Tolerância Imunológica Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação Professora Ana Paula Peconick Tutor Karlos Henrique Martins Kalks Lavras/MG 2011 1|Página Ficha catalográfica preparada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da UFLA Espaço a ser preenchido pela biblioteca [A ser preenchido posteriormente] Espaço a ser preenchido pelo CEAD ______________Tolerânica Imunológica______________ Índice UNIDADE 9 ....................................................................................................... 5 9.1 Introdução.................................................................................................. 6 9.2 Tolerância central ...................................................................................... 7 9.3 Tolerância periférica ................................................................................. 9 9.4 Conclusão ............................................................................................... 14 9.5 Bibliografia ............................................................................................. 15 4|Página ______________Tolerânica Imunológica______________ UNIDADE 9 OBJETIVO: Conhecer os tipos, mecanismos de ação e as conseqüências da tolerância imunológica. 5|Página ______________ Tolerânica Imunológica ______________ 9.1 Introdução Além dos mecanismos de ativação da resposta imunológica o organismo pode, após o contato com o antígeno, responder com um mecanismo de não responsividade conhecido como tolerânica imunogênica ou imunológica. A tolerância é importante visto que uma resposta ativa inapropriada pode desencadear processos com deletérios para o organismo. Sendo assim existe um fino controle para o balanço entre a ativação de uma resposta imunológica ou a indução da tolerância. Quando em contato com o sistema imune do organismo os antígenos podem ser reconhecidos como elementos imunogênicos ou tolerogênicos. Antígenos tolerogênicos do próprio organismo desencadeiam uma resposta conhecida como tolerância própria. Esta possui grande importância na manutenção da homeostase, pois repostas imunológicas ativadas contra as próprias estruturas do organismo, como as que ocorrem nas doenças autoimunes, podem levar a sérias conseqüências incluindo a morte. Durante uma reposta imunológica normal a um antígeno estranho, o processo normal de ativação celular leva a proliferação específicos ao e diferenciação antígeno. Já dos linfócitos a tolerância durante imunológica mecanismos de anergia, deleção clonal e mudança na especificidade linfocitária podem ocorrer quando estimulada pelos antígenos prórpios. O primeiro cientista a supor que existia um mecanismo pelo qual o organismo não poderia produzir anticorpos contra suas estruturas antigênicas próprias foi Paul Ehrich. Ele descreveu esta suposição no início do 6|Página ______________ Tolerânica Imunológica ______________ século 20 e a nomeou como “horror autotóxico”. Já na metade do século, outros dois pesquisadores observaram que camundongos que receberam logo após o nascimento, injeções de células de outra linhagem da mesma espécie não poderiam desenvolver reações a enxertos feitos, quando adultos, com tecidos provenientes da linhagem das células inoculadas. Ao mesmo tempo os camundongos eram capazes de desenvolver uma resposta imunológica ativa para enxertos feitos com tecidos de animais de uma terceira linhagem. Baseado em várias pesquisas como a citada, que foi desenvolvido e entendido o sistema da tolerância imunogênica. Os mecanismos desencadeados para tolerância imunogênica podem ser divididos em respostas ao próprio e não próprio (estranho), e dependendo de onde ocorre como tolerância central ou periférica. 9.2 Tolerância central Quando a tolerância ocorre nos órgãos linfóides primários, medula óssea e timo, a tolerância imunológica é dita do tipo central. Linfócitos imaturos provenientes da medula óssea passam por um processo de maturação que garante que o repertório de linfócitos maduros não reconheça antígenos do próprio organismo, garantindo assim um funcionamento ideal da resposta imunológica apenas contra antígenos estranhos. Existem dois processos de seleção linfocitária no timo, a seleção positiva, na qual apenas linfócitos T que são capazes de reconhecer moléculas de MHC próprias sobrevivem, e a seleção negativa, que elimina as células 7|Página ______________ Tolerânica Imunológica ______________ que reagem fortemente com os peptídeos exibidos pelas células tímicas através do MCH próprio. O estroma do timo contém várias células incluindo células epiteliais, macrófagos e células dendríticas que são essenciais durante o processo de seleção linfocitária. Essas células expressam moléculas de MHC da classe I, mas podem expressar altos níveis de MHC da classe II também. A interação das células T linfocitárias imaturas provenientes da medula com estas células do estroma garante o mecanismo de seleção positiva e negativa. Já os linfócitos B imaturos que exibem alta afinidade para antígenos próprios são eliminados na própria medula óssea, onde eles desenvolveram-se, ou são alterados de forma que sua especificidade seja trocada. O mecanismo de seleção dos linfócitos B imaturos funciona basicamente através dos mesmos processos de reconhecimento de antígenos próprios que ocorrem no timo durante a seleção dos linfócitos T imaturos. Antigenos próprios estão presentes em altas concentrações na medula óssea, quando células B imaturas reconhecem esse antígenos uma ativação de genes RAG1 e RAG2 fazem com que estas células expressem novas cadeias leves nas suas moléculas de imunoglobulinas. Isso possibilita a troca de sua especificidade, contudo caso este mecanismo não ocorra, é ativado um processo de deleção via apoptose, o que garante que células maduras alto reativas não sejam liberadas na circulação sanguínea. Células B pouco reativas aos antígenos próprios exibidos na medula óssea são inativadas funcionalmente em um processo conhecido como anergia. 8|Página ______________ Tolerânica Imunológica ______________ Busque informações complementares sobre o processo de maturação dos linfócitos. 9.3 Tolerância periférica A tolerância periférica para os linfócitos T ocorre quando estas células maduras reconhecem estruturas antigênicas próprias pelos seus recpetores TCR não possibilitando a ativação mecanismos da resposta imunológica. Este mesmo mecanismo pode ocorrer para antígenos estranhos ao organismo. Os modos de ação deste tipo de tolerância periférica podem ocorrer através da anergia, deleção ou supressão das células T. Além do reconhecimento do antígeno pelos receptores TCR, fatores coestimulatórios reconhecidos por receptores ativadores como o CD 28 são essenciais para o desencadeamento ativação das células T. As principais moléculas coestimulatórias expressas sobre as células apresentadoras de antígenos são glicoproteínas designadas como B7-1 e B7-2. Diferenças nos modos de ligações destas moléculas coestimulatórias ou a não ligação destas desencadeamento podem da ter tolerância. importância Prolongados no sinais gerados por B7-1 podem levar a mecanismos de anergia com uma mínima produção da citocina IL-2. Durante o desencadeamento do mecanismo de não responsividade por anergia, a sinalização desencadeada pelo complexo TCR é bloqueada, o que pode ser resultado do recrutamento de fosfatases, ou ativação de ubiquitinas ligases que degradam as proteínas sinalizatórias. 9|Página ______________ Tolerânica Imunológica ______________ Receptores inibitórios como o CTLA-4 também podem ser ativados durante o mecanismo de anergia (figura 1). Figura 1. Mecanismos da tolerância (modificado de ABBAS et al., 2007). celular por anergia Existem dois mecanismos que levam a deleção celular por processos metabólicos através da apoptose. No primeiro caso, uma proteína chamada Bim provoca a ativação de vias metabólica que envolvem as mitocôndrias. Esta proteína é um membro proapoptótico da família das coestimulatórios Bcl-2. e A fatores ausência de de fatores crescimento são determinantes neste mecanismo de deleção celular. No segundo caso, a interação de receptores Fas-Fas ligante determina a ativação dos processos proapoptóticos. Essas 10 | P á g i n a ______________ Tolerânica Imunológica ______________ moléculas são expressas sobre os linfócitos T ativados e a interação entre elas sobre uma mesma célula ou sobre células vizinhas, ativa a célula para produção de caspases ativas que participam da via metabólica de indução da apoptose. Vários genes são relacionados participar da ativação ou inibição da via da apoptose, alguns são demonstrados na tabela 1. Papel na Gene Função Bcl-2 Previne apoptose Inibe bax Contrapõe bcl-2 Promove Bcl-XL Previne apoptose Inibe Bcl-X5 Contrapõe bcl-XL Promove Caspase Protesase Promove fas Induz apoptose Inicia apoptose Tabela 1. Genes que regulam a apoptose (modificado de GOLDSBY et al., 2006) Algumas células T podem produzir citocinas que inibem certas respostas imunológicas, dessa forma podem ser consideradas células supressoras. A maioria dessas células expressam TGF-β o qual é responsável pela inibição da resposta imune. Células inibitórias que produzem IL-4 e IL-13 (Células Th2) agem sobre células Th1, as quais por um mecanismo de feed-back expressam IL-2 e IFN-γ, que agem inibindo células Th2. Contudo, muitos dos mecanismos de supressão dos linfócitos T ainda estão sendo determinados. A geração de células T regulatórias possui um enorme potencial no controle de repostas imunes anormais, muitos esforços estão sendo realizados no sentido do desenvolvimento de estratégias 11 | P á g i n a ______________ Tolerânica Imunológica ______________ que possam utilizar estas células em terapias contra mecanismos patogênicos da resposta imunológica. Linfócitos B que encontram antígenos próprios nos tecidos periféricos tornam-se anérgicos, são excluídos dos folículos linfóides, ou morrem por apoptose. Os mecanismos envolvidos na tolerância de linfócitos B são semelhantes aos expostos para linfócitos T. Linfócitos B tolerogênicos deixam de expressar receptores como CXCR5 assim perdendo a capacidade de migrarem para os linfonodos. Aqueles linfócitos B que não migram perdem o contato com moléculas estimulatórias necessárias para sua sobrevivência e morrem. Receptores inibitórios FcγRII, fosfatases associadas a ITIM contendo proteína CD22 e tirosinas quinases possuem um papel fundamental na indução da tolerância de células B. Contudo é necessário lembrar que apesar das semelhanças entre os mecanismos de tolerância de linfócitos T e B, existem importantes diferenças que não podem ser esquecidas. Existe ainda a teoria que linfócitos B podem atuar como células regulatórias através da produção de anticorpos anti-idiotipos. Neste caso, um anticorpo antiidiotipo pode competir com o antígeno podendo regular ou modificar a resposta imunológica a este antígeno. Reveja as estruturas dos variados idiotipos de anticorpos procurando identificar as diferenças entre eles. Vários fatores determinam o nível da tolerância a um antígeno protéico. As determinações de como estes 12 | P á g i n a ______________ Tolerânica Imunológica ______________ fatores influenciam na resposta têm sido determinados por estudos experimentais. A tabela 2 exemplifica alguns fatores. Fator Fatores que Fatores que favorecem a favorecem a estimulação tolerância das respostas imunes Quantidade Doses ótimas varia para Altas doses diferentes antígenos Persistência Vida curta (eliminda Prolongada pela resposta imune) Portal de entrada Subcutânea, Intavenoso, oral, intradérmica, presença de órgãos ausência de órgãos geradores geradores Presença de Antígenos adjuvantes Propriedades das células apresentadoras de Antígenos sem adjuvantes: adjuvantes: não estimula células T imunogênicos auxiliadoras tolerogênicos Alto com nível coestimuladores de Baixo nível coestimuladores ou de e citocinas antígenos Tabela 2. Fatores que determinam a imunogenicidade e tolerância a antígenos protéicos (modificado de ABBAS et al., 2007). 13 | P á g i n a ______________ Tolerânica Imunológica ______________ 9.4 Conclusão O sistema imune é constantemente desafiado por patógenos que invadem e prejudicam o organismo. A principal função da resposta imunológica é proteção e eliminação o microrganismo infeccioso. No entanto mecanismos de controle da resposta imunológica são necessários para que não ocorra uma exacerbação desta, que nesta situação pode também prejudicar o organismo. Desta forma, mecanismos de tolerância foram desenvolvidos como forma de controle. Estes mecanismos também possibilitaram as células componentes do sistema imunológico diferenciarem aquelas estruturas que são próprias do organismo daquelas estranhas. Assim uma eficiente rede de mecanismos possibilitam uma atuação ótima da reposta imunológica. Os mecanismos de tolerância imunológica são subdivididos em tolerância ao próprio e não próprio, além de serem classificados como de tolerância central ou periférica. Os efeitos finais comuns no desenvolvimento dos mecanismos de tolerância induzirão as células a anergia, deleção ou supressão. Além dos variados tipos celulares envolvidos nestes processos moléculas coestimulatórias têm importância fundamental. Vários fatores são responsáveis por determinar a tolerância imunogênica, entre eles a quantidade do antígeno, a persistência, a via de entrada, a presença ou não de adjuvantes e as propriedades das células apresentadoras de antígenos. 14 | P á g i n a ______________ Tolerânica Imunológica ______________ 9.5 Bibliografia ABBAS, A. K.; LICHTMANA, A. H.; PILLAI, S. Celular and Molecular Immunology. Philadelphia: Saunders, 6ed. 2007. DOAN, T.; MELVOLD, R.; VISELL, S.; WALTENBAUGH, C. Lippincott's Illustrated Reviews: Immunology. Washington, DC: Lippincott Williams & Wilkins, 1ed. 2007. GOLDSBY, R. T.; KINDT, J.; OSBORNE, B. A.; KUBY, J. Kuby Immunology. W. H. Freeman & Company, 6 ed. 2006. KUMAR, V.; ABBAS, A. K.; FAUSTO, N.; ASTER, J. C. Robbins and Cotran Pathologic Basis of Disease. Saunders Elsevier, 8ed. 2010. ROITT, I. M.; DELVES, P. J. Roitt’s Essential Immunology. Massachusetts, USA: Blackwell Science, 10ed. 2001. SHAMS, H. 2005. Recent developments in veterinary vaccinology. The Veterinary Journal. 170: 289-299p. WILLIAM E. P.; AKIRAV, E. M.; BENDELAC, A.; BERKOWER, I. J.; BERZOFSKY, J. A.; BIDÈRE, N.; BLEACKLEY, R. C.; BUCKLEY, R. H.; et al. Fundamental Immunology. Washington, DC: Lippincott Williams & Wilkins, 6 ed. 2008. 15 | P á g i n a