A customização, o smartphone e a convergência das mídias: um ensaio sobre o produto na era digital Josiany Fiedler Vieira Stromberg RESUMO - Este artigo procura discutir os conceitos de convergência e transmídia, proposto por Henry Jenkins (2003), no marketing digital. Com a crescente busca de produtos customizados e personalizados, o smartphone tornou-se uma mídia de comunicação importante entre as empresas e o cliente. Um dos 4 P´s: produto ganha nova vertente na rede mundial de computadores e colabora com o contato one-to-one. Palavras-chave: Miltitela, Convergência, Smartphone, produto, Marketing Introdução à Convergência O autor Henry Jenkins publicou no Brasil em 2008 o livro Cultura da Convergência, primeiro livro dedicado ao tema de convergência ou transmidiática (Transmedia Storytelling). Para o pesquisador: Na forma ideal de narrativa transmidiática, cada meio faz o que faz de melhor – a fim de que uma história possa ser introduzida num filme, ser expandida pela televisão, romances e quadrinhos; seu universo possa ser explorado em games ou experimentado como atração de um parque de diversões. Cada acesso à franquia deve ser autônomo, para que não seja necessário ver o filme para gostar do game, e vice-versa. (JENKINS, 2008, p. 135). Com base nessa afirmação compreende-se que a transmídia ocorre quando uma determinada história passa de um meio de comunicação para outro, independente de estarem associados. Ou seja, a mídia converge. As empresas de comunicação criam “estímulos para a criação de sinergias entre produtos por meio da integração horizontal das áreas de entretenimento, visando ao desenvolvimento das franquias de conteúdo (marcas)” (MASSAROLO, 2013, p. 337) Um exemplo que pode ser dado são os filmes dos heróis da Marvel. Junto com o longa metragem surgem no varejo brasileiro ovos de Páscoa com copos de personagens, camisetas, cadernos, jogos, entre outros. Para que o cliente adquira um destes produtos não é necessário ter assistido ao filme. Na concepção dessa pesquisadora e com base em Jenkins, o smartphone – aparelho com acesso a voz e dados que passa dos 54 milhões de unidades no Brasil em 2014, segundo o site Teleco – pode ser considerado uma mídia tanto quanto a televisão e o impresso. Essa nova mídia, que está presente na vida de 84% da população brasileira (NIELSEN, 2013, p. 9 in ZONATO, 2014, p. 14) faz com que o marketing migre para esse novo canal de comunicação. As corporações perceberam o bom momento do telefone celular e já direcionam algumas de suas ações de marketing aos dispositivos móveis, ainda que timidamente. São as ações de Mobile Marketing, um conceito de Marketing Direto relativamente novo, cujo estudo ainda está sendo aprofundado devido à grande velocidade com que as mudanças nessa área acontecem. Ademais, os estudos que envolvem o potencial de integração dos telefones móveis celulares na comunicação de marketing são escassos. Josiany Fiedler Vieira Stromberg é jornalista e Mestre em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná, pós graduada em Comunicação Empresarial pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná e aluna do MBA em Marketing da Universidade Estácio. Também é professora do curso de Administração da Universidade Futuro. No entanto, antes de abordarmos o marketing no device é importante uma pequena introdução sobre o marketing na internet pois sem ela as pessoas não consumiriam dados e não utilizariam os smartphones. 1.1 – A internet e o marketing digital: O produto Desde a Revolução Industrial, quando Henry Ford lançou o primeiro automóvel do mundo, as empresas de grande porte focaram suas energias e investimentos nas produções em séries com objetivo de atender o maior número de clientes com um único produto. O artesão e o trabalho customizado perdeu espaço para as grandes máquinas, escalas e pouca variedade. Com o surgimento da internet as empresas migraram para o ambiente www (word wide web) com os mesmos produtos e serviços. A internet, criada para fins militares, em 1962, começou a se popularizar no Brasil em 1995, quando o boom de sites pessoais a liberação das operações comerciais via rede pelo Ministério das Comunicações e da Ciência e Tecnologia, o lançamento do primeiro diário brasileiro - o Jornal do Brasil - disponibilizado integralmente na rede mundial de computadores e o início de alguns serviços como o banco virtual do Bradesco (primeiro banco brasileiro na rede) fizeram com que a Internet entrasse na casa e na vida das pessoas em todo o território nacional. Para uma leitura histórica da Internet no Brasil consultar: Leão (1999); Castells (2001); Moherdaui (2002); Quadros (1999, 2002). No entanto, os clientes iniciam uma busca por produtos exclusivos e no marketing, a internet se tornou uma nova ferramenta de negócios. “A migração da propaganda de massa para uma abordagem de marketing one-to-one tem sido facilitada pela tecnologia aplicada na Internet, como consequência da evolução do Marketing de Relacionamento” (Toledo, Nakagawa e Yamashita, p. 52, online). Consequentemente, os tradicionais 4Ps (preço, promoção, praça e produto) também migraram para o ambiente da rede mundial de computadores. “As empresas conseguem conhecer, mediante a utilização de recursos como bancos de dados de clientes e cookies, hábitos de compra e características dos clientes, de modo a dirigirem-se a eles de maneira personalizada (Toledo, Nakagawa e Yamashita, p.53, online). Um dos grandes diferenciais do produto no marketing digital é a customização facilitada. É o caso, por exemplo, da Empório Avant Garde, que oferece camisas personalizadas. Imagens 1 e 2: Portal e Facebook da Empório Avant Garde Josiany Fiedler Vieira Stromberg é jornalista e Mestre em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná, pós graduada em Comunicação Empresarial pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná e aluna do MBA em Marketing da Universidade Estácio. Também é professora do curso de Administração da Universidade Futuro. São mais de 60 tipos diferentes de tecidos que possibilitam a customização de punhos, colarinhos e inserção de monogramas. Todos os meses mais de 60 clientes são atendidos e as camisas personalizadas demoram 10 dias para ficarem prontas com preços que variam de R$224 a R$287. Um outro exemplo é a gigante Whirlpool, com sede em Joinville (Santa Catarina), a empresa produz 15 mil refrigeradores por dia. Ao todo, sete mil funcionários se dedicam a produção em massa, e um grupo de dez pessoas foca na produção de itens sob medida. Exemplos como geladeiras em cores como azul-turquesa são fabricadas por essa equipe que consegue configurar mais de 25 mil modelos de portas, prateleiras e puxadores. Além dos refrigeradores, a empresa trabalha com fogões e máquinas de lavar louça sob encomenda. “Em alguns anos, os produtos customizados vão deixar de ser exceção. Estamos nos preparando para essa nova realidade”, diz Mário Fioretti, diretor de inovação da Whirlpool em entrevista para a revista Exame.com. Já a Coca-Cola instalou 1.700 máquinas de refrigerante em restaurantes e cinemas dos Estados Unidos que oferecem 100 combinações de sabores. Com elas, os refrigerantes custam 30% mais do que nas máquinas tradicionais. A Todeschini – empresa de móveis – adquiriu novos equipamentos e passou a ofertar ao cliente mais de 1 bilhão de possibilidades em todas as linhas de quartos e cozinhas. A customização também está presente em produtos digitais como músicas. A Telefônica Vivo e o Napster, lançaram em 2013, um serviço de "streaming" de músicas ilimitado para smartphones, tablets e computadores, com mais de 14 milhões de faixas no acervo. Chamado de "Vivo Música by Napster", o serviço se assemelha a outras plataformas de "streaming", como Deezer e Rdio, e permite que os usuários escutem músicas pela internet ou façam o download das faixas para ouví-las quando estiverem sem conexão. O serviço, que cobra uma assinatura mensal de R$ 10, possibilita que o cliente customize sua playlist e baixe somente as músicas que mais gosta, não sendo necessária a aquisição/download de todo o álbum do artista. Os outros P´s (promoção, preço e praça) não serão discutidos nesse ensaio. 1.2 – Miltitelas Uma pessoa que assisti um vídeo via mobile se distrai até duas vezes menos que um que assiste de forma tradicional: pela televisão. Esse foi o resultado da pesquisa realizada pelo Google e pela Ipsos. O estudo revelou também que dos 1.519 usuários mobile entrevistados, que tinham entre 14 e 34 anos, mantiveram um diário detalhado sobre todas as suas interações com vídeos on-line e off-line. “Os resultados comprovaram que ao longo de um dia, 98% dos indivíduos utilizaram seus smartphones para assistir a conteúdos em vídeo, sendo que para 53% o vídeo foi uma atividade única. No caso de assistir a vídeos na TV como uma ação exclusiva, ocorreu somente em 28% do tempo. No restante, os participantes foram engajados por outras atividades – como comer, usar o computador, conversar com amigos ou cozinhar –, uma vez que estavam assistindo à televisão” (Think with Google, 2014, online). A Rede Globo é uma das empresas de televisão que estão trabalhando com as multitelas. No Carnaval de 2014, “pediu aos internautas que utilizassem hashtags para Josiany Fiedler Vieira Stromberg é jornalista e Mestre em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná, pós graduada em Comunicação Empresarial pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná e aluna do MBA em Marketing da Universidade Estácio. Também é professora do curso de Administração da Universidade Futuro. classificar as escolas de samba durante os desfiles. A hashtag que tivesse o maior número de menções seria a oficial da escola” (GARRIDO, 2014, online). Ainda durante o Carnaval 2014, a Salesforce ExactTarget Marketing Cloud mensurou as tags mais utilizadas pelos internautas e quais os perfis mais citados durante o período. Os mais lembrados foram o da cantora Ivete Sangalo (@ivetesangalo) e os das escolas de samba Unidos da Tijuca (@unidosdatijuca) e Dragões da Real (@dragoescarnaval). Já as tags #bbb, #tv e #carnaval ocuparam o primeiro lugar da lista de mais utilizadas. Sabendo que o reality show Big Brother Brasil (#bbb) e o Carnaval eram exibidos pela TV e em um horário aproximado e na mesma época, fica fácil concluir que os telespectadores estavam ao mesmo tempo assistindo a programação e interagindo em seus smartphones ou tablets. Outro exemplo do cenário é a Copa do Mundo: em um evento que é tradicionalmente televisionado bastava fazer uma pesquisa rápida na app store do Android para encontrar mais de 250 aplicativos disponíveis para download, entre tabelas virtuais, wallpapers das seleções e até jogos. A própria FIFA disponibilizou um aplicativo oficial – baixado mais de 22 milhões de vezes –, que além de trazer atualizações em tempo real sobre os jogos também permitia interações e compartilhamentos nas redes sociais. Ou seja, a programação televisiva praticamente norteou o comportamento online do internauta, reforçando a ideia da interação multi-tela. (GARRIDO, 2014, online) A Land Rover também está investindo nesse novo canal de convergência e realizou uma campanha com foco nos dispositivos móveis. Um anúncio veiculado somente no YouTube gerou milhões de acessos. Atualmente, 15% das vendas totais da Land Rover são de origem on-line. “Para o mercado brasileiro, o cenário é ainda mais atraente. Segundo uma pesquisa do Google Brasil, 30 milhões de brasileiros utilizam três telas ao mesmo tempo, diariamente” (GARRIDO, 2014, online). Smartphone é agora a tela mais usada globalmente. Com forte uso durante o dia, smartphones são bons para entregar saliência, diferenciação e lançar tendências. Globalmente, enquanto eles entregam apenas uma receptividade moderada a comerciais, atitudes voltadas a comerciais em smartphones são muito mais positivas no Quênia, na Nigéria e na Arábia Saudita. Usuários multi-telas na Nigéria relatam o maior tempo gasto em smartphones, sendo mais de 193 minutos por dia, 31 por cento a mais do que a média global de 147 minutos por dia. No Brasil o smartphone é a tela mais usada seguindo a tendência global, e é a tela responsável pelo maior tempo gasto pelos usuários brasileiros, 149 minutos por dia.(BRANDÃO, 2014, online). Como pôde ser percebido, o smartphone é o principal canal de interação das empresas com os usuários. O marketing via multitelas ainda é embrionário no Brasil, mas promete ser o principal foco de investimentos na era da convergência. Como anunciou Henry Jenkins no livro Cultura da Convergência, a transmídia/convergência existem em meios independentes, ou seja, o público da televisão, do rádio e dos impressos vai continuar existindo mas ele também estará nos smartphones. Bibliografia: Josiany Fiedler Vieira Stromberg é jornalista e Mestre em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná, pós graduada em Comunicação Empresarial pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná e aluna do MBA em Marketing da Universidade Estácio. Também é professora do curso de Administração da Universidade Futuro. AMORIM, Lucas. A customização da indústria: um item de cada vez. Revista Exame.com, http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1021/noticias/um-item-decada-vez BESSI, Bruna. Saiba como investir no mercado de customização. Portal IG, 2011, http://economia.ig.com.br/financas/seunegocio/saiba-como-investir-no-mercado-decustomizacao/n1597137851055.html (acesso em 28/08/2015) BRANDÃO, Thales. Estudo identifica oportunidades multi-telas para profissionais de marketing. 2014, online. http://www.cidademarketing.com.br/2009/n/17364/estudo-identificaoportunidades-multi-telas-para-profissionais-de-marketing.html GARRIDO, Regina. Second Screen: por que sua marca deve ser multi-tela?, 2014, online. http://corporate.canaltech.com.br/noticia/marketing/Second-Screen-Por-que-asua-marca-deve-ser-multi-tela/#ixzz3lFOmXUuX JENKINS, Henry. Cultura da convergência. Tradução: Susana Alexandria. São Paulo: Aleph, 2008. MASSAROLO, João Carlos. Storytelling Transmídia: Narrativa para multiplataformas. Tríade, Sorocaba, SP, v.1, n.2, p 335-347, dez. 2013 TELECO - http://www.teleco.com.br/smartphone.asp (acesso em 25/08/2015) THINK WITH GOOGLE, Estudo comprova relevância de vídeos em decisões de marketing, 2014, online - https://www.thinkwithgoogle.com/intl/pt-br/articles/youtubeinsights-stats-data-trends-vol6.html TOLEDO, Geraldo Luciano, NAKAGAWA, Marcelo Hiroshi e YAMASHITA, Sandra Sayuri. O composto de marketing no contexto estratégico da internet. Revista de Administração Mackenzie, Ano 3, n.1, p. 33-78. ZONATO, Anderson Nigro. O celular como ferramenta de comunicação integrada de marketing. 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