O Período Crítico

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O Período Crítico, como o próprio nome já diz, é o período em que a aquisição
de uma primeira ou segunda língua é possível. O fim do período crítico
marcaria também o fim da possibilidade em se adquirir a língua como um
falante nativo.
O artigo de David Singleton publicado em 2003 no livro "Age and acquisition
of English as a foreign language " trazem importantes contribuições para
quem quer entender como é tratada essa noção hoje em dia. Vejamos o que ele
diz sobre a Hipótese do Período Crítico.
A Hipótese do Período Crítico teve uma aparição com bases científicas no anos
50 e era relacionado ao processo de aquisição da primeira língua. Ao observar
crianças e adultos que, por motivo de doença ou acidente tiveram partes do
cérebro ligadas à fala danificadas, tiveram que reaprender a falar constatou-se
que nas crianças o cérebro encontrava estratégias que garantiam o sucesso. O
mecanismo da fala era transferido do hemisfério danificado para o hemisfério
saudável. O mesmo não acontecia com os adultos. Concluiu-se a partir de
então que o cérebro ficava mais rígido e menos adaptável com o passar do
tempo no que se refere à aprendizagem de línguas.
O Período Crítico foi situado justamente nesse período em que ocorre o que se
chama de lateralização do cérebro, período no qual o hemisfério dominante se
especializa nas funções da linguagem. Segundo Lenneberg, o pai do CPH, esse
período vai dos 2 anos até a puberdade. Outros estudos vão mostrar que esse
processo termina bem antes da puberdade, ou seja, ainda nos anos iniciais da
criança.
A noção de Período Crítico está presente em outras ciências que não a da
linguagem. Nas ciências biológicas por exemplo, a observação de filhotes de
gansos permitiu 3 conclusões à respeito do Período Crítico:
1. Está relacionado a atividades e comportamentos específicos.
2. Tem duração determinada (início e fim)
3. Para além do período determinado o comportamento ou atividade não é
adquirida.
No que diz respeito à aquisição da L1, algumas constatações vão marcar
diferenças com relação à perspectiva apontada acima. A partir de estudos com
indivíduos que possuíam algum tipo de deficiência (como a surdez por
exemplo) e que adquiriram tardiamente a língua materna pôde-se perceber
que não existe uma interrupção do processo de aquisição. Alguns aspectos da
língua continuam a se desenvolver inclusive até a idade adulta.
A diferença na produção encontrada nos aprendizes tardios é então entendida
como o resultado da privação da linguagem no período de desenvolvimento
cognitivo mais intenso que tem efeitos psicológicos e cognitivos amplos e não
à elementos ligados especificamente ao período crítico.
Neste breve resumo do artigo do David Singleton pode-se concluir que o
processo de aquisição de uma segunda língua é complexo e que embora se
reconheça que existam diferenças na proficiência daqueles que aprenderam a
L2 precocemente ou tardiamente essa diferença não pode ser justificada de
forma simplista pela Hipótese do Período Crítico. Como vimos, os adultos
aprendem e são capazes de ter excelentes níveis de proficiência e crianças que
começaram na mesma faixa etária podem não possuir a mesma proficiência.
Muitos fatores estão envolvidos nesse processo.
Nos próximos posts espero continuar fornecendo alguns elementos que irão
guiá-lo nesta aventura do bilinguismo.
Bonne continuation!
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