AS TECNOLOGIAS, O ENSINO E A FORMAÇÃO DO(A) PROFESSOR(A) DE GEOGRAFIA: NOVAS LINGUAGENS NA TRANSFORMAÇÃO DA PRÁTICA Mary Valda Souza Sales/Universidade do Estado da Bahia [email protected] Atualmente as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), vem tomando conta dos espaços formativos formais e informais, onde essas TIC passam a ocupar um espaço de destaque na vida dos sujeitos que constituem “as educações” e, hoje, os estudantes estão, de certa forma, preparados, inspirados e inseridos nesse contexto tecnológico, pelo fato de cotidianamente conviverem com as TIC como recurso diário de comunicação, lazer e, também, de trabalho. E os professores nesse contexto? Como ficam? Como lidam com essas transformações? Por estarmos em permanente contato com as TIC, ao irmos ao banco e usar um caixa eletrônicos, ao usar a máquina de consulta de preços no supermercado, no cotidiano doméstico com o microondas, o multiprocessador, no trabalho com o computador, a internet, os sistemas on line de consulta e cadastramento, na vida diária com o uso dos e-mails, msn, orkut, celular, skype e outras várias formas de comunicação proporcionadas pela evolução das tecnologias é que acreditamos no processo de forma-ação, pois com base no contexto apresentado, torna-se premente a necessidade de uma reflexão-ação sobre os processos de ensino na formação dos professores, principalmente, no que diz respeito a preparação destes para o uso das tecnologias na escola, na sala de aula, com os conteúdos básicos constitutivos do currículo da educação básica. Considerando tal emergência este artigo propõe uma reflexão a respeito dos processos formativos do professor de geografia e o uso das diversas linguagens advindas das TIC nas práticas de ensino desse profissional, explicitando o desenvolvimento de uma forma-ação inicial objetivando discutir sobre a importância do uso das diversas linguagens tecnológicas para melhoria da prática docente do professor de geografia, ampliar as perspectivas de uso das TIC nos processos de ensino e aprendizagem e uma reflexão sobre o papel do professor dentro da universidade. As tecnologias da informação e comunicação, as diferentes linguagens e a formação do professor de geografia Através da gama de tecnologias disponíveis no nosso dia-a-dia, nossas crianças, adolescentes e jovens, enchem as lan houses, que crescem de forma veloz em todas as cidades do estado e, são permanentemente freqüentadas por pessoas de todas as classes sociais e níveis educacionais, para usos diversos (trabalhar, brincar, jogar, conversar, etc). Nesse sentido, não tem como a escola ficar alheia a essa realidade e não inserir no cotidiano pedagógico o uso de recursos tecnológicos que possibilitem o enriquecimento do fazer educativo e o crescimento docente e discente, e o uso ampliado das “novas linguagens”, pois o âmbito da educação, com suas características específicas, não se diferencia do resto dos sistemas sociais no que se refere á influência das TIC. Deste modo, também foi afetado pelas TIC e o contexto político e econômico que promove seu desenvolvimento e extensão. Muitas crianças e jovens crescem em ambientes altamente mediados pela tecnologia, sobretudo a audiovisual e a digital. Os cenários de socialização das crianças e jovens de hoje são muito diferentes dos vividos pelos pais e professores. (...) De fato, estão descobrindo o mundo e lhes custa tanto aprender e realizar trabalhos manuais como a programar um vídeo ou um computador. Estão descobrindo as linguagens utilizadas em seu ambiente e lhes custa tanto ou mais decifrar e dominar a linguagem textual como a audiovisual. A grande diferença é que os resultados desta última ação abrem um amplo mundo de possibilidades cada vez mais interativas, em que constantemente acontece algo e tudo vai mais depressa do que a estrutura atual que a escola pode assimilar. (SANCHO, 2006, p. 19). Assim, o uso das tecnologias digitais, audivisuais ou não, tendem a ampliar as possibilidades de exploração e compreensão dos conteúdos e, ao mesmo tempo, ressignificar os processos de aprendizagem dos discentes, “dando” função educativa as diversas linguagens que os mesmos fazem uso na vida social e função social as diversas linguagens utilizadas no cotidiano escolar. Por esse fato, que no contexto contemporâneo, principalmente nas duas últimas décadas, pesquisadores, professores e estudantes, e todos os sujeitos que pensam e se preocupam com o desenvolvimento da educação no país, sentiram a necessidade de refletir sobre os processos de formação, o emergente domínio das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e a sua mediação nos processos de produção do conhecimento, sobretudo nas ações de formação inicial e continuada, uma vez que a inserção das TIC no contexto social de maneira geral, em virtude das mudanças velozes dos modelos e parâmetros tecnológicos na sociedade (CASTELLS, 2002), define a importância da sua inserção nos espaços educacionais, nos processos formativos. Inúmeros teóricos apresentam estudos e pesquisas sobre a sociedade contemporânea e apresentam um consenso sobre a denominação de sociedade da informação e/ou do conhecimento como sendo a nova sociedade hoje definida, e rotulada, por seus novos métodos de acessar, processar e distribuir a informação, como afirma Castells (2005). Considerando esse contexto e o contexto real das nossas instituições de ensino, é que propomos uma discussão ampliada sobre esses modos de acesso, produção e distribuição da informação e dos processos de formação dos professores nessa sociedade atual. Nesse sentido, tornamos explícita nossa compreensão do que seja tecnologia e que “nova linguagem” é essa que surge com a emergência das TIC, para podemos desenvolver um diálogo coerente e transparente na apresentação de nossa proposta. Assim, tecnologia para nós é um processo criativo através do qual o ser humano utiliza-se de recursos materiais e imateriais, ou os cria a partir do que está disponível na natureza e no seu contexto vivencial, a fim de encontrar respostas para os problemas de seu contexto, superando-os (LIMA JR, 2005, p. 15). Processo este, que trabalhamos com o que acreditamos de grande parte de sua amplitude, uma vez que utilizamos a tecnologia digital em rede, com um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA)1 como suporte e “espaço” de aprendizagem, o qual entrou em cena no sentido de “atender as necessidades e à evolução da própria humanidade, no que concerne as possibilidades oferecidas pelas tecnologias da informação e comunicação” (SALES, 2006, p.26) de promover a comunicação, fornecer informação e construir conhecimento, aprendizagens em rede, além claro de possibilitar o uso dessa “nova linguagem” fruto de uma mescla de signos. Para tanto, compreendemos linguagem como sendo qualquer e todo sistema de signos que serve de meio de comunicação de idéias ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos, gestuais etc., podendo ser percebida pelos diversos órgãos dos sentidos, o que leva a distinguirem-se várias espécies de linguagem: visual, auditiva, tátil, etc., ou, ainda, outras mais complexas, constituídas, ao mesmo tempo, de elementos diversos.”(WIKIPÉDIA, acesso 11 julho 2009), isto é, é todo sistema organizado de sinais que funcionam como estratégias, meios de comunicação entre os indivíduos de forma verbal e não-verbal, pois apresentam sentidos e, para isso, utilizam-se de signos (escritos, falados, filmados, gravados, fotografados, pintados, ...). Em todos os tipos de linguagem, os signos são combinados entre si, de acordo com as leis e os objetivos da comunicação, obedecendo a mecanismos de organização e combinação entre eles. Assim, acreditamos que o uso dessas formas de linguagem são mais do que necessárias para consolidação dos processos formativos, uma vez que favorecem as mais diversas formas de comunicação e de significação da aprendizagem, principalmente, com o auxílio das TIC. Nesse sentido, propomos o uso do áudio/música, do vídeo/filme, do texto/livro, da imagem, da pintura, da fotografia como recursos iniciais para se fazer entender os conteúdos da geografia, principalmente, relacionados a cartografia e climatologia como uma ação de auto-formação e de elaboração de uma proposta de formação continuada para licenciandos e/ou docentes em exercício. Ao estudar conjuntamente com os alunos os conteúdos das disciplinas específicas citadas, refletir e discutir sobre os processos de ensino e de aprendizagem nas práticas 1 Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) é uma expressão que está interligada ao desenvolvimento de condições técnicas, metodologias e intervenções de aprendizagem em um lugar virtual conectado em rede, organizado de maneira que propicie a construção de conceitos, através da interação dos sujeitos (alunos e professores) e o(s) objeto(s) de conhecimento (SALES, 2008) de estágio e de docência efetiva de alguns, elencamos algumas necessidades específicas para o desenvolvimento do trabalho, as quais ultrapassaram o limite da compreensão do conteúdo e se focalizaram no uso das “linguagens” para se trabalhar aquele ou outro conteúdo. Os alunos sempre colocaram que o problema do ensino é a falta de estímulo discente e do não uso da criatividade docente. Com essas pistas, iniciamos a construção de Oficinas Digitais, cursos de formação continuada de 20 horas/aula cada oficina, montados no ambiente virtual de aprendizagem Moodle2, onde trabalhamos simultaneamente, com a compreensão epistemológica de tecnologia e suas linguagens e com o ensino dos conteúdos específicos da geografia. Assim, selecionamos alguns recursos tecnológicos de fácil acesso para as escolas de nossa região, selecionaram alguns conteúdos específicos da geografia para pensar, planejar, construir e desenvolver o processo de (auto)formação. Assim, na perspectiva da pesquisa-ação estamos desenvolvendo uma ação de formativa dentro do curso de licenciatura em Geografia com a disciplina Educação e Novas Tecnologias e em um curso de extensão que faz parte das ações de um projeto de pesquisa maior sobre tecnologia e formação de professores, no sentido desenvolver conhecimentos técnicos e propor momentos de reflexão-ação que possibilitem o alavancar de uma prática docente consciente e consistente no que se refere ao planejamento e uso das diversas linguagens propostas pelas TIC para o ensino de geografia. Dessa forma, desenvolve-se uma forma-ação na perspectiva de uma pesquisa-ação sobre o uso das linguagens digital, imagética, iconográfica, multimidiática e hipertextual disponibilizadas na rede conectada internet, para implementar no processo formativo inicial, propostas de construção e difusão do conhecimento a respeito do uso dos recursos didáticos tecnológicos como o retroprojetor, data show, computador, aparelho de som, TV, vídeo, DVD e a própria internet na sala de aula para o ensino de geografia. 2 Moodle – Modular Object-Oriented Dynamic Learning (Cf. http://moodle.org) é um AVA livre e software open source pacote cuja base filosófica é definida nos princípios construtivistas e sóciointeracionista, considerando dialógico o processo de mediação pedagógica, onde o principal aspecto a ser considerado em relação aprendizagem é a gestão da aprendizagem, ou das aprendizagens (SALES, 2008) No AVA Moodle, utilizado com frequência como suporte pedagógico para o desenvolvimento de nossas disciplinas presenciais3, apresentamos de forma concreta as potencialidades das diversas linguagens nos espaços virtuais e como podemos pensar e planejar o uso das tecnologias disponíveis na escola em beneficio da compreensão e apreensão dos conteúdos formais da geografia. Tal forma-ação tensiona uma discussão entre a teoria e a prática no processo formativo, entre o exercício relacional do fazer da prática docente e a formação do docente. Nessa tensão, o foco está na formação do licenciando no que se refere ao exercício da docência, pois A prática educativa remete, freqüentemente, ao processo ensinoaprendizagem, que se reporta, sobretudo, à ação didática. A esse respeito, questionamos: Será que os professores dominam a prática e o conhecimento especializado com relação à educação e ao ensino? Em termos gerais, a resposta é não (CASTELLAR,1999, p. 48). Para que possamos alterar a resposta, desenvolvemos o processo de formação docente na perspectiva do imbricamento constante entre a teoria e a prática da formação inicial, tratando os pressupostos pedagógicos necessários para o exercício da docência ao longo da formação, para que possam ser desenvolvidos/exercitados durante a prática formativa, isto porque acreditamos que "...a melhoria da qualidade da educação está vinculada, entre outras necessidades, à necessária construção de uma articulação permanente e profícua entre esses dois níveis de ensino (básico e superior)" (COUTO e ANTUNES, 1999, p. 36), pois no caso específico da geografia, percebe-se que por parte dos alunos do ensino fundamental e médio, ainda se mantém, em alguns casos, a concepção de uma disciplina inútil e decorativa, constatações dos momentos de estágio. Isto ocorre com a geografia que aqui é foco, pelo fato de no mundo da escola, a sensação de inutilidade advém do senso comum e do fato de muitos professores de geografia não terem conseguido, ainda, desvencilhar-se do papel através do qual essa disciplina consagrou-se: o da descrição dos fenômenos, sobretudo "físicos" e paisagísticos. (PEREIRA, 1996, p. 48) Para fugir dessa concepção, compreensão e prática é que a forma-ação está sendo desenvolvida com uma visão da geografia viva, que sofre intervenções humanas e 3 Na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) o moodle é utilizado em ampla escala nos cursos presenciais como suporte para o ensino presencial (http://www.moodle.uneb.br/), e nos educação a distância como ambiente gerencial pedagógico dos cursos a distância (http://www.campusvirtual.uneb.br/). sociais e que intervém na própria realidade humana, onde os graduandos constroem as propostas de formação vivenciando-as. As oficinas digitais, a forma-ação, a geografia e as “linguagens” do digital no ensino e na aprendizagem conceitual geográfica Compreendendo que as práticas de linguagem consistem nas mediações constitutivas pedagógicas, nas suas múltiplas dimensões, como afirma Barreto (2002), sentimos a necessidade de focalizar os modos de constituição dos sujeitos e dos objetos nos movimentos de encontro entre a linguagem e o conhecimento. Assim, focamos o trabalho no uso dos recursos tecnológicos para o ensino da geografia e nas estratégias a serem utilizadas para melhor apreensão dos conceitos, tendo como referências pedagógicas as orientações e estudos da disciplina Prática de Ensino. Paralelamente construímos em 06 (seis) grupos as oficinas propostas inicialmente. No processo um destaque especial para aqueles sujeitos que saíram do foco central de estudantes e trabalharam na perspectiva de se identificarem como licenciandos, futuros professores, o que facilitou muito a discussão sobre a dialogicidade teoria e prática. Esse seria um ponto que daria outro texto, traria outras várias discussões, mas não é aqui o lugar ainda. Uma das primeiras oficinas a ser construída efetivamente foi a de Câmera Fotográfica, que a partir da linguagem imagética e textual decidiu-se trabalhar com alguns conceitos cartográficos. Diante da complexidade encontrada no trabalho com mapas durante o estágio e das discussões na disciplina de Cartografia, os estudantes buscaram dinamizar o conhecimento “ainda estático” numa atividade vivencial de campo para trabalhar a cartografia. Com uma câmera fotográfica nas mãos, um grupo de estudantes de geografia foram “mapear com fotografias” os conceitos necessários para compreender a cartografia: escala, local, regional, nacional, global. Assim, mapearam e disponibilizaram on line exemplos de como poderiam trabalhar a câmera fotográfica, inclusive construindo um mapa temático baixa da principal praça da cidade de Serrinha4, a Morena Bela. Localizando os pontos estratégicos, fotografaram as referências e trabalharam numa discussão on line os conceitos emanados do trabalho com o mapa. 4 Cidade Polo do Território do Sisal, com 73000 habitantes. Figura 1 – Mapa cartográfico da Praça Morena Bela, Serrinha, Bahia, Brasil – Atividade de leitura cartográfica on line. Fonte: http://www.moodle.uneb.br/mod/resource/view.php?id=7664, acesso 17 abril 2009. Essa foi a atividade que contribui muito para a construção do ambiente a ser trabalhado como oficina digital, no qual os estudantes utilizaram as linguagens visuais e audiovisuais como referências principais para o plano de formação, além de ampliarem seus conhecimentos sobre fotografia. Assim, os graduandos de geografia puderam compreender que o ensino da cartografia nos níveis de ensino fundamental e médio, é muito importante para despertar a percepção espacial, proporcionando à criança o entendimento sobre o espaço físico que habita e que para tanto, é necessário trabalhar com o aluno na perspectiva de o próprio aluno “desenhar o mapa”, se localizar no seu contexto sócio-geográfico, fazendo-se parte da cartografia local. Essa oficina teve três blocos de desenvolvimento, como podemos ver nas figuras 2 e 3 a seguir, nos quais os estudantes se apropriaram da linguagem própria das tecnologias da informação e comunicação (TIC), ampliaram o visão acerca das formas de uso da câmera fotográfica e da própria internet para o ensino de geografia, bem como aprofundaram os estudos sobre os conhecimentos específicos da cartografia, pois o processo de leitura dos mapas nada mais é do que a compreensão da linguagem cartográfica, decodificando os significantes através da legenda, utilizando cálculos para a reversão da escala, chegando às medidas reais do espaço projetado e à informação do espaço representado, através da sua visualização. Figura 2 – Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle construído pelos estudantes Fonte: http://www.moodle.uneb.br/course/view.php?id=471 Figura 3 – Espaço de interatividade da Oficina Digital sobre Câmera Fotográfica Fonte: http://www.moodle.uneb.br/course/view.php?id=470 Além da cartografia, os conteúdos da climatologia e da hidrografia também foram explorados em oficinas sobre o uso da TV, DVD, do computador com data show e da internet na sala de aula no ensino de geografia, aprimorando assim o conhecimento teórico-empírico sobre os diversos recursos tecnológicos, a inserção das tecnologias na educação e as possibilidades de inovação do fazer pedagógico com o uso das TIC. Podemos constatar que durante o processo de forma-ação foi possível proporcionar a inclusão digital desses estudantes, o desenvolvimento de uma compreensão ampliada das várias possibilidades apresentadas pela rede conectada, pois além da linguagem específica para um AVA, estudamos também sobre desenho didático dos mesmos, propondo a conexão de signos e cores para transmitir e significar a informação, como podemos verificar na figura abaixo. Figura 4 – Ambiente da Oficina Digital sobre TV e DVD Fonte: http://www.moodle.uneb.br/course/view.php?id=470 Assim, o uso de ferramentas tecnológicas digitais, audivisuais ou não, da junção de linguagens diferenciadas, como podemos verificar nas figura 5, tendem a ampliar as possibilidades de exploração e compreensão dos conteúdos e, ao mesmo tempo, ressignificar os processos de aprendizagem dos discentes, além de despertar, aflorar a sensibilidade para o conhecimento visual. Figura 5 – Espaço de construção pedagógica sobre o uso da TV na sala de aula Fonte: http://www.moodle.uneb.br/course/view.php?id=470 Fazendo uso do construtivismo de Piaget (1973), é que acreditamos que a aprendizagem conceitual dos conteúdos básicos da geografia pode ser melhor trabalhadas com o uso das TIC, pois com elas as condições de educar propondo desafios cognitivos, para que se possa obter a modificação e enriquecimento progressivo dos esquemas de conhecimento pode ser mais significativa, uma vez permite o acesso há variadas formas de linguagens e diversos ponto de vista sobre o mesmo conteúdo em um tempo menor. Nesse sentido, é preciso que o professor seja capaz de gerar o conflito e sua possibilidade de resolução, sendo também capaz de gerar a confrontação de pontos de vista divergentes na sala de aula (transformar os conflitos em controvérsias) e, finalmente, compreender os erros e resultados obtidos como ponto de partida para a modificação dos esquemas de conhecimento (para modificação e enriquecimento) (D’ÁVILA, 2006, p. 91). Por estes fatos, e pela certeza que as tecnologias presentes no espaço social da escola, estão chegando e fazendo parte do cotidiano dos alunos e professores, é que a formação busca permitir que os estudantes de geografia pensem o espaço e tenham condições de enquanto professores de fornecer para os seus alunos Condições de construir um instrumento tal que seja capaz de permitir-lhe buscar e organizar informações para refletir em cima dela. Não apenas para entender determinado conteúdo, mas para usá-lo com possibilidade de construir a sua cidadania (CALLAI, 1999, p. 68). Por esse fato que a proposta de forma-ação dentro da dinâmica de pensar e desenvolver a própria formação, planejando e construindo o espaço de formação do outro está sendo a forma mais adequada e ampla para trabalharmos os conteúdos referentes as tecnologias, a educação e a prática do ensino da geografia considerando as necessidades teórico-empíricas do processo de formação inicial, pois as tecnologias que estão disponíveis para a escola e para os sujeitos que constituem e desenvolvem o processo ensino-aprendizagem, são diversas, no entanto, a principal dificuldade para transformar os contextos de ensino com a incorporação de tecnologias diversificadas de informação e comunicação parece se encontrar no fato de que a tipologia de ensino dominante na escola é a centrada no professor. Em uma sociedade cada dia mais complexa, as tentativas de situar a aprendizagem dos alunos e suas necessidades educativas na escola da ação pedagógica ainda são minoritárias (SANCHO, 2006, p. 19). Devido a esses motivos é que precisamos, enquanto centro formador de formadores, proporcionar ações que dêem condições dos professores em exercício e dos futuros professores de mudar essa tipologia de ensino e, com o uso das tecnologias, suas várias linguagens, buscar desenvolver uma docência sócio-construtivista, trabalhando bem próximo da zona de desenvolvimento proximal (ZDP) dos sujeitos aprendentes. A universidade, a formação do professor de geografia e a transformação da prática A universidade enquanto instituição social responsável pela formação de formadores, deve estar sempre atenta e refletindo junto com os seus professores, pesquisadores e gestores os processos de formação de professores, pois, torna-se uma exigência atual que a universidade contribua com a inserção dos sujeitos formadores (professores) e dos sujeitos em formação (licenciandos) no contexto das práticas contemporâneas que atendam as exigências da educação do século XXI e as necessidades das crianças, dos jovens e dos adultos de hoje. Diante de tal exigência, e de acordo com o que conseguimos trabalhar e pesquisar junto aos graduandos do curso de Geografia do Departamento de Educação do Campus XI, junto à comunidade e algumas unidades escolares serrinhense é que essa proposta de ação coletiva, de caráter interdisciplinar possibilitou trabalhar com um grupo 09 (nove) professores de 05 (cinco) escolas locais e 25 (vinte e cinco) graduandos de geografia, o uso das tecnologias e das TIC na sala de aula, tendo como escopo da proposta a necessidade de garantir condições intelectuais e técnicas aos sujeitos formadores de fazerem uso amplo das tecnologias no fazer educativo, de aprofundamento em relação a alguns conceitos geográficos, além de contribuir efetivamente na formação de multiplicadores de opiniões sobre o uso das TIC no contexto escolar e na sociedade contemporânea de forma geral. A ação de formação inicial de um componente curricular desdobrada numa proposta de extensão está contribuindo com a formação de professores ativos e com condições de desenvolver ações de orientação pedagógica e sistematização de informações e conhecimentos, na busca de recontextualizar as situações de aprendizagem, incentivar a experimentação e a criatividade, bem como refletir e depurar idéias acerca da prática do ensino de geografia. Como o processo de reflexão está intimamente ligado e fundamentado numa prática de pesquisa, esses estudantes estão sendo formados com, na e através da pesquisa, a qual se constitui numa mediação entre a aprendizagem e o conhecimento formal, auxiliando na reelaboração e reconstrução do conhecimento geográfico, dando condição dinâmica ao mesmo. Utilizando a pesquisa-ação, conseguimos esclarecer várias questões de cunho teórico e pedagógico “pela experiência elucidada, (em que) o estudante toma, então, decisões quanto a uma, ou mais de uma, intervenção futura” (BARBIER, 2007, p. 39), trazendo para a universidade uma discussão ampliada sobre o entendimento de universidade, uma vez que como instituição dedicada a Promover o avanço do saber e do saber fazer; ela deve ser o espaço da intervenção, da descoberta, da teoria, de novos processos; deve ser o lugar da pesquisa, buscando novos conhecimentos, sem a preocupação obrigatória com sua aplicação inédita; deve ser o lugar da inovação, de onde se persegue o emprego de tecnologias e soluções; finalmente, deve ser o âmbito da socialização do saber, na medida em que divulga conhecimentos. (FAVERO, 1992, p. 54, grifos nossos). Essa concepção de universidade desenvolve uma prática de formação aliando o ensino, a pesquisa e a extensão como princípios formativos complementares que visam superar a dicotomia teoria e prática, desenvolvendo durante a formação inicial ações de pensar, fazer, refletir e agir como princípios formativos nas mais diversas áreas. É nesse âmbito que a sociedade da informação como sendo aquela que faz o melhor uso possível das tecnologias da informação e comunicação (TIC) e que a toma como elemento central da atividade humana (CASTELLS, 2005) é que estamos aproveitando as vantagens das tecnologias em todos os seus aspectos nas nossas vidas, isto é, no trabalho, no lazer e na escola para fazer da universidade um espaço que, efetivamente, proporcione transformações nas práticas educativas, não só dos professores de geografia, mas nos educadores de maneira geral. Com o uso das tecnologias e do hipertexto como sendo “uma tecnologia e uma estratégia de organização textual, já que muitos gêneros podem aparecer num formato hipertextual” (MARCUSCHI; XAVIER, 2005), é que a utilização dos espaços virtuais de aprendizagem como espaços de formação nos dão plena condição de trabalharmos com máxima potencialidade da capacidade humana, através da não linearidade, da volatilidade, da topografia, da condição de acessibilidade ilimitada e da interatividade que nos propõe os hipertextos digitais (MARCUSCHI; XAVIER, 2005). Considerações reflexivas sobre a prática e o ensino de geografia na sociedade da informação Diante do apresentado, as pesquisas em torno da formação de professores e o uso das tecnologias na prática docente, delimitada no universo dos cursos de Geografia e Pedagogia do Departamento de Educação do Campus XI da Universidade do Estado da Bahia, localizado na cidade de Serrinha na região sisaleira do Estado da Bahia é que convocamos a todos para refletirem sobre as ações formativas que estão sendo desenvolvidas nas nossas universidades pública, em especial, aquelas responsáveis pela formação de professores, destacando um refletir-agir sobre a prática docente dos formadores de formadores nos cursos de licenciatura e a responsabilidade que temos no que se refere a formação técnica-pedagógica, teórico-empírica desses futuros professores. Nesse sentido, apresentamos algumas questões que podem contribuir para a melhoria da qualidade dos processos de formação de professores de geografia e, consequentemente, do ensino da geografia, tendo a prática docente como referência reflexiva. Diante dos processos da forma-ação desenvolvida até o momento, constatamos que: Existe uma necessidade emergente na nossa região de formação continuada dos professores de geografia, formação esta que permita além da atualização e produção de novos conhecimentos e saberes docentes, permita também, uma reflexão crítica sobre a prática pedagógica e as necessidades didáticopedagógicas advindas do processo ensino-aprendizagem; A necessidade de um estreitamento entre os processos de ensino, pesquisa e extensão deve ser recuperado e praticado pelos professores dentro da universidade, com o intuito de fazer valer o papel fundamental da universidade e proporcionar a transformação da prática a partir dos processos formativos iniciais com a construção de novas possibilidades de formação, a colaboração de todos no processo de avaliação/reformulação dos próprios cursos de graduação do campus; A renovação implica na mobilização de saberes que devem extrapolar as fronteiras da academia e a formalização do uso tradicional dos recursos didáticopedagógicos e dos conceitos geográficos; A inserção das tecnologias da informação e comunicação (TIC) nos processos de formação inicial e continuada possibilitam um revisitar em tempo real a prática pedagógica docente, o que implica no movimento de reflexão-ação real e efetivamente dialógico. Tais constatações, só nos leva a acreditar mais e mais que as tecnologias, desde que sejam utilizadas de forma com conhecimento de suas potencialidades, dentro das possibilidades dos espaços educativos e atendendo as necessidades de aprendizagem com o conhecimento técnico, teórico e metodológico do docente, apresenta condições infinitas de ampliação e melhoria da educação dentro da universidade, na educação básica e na sociedade de maneira geral. É nessa linha que a alfabetização tecnológica do professor Envolve o domínio contínuo e crescente das tecnologias que estão na escola e na sociedade, mediante o relacionamento crítico com elas. Este domínio se traduz em uma percepção global do papel das tecnologias na organização do mundo atual e na capacidade do professor de lidar com as diversas tecnologias, interpretando sua linguagem e criando novas formas de expressão, além de distinguir como, quando e por que são importantes e devem ser utilizadas no processo educativo. (SAMPAIO, LEITE, 1999). Portanto, as tecnologias aliadas as suas várias linguagens e a vontade de transformação, mudança e melhoria da prática pedagógica docente tanto daqueles que fazem a formação inicial, como daqueles que exercitam a docência na educação básica, contribuem significativamente para o real exercício da práxis. REFERÊNCIAS BARRETO, Raquel Goulart. Formação de professores, tecnologias e linguagens. São Paulo: Edições Loyola, 2002. CALLAI, Helena Copetti. A geografia no Ensino Médio. In: Terra Livre – As tansformações do mundo da Educação – Geografia, Ensino e Responsabilidade Social. São Paulo: Associação dos Geógrafos Brasileiros, 1999, jan/jul, p. 56-89. CASTELLAR, Sonia Maria Vanzella. A Formação de Professores e o Ensino de Geografia. In: Terra Livre – As tansformações do mundo da Educação – Geografia, Ensino e Responsabilidade Social. São Paulo: Associação dos Geógrafos Brasileiros, 1999, jan/jul, p. 48-55. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em rede. Vol. I. 8ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005. COUTO, Marcos Antonio Campos; ANTUNES, Charlles da França. A Formação do Professor e a relação Escola Básica-Universidade: um projeto de Educação. In: Terra Livre – As tansformações do mundo da Educação – Geografia, Ensino e Responsabilidade Social. São Paulo: Associação dos Geógrafos Brasileiros, 1999, jan/jul, p. 30-40. D’ÁVILA, Cristina. Por uma didática colaborativa no contexto das comunidades virtuais de aprendizagem. In: SANTOS, Edméa; ALVES, Lynn (orgs.) Práticas Pedagógicas e tecnologias digitais. Rio de Janeiro: E-papers, 2006, p. 91-106. FÁVERO, Maria de Lourdes de A. Universidade e Estágio Curricular: subsídios para discussão. In: ALVES, Nilda (Org.). Formação de Professores – Pensar e fazer. São Paulo: Cortez, 1992, p. 53-71. LIMA JÚNIOR, Arnaud Soares de. Tecnologias inteligentes e educação: currículo hipertextual. Rio de Janeiro: Quartet; Juazeiro, BA: FUNDESF, 2005. MARCUSCHI, Luiz Antonio; XAVIER, Antonio Carlos (Orgs.). Hipertexto e Gêneros Digitais: Novas formas de construção do sentido. 2.ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. NONATO, Emanuel R. S. & SALES, Mary V. S. Moodle and its tools in the on line mediating process. Trabalho apresentado na EADTU, 08 e 09 nov 2007, Lisboa/Portugal. PEREIRA, Diamantino. Geografia Escolar: uma questão de identidade. In: CEDES, n. 39, dez, 1996, P. 47-56. PIAGET, Jean. Psicologia e epistemologia: Por uma teoria do conhecimento. Rio de Janeiro: Forense, 1973. SALES, Mary Valda Souza. Proformação: Ressignificando o uso da mídia impresso na educação a distânica para formação de professores. Dissertação (Mestrado em Educação e Contemporaneidade) – Departamento de Educação, Universidade do Estado da Bahia. Salvador: UNEB, 2006. SAMPAIO, M. N.; LEITE, L. S. Alfabetização tecnológica do professor. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2005. SANCHO, Juana Maria (et al.). Tecnologias para transformar a educação. Porto Alegre: Artmed, 2006. VIGOTSKI, Lev Semenovitch (2000). A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. Tradução de J. Cipolla Neto et al. Organização de M. Cole et al. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes.