Cockburn L, Gewurtz R. Best practice in occupational therapy: program characteristics that influence vocational outcomes for people with serious mental illnesses. Can J Occup Ther. 2005;72(5):265-79. 3. Wikeby M, Pierre BL, Archenholtz B. Occupational therapists’ reflection on practice within psychiatric care: a Delphi study. Scand J Occup Ther. 2006;13(3):151-9. 4. Graff MJ, Vernooij-Dassen MJ, Thijssen M, Dekker J, Hoefnagels WH, Olderikkert MG. Effects of community occupational therapy on quality of life, mood, and health status in dementia patients and their caregivers: a randomized controlled trial. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2007;62(9):1002-9. 5. Salleh MA, Papakostas I, Zervas I, Christodoulou G. Eletroconvulsoterapia: critérios e recomendações da Associação Mundial de Psiquiatria. Rev Psiq Clin. 2006;33(5):262-7. A relevância da produção latina americana psiquiátrica e da suicidologia entre os periódicos psiquiátricos com maior Fator de Impacto The relevance of the psychiatric American Latin scientific production and the suicidologie in the psychiatric journals with bigger Impact Factor Sr. editor, Nos últimos anos tem-se dado especial atenção para os estudos que avaliam a produção científica, possibilitando, desta forma, uma análise crítica de inúmeras variáveis, como a participação efetiva dos diversos países na produção científica mundial ou de Cartas aos Editores qual forma temas de extrema relevância como, por exemplo, o suicídio, estão sendo discutidos e/ou divulgados.1-3 A análise desses trabalhos depende de ferramentas que ajudem a quantificar a importância dos diversos periódicos e os seus respectivos artigos. O Fator de Impacto (FI) é um instrumento desenvolvido pelo Institute for Scientific Information (ISI) que avalia quantas vezes, em média, os artigos de determinado periódico foram citados por trabalhos de outros periódicos durante o período de dois anos.1,3 Tendo como base a crescente participação da América Latina na produção psiquiátrica internacional e a importância da suicidologia, pretendemos avaliar a participação latina na produção científica na área psiquiátrica e, mais especificamente, na suicidologia, entre os periódicos psiquiátricos com maior FI.2,4 Método: Através do Journal of Citation Reports de 2006, obtivemos os 94 periódicos de psiquiatria com FI variando de 12,64 até 0,05.1 Para nosso estudo selecionamos todos os artigos dos periódicos cujos FIs se enquadraram acima do percentil 75 (FI ≥ 3,521), totalizando 20 periódicos. Consideramos em nossa análise todos os tipos de artigo, excetuando-se apenas comentários sobre livros e erratas. Entre estes artigos, avaliamos aqueles em que pelo menos um autor tem afiliação a uma instituição latina americana e artigos em que todos os autores apresentam afiliação latina americana. Também foi analisada a produção científica latina americana em relação à produção mundial nos mesmos periódicos dentro da área de suicidologia. Os critérios para escolha foram a presença das palavras “suicide” e/ou “suicidal” e/ou “self-destruction” no título do artigo, no resumo ou nas palavras-chaves. Resultados: No total, obtivemos 4.880 artigos, sendo que em 79 deles (1,61%) havia pelo menos um autor afiliado a uma instituição latina, sendo que 36 (45,56%) foram produzidos exclusivamente por autores latino-americanos e 35 (44,30%) tiveram autores latinos como autores principais. O Brasil foi o país com maior número de publicações (n = 50; 63,29%), seguido pelo Chile (n = 8; 10,12%). Dentre os 4.880 artigos, 134 (2,74%) tiveram o suicídio como tema principal e, dos 79 com pelo menos um autor vinculado à instituição latina, três (3,79%) foram artigos focados no suicídio. Discussão: Apesar de a produção científica latino-americana estar representada nas 20 revistas de psiquiatria com maior FI, esta participação é pequena, com acentuada desigualdade entre os países.1,4 O mais preocupante é que, embora o suicídio seja uma das principais causas de morte no mundo, ele é pouco estudado como tema central. Hipóteses podem ser formuladas como, por exemplo, o tema ser subvalorizado; ser incluído dentro de algum outro tema maior, como depressão; ou simplesmente dificuldades técnicas, financeiras, éticas e/ou políticas.2,5 90 Humberto Correa Serviço de Psiquiatria, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil Departamento de Farmacologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil Departamento de Saúde Mental, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil Financiamento: Inexistente Conflitos de Interesse: Inexistente Referências 1. da Rocha FF, Fuscaldi T, Castro V, do Carmo W, Amaral D, Correa H. Produção científica brasileira nas 40 revistas de psiquiatria com maior fator de impacto no ano de 2006. Rev Assoc Med Bras. 2007;53(6):543-6. 2. da Rocha FF, de Sousa KC, Paulino N, Castro JO, Correa H. Suicídio em Belo Horizonte entre 2004 e 2006. Rev Bras Psiquiatr. 2007;29(2):190-1. 3. Galileu D, Rocha FF, Nicolato R, Teixeira AL, Romano-Silva MA, Correa H. Produção brasileira em periódicos psiquiátricos de alto fator de impacto em 2005. J Bras Psiquiatr. 2006;55(2):120-4. 4. Razzouk D, Zorzetto R, Dubugras MTB, Gerolin J, Mari JJ. Leading countries in mental health research in Latin America and the Caribbean. Rev Bras Psiquiatr. 2007;29(2):118-22. 5. Rocha FF, Correa H, Lage NV, Sousa KC. Onde estão sendo publicados os estudos sobre suicídio no Brasil? Rev Bras Psiquiatr. 2007;29(4):380-1. Felipe Filardi da Rocha Serviço de Psiquiatria, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil Departamento de Farmacologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil William do Carmo, Viviam Castro, Débora Amaral Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil Rev Bras Psiquiatr. 2008;30(1):86-90