ZIKA VÍRUS : ESTUDOS FISIOLÓGICO E SOCIOAMBIENTAL NO ENSINO MÉDIO. Gabriele dos Santos Ramalheda, Karen Cristina Ribeiro Machado, Lucas Rosa Assis do Nascimento. Orientador: Luciana Antunes de Mattos Centro Interescolar Estadual Miécimo da Silva - CIEMS Rua Augusta Candiani, s/no - Campo Grande, RJ - CEP: 23070-020 RJ. [email protected] Resumo O presente trabalho objetivou elucidar questionamentos dos alunos de 2º ano do ensino médio a cerca do flavivírus Zika (ZIKAV) a partir dos conteúdos curriculares de Biologia, promovendo apresentação de trabalhos sobre epidemiologia, taxonomia e resposta imune nos casos da virose adquirida e congênita, exibição de documentário e de um musical elaborado e encenado pelos alunos. Um dos resultados desse trabalho foi o conhecimento de forma dinâmica de aspectos ecológicos, fisiológicos e socioambientais que norteiam o presente projeto com a utilização de estratégias metodológicas simples e o encorajamento para a prática do protagonismo juvenil, permitindo a atuação do corpo discente como multiplicadores das vivências abordadas durante as aulas. Palavras chave: Aedes aegypti, protagonismo juvenil, virose, zika. Introdução No início de 2015, o Nordeste brasileiro se deparava com o aumento de casos de uma doença não identificada, caracterizada por um quadro de febre leve, conjuntivite, erupção cutânea e dores nas articulações, que podiam durar até sete dias. Porém, somente no dia 14 de maio do mesmo ano a virose até então desconhecida por aqui foi reconhecida oficialmente pelas autoridades de saúde como Zika. O vírus Zika é um flavivírus (família Flaviviridae) transmitido por Aedes aegypti e que foi originalmente isolado de uma fêmea de macaco Rhesus febril na Floresta Zika (daí o nome do vírus), localizada próximo de Entebbe na Uganda, em 20 de abril de 1947. Esse vírus é relacionado a outros arbovírus como os da febre amarela e dengue, também transmitidos pelo díptero culicídeo Aedes aegypti. O vírus Zika tem causado doença febril, acompanhada por discreta ocorrência de outros sintomas gerais, tais como cefaleia, exantema, mal estar, edema e dores articulares, por vezes intensas. No entanto, apesar da aparente benignidade da doença, mais recentemente na Polinésia Francesa e no Brasil, quadros mais severos, incluindo comprometimento do sistema nervoso central (síndrome de Guillain-Barré, mielite transversa e meningite), associados ao Zika têm sido comumente registrados, o que mostra quão pouco conhecida ainda é essa doença (Oehler et al, 2014; Campos et al, 2015). Diante de tantos casos notificados de Zika vírus nos anos de 2015 e de 2016 no Brasil foi possível perceber no corpo discente a grande preocupação e a busca por informações sobre sua epidemiologia e respostas do sistema imunitário nos casos em que a virose em questão se caracterizava não somente como doença adquirida, bem como congênita. A partir desse interesse incessante dos alunos no período em que iniciamos o conteúdo de histologia animal no 2º ano do ensino médio, especialmente tecido hematopoiético surgiu a necessidade de ampliação do estudo sobre o Zika vírus. Objetivos: O presente projeto teve como objetivo elucidar questionamentos a cerca do flavivírus Zika (ZIKAV), isolado pela primeira vez em 1947 na floresta Zika em Uganda e que no Brasil se tornou uma temida epidemia. A partir desse objetivo geral foram traçados os seguintes objetivos específicos: Diferenciar a morfologia e a etologia das formas larvais e adulta de Aedes aegypti com a de outros mosquitos culicídeos. Reconhecer a sintomatologia da infecção por Zika, diferenciando-a das demais arboviroses. Analisar as alterações presentes em alguns hemogramas trazidos por alunos. Reconhecer possíveis alterações presentes em hemogramas e leucogramas que caracterizam zika, dengue e chikungunya, reconhecendo a importância do exame sorológico para um diagnóstico preciso. Entrevistar especialistas da FIOCRUZ. Disseminar entre os demais discentes da escola métodos de prevenção e combate ao mosquito vetor do zika. Realizar pesquisa bibliográficas sobre as neuropatias associadas ao vírus zika, como as síndromes congênita e a de Guillain-Barré. Apresentar soluções alternativas de prevenção da doença a partir da produção de sucos e repelentes naturais. Apresentar o musical intitulado “Zika em tempos de olímpíada” durante a semana pedagógica da escola. Materiais e Métodos No período de 23 a 30 de maio foram realizadas pesquisas bibliográficas sobre o tema em questão e posteriormente os alunos trouxeram suas dúvidas e questionamentos para a sala de aula a fim de entenderem sobre as formas de infecção (vetorial, perinatal e sexual) e suas principais manifestações clínicas. O conteúdo abordado neste período do ano de 2016 era tecido hematopoiético, logo a virose em questão foi utilizada como base para o esclarecimento de diversos conceitos como: anemia, plaquetopenia, leucocitose, leucopenia, mecanismos de ação dos diversos leucócitos, sendo a aula dinamizada com o estudo de um hemograma, um leucograma e de um exame sorológico. O mês de junho foi utilizado para a realização de entrevistas com especialistas da FIOCRUZ, estudos sobre taxonomia e etologia da forma larval do mosquito culicídeo Aedes aegypti sob estereomicroscópio digital, formas de prevenção e combate ao mosquito e estudos aprofundados sobre as neuropatias associadas, como a síndrome congênita do Zika e a síndrome de Guillain-Barré. Além disso, os alunos realizaram pesquisas sobre a ação anti-oxidante e depurativa de certos vegetais que auxiliam na progressão de uma resposta imune, como morango, manga, goiaba e inhame, produzindo sucos que foram degustados pelos demais alunos da escola. Resultados e discussão O projeto culminou no dia 19 de julho com a apresentação de trabalhos sobre epidemiologia, taxonomia e resposta imune nos casos da virose adquirida e congênita, exibição de documentário e de um musical elaborado e encenado pelos alunos. Um dos resultados desse trabalho foi o conhecimento de forma dinâmica de aspectos ecológicos, fisiológicos e socioambientais que norteiam o presente projeto com a utilização de estratégias metodológicas simples e o encorajamento para a prática do protagonismo juvenil, permitindo a atuação do corpo discente como multiplicadores das vivências abordadas durante as aulas. O presente projeto desenvolvido na unidade escolar obteve êxito não somente por trazer a integração entre conteúdos curriculares de biologia com abordagens sociais cotidianas como, por exemplo, o descaso com a saúde pública no Brasil. Além disso, foi de fundamental importância a disseminação de saberes pelos próprios alunos durante a semana pedagógica com a exibição de múltiplas atividades (práticas biológicas, documentário e musical) envolvendo alunos das demais séries do ensino médio, tendo esses conseguido transmitir a toda comunidade escolar que até o momento, a forma mais eficiente de controlar as consequências do Aedes aegypti é por meio da eliminação dos focos da sua reprodução e essa é uma medida que deve ser profundamente inserida na cultura de toda a sociedade brasileira. Figura 1 : Foto tirada sob microscópio estereoscópio da região cefálica de Aedes aegypti para fins de identificação taxonômica. Figura 2 : Foto tirada sob microscópio estereoscópio evidenciando os somitos abdominais de larvas de culicídeos. Figura 3: Alunos de 2º ano durante a culminância do presente projeto. Figura 4: Alunos encenando esquete sobre problemas na saúde pública com relação ao diagnóstico e tratamento da Zika. Figura 5. Musical sobre Zika vírus durante a semana pedagógica da escola. Conclusão Paulo Freire escreveu, em sua Terceira Carta Pedagógica: “Se a educação sozinha, não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.” (FREIRE, 2000). Nesta perspectiva, a educação não pode restringir-se aos problemas de sala de aula. Na sua necessária dimensão ético-política precisa contribuir para a solução de problemas hoje tão graves, que dizem respeito à própria sobrevivência da humanidade e do planeta como um todo Revisitar a frase do educador, pedagogo e filósofo brasileiro num momento em que a atenção à saúde pública torna-se uma questão central do corpo social é mais que pertinente, uma vez que a responsabilidade pelo combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, da febre chikungunya e do vírus Zika, ultrapassou os gabinetes dos Ministérios e Secretarias de Saúde para se tornar incumbência de todos. Quando falamos em transformar padrões sociais, o papel das instituições de ensino passa a ser de fundamental importância. Sabemos o quanto a formação educacional e a consequente conscientização dos jovens que sentam diariamente nas cadeiras das nossas escolas podem mudar essa realidade de forma sustentável e definitiva. Por isso, neste período de mobilização da educação para o conhecimento da virose ZIka e o combate ao Aedes aegypti decidimos construir uma aliança com toda a comunidade escolar em torno da causa. Referências Bibliográficas OEHLER E, WATRIN L, LARRE IP, LEPARC-GOLFRT I, LESTÈRE S, VALOUR F, et al. Zika virus infection complicated by Guillain-Barré syndrome: case report, French Polynesia, December 2013. Euro Surveill. 2014 Mar;19 (9): 20720. CAMPOS GS, BANDEIRA AC, SARDI SI. Zika virus outbreak, Bahia, Brazil. Emerg Infect Dis. 2015 Oct;21(10):[5 p.]. Doi: 10.3201/eid2110.150847 FREIRE, PAULO. Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: UNESP, 2000.