FLG 0114 – Mudanças Climáticas Globais e Implicações Atuais Disciplina Ministrada pelo Prof. Dr. Ricardo Oceanografia e Climatologia – Noções sobre os Oceanos da Terra – 1 – Introdução O presente resumo de aula visa apresentar as noções gerais sobre os oceanos do planeta Terra e sua influência no clima. Serão abordados todos os aspectos geográficos do objeto a ser explanado, bem como as suas interações com os diversos constituintes, em diversas escalas. Como objetivos principais, almejou-se introduzir a Ciência Oceanográfica e sua importância ao curso de Geografia, apresentando as características de cada oceano terrestre. Definiu-se também as suas propriedades físico-químicas, as suas influências no geográfico (e vice-versa) e algumas atividades biológicas de interesse. Mapeou-se as circulações oceânicas e outros objetos. Desta maneira, foi possível demonstrar os efeitos dos oceanos como determinadores de grande peso no clima da Terra, o que permitiu anunciar as interações climáticas causadas pelo sistema Oceano-Atmosfera (interação Ar-Mar). 2 – Justificativa Com cerca de 3/4 da superfície da Terra (71~75%) coberta por um lençol de H2O líquido, os oceanos constituem um dos maiores reguladores das condições climáticas em escala planetária. Portanto, tornam-se de total importância: • • • • • As suas configurações geográficas; A distribuição das propriedades conservativas; A circulação das massas de água em diversas escalas; Os gases dissolvidos nas águas dos mares Os diversos indicadores biológicos. Além de muitos outros ainda a se descobrir, destaca-se dos fatos anteriores a premissa de que os oceanos representam a principal condição de contorno inferior da atmosfera, o que define a sua grande importância para o entendimento do clima. Estes dois sistemas trocam excepcional quantidade de massa e energia. Vale dizer que conhecemos mais o espaço sideral, as configurações de outros planetas, a formação de estrelas, detalhes da mecânica celeste e muitos outros objetos do Cosmos do que os nossos próprios oceanos. Portanto, se os oceanos são 1 considerados os grandes reservatórios da Terra, a primeira coisa a qual podemos classificá-los são como os grandes reservatórios de ignorância! 3 – A Oceanografia 3.1 Histórico: As primeiras especulações conhecidas sobre a origem, as características e a extensão dos mares, bem como suas propriedades, foram de natureza geográfica e datam da antigüidade grega. Atribui-se à Píteas (navegador do séc. IV a.C.) as relações dos períodos de fluxo e refluxo das grandes marés atlânticas ao ciclo na Lua. Aristóteles (384-322 a.C.) denominou a vasta extensão marinha entre Poente e Levante de oceano Atlântico. Eratóstenes (284-192 a.C.) quando diretor da biblioteca de Alexandria, intuiu a relação entre as marés e os movimentos da Lua. Finalmente, com Posidônio (135-51 a.C.) estudando profundamente as idéias de Seleuco e de Eratóstenes, extraiu os fundamentos da teoria das marés, distinguindo os três principais períodos, a saber: • Semidiurno: ligado às culminações superior e inferior da Lua (movem 2 x 100 x 109ton H2O líquido); • Quinzenal: com um máximo na sizígia e um mínimo na quadratura; • Anual: com máximos nos equinócios e mínimos nos solstícios. Deve-se atribuir um grande destaque ao Tte Matthew Fontaine Maury (U.S.NAVY), que conduziu trabalhos científicos dos mares, publicando o primeiro livro sobre oceanografia geral, em 1855. Embora o termo Oceanografia tenha aparecido pela primeira vez na França, em 1584, como Océanographie, ele ainda não era utilizado, pois esta ciência estava completamente enraizada na Geografia. Desta maneira, Maury lança o livro “Geografia Física do Mar”, baseando-se em Geografia, com aporte da Física. Além deste mérito, Maury também deve ser citado como um precursor dos estudos sistemáticos dos oceanos. Justamente estes tipos de pesquisas e estudos sistemáticos da Oceanografia moderna vão se iniciar no séc. XIX com as expedições dos navios Challenger (britânico, em 1872-1876) e Gazelle (alemão, em 1874-1876). Em 1880, na Alemanha, o termo Oceanographie, ou Oceanografia prevaleceu definitivamente. Ele foi baseado nas origens do termo Geografia, como descrição dos oceanos. Quanto aos britânicos, ainda em 1864, utilizavam o termo Oceanology, ou Oceanologia, como o estudo dos oceanos e só trocaram mais tarde, seguindo os alemães. Para o séc. XX vale destacar as grandes contribuições do Cmt. Jacques-Yves Cousteau (1910-1997). Embora não fosse oceanógrafo, dedicou uma vida inteira aos estudos dos oceanos (pesquisas, expedições, invenções, instrumentação, veículos, filmagens etc). Sem sombra de dúvidas, muito do que se conheceu e viu dos oceanos deveu-se a este desbravador (Fig.1). 2 Fig.1: Cmt. Jacques-Yves Cousteau (1910-1997) e a galante tripulação do Calypso percorreram os mais diversos mares do mundo, apresentando os fascínios que se resguardam nos oceanos (Fonte: O Mundo Submarino, 1978). 3.2 Atuação: assim como a Meteorologia, a Oceanografia possui um campo de estudo bastante amplo, articulado em setores: • • • • • • • Hidrologia, morfologia e geologia das áreas e bacias marinhas; Natureza e características dos sedimentos marinhos; Propriedades físico-químicas da água do mar; Movimento das águas do mar: ondas, correntes e marés; Biologia do ambiente marinho; Organização do estudo e meios de coleta, avaliação e elaboração dos dados; Aplicações pragmáticas. Para atender esta demanda, em geral, a Oceanografia divide-se em quatro grandes grupos: Oceanografia Física, Química, Biológica e Geológica. 4 – Os Oceanos e suas Propriedades Excetuando-se a Antártida (de 80 a 90ºS) e a faixa de 50 a 70ºN, que possui 64% coberto por terras emersas, todas as demais latitudes do planeta são predominantemente cobertas pelo mar. Desta maneira, se o planeta possui uma superfície de cerca de 510.100.000km2, as terras emersas contabilizam apenas 149.040.000 km2. Aos mares cabe a maior parte, com 360.060.000 km2. O oceano é considerado um sistema termodinâmico, caracterizado por propriedades físicas que podem ser mensuradas. Essas “quantidades”, ou parâmetros, definem o estado do sistema. Para o mar, temos: • Temperatura (termodinâmica); • Salinidade (físico-química); • Pressão (mecânica); 3 • Densidade (mecânica: massa e volume); • Oxigênio dissolvido; • Dióxido de carbono dissolvido; etc. Os parâmetros indicadores são divididos em conservativos e não conservativos: Conservativos: possuem um campo. Há uma distribuição da propriedade por todo o “corpo” do objeto em estudo (Ex: Temperatura, Salinidade etc.); Não conservativos: a distribuição não ocorre como uma propriedade distinta pelo objeto de estudo, pois interage com outros sistemas externos (Ex: Oxigênio dissolvido, que pode ser consumido/produzido por organismos vivos, em outras palavras, a propriedade pode se exaurir). 4.1 Temperatura: apresenta-se como uma propriedade conservativa, com distribuição zonal em superfície, quando observada em grande escala (isotermas paralelas às latitudes). Possui uma variação de temperatura superficial considerável, partindo de aproximadamente 28ºC, no Equador, e chegando a –1,8ºC, no gelo das latitudes polares. Quando observada nas escalas menores, foge à regra, pois próximo da costa há desvios das correntes oceânicas na direção Norte-Sul. O mesmo comportamento excepcional ocorre nas margens Oeste dos continentes, com afloramento de águas mais frias, originadas do fundo oceânico. Na distribuição vertical, o perfil de temperatura das águas diferencia-se conforme os seguintes fatores: • A latitude; • A sazonalidade da estação do ano; e • O hemisfério da Terra. Deve-se observar que como a mudança da temperatura é muito pequena em grandes variações de profundidades, adota-se, em Oceanografia, medições com duas casas decimais de precisão. Exemplo: 5,32ºC. Em geral, observa-se alguns perfis verticais típicos da temperatura dos oceanos distribuídos da seguinte maneira, com variações latitudinais e sazonais (Fig.2): • Na zona superior, de 50 a 200m de espessura, a temperatura é próxima a da superfície; • Na camada de 500 a 1000m, a temperatura decresce rapidamente com a profundidade; 4 • Na camada profunda, o declínio ocorre bem lentamente; • Acima de 4000m, a temperatura in situ começa a aumentar devido a pressão (utiliza-se a temperatura potencial [θ] para estas medições). Nestes termos, observa-se que as variações da temperatura com a profundidade não são homogêneas, mas seguem certos comportamentos que caracterizam faixas, ou camadas dos oceanos, as quais adquirem propriedades distintas e que foram devidamente identificadas: Camada de Mistura: é a camada compreendida entre a superfície e uma profundidade de 25 a 200m, onde a principal característica é um comportamento similar ao isotérmico, pois a temperatura da água apresenta valores próximos aos da superfície, devido à mistura produzida pelas ondas geradas pelos ventos. Termoclina: é a espessura de coluna d’água onde a variação da temperatura com a profundidade é máxima. Diz-se gradiente máximo da variação da temperatura com a variação da profundidade, ou máx ∇T = ΔT/ΔZ. Em outras palavras, há uma grande diferença do valor de temperatura (ΔT) em pouca espessura da coluna d’água (ΔZ). Dicoterma: é uma camada de água fria, atingindo –1,60ºC que fica embutida entre a lâmina da superfície, com água mais aquecida e a água profunda, também aquecida. Como a superfície de contato com o ar resfria-se rapidamente, a água fria desce para a camada intermediária e é substituída por uma água do sub-fundo. Ao subir, a descompressão causa um novo leve aquecimento que liberará calor na atmosfera e novamente resfriará a água, que afundará para a camada intermediária fria. O processo, na escala sinóptica, é considerado rápido, mas a condução do calor do sub-fundo e fundo, é considerada lenta. Fig.2: Alguns perfis verticais típicos da temperatura dos oceanos. I – perfil para baixas latitudes, II – perfil das latitudes médias, onde se observa a variação da termoclina pela ação sazonal e em III – perfil das altas latitudes (Fonte: FELICIO, R.A.,1991, baseado em PICKARD, G.L., 1974). 5 4.2 Salinidade: apresenta-se como uma propriedade conservativa. É medida em [g/kg] o que corresponde à quantidade de sal em gramas, diluído em um quilograma de H2O líquido. Assim, descreve-se como partes por mil [%o] ou pormilhagem, utilizando-se até duas casas decimais. A faixa de valores típicos da salinidade superficial dos oceanos vai de 33 a 37%o. A salinidade tem distribuição zonal em superfície, quando consideramos a grande escala (isohalinas paralelas às latitudes), contudo, ela não é tão clara como a distribuição da temperatura. A principal diferença ocorre na localização dos máximos e mínimos, onde os fatores precipitação e evaporação (causada pela grande insolação) se tornam fatores de peso. Desta maneira, observam-se mínimos logo ao Norte do Equador, principalmente no Pacífico e depois, valores máximos nos trópicos, nas latitudes ao redor de 25ºN e S. Logo após, novo decréscimo é verificado e mínimos voltam a ocorrer para as altas latitudes. As observações demonstraram que a evaporação e a precipitação determinam a salinidade superficial por dois efeitos: Concentração: aumento de salinidade por perda de massa líquida, sem subir a temperatura da água. Há grande evaporação causada pelo aquecimento superficial das águas. A presença de anticiclone semi-permanente garante altos índices de insolação; Diluição: diminuição de salinidade por ganho de massa líquida, sem baixar a temperatura da água, ou com pouca variação desta. A presença de extensas coberturas de nuvens garante altos totais pluviométricos. Outros pontos de máximos importantes são as regiões onde sopram os Aliseos e as áreas globais onde a evaporação excede a precipitação. Para os pontos de mínimos, verifica-se, em menor escala, valores baixos nas áreas junto à costa, onde deságuam os rios e junto às saídas de glaciares da Groenlândia. Já em grande escala, nas regiões polares, junto à banquisa do Ártico e principalmente da Antártida, onde o gelo se funde. Na distribuição vertical, o perfil de salinidade torna-se mais difícil de descrever, pois a temperatura da água e a sua densidade entram como principais determinantes. Isto implica que a salinidade torna-se um subproduto da temperatura e conseqüentemente, da densidade. A latitude, sazonalidade anual e hemisfério da Terra aparecem em segundo plano. Assim, observam-se alguns perfis verticais típicos da temperatura dos oceanos distribuídos da seguinte maneira, com variações latitudinais e sazonais (Fig.3): • Nas regiões equatorial, tropical e subtrópicos há um mínimo de salinidade de 600 a 1000m de espessura; • Nesta mesma região, o perfil demonstra aumento suave até 2000m de profundidade; 6 • Nas altas latitudes (onde em SFC é baixo) o valor normalmente cresce com a profundidade até 2000m; • Acima de 4000m, a salinidade é relativamente uniforme, na faixa entre 34,6 a 34,9%o. Fig.3: Alguns perfis verticais típicos da salinidade dos oceanos. I – perfil para o oceano Atlântico, II – perfil para o oceano Pacífico e III – perfil generalizado nos trópicos (Fonte: FELICIO, R.A.,1991, baseado em PICKARD, G.L., 1974). Nos perfis apresentados, para a parte superficial, nota-se tanto para o Atlântico, quanto para o Pacífico, nas baixas e médias latitudes, que os valores de salinidade tendem a ser mais elevados próximo ao Sul do Equador e nas áreas dos anticiclones, devido à muita evaporação causada pelos altos índices de insolação. Para as altas latitudes, ambos os oceanos registram uma queda nos valores da salinidade causados pelo degelo. O grande fornecedor de água doce ao mar é a Antártida. O mar de Weddell contribui para o oceano Atlântico e os mares de Ross e Bellingshausen, para o Pacífico. Os valores de salinidade ficam abaixo de 34%o no Atlântico e 33%o, no Pacífico. Já na área tropical, percebe-se que os elevados índices pluviométricos abaixam a salinidade na superfície e dentro da camada de mistura. Outro fator importante a se relatar é a dependência da propriedade Salinidade em função da temperatura, justamente devido à solubilidade. Desta maneira, diz-se que S depende de T, ou seja, S(T). As evidências podem ser vistas, em ambos os oceanos, na faixa de profundidade entre 100 a 1000m, onde a termoclina principal atua, sempre nas baixas e médias latitudes. Na primeira, o ano todo e na segunda, seguindo o comportamento sazonal. Em geral a propriedade relacional da temperatura e da salinidade é definida por: 7 Aumento da temperatura implica em aumento ↑T ⇒ ↑Solubilidade H2O ⇒ ↑S da solubilidade da água que, por sua vez, implica em aumento da salinidade; Redução da temperatura implica em redução da ↓T ⇒ ↓Solubilidade H2O ⇒ ↓S solubilidade da água que implica em redução da salinidade. Desta maneira, a salinidade e a temperatura definirão a próxima propriedade da água do mar: a densidade. Esta definirá a posição das águas no perfil. Quanto mais salinas, mais densas. 4.3 Densidade: A densidade é uma propriedade invariável da matéria. Em Oceanografia usa-se a densidade relativa, definida pela relação entre a massa de um corpo e a massa de um igual volume de água, a 4ºC. É medida em [g/cm3] oscilando, no oceano aberto, na faixa de 1,02400 a 1,03000g/cm3 (em profundidade, cerca de 1,04490g/cm3). Por comodidade, expressa-se apenas os 4 últimos algarismos, sem unidades. Exemplo: 1,02727g/cm3, diz-se densidade 2727. A densidade será expressa pelo comportamento de outros parâmetros, portanto, torna-se função destes. Os parâmetros que controlam a densidade (σ) são a salinidade, a temperatura e a pressão da coluna d’água, em profundidade, ou seja, σ(S,T,p). Para densidades em superfície, a pressão é zero (p = 0) e a densidade é descrita apenas pela salinidade e temperatura, ou seja, σ(S,T,0). Para os objetivos do entendimento do clima e da visão da Geografia, a densidade será vista apenas como uma fomentadora de movimentos verticais e na determinação do deslocamento das águas. Desta maneira, o importante será relatar: • • • • A estratificação; Os afundamentos; Os afloramentos (ou ressurgência); e As correntes. Quanto a sua distribuição horizontal e perfis verticais típicos dos oceanos, em escala sinóptica, a densidade apresenta os valores de 2200 (ou apenas 22) no Equador. Nos trópicos, oscila em torno de 25. Já nas latitudes entre 50 e 60º, varia entre 26 a 27. Finalmente, na banquisa de gelo, há uma suave diminuição, com diferença significativa entre hemisfério Sul e Norte, este último devido ao maior degelo (Fig.4). Em profundidade, na escala sinóptica, com a tendência natural de repouso e mínima energia, observa-se, na parte intermediária, um aumento rápido que acima de 2000m torna-se vagaroso conforme aumenta a profundidade, tendendo a uma situação mais estável (Fig.5). 8 Fig.4: Combinação das três propriedades, em superfície, na oceanografia sinóptica, como média para todos os oceanos (Fonte: FELICIO, R.A.,1991, baseado em PICKARD, G.L., 1974). Fig.5: Distribuição horizontal e perfis verticais típicos da densidade dos oceanos, em escala sinóptica e em situação de máximo repouso (Fonte: FELICIO, R.A.,1991, baseado em PICKARD, G.L., 1974). Importante: a variação vertical da densidade estabelece os deslocamentos verticais. Quanto mais estável estiverem as camadas, teremos mínimos movimentos verticais e mistura. Em contrapartida, quanto mais instável estiverem as camadas, observa-se máximos movimentos verticais e mistura. 9 Para saber mais: Muitos destes movimentos verticais determinam o deslocamento das massas de água (em menor escala) e podem ser definidos pelo diagrama TS de uma amostra de água do mar. Concluindo, águas afloram e afundam, contudo, quando chegam à SFC entram em contato com a atmosfera. Neste momento, surgem os processos de intercâmbio de propriedades com a troca de calor, troca de massa líquida e troca de gases. 5 – Os Oceanos 5.1 O Pacífico: O mais novo dos oceanos conhecido pelo Homem. Apresenta-se como um oceano de superlativos, sendo o maior, o mais profundo etc. Não segue nada ao nome que lhe foi dado, pois apresenta as maiores células de tempestades já registradas. Possui uma área de 179,25 x 106km2, o que englobaria a área do Brasil (8,51 x 106km2) 21 vezes. Se fosse idealmente planificado, seria representado por um quadrado cujos lados mediriam 13.389km. Este oceano ocupa mais de um terço da superfície terrestre e representa 40% da área marítima total do mundo (Fig.6). Seu volume de água é estimado em cerca de 724.000.000km3. Se fosse idealizado em forma de um cubo, suas arestas teriam 898km. Com tal volume, caberiam 27 vezes todo o conteúdo de gelo da Antártida, estimado em 27.000.000km3. 10 Fig.6: Superfície do oceano Pacífico e limites. Quanto a sua distribuição da temperatura superficial, também chamada de TSM – Temperatura da Superfície do Mar, observa-se que o Pacífico possui uma área equatorial e tropical significativa, ocasionando insolação durante todo o ano, ora mais ao Norte, ora mais a Sul. Nas latitudes médias, o gradiente de temperatura apresenta-se em uma distribuição zonal, com exceções na costa Oeste da América do Sul. O gradiente de temperatura é máximo nas altas latitudes, principalmente nas proximidades da Antártida, onde circula a Corrente Circumpolar Antártica – CCA. Nota-se um gradiente extremado nestas latitudes, onde a TSM varia de 8 a 4ºC em poucos graus de latitude (Figs.7A e B). A distribuição da Salinidade na Superfície do Mar – SSM segue as informações detalhadas anteriormente, com máximo logo ao Sul do Equador e nas proximidades dos trópicos, sempre associados aos altos índices de evaporação, permitidos pela grande incidência de insolação dos anticiclones. Valores mais baixos são encontrados próximos às banquisas de gelo (Fig.8). 11 Fig.7A: Distribuição da TSM do Pacífico durante o inverno boreal (Fonte: Inst. Geog. de Agostini, 1975). 12 Fig.7B: Distribuição da TSM do Pacífico durante o verão boreal (Fonte: Inst. Geog. de Agostini, 1975). 13 Fig.8: Distribuição da SSM do Pacífico durante o verão boreal (Fonte: Inst. Geog. de Agostini, 1975). 5.2 O Atlântico: O mais antigo dos oceanos conhecido pelo Homem. Apresentou-se como o primeiro a ser estudado desde a Antigüidade. Possui uma área de 106,20 x 106km2, englobando a área do Brasil 12,4 vezes. Se fosse representado por um quadrado, seus lados mediriam 10.305km. O Atlântico ocupa praticamente todas as latitudes da Terra, representando cerca de 29% da área marítima total do mundo (Fig.9). 14 Fig.9: Superfície do oceano Atlântico e limites. A distribuição da TSM no Atlântico é diferenciada sazonalmente. O maior destaque ocorre na área tropical, com o verão no hemisfério Norte deslocando águas mais aquecidas até a latitude de 50ºN e com uma distribuição mais espaçada do gradiente de TSM no hemisfério Sul, sendo que este ainda se apresenta de forma zonal (Fig.10A). A contrapartida surge durante o inverno no hemisfério Norte, onde a TSM se distribui bem espaçada, com concentrações de águas frias na costa Leste da América do Norte. No hemisfério Sul, as águas quentes predominam entre a África e a América do Sul, por toda a costa brasileira, e com afloramento acentuado de águas frias a Sudoeste da África. O gradiente da TSM apresenta-se com altos valores, dado seu extremo confinamento entre 50 e 60ºS (Fig.10B). Os valores de SSM seguem os padrões de alta evaporação e precipitação, principalmente regulados pela presença dos anticiclones e nebulosidade de formação Cumulus, respectivamente (Fig.11). 15 Fig.10A: Distribuição da TSM do Atlântico em agosto (Fonte: Inst. Geog. de Agostini, 1975). 16 Fig.10B: Distribuição da TSM do Atlântico em fevereiro (Fonte: Inst. Geog. de Agostini, 1975). 17 Fig.11: Distribuição da SSM do Atlântico no verão boreal (Fonte: Inst. Geog. de Agostini, 1975). 18 5.3 O Índico: O menor e mais antigo dos oceanos navegado desde a época de glória dos Faraós e dos chineses. Possui uma área de 75,94 x 106km2, o que englobaria a área do Brasil 8,9 vezes. Se fosse representado por um quadrado, seus lados mediriam 8.714km. O Índico está praticamente todo localizado no hemisfério Sul e representa 21% da área marítima total do mundo (Fig.12). Seu volume de água é estimado em cerca de 292.000.000km3. Se fosse idealizado em forma de um cubo, suas arestas teriam 664km. Este volume é suficiente para englobar oito vezes o volume de gelo da Antártida, com folga. Fig.12: Superfície do oceano Índico e limites. A distribuição da TSM do Índico possui algumas singularidades. Por se apresentar como um oceano limitado a um dos hemisférios, as características sazonais surgem com maior vigor. Entre estas, pode-se observar que durante o inverno do hemisfério Sul, os valores de TSM mais elevados concentram-se entre 15ºS até toda a costa da Ásia, como a Índia. Os maiores valores de insolação estão sobre o continente, resultando nos efeitos das monções. Ao Sul, observa-se o gradiente de TSM bem zonal, mas com uma variação mais suavizada (Fig.13A). Para o verão do hemisfério Sul, os valores altos de TSM distribuem-se por quase todo o Índico. Com isto, observa-se um intenso gradiente de TSM que se concentra entre 40ºS até 60ºS (Fig.13B). A distribuição da SSM pouco muda entre verão e inverno, com variações mais significativas na área equatorial dada a mudança do período de chuvas que se deslocam, ora para o continente, ora para o oceano. O anticiclone semi-permanente 19 mantém altos índices de insolação por volta de 30ºS, mais deslocado para a Austrália (Figs. 14A e B). Fig.13A: Distribuição da TSM do Índico em agosto (Fonte: Inst. Geog. de Agostini, 1975). 20 Fig.13B: Distribuição da TSM do Índico em fevereiro (Fonte: Inst. Geog. de Agostini, 1975). 21 Fig.14A: Distribuição da SSM do Índico em agosto (Fonte: Inst. Geog. de Agostini, 1975). 22 Fig.14B: Distribuição da SSM do Índico em fevereiro (Fonte: Inst. Geog. de Agostini, 1975). 23 6 – Correntes Oceânicas As correntes oceânicas são controladas por dois fatores principais: Em superfície, há o predomínio da ação dos ventos no deslocamento das massas de água; Em profundidade, é a densidade que predomina no deslocamento das massas de água, portanto a densidade gera estratificação. As correntes oceânicas em superfície são praticamente controladas pela ação dos ventos, pois se acoplam às circulações de grande escala da atmosfera como a posição dos anticiclones e a circulação dos Aliseos. Deste modo, a sazonalidade da atmosfera exercerá sua influência, deslocando, enfraquecendo ou intensificando as correntes em escala planetária. As correntes oceânicas são classificadas pela sua temperatura, com isto, considera-se que há uma interação direta da TSM com a atmosfera adjacente. Esta interação ocorre principalmente no fornecimento de umidade e calor que a seguir refletirá na solubilidade de sais e gases. (Fig.15A e B). Fig.15A: Principais correntes oceânicas em janeiro e as conexões com os anticiclones semi-permanentes (Fonte: Inst. Geog. de Agostini, 1975). 24 Fig.15B: Principais correntes oceânicas em julho e as conexões com os anticiclones semi-permanentes (Fonte: Inst. Geog. de Agostini, 1975). Nestes termos, estima-se que as correntes oceânicas redistribuem 50% do excesso de energia e 85% da água na atmosfera da Terra. Manipulam o armazenamento de calor sazonalmente ou em períodos muito longos (a maioria completamente desconhecidos) e controlam o abastecimento de nutrientes e os processos geoquímicos. 7 – Outras Propriedades 7.1 Relações com a Luz: A incidência de radiação solar na água do mar é de vital importância, pois define a zona iluminada (eufótica ou fótica) com profundidade máxima que varia de 200 a 600 metros, e apresenta um comportamento sazonal. Nesta faixa, ocorre a difusão da luz, como na atmosfera (espalhamento do AZUL). A zona eufótica é o lar do fitoplâncton (algas) e do zooplâncton. Contudo, abaixo desta, na zona afótica, apenas o zooplâncton sobrevive. Quanto à coloração, as águas verdes indicam grande quantidade de material biológico em decomposição, principalmente devido à liberação de enxofre. Outras colorações são possíveis, como as ocorridas nos anos de 1970, quando surgiram diversas ocorrências de maré vermelha. Para todas elas, atribuiu-se relações catastróficas, mas que na verdade eram apenas algas vermelhas que se desenvolvem em longos períodos de estiagem (Fig.16). 25 Fig.16: Ocorrência de maré vermelha na praia do Leblon, RJ, em 04 de março de 2008. Hoje sabe-se que a relação das algas vermelhas é a ausência de chuva (Fonte: ESP). 7.2 Relações com a Temperatura: A TSM possui as seguintes relações principais de controle: • Umidade fornecida à atmosfera adjacente; • Solubilidade dos sais na água; • Solubilidade dos gases dissolvidos na água. 7.2.1 Umidade Fornecida à Atmosfera: A umidade fornecida segue uma relação praticamente direta, onde a elevação da TSM permite que se alcancem altos valores de evaporação. Desta maneira, haverá um fluxo maior de umidade para a atmosfera, aumentando seu valor absoluto. Quanto mais seco e quente estiver o ar, mais umidade ele poderá receber. De maneira análoga, mas inversa, se os valores de TSM forem baixos, a quantidade de vapor lançado à atmosfera é menor, o que ocasiona valores absolutos mais baixos de umidade (Fig.17). Como relações, deve-se entender que a baixa umidade deixa o ar mais seco. Uma vez que se apresenta nestas condições, reduzirá a precipitação local e por onde houver teleconexões. Se estiver em trânsito, essa massa de ar causará diversos problemas referentes à baixa umidade (secas, dificuldade de dispersão de poluentes etc.). 26 Fig.17: Relação da TSM com a evaporação e disponibilidade de umidade absoluta para a atmosfera (Fonte: FELICIO, 2008). 7.2.2 Solubilidade dos Sais na Água: A solubilidade dos sais segue uma relação direta e pode definir a densidade, conforme S e T se relacionam, onde a elevação da TSM aumenta a solubilidade dos sais na água. Se estes estiverem disponíveis em níveis levemente mais profundos, causarão processos osmóticos pelas camadas até a superfície. Assim, poderão aumentar a densidade da água. Analogamente, o processo inverso de redução da TSM diminuirá a solubilidade dos sais, reduzindo a densidade da água (Fig.18). Fig.18: Relação da TSM com a solubilidade dos sais e a densidade (Fonte: FELICIO, 2008). 27 Deve-se notar que as relações agora dependem de mais fatores. Se a temperatura não predominar, a densidade aumentará, caso haja salinidade disponível para aumentar. Como resultado, a densidade aumenta e haverá o afundamento da massa d’água. Caso a alta temperatura predomine, mesmo com alta solubilidade, a densidade será mais baixa, resultando na permanência da água onde ela está. Ressalta-se que a estabilização da estratificação superficial é de difícil avaliação, além de ser altamente misturada pela ação dos ventos. 7.2.3 Solubilidade dos Gases Dissolvidos na Água: A solubilidade dos gases dissolvidos segue uma relação direta e inversa que define os fluxos entre atmosfera e oceano. Com a elevação da TSM, reduz-se a solubilidade dos gases dissolvidos na água. Em superfície, os gases são liberados para a atmosfera, ocasionando um fluxo de entrada, ou positivo. De maneira análoga, com a redução da TSM, a solubilidade aos gases aumenta. Se na superfície de contato com a atmosfera houver gases disponíveis, estes poderão ser absorvidos, resultando em um fluxo de saída da atmosfera, ou negativo. Tal efeito poderá ocorrer principalmente de maneira mecânica, quando a água se movimenta na camada de mistura superficial, forçada pelos ventos. (Fig.19). Fig.19: Relação da TSM com a solubilidade dos gases dissolvidos na água do mar e os fluxos para a atmosfera. Quando a TSM se eleva, a solubilidade da água diminui (Fonte: FELICIO, 2008). Nestas relações, deve-se notar que haverá uma intensa troca gasosa, já que a superfície de contato entre ambos os fluidos é descomunal (cerca de 361.128.000km2). A troca irá depender em qual localização da Terra as TSM estão mais altas ou baixas. Além disto, os outros fatores, incluindo os biológicos, também participam do cenário. 28 7.3 Relações com os Seres Vivos: Na zona eufótica, o fitoplâncton (algas) interage com o dióxido de carbono e produz oxigênio. Nas duas zonas, eufótica e afótica, diversos espécimes do zooplâncton utilizam os carbonatos para formar as estruturas de suas micro conchas. Estas servem como depositório de carbono secular ou milenar. Uma vez que esses pequenos seres morrem, as conchas são depositadas ao fundo, numa taxa de declinação na ordem de 2 a 3cm por dia [cm/d]. Se contarmos que a profundidade média dos oceanos é de cerca de 4.000m (ou 400.000cm) se as conchas afundarem em uma taxa de 3cm/d, elas só chegarão ao fundo em 13.333 dias, ou 365,29 anos. Em uma taxa de afundamento mais modesta, de 2cm/d, as conchas só chegarão em 20.000 dias, ou 547,94 anos. Uma vez ao fundo (depois de serem carregados por correntes etc.) depositam-se no leito sedimentar e devem retornar para ciclo da rocha até provavelmente, em um tempo muito remoto, saírem novamente pelos vulcões. 8 – O Dióxido de Carbono Sumariamente deve-se afirmar que este é um gás natural, que permanece na composição da atmosfera como um gás traço, na proporção de cerca de 0,033%. Assim como o metano, ozônio, vapor d’água etc., ele faz parte dos sistemas vivos e minerais do planeta Terra. Interage minimamente com o infravermelho termal, pois a maior proporção desta interação ocorre com o vapor d’água. Atua em um ciclo fechado de liberação e retenção dentro dos sistemas terrestres, em diversas escalas espaço-temporais. Seus depositórios e fluxos estimados são colossalmente maiores nos processos naturais do que os humanos (Fig.20). Os oceanos são o principal armazenador de CO2, portanto, controlam fluxos consideráveis deste gás para a atmosfera. Como a temperatura regula a solubilidade dos gases dissolvidos, então estes poderão ser liberados para a atmosfera, quando carregados para a superfície. Se a TSM estiver alta, a solubilidade da água do mar ao CO2 se reduz, o que causará sua liberação massiva para a atmosfera, ou seja, um fluxo positivo. No processo inverso, com TSM mais baixa, a solubilidade da água do mar ao CO2 aumenta, ocasionando sua absorção em grande quantidade, principalmente na agitada camada de mistura, devido aos ventos (Fig.21). Com isto, deve-se entender que o grande depositório de dióxido de carbono é o próprio oceano. Basta os oceanos estarem 1ºC mais aquecidos que Gigatoneladas [Gt] de CO2 são emitidos para a atmosfera, quantidade esta muito superior às atividades antrópicas. E quem aqueceria os oceanos? O Sol. 29 Fig.20: Estimativa dos principais depósitos e fontes de CO2 [Gt] e seus fluxos estimados [Gt/ano]. Na época, as emissões humanas eram estimadas em 5,5Gt/ano. Atualmente, menos que 4,1Gt/ano (Fonte: NASA, 2008). Fig.21: Relação da TSM com a solubilidade do gás CO2 dissolvido na água do mar e os fluxos para a atmosfera. Quando a TSM se eleva, a solubilidade da água diminui (Fonte: FELICIO, 2008). 30 O Sol é a estrela que fornece a esmagadora energia incidente na superfície da Terra, tanto para oceanos, quanto para os continentes. Os oceanos são considerados um enorme reservatório de calor. Este calor que foi absorvido pode migrar pelas correntes oceânicas, em superfície e em profundidade. A circulação termohalina sinóptica atua em todos os oceanos, afundando e aflorando, transportando gases presos há séculos (Fig.22). Fig.22: Circulação termohalina sinóptica atuando em todos os oceanos. Em azul claro, circulação de superfície e sub-superfície. Em azul escuro, circulação de sub-fundo e fundo (Fonte: NOAA, 2008). Em temperaturas mais altas, o dióxido de carbono é liberado dos oceanos para a atmosfera em Gigatoneladas. Os efeitos mecânicos como os ventos auxiliam na troca de gases entre a atmosfera e os oceanos. Portanto, um dos motivos para o aumento de temperatura dos oceanos pode estar relacionado ao ciclo solar, principalmente pela Oscilação Decadal do Pacífico – ODP, já que este é o maior oceano da Terra. Como a cada 11 anos aproximadamente o Sol muda sua intensidade emissiva de energia, quando alterna de pólos magnéticos, a ODP apresenta períodos de variação com correlação próxima a estes ciclos solares, com um certo atraso observado nos valores de TSM do Pacífico. 9 – A Oscilação Decadal do Pacífico – ODP Em uma abordagem sistêmica resumida, com o ciclo solar em auge, a atmosfera recebe mais radiação de Ondas Curtas – OC que atingem a superfície do oceano. Este fato resultará no aumento da TSM do Pacífico, principalmente nos trópicos. Com TSM mais alta, aumentam os valores de evaporação do oceano e também aumentam os valores de radiação de onda longa emitidos pela superfície do mar (Radiação de Onda Longa Emitida – ROLE). Além disto, a TSM elevada reduz 31 a solubilidade do dióxido de carbono. Com baixa solubilidade, o dióxido de carbono é transferido para a atmosfera da Terra, como um efeito causal (Fig.23A). Fig.23A: Atividade solar intensa aumenta a incidência de OC sobre a superfície tropical do Pacífico, elevando a TSM. Com isto, haverá maior evaporação, maior quantidade de Radiação de Onda Longa Emitida – ROLE e liberação de CO2 para a atmosfera, dada a baixa solubilidade dos gases dissolvidos na água do mar sob TSM mais altas (Fonte: FELICIO, 2008). Como a quantidade de vapor disponível é alta, aumenta-se também a probabilidade de formação de nuvens, principalmente grandes áreas de coberturas de nuvens estratiformes (com muitos Cumulus embutidos). Uma maior evaporação e nebulosidade formam eficiente efeito estufa local que retêm o excedente de ROLE, originado pela TSM alta da superfície do oceano. As chances de elevação das temperaturas na troposfera é alta (Fig.23B). Fig.23B: Maior área de cobertura de nuvens, muito vapor d’água na troposfera e uma elevada emissão de OL poderiam elevar a temperatura do ar na troposfera (Fonte: FELICIO, 2008). 32 Quanto maior for o calor, maior será a probabilidade de aumentar a área de cobertura de nuvens convectivas sobre a superfície do oceano. Porém, com maior área de nebulosidade, afeta-se o balanço de OC que incide sobre a superfície do oceano (Fig.23C). Fig.23C: Maior área de cobertura de nuvens, principalmente as profundas do tipo Cumulus, também controlará a incidência de OC sobre a superfície do oceano (Fonte: FELICIO, 2008). Com o passar de muito tempo, uma menor incidência de OC provocará menores valores de TSM na superfície do oceano. Valores menores de TSM geram menor evaporação, menor ROLE do oceano e maior solubilidade de CO2. Com maior solubilidade, os oceanos absorvem o CO2, removendo-o da atmosfera em grande escala. A menor evaporação dificulta a formação da nebulosidade. Quando combinadas, a menor evaporação e menor área de nebulosidade reduzirão a eficiência do efeito estufa local que retinha o pouco de ROLE, originado pela TSM baixa na superfície do oceano (Fig.23D). Quanto menor for o calor, menor será a área de cobertura de nuvens convectivas sobre a superfície do oceano. Com uma cobertura de nuvens convectivas menor, a forçante solar original de OC retorna ao processo, recomeçando-o, sempre calcado na forçante original (Fig.23E). Do ciclo modelado, conclui-se que, com a forçante solar em alta, mais intenso será o processo. Analogamente, com a forçante solar em baixa, menos intenso será o processo. Contudo, deve-se ressaltar que em ambos os casos, haverá respostas anômalas positivas e negativas. Além disto, a ODP possui duas fases distintas de aquecimento e resfriamento. Estas fases estão intimamente ligadas ao moderador umidade/nebulosidade e recebem as denominações de frias e quentes. Na Fase Fria da ODP, verificam-se anomalias negativas de TSM no Pacífico Tropical e anomalias positivas de TSM no Pacífico Extratropical de ambos os hemisférios, com destaque para valores maiores no Norte, próximo a costa Leste da Ásia. Para a Fase Quente da ODP, verificam-se anomalias positivas de TSM no Pacífico Tropical e anomalias 33 negativas de TSM no Pacífico Extratropical de ambos os hemisférios, com valores mais baixos novamente para o hemisfério Norte, na costa Leste da Ásia (Fig.24). Fig.23D: Com a redução dos valores da TSM haverá menor evaporação, menor quantidade de ROLE e menor liberação de CO2 para a atmosfera. Fora da área tropical, ou em áreas mais frias nesta mesma faixa latitudinal, o CO2 poderá ser absorvido, quando o vento misturar o ar com as águas da superfície do oceano. A menor área de cobertura de nuvens, a menor quantidade de vapor d’água na troposfera e uma baixa emissão de OL poderiam reduzir a temperatura do ar na troposfera (Fonte: FELICIO, 2008). Fig.23E: Com a redução generalizada da nebulosidade, principalmente as do tipo Cumulus, a incidência de energia de OC sobre o Pacífico tropical retornará e assim, o processo recomeça, com aumento dos valores de TSM etc. como descrito em 23A (Fonte: FELICIO, 2008). 34 Fig.24: Fases Positiva, ou quente e Negativa, ou fria da ODP (Fonte: MOLION). 10 – Conectando Todos os Elementos Ainda entre as correlações, além de dissolver os gases e realizar o seu transporte, as correntes também transportam calor, tanto em superfície como em profundidade. Desta maneira, quando o Ártico degela, muito provavelmente acontece ressurgência de água mais aquecida ao seu redor. Aquecimento este que pode ser ocasionado pelos continentes do hemisfério Norte ou circulações costeiras mais quentes, lembrando que 1,0ºC, ao nível planetário, faz diferença. Em temperaturas mais baixas, o dióxido de carbono é absorvido pelos oceanos em Gigatoneladas. Desta maneira, quanto mais fria for a água do mar em superfície, maior será a retenção de dióxido de carbono pelos oceanos (Fig.25). Ao se juntar todos os fatores de maior concentração de dióxido de carbono nas águas frias, com as correntes com afloramento de águas ricas em nutrientes, a alta insolação por longos períodos, as águas límpidas, com extensa zona eufótica e a formidável atividade do fitoplâncton, obteremos o disparo do maior ciclo de vida do planeta Terra. O maior destaque ainda cabe à Corrente Circumpolar Antártica – CCA como a mais fria e rápida das correntes sinópticas da Terra (Fig.26). Durante o verão, com uma quantidade maior de horas de insolação, grande concentração de dióxido de carbono pelas águas frias e, a partir deste ponto, com a vida do fitoplâncton e zooplâncton se multiplicando velozmente, começam as maiores migrações do planeta, principalmente a dos grandes cetáceos (Fig.27). 35 Fig.25: Retenção de CO2 pelas superfícies oceânicas. Verifica-se grande destaque para as águas frias da Antártida (Fonte: Inst. Geog. de Agostini, 1975). Fig.26: A posição dos anticiclones semi-permanentes garante grande quantidade de insolação sobre a superfície dos oceanos. Ao mesmo tempo, a circulação dos ventos desloca as águas frias, ricas em nutrientes e CO2, para localidades onde a zona fótica é intensa, principalmente nos verões (Ex.: CCA). Assim, o fitoplâncton se reproduzirá intensamente. Além disto, as circulações de ventos permitem que águas mais aquecidas ganhem latitudes, proliferando mais vida. Os mares de Sargaços são um exemplo desta conexão planetária de fatores (Fonte: Inst. Geog. de Agostini, 1975). 36 Fig.27: Migração planetária dos grandes cetáceos. Notar que a maior parte ocorre nos mares do Sul, dada a importância da CCA no processo de proliferação da vida durante o verão austral (Fonte: Inst. Geog. de Agostini, 1975). Concluindo, os mecanismos da atividade físico/química/biológica dos oceanos estão intimamente ligados, portanto, os oceanos atuam como grandes mediadores dos processos do planeta. Sua principal função decorre no controle climático, como reservatórios de calor, nestes termos, em ciclos de longos períodos. Também exercem atuação como fornecedores de umidade. Esta água percorre o ciclo hidrológico. 10 – Considerações Finais Os oceanos são o principal elo com a atmosfera da Terra: { Atuam como moderadores importantes dos processos atmosféricos; | Ocultam uma infinidade de interligações desconhecidas que atuam como auto-reguladores dos diversos mecanismos físico/químicos, onde a biologia interage com veemência; } Após a forçante solar e os vulcões, a interação Ar-Mar é a maior condicionante do clima. 37 Anexo 1: Os Corais Os corais se distribuem por todos os oceanos do planeta. Sua maior concentração ocorre na área tropical, já que a vida necessita de energia. Contudo, há grandes concentrações até em áreas polares do planeta, com singularidades próprias dos seres vivos que lá habitam. Portanto, o alcance das barreiras de corais depende de diversos fatores e se estendem por todo o planeta, em condições de adaptação (Fig.A1.1). Fig.A1.1: Limites das barreiras de corais (Fonte: Inst. Geog. de Agostini, 1975). As barreiras de corais devem ser entendidas como um conjunto vivo, portanto, possuem inimigos biológicos, como crustáceos e moluscos. Um exemplo ocorreu com as grandes estrelas-do-mar, como a Acanthaster planci, nos anos de 1970, as quais arrasaram diversas barreiras, causando danos gravíssimos. Na época, imaginou-se que seus predadores, como o tritão, estivessem escassos ou que os tubarões, por pesca indiscriminada, tivessem desbalanceado a cadeia, contudo deve-se lembrar que basta uma pequena lasca de uma estrela-do-mar para que surja um novo indivíduo, o que causaria sua abundância também. Este foi um mistério que até hoje se apresentou sem solução. Pesquisas que se seguiram nos anos de 1980 indicaram que podem existir diversas mutações ecológicas de difícil mapeamento. Contudo, nunca se deve acreditar que só porque em algum lugar UMA barreira de corais está a desaparecer, então, em todo o planeta TODAS estão desaparecendo! Estas afirmações são absurdas. Como todos os fenômenos do planeta, as barreiras de corais têm os seus ciclos de crescimento e destruição: 38 • Processos destrutivos físicos: as ondas exercem considerável erosão; • Processos destrutivos biológicos: as barreiras devem ser consideradas como um conjunto vivo e como tal, estão sujeitas a muitos inimigos biológicos. Desta maneira, a afirmação “O aquecimento global está destruindo as barreiras de corais” torna-se completamente sem sentido. Outro fator que é sempre elencado é a acidificação dos oceanos. O argumento é completamente sem sentido, dado que em um hipotético mundo mais quente, os oceanos também se aqueceriam, portanto, liberariam o dióxido de carbono na atmosfera e não o contrário. Desta maneira, o dióxido de carbono é o gás utilizado para a vida. Não é o responsável pela destruição das barreiras por “deixar os oceanos mais ácidos”. Recente descoberta mostrou que há microrganismos que se multiplicam rapidamente nestas condições, removendo o excesso de CO2 dos oceanos. Em outras palavras, NÃO HÁ SATURAÇÃO! Sempre o ambiente torna-se favorável a um tipo de espécie que se adaptou e que vai se proliferar, consumindo o que estiver disponível. É o caso da Emiliania huxleyi, um microrganismo que tem maior desempenho vital em concentrações descomunais de dióxido de carbono. Ao que tudo indica, a Natureza possui mecanismos inertes que se ativam para a auto-regulação, neste caso, um ser vivo dos oceanos. O mesmo pode se afirmar quanto à elevação dos valores de temperatura das águas do mar. O pesquisador Terry Dawson, da Universidade de Southampton, na Grã-Bretanha, encontrou cerca de seis espécies novas de corais, nunca antes vistas e mais três outras semelhantes a existentes em lugares como o Panamá e Costa Rica. Além disto, Dawson também encontrou uma espécie que foi julgada extinta após as manifestações extremamente quentes do fenômeno El Niño de 1997 a 1998. Isto indica que, primeiramente, não conhecemos todo o sistema biológico dos oceanos e, em segundo lugar, que a vida tem muito mais resiliência às diversidades climáticas do que se imagina. 39 Anexo 2: O Nível dos Mares O Nível Médio dos Mares – NMM é extremamente relativo e só assim pode ser entendido. Alguns fatores que atuam sobre esta definição demonstram a sua dificuldade, como as variações paleoclimáticas, marés, prováveis vibrações de placas etc. Para o gelo, na hipótese remota em que toda a sua massa no planeta pudesse derreter, ela elevaria o nível dos mares por volta de 80m. Assim, as reservas contribuiriam nas seguintes proporções estimadas: • Todas as geleiras continentais: 0,5m; • Toda a Groenlândia: ~7,0m; • Toda a Antártida: ~60,0m. É importante lembrar que o derretimento das plataformas (banquisa) de gelo, NÃO causa elevação do nível do mar (o Ártico, e as banquisas da Antártida, em forma de icebergs tabulares). Também se torna vital informar que os líquidos possuem dilatação volumétrica como qualquer material, então se o Sol passou por um período de maior atividade nos anos de 1990 a 2002, enorme quantidade de calor foi armazenada nos oceanos. Como a variação do volume aparente é igual ao produto entre o seu coeficiente de dilatação aparente, seu volume inicial e a variação de temperatura (ΔVap = γap x V0 x Δθ, onde γap: coeficiente de dilatação aparente, particular para cada substância; V0: volume inicial; e Δθ: variação de temperatura Ti – Tf) é mais razoável entender que se houvesse uma elevação de ínfimos milímetros nos oceanos, estes seriam a expressão de sua própria dilatação, cuja ocorrência NÃO é igual em todo o planeta, já que os oceanos não estão em um recipiente ideal. Além disto, temos os efeitos das marés pela alteração da órbita lunar: Inclinação da Eclíptica da Terra.......................................................................... 23,5º Inclinação do plano orbital da Lua...................................................................... 5,1º Oposição.............................................................................................................. 18,4º Combinação......................................................................................................... 28,6º Amplitudes dentro do ciclo Lunar: 18,4º + 23,5ºN = 41,9º x 110km = 4.609km 18,4º + 23,5ºS = 41,9º x 110km = 4.609km Somados........................................ 9.218km em 28 dias O que resultaria em um deslocamento de massas d’água na taxa de 329,21km/d. 40 Analogamente, para a outra amplitudes do ciclo Lunar: 28,6º + 23,5ºN = 52,1º x 110km = 5.731km 28,6º + 23,5ºS = 52,1º x 110km = 5.731km Somados...................................... 11.462km em 28 dias Resultando em um aumento de cerca de 25%, com deslocamento de massas d’água na taxa de 409,35km/d. Este ciclo lunar ocorre normalmente a cerca de 19 anos de intervalo, alcançando expressivamente as latitudes de 30ºN e S (Fig.A2.1). Fig.A2.1: Variação das marés dentro do ciclo de 19 anos. As amplitudes pelas latitudes são significativas e deslocam colossal quantidade de águas oceânicas (Fonte: FELICIO, adaptado de MOLION, 2008). Normalmente, quando não há a presença de ciclones tropicais ou extratropicais atuando nas proximidades da costa (cerca de até 1000km) são estas as causas de grandes marés que arrebentam no litoral e destroem casas e avenidas. Este efeito foi sentido no ano de 2007, no litoral do Nordeste do Brasil, portanto, totalmente independente de “aquecimento global” e elevação dos mares. Deve-se ressaltar ainda a enorme quantidade de energia térmica que foi transferida pelas correntes e distribuída pelas latitudes dos oceanos neste efeito lunar. Um exemplo interessante ocorreu em Veneza, em 28 de fevereiro de 2008, com maré baixa prolongada 80cm abaixo do NMM (Fig.A2.2). O registro recorde 41 pertence ao ano de 1934, quando a maré ficou 121cm abaixo do NMM, o qual coincide muito próximo do ciclo lunar que daria aproximadamente em 1932. Fig.A2.2: Canais de Veneza, em 28 de fevereiro de 2008, com maré baixa de 80cm abaixo do NMM. As marés também apresentam comportamentos distintos conforme a localidade do planeta. Em muitos lugares, elas podem variar na escala temporal significativamente. Em outros, a variabilidade se apresenta nitidamente na diferença entre os níveis de alta e baixa. Exemplos típicos ocorrem em Fundy Bay, no Canadá (Fig.A2.3) e na “ilha” Mont Saint Michel, na França (Fig.A2.4A e B). No primeiro, a variação diária chega a 18 metros. No caso francês, a variação comum é de 15 metros. Portanto, a histeria pregada por certas ONGs sobre a elevação do nível do mar só existe em seus programas de computador que alteram artificialmente a paisagem para gerar pânico (Fig.A2.5). Fig.A2.3: Em Fundy Bay, no Canadá, as marés são significativas e apresentam uma variação de até 18 metros. Em dois instantes, maré alta (esq.) e maré baixa (dir.). Concluindo, os processos de polderização permanecem em alta, bilhões de dólares continuam financiando grandes obras e construções de edifícios formidáveis em Dubai e até o presente momento, ninguém fugiu da Holanda. Se tudo isto realmente fosse uma verdade conveniente, Al Gore não teria comprado uma mansão de 9 milhões de dólares em frente à praia! 42 Fig.A2.4A: Vista aérea de Mont Saint Michel, na França, onde as marés também são significativas e apresentam uma variação de até 15 metros. Em dois instantes, maré alta (esq.) e maré baixa (dir.). Fig.A2.4B: Vista da superfície de Mont Saint Michel, na França. Em dois instantes, maré alta (esq.) e maré baixa (dir.). Fig.A2.5: Histeria pregada por ONGs, utilizando programas de computador para alterar o visual da paisagem. Vista aérea real de Murcia, na Espanha (esq.) e o mesmo local (dir.) “inundado” pela hipotética e sem sentido elevação no NMM pelo “aquecimento global antropogênico” (Fonte: GREENPEACE, 2008). Ricardo Augusto Felicio Prof. Dr. Climatologia Depto. Geografia – FFLCH – USP 43