Estudo das variáveis meteorológicas sobre a incidência de

Propaganda
Estudo das variáveis meteorológicas sobre a incidência de dengue
na cidade de Belém/Pa, no período de 2005 a 2009.
Helder José Farias da Silva1, Leandro Michell Moraes de Assis2, Maria do Carmo Felipe de
Oliveira3, Frank Bruno Baima de Sousa4
1,2,4 – Alunos de graduação da Universidade Federal do Pará – [email protected],
[email protected], [email protected] , 3 –Professora da Universidade
Federal do Pará – [email protected].
RESUMO: A dengue é, hoje, a mais importante arbovirose (doença transmitida por
artrópodes) que afeta o homem e constitui-se em sério problema de saúde pública no mundo,
especialmente nos países tropicais, onde as condições do meio ambiente favorecem o
desenvolvimento e a proliferação do Aedes aegypti, principal mosquito vetor (MINISTERIO
DA SAÚDE, 2006). Este trabalho teve como objetivo estudar a correlação das variáveis
meteorológicas sobre a incidência da dengue na cidade de Belém-Pa, no período de 2005 a
2009, utilizando-se de técnicas estatísticas de correlação, mediante os elementos
meteorológicos, e os possíveis efeitos das variações desses, visando entender o
comportamento sazonal e melhorar o controle sobre essa patologia, a fim de dar subsídios aos
órgãos competentes, para as tomadas de decisão necessárias, para a sua proliferação e
combate. Os resultados mostraram que as temperaturas médias e máximas, no período
estudado, influenciam indiretamente nos casos de dengue em Belém/PA. A precipitação
pluviométrica e a umidade relativa do ar influenciam diretamente na doença estudada,
favorecendo no aumento do número de casos da doença, como também na proliferação dos
vetores da dengue. As condições atmosféricas de Belém favorecem a ação do mosquito vetor
de transmitir o vírus da dengue, propiciando sua proliferação mais rápida e os elementos
meteorológicos, considerados na pesquisa, atuam sobre a incidência do dengue em Belém na
faixa de 54%.
Palavras chaves: Dengue, variáveis meteorológicas, técnicas estatísticas.
ABSTRACT: Dengue is nowadays the most important arbovirusis (arthropod-borne disease),
which affects humans and constitutes a serious public health problem worldwide, especially in
tropical countries, where environmental and weather conditions favor the development and
proliferation of Aedes aegypti, the principal mosquito vector (MINISTRY OF HEALTH,
2006). This assignment aimed to study the correlation of meteorological varieties on the
incidence of dengue in Belém-Pa., in the period between 2005-2009, using statistical
techniques of correlation, by the meteorological elements, and their possible effects of
variations, in order to understand the seasonal behavior and improve control over this disease,
so that it could be given subsidies to the relevant bodies for decision-making, which are
necessary for their proliferation and combat. The results have showed that the average and
maximum temperatures during the study period in which indirectly have an influence over the
dengue fever in Belém-Pa. Rainfall and relative humidity directly have influenced the studied
disease, favoring the increment in the number of cases of this disease, but also in the
proliferation of the vectors of dengue. Belém atmospheric conditions favor the vector
mosquito actions, because of it dengue can spread quickly and the metereological elements,
regarding this search, have a huge incidence in Belém, around 54%.
Key words: Dengue, meteorological varieties, statistical techniques.
1 - INTRODUÇÃO
Estudos têm demonstrado que a influencia dos elementos meteorológicos sobre
a incidência do dengue variam de 34% a 18% (SOUZA, 2005), de 42% a 18% (ANDRADE,
2003) e também de 80% a 24% (BARBOSA, 2007). Entretanto, uma serie de fatores não
meteorológicos influenciam na incidência do dengue, tais como: condições nutricionais,
sociais, e de defesa imunológica do organismo humano (SOUZA, 2005 e ANDRADE, 2003).
A dengue é, hoje, a mais importante arbovirose (doença transmitida por artrópodes) que afeta
o homem e constitui-se em sério problema de saúde pública no mundo, especialmente nos
países tropicais, onde as condições do meio ambiente favorecem o desenvolvimento e a
proliferação do Aedes aegypti, principal mosquito vetor (MINISTERIO DA SAÚDE, 2006).
Segundo o guia de bolso do Ministério da Saúde (6ª edição revista – 2006), a dengue é uma
doença infecciosa febril aguda, que pode ser de curso benigno ou grave, dependendo da forma
como se apresente: infecção inaparente (II), dengue clássico (DC), febre hemorrágica da
dengue (FHD) ou síndrome de choque da dengue (SCD). Seu agente etiológico é arbovírus do
gênero Flavivírus, pertencente à família Flaviviridae, com quatro sorotipos conhecidos: 1, 2, 3
e 4. Os vetores hospedeiros são os mosquitos do gênero Aedes. Nas Américas, o vírus da
dengue persiste na natureza mediante o ciclo de transmissão homem - Aedes aegypti –
homem. Estudos a respeito do dengue utilizando-se técnicas estatísticas de correlação e
relacionando clima e o tempo com a saúde, tornar-se justificável na atualidade, dada a
importância e a gravidade que o dengue possui no mundo inteiro, proporcionando a
comunidade acadêmica e a sociedade, informações de como a mudança de tempo influencia
sobre a mesma. Este trabalho teve como objetivo estudar a correlação das variáveis
meteorológicas sobre a incidência da dengue na cidade de Belém-Pa, no período de 2005 a
2009, utilizando-se de técnicas estatísticas de correlação, mediante os elementos
meteorológicos, e os possíveis efeitos das variações desses, visando entender o
comportamento sazonal e melhorar o controle sobre essa patologia, a fim de dar subsídios aos
órgãos competentes, para as tomadas de decisão necessárias, para sua proliferação e combate.
2 – MATERIAIS E MÉTODOS
Á área do referido estudo foi a cidade de Belém/PA, cujas coordenadas geográficas são:
1° 27′ 21″ de Latitude S e de 48° 30′ 14″ de Longitude W, com área territorial de 1.065 km²,
e população segundo estimativas do IBGE de 2009 em torno de 1.437.600 habitantes. Para
realizar o presente estudo foram utilizados dados meteorológicos de temperatura do ar,
precipitação pluviométrica e de umidade relativa do ar de Belém-Pa, para o período de 2005 a
2009 de dados estatísticos da doença de dengue em escala mensal. Os dados referentes à
precipitações, foram coletados no site da Secretaria de Meio Ambiente (SEMA) de BelémPA, e os de temperatura do ar (máxima, mínima), e umidade relativa do ar (média
compensada) foram fornecidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia – 2º DISME – Belém.
O dado relativo à doença dengue foi obtido na Secretaria de Saúde do Município de Belém do
Estado da Pará.
Para analisar e verificar o aumento/redução da ocorrência da doença, utilizamos o
conceito de incidência da doença e não foi considerado neste trabalho o tipo de dengue e nem
faixa etária dos infectados, assim como sexo, cor, e características físicas (peso, altura). Os
coeficientes de incidência mensal da doença (C.It), foram calculados da seguinte forma
(ROUQUAYROL, 1994).
C.It =
(1)
Onde C.It é o coeficiente de incidência mensal, n tamanho da amostra e t o número do
mês em consideração. Neste estudo, o valor de n é igual a 5, e os coeficientes de incidência da
referida patologia, foram expressos por 100.000 habitantes.
Para verificar o limiar entre a situação de controle e uma situação fora de controle
utilizou-se da distribuição unilateral para os dados de dengue. Para os dados meteorológicos
utilizou-se a distribuição bilateral, para se verificar a faixa de variação, em que os elementos
meteorológicos, foram corretamente estimados para o referido estudo. O nível de confiança
utilizado para todos os dados foi de 95%.
Foi determinado o Coeficiente de Correlação Linear Simples (R), para saber se as
variáveis meteorológicas estão significadamente correlacionadas com a doença, ou seja, se é
fraca ou forte, e o Coeficiente de Regressão Linear Simples (R²), para determinar o grau de
explicação que as variáveis meteorológicas afetam a patologia em questão, caso essa relação
exista. Com a finalidade de saber o máximo que as condições meteorológicas estudadas
explicam sobre a incidência da patologia estudada todos os elementos meteorológicos foram
contidos no modelo. Por fim, fez-se uso do método de regressão múltipla denominada
“stepwise” regression procedure”, para sabermos qual a contribuição pura de cada elemento
meteorológico no modelo que mais contribuam sobre a incidência da patologia na localidade.
As expressões matemáticas utilizadas para obtenção dos Coeficientes Correlação (R),
Coeficiente de Determinação Simples e Múltipla (R2) e Modelo de Regressão Linear (Y), são
o que sugere SPIEGEL (1998), WEISBERG (1980), DRAPER & SMITH (1981), BUSSAB
(1987) respectivamente:
3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Incidência Mensal do Dengue
A Tabela 01 mostra o coeficiente de correlação das variáveis meteorológicas com a
doença de dengue em Belém/PA, no período de 2005 a 2009 e observa-se forte correlação
positiva entre a precipitação pluviométrica e a umidade relativa do ar com a ocorrência da
dengue com coeficiente de correlação R= 0,8682 para a precipitação e R= 0,8868 para a
umidade relativa e fraca correlação com a temperatura mínima com valor de R= 0,2871,
porém observa-se forte correlação negativa com a temperatura média e máxima do ar.
A Figura 01 mostra a variação média mensal no período estudado entre a doença da
dengue e a precipitação pluviométrica (Figura 1a), dengue e umidade relativa do ar (Figura
1b) e dengue e temperatura do ar ( Figura 1c). Observa-se que o regime pluviométrico médio
mensal na cidade de Belém, durante o período de 2005 a 2009, apresenta um período chuvoso
de dezembro a maio, havendo maior concentração da precipitação, no trimestre fevereiro,
março e abril, com 42% do total anual de precipitação e um período menos chuvoso,
abrangendo os meses de julho a novembro com menor concentração de precipitação no
trimestre, agosto, setembro e outubro contribuindo somente com 12%. O total médio anual de
precipitação foi de 3068 mm e o valor máximo mensal foi de 463 mm em março e o valor
mínimo mensal oi de 119 mm em agosto. Pode-se afirmar eu em Belém, as fortes chuvas que
ocorreram na região no período chuvoso, são influenciados pela Zona de Convergência Inter
Tropical (ZCIT) e no período menos chuvoso a precipitação observada na região, seria devido
principalmente aos efeitos locais. A Figura 1b, observa-se que a umidade relativa do ar
apresenta comportamento semelhante a precipitação, com uma média anual de 84%. A Figura
1c, observa-se a temperatura do ar média, máxima e mínima, cujos os valores médios anuais
foram de 26,8 ºC, 31,4 ºC e 22,0 ºC, respectivamente, logo ela mantêm-se elevada durante
todo o ano, pois nenhum destes meses apresentaram temperaturas médias inferiores a 21,6 ºC.
Observamos que a incidência da dengue apresenta uma média mensal de 7,2 casos/100.000
habitantes, com valor máximo de 19,44 casos/100.000 habitantes no mês de março e valor
mínimo de 1,91 casos/100.000 habitantes no mês de agosto, mostrando a relação direta com a
precipitação, ou seja quanto maior a precipitação maior incidência da doença e vive-versa.
Para Belém, pode-se afirmar que há condições propicias para a dispersão do vírus do
dengue nos cinco primeiros meses do ano, conforme a pesquisa realizada e o que afirma o
MINISTÉRIO DA SAÚDE (2006), VERONESI (1999) e SOUSA (2005).
Conforme as condições descritas, observa-se que estas são as condições favoráveis
para a proliferação do mosquito vetor como também a transmissão do vírus causador desta
patologia, já que temperatura afeta a taxa de ocorrência de picadas, tempo de encubação, e no
tamanho da larva, e a precipitação determina o aumento ou redução dos criadouros do
mosquito vetor, concordando com GRATZ (1999), BARBOSA (2007) e SOUZA (2005).
Tabela 01 – Valores do Coeficiente de Correlação (R) das variáveis meteorológicas com a
dengue em Belém/Pa no período de 2005 a 2009.
Coef. de
Correlação (R)
0,8868
0,8662
-0,9339
-0,8465
0,2871
450
20,00
400
350
15,00
300
250
10,00
200
150
5,00
100
50
0,00
0
FEV MAR ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
c)
Coeficiente de Incidencia de Dengue por
100.000 hab.
C.Imedio/100.000 hab
25,00
90
88
20,00
86
84
15,00
82
10,00
80
78
5,00
76
0,00
74
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
OUT NOV DEZ
C.Imedio/100.000 hab
PRP (mm)
UR (%)
25,00
34,0
32,0
20,00
30,0
15,00
28,0
26,0
10,00
24,0
22,0
5,00
Temperaturas (ºC)
JAN
Coef. de
Determinação (R²)
51,5
35,9
54,7
44,7
1,8
20,0
0,00
18,0
JAN
FEV
MAR
C.Imedio/100.000 hab
ABR
MAI
JUN
TEM MAX
JUL
AGO
SET
OUT
TEM MIN
NOV
DEZ
Temp. med
Figura 01 – Variação média no período (2005 a 2009) do dengue e precipitação (a), umidade
relativa do ar (b), temperatura média, máxima e mínima (c)
DEZ
U.R (%))
b)500
25,00
PRP (mm)
a)
Coeficiente de Incidencia de Dengue por
100.000 hab.
Dengue
Variável
Meteorologica
U.R. (%)
PRP (mm)
Temp. Max (ºC)
Temp. Média
Temp. Min (ºC)
Coeficiente de Incidencia de Dengue por
100.000 hab.
Doença
4 – CONCLUSÃO
Diante dos resultados obtidos para as condições em que foi realizada o estudo de 2005 a
2009, para a cidade de Belém, conclui-se que as temperaturas médias e máximas, no período
estudado, tiveram influenciam indiretamente nos casos de dengue em Belém/PA, pois
observou-se que as correlações da temperatura máxima e médias foram altas em torno de 0,84 a -0,93 (forte correlação negativa), ao contrario da temperatura mínima que obteve uma
correlação fraca positiva (0,28).
A Precipitação pluviométrica contribui diretamente para a incidência dos casos de
dengue, pois os mosquitos apresentam estagios aquáticos de larva e puga, portanto precisam
de água e determina a ausência ou permanência de criadouros do mosquito vetor,
apresentando um Coeficiente de Correlação, igual a R= 0,8662, o mesmo acontecendo, com a
umidade relativa do ar com influência direta na doença estudada, favorecendo no aumento
do número de casos da doença, como também na proliferação dos vetores da dengue, pois
afeta a longevidade, reprodução e alimentação, na dispersão a distâncias mais longas, que tem
chance maior de alimentar-se de sangue de pessoas infectadas, afeta também a taxa de
evaporação do criadouro dos vetores, etc.
As condições atmosféricas de Belém favorecem a ação do mosquito vetor de transmitir
o vírus da dengue, propiciando sua proliferação mais rápida e os elementos meteorológicos,
considerados na pesquisa, atuam sobre a incidência do dengue em Belém na faixa de 54,7%,
justificando que além das condições meteorológicas, existem outras causadas por condições
nutricionais, sociais, e de defesa imunológica do organismo humano.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, I. S. Influência de Elementos Meteorológicos nos Casos de Cólera, Dengue e
Meningite no Estado da Paraíba. Dissertação (Mestrado em Biometeorologia) - Universidade
Federal de Campina Grande-UFCG, Paraíba, 2003.
BARBOSA, Ricardo Falcão Barbosa. Influência de Variáveis Meteorológicas na ocorrência
de doenças infecciosas em diferentes localidades de Alagoas. Dissertação (Mestrado em
Biometeorologia) - Universidade Federal de Alagoas-UFAL, Maceió, 2007.
BUSSAB, W. O. Estatística Básica. 4. ed. São Paulo: Atual. 1987. 321 p.
DRAPPER, N.R.; SMITH, H. Applied regression analyses. 2.ed.New York: John Wiley &
Sons, 1981.709p.
GRATZ, N. G. Emerging and Resurging vector-borne disease. Annual Ver Entomology.
1999, 51-75.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Doenças Infecciosas e Parasitárias, Guia de Bolso, 6ª Edição
Revista, Brasília Distrito Federal, 2006.
ROUQUAYROL, M.Z. Epidemiologia e saúde. 4. ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 1994. P540.
SOUSA, Nadja Maria Nascimento. Influência de variáveis meteorológicas sobre a incidência
do Dengue, Meningite e Pneumônia em João Pessoa-PB. Revista Brasileira de Meteorologia,
v.22, n.2, 183-192, 2005.
SPIEGEL, M.R. Estatística. São Paulo – SP: Mc Graw – Hill, 1998.580p.
VERONESI, R.;FOCACIA.R. Tratado de infectologia. São Paulo: Atheneu, v.1,1996. 962p.
WEISBERG,S. Applied linear regression. New York: John Wiley and Sons, 1980.
Download