méxico: nafta, crise do peso de 1994

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GEORGIA DE CÁSSIA ROCHA
MÉXICO: NAFTA, CRISE DO PESO DE 1994-95 E DIRETRIZES DE
POLÍTICA ECONÔMICA DO PERÍODO
Monografia apresentada como requisito para a
conclusão do curso de bacharelado em Relações
Internacionais do Centro Universitário de Brasília –
UniCEUB.
Orientador: Prof. Carlito Roberto Zanetti.
BRASÍLIA
2004
GEORGIA DE CÁSSIA ROCHA
MÉXICO: NAFTA, CRISE DO PESO DE 1994-95 E DIRETRIZES DE
POLÍTICA ECONÔMICA DO PERÍODO
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________
Prof. Carlito Roberto Zanetti
(Presidente)
______________________________________
Prof. Alaor Silvio Cardoso
(Membro)
_______________________________
Prof. Cláudio Ferreira da Silva
(Membro)
Brasília, novembro de 2004.
II
À minha mãe, Lúcia Rocha, que me acompanha
desde os meus primeiros sinais de vida com muita
dedicação e amor, acredita nos meus sonhos, no
meu sucesso, e não mede esforços para que eu
siga bem o meu caminho.
III
AGRADECIMENTOS
A Deus, que tornou possível todas as coisas, foi companheiro em todos os
momentos e me deu forças naqueles em que era difícil continuar;
Aos professores do curso de Relações Internacionais do UniCEUB que
contribuíram para minha formação acadêmica, sobretudo àqueles que cooperaram para a
realização desse trabalho;
Aos meus colegas de turma, em especial Alessandra, Gláucia e Viviane, que
estiveram ao meu lado durante esses anos trazendo momentos de recordação e uma amizade
que não será esquecida;
Ao meu amor, Pedro Henrique, pela compreensão naqueles momentos em que
estive ausente para seguir com esse trabalho e por me incentivar sempre, com muito carinho;
A toda a minha família, em especial à minha mãe, pelo carinho, amor, dedicação e
paciência e pelo apoio constante.
IV
“Aprender é a única coisa de que a mente nunca
se cansa, nunca tem medo e nunca se
arrepende”.
Leonardo da Vinci
V
ROCHA, Georgia de Cássia. México: NAFTA, Crise do Peso de 1994-95 e Diretrizes de
Política Econômica do Período. 2004. 66 p. Monografia. Brasília: Curso de Relações
Internacionais, Centro Universitário de Brasília – UNICEUB. Prof. Carlito Roberto Zanetti.
RESUMO
Esse trabalho tem por objetivo analisar os impactos do NAFTA sobre a política
econômica do México, com ênfase nos anos 90, porém, demonstrando alguns efeitos nos anos
seguintes. O México é um país emergente que passou a fazer parte do bloco econômico
juntamente com dois países desenvolvidos, e esse fato faz com que o mais fraco apresente
efeitos diferenciados em relação aos outros. Diversos aspectos da economia mexicana estão
relacionados com os Estados Unidos, país o qual faz fronteira. Dessa forma, é discutido os
problemas e as vantagens existentes na política econômica do México após a entrada em vigor
do NAFTA, também analisando uma desastrosa crise financeira que surge no país logo após a
entrada em vigor do bloco, crise que também afetou a Ásia, a Rússia, o Brasil e a Argentina.
Assim, a análise procura visualizar a experiência do país diante do NAFTA e da crise
mexicana, mostrando onde os fatos ocorridos foram importantes para aquele país.
Palavras-chave: México, NAFTA, crise financeira, política econômica, comércio.
VI
ROCHA, Georgia de Cassia. Mexico: NAFTA, 1994-95 Crisis and Economic Policy
Guidelines of the Period. 2004. 66 p. Monograph. Brasilia: International Relations,
University Center of Brasilia – UNICEUB. Prof. Carlito Roberto Zanetti.
ABSTRACT
This paper aims to analyze the NAFTA impacts on Mexico’s economic policy,
with emphasis in the 90s, however, showing some effects in the following years. Mexico is a
developing country and became part of NAFTA agreement with two other developed
countries, and this fact creates differentiated effects to the weaker in relation to the others.
Several aspects of the Mexican economy are related with the United States, its bordering
country. Therefore, this paper discusses the problems and advantages in Mexico’s economic
policy after NAFTA came into force, also analyzing the deep financial crisis arised in the
country right after the agreement. This very crisis also affected Asia, Russia, Brazil and
Argentina. Thus, this paper analyzes the country’s experience considering the NAFTA
agreement and the Mexican crisis, highlighting the most relevant facts of the country.
Keywords: Mexico, NAFTA, financial crisis, economic politics, trade.
VII
SIGLAS
BID
Banco Interamericano de Desenvolvimento
BIRD
O Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Banco
Mundial)
FED
Federal Reserve (O Banco Central dos Estados Unidos)
FMI
Fundo Monetário Internacional
IDE
Investimento Direto Estrangeiro
NAFTA
North American Free Trade Agreement (Acordo de Livre Comércio da
América do Norte)
OCDE
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
ONG
Organização não-governamental
ONU
Organização das Nações Unidas
PIB
Produto Interno Bruto
URV
Unidade Real de Valor
VIII
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ..........................................................................................................................................IV
RESUMO ..............................................................................................................................................................VI
ABSTRACT .........................................................................................................................................................VII
SIGLAS.............................................................................................................................................................. VIII
INTRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA............................................................................... 10
ABORDAGEM TEÓRICA E METODOLOGIA ................................................................................................. 12
1. NAFTA ....................................................................................................................................................... 14
1.1 Desvantagens para o México após o NAFTA ...................................................................... 17
1.1.1 O comércio ........................................................................................................................................... 17
1.1.1.1 As Empresas Maquiladoras ........................................................................................................... 19
1.1.2 Os empregos ......................................................................................................................................... 20
1.1.3 Fluxos Financeiros ............................................................................................................................... 22
1.2 Vantagens para o México após o NAFTA ............................................................................. 23
1.2.1 O comércio ........................................................................................................................................... 23
1.2.2 Os empregos ......................................................................................................................................... 25
1.2.3 Fluxos Financeiros ............................................................................................................................... 26
2. A CRISE DO PESO MEXICANO DE 94-95 ..................................................................... 28
2.1 Antecedentes ....................................................................................................................................... 28
2.2 Crise de 94-95..................................................................................................................................... 32
2.2.1 Causas e efeitos da crise ...................................................................................................................... 32
2.2.1 O comércio mexicano pós-crise do peso de 94-95 ............................................................................... 36
2.2.2 Crise bancária ...................................................................................................................................... 36
2.2.3 Ajuda financeira ao México ................................................................................................................. 38
2.2.4 O que a crise revelou............................................................................................................................ 40
3. A PÓS-CRISE MEXICANA ......................................................................................................... 41
3.1 O peso após a crise ........................................................................................................................... 41
3.2 O efeito contágio ............................................................................................................................... 42
3.2.1 A crise asiática ..................................................................................................................................... 43
3.2.2 A crise russa ......................................................................................................................................... 46
3.3.3 A crise do real brasileiro...................................................................................................................... 48
3.3.4 A crise argentina .................................................................................................................................. 50
CONCLUSÃO ...................................................................................................................................................... 53
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................................. 56
ANEXOS............................................................................................................................................................... 58
IX
10
INTRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA
O presente trabalho tem por objetivo analisar a política econômica do México a
partir da entrada em vigor do NAFTA, os benefícios e desafios que o país teve que enfrentar com
o bloco e a crise financeira de 1994-95, que se desencadeou no mesmo período do surgimento do
NAFTA, bem como suas conseqüências para o próprio país e o contágio que causou na Ásia,
Rússia, Argentina e Brasil.
Além do México, o NAFTA é composto pelo Canadá e Estados Unidos, sendo o
primeiro o único país emergente do bloco. O NAFTA foi o primeiro acordo de livre comércio
abrangente entre países desenvolvidos e uma economia subdesenvolvida. Isso criou a maior área
de livre comércio do mundo em termos de PIB total, e é o segundo maior em termos de volume
de comércio, depois da União Européia.1
Nesse contexto, o México apresentou diversos problemas com o NAFTA, mas
certamente o bloco teve um impacto significativo na esfera macroeconômica do país, pelo
declínio nas barreiras comerciais e o maior acesso do mercado que o acordo proporcionou. Entre
os objetivos do NAFTA, está a eliminação de todas as tarifas e a redução de barreiras nãotarifárias entre os países membros. O acordo eliminou a maioria das tarifas e outras barreiras ao
comércio nos seus primeiros dez anos. Assim, passou a existir uma criação de comércio entre o
México e os outros países membros, ou seja, uma ampliação das transações comerciais entre
eles, a partir da unificação de preços dos produtos na região após a queda das barreiras tarifárias
e um desvio de comércio, onde começou a haver uma redução de comércio com os países nãomembros, em benefício do comércio intra-regional.2 Mas apesar de problemas enfrentados,
dados mostram que o NAFTA teve um importante papel para o crescimento do comércio e
fluxos financeiros na região, afetou significativamente fluxos de investimento estrangeiro, teve
influência no crescimento econômico e aperfeiçoou o fator de produtividade total no México.
1
Baseado em KOSE, M. Ayhan, et al. How has NAFTA affected the mexican economy? Review and
evidence.
2
Integração Regional. Criação de comércio e desvio de comércio. Notas de aula. Mimeografado.
11
Choques significantes tiveram importantes efeitos no México e seus parceiros do
NAFTA durante esse período, incluindo a intensa crise financeira que o México sofreu em 1994
(Efeito Tequila), que forçou uma acentuada desvalorização do peso.
A experiência mexicana nos anos 90 foram de elevada importância, pois o país
passou por uma elevada recessão com a crise em 1994-95, que aumentou as pressões
competitivas e o crescimento econômico do país com o NAFTA foi significante. Assim, a crise
em 1994-95 foi mais intensa do que nos anos 70 e 80, porém sua recuperação foi mais acelerada
por sua participação no NAFTA, como é mostrado ao longo desse trabalho.
O problema caracteriza-se em detectar os impactos do NAFTA e da crise do peso
mexicano sobre a economia do México. Ambos surgiram no mesmo ano e geraram mudanças na
economia. O NAFTA ainda gerou efeitos diferenciados no México por esse ser o único país
emergente do bloco. Portanto, é analisado se a recessão financeira que ocorreu em 1994 ocorreu
em decorrência do acordo de livre comércio.
12
ABORDAGEM TEÓRICA E METODOLOGIA
Teoria da Integração3
A teoria da integração é definida como o processo de criação de um mercado
integrado, a partir da eliminação de barreiras ao comércio, ao movimento de fatores de produção
e da criação de instituições que permitam a coordenação ou unificação de políticas econômicas
em uma região geográfica.
A teoria da integração econômica pode ser encarada como um aspecto da
economia internacional, mas também alarga o campo da teoria do comércio internacional na
medida em que analisa a influência de uma fusão de mercados nacionais sobre o crescimento e
examina a necessidade de coordenação de políticas econômicas no interior de uma união. A
teoria da integração também considera a localização.
Existem quatro formas de integração: Área de Livre Comércio, União Aduaneira,
Mercado Comum e União Econômica. A forma de integração que esse trabalho analisa é uma
área de livre comércio, que é uma região em que os países membros eliminam barreiras ao
comércio dentro do bloco mas mantêm políticas independentes com relação aos países que não
fazem parte do bloco.
Existe uma teoria de criação de comércio e desvio de comércio que foi criada por
Jacob Viner em 1949. A criação de comércio ocorre quando os países associados deixam de
produzir algum produto, passando a compará-lo regionalmente devido à eliminação de barreiras
entre os países. Já o desvio de comércio, ocorre quando o país passa a comprar do parceiro
associado um produto que antes importava de outro país, não associado.
A atividade econômica tem como objetivo o bem-estar, e, dessa forma, o bemestar no caso da integração pode ser afetado por uma variação na quantidade de bens produzidos,
uma alteração no grau de discriminação entre produtos fabricados internamente e no estrangeiro,
3
Baseado em Integração Regional. Notas de aula. Mimeografado.
13
uma redistribuição do rendimento entre os naturais de cada país e uma redistribuição de
rendimento dentro do país.
Dentro da análise de integração regional, encontra-se a teoria de vantagens
comparativas, em que cada país especializa-se na produção e exportação dos bens que pode
produzir com um custo menor e cada país importa os bens que produz com um custo maior, por
ser o país menos eficiente na produção de produtos que importa.
Metodologia
Esse trabalho é uma pesquisa com caráter científico, já que é delimitado e
problematizado, e trabalha com dados que visam comprovar divergências. Foram utilizadas
como fontes um trabalho do FMI sobre o impacto do NAFTA sobre a política econômica do
México, o qual é base para o estudo do NAFTA e o livro do Angel Vilariño Sanz, que foi base
para o estudo da crise mexicana e das demais crises que foram afetadas com o efeito contágio.
Também é utilizado diversos autores em que são feitas comparações nas argumentações. Por fim,
o trabalho apresenta argumentações cabíveis ao tema, como argumento estatístico, caso concreto
e contra-argumentação, e conclui demonstrando o posicionamento frente ao tema.
1. NAFTA
O NAFTA (sigla em inglês para North American Free Trade Agreement – que
significa “Tratado de Livre Comércio da América do Norte”) foi assinado em dezembro de 1992
pelos Estados Unidos, México e Canadá, mas foi no dia 1º de janeiro de 1994 que esse acordo de
livre comércio entrou em vigor. “O Tratado representou um momento decisivo para a política do
comércio global, não somente pelo tamanho da área de livre comércio que criou, mas também
pela abrangência do Tratado, que incluiu não só o comércio de mercadorias, mas também
questões relacionadas a investimentos, mercado de trabalho, e políticas ambientais” (KOSE, et
al, 2004, p. 4, tradução nossa)4.
Os objetivos desse acordo são:
• a eliminação de barreiras ao comércio que facilite o movimento
de bens e serviços entre os territórios das partes;
• a promoção de condições de competição justa na área de livre
comércio;
• o aumento substancial da oportunidade de investimentos no
território das partes;
• a promoção da proteção adequada e efetiva à execução de
propriedade intelectual5;
• a criação de procedimentos efetivos para a implementação,
aplicação deste Acordo, e para a sua articulação administração e resolução de
disputas;
4
No original se lê: “The agreement represented a watershed in global trade policy, not just because of the size of
the free trade area created, but also with regard to the comprehensiveness of the agreement, which covered not
just merchandise trade, but also issues related to investment, labor markets, and environmental policies”.
5
Cada país signatário do NAFTA concede proteção à propriedade intelectual, nos termos daquela conferida em
um outro país membro, em base não discriminatória, reconhecendo e aplicando os direitos correspondentes em
seu território. Essa proteção compreende a patente, o direito autoral, a marca e o segredo industrial (GOYOS
JUNIOR, 1993).
15
• estabelecer uma armação para a adicional trilateral, regional e
cooperação multilateral para se expandir e aumentar os benefícios do Acordo.6
Esse Tratado apresenta vários itens e alguns deles mostram regras tais como
“Eliminação tarifária progressiva, até sua eliminação total em dez anos; regras de origem para
garantir que essa eliminação favoreça os países do NAFTA e impedir que outros se utilizem do
acordo como plataforma de acesso ao mercado da América do Norte; acesso dos sócios do
NAFTA aos programas de compras governamentais7; abertura do comércio transfronteiriço para
os setores de serviços, incluindo os financeiros; garantia de direitos de propriedade intelectual;
tratamento diferenciado para os setores têxtil, vestuário, automotriz, de energia, agricultura,
transporte terrestre e telecomunicações”.8
Esse estudo pretende analisar a posição do México diante do surgimento do Tratado,
pois esse é o único país emergente dentre os três, e dessa forma, obteve diversas vantagens, bem
como desvantagens, que podem influenciar política econômica.
Grande parte dos autores dizem que o NAFTA foi um acordo fracassado, em
especial desde a perspectiva mexicana, quando da análise do que não foi benéfico para o país.
Como o México é o único país em desenvolvimento alguns autores observam que o país seria o
único prejudicado, enquanto que outros observam o fato como uma oportunidade do país ser
beneficiado. Porém, alguns procuram demonstrar que os poucos benefícios não valeriam a pena
diante dos diversos problemas econômicos que assolaram o país desde então. De acordo com
Altamiro Borges, em seu artigo “A trágica experiência do NAFTA,“ “uma rápida pesquisa
confirma que este tipo de acordo de ‘livre comércio’ beneficia única e exclusivamente as
corporações multinacionais, especialmente as dos EUA, e representa um duro golpe na
6
Os objetivos do NAFTA estão expressos no artigo 102 do acordo.
Segundo os autores Heloísa Camargos Moreira e José Mauro de Morais no texto Compras Governamentais:
políticas e procedimentos na Organização Mundial do Comércio, União Européia, NAFTA, Estados
Unidos e Brasil, as “compras governamentais” têm como princípios básicos a adoção de tratamento nacional e
a não discriminação em relação aos bens e produtores dos demais países participantes do acordo. Esses
princípios se efetivam com os países signatários assumindo o compromisso de conceder aos bens, serviços e
fornecedores dos demais países tratamento não menos favorável que o concedido aos seus próprios produtos,
serviços e fornecedores. Respeitando esses princípios, os países participantes assegurarão que os órgãos
públicos convidem nas mesmas condições dos seus nacionais os fornecedores e os prestadores de serviços dos
outros Estados-membros que possuam as qualificações requeridas. O primeiro acordo de compras
governamentais das Américas foi implementado com a criação do NAFTA.
8
Apud BORGES, Altamiro. A trágica experiência do Nafta. Trecho dos autores Kjeld Jakobsen e Renato
Martins da obra “ALCA: quem ganha e quem perde com o livre comércio nas Américas”.
7
16
soberania das nações, um violento retrocesso nas normas democráticas e uma brutal regressão
nos direitos sociais”.9
Vicente Fox, atual Presidente do México, afirmou com relação ao NAFTA que “este
pacto resultou, no todo, um êxito que nos levou a níveis sem precedentes em matéria de
comércio exterior, de criação de empregos que nos permitiu ter praticamente a metade do país
em pleno emprego” (ALTMAN, 2001). Ainda segundo Max Altman10, “empresários do
continente saúdam o crescimento dos níveis da exportação mexicana em 1.400 por cento ao
longo de sete anos, omitindo o outro prato da balança do comércio exterior, o da importação,
que cresceu com igual ímpeto, e até mais”. Esses acontecimentos são reais, visto que o fato que
demonstrou maior sucesso do NAFTA, foram as trocas comercias, especialmente aquelas
realizadas entre o México e os Estados Unidos, todavia, enquanto empresários comemoravam,
milhões de trabalhadores passavam por muitas dificuldades. “O acordo serviu para acelerar a
transição para uma economia liberalizada, mas não criou as condições para que o México se
aproximasse do nível de seus dois parceiros no acordo, os EUA e o Canadá” (STEINBRUCH,
2003).
A localização geográfica dos países facilitou o crescimento do comércio entre
ambos. Todavia, o México teve o seu comércio mais liberalizado, o que foi vantajoso para as
exportações norte americanas. Outro fato que muitas vezes se baseia na legislação norte
americana são as regras no setor de investimentos. Mas é nesse setor que o México esperou
ganhar mais, por ser o único país emergente.
Contudo, mesmo com todos os problemas que a economia mexicana enfrentou após
o NAFTA, é relevante lembrar que também houveram fatores benéficos, que foram essenciais
para a economia do país, e que serão mencionados nesse trabalho.
Visto que existem diversos autores que defendem um mau resultado do NAFTA,
serão mencionados em primeiro lugar as desvantagens do bloco para o México e logo seguirão
também as vantagens, em áreas importantes como comércio, empregos e fluxos financeiros.
9
Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PcdoB e editor da revista Debate Sindical.
Max Altman é Analista de Política Internacional e membro do Conselho de política Externa da Secretaria de
Relações Internacionais do Partido dos Trabalhadores.
10
17
1.1 Desvantagens para o México após o NAFTA
1.1.1 O comércio
Embora o comércio seja uma das áreas que gerou maior êxito para o México após o
NAFTA, autores opositores do bloco utilizam dados para mostrar que nem mesmo o comércio
foi um fator positivo para o México. Dizem que as “exportações são feitas por cerca de 300
empresas, a maioria delas filiais norte-americanas. Isto sem falar das maquiladoras11, que
importam quase tudo do exterior e crescem às custas da mão-de-obra barata do México - 10
vezes inferior a dos EUA. Somadas, elas são responsáveis por 96% das exportações mexicanas;
os 4% restantes se dispersam entre 2 milhões de pequenas fábricas que ainda não foram
absorvidas pelo capital ianque e que sobrevivem, às duras custas, à avalanche neoliberal”12
(BORGES, 2002). Esses autores criticam a política de liberalização do comércio entre esses
países, pois acreditam que representa um golpe norte-americano para aproveitar o baixo custo do
trabalho mexicano para obter produtos de alta qualidade. Essa liberalização foi ocorrendo
gradativamente, o que não representou um choque para a economia dos países. “Embora o
NAFTA tenha resultado nas reduções imediatas em várias barreiras tarifárias e não-tarifárias
quando se tornou lei em 1994, a maioria das tarifas e outras barreiras foram sendo eliminadas
aos poucos, nos primeiros dez anos. Além disso, algumas tarifas restantes serão introduzidas em
quinze anos” (KOSE, et al, 2004, p. 12, tradução nossa)13.
O economista cubano Osvaldo Martínez14 utiliza o exemplo da indústria têxtil do
México, onde diz que as exportações aumentaram para os Estados Unidos após o NAFTA,
11
Denominação de empresas situadas em lugares próximos das fronteiras de um país, onde se montam produtos
com peças e componentes vindos do país vizinho com vantagens decorrentes de mão-de-obra barata.
Desenvolveram-se na fronteira México-Estados Unidos. (SANDRONI, 1999).
12
Altamiro Borges expondo a idéia do economista Osvaldo Martínez no texto “Posición de Cuba sobre el
ALCA”.
13
No original se lê: “Although NAFTA resulted in immediate reductions in various tariff and nontariff barriers
when it became law in 1994, the majority of tariffs and other trade barriers were gradually eliminated in its
first tem years. Moreover, some remaining tariffs will have been phased out in fifteen years”.
14
Osvaldo Martínez é um destacado economista, diretor do Centro de Estudos da Economia Mundial e
presidente da Comissão de Economia da Assembléia Nacional do Poder Popular de Cuba.
18
“mas, neste ramo, 71% das empresas são norte-americanas. Segundo vários estudos, para cada
dólar de exportação industrial mexicana para os EUA, somente 18 centavos provêm de
componentes nacionais. Já nas maquiladoras, para cada dólar exportado, o componente
mexicano é de apenas 2 centavos”. Diante disso, ele afirma que ocorre um processo de
desnacionalização no México. Altamiro Borges utiliza também o exemplo da agricultura, que é
muito presente nas exportações mundiais. Ele faz uma comparação com as importações nos anos
80. “Em 1982, o México importava US$ 790 milhões de alimentos; já em 1999, passou a
importar US$ 8 bilhões. De país exportador de vários produtos agrícolas, transformou-se num
campo minado. Hoje é obrigado a importar dos EUA cerca de 50% de tudo o que consome. A
‘livre competição’ com a agricultura norte-americana, que goza de altos subsídios e conta com
uma base técnica mais avançada, foi fatal para o México”. De fato, o NAFTA afetou a
agricultura no México, como se pode observar na tabela 1 e no gráfico 1, no anexo. Porém, é
importante lembrar que a instalação de empresas norte-americanas no México trouxe vantagens
como empregos para o país, que cresceram consideravelmente após a entrada em vigor do
NAFTA. A questão dos empregos será discutida mais adiante. Outro fator importante, é que esse
autor compara dados de 1982, ano em que ocorreu uma crise na economia mexicana e 1999, ano
em que o México ainda estava se recuperando da crise do peso de 94-95 que foi muito mais
crítica que nos anos 80. A crise de 94-95 também será ainda exposta nesse trabalho.
Osvaldo Martínez ainda utiliza o exemplo da agricultura, afirmando que nesse setor
o México enfrenta uma situação de catástrofe depois do NAFTA. “Podemos dizer que o setor
agrícola mexicano, ao se colocar em contato com a agricultura norte-americana e com as
exportações agrícolas norte-americanas, se coloca em contato com o sistema mais sofisticado de
subsídios de todo tipo que existe em qualquer economia do mundo, e também, supõe-se, com a
economia tecnicamente mais adiantada no setor agrícola em todo o mundo”. Ele exemplifica,
como resultado disso para a agricultura mexicana, o caso do arroz. “O México era um forte
produtor de arroz. O arroz de produção nacional foi substituído pelas importações de arroz
procedente dos Estados Unidos e já essas importações representam mais de 50% do consumo
mexicano”. Também utiliza o exemplo das batatas e do algodão mexicano “As batatas
mexicanas, que o México também foi exportador, foram bloqueadas em seu ingresso ao
mercado norte-americano, apresentando barreiras fitossanitárias, uma das tantas barreiras que se
colocam para impedir o ingresso de produtos; e, enquanto isso, as batatas procedentes dos
Estados Unidos tem invadido o mercado mexicano. O algodão, recordemos o México como um
19
tradicional exportador de algodão: México passou, de exportador de algodão, a ser um dos
maiores importadores de algodão”.
Fora do comércio total entre os países, houveram também o comércio intra-indústria
e o comércio intra-empresa. “O comércio intra-indústria entre o México e seus parceiros do
NAFTA aumentou significativamente. O comércio intra-indústria, que é definido como o
comércio em produtos similares porém diferenciados, é também associado com o comércio de
maquiladoras. […] O NAFTA também estimulou o comércio intra-empresa na região. Comércio
Intra-empresa é definido como comércio através da fronteira entre empresas multinacionais e
suas afiliadas. No caso do México, muitas dessas afiliadas são empresas maquiladoras” (KOSE,
et al, 2004, p. 16, tradução nossa)15. M. Ayhan Kose (et al) traz dados da OCDE, em que a ação
do comércio intra-indústria no setor de manufaturados no México cresceu de 62,5% em 1998-91
para 73,4% no período de 1996-2000, sendo que grande parte do crescimento está relacionado
com o NAFTA. As exportações intra-empresa do México para os Estados Unidos subiu mais de
3% no período de 1992-99 e contou como dois terços do total das exportações em 1999. O
problema das empresas maquiladoras é discutido a seguir.
1.1.1.1 As Empresas Maquiladoras
O problema que o México enfrenta em relação ao comércio são as empresas
maquiladoras. Existem muitas delas no México, a maioria “na fronteira dos dois países, em
cidades como Tijuana, Mexicali, Matamoros e Ciudad Juarez” (BORGES, 2002). Elas são
empresas “que importam produtos americanos sem tarifas para processamento e reexportação”
(STEINBRUCH, 2003). Ou seja, essas empresas “importam produtos dos Estados Unidos, os
processa, e depois os reexporta para os Estados Unidos”. Altamiro Borges reproduz a explicação
de como surgiram as maquiladoras de Kjeld Jakobsen e Renato Martins: “Maquila é um tipo de
empresa que surgiu no México na década de 60, como forma de gerar empregos nas regiões
pobres da fronteira com os Estados Unidos. Atuavam exclusivamente na montagem e
15
No original se lê: “Intra-industry trade between Mexico and its NAFTA partners rose significantly. Intraindustry trade, which is defined as trade in similar but differentiated products, is also closely associated with
maquiladora trade. […] NAFTA also boosted intra-firm trade in the region. Intra-firm trade is defined as crossborder trade between multinational companies and their affiliates. In the case of Mexico, most of these
affiliates are maquiladora firms”.
20
etiquetagem de produtos exportáveis, a partir de componentes importados e sem respeitar as leis
de trabalho e as normas ambientais. Uma atividade, portanto, que não agrega nem valor nem
tecnologia. Com o advento do NAFTA, o fenômeno se expandiu devido à inexistência de tarifas
entre os três países, o que favoreceu a importação de componentes e a exportação de produtos
acabados”.16 “As Maquiladoras cresceram substancialmente depois dos anos 80, com a ajuda das
exportações maquiladoras no total das exportações do México, crescendo de 15% em 1980 para
aproximadamente 50% em 2001” (KOSE, et al, 2004, p. 15, tradução nossa)17. No gráfico 2 (no
anexo) pode-se observar um maior crescimento das maquiladoras no México, a partir do
significante aumento das importações e exportações dessas empresas.
Porém, o crescimento das maquiladoras ocorreu mais rapidamente nos anos 90.
“Atualmente existem no México cerca de 4 mil empresas deste tipo, também chamadas de
‘processadoras para exportação’, produzindo acessórios eletrônicos, equipamentos mecânicos,
produtos têxteis, brinquedos, comida enlatada e produtos químicos” (BORGES, 2002). O grande
problema, no entanto, diz respeito à vulnerabilidade do México em relação aos Estados Unidos,
pois nessas empresas “a maior parte do capital, da matéria prima e até do gerenciamento é norteamericano, e quase toda a produção é exportada – a maioria sem qualquer tributação ou
fiscalização” (Idem). E a maior polêmica que gira em torno das maquiladoras é o fato de que os
norte-americanos acabam por explorar a mão-de-obra dos mexicanos com um custo bastante
baixo. Como já mencionado anteriormente, “para cada dólar exportado, o componente mexicano
é de apenas 2 centavos”, dessa forma, os Estados Unidos é que acabam levando maior vantagem
com a existência dessas empresas.
1.1.2 Os empregos
Com relação aos empregos no México, muitos autores defendem que o NAFTA não
foi favorável, de forma mais aparente nas empresas não-maquiladoras. “Havia 1,3 milhão de
mexicanos empregados em 2002, cerca de 100 mil a menos que em 1994. Na agricultura,
16
Apud BORGES, Altamiro. A trágica experiência do Nafta. Trecho dos autores Kjeld Jakobsen e Renato
Martins da obra “ALCA: quem ganha e quem perde com o livre comércio nas Américas”.
17
No original se lê: “Maquiladora firms grew substantially after the early 1980s, with the share of maquiladora
exports in total exports of Mexico rising from 15 percent in 1980 to roughly 50 percent in 2001”.
21
prejudicada por maciças importações de produtos americanos que entram no país sem taxação, o
número de empregos caiu de 7,2 milhões para 6,8 milhões de 1994 a 2002” (STEINBRUCH,
2003).
Muitos acreditam que o NAFTA praticamente não ajudou o México na questão dos
empregos. “O México tem hoje, quase dez anos depois do início do NAFTA, os mesmos
problemas que tinha no início dos anos 90 em matéria de oferta de emprego. Cerca de 47% da
força de trabalho permanece desempregada ou subempregada” (STEINBRUCH, 2003).
E apesar de favorecer os Estados Unidos em muitos aspectos, o NAFTA não foi
favorável nesse setor para esse país e para o Canadá. Para os Estados Unidos, a vantagem esteve
presente junto aos empresários. “Várias pesquisas indicam que os únicos beneficiados são as
gigantescas corporações empresariais. ‘Os benefícios foram em tal escala que, já em 1994,
economias da ordem de US$ 16 bilhões puderam ser feitas pelas grandes corporações apenas
com gastos em mão-de-obra. Atualmente, os números são muito maiores’, garante o especialista
Gilberto Dupas18” (BORGES, 2002). O problema são os trabalhadores assalariados, pois o
desemprego para eles aumentou e as condições de trabalho decaíram. “Estudos de sindicatos e
ONGs norte-americanas comprovam que, entre 1994-2000, o NAFTA eliminou 766 mil
empregos nos EUA” (Idem). Isso ocorreu porque as empresas dos Estados Unidos foram para o
México em busca de mão-de-obra barata. “Muitas companhias se mudaram para o México para
tirar proveito dos salários de 5 dólares ao dia pagos aos trabalhadores. Sem direitos trabalhistas e
sindicais, os mexicanos não podem se organizar para aumentar seus salários. Os trabalhadores
dos EUA hoje encontram trabalho com menos segurança e salários que equivalem a 77% do que
originalmente recebiam”.19
Com relação ao Canadá, os empregos também diminuíram. “Desde a implantação do
NAFTA, 276 mil trabalhadores canadenses perderam os seus empregos. A renda per capita no
Canadá corresponde atualmente a menos de dois terços da renda nos EUA e analistas, como
McCallum, prevêem que ela abaixará para 50% nesta década. Como decorrência da falta de
oportunidades, cresce o número dos melhores cérebros que buscam seu futuro nos EUA”
18
Altamiro Borges cita a idéia de Gilberto Dupas, autor de “Assimetrias econômicas, lógica das cadeias
produtivas e políticas de bloco no continente americano”.
19
BORGES, Altamiro. A trágica experiência do Nafta. Trecho reproduzido de “O que é a ALCA e o Nafta
para as Américas”, da Public Citizen. <www.citizen.org>.
22
(BORGES, 2002). Dessa forma, a qualidade dos serviços no Canadá também cai, pois com as
poucas condições de emprego no país, os trabalhadores com melhor nível migram para os
Estados Unidos em busca de maior renda.
Por fim, vários autores mencionam a questão da pobreza, como resultado do
problema dos empregos. “Atualmente economistas mexicanos ressaltam que 47% da população
mexicana vive na pobreza e 19% na indigência. Nos anos de vigência do Tratado de Livre
Comércio, a cesta básica de alimentos da população mexicana aumentou de preço 560%,
enquanto que o salário real somente aumentou 135; é dizer que a cesta aumentou de preço quase
cinco vezes mais do que aumentaram os recebimentos reais dos trabalhadores. Nos anos do
governo de Zedillo, o salário mínimo indica que perdeu 48% do seu poder de compra, e mais de
50% dos assalariados mexicanos recebem atualmente, em termos reais, menos da metade do que
recebia 10 anos atrás” (MARTÍNEZ, 2001).
1.1.3 Fluxos Financeiros
Apesar dos fluxos financeiros terem sido importantes para e economia mexicana
após o NAFTA, alguns autores concordam que o fluxo de capital aumentou, porém afirmam que
o déficit em conta corrente foi maior, tornando aquele aumento de pouca importância. “Segundo
a propaganda, o acordo incentivaria o ingresso de capital estrangeiro, alavancando o
desenvolvimento econômico e a distribuição de renda. Mas este milagre não se confirmou. É
certo que houve maior fluxo de capital externo para o país, que atingiu US$ 36 bilhões entre
1998-2000. Mas, no mesmo período, o déficit em conta corrente, resultado da remessa de juros e
lucros para o exterior, em especial para os EUA, foi de US$ 48 bilhões.” (BORGES, 2002).
Outros autores dizem que o México busca uma atração de capitais estrangeiros, mas
esses capitais não tem sido suficientes para manter o nível de investimentos. “Naquele país
ainda que um dos objetivos do tratado seja a atração de capitais estrangeiros, o que se pode dizer
é que ele foi insuficiente para manter a taxa de crescimento dos investimentos no México”.20
20
O autor é desconhecido, porém o texto de onde o trecho foi retirado demonstra bem os efeitos do NAFTA.
Está disponível em: <http://members.tripod.com/espacos_economicos/nafta.html>.
23
Alguns autores também mostram que o NAFTA foi ruim para a economia mexicana
no tocante à dívida externa. “No final de 2000, ela já superava os US$ 163 bilhões, mais que o
dobro da sangria em 1982 – exatamente quando eclodiu a crise da dívida externa do México,
que abalou o mercado mundial. Além de elevar a vulnerabilidade externa, o NAFTA agravou a
dependência do país. Antes de sua vigência, o México mantinha relações comerciais
relativamente mais diversificadas, abrangendo vários parceiros”. (BORGES, 2002).
1.2 Vantagens para o México após o NAFTA
1.2.1 O comércio
O comércio foi uma evidência de sucesso do NAFTA. O comércio entre o México e
os outros dois países, sobretudo com os Estados Unidos, cresceu bastante com o Tratado. “As
exportações do México para os Estados Unidos e o Canadá mais que dobraram em termos de
dólar entre 1993 e 2002. […] Aproximadamente 90% do total das exportações do México foram
para os países parceiros em 2002, enquanto as importações dos países parceiros constituíram
mais de 65% do total das importações” (KOSE, et al, 2004, p. 12-13, tradução nossa)21. Ou seja,
o comércio teve um crescimento significativo após o surgimento do NAFTA, como mostram os
gráficos 3, 4 e 5 e a tabela 2, no anexo. “Durante o período de 1993 a 2002, o crescimento no
total das exportações mundiais em termos de dólar foi menos que 75% enquanto o crescimento
nas exportações do México foi por volta de 300%” (KOSE, et al, 2004, p. 13, tradução nossa)22.
O gráfico 6 do anexo mostra o crescimento das exportações. Isso demonstra que as exportações
do México se sobressaíram em relação a dos outros países em desenvolvimento. O gráfico 7
indica que houve um desvio de comércio do México com os países não-membros do NAFTA,
por beneficiar o comércio dentro do bloco.
21
No original se lê: “Mexico’s exports to the United States and Canada more than doubled in dollar terms
between 1993 and 2002. […] Approximately 90 percent of total exports of Mexico went to the partner
countries in 2002 while imports from the partner countries constituted more than 65 percent of total imports”.
22
No original se lê: “During the period 1993-2002, the increase in total world exports in dollar terms was less
than 75 percent whereas the increase in Mexico’s exports was around 300 percent”.
24
O crescimento na variedade de produtos comercializados entre o México e os outros
membros do NAFTA também representa um fator importante. No comércio entre o México e os
Estados Unidos, “quase 25 pontos percentuais do crescimento de 190% nas exportações do
México para os Estados Unidos foi atribuída ao crescimento do número da variedade de
mercadorias comercializada enquanto mais de 8 pontos percentuais do crescimento de 93% nas
exportações dos Estados Unidos para o México foi conferida pelo crescimento da variedade de
produtos” (KOSE, et al, 2004, p.16, tradução nossa)23. “[…] O ritmo de diversificação acelerou
depois do surgimento do NAFTA, de forma que a média de compartilhamento de fabricações
cresceu para mais de 80% durante o período pós-NAFTA (1994-2002) de aproximadamente
37% no período pré-NAFTA (1980-93). Como resultado, a base das exportações e importações
do México se tornou uma das mais diversificadas entre as economias de mercado emergentes”
(KOSE, et al, 2004, p. 15, tradução nossa)24, como mostram a tabela 1 e o gráfico 1, no anexo.
Fator importante que facilitou o comércio entre o México e os Estados Unidos é a
localização geográfica. “Outro aspecto fundamental para a competitividade dos produtos
mexicanos e canadenses no mercado dos Estados Unidos é a distância geográfica entre as
principais plantas produtivas e a fronteira. A importância da proximidade pode ser vista por
indicadores de tipo de meio de transporte utilizado para as mercadorias exportadas para aquele
mercado” (BAUMANN e FRANCO, 2002, p. 31-32). Os dados com relação aos transportes nas
exportações do México para os Estados Unidos são semelhantes aos do Canadá para os Estados
Unidos, tendo em 1996 “82% do valor exportado sido transportado por via terrestre (66,7% por
estradas e 15,7% por ferrovias). Em outras palavras, a situação peculiar da proximidade
geográfica torna marginal o uso de transporte aéreo e marítimo, assim como de outros meios”
(Idem). O tipo de transporte rodoviário é vantajoso visto que os gastos com transporte se tornam
reduzidos, e o México acaba gastando menos com transporte pois o NAFTA impulsionou o
comércio do país com seu país vizinho. Há autores ainda que acreditam que “no caso mexicano,
o fato de 47% do valor exportado ser proveniente das plantas ‘maquiladoras’ que contam com
23
No original se lê: “Almost 25 percentage points of the 190 percent increase in Mexico’s exports to the United
States was attributable to the increase in the number of traded good varieties while more than 8 percentage
points of the 93 percent increase in the exports of the United States to Mexico was accounted for by the growth
of product variety”.
24
No original se lê: “The pace of diversification accelerated after the inception of NAFTA, as the average
manufacturing share increased to more than 80 percent during the post-NAFTA period (1994-2002) from
around 37 percent in the pre-NAFTA period (1980-93). As a result, Mexico’s export and import base has
become one of the most diversified among emerging market economies”.
25
uma série de benefícios é um fator diferenciador a ser agregado à distância geográfica”
(BAUMANN e FRANCO, 2002, p. 33).
1.2.2 Os empregos
Diferente do que ocorreu com as empresas não-maquiladoras, depois do surgimento
do NAFTA, nas empresas maquiladoras, “o ganho líquido foi de 550 mil postos de trabalho de
1994 a 2002. Cerca de 30% dos empregos criados nessas empresas desapareceram nos últimos
dois anos por causa da recessão americana e da transferência de muitas fábricas para países que
pagam baixos salários, especialmente a China” (STEINBRUCH, 2003).
Apesar dos Estados Unidos terem suas indústrias no México visando explorar a
mão-de-obra do país, o aumento de empregos no México no setor industrial foi significativo. “A
integração do México à economia dos Estados Unidos torna cada vez mais difícil definir o que é
especificamente nacional no comércio entre os dois países. Essa situação caracteriza
precisamente os setores mais dinâmicos da exportação mexicana: têxtil, vestuário e industria
automobilística. Esta última é muito importante para o México e para os Estados Unidos, pelo
número de empregos que gera e pela a sua contribuição para o Produto Interno Bruto (PIB)”.25
Todavia, é certo que no setor agrícola o México perdeu ainda mais empregos em 1994. Diante
dessa perda de empregos, o problema de migração para os Estados Unidos não foi solucionado,
e os mexicanos mais pobres continuam com o fluxo para os Estados Unidos em busca de
emprego.
M. Ayhan Kose (et al), afirma que “houve um crescimento significante nos
empregos durante os primeiros 5 anos do NAFTA e pesquisas recentes indicam que esse
crescimento refletiu fatores cíclicos em vez da preferência tarifária proporcionada pelo
NAFTA”.
25
NAFTA. Está disponível em: <http://members.tripod.com/espacos_economicos/nafta.html>.
26
1.2.3 Fluxos Financeiros
Assim como o comércio, os fluxos financeiros também foram uma das maiores
evidências de sucesso do NAFTA. “Os fluxos de investimento direto estrangeiro (IDE)26 entre o
México e seus parceiros se fortaleceu depois do NAFTA. O acordo continha várias cláusulas
que melhoraram a posição relativa dos investidores dos países parceiros no México e expandiu
os setores os quais eles podiam operar. Essas mudanças ajudaram a estimular os fluxos de IDE
para o México de US$ 12 bilhões entre 1991-93 para aproximadamente US$ 54 bilhões no
período de 2000-02 e elevou parte dos fluxos de IDE em formação de capital fixo doméstico
bruto (investimento) de 6% em 1993 para 11% em 2002, principalmente por causa dos influxos
dos parceiros do México do NAFTA” (KOSE, et al, 2004, p. 16, tradução nossa)27. Os gráficos 8
e 9 (no anexo) demonstram o desempenho do IDE e dos investimentos após a entrada em vigor
do NAFTA.
“Houve um crescimento substancial no volume dos fluxos financeiros globais desde
a metade dos anos 80. Por exemplo, os fluxos de capital privado das economias industrializada
para os países em desenvolvimento cresceram dramaticamente durante o período a uma fração
significante desse crescimento foi para as economias de mercado emergentes” (KOSE, et al,
2004, p. 12, tradução nossa)28.
26
O investimento estrangeiro é aquisição de empresas, equipamentos, instalações, estoques ou interesses
financeiros de um país por empresas, governos ou indivíduos de outros países. O investimento de capital
estrangeiro pode ser direto, quando aplicado na criação de novas empresas ou na participação acionária de
empresas já existentes (SANDRONI, 1999).
27
No original se lê: “Foreign direct investment (FDI) flows between Mexico and its partners strengthened after
NAFTA. The agreement contained various provisions that improved the relative standing of investors from the
partner countries in Mexico and expanded the sectors in which they could operate. These changes helped boost
FDI flows to Mexico from US$ 12 billion over 1991-93 to roughly US$ 54 billion in the 2000-02 period and
increased share of FDI flows in domestic gross fixed capital formation (investment) from 6 percent in 1993 to
11 percent in 2002, mainly on account of inflows from Mexico’s NAFTA partners”.
28
No original se lê: “There has been a substantial increase in the volume of global financial flows since the mid1980s. For example, private capital flows from industrialized economies to developing countries have
increased dramatically during this period and a significant fraction of this increase went to emerging market
economies”.
27
Contudo, a implementação do NAFTA beneficia o México ao levar a um maior
crescimento voltado para as exportações, em decorrência da ampliação do acesso ao mercado
dos Estados Unidos, estimula o retorno de capital e promove internamente o desenvolvimento de
reformas estruturais mais rápidas. Houve um aumento na oportunidade de empregos e dos
salários na indústria para reduzir a pressão da imigração mexicana para os Estados Unidos.
Assim, por volta de 1997, o México parecia haver superado profunda crise financeira que
ocorreu em 1994-95 e retomar seu caminho em direção a um rápido crescimento de longo prazo,
como mostra a tabela 3, no anexo.29 A crise será discutida com detalhes no próximo capítulo.
29
Baseado em SALVATORE, Dominick. Economia Internacional.
2. A CRISE DO PESO MEXICANO DE 94-95
2.1 Antecedentes
Antes da crise do peso que ocorreu no México em 1994-95, havia ocorrido também
uma crise em 1976 e em 1982, com algumas conseqüências semelhantes porém mais amenas que
a mais atual.
Em breve análise da crise financeira mexicana de 1976, destaca-se que houve uma
enorme desaceleração do crescimento da economia. A crise foi marcada por um aumento da
inflação, que ocorreu devido à expansão da oferta de moeda que estimulou a demanda privada e
acomodou os crescentes déficits públicos. Como conseqüência, ocorreram crescentes déficits em
conta corrente30, endividamento externo e fuga de capitais. A substituição de importações foi a
principal causa do déficit em conta corrente e do grande aumento da dívida externa, embora a
deterioração das relações de troca do país tenha também tido um efeito importante. Enquanto
faltava dinamismo às exportações, principalmente devido à sobrevalorização do peso, o
crescimento das importações era notável. A agricultura estagnou e a distribuição de renda não
apresentou qualquer melhoria, tendo ainda sido agravada pelo aumento do desemprego e do
subemprego, que afetou principalmente os grupos de baixa renda. Além de consentir a inevitável
desvalorização do peso, o México não tinha alternativa sem ser a de pedir ajuda ao FMI31, que
aprovou um programa de estabilização com o montante de US$ 965 milhões e cerca de US$ 900
30
Déficit em conta corrente é aquele que ocorre quando a soma das balanças comercial e de serviços e de
transferências unilaterais do balanço de pagamentos mostra um resultado negativo, isto é, um déficit.
(SANDRONI, 1999).
31
Fundo Monetário Internacional. Organização financeira internacional criada em 1994 na Conferência
Internacional da Breton Woods. É uma agência especializada da Organização das Nações Unidas (ONU) com
sede em Washington, e que faz parte do sistema financeiro internacional , ao lado do Banco Internacional de
reconstrução e Desenvolvimento (BIRD). O FMI foi criado com a finalidade de promover a cooperação
monetária no mundo capitalista, de coordenar as paridades monetárias de levantar fundos entre os diversos
países-membros para auxiliar os que encontrem dificuldades nos pagamentos internacionais (SANDRONI,
1999).
29
milhões concedidos pelo governo americano. As condições do acordo com o FMI eram as usuais
dos programas de estabilização e incluíam restrições sobre os empréstimos externos e sobre o
aumento dos ativos líquidos do Banco do México.32
Em análise pouco mais detalhada da crise logo anterior à de 1994-95 (anos 80), “O
Estado mexicano estava endividado com os bancos internacionais, que lhe haviam concedido
empréstimos de médio prazo. A crise foi provocada pela incapacidade do México de fazer face
ao pagamento dos juros e ao reembolso de uma fração do principal desta dívida” (CHESNAIS,
1998, p. 286). Os banqueiros que eram envolvidos acreditavam que isso significava um aumento
“da categoria de ‘créditos duvidosos’, com a necessidade de alimentar em seu balanço a linha
prevista para esta eventualidade. Essa medida anunciava perdas financeiras que provocavam uma
queda de seus lucros, ou mesmo, para alguns bancos, a queda das cotações de suas ações e a
necessidade de se explicar diante dos acionistas” (Idem). Dessa forma, como o México não
conseguia cumprir seus compromissos, a economia do país foi criando uma dependência cada
vez maior da economia dos Estados Unidos, resultando na criação do NAFTA. “A intervenção
do FED33 e o FMI, de 8 bilhões de dólares […] permitiu ao governo mexicano fazer face aos
pagamentos do verão de 1982 e abrir negociações com os credores para reescalonar os
pagamentos seguintes. A intervenção deu a cada banco credor o tempo necessário para
administrar com seus acionistas o problema dos ‘créditos duvidosos’. Ela permitiu também que o
coletivo dos bancos formasse ‘comitês de credores’, encarregados de conduzir negociações mais
longas em vista do reescalonamento, do pagamento e, mais tarde, da conversão da dívida”
(Idem).
Entre 1988 e 1993, o governo desenvolveu uma política econômica de rigidez fiscal
e monetária. A inflação estava por baixo dos 10% em 1993 e 1994, enquanto as contas públicas
registraram um ligeiro superávit em 1992 e 1993, com um déficit moderado, em 1994. O
governo conduziu um programa de reformas com uma forte abertura da economia à competição
internacional, um processo de privatizações, um programa de estabilização baseado na âncora do
tipo de câmbio nominal34, apoiado no desenvolvimento das políticas monetária e fiscal, ambas e
32
Baseado em CASTELLO BRANCO, Marta de. Brasil e México: Duas experiências de ajuste estrutural.
FED – (Federal Reserve). O Banco Central dos Estados Unidos.
34
Âncora de câmbio nominal diz respeito à moeda estável em relação ao dólar.
33
30
um amplo acordo econômico e social estabelecido entre o governo, o setor privado e os
sindicatos.35
Com relação à política econômica que gerou âncora do tipo de câmbio nominal, ela
estabelecia um programa de desvalorização em que umas bandas podiam flutuar. Ainda que a
inflação fosse sendo reduzida, o diferencial de inflação com os Estados Unidos estava situado
sempre acima do permitido, e resultou em uma apreciação do tipo de câmbio em termos reais.
Entre 1989 e finais de 1993, diversas estimativas situavam apreciação forte entre 20 e 30%. Essa
apreciação era apoiada na capacidade do Banco Central do México de manter o tipo de câmbio
nominal dentro dos limites estabelecidos, e dificilmente poderia ser feito sem as fortes entradas
de capitais que começaram a surgir em 1990 e continuaram até dezembro de 1994.36
Foram importantes para a economia do México nesse período, vindo a ser peçaschave para os acontecimentos mais tarde ocorridos, a liberalização financeira e a abertura da
conta de capital da balança de pagamentos. “Entre as medidas adotadas há que se destacar a
autorização aos estrangeiros para a compra de títulos públicos sem restrições” (VILARIÑO
SANZ, 2001, p. 36, tradução nossa)37. Os investidores acreditaram que o cenário econômico
encontrava-se em boas condições e destacaram como elementos favoráveis a redução da inflação
unida com o manutenção das altas taxas de juros nominais e a política de estabilidade cambial.
Ángel Vilariño Sanz38, acredita que o estabelecimento do Tratado de Livre Comércio do México
com os Estados Unidos e o Canadá gerou um clima de otimismo, pois acredita que as
expectativas de altos rendimentos nos mercados financeiros do México se consolidaram, e
também houve uma grande entrada de capitais no país.
As exportações tiveram um forte crescimento, duplicando seu valor em dólares entre
1988 e 1994. Mas as importações cresceram ainda mais, triplicando nesse período.
Segundo Sanz, com relação à evolução do sistema bancário do México, esse foi
nacionalizado em 1982-83, no começo dos anos 90 se produziu uma ampla reprivatização, e os
35
Baseado em SANZ, Ángel Vilariño. Turbulencias financieras y riesgos de mercado.
Idem.
37
No original se lê: “Entre las medidas adoptadas hay que se destacar la autorización a los no residentes para la
adquisición de títulos públicos sin restricciones”.
38
Autor do livro Turbulencias financieras y riesgos de mercado. Licenciado em Ciências Econômicas,
especialidade Economia Quantitativa.
36
31
compradores foram em muitos casos, pessoas vinculadas a grupos empresariais, sem experiência
prévia bancária. O autor também afirma que uma das medidas de política monetária foi a
eliminação de encaixe bancário, o que facilita a expansão de crédito, e limita a expansão da
moeda. Afirma que em 1989, a metade do investimento dos bancos estava materializado no setor
público, enquanto que em 1994 este tipo de investimento representava somente 5%. Com o
sistema bancário nesse quadro, não seria difícil acontecer uma crise bancária.
O investimento externo cresceu de 1989 a 1994. “O governo mexicano melhorou sua
qualificação creditícia concedida pelas agências internacionais e conseguiu 24 milhões de
dólares nos mercados internacionais de títulos. […] Os investimentos cresceram em 57% nos
últimos meses de 1993” (VILARIÑO SANZ, 2001, p. 36-37, tradução nossa)39. Os fluxos de
capitais vindos do exterior também cresceram nos anos anteriores a 1994. “O setor privado
empresarial e os bancos obtiveram também um amplo financiamento internacional. Nos finais de
1993, o saldo chegou a 22 milhões de dólares” (VILARIÑO SANZ, 2001, p. 38, tradução
nossa)40.
Fato importante, é que com a grande entrada de capitais no país, foi difícil manter a
liquidez41 interna, e para resolver começaram a ser emitidos títulos. As grandes taxas de juros
com que foram lançadas essas emissões foi outro estímulo adicional para a entrada de capitais,
permitindo que os estrangeiros também os adquirissem. A participação dos estrangeiros em
títulos de governo, devida em grande parte à abertura comercial, permitiu que investidores
estrangeiros investissem nesses títulos.
Diante desses fatos, o México foi se recuperando aos poucos depois dessa crise da
dívida dos anos 80, onde várias reformas econômicas foram surgindo. No início dos anos 90,
ocorreu “uma recuperação apenas modesta do investimento, embora os ingressos de capitais
externos crescessem rapidamente. A grande oferta de fundos com a qual o México se defrontou
entrou rapidamente no mercado interno do país, apresentando apenas algumas poucas limitações
39
No original se lê: “El gobierno mexicano mejoró su calificación crediticia otorgada por las agencias
internacionales y consiguió 24.000 millones de dólares en los mercados internacionales de bonos. [...] Las
inversiones de no residentes se elevaron a un 57 por ciento en los últimos meses de 1993”.
40
No original se lê: “El sector privado empresarial y los bancos obtuvieron también una amplia financiación
internacional. A finales de 1993, el saldo ascendió a 22.000 millones de dólares”.
41
Liquidez é a disponibilidade em moeda corrente, meios de pagamento, ou posse de títulos, ou valores
conversíveis rapidamente em dinheiro. (SANDRONI, 1999).
32
que restringiram o endividamento bancário. Rapidamente a taxa de câmbio se valorizou”
(FFRENCH-DAVIS, 1997, p. 29-30).
2.2 Crise de 94-95
Em dezembro de 1994, mesmo ano em que entrou em vigor o NAFTA, despontou a
crise do peso mexicano, também conhecida como “efeito tequila”. Foi uma crise da dívida, com
cenário de alta inflação e recessão econômica. O México deixou flutuar o peso 15% acima da
banda cambial naquele mês e logo no dia seguinte as reservas diminuíram em mais de 4 milhões
de dólares.42 A flutuação do câmbio foi uma tentativa de não esgotar as reservas. A partir daí
surgiu uma das maiores crises financeiras da história do México. Antes dessas medidas, a
inflação ainda era superior à americana e os preços das mercadorias que o México exportava
eram altos, pois o peso estava se valorizando em relação ao dólar e dessa forma o país perdia
competitividade. O gráfico 10 (no anexo) mostra a elevação da inflação com o advento da crise.
Entre dezembro de 1994 e fevereiro de 1995, o peso mexicano desvalorizou 40% em
relação ao dólar43. As taxas de juros de curto prazo foram mantidas elevadas para tentar tornar os
títulos públicos mais atraentes, mas ocorreu uma recessão econômica.
2.2.1 Causas e efeitos da crise
Em março de 1994 ocorreu uma desvalorização dentro da banda cambial vigente,
“que significou um salto de 8%, do piso ao teto da banda” (FFRENCH-DAVIS, 1997, p. 31).
Essa desvalorização foi aceita pelos mercados financeiros. Já em dezembro, como já citado,
ocorreu uma desvalorização de 40%, que foi a “4 pesos por dólar”. (VILARIÑO SANZ, 2001, p.
41). “Nos dias seguintes as reservas diminuíram em 5 bilhões de dólares, o que parece refletir
que os investidores não confiavam na capacidade do governo para manter o tipo de câmbio; e
42
43
Baseado em VILARIÑO SANZ, Ángel. Turbulencias financieras y riesgos de mercado.
Idem.
33
algo mais grave, […] a possibilidade de que o governo não poderia cumprir com os
compromissos de pagamento aos investidores”. (Idem, tradução nossa)44.
Assim, “os impactantes acontecimentos políticos ou delituosos que o México sofreu
nesse ano, assim como o aumento nas taxas de juros nos Estados Unidos, encontraram terreno
fértil para a crise” (FFRENCH-DAVIS, 1997, p. 30).
Entre 1992 e 1994, ocorreu um ingresso maciço de capitais, a maioria curto prazo.
“A demanda agregada se elevou rapidamente acima da oferta potencial do PIB e se tornou
crescentemente intensiva em comercializáveis, estimulada pela revalorização cambial. Assim se
produziu, nesses anos, um desajuste que inevitavelmente teria de ser revertido no futuro”
(FFRENCH-DAVIS, 1997, p. 31).
Porém, a crise teve como marca uma saída maciça de capitais nacionais, e isso fez
com que a crise fosse crescendo. Esses capitais “foram os primeiros a converter seus bens em
dólares, logo que foi anunciado o primeiro ‘reajuste’ na cotação da moeda nacional, acentuando
assim a sua queda” (CHESNAIS, 1998, p. 288). A grande saída de capitais ocorreu
especialmente nos investimentos de carteira, e ocorreu a partir do momento em que as
autoridades monetárias decidiram deixar flutuar o câmbio. “A desconfiança e a incerteza, com
expectativas negativas, apoderou-se dos credores, em particular aqueles de fundos de mais curto
prazo e de maior volatilidade45. O México enfrentou em 1995 uma fuga líquida de capitais de
US$ 13,5 bilhões, depois de ingressos líquidos de US$ 31 bilhões e US$ 12 bilhões, em 1993 e
1994, respectivamente” (FFRENCH-DAVIS, 1997, p. 32).
Já para Charles Kindleberger46, a saída de capitais e a desvalorização do peso
ocorreu por causa de “revolta camponesa, o assassinato de um candidato a presidente, um
terremoto e uma alta inflação […]. Primeiro, em abril de 1994, os Estados Unidos e o Canadá
44
No original se lê: “En los dias siguientes las reservas diminuyeron en 5.000 millones de dólares, lo que parece
reflejar que los inversores no confiaban en la capacidad del gobierno para mantener el tipo de cambio; y algo
más grave, [...] la posibilidad de que el gobierno no pudiera cumplir los compromisos de pago a los
inversionistas”.
45
Medida da intensidade e frequência das flutuações dos preços de um ativo financeiro ou dos índices numa
bolsa de valores. É o desvio padrão das mudanças do logarítimo dos preços de um ativo (financeiro), expressos
numa taxa anual. (SANDRONI, 1999).
46
Charles Kindleberger é autor de Manias, pânico e crashes: um histórico das crises financeiras.
34
vieram em auxílio, em grande parte devido à ‘relação especial’, criada pelo North America Free
Trade Agreement Act (NAFTA) entre os três países” (KINDLEBERGER, 2000, p. 260).
François Chesnais47 afirma que o FMI estima que os capitalistas mexicanos
poderiam ser responsáveis por mais de dois terços da queda das reservas de câmbio que ocorreu
em dezembro de 1994. “No essencial, a retirada dos capitais externos aplicados no mercado de
bônus, sob a forma de compra de bônus do Tesouro, bem como de investimentos de carteira na
Bolsa do México, foi feita de forma ordenada em janeiro e início de fevereiro. A crise mexicana
ilustra o papel desempenhado, na integração financeira, pelas operações ditas ‘de arbitragem’,
efetuadas por operadores financeiros que possuem meios financeiros suficientemente amplos
para poder escolher, a todo momento, as formas mais vantajosas de aplicação e de especulação
oferecidas, mesmo que estas comportem um risco elevado, mas também para liquidar suas
posições muito rapidamente”.
Durante os anos da crise, “o estoque de passivos externos líquidos do México
elevou-se para US$ 92 bilhões; destes, apenas cerca de US$ 20 bilhões correspondem a IDE.
Esse alto estoque de passivos, em sua maioria propensos à volatilidade, junto com um
significativo atraso cambial e o volumoso déficit em conta-corrente correspondente, parecem ser
as variáveis determinantes da vulnerabilidade do México e da profundidade do ajuste recessivo
que se iniciou em dezembro de 1994” (FFRENCH-DAVIS, 1997, p. 30). O déficit em contacorrente era crescente, e era preciso uma redução de déficit externo. Além desses fatores,
também foram fatores determinantes para piorar a situação da crise mexicana “a deterioração da
carteira do sistema financeiro, associada ao boom creditício48, e a elevada emissão de papéis do
governo expressos em dólares (Tesobonos), com prazos muito curtos, e que foram comprados
principalmente por investidores estrangeiros” (Idem). Com relação aos Tesobonos, Vilariño Sanz
explica que um fato muito importante foi a posição dos não-residentes desde as notas
promissórias do tesouro (Cetes), denominados em pesos, aos Tesobonos, denominados em
dólares. A estrutura da dívida do governo mudou drasticamente, já que em dezembro de 1993
70% estava materializada em Cetes e 6% em Tesobonos, enquanto que em dezembro de 94 os
Tesobonos, em dólares, representavam 87%, e 10% de Cetes. O saldo vivo de Tesobonos
47
François Chesnais, coordenador do livro A mundialização financeira: gênese, custos e riscos, é um
economista nascido na França, e é especialista em economia da inovação tecnológica.
48
O “boom creditício” é relacionado à grande expansão de crédito bancário.
35
superava o nível de reservas em meados de 1994. Os vencimentos previstos para os primeiros
meses de 1995 situavam o governo mexicano em uma posição de extrema dificuldade49.
Com a crise, no México “o PIB caiu 6,6%, o desemprego aberto dobrou, o nível do
investimento baixou cerca de 30% e o setor financeiro sofreu uma série de problemas de liquidez
e de carteiras vencidas com um custo fiscal, devido a auxílios aos bancos e devedores, da ordem
de 5% do PIB de 1995” (FFRENCH-DAVIS, 1997, p. 32). “O afundamento brutal do ‘mercado
financeiro emergente’ […] se desenvolveu assim cumulativamente, desencadeando em menos de
um mês o início de uma recessão que se aprofundou de mês a mês. […] O desemprego chegou
aos 25% da população ativa, enquanto os salários sofriam uma perda de poder de compra na
ordem de 55% e dois milhões e meio de pessoas cruzavam o limiar da ‘pobreza extrema’”.
(CHESNAIS, 1998, p. 288-289). Nos gráficos 11 e 12 (no anexo) pode-se observar a queda do
PIB e dos investimentos com recuperação acelerada, diferente da crise de 1982.
Ainda existem mais fatores que também foram determinantes para a crise, como “a
deterioração do balanço fiscal, a política monetária em 1994, a ausência de um sistema de
pensões por capitalização, limitações na informação fornecida pelo México, ou a forma
indesculpável como se efetuou a desvalorização em dezembro de 1994” (FFRENCH-DAVIS,
1997, p. 31). Porém a incidência desses fatores foram pequena escala, sendo de caráter
secundário “diante da significativa valorização cambial e da estruturação de um déficit em contacorrente da magnitude e prolongação alcançadas entre 1991 e 1994; em particular, cabe destacar
o fato de que uma proporção muito elevada dos passivos externos era de curto prazo ou
facilmente resgatáveis” (Idem).
Dessa forma, durante a crise, em especial em 1994, houveram “sucessivos ataques
contra o peso, com taxa de câmbio no teto da banda e com o Banco do México vendendo
reservas. Apesar disso, estas alcançavam US$ 18 bilhões em outubro, embora tivessem caído
bastante durante alguns períodos de 1994. Por sua parte, os avaliadores internacionais de risco
[…] atribuíam uma boa qualificação financeira ao México e recomendavam investir em seus
ativos” (Idem).
49
A idéia de Ángel Vilariño Sanz encontra-se em Turbulencias financieras y riesgos de mercado, p. 40-41.
36
2.2.1 O comércio mexicano pós-crise do peso de 94-95
Como visto anteriormente, antes do surgimento da crise do peso mexicano, as
exportações cresceram, mas as importações cresceram em maior escala. Dessa forma, o México
apostou na abertura da economia internacional, que permitiu que investidores estrangeiros
investissem em títulos do governo.
Durante a crise, em 1994 e 1995, “o choque negativo da oferta foi acompanhado de
uma alta muito moderada das taxas de juros, por um incremento significativo do volume do
comércio internacional (9%), por uma melhor de 4,5% dos termos de intercâmbio no biênio, e
por uma alta do nível geral de preços externos expressos em dólares (9%), associada à
desvalorização do dólar dos Estados Unidos nesse ano”. (FFRENCH-DAVIS, 1997, p. 32). Ou
seja, em relação a esses aspectos foi melhor que a crise dos anos 80, onde houve uma alta ainda
maior das taxas de juros que em 1994-95. Porém, na crise de 82 houve uma queda do nível dos
preços internacionais, enquanto que na crise mais recente, com o aumento dos preços das
exportações, o país perdia competitividade. Deixar flutuar o câmbio foi também uma tentativa do
México de voltar a ter essa competitividade, além de uma tentativa de não esgotar as reservas.
Os gráficos 13 e 14 (no anexo) mostram o crescimento das exportações e das importações
durante a crise e logo após.
2.2.2 Crise bancária
A crise financeira seguiu caminhos para que se desencadeasse uma crise bancária.
Fator relevante, foi a grande retirada de depósitos “por um lado, de empresas que precisavam
dispor de toda a liquidez, e, por outro, de particulares das classes abastadas que participaram da
especulação contra o peso, agindo ‘racionalmente’ para salvaguardar suas fortunas”
(CHESNAIS, 1998, p. 289). Além disso, os bancos tinham que fazer face a compromissos em
dólares que viram seu valor aumentar assustadoramente.
37
Também houveram outros problemas. Com o aumento significativo da taxa de juros,
“necessária para sustentar o peso, tornou muito caras, ou mesmo proibitivas, as condições de
refinanciamento das posições dos bancos. Por seu lado, os bancos agiram da mesma forma com
todos os seus clientes devedores. Aumentaram o custo de seus créditos em proporções que
abalaram ou destruíram a solvência dos devedores, levando à falência inúmeras empresas, mas
aumentando ao mesmo tempo o volume de créditos duvidosos na posse dos bancos.
Paralelamente, a queda brutal do valor dos ativos nas carteiras de títulos dos bancos, em
particular as de empréstimos de Estado, reduziu a sua capitalização abaixo do nível mínimo de
8%, imposto pela regulamentação internacional, conduzindo ‘naturalmente’ as agências
internacionais a reduzir sua avaliação dos bancos mexicanos, tornando ainda mais difícil o
acesso aos mercados de capitais e, em conseqüência, aumentando ainda mais seus riscos de
perda de liquidez” (CHESNAIS, 1998, p. 289).
De acordo com Vilariño Sanz, com a crise, o clima econômico se deteriorou, e o
resultado foi a queda de 6,2% do PIB em 1995, junto com o surgimento das tensões
inflacionárias e o início de uma grande crise bancária. Segundo o autor, doze bancos medianos e
pequenos que representavam 17% dos ativos totais do sistema bancário, foram impedidos de
funcionar entre 1995 e 1997. Os juros ganhos foram estimados, em dezembro de 1995, em 12%
do total dos créditos, ainda que esta cifra subestime a gravidade da situação.
“O sistema bancário hipertrofiado, que fora, durante a euforia dos anos 1992-1993,
incitado a assumir posições muito arriscadas nos mercados liberalizados e a oferecer créditos ‘à
moda ianque’ aos lares e às empresas, contribuiu para o contágio e acelerou a repercussão das
tendências recessionistas” (Idem).
Em dezembro de 1994, quando surgiu a crise, o mercado financeiro emergente do
México estava totalmente aberto ao exterior. Dessa forma, ela passou a ser uma crise financeira
desastrosa, na qual ocorreu uma crise de câmbio e o esvaziamento da bolha especulativa no
mercado de títulos. A queda livre da cotação do peso, a fuga de capitais a curto prazo, a elevada
queda do mercado de títulos e das bolsas ocorreram como parte de um mesmo processo. Logo
tudo isso se estendeu brutalmente ao conjunto de economia, usando o canal de um setor bancário
ultra-exposto, que sofreu o choque e não deixou de transferi-lo para as empresas e para os lares.
Assim, a crise de liquidez assumiu uma forma de um Estado mexicano incapaz de se refinanciar
38
nos mercados que estavam decididos a não comprar os bônus que o Tesouro mexicano colocava
à venda, e, assim, incapaz de fazer face aos seus compromissos e a forma de um sistema
bancário mexicano em perigo em fevereiro de 1995, tornando mais urgente a intervenção
externa.50
2.2.3 Ajuda financeira ao México
Com cenário de alta inflação e crise bancária, os Estados Unidos procuraram
fornecer liquidez e equilíbrio.
Os Estados Unidos ficaram preocupados com a crise por fatores como a proximidade
geográfica e o medo de uma situação de crise econômica com o aumento da pressão sobre a
fronteira, a grande presença de investidores institucionais norte-americanos nos mercados
financeiros mexicanos, o possível fracasso do NAFTA e o medo a uma outra crise da dívida
externa, mas também com o problema da crise surgir diante de uma economia que havia sido
considerada exemplar desde o ponto de vista das políticas implementadas51, visto que o México
era um dos países que seguiam as normas do Consenso de Washington52.
O ataque especulativo53 contra o peso continuou em dezembro de 1994 “em parte
pela fuga de capital local, e parte pela retirada de fundos por investidores americanos
50
Baseado em CHESNAIS, François. Mundialização financeira e vulnerabilidade sistêmica. In: A
mundialização financeira: gênese, custos e riscos.
51
Baseado em SANZ, Ángel Vilariño. Turbulencias financieras y riesgos de mercado.
52
Resultado de reuniões de economistas do FMI, do Bird e do Tesouro do Estados Unidos realizados em
Washingotn no início dos anos 90. Dessas reuniões surgiram recomendações dos países desenvolvidos para
que os demais, especialmente aqueles em desenvolvimento, adotassem políticas de abertura de seus mercados
e o “Estado Mínimo”, isto é, um Estado com um mínimo de atribuições (privatizando as atividades produtivas)
e, portanto, com um mínimo de despesas como forma de solucionar os problemas relacionados com a crise
fiscal: inflação intensa, déficits em conta corrente na balança de pagamentos, crescimento econômico
insuficiente e distorções na distribuição da renda funcional e regional (SANDRONI, 1999).
53
Ataque especulativo: Situação do mercado financeiro internacional, especialmente o cambial, quando uma
moeda de determinado país encontra-se debilitada e seu governo não tem reservas suficientes para evitar uma
desvalorização. O ataque especulativo ocorre exatamente quando existe a probabilidade de uma
desvalorização, especialmente no caso de um país apresentar déficits sucessivos em sua balança comercial ou
déficits em transações correntes. Os investidores naquela moeda abandonam suas posições vendendo
intensivamente aquelas divisas, e, se o governo emissor da referida moeda não dispuser de reservas suficientes,
pode ser obrigado a desvaloriza-la (SANDRONI, 1999).
39
desencantados” (KINDLEBERGER, 2000, p. 260). Em janeiro de 1995 os Estados Unidos
anunciaram um pacote de ajuda de 18 bilhões de dólares.54 Porém, essa primeira ajuda não foi
suficiente, e o peso continuou a cair ao mesmo tempo que se produziam grandes perdas nas
bolsas de valores. Dessa forma, ainda em janeiro, “o próprio Bill Clinton anunciou que ia utilizar
suas atribuições especiais para proporcionar 20 bilhões de dólares ao México, ao mesmo tempo
que o Fundo Monetário Internacional oferecia 17.8 bilhões de dólares” (VILARIÑO SANZ,
2001, p. 43-44, tradução nossa)55. Além da ajuda do Fundo de Fundo de Estabilização NorteAmericano (U.S. Exchange Stabilization Fund) e do FMI, o México também contou com a ajuda
de “10 bilhões dos bancos centrais europeus orquestrados pelo Banco de Compensações
Internacionais, e 2 bilhões do Canadá” (KINDLEBERGER, 2000, p. 260).
Nesse período, “apenas 12.5 bilhões de dólares do pacote americano foi sacado e no
outono de 1995 os pagamentos foram retomados com a ajuda de empréstimos privados”
(KINDLEBERGER, 2000, p. 260). Assim, os fundos de diversas fontes se uniram formando o
maior resgate financeiro até o momento e estas medidas acalmaram os mercados. Esse plano de
salvamento foi importante, pois “tratava-se tanto do futuro do NAFTA quanto da necessidade de
tranqüilizar os investidores institucionais e evitar a propagação da crise” (CHESNAIS, 1998, p.
290).
Mesmo diante de fatores preocupantes em relação à crise do México, “a reação dos
Estados Unidos e de instituições internacionais foi mais forte e pragmática em 1995. O pacote
financeiro de apoio ao México não só foi notavelmente maior que o de 1982, mas também foi
organizado mais rapidamente. Proporcionou maciças linhas de crédito, que contribuíram para
moderar expectativas e possibilitar a utilização de um financiamento líquido excepcional que
chegou a US$ 25 bilhões em 1995” (FFRENCH-DAVIS, 1997, p. 32-33).
54
55
Baseado em VILARIÑO SANZ, Ángel. Turbulencias financieras y riesgos de mercado.
No original se lê: “El propio Bill Clinton anunció que iba a utilizar sus atribuciones especiales para
proporcionar 20.000 millones de dólares a México, al mismo tiempo que el Fondo Monetario Internacional
ofrecia 17.800 millones de dólares”.
40
2.2.4 O que a crise revelou
Por fim, a crise mostrou, no contexto de um mercado financeiro dependente, “a
interconexão estreita entre o mercado de câmbios e o de títulos, principalmente o de títulos da
dívida pública. A crise mexicana ilustra assim muito bem o comportamento de capitais
concentrados, sejam eles nacionais ou externos, nos mercados totalmente liberalizados. Ela
revelou até que ponto o comportamento mimético e medroso dos investidores poderia criar riscos
de contágio entre os ‘mercados emergentes’, especialmente se eles se situam no mesmo
continente” (CHESNAIS, 1998, p. 286). Os riscos foram sim criados, visto que a crise mexicana
desencadeou um contágio posteriormente na Argentina, na Ásia, na Rússia e no Brasil, com a
crise do real. “A questão crucial e irrespondível [!] é se ao interromper a crise no México as
autoridades financeiras puderam prevenir uma corrida maior aos mercados emergentes”
(KINDLEBERGER, 2000, p. 260). A ocorrência do efeito contágio confirma que, com o fim da
crise do México, não foi possível prevenir a crise em outros mercados, em especial em mercados
emergentes, como Argentina e Brasil.
A crise mexicana durou na prática cinco anos, ou seja, o período de 1995 a 2000. O
país teve uma rápida recuperação, com um crescimento considerável do PIB, dos investimentos,
do comércio e queda na inflação nos anos seguintes.
3. A PÓS-CRISE MEXICANA
3.1 O peso após a crise
Uma fase decisiva crítica foi alcançada logo após a ajuda do FMI e dos Estados
Unidos ao México e o anúncio de um conjunto de políticas macroeconômicas e metas para
1995. O aperto da política monetária que acompanhou os acontecimentos levou ao fim na
queda livre do peso e aos poucos restaurou a calma nos mercados financeiros. A partir daí o
México tinha a tarefa de recuperar sua credibilidade. Dessa forma, as autoridades anunciaram
que o principal objetivo da política monetária era interromper os efeitos inflacionários da
depreciação do peso e reduzir a inflação, que a taxa de câmbio e as taxas de juros seriam
determinadas pelas forças do mercado e que não haveria restrição sobre o movimento de
capitais. Além disso, outros objetivos eram impedir flutuações excessivas no valor do peso,
reconstruir o estoque de reservas internacionais e fornecer assistência limitada à
reestruturação do sistema bancário.56
A partir de 1996, as preocupações sobre a política monetária do México
começaram a mudar. Os cenários de situações ruins começaram a mudar em 1995, e passou a
surgir acontecimentos favoráveis, “incluindo uma queda uniforme da taxa de inflação, sinais
de um começo de crescimento da produção, recuperação do saldo em conta corrente, o
pagamento da totalidade do estoque de Tesobonos e o retorno bem-sucedido do México aos
mercados de capitais internacionais” (EDWARDS e SAVASTINO, 2001, p. 255).
As autoridades mexicanas declararam desde o início que a estabilização do valor
do peso, dentro do contexto de um regime de taxa de câmbio livremente flutuante, era um dos
objetivos mais importantes da política econômica. “No início de 1996, o peso começou a
56
Baseado em EDWARDS, Sebastian; SAVASTINO, Miguel A. O peso mexicano após a crise monetária de
1994. In: Crises Monetárias (Paul Krugman).
42
exibir um impressionante grau de estabilidade. Tanto que vários analistas na mídia e nos
círculos acadêmicos e financeiros começaram a perguntar se essa estabilidade era consistente
com um regime de livre flutuação” (EDWARDS e SAVASTINO, 2001, p. 269).
Assim, “a desordem financeira que incomodou o México em 1995 transformou o
peso em uma completa exceção em termos de volatilidade. […] O peso foi menos volátil que
outras moedas de países amplamente considerados como tendo flutuações ‘puras’, mas foi tão
ou mais volátil que outras taxas de câmbio flutuantes” (EDWARDS e SAVASTINO, 2001, p.
269).
3.2 O efeito contágio57
A crise do México de 94-95 teve diversos efeitos e acabou gerando uma crise
sistêmica, afetando outros países. Com um cenário de grande desestabilização financeira,
essa crise gerou um efeito contágio consideravelmente maior que na década de 80. A recente
crise afetou a Ásia, a Rússia, o Brasil e a Argentina. Fato que demonstra que a crise do
México afetou essas economias, foram os efeitos semelhantes existentes nelas e na crise
mexicana. Isso Porque o “efeito contágio se dá quando o que aconteceu na economia de um
país – especialmente uma crise, agravada por algum plano econômico – provoca a sensação
de que vai ocorrer em um outro país por ele ter as mesmas características e haver elaborado
planos semelhantes” (SANDRONI, 1999).
Dessa forma, essas outras economias “tiveram problemas de pressões elevadas
sobre suas divisas e episódios de instabilidade financeira” (VILARIÑO SANZ, 2001, p. 44,
tradução nossa)58. As próximas seções se referem a uma breve análise dessas crises que
surgiram com o efeito contágio, a fim de se observar os diversos acontecimentos da mesma
natureza daqueles já mencionados da crise mexicana, no capítulo anterior.
57
Esta seção é baseada em VILARIÑO SANZ, Ángel. Turbulencias financieras y riesgos de mercado. Todos
os números e dados encontrados nesta seção sem citação a outros autores são creditados à (VILARIÑO SANZ,
2001).
58
No original se lê: “tuvieron problemas de presiones elevadas sobre sus divisas y episodios de inestabilidad
financiera”.
43
3.2.1 A crise asiática
A crise asiática aconteceu na segunda metade do ano de 1997 até meados de 1998,
pouco depois da crise do México. Ocorreu uma grande desvalorização das moedas dos países
asiáticos com grande queda em títulos e investimentos. Em julho de 97, a Tailândia resolve
desvalorizar sua moeda e um ano depois o nível de desvalorização era significativo nos países
asiáticos. As bolsas de valores caíram, pois os investimentos eram contabilizados em dólar.
No período anterior à crise, a Coréia do Sul tinha crescido, mas depois houve queda no PIB.
Os preços das divisas, ações e bônus de um amplo grupo de países do sudeste asiático
sofreram graves problemas. “A Tailândia mostrou os primeiros sintomas de fragilidade e
depois começaram os problemas na Malásia, Indonésia e Filipinas. Posteriormente, a onda
chegou à Coréia do Sul. Por último, Taiwan, Singapura e Hong Kong, ainda que em outro
nível, também sofreram ataques especulativos […]” (VILARIÑO SANZ, 2001, p. 49,
tradução nossa)59.
Antes do surgimento da crise, na Ásia as exportações sofreram uma clara
desaceleração em 1996. Além disso, o crescente déficit comercial e as saídas líquidas por
rendas de capital aumentaram os déficits em conta corrente. Na Tailândia, a porcentagem que
representava o déficit da balança por conta corrente com relação ao PIB foi superior em 1996
e 1997 que nos anos anteriores, em que já era elevado. Na Coréia do Sul, houve um salto
considerável em 1996 com relação aos anos anteriores, e na Indonésia aumentou em 1995 e
1996, mas com níveis não excessivos.
Em julho de 1997 foi iniciada um etapa de profunda recessão dos mercados
financeiros com a desvalorização do baht tailandês. Um ano depois, a depreciação das divisas
da região alcançou níveis que eram imprevisíveis. A única divisa que resistiu aos ataques foi o
dólar de Hong Kong, que agüentou as fortes pressões mediante enérgicas medidas de controle
do mercado e fortes aumentos das taxas de juros, além de dispor de um grande volume de
59
No original se lê: “Tailandia mostró los primeros síntomas de debilidad y después comenzaron los problemas
en Malasia, Indonesia y Filipinas. Posteriormente, la onda llegó a Corea del Sur. Por último, Taiwán, Singapur
y Hong Kong, aunque a otro nível, también sufrieron ataques especulativos”.
44
reservas. “O tipo de depreciação do resto das divisas com relação ao dólar dos Estados Unidos
variou de 15% de Singapura até 83% da rúpia indonésia. […] As bolsas da Indonésia, Coréia
do Sul e Tailândia se situaram em níveis de perdas superiores a 50%” (VILARIÑO SANZ,
2001, p. 49-50, tradução nossa)60.
A crise primeiro foi tailandesa, mas em menos de dois meses se transformou em
crise asiática. A partir da desvalorização do baht, as vendas foram maciças, com ataques
especulativos contra as divisas que obrigaram os bancos centrais a retirar a defesa dos níveis
mantidos antes da crise. Com a intenção de resistir à flutuação, os bancos centrais
aumentaram as taxas de juros, e com isso se agravaram os problemas dos sistemas bancários,
e consumiram grandes quantias de suas reservas mediante a venda de suas divisas fortes sem
que pudessem evitar as desvalorizações.
Vários fatores que não eram levados em consideração na Ásia levaram à crise.
Entre eles estão o alto volume de endividamento a curto prazo, a dívida privada além da
dívida pública, a transparência dos dados (das políticas que os governos faziam) e as moedas
estavam atreladas ao dólar assim como na crise mexicana e saúde financeira dos bancos.
A economia dos países asiáticos sofreu uma forte desestabilização, com redução
do crescimento, aumento do desemprego, quebras de bancos e fechamentos de empresas, além
de alguns casos de movimentos e conflitos políticos. “O PIB da Coréia do Sul registrou uma
queda de 5,8% em 1998 […] e a taxa de desemprego passou de 2% a 8,1% em março de
1999. Na Tailândia, a queda do PIB em 1998 foi de 10% ao ano, e na Indonésia de 13,7%”
(VILARIÑO SANZ, 2001, p. 51, tradução nossa)61.
Dessa forma, a Ásia começou a perder competitividade, pois suas exportações
estavam caras já que as moedas acompanharam a crise do dólar, onde houve queda das
exportações. Os bancos deveriam ter reservas para bancar a inadimplência dos clientes e
muitos investimentos que a Ásia atraia eram muito maiores que a sua capacidade, que não
60
No original se lê: “El rango de la depreciación del resto de las divisas respecto al dólar estadounidense varió
desde el 15 por ciento de Singapur hasta el 83 por ciento en que se depreció la rupia indonesia. [...] Las bolsas
de Indonesia, Corea del Sur y Tailandia se situaron en niveles de pérdidas superiores al 50 por ciento”.
61
No original se lê: “El PIB de Corea del Sur registró uma caída del 5,8 por ciento en 1998 [...] y la tasa de
desempleo pasó de un 2 por ciento a un 8,1 por ciento en marzo de 1999. En Tailandia, la caída del PIB en
1998 fue de un 10 por ciento anual, y en Indonesia de un 13,7 por ciento”.
45
traziam resultados de curto e médio prazo. Do ponto de vista financeiro, havia grande
vulnerabilidade.
Havia fraca regulamentação dos bancos dos países asiáticos. Ocorreu uma crise
sistêmica: as reservas dos bancos eram baixas. A margem de lucro e a liquidez diminuíram. O
ciclo vicioso e negativo levou a um déficit em conta corrente.
Vilariño Sanz destaca a crise bancária da Tailândia, que também agravou a crise
asiática. O governo anunciou que o baht deixou de se vincular ao dólar e passou a flutuar
livremente em julho de 1997. A crise cambial levou a uma forte desconfiança dos
depositantes, que fizeram fortes retiradas de depósitos. Os emprestadores externos encerraram
suas linhas e as necessidades de liquidez aumentaram, então o Banco Central teve que fazer
frente à crise bancária.
Essa crise não foi prevista, pois os indicadores econômicos mostravam que ia
continuar o crescimento econômico da região. A Ásia acreditava que sua economia era mais
sólida, já que as exportações eram crescentes e tinham condições de pagar suas dívidas. A
crise afetou inclusive a economia americana, assim como o mundo todo, por existência da
interdependência econômica global. “As repercussões desses acontecimentos econômicos e
financeiros afetaram a economia mundial, incluindo os Estados Unidos” (Idem, tradução
nossa)62.
Começaram a surgir na década de noventa um conjunto de medidas de abertura da
economia ao exterior que favorecia a entrada de capitais. “Esses fatos provocaram
modificações de importância na estrutura de financiamento dos agentes privados, tanto
entidades financeiras como empresas, e possibilitaram um aumento do crédito interno. Para
alguns analistas da crise asiática, esses fatos foram a causa principal das conturbações
econômicas e financeiras que surgiram no segundo semestre de 1997” (VILARIÑO SANZ,
62
No original se lê: “Las repercusiones de estos sucesos económicos y financieros afectaron a la economía
mundial, incluindo Estados Unidos”.
46
2001, p. 63, tradução nossa)63. A abertura rápida da conta de capitais, e o processo de
liberalização financeira, favoreceram o aumento da vulnerabilidade.
O período de forte instabilidade ocorreu até o segundo semestre de 1998, e a partir
do final da grave crise o câmbio estabilizou e também recuperou um pouco o valor, mas em
nenhum caso voltou aos níveis anteriores, e as bolsas iniciaram um percurso de alta.
3.2.2 A crise russa
A crise da Rússia ocorreu um ano depois da crise asiática. A economia russa,
antes da queda do muro de Berlim, estava em um processo caótico de transição que levou à
distorção dos preços na economia. Houve uma hiperinflação. De 1995 a 1997, o governo
russo tomou medidas com o apoio do FMI e foi conseguindo baixar a inflação. Estava
também acumulando divisas com a balança comercial favorável. O problema era o déficit
público. Outro problema era a reconversão da indústria militar, pois tudo girava em torno
disso. Com a queda do muro de Berlim, soldados começavam a não ter o que fazer causando
também descontrole da dívida pública. O Banco Central emitia moeda e o FMI não achou
certo financiar a dívida pública emitindo moeda. Mas o governo passou a adotar a prática de
emitir títulos para ter garantia de rendimento mínimo em dólar.
Com o aumento da dívida pública nesse período, o PIB começou a cair. Depois
veio a crise da Ásia em 1997 e em setembro desse ano o FMI percebeu que a Rússia não
estava cumprindo suas metas e não desembolsou. É uma forma de pressão e visão ruim para
os investidores. A Rússia também passou por uma fase de privatizações que não deu certo.
Em agosto de 1998 a Rússia declarou moratória64, fez mudanças na política
cambial e estabeleceu banda de câmbio. “o governo russo e o Banco Central da Rússia
63
No original se lê: “Estos hechos provocaron modificaciones de importancia en la estructura de financiación de
los agentes privados, tanto entidades financieras como empresas, y potenciaron um incremento del crédito
interno. Para un sector de analistas de la crisis asiática, estos hechos fueron la causa principal de las
convulsiones económicas y financieras que se produjeron en el segundo semestre de 1997”.
64
A moratória é uma declaração unilateral do devedor declarando que não pagará uma dívida nos prazos e
demais condições estipulados no contrato. Trata-se de medida extrema que em geral bloqueia o declarante em
relação às fontes de crédito internacional. Ou melhor, os fluxos financeiros internacionais se reduzem
drasticamente em relação ao país que declara moratória. (SANDRONI, 1999).
47
anunciaram um importante pacote de medidas. O núcleo das decisões tomadas afetava os
compromissos de pagamentos privados com os investidores não residentes; o que se chamou
de moratória russa. Também eram incluídos câmbios relevantes na condução da política do
tipo de câmbio e medidas sobre uma moratória de pagamentos da dívida pública, cujo
vencimento estava situado antes de 1999” (VILARIÑO SANZ, 2001, p. 81, tradução nossa)65.
A Rússia tomou medidas como a desvalorização de 15%, tentou controlar o capital de curto
prazo, moratória unilateral de 90 dias para pagamento das dívidas privadas e reestruturou a
dívida externa. Estas medidas tiveram um forte impacto, tanto sobre os mercados financeiros
russos como nos mercados internacionais. As repercussões internas não se limitaram à esfera
financeira, incluindo o setor bancário, exceto que teve impacto na inflação e na atividade
econômica em geral.
Um grande banco russo quebrou e começou o problema no sistema bancário. A
quebra dos bancos começou em 1997 e a partir de 1998 começou a perder compradores para
seus títulos, por causa da dificuldade de renovar o capital de curto prazo. A taxa de juros foi
elevada até 200% ao ano. Antes da desvalorização, o sistema bancário tinha uma alta
exposição ao risco de câmbio. “As medidas que o governo adotou sobre a moratória das
dívidas privadas tiveram o efeito de congelar transitoriamente os pagamentos que as entidades
financeiras estavam obrigadas a fazer aos credores internacionais, mas a posição patrimonial
dos bancos havia sofrido um grande prejuízo” (VILARIÑO SANZ, 2001, p. 89, tradução
nossa)66.
Quando ocorria a crise, o governo “impulsionou grandes restrições sobre as
operações no mercado de divisas, financiou o déficit público por meio de créditos diretos do
Banco Central e obrigou os exportadores a ceder 75% de seus ingressos das exportações”
(VILARIÑO SANZ, 2001, p. 90). Houve injeção de liquidez no setor bancário fornecida
diretamente pelo Banco Central, enquanto que a instituição prevista para a recapitalização dos
65
No original se lê: “El gobierno ruso y el Banco Central de Rusia anunciaron um importante paquete de
medidas. El núcleo de las decisiones tomadas afectaba a los compromisos de pagos privados con los inversores
no residentes; lo que llamó la moratoria rusa. También se incluían cambios relevantes en la conducción de la
política del tipo de cambio y medidas sobre una parte de los activos públicos, que de hecho era también una
moratoria de los pagos de la deuda pública, cuyo vencimiento estaba situado antes de 1999”.
66
No original se lê: “Las medidas que adoptó el gobierno respecto a la moratoria de las deudas privadas tuvieron
el efecto de congelar transitoriamente los pagos que las entidades financieras estaban obligadas a hacer a los
acreedores internacionales, pero la posición patrimonial de los bancos había sufrido un gran quebranto”.
48
bancos nunca entrou em funcionamento. As empresas com grandes dificuldades para a
obtenção de financiamento bancário recorreram cada vez mais a atrasar os pagamentos.
No período de 1998, 1999 e 2000, o PIB russo passou por uma alta recessão. A
partir de 2001 começou a melhorar, favorecido pelo mercado de petróleo. Hoje a economia
está em recuperação, mas ainda há o problema da dívida pública. A crise teve impacto no real
brasileiro.
3.3.3 A crise do real brasileiro
Anteriormente, o Brasil corrigia a receita pela inflação e a despesa ficava
constante. Para acabar coma inflação inercial67, criou-se a URV68. Fixaram a URV em dólar.
Durou seis meses e criou-se o real. A inflação caiu totalmente no próximo mês. Nos anos 80,
o país passava por uma fase de hiperinflação.
Mas o plano real também causou alguns problemas. A queda da inflação gerou
alto consumo, fazendo com que o Brasil tivesse alta propensão ao consumo como os Estados
Unidos. Então, a oferta não correspondeu ao consumo. Para segurar a demanda de consumo, o
Brasil criou uma política monetária restritiva. Porém a taxa de juros alta causou problemas na
dívida pública. O real ficou muito tempo valorizado fazendo com que as exportações ficassem
caras, diminuindo a competitividade e as importações ficaram mais baratas. Grande parte das
importações eram de máquinas para indústria.
“As características das políticas cambial e monetária intrínsecas a um plano de
estabilização com base em âncora cambial, como o Plano Real, foram tais que, em geral,
exigiu-se um patamar elevado das taxas de juros reais domésticas. Além disso, choques
externos – a crise cambial mexicana de fins de 1994, a do sudeste asiático em meados de 1997
67
Processo inflacionário muito intenso, gerado pelo reajuste pleno de preços, de acordo com a inflação
observada no período imediatamente anterior (SANDRONI, 1999).
68
Unidade Real de Valor. Indexador criado em 1993, quando era ministro da Fazenda Fernando Henrique
Cardoso. Foi um dos principais elementos do Plano de Estabilização Econômica (Plano Real). Estreitamente
vinculado à taxa do câmbio, este indexador foi inicialmente utilizado pelo governo federal para indexar suas
receitas, sendo voluntária inicialmente sua adoção pelo setor privado (SANDRONI, 1999).
49
e a russa em meados de 1998 – determinaram saltos nas taxas de juros, com lentas quedas
subseqüentes” (HERMANN e STUDART, 2001, p. 412).
O governo resolveu aumentar a abertura comercial e as tarifas abaixaram. O
déficit comercial gerou déficit em conta corrente.
Ocorreu uma crise bancária que gerou inadimplência das empresas. Mas houve
uma abertura que atraiu bancos estrangeiros. Porém isso foi acabando e o Brasil foi ficando
vulnerável por depender do capital de curto prazo.
“Após ter superado com sucesso a crise mexicana de 1994, a crise asiática de
1997 ampliou a pressão sobre os fluxos de capital, à qual respondeu o governo com
significativa elevação das taxas de juros. A crise russa, por sua vez, deu início a um crescendo
[sic] de pressão especulativa sobre o regime cambial brasileiro […], mensurável pela perda
significativa de reservas no segundo semestre de 1998, culminando no ataque especulativo de
janeiro de 1999, que forçou a substituição do regime cambial vigente pelo modelo de câmbio
flutuante” (HERMANN e STUDART, 2001, p. 413).
Quando o ataque especulativo estava forte e as reservas estavam acabando, o país
liberou o câmbio, pois o Banco Central já havia segurado bastante para não desvalorizar. “O
governo anunciou a ampliação da banda de flutuação cambial, o que na prática era uma
desvalorização de 8%. Isso apressou ainda mais os ataques especulativos e as saídas de capital
a curto prazo, com o resultado final de perda de reservas. O Banco Central deixou flutuar
livremente o real […]”(VILARIÑO SANZ, 2001, p. 110-111, tradução nossa)69. A inflação
que se imaginava não voltou, o que mostrou que a economia do país estava forte, e se
recuperou rapidamente. Ou seja, o país tinha uma “solidez financeira, mantida apesar dos
choques internos e externos que afetaram o mercado brasileiro nos últimos anos”
(HERMANN e STUDART, 2001, p. 414).
69
No original se lê: “El gobierno anunció la ampliación de la banda de flotación cambiaria, lo que en la práctica
era una devaluación del 8 por ciento. Esto precipitó aún más los ataques especulativos y las salidas de capital a
corto plazo, con el resultado final de pérdida de reservas. El Banco Central dejó flotar libremente el real [...]”.
50
Com relação às reservas, essas “diminuíram em 21,5 bilhões de dólares, o que
praticamente dobrava as quedas registradas em episódios críticos anteriores. Em novembro de
1998, os comentários nos meios especializados sobre a situação econômica do Brasil não
eram favoráveis. As estimativas das necessidades de financiamento para 1999 oscilavam entre
50 e 60 bilhões de dólares […] (VILARIÑO SANZ, 2001, p. 109-110, tradução nossa)70.
Com uma estimativa de déficit em conta corrente de 30 bilhões de dólares e outra quantidade
equivalente para as amortizações71 de capital da dívida externa, as entradas previstas de
capital permaneciam muito abaixo dessas necessidades. Então, o FMI organizou um pacote de
ajuda de 18 bilhões de dólares, o Banco Mundial (BIRD) e o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) 4,5 bilhões de dólares cada um. Além disso, um grupo de países
forneceram outros 14,5 bilhões de dólares e, dessa forma, o montante total ficou em torno de
41 bilhões de dólares. As autoridades do FMI declararam que com os 41 bilhões o Brasil
disponibilizava de recursos bastante superiores aos que necessitava para defender o real de
qualquer eventualidade.
A comunicação do plano aos mercados e um primeiro desembolso do FMI de 9,4
bilhões de dólares não acalmaram a situação, e em dezembro aumentaram as saídas de
capitais a curto prazo.
3.3.4 A crise argentina
As raízes da crise argentina surgiram nos anos 90, ainda durante as crises
anteriores e se estendeu até meados de 2002. Nos anos 90 a Argentina toma medidas
importantes de política econômica. Em 1991 a Argentina adotou o Plano de
70
No original se lê: “Disminuyeron em 21.500 millones de dólares, cifra que prácticamente doblaba a la de las
caídas registradas en anteriores episodios críticos. En noviembre de 1998, los comentarios en los medios
especializados sobre la situación económica de Brasil no eran favorables. Las estimaciones de las necesidades
de financiación para 1999 oscilaban entre 50.000 y 60.000 millones de dólares [...]”.
71
Amortização é a redução gradual de uma dívida por meio de pagamentos periódicos combinados entre o
credor e o devedor. Os empréstimos e hipotecas bancários são, em geral, pagos dessa forma. No caso de
empréstimos a longo prazo, a amortização se faz mediante tabelas especiais nas quais se incluem os juros
relativos ao capital a reembolsar (SANDRONI, 1999).
51
Conversibilidade72, onde houve estabilização de preços, e dessa forma o país era obrigado a
manter um nível de reservas internacionais que nunca poderia ser inferior à base monetária. O
país também fazia referência à realização de um programa de privatizações, a abertura da
economia ao exterior e liberalização financeira. Houve uma redução da inflação, mas quando
o setor externo apresentou um déficit comercial crescente e o déficit em conta corrente
cresceu em 1994, as contas públicas apresentaram um déficit significativo no segundo
semestre do ano. A subida da taxa de juros nos mercados internacionais também afetou os
mercados financeiros argentinos. “O aumento dos juros americanos ao longo do ano de 1994,
que, aliado a fatores domésticos, conduziu à crise cambial mexicana em dezembro do mesmo
ano, provocando a reversão do fluxo de capital para os mercados emergentes no ano seguinte,
expôs a fragilidade das condições de expansão econômica da Argentina. Face à rigidez legal
do regime cambial e de seu papel-chave como âncora da estabilidade de preços, o governo
envidou todos os esforços para preservar o regime e a própria taxa cambial. Outro importante
empecilho à desvalorização era – e ainda é – o elevado grau de dolarização do sistema
bancário argentino, com cerca de 50% de seu passivo denominado em dólar” (HERMANN e
STUDART, 2001, p. 404-405).
Vilariño Sanz, ao falar sobre o efeito contágio, cita quatro mecanismos de
influência da crise do peso mexicano para a crise argentina. O primeiro diz respeito à
incidência de acontecimentos negativos que haviam ocorrido em um país sobre as
expectativas dos investidores, que transfere a situação de outra economia de forma mecânica,
baseando-se em certos traços simplificados que consideram similares. O segundo é a presença
simultânea de investidores no país que aconteceu a crise e em outros países que, há princípio,
não apresentavam os mesmo problemas. O terceiro é a esfera dos fluxos de capital, onde
certos investidores, sem necessidade de apoiar a idéia de que as economias são iguais,
consideram que se deve adotar uma posição de espera, para dar tempo para a situação se
esclareça e o quarto mecanismo é a proliferação de ataques especulativos.
72
O termo indica a situação em que uma moeda é livremente trocável por moedas estrangeiras, segundo taxas de
câmbio determinadas ou preços estabelecidos pela oferta e demanda da moeda. A conversibilidade monetária é
considerada fundamental para o desenvolvimento e a manutenção do comércio internacional. Em
contrapartida, cria possibilidade de evasão de divisas e crises no balanço de pagamentos. Por isso, muitos
países impõem limites à conversibilidade de suas moedas (SANDRONI, 1999).
52
“O ajuste da economia argentina ao chamado “efeito tequila” foi promovido por
uma combinação de ajuda internacional – do FMI e Banco Mundial – e contração da absorção
interna. Esta última, mais que uma opção de política econômica, foi uma imposição dos fatos,
já que, com a reversão do fluxo de capital externo […], a restrição monetária e, portanto, da
atividade econômica tornava-se inevitável (HERMANN e STUDART, 2001, p. 404). Dessa
forma, o PIB argentino sofreu retração de 4,5% em 1995, reduzindo o déficit em conta
corrente para 0,8% do PIB e o investimento caiu 16% com relação ao ano anterior. E com o
dólar equiparado ao peso, a Argentina foi perdendo competitividade.
Houve uma retirada massiva de depósitos em pesos e sua conversão em dólares.
Foi necessária uma injeção de liquidez externa, que era o que o Banco Central tinha proibido.
“Os bancos tentaram outras formas de se obter liquidez, como a venda de ativos e a tentativa
de cancelar alguns créditos aos clientes para recuperar o investimento, mas estas ações não
puderam gerar a liquidez necessária. […] O Banco Central, através de um decreto, recuperou
a função de emprestador de última instância e injetou a liquidez requerida” (VILARIÑO
SANZ, 2001, p. 47, tradução nossa)73. “O aumento da inadimplência e a perda de depósitos
nesse período desencadearam uma crise bancária que, por um lado, aprofundou a recessão,
mas, por outro, motivou o aperfeiçoamento da regulamentação do setor” (HERMANN e
STUDART, 2001, p. 404).
Assim, a crise mexicana teve efeitos significativos na economia argentina, que
desencadeou uma profunda crise em 2001. Todavia, “embora o sistema financeiro argentino
tenha sido desfavoravelmente atingido pelas crises recentes, os efeitos destas não foram tão
fortes a ponto de levar o sistema a repetir os resultados negativos associados à crise mexicana.
[…] a performance e saúde do sistema financeiro argentino dependem hoje […] da
sustentabilidade do regime cambial” (HERMANN e STUDART, 2001, p. 407).
73
No original se lê: “Los bancos intentaron otras vías para obtener liquidez, como la venta de activos y el intento
de cancelar algunos crédito a los clientes para recuperar la inversión, pero tampoco estas acciones pudieron
aportar la liquidez necesaria. [...] El Banco Central, a través de un decreto, recuperó la función de prestamista
en última instancia, e inyectó la liquidez requerida”.
53
CONCLUSÃO
Logo após a entrada em vigor do NAFTA, o México passou por algumas
dificuldades, porém, a existência do bloco é muito importante para a economia mexicana. O
surgimento da crise do peso em 1994, logo no ano em que entra em vigor do NAFTA, causou
diversos danos financeiros ao país, o que naturalmente leva a pensar que a causa foi o
NAFTA, todavia, quando surgiu a crise, não houve tempo necessário para que as medidas
estabelecidas no acordo fossem aplicadas, e, portanto, a crise surgiu como conseqüência das
políticas econômicas estabelecidas no México nos anos anteriores. Assim, o NAFTA serviu
para que o país tivesse uma recuperação rápida daquele período de recessão econômica.
É verdade que o México enfrentou alguns problemas com o advento do NAFTA
por ser o único país emergente do bloco, como perda de empregos e receita na agricultura,
mas essas perdas foram compensadas pelo crescimento da indústria. Também houve
problemas na fronteira México-Estados Unidos, onde nas empresas maquiladoras, os norteamericanos utilizam a mão-de-obra dos mexicanos com um custo bastante baixo. Isso também
gerou muitas migrações do México para os Estados Unidos, como forma de busca de
melhores empregos.
Porém, esses problemas foram poucos diante dos ganhos significantes que o
México obteve, onde se destaca o comércio, que certamente caracteriza o principal
acontecimento e de elevada importância para a economia do México. Além do grande
aumento das exportações, que reforça a economia e presta uma assistência inestimável ao
processo de desenvolvimento, o comércio traz também vários outros benefícios.
Entre os efeitos benéficos que o comércio internacional exerce sobre o
desenvolvimento econômico está o fato de que o comércio torna possíveis a divisão do
trabalho e as economias de escala; o comércio é o veículo de transmissão de novas idéias,
novas tecnologias, e nova capacitação empresarial; estimula e facilita o fluxo internacional de
capital; em diversas nações em desenvolvimento, a importação de novos produtos
manufaturados estima a demanda interna até o ponto de fazer com que uma produção
doméstica eficiente desses bens se tornasse viável e o comércio pode ser uma arma contra o
monopólio, porque estimula maior eficiência por parte dos produtores internos, para
54
enfrentarem a concorrência estrangeira.74 As nações desenvolvidas também apresentam
muitos ganhos com o comércio, o que gera muitas reivindicações, porém isso não é
prejudicial, sendo que representa algo importante para o país em desenvolvimento.
As maiores discussões estão relacionadas com o México e os Estados Unidos,
pois os países fazem fronteira e o primeiro é um país emergente enquanto o outro representa
uma das maiores economias do mundo. Já o Canadá, ao ter pouco a ganhar com a abertura
comercial com o México, participou das negociações do NAFTA para assegurar que seus
interesses fossem protegidos.75
No mesmo ano que o NAFTA entrou em vigor, desponta a crise mexicana, e que,
em termos de comércio, as exportações do México cresciam, mas as importações cresceram
ainda mais (a maior parte das importações eram de bens de consumo, que não acrescentavam
à capacidade produtiva do México).
Os efeitos do crescimento das exportações e investimento no México mudou após
o NAFTA. Enquanto a contribuição de investimento (exportações) era menor que 0,5 pontos
percentuais antes do NAFTA, aumentou para 1,5 pontos percentuais durante o período de
1996-2002.
A crise foi sistêmica, e causou um efeito contágio na Ásia, na Rússia, no Brasil e
na Argentina. Isso se evidencia ao analisarmos os pontos em comum dessas crises, que foram
preços das exportações altos com perda da competitividade, moeda se valorizando para tentar
voltar a ter essa competitividade (flutuação da moeda), fuga de capitais, crise bancária, com
setor bancário vulnerável por ter dívida maior que a reserva, taxas de juros mantidas elevadas
para tornar o título atraente, déficit em conta corrente crescente e a necessidade de recorrer à
ajuda internacional, se destacando o FMI.
A economia mexicana passou pela crise, mas a performance do crescimento do
país após o NAFTA tem sido melhor que antes do acordo. Em particular, o PIB do México
aumentou de uma média de 2% ao ano em 1980-93 para uma média anual de
74
75
Baseado em SALVATORE, Dominick. Economia Internacional.
Idem.
55
aproximadamente 4% em 1996-2002. Comparado com vários outros mercados de países
emergentes, a economia mexicana teve uma boa performance no período após o NAFTA e,
em particular, o período após a crise de 1994-1995. Além disso, a média da taxa de
crescimento do investimento foi particularmente impressionante.76
Assim, cabe destacar que é de elevada importância para o México, como país
emergente, fazer parte do bloco com países desenvolvidos e, sobretudo, com os Estados
Unidos. O bloco torna o país mais forte, e isso se evidencia ao vermos o México superar a
desastrosa crise financeira que foi o efeito das políticas econômicas adotadas antes desse
período, com a estabilização do peso mexicano após a crise, queda da taxa de inflação, sinais
de um começo de crescimento da produção, recuperação do saldo em conta corrente, o
pagamento da totalidade do estoque de Tesobonos e o retorno bem-sucedido do México aos
mercados de capitais internacionais, como mencionado no capítulo 3.
76
Baseado em KOSE, M. Ayhan, et al. How has NAFTA affected the mexican economy? Review and
evidence.
56
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58
ANEXOS
Tabela 1 – Diversificação das exportações e importações
(média, em porcentagem do total)
Argentina Brasil Chile Indonésia Coréia Malásia México Peru Filipinas Tailândia Turquia Uruguai
Exportações
Manufaturados
1980-1993
25.9
47.5 9.8
23.0
91.9
39.8
33.4
46.5
57.1
37.1
37.1 15.9
1994-2000
32.9
54.8 15.8
50.4
91.9
77.2
75.7
73.2
76.1
39.1
81.2 18.3
Agricultura
1980-1993
67.0
36.9 32.5
17.1
5.5
34.1
29.3
47.9
35.5
62.0
11.9 25.3
1994-2000
52.3
32.9 36.5
16.1
3.3
13.1
34.1
9.8
22.5
19.4
59.4
7.2
Combustível e
minérios
1980-1993
7.1
14.5 56.8
59.8
2.5
25.8
11.6
4.4
7.3
0.5
50.9 58.8
1994-2000
14.2
10.9 45.8
29.2
4.7
8.8
4.1
2.6
3.8
1.5
11.5 47.6
Importações
Manufaturados
1980-1993
78.0
47.4 69.9
71.8
57.6
75.4
49.3
65.8
57.3
62.9
74.9 68.2
1994-2000
88.0
73.7 76.9
66.5
63.7
84.8
78.4
77.7
72.1
74.6
84.9 72.1
Agricultura
1980-1993
8.6
11.6 11.4
11.8
15.4
11.5
11.7
9.6
8.7
11.8
16.8 23.2
1994-2000
6.6
11.2 8.6
17.4
9.7
6.7
16.4
9.7
8.0
9.4
13.7
7.6
Combustível e
minérios
1980-1993
13.3
40.9 16.8
16.0
26.7
12.6
7.2
23.0
20.8
33.8
25.3
6.5
1994-2000
5.1
15.0 13.5
15.9
26.2
6.5
11.4
11.7
12.7
16.4
11.7
4.7
Fonte: KOSE, 2004. IMF Working Paper.
Tabela 2 – Taxas de crescimento das exportações e importações
(média, em porcentagem)
Argentina Brasil Chile Indonésia Coréia Malásia México Peru Filipinas Tailândia Turquia Uruguai
Exportações
1980-2002
5.8
7.3
7.5
7.2
13.0
11.4
3.3
5.5
12.5
14.3
3.8
9.6
1980-1993
4.1
7.9
7.2
10.3
11.2
14.1
-1.0
4.4
17.4
16.0
5.6
7.4
1994-2002
8.3
6.3
7.9
4.8
15.5
9.0
9.0
7.1
8.1
11.9
1.8
12.9
1996-2002
5.3
7.8
6.9
3.1
14.1
5.8
8.0
4.6
6.2
11.9
0.4
9.7
Importações
1980-2002
3.7
5.0
6.8
7.0
11.1
11.6
3.6
5.7
11.2
11.8
5.3
8.1
1980-1993
7.2
3.9
5.9
9.8
11.0
15.5
1.2
5.4
18.1
14.9
9.4
5.8
1994-2002
-1.3
6.5
8.0
4.7
11.3
8.2
6.9
6.2
4.9
7.3
0.7
11.6
1996-2002
-3.2
1.1
5.2
0.2
8.2
3.5
1.2
3.6
1.4
8.3
-1.3
14.0
Fonte: KOSE, 2004. IMF Working Paper.
59
Tabela 3 – O impacto do NAFTA sobre a economia mexicana, médias anuais até o ano 2005
Com o NAFTA
Sem o NAFTA
Diferença
Crescimento do PIB real (%)
5,2
3,8
1,4
Índice de inflação (%)
9,7
14,5
- 4,8
Taxas de juros de curto prazo (%)
13,0
18,3
- 5,3
Entrada de investimentos estrangeiros diretos (bilhões de $)
9,2
6,0
3,2
Crescimento das exportações (%)
10,4
8,3
2,1
Entrada líquida de capital financeiro (bilhões de $)
14,7
10,6
4,1
Fonte: SALVATORE, 2000. Economia Internacional.
Gráfico 1 – Diversificação das exportações mexicanas
Manufaturados
Agricultura e
alimentos
Fonte: KOSE, 2004. IMF Working Paper.
Combustíveis e
minérios
60
Gráfico 2 – Exportações e importações das empresas maquiladoras mexicanas
Fonte: KOSE, 2004. IMF Working Paper.
Gráfico 3 – Comércio do México com os outros países membros do NAFTA
Fonte: KOSE, 2004. IMF Working Paper.
61
Gráfico 4 – Comércio do México com os outros países membros do NAFTA
Fonte: KOSE, 2004. IMF Working Paper.
Gráfico 5 – Comércio do México com os outros países membros do NAFTA
Fonte: KOSE, 2004. IMF Working Paper.
62
Gráfico 6 – Crescimento das exportações mexicanas
Fonte: KOSE, 2004. IMF Working Paper.
Gráfico 7 – Comércio do México com os países não-membros do NAFTA
Fonte: KOSE, 2004. IMF Working Paper.
63
Gráfico 8 – Fluxos de IDE no México
Fonte: KOSE, 2004. IMF Working Paper.
Gráfico 9 – Fluxos de IDE e investimento no México
Fonte: KOSE, 2004. IMF Working Paper.
64
Gráfico 10 – Inflação no México
Fonte: KOSE, 2004. IMF Working Paper.
Gráfico 11 – Reação do PIB no México após a crise
Após a crise
Fonte: KOSE, 2004. IMF Working Paper.
65
Gráfico 12 – Reação dos investimentos no México após a crise
Após a crise
Fonte: KOSE, 2004. IMF Working Paper.
Gráfico 13 – Reação das exportações no México após a crise
Após a crise
Fonte: KOSE, 2004. IMF Working Paper.
66
Gráfico 14 – Reação das importações no México após a crise
Após a crise
Fonte: KOSE, 2004. IMF Working Paper.
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