PROFESSOR(A) DE GEOGRAFIA - Associação dos Geógrafos

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AS TECNOLOGIAS, O ENSINO E A FORMAÇÃO DO(A) PROFESSOR(A) DE
GEOGRAFIA: NOVAS LINGUAGENS NA TRANSFORMAÇÃO DA PRÁTICA
Mary Valda Souza Sales/Universidade do Estado da Bahia
[email protected]
Atualmente as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), vem tomando
conta dos espaços formativos formais e informais, onde essas TIC passam a ocupar um
espaço de destaque na vida dos sujeitos que constituem “as educações” e, hoje, os
estudantes estão, de certa forma, preparados, inspirados e inseridos nesse contexto
tecnológico, pelo fato de cotidianamente conviverem com as TIC como recurso diário
de comunicação, lazer e, também, de trabalho.
E os professores nesse contexto?
Como ficam?
Como lidam com essas
transformações?
Por estarmos em permanente contato com as TIC, ao irmos ao banco e usar um
caixa eletrônicos, ao usar a máquina de consulta de preços no supermercado, no
cotidiano doméstico com o microondas, o multiprocessador, no trabalho com o
computador, a internet, os sistemas on line de consulta e cadastramento, na vida diária
com o uso dos e-mails, msn, orkut, celular, skype e outras várias formas de
comunicação proporcionadas pela evolução das tecnologias é que acreditamos no
processo de forma-ação, pois com base no contexto apresentado, torna-se premente a
necessidade de uma reflexão-ação sobre os processos de ensino na formação dos
professores, principalmente, no que diz respeito a preparação destes para o uso das
tecnologias na escola, na sala de aula, com os conteúdos básicos constitutivos do
currículo da educação básica.
Considerando tal emergência este artigo propõe uma reflexão a respeito dos
processos formativos do professor de geografia e o uso das diversas linguagens
advindas das TIC nas práticas de ensino desse profissional, explicitando o
desenvolvimento de uma forma-ação inicial objetivando discutir sobre a importância do
uso das diversas linguagens tecnológicas para melhoria da prática docente do professor
de geografia, ampliar as perspectivas de uso das TIC nos processos de ensino e
aprendizagem e uma reflexão sobre o papel do professor dentro da universidade.
As tecnologias da informação e comunicação, as diferentes linguagens e a
formação do professor de geografia
Através da gama de tecnologias disponíveis no nosso dia-a-dia, nossas crianças,
adolescentes e jovens, enchem as lan houses, que crescem de forma veloz em todas as
cidades do estado e, são permanentemente freqüentadas por pessoas de todas as classes
sociais e níveis educacionais, para usos diversos (trabalhar, brincar, jogar, conversar,
etc).
Nesse sentido, não tem como a escola ficar alheia a essa realidade e não inserir
no cotidiano pedagógico o uso de recursos tecnológicos que possibilitem o
enriquecimento do fazer educativo e o crescimento docente e discente, e o uso ampliado
das “novas linguagens”, pois
o âmbito da educação, com suas características específicas, não se
diferencia do resto dos sistemas sociais no que se refere á influência
das TIC. Deste modo, também foi afetado pelas TIC e o contexto
político e econômico que promove seu desenvolvimento e extensão.
Muitas crianças e jovens crescem em ambientes altamente mediados
pela tecnologia, sobretudo a audiovisual e a digital. Os cenários de
socialização das crianças e jovens de hoje são muito diferentes dos
vividos pelos pais e professores. (...) De fato, estão descobrindo o
mundo e lhes custa tanto aprender e realizar trabalhos manuais como a
programar um vídeo ou um computador. Estão descobrindo as
linguagens utilizadas em seu ambiente e lhes custa tanto ou mais
decifrar e dominar a linguagem textual como a audiovisual. A grande
diferença é que os resultados desta última ação abrem um amplo
mundo de possibilidades cada vez mais interativas, em que
constantemente acontece algo e tudo vai mais depressa do que a
estrutura atual que a escola pode assimilar. (SANCHO, 2006, p. 19).
Assim, o uso das tecnologias digitais, audivisuais ou não, tendem a ampliar as
possibilidades de exploração e compreensão dos conteúdos e, ao mesmo tempo,
ressignificar os processos de aprendizagem dos discentes, “dando” função educativa as
diversas linguagens que os mesmos fazem uso na vida social e função social as diversas
linguagens utilizadas no cotidiano escolar.
Por esse fato, que no contexto contemporâneo, principalmente nas duas últimas
décadas, pesquisadores, professores e estudantes, e todos os sujeitos que pensam e se
preocupam com o desenvolvimento da educação no país, sentiram a necessidade de
refletir sobre os processos de formação, o emergente domínio das Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC) e a sua mediação nos processos de produção do
conhecimento, sobretudo nas ações de formação inicial e continuada, uma vez que a
inserção das TIC no contexto social de maneira geral, em virtude das mudanças velozes
dos modelos e parâmetros tecnológicos na sociedade (CASTELLS, 2002), define a
importância da sua inserção nos espaços educacionais, nos processos formativos.
Inúmeros teóricos apresentam estudos e pesquisas sobre a sociedade
contemporânea e apresentam um consenso sobre a denominação de sociedade da
informação e/ou do conhecimento como sendo a nova sociedade hoje definida, e
rotulada, por seus novos métodos de acessar, processar e distribuir a informação, como
afirma Castells (2005).
Considerando esse contexto e o contexto real das nossas
instituições de ensino, é que propomos uma discussão ampliada sobre esses modos de
acesso, produção e distribuição da informação e dos processos de formação dos
professores nessa sociedade atual.
Nesse sentido, tornamos explícita nossa compreensão do que seja tecnologia e
que “nova linguagem” é essa que surge com a emergência das TIC, para podemos
desenvolver um diálogo coerente e transparente na apresentação de nossa proposta.
Assim, tecnologia para nós é
um processo criativo através do qual o ser humano utiliza-se de
recursos materiais e imateriais, ou os cria a partir do que está
disponível na natureza e no seu contexto vivencial, a fim de encontrar
respostas para os problemas de seu contexto, superando-os (LIMA JR,
2005, p. 15).
Processo este, que trabalhamos com o que acreditamos de grande parte de sua
amplitude, uma vez que utilizamos a tecnologia digital em rede, com um Ambiente
Virtual de Aprendizagem (AVA)1 como suporte e “espaço” de aprendizagem, o qual
entrou em cena no sentido de “atender as necessidades e à evolução da própria
humanidade, no que concerne as possibilidades oferecidas pelas tecnologias da
informação e comunicação” (SALES, 2006, p.26) de promover a comunicação, fornecer
informação e construir conhecimento, aprendizagens em rede, além claro de possibilitar
o uso dessa “nova linguagem” fruto de uma mescla de signos.
Para tanto, compreendemos linguagem como sendo
qualquer e todo sistema de signos que serve de meio de comunicação
de idéias ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros,
gráficos, gestuais etc., podendo ser percebida pelos diversos órgãos
dos sentidos, o que leva a distinguirem-se várias espécies de
linguagem: visual, auditiva, tátil, etc., ou, ainda, outras mais
complexas, constituídas, ao mesmo tempo, de elementos
diversos.”(WIKIPÉDIA, acesso 11 julho 2009),
isto é, é todo sistema organizado de sinais que funcionam como estratégias, meios de
comunicação entre os indivíduos de forma verbal e não-verbal, pois apresentam sentidos
e, para isso, utilizam-se de signos (escritos, falados, filmados, gravados, fotografados,
pintados, ...). Em todos os tipos de linguagem, os signos são combinados entre si, de
acordo com as leis e os objetivos da comunicação, obedecendo a mecanismos de
organização e combinação entre eles. Assim, acreditamos que o uso dessas formas de
linguagem são mais do que necessárias para consolidação dos processos formativos,
uma vez que favorecem as mais diversas formas de comunicação e de significação da
aprendizagem, principalmente, com o auxílio das TIC.
Nesse sentido, propomos o uso do áudio/música, do vídeo/filme, do texto/livro, da
imagem, da pintura, da fotografia como recursos iniciais para se fazer entender os
conteúdos da geografia, principalmente, relacionados a cartografia e climatologia como
uma ação de auto-formação e de elaboração de uma proposta de formação continuada
para licenciandos e/ou docentes em exercício.
Ao estudar conjuntamente com os alunos os conteúdos das disciplinas específicas
citadas, refletir e discutir sobre os processos de ensino e de aprendizagem nas práticas
1
Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) é uma expressão que está interligada ao desenvolvimento
de condições técnicas, metodologias e intervenções de aprendizagem em um lugar virtual conectado em
rede, organizado de maneira que propicie a construção de conceitos, através da interação dos sujeitos
(alunos e professores) e o(s) objeto(s) de conhecimento (SALES, 2008)
de estágio e de docência efetiva de alguns, elencamos algumas necessidades específicas
para o desenvolvimento do trabalho, as quais ultrapassaram o limite da compreensão do
conteúdo e se focalizaram no uso das “linguagens” para se trabalhar aquele ou outro
conteúdo. Os alunos sempre colocaram que o problema do ensino é a falta de estímulo
discente e do não uso da criatividade docente. Com essas pistas, iniciamos a construção
de Oficinas Digitais, cursos de formação continuada de 20 horas/aula cada oficina,
montados no ambiente virtual de aprendizagem Moodle2, onde trabalhamos
simultaneamente, com a compreensão epistemológica de tecnologia e suas linguagens e
com o ensino dos conteúdos específicos da geografia. Assim, selecionamos alguns
recursos tecnológicos de fácil acesso para as escolas de nossa região, selecionaram
alguns conteúdos específicos da geografia para pensar, planejar, construir e desenvolver
o processo de (auto)formação.
Assim, na perspectiva da pesquisa-ação estamos desenvolvendo uma ação de formativa
dentro do curso de licenciatura em Geografia com a disciplina Educação e Novas
Tecnologias e em um curso de extensão que faz parte das ações de um projeto de
pesquisa maior sobre tecnologia e formação de professores, no sentido desenvolver
conhecimentos técnicos e propor momentos de reflexão-ação que possibilitem o
alavancar de uma prática docente consciente e consistente no que se refere ao
planejamento e uso das diversas linguagens propostas pelas TIC para o ensino de
geografia.
Dessa forma, desenvolve-se uma forma-ação na perspectiva de uma pesquisa-ação sobre
o uso das linguagens digital, imagética, iconográfica, multimidiática e hipertextual
disponibilizadas na rede conectada internet, para implementar no processo formativo
inicial, propostas de construção e difusão do conhecimento a respeito do uso dos
recursos didáticos tecnológicos como o retroprojetor, data show, computador, aparelho
de som, TV, vídeo, DVD e a própria internet na sala de aula para o ensino de geografia.
2
Moodle – Modular Object-Oriented Dynamic Learning (Cf. http://moodle.org) é um AVA livre e
software open source pacote cuja base filosófica é definida nos princípios construtivistas e sóciointeracionista, considerando dialógico o processo de mediação pedagógica, onde o principal aspecto a ser
considerado em relação aprendizagem é a gestão da aprendizagem, ou das aprendizagens (SALES, 2008)
No AVA Moodle, utilizado com frequência como suporte pedagógico para o
desenvolvimento de nossas disciplinas presenciais3, apresentamos de forma concreta as
potencialidades das diversas linguagens nos espaços virtuais e como podemos pensar e
planejar o uso das tecnologias disponíveis na escola em beneficio da compreensão e
apreensão dos conteúdos formais da geografia. Tal forma-ação tensiona uma discussão
entre a teoria e a prática no processo formativo, entre o exercício relacional do fazer da
prática docente e a formação do docente. Nessa tensão, o foco está na formação do
licenciando no que se refere ao exercício da docência, pois
A prática educativa remete, freqüentemente, ao processo ensinoaprendizagem, que se reporta, sobretudo, à ação didática. A esse
respeito, questionamos: Será que os professores dominam a prática e o
conhecimento especializado com relação à educação e ao ensino? Em
termos gerais, a resposta é não (CASTELLAR,1999, p. 48).
Para que possamos alterar a resposta, desenvolvemos o processo de formação docente
na perspectiva do imbricamento constante entre a teoria e a prática da formação inicial,
tratando os pressupostos pedagógicos necessários para o exercício da docência ao longo
da formação, para que possam ser desenvolvidos/exercitados durante a prática
formativa, isto porque acreditamos que "...a melhoria da qualidade da educação está
vinculada,
entre outras necessidades, à necessária construção de uma articulação
permanente e profícua entre esses dois níveis de ensino (básico e superior)" (COUTO e
ANTUNES, 1999, p. 36), pois no caso específico da geografia, percebe-se que por parte
dos alunos do ensino fundamental e médio, ainda se mantém, em alguns casos, a
concepção de uma disciplina inútil e decorativa, constatações dos momentos de estágio.
Isto ocorre com a geografia que aqui é foco, pelo fato de
no mundo da escola, a sensação de inutilidade advém do senso comum e do
fato de muitos professores de geografia não terem conseguido, ainda,
desvencilhar-se do papel através do qual essa disciplina consagrou-se: o da
descrição dos fenômenos, sobretudo "físicos" e paisagísticos. (PEREIRA,
1996, p. 48)
Para fugir dessa concepção, compreensão e prática é que a forma-ação está sendo
desenvolvida com uma visão da geografia viva, que sofre intervenções humanas e
3
Na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) o moodle é utilizado em ampla escala nos cursos
presenciais como suporte para o ensino presencial (http://www.moodle.uneb.br/), e nos educação a
distância
como
ambiente
gerencial
pedagógico
dos
cursos
a
distância
(http://www.campusvirtual.uneb.br/).
sociais e que intervém na própria realidade humana, onde os graduandos constroem as
propostas de formação vivenciando-as.
As oficinas digitais, a forma-ação, a geografia e as “linguagens” do digital no
ensino e na aprendizagem conceitual geográfica
Compreendendo que as práticas de linguagem consistem nas mediações constitutivas
pedagógicas, nas suas múltiplas dimensões, como afirma Barreto (2002), sentimos a
necessidade de focalizar os modos de constituição dos sujeitos e dos objetos nos
movimentos de encontro entre a linguagem e o conhecimento. Assim, focamos o
trabalho no uso dos recursos tecnológicos para o ensino da geografia e nas estratégias a
serem utilizadas para melhor apreensão dos conceitos, tendo como referências
pedagógicas as orientações e estudos da disciplina Prática de Ensino.
Paralelamente construímos em 06 (seis) grupos as oficinas propostas inicialmente. No
processo um destaque especial para aqueles sujeitos que saíram do foco central de
estudantes e trabalharam na perspectiva de se identificarem como licenciandos, futuros
professores, o que facilitou muito a discussão sobre a dialogicidade teoria e prática.
Esse seria um ponto que daria outro texto, traria outras várias discussões, mas não é
aqui o lugar ainda.
Uma das primeiras oficinas a ser construída efetivamente foi a de Câmera Fotográfica,
que a partir da linguagem imagética e textual decidiu-se trabalhar com alguns conceitos
cartográficos. Diante da complexidade encontrada no trabalho com mapas durante o
estágio e das discussões na disciplina de Cartografia, os estudantes buscaram dinamizar
o conhecimento “ainda estático” numa atividade vivencial de campo para trabalhar a
cartografia.
Com uma câmera fotográfica nas mãos, um grupo de estudantes de
geografia foram “mapear com fotografias” os conceitos necessários para compreender a
cartografia: escala, local, regional, nacional, global.
Assim, mapearam e
disponibilizaram on line exemplos de como poderiam trabalhar a câmera fotográfica,
inclusive construindo um mapa temático baixa da principal praça da cidade de
Serrinha4, a Morena Bela.
Localizando os pontos estratégicos, fotografaram as
referências e trabalharam numa discussão on line os conceitos emanados do trabalho
com o mapa.
4
Cidade Polo do Território do Sisal, com 73000 habitantes.
Figura 1 – Mapa cartográfico da Praça Morena Bela, Serrinha, Bahia, Brasil –
Atividade de leitura cartográfica on line.
Fonte: http://www.moodle.uneb.br/mod/resource/view.php?id=7664, acesso 17 abril 2009.
Essa foi a atividade que contribui muito para a construção do ambiente a ser trabalhado
como oficina digital, no qual os estudantes utilizaram as linguagens visuais e
audiovisuais como referências principais para o plano de formação, além de ampliarem
seus conhecimentos sobre fotografia.
Assim, os graduandos de geografia puderam compreender que o ensino da cartografia
nos níveis de ensino fundamental e médio, é muito importante para despertar a
percepção espacial, proporcionando à criança o entendimento sobre o espaço físico que
habita e que para tanto, é necessário trabalhar com o aluno na perspectiva de o próprio
aluno “desenhar o mapa”, se localizar no seu contexto sócio-geográfico, fazendo-se
parte da cartografia local.
Essa oficina teve três blocos de desenvolvimento, como podemos ver nas figuras 2 e 3 a
seguir, nos quais os estudantes se apropriaram da linguagem própria das tecnologias da
informação e comunicação (TIC), ampliaram o visão acerca das formas de uso da
câmera fotográfica e da própria internet para o ensino de geografia, bem como
aprofundaram os estudos sobre os conhecimentos específicos da cartografia, pois o
processo de leitura dos mapas nada mais é do que a compreensão da linguagem
cartográfica, decodificando os significantes através da legenda, utilizando cálculos para
a reversão da escala, chegando às medidas reais do espaço projetado e à informação do
espaço representado, através da sua visualização.
Figura 2 – Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle construído pelos estudantes
Fonte: http://www.moodle.uneb.br/course/view.php?id=471
Figura 3 – Espaço de interatividade da Oficina Digital sobre Câmera Fotográfica
Fonte: http://www.moodle.uneb.br/course/view.php?id=470
Além da cartografia, os conteúdos da climatologia e da hidrografia também foram
explorados em oficinas sobre o uso da TV, DVD, do computador com data show e da
internet na sala de aula no ensino de geografia, aprimorando assim o conhecimento
teórico-empírico sobre os diversos recursos tecnológicos, a inserção das tecnologias na
educação e as possibilidades de inovação do fazer pedagógico com o uso das TIC.
Podemos constatar que durante o processo de forma-ação foi possível proporcionar a
inclusão digital desses estudantes, o desenvolvimento de uma compreensão ampliada
das várias possibilidades apresentadas pela rede conectada, pois além da linguagem
específica para um AVA, estudamos também sobre desenho didático dos mesmos,
propondo a conexão de signos e cores para transmitir e significar a informação, como
podemos verificar na figura abaixo.
Figura 4 – Ambiente da Oficina Digital sobre TV e DVD
Fonte: http://www.moodle.uneb.br/course/view.php?id=470
Assim, o uso de ferramentas tecnológicas digitais, audivisuais ou não, da junção de
linguagens diferenciadas, como podemos verificar nas figura 5, tendem a ampliar as
possibilidades de exploração e compreensão dos conteúdos e, ao mesmo tempo,
ressignificar os processos de aprendizagem dos discentes, além de despertar, aflorar a
sensibilidade para o conhecimento visual.
Figura 5 – Espaço de construção pedagógica sobre o uso da TV na sala de aula
Fonte: http://www.moodle.uneb.br/course/view.php?id=470
Fazendo uso do construtivismo de Piaget (1973), é que acreditamos que a aprendizagem
conceitual dos conteúdos básicos da geografia pode ser melhor trabalhadas com o uso
das TIC, pois com elas as condições de educar propondo desafios cognitivos, para que
se possa obter a modificação e enriquecimento progressivo dos esquemas de
conhecimento pode ser mais significativa, uma vez permite o acesso há variadas formas
de linguagens e diversos ponto de vista sobre o mesmo conteúdo em um tempo menor.
Nesse sentido,
é preciso que o professor seja capaz de gerar o conflito e sua
possibilidade de resolução, sendo também capaz de gerar a
confrontação de pontos de vista divergentes na sala de aula
(transformar os conflitos em controvérsias) e, finalmente,
compreender os erros e resultados obtidos como ponto de partida para
a modificação dos esquemas de conhecimento (para modificação e
enriquecimento) (D’ÁVILA, 2006, p. 91).
Por estes fatos, e pela certeza que as tecnologias presentes no espaço social da escola,
estão chegando e fazendo parte do cotidiano dos alunos e professores, é que a formação
busca permitir que os estudantes de geografia pensem o espaço e tenham condições de
enquanto professores de fornecer para os seus alunos
Condições de construir um instrumento tal que seja capaz de
permitir-lhe buscar e organizar informações para refletir em
cima dela. Não apenas para entender determinado conteúdo,
mas para usá-lo com possibilidade de construir a sua cidadania
(CALLAI, 1999, p. 68).
Por esse fato que a proposta de forma-ação dentro da dinâmica de pensar e desenvolver
a própria formação, planejando e construindo o espaço de formação do outro está sendo
a forma mais adequada e ampla para trabalharmos os conteúdos referentes as
tecnologias, a educação e a prática do ensino da geografia considerando as necessidades
teórico-empíricas do processo de formação inicial, pois as tecnologias que estão
disponíveis para a escola e para os sujeitos que constituem e desenvolvem o processo
ensino-aprendizagem, são diversas, no entanto,
a principal dificuldade para transformar os contextos de ensino com a
incorporação de tecnologias diversificadas de informação e
comunicação parece se encontrar no fato de que a tipologia de ensino
dominante na escola é a centrada no professor. Em uma sociedade
cada dia mais complexa, as tentativas de situar a aprendizagem dos
alunos e suas necessidades educativas na escola da ação pedagógica
ainda são minoritárias (SANCHO, 2006, p. 19).
Devido a esses motivos é que precisamos, enquanto centro formador de formadores,
proporcionar ações que dêem condições dos professores em exercício e dos futuros
professores de mudar essa tipologia de ensino e, com o uso das tecnologias, suas várias
linguagens, buscar desenvolver uma docência sócio-construtivista, trabalhando bem
próximo da zona de desenvolvimento proximal (ZDP) dos sujeitos aprendentes.
A universidade, a formação do professor de geografia e a transformação da prática
A universidade enquanto instituição social responsável pela formação de formadores,
deve estar sempre atenta e refletindo junto com os seus professores, pesquisadores e
gestores os processos de formação de professores, pois, torna-se uma exigência atual
que a universidade contribua com a inserção dos sujeitos formadores (professores) e dos
sujeitos em formação (licenciandos) no contexto das práticas contemporâneas que
atendam as exigências da educação do século XXI e as necessidades das crianças, dos
jovens e dos adultos de hoje.
Diante de tal exigência, e de acordo com o que conseguimos trabalhar e pesquisar junto
aos graduandos do curso de Geografia do Departamento de Educação do Campus XI,
junto à comunidade e algumas unidades escolares serrinhense é que essa proposta de
ação coletiva, de caráter interdisciplinar possibilitou trabalhar com um grupo 09 (nove)
professores de 05 (cinco) escolas locais e 25 (vinte e cinco) graduandos de geografia, o
uso das tecnologias e das TIC na sala de aula, tendo como escopo da proposta a
necessidade de garantir condições intelectuais e técnicas aos sujeitos formadores de
fazerem uso amplo das tecnologias no fazer educativo, de aprofundamento em relação a
alguns conceitos geográficos, além de contribuir efetivamente na formação de
multiplicadores de opiniões sobre o uso das TIC no contexto escolar e na sociedade
contemporânea de forma geral.
A ação de formação inicial de um componente curricular desdobrada numa proposta de
extensão está contribuindo com a formação de professores ativos e com condições de
desenvolver ações de orientação pedagógica e sistematização de informações e
conhecimentos, na busca de recontextualizar as situações de aprendizagem, incentivar a
experimentação e a criatividade, bem como refletir e depurar idéias acerca da prática do
ensino de geografia.
Como o processo de reflexão está intimamente ligado e fundamentado numa prática de
pesquisa, esses estudantes estão sendo formados com, na e através da pesquisa, a qual se
constitui numa mediação entre a aprendizagem e o conhecimento formal, auxiliando na
reelaboração e reconstrução do conhecimento geográfico, dando condição dinâmica ao
mesmo.
Utilizando a pesquisa-ação, conseguimos esclarecer várias questões de cunho teórico e
pedagógico “pela experiência elucidada, (em que) o estudante toma, então, decisões
quanto a uma, ou mais de uma, intervenção futura” (BARBIER, 2007, p. 39), trazendo
para a universidade uma discussão ampliada sobre o entendimento de universidade, uma
vez que como instituição dedicada a
Promover o avanço do saber e do saber fazer; ela deve ser o espaço da
intervenção, da descoberta, da teoria, de novos processos; deve ser o
lugar da pesquisa, buscando novos conhecimentos, sem a preocupação
obrigatória com sua aplicação inédita; deve ser o lugar da inovação,
de onde se persegue o emprego de tecnologias e soluções;
finalmente, deve ser o âmbito da socialização do saber, na medida em
que divulga conhecimentos. (FAVERO, 1992, p. 54, grifos nossos).
Essa concepção de universidade desenvolve uma prática de formação aliando o ensino,
a pesquisa e a extensão como princípios formativos complementares que visam superar
a dicotomia teoria e prática, desenvolvendo durante a formação inicial ações de pensar,
fazer, refletir e agir como princípios formativos nas mais diversas áreas.
É nesse âmbito que a sociedade da informação como sendo aquela que faz o melhor uso
possível das tecnologias da informação e comunicação (TIC) e que a toma como
elemento central da atividade humana (CASTELLS, 2005) é que estamos aproveitando
as vantagens das tecnologias em todos os seus aspectos nas nossas vidas, isto é, no
trabalho, no lazer e na escola para fazer da universidade um espaço que, efetivamente,
proporcione transformações nas práticas educativas, não só dos professores de
geografia, mas nos educadores de maneira geral.
Com o uso das tecnologias e do hipertexto como sendo “uma tecnologia e uma
estratégia de organização textual, já que muitos gêneros podem aparecer num formato
hipertextual” (MARCUSCHI; XAVIER, 2005), é que a utilização dos espaços virtuais
de aprendizagem como espaços de formação nos dão plena condição de trabalharmos
com máxima potencialidade da capacidade humana, através da não linearidade, da
volatilidade, da topografia, da condição de acessibilidade ilimitada e da interatividade
que nos propõe os hipertextos digitais (MARCUSCHI; XAVIER, 2005).
Considerações reflexivas sobre a prática e o ensino de geografia na sociedade da
informação
Diante do apresentado, as pesquisas em torno da formação de professores e o uso das
tecnologias na prática docente, delimitada no universo dos cursos de Geografia e
Pedagogia do Departamento de Educação do Campus XI da Universidade do Estado da
Bahia, localizado na cidade de Serrinha na região sisaleira do Estado da Bahia é que
convocamos a todos para refletirem sobre as ações formativas que estão sendo
desenvolvidas nas nossas universidades pública, em especial, aquelas responsáveis pela
formação de professores, destacando um refletir-agir sobre a prática docente dos
formadores de formadores nos cursos de licenciatura e a responsabilidade que temos no
que se refere a formação técnica-pedagógica, teórico-empírica desses futuros
professores.
Nesse sentido, apresentamos algumas questões que podem contribuir para a melhoria da
qualidade dos processos de formação de professores de geografia e, consequentemente,
do ensino da geografia, tendo a prática docente como referência reflexiva. Diante dos
processos da forma-ação desenvolvida até o momento, constatamos que:
Existe uma necessidade emergente na nossa região de formação continuada dos
professores de geografia, formação esta que permita além da atualização e
produção de novos conhecimentos e saberes docentes, permita também, uma
reflexão crítica sobre a prática pedagógica e as necessidades didáticopedagógicas advindas do processo ensino-aprendizagem;
A necessidade de um estreitamento entre os processos de ensino, pesquisa e
extensão deve ser recuperado e praticado pelos professores dentro da
universidade, com o intuito de fazer valer o papel fundamental da universidade e
proporcionar a transformação da prática a partir dos processos formativos
iniciais com a construção de novas possibilidades de formação, a colaboração de
todos no processo de avaliação/reformulação dos próprios cursos de graduação
do campus;
A renovação implica na mobilização de saberes que devem extrapolar as
fronteiras da academia e a formalização do uso tradicional dos recursos didáticopedagógicos e dos conceitos geográficos;
A inserção das tecnologias da informação e comunicação (TIC) nos processos de
formação inicial e continuada possibilitam um revisitar em tempo real a prática
pedagógica docente, o que implica no movimento de reflexão-ação real e
efetivamente dialógico.
Tais constatações, só nos leva a acreditar mais e mais que as tecnologias, desde que
sejam utilizadas de forma com conhecimento de suas potencialidades, dentro das
possibilidades dos espaços educativos e atendendo as necessidades de aprendizagem
com o conhecimento técnico, teórico e metodológico do docente, apresenta condições
infinitas de ampliação e melhoria da educação dentro da universidade, na educação
básica e na sociedade de maneira geral.
É nessa linha que a alfabetização tecnológica do professor
Envolve o domínio contínuo e crescente das tecnologias que estão na
escola e na sociedade, mediante o relacionamento crítico com elas.
Este domínio se traduz em uma percepção global do papel das
tecnologias na organização do mundo atual e na capacidade do
professor de lidar com as diversas tecnologias, interpretando sua
linguagem e criando novas formas de expressão, além de distinguir
como, quando e por que são importantes e devem ser utilizadas no
processo educativo. (SAMPAIO, LEITE, 1999).
Portanto, as tecnologias aliadas as suas várias linguagens e a vontade de transformação,
mudança e melhoria da prática pedagógica docente tanto daqueles que fazem a
formação inicial, como daqueles que exercitam a docência na educação básica,
contribuem significativamente para o real exercício da práxis.
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